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A-nova-sinfonia-paulistana

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viciados, dando a eles uma renda.” Nesse instante, Lopes subiu o som da música, paracriar o clima de tensão adequado, recurso dramático que abunda no programa.Azevedo retomou: “E aí vêm essas esquerdas vagabundas, esses canalhas do patrimônioalheio, falando „Ah, é discriminação‟. Por que não leva o drogado pra sua casa, seu filhoda mãe?” Ele grita: “Leva pra sua casa! Você, esquerdinha chique de Moema, da VilaNova Conceição, da Vila Madalena, de Higienópolis, do Itaim. Leva pra sua casa, seubanana!” Parece que vai bater com um cassetete na mesa. “Os jornalistas que gostamdisso façam a mesma coisa. Leva lá! Aproveita e já puxa um fumo com o craquelado.Faz lá um negócio de droga geral, já que um bando de jornalista queima mato mesmo.Ou não queima?!”O jornalista dá uma trégua a si próprio. O som do estúdio diminui. “Eu falo aquilo queas pessoas sabem que é verdade e fica todo mundo escondendo. É gente que fica dandopassinho miudinho, que anda segurando o pum. Aqui é o seguinte: eu falo, não tenhomedo, não!” Mais batidas na mesa. Ele respira. Pede então a Lopes que coloque GustavMahler. Entra o Adagietto, da Sinfonia nº 5 do compositor austríaco. Azevedo diz que amúsica o acalma. Soam as cordas e a harpa que compõem a trilha sonora do filme Morteem Veneza, de Luchino Visconti.E assim é de segunda a sexta, diariamente. Durante sessenta minutos, Reinaldo Azevedoé o showman. No estúdio azul da Pan, cujas paredes são recortadas por grandes círculosenvidraçados, apoiado na mesa de fórmica cinza e com um microfone a sua frente, elevai do berro à gargalhada em fração de segundos. Alterna fúria e zombaria, gravidade eescárnio, sem cessar.Para muitos leitores do blog e ouvintes da rádio, Tio Rei, como se autodenomina, virouuma espécie de guru. Seu programa alimenta isso. Azevedo dá conselhos do tipo“Usecamisinha, vai com calma, não adianta reclamar para Deus se fizer besteira, Deustem mais o que fazer do que cuidar do seu peru”. Indica bandas indies, filmes, citaautores e recomenda bibliografia. Vai de Rimbaud às novelas globais, da epopeia gregaà canção sertaneja. Não perde a chance de corrigir o português dos outros, dos petistasem especial, e discorre sobre o significado de palavras que cita nos editoriais, como“condestável” ou “inefável” – e então uma vinheta em tom meio galhofeiro anuncia o“momento cultural” do programa.Reinaldo Azevedo estreou seu blog na Veja em 2006, quando Lula já caminhava para areeleição, recuperado do escândalo do mensalão, que eclodira em 2005. O PT, noentanto, havia perdido no curso da crise seus principais quadros. Mais do que isso,deixara definitivamente de ser o partido da ética. Foi nesse terreno fértil, com umadisposição inesgotável para enfrentar Lula, que Azevedo pavimentou sua estrada. Aexpressão “petralha”, que cunhou, é um de seus orgulhos.Caiu no gosto de milhares de pessoas, e seu blog passou a ter mais de 500 mil acessospor dia. Em 2013, a Folha o convidou a assinar uma coluna semanal. No mesmo ano,ele aceitou participar como convidado de uma das edições do Jornal da Manhã, na Pan.Os ouvintes gostaram e, a partir de dezembro, começou a fazer comentários diários narádio, gravando-os em casa, de madrugada (ele vai dormir quando o dia está

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