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Casa de Oxumarê

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Após a prisão, Baba Antônio <strong>de</strong> Òsùmàrè passa a ser intensamente perseguidopela polícia, que repreendia o candomblé <strong>de</strong> forma dura e preconceituosa.Para assegurar a continuida<strong>de</strong> da <strong>Casa</strong> <strong>de</strong> Òsùmàrè, em 1905, oBàbálòrìsà Antônio novamente transfere os Àse para outro local, <strong>de</strong>sta vez,para a então isolada região da Mata Escura, atual bairro da Fe<strong>de</strong>ração, on<strong>de</strong>a <strong>Casa</strong> existe e realiza suas ativida<strong>de</strong>s até os dias <strong>de</strong> hoje.O local fora estrategicamente escolhido. A <strong>Casa</strong> <strong>de</strong> Òsùmàrè foi assentadasobre uma colina, portanto, com visão privilegiada, que permitia visualizarquem se aproximava durante o dia, e a <strong>de</strong>nsa vegetação – essencial para oculto aos Òrìsà – impedia que a casa fosse vista pelos perseguidores, além<strong>de</strong> dificultar o acesso daqueles que não conheciam o caminho.A organização do Terreiro em um local mais afastado permitia maior tranquilida<strong>de</strong>ao Culto dos Òrìsà, e a proximida<strong>de</strong> com outras <strong>Casa</strong>s <strong>de</strong> Candomblé,como o Zoogodo Bogun Male Hundo e oIlé Àse Ìyá Naso Oká, <strong>Casa</strong> Branca, tornava aquelaregião local <strong>de</strong> resistência da cultura e religiosida<strong>de</strong>afro<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte.Assim que fincou os Àse do terreiro na Mata Escura,o Bàbálòrìsà Antônio coloca no meio do barracão,sobre o fundamento que representa a ligação entre oorùn e o ayè; e a aliança entre os Òrìsà e seus filhos,o eixo central da força do terreiro, o Adé Bayànnì, acoroa <strong>de</strong> Dada, que po<strong>de</strong> ser admirada até hoje. Esta,mais tar<strong>de</strong>, foi objeto <strong>de</strong> inspiração <strong>de</strong> uma das maisconhecidas e admiradas obras intitulada “Festa <strong>de</strong>Iansã”, do artista plástico Carybé, retratada no livro“Iconografia dos Deuses Africanos na Bahia”.Em homenagem ao Òrìsà <strong>de</strong> seu avô <strong>de</strong> santo, o venerável Baba Tàlábí,Antônio <strong>de</strong> Òsùmàrè construiu, ao lado do Peji <strong>de</strong> Ajúnsún, um barracãoin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte para este Òrìsà. Para assegurar a continuida<strong>de</strong> da <strong>Casa</strong> <strong>de</strong>Òsùmàrè, em 14 agosto <strong>de</strong> 1905, ele inicia seu primeiro barco <strong>de</strong> filhas <strong>de</strong>santo. Maria das Neves iniciada para Oya, Oya Biyi e Maria das Mercês,iniciada para Yèwá, Abìyámo, filha <strong>de</strong> Euzébio Carvalho e Marximiana <strong>de</strong>Carvalho, ambos escravos <strong>de</strong> Umbelina Júlia <strong>de</strong> Carvalho, conforme já dito,concubina <strong>de</strong> Manuel José Ricardo, o antigo senhor <strong>de</strong> Tàlábí.Maria das Mercês foi iniciada aos 22 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, pre<strong>de</strong>stinada a ser afutura Ìyálòrìsà da <strong>Casa</strong> <strong>de</strong> Òsùmàrè; o significado <strong>de</strong> seu Orùkó tambématestava seu <strong>de</strong>stino, Yèwá Abìyámo, mãe <strong>de</strong> muitos filhos. Sua iniciaçãoaumentou a notorieda<strong>de</strong> do Bàbálòrìsà Antônio, pois antes <strong>de</strong>la não havianotícias <strong>de</strong> iniciação <strong>de</strong>ste Òrìsà no Brasil. Maria das Mercês passou a serconhecida como Cotinha <strong>de</strong> Yèwá, e assim que foi iniciada <strong>de</strong>dicou sua vidaao candomblé, tornando-se o braço direito <strong>de</strong> seu Bàbálòrìsà.O prestigio <strong>de</strong> Antônio <strong>de</strong> Òsùmàrè crescia e a cada ano que se passava suafama se estendia para fora da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Salvador. Pessoas <strong>de</strong> diversos estadoso procuravam para que, por intermédio <strong>de</strong> seu conhecimento, interviesseperante aos Òrìsà para solução dos mais diversos problemas e cura <strong>de</strong> enfermida<strong>de</strong>spor meio da magia e medicina africana, que lhe fora transmitidaatravés das gerações.Foto da o Adé BayànnìFesta <strong>de</strong> Iansã,Iconografia dosDeuses Africanosna Bahia, Carybé.Jornal Diário <strong>de</strong> Noticias – 18.09.191124 25

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