Arcadi Gay<strong>da</strong>mak, o principal actor natransacção <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> <strong>Angola</strong>- Rússia, nasceuem Moscovo em 1952. Aos 20 anos <strong>de</strong>i<strong>da</strong><strong>de</strong> emigrou para Israel e, em segui<strong>da</strong>,estabeleceu-se em França on<strong>de</strong> iniciouos seus primeiros negócios. Em 1993,Gay<strong>da</strong>mak, juntamente com o seu sócio,Pierre Falcone, ajudou a organizar um gran<strong>de</strong><strong>contrato</strong> <strong>de</strong> armas através do qual o governo<strong>de</strong> <strong>Angola</strong> comprou armamento no valor<strong>de</strong> 790 milhões <strong>de</strong> dólares à Rússia, <strong>de</strong>pois<strong>de</strong> muitas <strong>da</strong>s negociações com empresassedia<strong>da</strong>s em França. Em 2009, os tribunaisfranceses con<strong>de</strong>naram Gay<strong>da</strong>mak porvários crimes relacionados com o <strong>contrato</strong> –conhecido como o “<strong>Angola</strong>gate” – emboratenha sido posteriormente absolvido <strong>de</strong>algumas <strong>da</strong>s con<strong>de</strong>nações e visto a sua pena<strong>de</strong> prisão <strong>de</strong> seis anos ter sido reduzi<strong>da</strong> parameta<strong>de</strong>, através <strong>de</strong> um recurso interpostoem 2011. Nunca cumpriu a pena <strong>de</strong> prisãovisto ter sempre recusado regressar a França,optando por permanecer em Israel.Passa<strong>da</strong>s três semanas, a 14 <strong>de</strong> Maio, os dois man<strong>da</strong>táriosjá tinham acor<strong>da</strong>do com os russos os contornos básicos <strong>de</strong>um <strong>contrato</strong> bastante simples <strong>de</strong> restruturação <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong>angolana: o montante principal seria reduzido <strong>de</strong> 5 milmilhões <strong>de</strong> dólares para 1,5 mil milhões; <strong>Angola</strong> receberiaum período <strong>de</strong> graça <strong>de</strong> cinco anos, após o qual teria umperíodo alargado <strong>de</strong> 15 anos para pagar o montante principale os juros acumulados em 31 prestações. 12A 30 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1996, o governo <strong>da</strong> Fe<strong>de</strong>ração Russaemitiu o Decreto-lei n.º 1287, que “instruía e autorizava” oMinistro <strong>da</strong>s Finanças a dispor <strong>da</strong>s Notas promissórias, querepresentavam a dívi<strong>da</strong> angolana no mercado secundário. 13No entanto, as notas menciona<strong>da</strong>s no Decreto-lei 1287só seriam <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s e autoriza<strong>da</strong>s a 20 <strong>de</strong> Novembro, e sóseriam emiti<strong>da</strong>s em Janeiro <strong>de</strong> 1997.Doze dias após a promulgação do Decreto-lei n.º 1287,Falcone e Gay<strong>da</strong>mak constituíram a Abalone InvestmentsLtd. como uma empresa fictícia <strong>da</strong> Ilha <strong>de</strong> Man. 14 Até à<strong>da</strong>ta, tal como evi<strong>de</strong>nciado pelos documentos disponíveis, aúnica activi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Abalone seria a mediação no Contrato<strong>de</strong> dívi<strong>da</strong>. Como por magia, nove dias mais tar<strong>de</strong>, a 20 <strong>de</strong>Novembro <strong>de</strong> 1996, os últimos <strong>de</strong>talhes do Contrato <strong>de</strong>dívi<strong>da</strong> eram engendrados e acor<strong>da</strong>dos pela Rússia e por<strong>Angola</strong>.2. O primeiro <strong>contrato</strong>A 20 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1996, o Acordo intergovernamentalparece ter sido assinado no lado russo, por Andrey P. Vavilov(Vice Primeiro Ministros <strong>da</strong>s Finanças russo), sendo que aassinatura, pelo lado angolano, não é legível. 15 Devido às“relações historicamente amistosas estabeleci<strong>da</strong>s entre aFe<strong>de</strong>ração Russa e a República <strong>de</strong> <strong>Angola</strong>, e a complexa situação económica <strong>da</strong> República<strong>de</strong> <strong>Angola</strong>” 16 , foi acor<strong>da</strong>do que a dívi<strong>da</strong> seria reduzi<strong>da</strong> em 70%: <strong>Angola</strong> teria <strong>de</strong> pagar 1,5mil milhões <strong>de</strong> dólares em vez dos 5 mil milhões para sal<strong>da</strong>r a sua dívi<strong>da</strong> à Rússia. <strong>Angola</strong>receberia um período <strong>de</strong> graça <strong>de</strong> cinco anos (possivelmente acor<strong>da</strong>do prevendo que osfundos fluiriam mais livremente <strong>de</strong>pois do fim <strong>da</strong> guerra). Não seriam <strong>de</strong>vidos quaisquerpagamentos durante o período <strong>de</strong> graça, mas seriam acumulados juros duas vezes ao ano,a uma taxa anual <strong>de</strong> 6%. Os juros acumulados seriam adicionados ao montante principal(“capitalizados”) a ca<strong>da</strong> seis meses até Junho <strong>de</strong> 2001, <strong>da</strong>ta em que os juros acumulados (novalor <strong>de</strong> $457.160.000) seriam adicionados ao montante principal inicial, resultando numnovo montante principal <strong>de</strong> $1.959.160.000. A partir <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 2001, os pagamentossemianuais teriam início para o período dos 15 anos subsequentes, com o último pagamento<strong>de</strong>vido em Junho <strong>de</strong> 2016. (Seria aplicado um juro <strong>de</strong> penalização por incumprimento <strong>de</strong>2% sobre quaisquer prestações em dívi<strong>da</strong> à respectiva <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> vencimento.) 1726FRAUDE EM ALTAS POSIÇÕES: O <strong>contrato</strong> <strong>corrupto</strong> <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>Angola</strong> à Rússia
Como prova <strong>da</strong>s prestações <strong>de</strong> pagamento, <strong>Angola</strong> emitiria 31 Notas promissórias emdólares norte-americanos ao governo <strong>da</strong> Rússia. Às Notas promissórias para o pagamentoa ca<strong>da</strong> seis meses do montante principal no valor <strong>de</strong> $63.134.000, eram acrescidos jurosacumulados até ca<strong>da</strong> <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> pagamento. À última <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> pagamento, <strong>Angola</strong> teria pagoum montante total <strong>de</strong> $2.896.596.000 (sendo a soma inicial dos 1,5 mil milhões <strong>de</strong> dólaresdo montante principal em dívi<strong>da</strong>, mais $457.160.000 <strong>de</strong> juros acumulados até Junho <strong>de</strong>2001 e mais $939.437.000 <strong>de</strong> juros acumulados até Junho <strong>de</strong> 2016).O acordo pressupunha uma execução simples. Uma “instituição fi<strong>de</strong>digna”, como porexemplo um banco que oferecesse serviços fiduciários, seria nomea<strong>da</strong> por ambas as partes.<strong>Angola</strong> efectuaria um pagamento à instituição, que encaminharia estes fundos para a Rússia.Simultaneamente, a instituição <strong>de</strong>volveria ca<strong>da</strong> Nota promissória a <strong>Angola</strong>, juntamentecom uma Certidão <strong>de</strong> pagamento emiti<strong>da</strong> pela Rússia confirmando que a Nota promissóriatinha sido honra<strong>da</strong>. Ain<strong>da</strong> mais importante, ca<strong>da</strong> Certidão <strong>de</strong> pagamento reflectia ummontante <strong>de</strong> $161.290.322,57. Uma vez que existiam 31 Notas promissórias e Certidões <strong>de</strong>pagamento, aquando <strong>da</strong> conclusão <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a transacção, <strong>Angola</strong> teria recebido as Certidões<strong>de</strong> pagamento reflectindo um montante total <strong>de</strong> 5 milmilhões <strong>de</strong> dólares ($161.290.322,57 X 31), extinguindoassim a totali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> à Rússia, embora <strong>Angola</strong> tivesseapenas <strong>de</strong> pagar à Rússia o montante principal reduzido erespectivos juros discutidos acima. Assim, utilizando estemecanismo simples, a dívi<strong>da</strong> <strong>de</strong> 5 mil milhões <strong>de</strong> dólares<strong>de</strong> <strong>Angola</strong> à Rússia po<strong>de</strong>ria ter sido extinta e ca<strong>da</strong> parteteria a segurança adicional <strong>de</strong> ter um banco in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte asupervisionar a transacção e a libertar os fundos e as Notasapenas aquando do cumprimento dos vários termos doContrato. 18A 17 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1997, o Banco Nacional <strong>de</strong> <strong>Angola</strong>emitiu uma série <strong>de</strong> 31 Notas promissórias. Tal comoconfirma um acordo posterior, estas Notas foram emiti<strong>da</strong>s“em conformi<strong>da</strong><strong>de</strong>” com o Acordo intergovernamental<strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1996. 19 As Notas previam o pagamentodurante o mesmo plano <strong>de</strong> pagamentos <strong>de</strong>finido no Acordointergovernamental <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1996, com a primeiraNota a pagamento a 15 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 2001, e a última a15 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 2016. No entanto (e curiosamente), oscálculos cui<strong>da</strong>dosamente <strong>de</strong>talhados dos pagamentos <strong>de</strong>juros incluídos no Plano para o Acordo intergovernamentalforam omitidos. Igualmente, em vez <strong>de</strong> reflectirem paraca<strong>da</strong> Nota um montante principal em dívi<strong>da</strong> (“valornominal”) <strong>de</strong> $63.134.000 (tal como contemplado peloAcordo intergovernamental <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1996), ca<strong>da</strong>uma <strong>da</strong>s Notas mostrava um montante principal em dívi<strong>da</strong><strong>de</strong> apenas $48.387.096,77. Caso contrário, as Notasseriam inteiramente consistentes com os entendimentos <strong>de</strong>Novembro <strong>de</strong> 1996. 20Pierre Falcone nasceu na Argélia em1954. Ao oito anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>, os seus paismu<strong>da</strong>ram-se para França, após a <strong>de</strong>claração<strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência <strong>da</strong> Argélia. Com vinte epoucos anos, Falcone mudou-se para o Brasil,on<strong>de</strong> <strong>de</strong>u início à sua vi<strong>da</strong> empresarial comoempresário agrícola. Juntamente com a suaesposa boliviana, Falcone estabeleceu-secomo “socielite” <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque nos EstadosUnidos na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990. Em 2009,Falcone foi con<strong>de</strong>nado por vários crimesrelacionados com o caso “<strong>Angola</strong>gate”,recebendo uma pena <strong>de</strong> seis anos. Tentoureclamar imuni<strong>da</strong><strong>de</strong> diplomática uma vezque era, então, Embaixador <strong>de</strong> <strong>Angola</strong> naUNESCO – uma posição que confirmava a suaproximi<strong>da</strong><strong>de</strong> com a elite política angolana.Algumas <strong>da</strong>s suas con<strong>de</strong>nações foramabsolvi<strong>da</strong>s e a sua sentença foi reduzi<strong>da</strong>após um recurso, em 2011. Permanece emactivi<strong>da</strong><strong>de</strong> em <strong>Angola</strong>.FASE I DO ACORDO: Financiamento pru<strong>de</strong>nte ou conspiração criminosa? 27
- Page 3 and 4: Fraude emAltas Posições:O contrat
- Page 5 and 6: “Quand on est banquier, il faut s
- Page 7 and 8: ÍndiceLista de tabelas, anexos e p
- Page 9 and 10: Lista de tabelas, anexos e provasTa
- Page 11 and 12: Resumo executivoEste relatório for
- Page 13 and 14: mil milhões de dólares, um valor
- Page 15: a Abalone procederia à transferên
- Page 18 and 19: Figura 1 Transacções da Abalone 3
- Page 23 and 24: IntroduçãoEste relatório expõe
- Page 25 and 26: mesmo plano utilizado, teria poupad
- Page 27: Fase I do Acordo:Financiamento prud
- Page 31 and 32: como intermediária entre os govern
- Page 33 and 34: semelhante ao do Banque Paribas, na
- Page 35 and 36: A primeira transferência no valor
- Page 37 and 38: das Finanças da Rússia como forma
- Page 39 and 40: intervenção de um banqueiro russo
- Page 41 and 42: Zbinden citou os vários documentos
- Page 43 and 44: A Circular 98/1 especificou ainda q
- Page 45 and 46: de 1998. A Chavanne Trade tinha a m
- Page 47 and 48: Santos era o beneficiário efectivo
- Page 49 and 50: da empresa, número 709 006, no Ban
- Page 51 and 52: • O juiz teria comunicado a ident
- Page 53 and 54: Tabela 2 Calendário da Fase I do A
- Page 55 and 56: Outra pergunta que se coloca no seg
- Page 57 and 58: Fase II do Acordo:Fuga para ChipreO
- Page 59 and 60: 2. O Segundo Mecanismo de Dívida-p
- Page 61 and 62: angolana à Federação Russa, com
- Page 63 and 64: “O Governo da República de Angol
- Page 65: A 4 de Abril de 2001, a Sberinvest
- Page 68 and 69: Gaydamak (ab)usou (d)essa procuraç
- Page 70 and 71: no Poalim Trust, em Israel, e, no d
- Page 72 and 73: sem a aprovação de Gaydamak e sem
- Page 75 and 76: ConclusãoQuando confrontados com u
- Page 77: que enfrentar uma enormidade de bur
- Page 80 and 81:
e) Os cidadãos não angolanos tamb
- Page 82 and 83:
t) As autoridades judiciais dos est
- Page 84 and 85:
Anexo 2Pagamentos feitos pela Abalo
- Page 86 and 87:
Anexo 4Pagamentos da Abalone Invest
- Page 88 and 89:
Anexo 6Pagamentos da Abalone Invest
- Page 90 and 91:
Anexo 8Pagamentos da Abalone Invest
- Page 92 and 93:
Anexo 10Pagamentos da Sonangol à S
- Page 94 and 95:
Anexo 12Pagamentos da Sberinvest-Ch
- Page 96 and 97:
Anexo 13Pagamentos da Sberinvest-Ch
- Page 98 and 99:
Prova 4Acordo Rússia-Abalone, de 5
- Page 100 and 101:
Prova 4 (contínuo)Acordo Rússia-A
- Page 102 and 103:
Prova 4 (contínuo)Acordo Rússia-A
- Page 104 and 105:
Prova 4 (contínuo)Acordo Rússia-A
- Page 106 and 107:
Prova 4 (contínuo)Acordo Rússia-A
- Page 108 and 109:
Prova 8Acordo Sonangol-Abalone, de
- Page 110 and 111:
Prova 8 (contínuo)Acordo Sonangol-
- Page 112 and 113:
Prova 8 (contínuo)Acordo Sonangol-
- Page 114 and 115:
Prova 11Memorando do UBS, de 22 de
- Page 116 and 117:
Prova 11 (contínuo)Memorando do UB
- Page 118 and 119:
Prova 11 (contínuo)Memorando do UB
- Page 120 and 121:
Prova 13 (contínuo)Memorando do UB
- Page 122 and 123:
Prova 13 (contínuo)Memorando do UB
- Page 124 and 125:
Prova 13 (contínuo)Memorando do UB
- Page 126 and 127:
Prova 13 (contínuo)Memorando do UB
- Page 128 and 129:
Prova 15 (contínuo)Memorando de En
- Page 130 and 131:
Prova 15 (contínuo)Memorando de En
- Page 132 and 133:
Prova 21Plano da Abalone Investment
- Page 134 and 135:
Prova 28Fluxograma da Sberinvest132
- Page 136 and 137:
Prova 31 (contínuo)Relatório da P
- Page 138 and 139:
Prova 31 (contínuo)Relatório da P
- Page 140 and 141:
Prova 31 (contínuo)Relatório da P
- Page 142 and 143:
Prova 31 (contínuo)Relatório da P
- Page 144 and 145:
Prova 38 (contínuo)Declaração de
- Page 146 and 147:
Prova 41Minutas da Reunião Rússia
- Page 148 and 149:
Prova 42Acordo Suíça-Angola, de 1
- Page 150 and 151:
Prova 42 (contínuo)Acordo Suíça-
- Page 152 and 153:
Prova 42 (contínuo)Acordo Suíça-
- Page 154 and 155:
Prova 42 (contínuo)Acordo Suíça-
- Page 156 and 157:
Prova 43Acordo Angola-Abalone, de 9
- Page 158 and 159:
Prova 43 (contínuo)Acordo Angola-A
- Page 161 and 162:
Notas1. JULGAMENTO N° : 0019292016
- Page 163 and 164:
32. Talvez por coincidência, José
- Page 165 and 166:
74. Código Penal Suíço, artigo 3
- Page 167 and 168:
113. PROVA 37: Carta de Christine J
- Page 169 and 170:
Obrigações”. Se assim for, algu
- Page 171 and 172:
199. PROVA 24: Plano de Pagamento d
- Page 174:
Este relatório fornece uma descri