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PLIOMETRIA APLICADA À REABILITAÇÃO DE ATLETAS The ...

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<strong>PLIOMETRIA</strong> <strong>APLICADA</strong> <strong>À</strong> <strong>REABILITAÇÃO</strong> <strong>DE</strong> <strong>ATLETAS</strong><strong>The</strong> application of plyometrics exercises in athletes rehabilitationResumoLuciano Pavan Rossi 1Michelle Brandalize 2A pliometria é uma técnica conhecida para aumentar a potência muscular e melhorar o rendimentoatlético, porém, só recentemente, sua importância na prevenção e na reabilitação de lesões está sendodiscutida. Os exercícios pliométricos são definidos como aqueles que ativam o ciclo excêntricoconcêntricodo músculo esquelético, provocando sua potenciação mecânica, elástica e reflexa. Esseciclo refere-se às atividades concêntricas precedidas por uma ação excêntrica, cujo propósito é aumentara força explosiva do músculo pelo armazenamento de energia elástica na fase de pré-alongamento esua reutilização durante a contração concêntrica, além da ativação do reflexo miotático. O objetivodeste trabalho de revisão bibliográfica é descrever as bases mecânicas, elásticas e neurofisiológicasda pliometria, assim como, a sua importância na reabilitação de atletas, haja vista que eles precisamretornar de forma precoce e segura ao esporte competitivo. Para isso, foram utilizados livros e artigoscientíficos nacionais e internacionais. Pôde-se observar, que esses exercícios são usados na fase finalda reabilitação de vários tipos de lesões musculoesqueléticas, tanto dos membros inferiores, quantodos superiores e também na prevenção de alguns tipos de lesões, pois, acredita-se que eles sãocapazes de desenvolver força explosiva, aumentar a resposta muscular e melhorar a coordenaçãoneuromuscular. Conclui-se, que é fundamental para o fisioterapeuta do esporte conhecer o conceito ea aplicação clínica da pliometria na prevenção e no tratamento das lesões esportivas para poderelaborar um programa de tratamento seguro e eficiente.Palavras-chave: ciclo excêntrico-concêntrico; pliometria; potenciação muscular; reabilitaçãoAbstractPlyometrics is known by its ability to increase muscular power and to improve the athleticperformance, however, just recently its importance in rehabilitation has being discussed. <strong>The</strong> plyometricsexercises are defined as those ones that activate the stretch-shortening cyicle of the skeletal muscle,stimulating its mechanic, elastic and reflex potenciation. This cycle refers to the concentric activitiespreceded by an eccentric action, whose purpose is to increase the muscle explosive strength by thestorage of elastic energy in the pre-stretching and its use during concentric contraction. <strong>The</strong> aim ofthis review article is to describe the mechanic, elastic and neurophisiologics basis of plyometrics, asits importance in athletes rehabilitation because they need to return early and safe to the competitivesport. To write this review, nationals and internationals books and articles were used. We could seethat this exercises are used at the final phase of rehabilitation of a sort of lesions in the musculoskeletalsystem, for both upper and lower limbs and even to prevent some kind of lesions, because we believethey are capable to develop explosive strength, increase muscle reativity and improve the musclecoordination. <strong>The</strong> conclusion is that it is fundamental for the sport physical therapist to know theconcept and clinical application of plyometrics to prevent or treat lesions and to elaborate a safe andefficient treatment program.Key-words: plyometrics; rehabilitation; stretch-shortening cycle; muscle potenciation1Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste Mestrando em Bioengenharia pela UNIVAP2Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste. Pós-graduanda em Fisioterapia ortopédica, traumatológica e desportiva pela FaculdadeEvangélica do Paraná.Recebido em 17/04/2006 - Aprovado em 24/05/2006Revista Salus-Guarapuava-PR. jan./jun. 2007; 1(1): 77-85 ISSN 1980-2404


Pliometria aplicada à reabilitação de atletasROSSI LP, BRANDALIZE MIntroduçãoA maioria das atividades desportivas, comosaltar e arremessar, utiliza uma alternância decontrações musculares, denominada de cicloalongamento-encurtamento, ou seja, ummecanismo fisiológico cuja função é aumentar aeficiência mecânica dos movimentos, nos quaisocorre uma contração muscular excêntrica,seguida, imediatamente, por uma açãoconcêntrica (1) .Um dos meios pelo qual se ativa o cicloalongamento-encurtamento é a pliometria. Essemétodo é conhecido por desenvolver potênciamuscular em atletas. A potência representa ocomponente principal da boa forma física, quepode ser o parâmetro mais representativo dosucesso nos esportes que requerem força rápidae extrema (2) .O termo pliometria foi introduzido pelotreinador norte americano Fred Wilt em 1975. Essatécnica tornou-se popular nos anos 60 e 70 e foiresponsabilizada pelo sucesso dos atletas do lesteeuropeu na época (3) . Os treinadores norteamericanosjá usavam saltos com bancos o pularcorda, porém não conheciam sua base fisiológica.Foi, então, o treinador soviético YuriVerkhoshanski, durante o final da década de 60,quem começou a transformar o que eram apenassaltos aleatórios, em treinamento pliométricoorganizado (2, 4) .Os exercícios pliométricos são definidoscomo aqueles que ativam o ciclo excêntricoconcêntricodo músculo esquelético, provocandosua potenciação elástica, mecânica e reflexa (5) .O propósito dos exercícios de ciclo alongarencurtarou de contra movimento é melhorar acapacidade de reação do sistema neuromusculare armazenar energia elástica durante o préalongamento,para que esta seja utilizada durantea fase concêntrica do movimento (6) . Essesexercícios promovem a estimulação dosproprioceptores corporais para facilitar o aumentodo recrutamento muscular numa mínimaquantidade de tempo (7) .Além da importante contribuição desta técnicapara o ganho de potência,de auxílio na melhora dodesempenho de controle neuromuscular, porém,somente há pouco a sua importância na prevençãoe reabilitação de lesões está sendo discutida (8) .Dessa forma, este trabalho de revisãobibliográfica tem como objetivo descrever as basesmecânicas, elásticas e neurofisiológicas dapliometria, assim como, o seu papel na reabilitaçãoe prevenção de lesões em atletas, haja visto queeles precisam retornar de forma precoce e seguraao esporte competitivo.DiscussãoO ciclo alongamento-encurtamento édividido em três fases, a fase excêntrica ou depré-alongamento, a fase de amortização e a faseconcêntrica ou de encurtamento. A fase excêntricaé descrita como preparatória, ela estimula osreceptores musculares e carrega os músculos comenergia elástica. A fase de amortização é o tempoentre o começo da contração excêntrica até ocomeço da contração concêntrica e a terceira eúltima fase é a de contração ou encurtamento, ouseja, a fase final do movimento pliométrico a qualgera o movimento explosivo (5, 9, 10, 11) .Bases fisiológicas do exercíciopliométricoA fisiologia do ciclo alongar-encurtar ébaseada na combinação dos reflexos deestiramento muscular e nas propriedadesmecânicas e, principalmente, elásticas do sistemamúsculotendíneo.Segundo Deslandes et al.(6), ocomportamento muscular é representado comoum modelo de três componentes, como mostradona figura 1, que são um componente contrátil,CC, formado pela actina e miosina, umcomponente elástico em série, CES, que seencontra em série com o CC e possui uma parteativa, situada na zona contrátil do músculo e umaparte passiva, correspondente ao tendão.O componente elástico em paralelo, CEP,encontra-se em paralelo com o CC e correspondeao sarcolema, ao endomísio, ao perimísio e aoepimísio.78Revista Salus-Guarapuava-PR. jan./jun. 2007; 1(1)


Pliometria aplicada à reabilitação de atletasROSSI LP, BRANDALIZE MEste é responsável por manter as fibrasunidas, e juntamente com o CES, confereimportante rigidez funcional para aprimorar atransmissão da força de contração do músculopara o tendão e osso (12) .Figura 1.Fonte: Deslandes et al., 2003Quando o músculo contraiconcentricamente, a maior parte da força produzidaé proveniente do componente contrátil, ou seja,da interação entre os filamentos de actina emiosina e pouca energia elástica é armazenada.Na contração muscular excêntrica, o músculo éalongado e o CES também, dessa forma, umaquantidade maior de energia elástica é estocada(6). Acredita-se que ocorre um aumentosignificativo na produção de força muscularconcêntrica quando imediatamente precedida poruma contração muscular excêntrica, devido àreutilização dessa energia elástica pelo músculo(4). Cerca de 28% da energia é estocada pelo CESativo, enquanto que 72% pelo CES passivo, ouseja, o tendão é o principal responsável pelaabsorção de energia elástica durante uma açãoexcêntrica (13) .Foi realizado um estudo no qual comparouseações com contra movimento e sem contramovimento em flexores plantares de seisindivíduos do sexo masculino, com o auxílio deuma plataforma de força, eletromiografia e imagensultrasônicas em tempo real do músculogastrocnêmio (14) .Esse autor concluiu que, nos exercíciosprecedidos por estiramento, houve maior forçana fase concêntrica do movimento do que nospuramente concêntricos. Conclui, ainda, que ostendões são os principais responsáveis peloarmazenamento de energia elástica.Como se sabe, a eficiência mecânica dotrabalho muscular é de aproximadamente 25%, ouseja, somente esse valor da energia química gastase converte em energia mecânica, ou seja,movimento, e os outros 75% são transformadosem energia térmica, calor, uma energia que nãointeressa em termos de desempenho (15) . Com ociclo excêntrico-concêntrico, o rendimentomuscular é 25% a 40% maior, devido à energiagratuita fornecida pelo armazenamento erecuperação da energia elástica, contribuindo paraa economia do gesto esportivo (13) . Porém, paraque isso aconteça é necessário que se realize umpré-alongamento de pequena amplitude, grandevelocidade e tempo de amortização bastante curto,caso contrário, muita dessa energia será dissipadaem calor (5) .Para provar esses parâmetros, Bosco e Komiapud Prentice e Voight (4) , realizaram um estudono qual compararam saltos de profundidadeamortecidos com saltos não amortecidos. Saltosem profundidade são aqueles nos quais ocorreuma queda a partir de determinada altura seguida,imediatamente, de um salto vertical máximo. Nossaltos não amortecidos, o ângulo de flexão dejoelhos foi mínimo na aterrissagem, e este foi logoseguido por um salto imediato. Nos saltosamortecidos, houve uma maior flexão de joelho, oque prolongou o início da fase concêntrica,dissipando assim, grande parte da energia elásticaarmazenada em calor. Verificou-se, então, que aprodução de potência foi significativamente maiornos saltos não amortecidos, provando o queMoura e Moura (5) , afirmaram acerca da amplitude,velocidade e tempo do pré-alongamento.Dessa forma, o exercício pliométrico é ummeio que pode melhorar a força e potênciamuscular com recrutamento seletivo de fibras tipoIIb, haja visto que essas fibras respondem melhorao pré-alongamento de alta velocidade e pequenaamplitude (5, 16) . Portanto, os atletas de modalidadede força e velocidade, possuempredominantemente, fibras musculares decontração rápida, o que lhes confere uma préqualificaçãoimportante para o desencadeamento79Revista Salus-Guarapuava-PR. jan./jun. 2007; 1(1)


Pliometria aplicada à reabilitação de atletasROSSI LP, BRANDALIZE Mda potenciação muscular através de exercíciospliométricos (17) .Ainda, dois reflexos são de grandeimportância na fisiologia do ciclo excêntricoconcêntrico,o reflexo miotático e o reflexo doórgão tendinoso de Golgi, nos quais estãoenvolvidos respectivamente, os fusos muscularese os órgãos tendinosos de Golgi (2, 4) .Quando um músculo é alongado, as fibrasestiram-se, a qual envia informações sensoriaisquanto ao comprimento do fuso e à velocidadede estiramento aplicado, ao SNC. Na medula, ainformação é processada e impulsos eferentes sãodevolvidos através dos motoneurônios para asfibras musculares, provocando a contração domúsculo agonista, a qual por sua vez alivia atensão nos fusos (18) .Bompa (2) relata que reflexo miotático é muitosensível e é determinado pela velocidade deestiramento, de forma que em um estímulo lento,a resposta motora será muito fraca, ao passo queestímulo feito rápido e bruscamente resultará emuma contração muscular rápida e explosiva,portanto, numa contração concêntrica com préestiramentorápido, como na pliometria, há umaumento da ativação neuromuscular e umamelhora do rendimento muscular.O reflexo miotático é um dos mais rápidos,pois sua latência ou tempo de reação é de cercade 30 a 40mseg. É através dele que somos capazesde ter uma resposta rápida diante de forças,traumas ou mudanças de direções repentinas, e,portanto, possui papel protetor através daestabilização muscular reflexa. Esse reflexo podeser facilitado através do treinamento reativo, deforma que o atraso eletromecânico requerido paradesenvolver tensão muscular seja reduzido (4) .Quando ocorre uma demora nesse tempo delatência ou de reação, há maior possibilidade de oindivíduo sofrer lesões (19) .Esse reflexo pode ainda promover orecrutamento de unidades motoras adicionais, asquais atuariam no recuo elástico, contribuindo paraum maior armazenamento de energia elástica (4) .O reflexo do órgão tendinoso de Golgiocorre quando a tensão muscular aumenta a pontode colocar em risco a integridademusculotendinosa, nesse momento, o OTG enviasinais à medula espinhal, a qual manda eferênciasinibitórias ao músculo contraído, causando seurelaxamento e evitando uma possível lesão 3 .Entretanto, existe um mecanismo pelo qualos exercícios pliométricos podem desenvolverforça explosiva, que é através da dessensibilizaçãodo OTG, pois, como esse receptor é inibidor datensão muscular, ele limita a produção de forçamuscular. Com a sua dessensibilização, seu limiarde ativação é elevado, de forma que maiorquantidade de força e de carga sobre o sistemamusculoesquelético pode ser aplicada (4) .Segundo Wilk et al. (7) , a pliometria é capazde melhorar a eficiência neural e aumentar ocontrole neuromuscular. A utilização do préalongamentopode permitir que o indivíduoadquira uma melhor coordenação das atividadesde específicos grupos musculares, a qual causauma adaptação neural capaz de incrementar aprodução de força explosiva.O aumento da força explosiva conseguidacom o ciclo alongamento-encurtamento resultatanto do armazenamento de energia elásticadurante o pré-estiramento e sua reutilização comoenergia mecânica durante a contraçãoconcêntrica, como da ativação do reflexomiotático, porém, a porcentagem de cada umdesses fatores não é conhecida (1) .Utilização da pliometria na reabilitaçãoOs exercícios pliométricos são usados notreinamento de atletas para desenvolver forçaexplosiva, melhorar a reatividade muscular atravésda facilitação do reflexo miotático e dadessenssibilização dos OTGs e melhorar acoordenação intra e extra articular (6,10,19) .Analisando os efeitos desses exercícios, acreditaseque estes podem ser benéficos na prevençãode lesões e também na reabilitação, principalmentede atletas (8) .Esses exercícios passaram a fazer parte dosprogramas de reabilitação há pouco tempo (10) . Oseu uso na fase avançada da reabilitação deinúmeras lesões em atletas foi citada (20) . Osexercícios para membros inferiores, como os saltosem profundidade, são mais populares e bem maisdescritos na literatura do que os para membrossuperiores, porém, o uso desses exercícios nareabilitação de atletas que realizam movimentos80Revista Salus-Guarapuava-PR. jan./jun. 2007; 1(1)


Pliometria aplicada à reabilitação de atletasROSSI LP, BRANDALIZE Macima da cabeça, é cada vez mais comum (9) .Após algumas semanas ou meses dereabilitação para restaurar os tecidos envolvidosna lesão, o paciente é preparado para retornar àsatividades regulares de treinamento e oucompetição. Essa fase funcional do tratamento émuito importante, porque o programa dereabilitação deve ser gradualmente substituídopelo treinamento esportivo específico, haja vistoque este irá expor o atleta às mesmas forças econdições associadas com a lesão inicial. Essafase incorpora movimentos de específicos gruposmusculares necessários para o melhor rendimentodo atleta (21) . Os exercícios pliométricos recriam otipo de contração excêntrico-concêntrica vividadurante atividades atléticas e são parte vital dareabilitação do ombro do atleta (19) .Bisciotti, Vilardi e Manfio (13) relataram haverdiminuição da capacidade elástica da musculatura,após lesão muscular, demonstrando a importanteperda das características elásticas da musculaturaextensora de joelho após a lesão e cirurgia dereconstrução de ligamento cruzado anterior, LCA,bem como, afirmaram que o elemento elástico emsérie possui função protetora das estruturasarticulares e periarticulares em caso de brusca erepentina contração muscular, portanto, aquelesatletas que não promovem a potenciaçãomuscular, limitam a estocagem e a restituição daenergia elástica, se expõem a riscos maiores delesão, principalmente traumáticos e na faseexcêntrica do movimento.Prentice e Voight (4) afirmam que um fusomuscular com nível de sensibilidade baixo possuimenor capacidade para superar o estiramentorápido e assim, produz uma resposta menosvigorosa e Deslandes et al. (6) relata que oindivíduo que realiza atividades com cicloalongar-encurtar, ocorre uma melhor sincronizaçãoda atividade muscular e da atividade miotática,portanto, um programa de exercícios pliométricos,aumenta a eficiência neural, corrigindo déficitsproprioceptivos e melhorando o desempenhoneuromuscular.Hillbom (8) sugere que a pliometria pode serusada ainda como um tipo de reeducaçãoneuromuscular, e é um mecanismo promotor deajustes posturais e de ativação muscularnecessários para proteger articulações na maioriados esportes, sendo dessa forma, usada naprevenção de lesões em atletas.De acordo com Hewett, Myer e Ford (22) , otreinamento pliométrico é capaz de reduzir lesõesatraumáticas de joelho, principalmente emmulheres. Em um estudo com baseeletromiográfica e plataforma de força, Chimera,Swanik e Straub (23) , descobriram que otreinamento com saltos pliométricos melhorou aativação da musculatura do quadril, a qual éimportante para a estabilização do joelho econseqüentemente para prevenção de lesões.Existem relatos na literatura do uso depliometria em inúmeros tipos de lesões e emdiferentes articulações do corpo. Andrews,Harrelson e Wilk (20) acreditam que um programade exercícios pliométricos pode ser bastante útilna reabilitação de atletas que realizam movimentosacima da cabeça, como os arremessadores e podeser usados para toda a extremidade superior notratamento de síndrome do impacto, instabilidadede ombro, lesões do cotovelo e no pós-cirúrgicode lesões do lábio glenoidal. Esses mesmosautores defendem, ainda, a utilização dessesexercícios para lesões do membro inferior, dentreas quais destacam-se tendinopatias, lesõesmusculares, entorses de tornozelo, lesões deligamento cruzado anterior (LCA), ligamentocruzado posterior (LCP) e após reparo meniscal.Para o tratamento de lesões docompartimento medial do cotovelo, como lesõesdo ligamento colateral ulnar, preconiza-se autilização de exercícios pliométricos preparam aextremidade superior para as atividades develocidade e força requeridas para o arremesso esoco e devem ser iniciados 3 a 4 semanas antesdo retorno aos lançamentos (24) .Myers e Lephart (19) acreditam que há umadiminuição da propriocepção do ombro apóslesão, principalmente, nas instabilidadesarticulares, e que essa falha proprioceptiva emuma articulação é capaz de alterar o movimentocoordenado das outras articulações envolvidasna cadeia cinética.Exercícios pliométricosExiste uma grande variedade de exercíciospliométricos, os quais devem ser combinados e81Revista Salus-Guarapuava-PR. jan./jun. 2007; 1(1)


Pliometria aplicada à reabilitação de atletasROSSI LP, BRANDALIZE Maplicados de acordo com a necessidade de cadaesporte, um exemplo é o basquetebol, no qual oatleta deverá realizar tanto exercícios paramembros inferiores e superiores, pois esses atletasrequerem força de impulsão para o salto e potênciapara o arremesso. Moura e Moura (5) afirmam queo atletismo é uma modalidade que abrange umgrande espectro de atividades, como corrida,saltos e arremessos e os exercícios pliométricossão fundamentais na reabilitação desses atletas.A pliometria pode ser aplicada de formasimples, utilizando-se materiais de fácil aquisição,como caixas de madeira, cones, bolas e elásticos (17) .É importante ressaltar a função doaquecimento antes da aplicação dos exercíciospliométricos. O aquecimento pode ser divididoem geral e específico. O primeiro envolveatividades como corrida lenta, seguida deexercícios calestênicos e alongamentos. Osegundo engloba atividades repetidas quepreconizam os padrões neuromusculares dahabilidade esportiva (2) .Após o aquecimento, o paciente deve serexposto a atividades que visam a aprendizagemda técnica. Nessa fase, o terapeuta deverá ensinarpontos importantes, como a aterrissagem correta,respeitando a velocidade exigida pelo exercício eo alinhamento adequado do corpo (10) . Exercíciosde baixa intensidade ou impacto, como saltosbilaterais no lugar são usados nessa fase. ( 26) . Emseguida deve-se aumentar o nível de dificuldadee expor o sistema articular e miotendíneo a umamaior carga através de exercícios de nívelmoderado e finalmente, o programa evolui até oretorno do atleta ao esporte. A velocidade deprogressão depende da gravidade de lesão (10) .Os principais tipos de exercícios paramembros inferiores são os saltos no lugar, ou seja,os membros inferiores aterrisam no mesmo lugarde onde saltaram, saltos com mudança de direção,nos quais os membros inferiores aterrisam em umponto diferente de onde saltaram, que pode serpara o lado, para frente ou na diagonal e saltosem profundidade que utilizam caixas e requeremmaior experiência, pois são mais agressivos,exigindo mais das qualidades reativas e deexplosão muscular (2,26) .Nos exercícios para membros superioressão utilizados medicine balls, que são bolas dediferentes graduações de peso, elásticos ou pushup na parede ou solo.Em seguida, serão mostrados algunsexemplos de exercícios pliométricos.Figura 2. Salto em profundidadeFonte: Bompa, 2004.Figura 3. Arremesso acima da cabeçaFonte: Bompa, 2004.Figura 4. Abdominal com medicine ballFonte: Bompa, 2004.82Revista Salus-Guarapuava-PR. jan./jun. 2007; 1(1)


Pliometria aplicada à reabilitação de atletasROSSI LP, BRROSSI LP, BRANDALIZE MParâmetros para o desenvolvimento doprograma de exercícios pliométricosA especificidade do exercício é um dosprincipais fatores para se obter um resultado eficazcom os exercícios pliométricos. Os movimentosespecíficos de cada esporte devem ser analisadospelo fisioterapeuta e um programa de exercíciospliométricos deve seguir as exigências de cadadesporto (2, 4) .Para iniciar a pliometria na reabilitação, aparte do corpo envolvida deverá estar ausentede edema e dor, sem restrições na amplitude demovimento, flexibilidade e medidas de forçasimilares ao membro contralateral, e por isso, estamodalidade de exercício deve ser implantada nafase final da reabilitação (10) .O atleta deve, ainda, ter força muscular eestabilidade articular adequados antes de iniciaresses exercícios (1) .Para elaborar um plano de tratamentousando a pliometria, o fisioterapeuta deve estarciente das inúmeras variáveis que afetam essesexercícios e dos objetivos que se quer alcançarcom cada esporte e com cada indivíduo (9) . Asprincipais variáveis que devem ser estipuladassão: intensidade, volume e freqüência, porémoutras variáveis, como o sentido do movimentocorporal, a carga externa e o repouso, devem serconsideradas (4) .O aumento da velocidade de execução doexercício aumenta a demanda de treinamento sobreele, portanto, quando um novo exercíciopliométrico é iniciado, deverão ser feitos emvelocidade e em um tempo de amortizaçãomenores, até que o atleta esteja pronto paraprogredir (25) .Não há consenso quanto ao volume,intensidade e freqüência ideais para a reabilitaçãode atletas, porém é sabido que diferentemente dotreinamento esportivo, no qual os exercícioschegam a um nível máximo, os exercíciospliométricos na reabilitação podem chegar a níveissubmáximos (9) . As sessões devem ser feitas emdias alternados e os exercícios devem serprogressivos, começando com aqueles maissimples e de baixa intensidade e evoluindo paraos mais complexos e de maior intensidade, porémsem alcançar o nível máximo, pois esses serãorealizados após o retorno do atleta ao treinamentoesportivo (10) .Andrews, Harrelson e Wilk (20) e Wilk et al. (7)orientam a aplicação desses exercícios numafreqüência de no máximo 2 a 3 vezes por semana.O tempo de repouso é uma variável muitoimportante a ser considerada, haja visto que apliometria pode causar fadiga, que é o resultadodo esgotamento de energia contida nos músculos,como o ATP e o fosfato de creatina e também pelaprodução e acúmulo de ácido lático (2) . Nomomento em que ocorre a fadiga, o controle motorfica deficitário e os efeitos do treinamento seperdem (4) .Por ser a pliometria um exercício de impacto,que envolve várias articulações, o alinhamentocorporal correto deve ser orientado e corrigidopelo fisioterapeuta. O excesso de exercícios semum período de repouso adequado, assim como aaplicação da pliometria em fase inicial dotratamento são fatores que podem piorar a lesãoou até mesmo causar novas lesões (6) .Na pliometria, podem ser geradas cargasbiomecânicas extremas e o tecido conjuntivo dospés, tornozelo, quadril e discos intervertebraisamortecem o choque para dissipar o estresseimposto por um salto. As lesões ocorrem quandoforças exteriores agem nas articulações,excedendo a integridade estrutural dos músculos,ossos, e tecidos conjuntivos, por isso umprograma de treinamento de força deve serrealizado antes do início dos exercíciospliométricos e deve envolver tanto a musculaturados membros, como os estabilizadores da postura,como os abdominais e extensores da coluna (2) .Dentre as lesões mais comuns notreinamento pliométrico encontram-se astendinopatias e fraturas por estresse (2, 6) .Para se elaborar um programa de exercíciospliométricos na reabilitação, a natureza da lesão,microtraumática ou macrotraumática não é tãoimportante, porém o tipo de estresse básicosuportado pelo tecido em recuperação sim.Estresses básicos a considerar são carga mediallateral,carga rotacional e carga de absorçãodesaceleração.O tecido capsular e ligamentar dojoelho e cotovelo devem proteger contra forçasem valgo nessas articulações. O tecido tendinosoe peritendinoso patelar, calcâneo e supraespinhal83Revista Salus-Guarapuava-PR. jan./jun. 2007; 1(1)


Pliometria aplicada à reabilitação de atletasROSSI LP, BRANDALIZE Mentre outros, deve fornecer uma desaceleraçãoangular adequada durante contrações excêntricas.Dessa forma, após a lesão, a função do tecido éum fator fundamental a ser considerado de modoque o exercício pliométrico deve fornecer tambémcarga tecidual específica (4) .De acordo com o mesmo autor, exercícioscom carga médio-lateral são ideais para entorsesda cápsula medial e lateral, complexo ligamentardo joelho, lesões musculares no abdutor e adutorde quadril e inversores e eversores do tornozelo;a carga rotacional é usada no tratamento de lesõesde ligamentos cruzados, menisco e cápsula e acarga de absorção nas lesões musculares, decartilagem e principalmente, tendões.É contra-indicado o uso de exercíciospliométricos em pós-operatórios imediatos,presença de inflamação aguda, dor, edema ouderrame articular (7, 8) .ConclusãoAs justificativas para a utilização dapliometria na reabilitação de atletas são, várias, poisexistem evidências de que o sistema muscular eligamentar após uma lesão sofrem uma diminuiçãoda sua capacidade elástica. Concomitantemente,danos proprioceptivos são gerados a partir delesões do sistema musculoesquelético. Destaforma, o treinamento pliométrico repetitivoinfluencia na resposta reativa muscular, melhorandoa sincronização da atividade muscular e da atividademiotática, portanto, um programa de exercíciospliométricos, aumenta a eficiência neural,corrigindo déficits proprioceptivos e aprimorandoo controle neuromuscular.Por esses efeitos, é sabido que a pliometria,além de importante instrumento na reabilitaçãode lesões, é ainda, efetiva na prevenção destas,pois um bom controle motor atua como ummecanismo protetor capaz de ativar as vias deestabilização reflexas, feed foward, ocasionandouma resposta motora mais veloz diante de forçasou traumas inesperados. A pliometria é, portanto,uma forma de se obter força explosiva e melhorara propriocepção ao mesmo tempo.A possibilidade de utilizar a pliometria comoatividade estimuladora da potenciação muscular,surge como uma alternativa interessante, já queos exercícios dessa natureza podem ser realizadosde forma simples e em qualquer ambiente. Porém,existe ainda a necessidade de estudos quedefinam os parâmetros ideais de tratamento, assimcomo trabalhos que comprovem objetivamenteos benefícios da pliometria na reabilitação.Entretanto, é fundamental para ofisioterapeuta do esporte conhecer o conceito e aaplicação clínica da pliometria na prevenção e notratamento das lesões esportivas, para que possaelaborar um programa de reabilitação seguro eeficiente, que visa reabilitar o atleta em todos osseus aspectos.Referências1. VOIGHT, M.L.; DRAOVITCH, P.; TIPPETT, S. Pliométricos. In: ALBERT, M. Treinamento excêntrico emesporte e reabilitação. 2ed. São Paulo: Manole, 2002; 63-92.2. BOMPA, T.O. Treinamento de potência para o esporte. São Paulo: Phorte, 2004; 1933. KUTZ, M.R. <strong>The</strong>orical and practical issues for plyometric training. NCAs Performance Training Journal, January,2003, 2(2): 10-12.4. PRENTICE, W.E.; VOIGHT, M,L. Técnicas em reabilitação musculoesquelética. Porto Alegre, Artmed, 2003.5. MOURA, N, A; MOURA, T,F,P. Princípios do treinamento em saltadores: implicações para o desenvolvimento daforça muscular. In: I Congresso sul-americano de treinadores de atletismo. Manaus, 2001. Disponível em:. Acesso em 15 de Maio de 2005.6. <strong>DE</strong>SLAN<strong>DE</strong>S, R.; GAIN, H.; HERVÉ, J.M.; HIGNET, R. Principios de fortalecimiento muscular: aplicaciones en eldesportista. IN: SIMONNET, J. Kinesioterapia. Medicina física. Paris: Elsevier, 2003:1 –10.84Revista Salus-Guarapuava-PR. jan./jun. 2007; 1(1)


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