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Casa de Oxumarê

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A vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu amigo foi cumprida, Salako e Zé <strong>de</strong> Brechó apren<strong>de</strong>ram omesmo oficio <strong>de</strong> carapina, como eram chamados os carpinteiros da época,assim como os dois filhos <strong>de</strong> Tàlábí, Damázio e Olavo Joaquim RicardoPouco a pouco, a <strong>Casa</strong> <strong>de</strong> Òsùmàrè torna-se símbolo <strong>de</strong> resistência negra eresgate cultural <strong>de</strong> africanos, mas não estava imune ao regime escravagistada época, razão pela qual, era alvo constante <strong>de</strong> perseguições.Porém, sob a égi<strong>de</strong> <strong>de</strong> Òsùmàrè, a casa burlava as batidas policiais. Em1862, durante a celebração da “Festa do Inhame Novo”, o pilão <strong>de</strong> Òsàlà,João Azevedo Piaptinga, sub<strong>de</strong>legado da cida<strong>de</strong>, escreveu uma carta parao chefe <strong>de</strong> polícia Henriques, informando que a roça na Cruz do Cosme realizavauma manifestação religiosa e <strong>de</strong>veria ser repreendida. O <strong>de</strong>legadoHenriques <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rou a carta, afirmando ser essa uma celebração <strong>de</strong> comemoraçãodos negros pela fartura das colheitas.Ainda hoje a tradicional “Festa do Inhame Novo” integra o calendário religiosoda <strong>Casa</strong> <strong>de</strong> Òsùmàrè, ocorre aproximadamente há 150 anos, homenageandoÒsàlà e abrindo o ciclo <strong>de</strong> obrigações do Ilé Òsùmàrè Aráká ÀseÒgòdó.Com a ida<strong>de</strong> avançada, Tàlábí <strong>de</strong>lega aos filhos a missão <strong>de</strong> perpetuar o legadoancestral do culto aos Òrìsà fincado na <strong>Casa</strong> <strong>de</strong> Òsùmàrè. Assim, a responsabilida<strong>de</strong>é <strong>de</strong>signada a um triunvirato formado por Damásio JoaquimRicardo, Doyin, iniciado para Ìbèjì; Olavo Joaquim Ricardo, Salami, filho<strong>de</strong> Òsàlà e por Antônio Maria Belchior, Salako.<strong>de</strong>tentoras <strong>de</strong> privilégios mágicos e prerrogativas sagradas, entre as quais se<strong>de</strong>staca a capacida<strong>de</strong> divinatória.O nome Tàlábí também é evocativo <strong>de</strong> um nascimento incomum e a tradução<strong>de</strong> ambos os nomes concretiza o <strong>de</strong>stino sucessório da <strong>Casa</strong> <strong>de</strong> Òsùmàrè:Tàlábí aquele que nasce na pureza, enquanto Salako aquele que fica na pureza.Salako contou com o apoio <strong>de</strong> Damázio <strong>de</strong> Òsàlà e Olavo <strong>de</strong> Ìbèjì, seus irmão<strong>de</strong> criação, contudo, seu consanguíneo, Zé do Brechó, voltou para acida<strong>de</strong> natal, Cachoeira, localizada no Recôncavo baiano. Especula-se queZé do Brechó não havia aprovado a nomeação <strong>de</strong> Salako como futuro Bàbálòrìsàda <strong>Casa</strong> <strong>de</strong> Òsùmàrè, o que seria motivo da suposta rivalida<strong>de</strong> entreos dois irmãos, narrada até os dias <strong>de</strong> hoje, em meio às histórias místicassobre duelos mágicos entre eles.Em Cachoeira, Zé do Brechó exerceu um importante papel na construçãoreligiosa e cultural da cida<strong>de</strong>, fundando a Roça do Ventura, Roça <strong>de</strong> cima,como também passou a ser chamada alguns anos mais tar<strong>de</strong>, a mais antigacasa <strong>de</strong> candomblé do Recôncavo baiano.Em 20 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1865, com aproximadamente 90 anos, Tàlábí o gran<strong>de</strong>lí<strong>de</strong>r, filho <strong>de</strong> Ajúnsún, parte para o Orùn, indo ao encontro dos seus ancestrais,sendo sepultado na Freguesia <strong>de</strong> Santo Antônio Além do Carmo, conforme<strong>de</strong>sejo firmado em testamento.Para o supremo cargo <strong>de</strong> Bàbálòrìsà, foi <strong>de</strong>signado Salako, <strong>de</strong>vido às circunstânciasdo seu nascimento, que <strong>de</strong>ram origem ao seu nome. Na línguaiorubana, o nome Salako, <strong>de</strong>fine crianças que nascem envoltas na membranaamniótica e por isso são consi<strong>de</strong>radas especiais dotadas <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>ssingulares e po<strong>de</strong>res, que as distinguem e as pre<strong>de</strong>stinam a papeis sagrados.Em terras iorubanas, se a membrana lhes envolve todo o corpo, esses recém--nascidos são consagrados a Òrìsà nlá; se um segmento da placenta rompidalhes cobre a cabeça, a<strong>de</strong>rindo a tufos <strong>de</strong> cabelo, <strong>de</strong>stinam-se a Dadá Bayànnì— o Òrìsà, a quem Antônio Maria Belchior foi consagrado. Em diferentesculturas e regiões do ecúmeno, pessoas que assim nascem são consi<strong>de</strong>radas14 15

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