Urbana, que foi um sucesso. “Ganhei tanto dinheiro que saí com a caixa igual à daIgreja Universal.”Tutinha colocou muita banda para tocar na rádio em troca da receita de shows. Ficoufamosa uma briga com o Ultraje a Rigor, por causa desse acordo informal. Roger, ovocalista, se insuflou contra o empresário e gritou no meio de um show: “Tutinha, filhoda puta, Tutinha, jabazeiro.” Tutinha institucionalizou o jabá na rádio (a prática dereceber dinheiro das gravadoras para tocar determinadas músicas), embora refute essenome, alegando que a operação é comercial, com emissão de nota fiscal e pagamento deimposto. Disse à Playboy ter faturado 1 milhão de dólares para lançar a cantora Shakirano Brasil e ter conhecido vários países de graça por causa dos pacotes pagos pelasgravadoras. “Recebo trinta artistas novos por dia na rádio. Seleciono dez, vou àgravadora e dou preferência para aquela que me dá alguma vantagem.”Como disse certa vez, sempre foi “bamba”em ter ideias. Criou personagenshumorísticos que se tornaram clássicos da rádio, como Mike Nelson e Djalma Jorge, osquais ele mesmo interpretava, com piadas escatológicas sobre hemorroidas e afins. Suacriação de maior sucesso, porém, foi o Pânico, que depois levou para a tevê ao lado doparceiro Emílio Surita. A atração persegue personalidades e coloca “gostosinhas” paraservir de escada aos apresentadores. O empresário admite que, às vezes, sua equipe fogedos limites. Disse ter ficado uma semana sem dormir quando Sabrina Sato masturbouum porco em cadeia nacional.O seu senso de humor é particular. Recentemente, em conversa com os repórteres daPan, mostrou um aplicativo de vídeo no celular, pelo qual é possível interagir comoutros internautas. Exibiu, então, um filme que fez da mulher dormindo, e a reação dosinternautas que pediam para ele, entre outras coisas, soprar no rosto dela.A lista de seus negócios já incluiu uma parceria com a UNE para confeccionar e venderas carteirinhas de estudantes (disse ter vendido mais de 150 mil delas), site deentretenimento e torneio delutas marciais. “Na verdade, só tenho de agradecer ao meupai, pois ele, com todo esse gênio, terminou me fazendo ganhar mais dinheiro nafamília”, disse, em depoimento ao livro de Tuta pai.Certa vez, o pai encomendou uma pesquisa sobre a qualidade das águas minerais.Verificou-se que determinada marca tinha coliformes fecais. O dono da água ofereceu500 mil reais para que não fosse veiculada a informação, proposta que teria sido negadapelo presidente da Pan. “Você está louco!”, reagiu Tutinha, censurando a decisão dopai. Anos depois, ao comentar a história, contemporizou, dizendo que era muito“moleque e ambicioso”.O presidente da Pan parece estar sempre mal-humorado. Com frequência usa expressõescomo “some daqui”, “vai pra o inferno” e “de quinta categoria”.O estresse já lhe rendeugastrite e asma. “Sou um empreendedor. As pessoas assim são mais infelizes”, disse àrevista Trip em 2005. Tutinha foi procurado pela piauí diversas vezes, desde o dia 23 demarço. Não respondeu a nenhuma das mensagens e orientou os demais profissionais daemissora a não falar para essa reportagem.Em fevereiro deste ano, ele convocou uma reunião com a equipe de jornalismo norestaurante Ráscal, que fica no térreo do prédio onde funciona a Jovem Pan, na Paulista.
Queria contar sobre as mudanças que estava implementando e explicar a demissão deCarlos Belmonte, chefe de reportagem da emissora, que saiu da Pan alegando ter sidodispensado por ser “um homem de esquerda”. “Desprezo a escola Reinaldo Azevedo, oumelhor, desprezo Reinaldo Azevedo”, disse Belmonte, numa redesocial, após 24 anosde Jovem Pan.Durante duas horas, intercalando um “bosta” aqui e um “merda” acolá, Tutinha expôssua visão da conjuntura política do país e as razões que o levaram a apostar numa linhaeditorial antipetista. Admitiu que alguns comentaristas falavam “umas merdas”, masdisse que traziam audiência, citando os vídeos de Sheherazade no portal da emissora.Disse que sua decisão era ousada e que por enquanto lhe dava prejuízos. Mas queprecisava fazer algo, afinal os jornais da emissora eram uma “bosta”. “Aos poucos voureerguendo essa merda.”Apesar do discurso e da guerra declarada ao governo nos microfones da rádio, os donosda Jovem Pan andaram passando o chapéu pelos corredores do Palácio do Planalto. Nodia 12 de março, segundo registros da Presidência, ele e o irmão estiveram reunidoscom o então ministro da Comunicação Social, Thomas Traumann, no 2º andar doPalácio do Planalto, a poucos metros da “governanta”. Dois meses depois, em meadosde maio, representantes da Pan voltaram a Brasília, dessa vez para fazer pontes com onovo ministro, Edinho Silva. Após uma semana, em 26 de maio, <strong>nova</strong> reunião, naredação da Jovem Pan, da qual participaram sete pessoas, entre as quais o diretor dejornalismo, José Carlos Pereira. Os encontros seguiram rituais parecidos: um ladoreclamou da verba publicitária rarefeita, o outro questionou a linha editorial e aabundância de adjetivos contra Dilma e o PT. No meio da conversa, Tutinha exaltou ofato de não fazer mais um jornalismo “água de salsicha”, insosso, para o qual ninguémdava bola. Comemorou a alta na audiência, mas reclamou, de novo, que a liderança nãohavia se traduzido em dinheiro.O governo sinalizou com <strong>nova</strong>s campanhas, entre elas uma pregando mais “tolerância”entre os brasileiros. Dias depois da visita do ministro, estreou um quadro no Jornal daManhã, chamado “Boa notícia”. O patrocinador é a administradora de cartões Elo,controlada pelo Bradesco, Caixa e Banco do Brasil.Há pouco mais de um ano, a Jovem Pan promoveu um evento com o mercadopublicitário para formalizar a chegada de Tutinha à presidência da emissora. Noencontro, com seu ar enfadado, o empresário anunciou: “Eu me coloquei uma margem:se for mal em três anos, tchau. Nova York que me espere. Eu não fico mais aqui.”Doutor Pimpolho, com certeza, aprovaria a decisão.