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Jornal Giramundo - nº 21 - Ano 06 - Dezembro de 2006 - Crianças voltam ao trabalho

No município de Candeal, crianças e adolescentes dão obrigados a abrir mão do direito à escola e à diversão por inadimplências da prefeitura.

No município de Candeal, crianças e adolescentes dão obrigados a abrir mão do direito à escola e à diversão por inadimplências da prefeitura.

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EDITORIALEDITORIAL<strong>Dezembro</strong> é o mês <strong>de</strong>comemorações. Este ano oPETI está completando 10anos <strong>de</strong> historia etransformação social naBahia. O Programa foi econtinua sendo a porta <strong>de</strong>entrada <strong>de</strong> uma discussãoque a cada dia vem seampliando – o Sistema <strong>de</strong>Garantia <strong>de</strong> Direitos <strong>de</strong><strong>Crianças</strong> e Adolescentes.Nestes 10 anos <strong>de</strong> execuçãodo PETI muitas coisasaconteceram, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seufortalecimento, comprojetos e ações que fizeramda Bahia um Estadodinâmico e inovador no quediz respeito à gestão social,como por exemplo: o Baú<strong>de</strong> Leitura, o Agente <strong>de</strong>Família e o Prosperar, comotambém <strong>de</strong>núncias das maisvariadas, principalmente <strong>de</strong>municípios on<strong>de</strong> a gestãodo Programa não acontece<strong>de</strong> forma correta, como é ocaso do município <strong>de</strong>Can<strong>de</strong>al que você conferenessa edição. Além disso,você po<strong>de</strong> conhecer arealida<strong>de</strong> da moradia naregião sisaleira que apesar<strong>de</strong> ser um direito <strong>de</strong> todos éa realida<strong>de</strong> para poucos.Não po<strong>de</strong>mos esquecer <strong>de</strong><strong>de</strong>stacar no Gira o XEncontro Estadual do PETIque discutiu a importânciado programa comoimplementador dos direitosda criança e do adolescenteno estado. Portanto, sendoum programa que tem ummo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> gestãodiferenciado vale a penavocê enten<strong>de</strong>r mais sobre aatualida<strong>de</strong> do Programa <strong>de</strong>Erradicação do TrabalhoInfantil e muitas outrasinformações <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro ou<strong>de</strong> fora da região.Agricultores familiares têmnovo prazo para a<strong>de</strong>são àGarantia-SafraOs agricultores familiares daBahia têm até o dia 29 <strong>de</strong><strong>de</strong>zembro para a<strong>de</strong>rir <strong>ao</strong> programaGarantia-Safra. Em 20<strong>06</strong>/2007, oprograma disponibiliza 32.980cotas para todo o estado. Para isso,basta comparecer <strong>ao</strong> escritório doórgão <strong>de</strong> extensão rural eassistência técnica do estado par<strong>ao</strong>bter a Declaração <strong>de</strong> Aptidão <strong>ao</strong>Pronaf (DAP) - Mo<strong>de</strong>lo daGarantia-Safra. No total, em todoo País, o programa criado pelaSecretaria <strong>de</strong> Agricultura Familiardo Ministério doDesenvolvimento Agrário (SAF/MDA) vai disponibilizar 459.091cotas para a inscrição dosagricultores familiares que vivemna região semi-árida brasileira. Aa<strong>de</strong>são dos agricultores terámudanças em relação à inscrição.O objetivo é superar dificulda<strong>de</strong>s<strong>de</strong>tectadas pelos solicitantes e,assim, possibilitar maior agilida<strong>de</strong><strong>ao</strong> processo <strong>de</strong> inscrição. Agora, ainscrição utiliza o número <strong>de</strong>Cadastro <strong>de</strong> Pessoa Física (CPF),<strong>ao</strong> invés do Número <strong>de</strong>I<strong>de</strong>ntificação Social (NIS). Para aa<strong>de</strong>são <strong>ao</strong> Garantia-Safra no anoseguinte, será necessário apenasreconfirmar a participação. Éimportante <strong>de</strong>stacar que, caso oagricultor faça alterações (como aárea cultivada e o tipo <strong>de</strong>plantio), será necessário informare modificar os dados na DAP.ARealização: Movimento <strong>de</strong> Organização ComunitáriaCoor<strong>de</strong>nação: Programa <strong>de</strong> Comunicação do MOCEdição e revisão: Cristiane Melo (DRT - 3275)Reportagens: Agência <strong>de</strong> Mandacaru <strong>de</strong> Comunicação eCultura e Programa <strong>de</strong> Comunicação do MOCDiagramação e Design: Karime SalomãoGIRMUNDOSindicatos dosTrabalhadoresRurais discutemcomunicaçãoinstitucionalCom o objetivo <strong>de</strong>capacitar e discutirsobre a importânciada comunicaçãoinstitucional, aconteceu entre os dias14 e 15 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, no município<strong>de</strong> Capim Grosso, a oficina sobrecomunicação com <strong>de</strong>staque para orádio e o jornalismo. Estiverampresentes, representantes dos <strong>de</strong>zSindicatos dos Trabalhadores Ruraisfiliados <strong>ao</strong> Pólo Bacia do Jacuípe ecomunicadores comunitários doterritório. “Foi um momento muitorico e importante, pois, acomunicação foi <strong>de</strong> fato entendidacomo um instrumento <strong>de</strong> mobilizaçãosocial e visibilida<strong>de</strong> das ações<strong>de</strong>senvolvidas <strong>de</strong>ntro dosSindicatos”, afirma Nayara Silvatécnica do MOC. Além <strong>de</strong>ssaativida<strong>de</strong>, estão previstas outrasações junto <strong>ao</strong>s STR’s para discussãosobre o tema, o próximo encontroacontece no dia 12 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong>2007 em Capim Grosso.ESPACO ,DO LEITORJuventu<strong>de</strong> conquistando espaçoEm municípios como Retirolândia e SãoDomingos, na Região Sisaleira da Bahia, osConselhos <strong>de</strong> Juventu<strong>de</strong> já estão sendo formadostendo como objetivo incentivar os jovens a<strong>de</strong>scobrir o seu verda<strong>de</strong>iro papel na socieda<strong>de</strong>. Osconselhos atuam na busca <strong>de</strong> projetos queviabilizem a melhoria <strong>de</strong> vida da juventu<strong>de</strong> noâmbito da geração e renda, além <strong>de</strong> promoverseminários, palestras, <strong>de</strong>bates e <strong>de</strong>mais meios <strong>de</strong>sensibilização <strong>ao</strong>s jovens que ainda não<strong>de</strong>spertaram para os assuntos relacionados àsexualida<strong>de</strong>, drogas, protagonismo juvenil,políticas públicas, entre outros. No município <strong>de</strong>São Domingos aconteceu nos dias 08 e 09 <strong>de</strong><strong>de</strong>zembro o seminário para discutir <strong>de</strong>ntre outrasquestões o funcionamento do conselho. ÂngeloMárcio Correia,coor<strong>de</strong>nador doColetivo Municipal <strong>de</strong>Juventu<strong>de</strong> domunicípio, avaliacomo um momentomuito importante par<strong>ao</strong>s jovens. “Quando a Jovens participam ativamentedas discussões municipaisgente participa, agente só tem a crescer, e só organizados queconseguimos nosso objetivo”, afirma. EmRetirolândia, o conselho já foi aprovado. “Estamosesperando tornar Lei”, <strong>de</strong>staca Patrícia Araújo,integrante do conselho no município.,ESPACO , DO LEITORESPACO DO LEITORESPACO DO LEITORComo afirmamos em todas as edições do Gira, esse espaço é <strong>de</strong>dicado <strong>ao</strong> leitor. Nessa ediçãoquem nos escreveu foram as crianças do Programa <strong>de</strong> Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) domunicípio <strong>de</strong> Can<strong>de</strong>al. A carta assinada por 63 crianças foi enviada <strong>ao</strong>s Ministérios Públicos Estaduale Fe<strong>de</strong>ral há quase sete meses, será publicada no giramundo como uma forma <strong>de</strong> tornar público asituação vividas pelas crianças e adolescentes <strong>de</strong> Can<strong>de</strong>al até o momento.Programa <strong>de</strong> Erradicação do <strong>trabalho</strong> Infantil, 23 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 20<strong>06</strong>Viemos através <strong>de</strong>sta para pedir <strong>ao</strong>s senhoresresponsáveis, para que tome uma providência, poisprecisamos da ajuda <strong>de</strong> todos. A escola AgnaldoTavares Carneiro está infectada por pragas causadaspor pássaros <strong>de</strong> nome pardal que geralmente faz danossa escola seu habitat. Está insuportável ficar nasala, pois essa praga provoca coceiras, em muitoscasos sofrimento, pois muitos <strong>de</strong> nós temos alergia.Nós alunos, reclamamos da água que bebemos,pois não está sendo filtrada a<strong>de</strong>quadamente e ésalobra. A Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jornada Ampliada precisaurgentemente <strong>de</strong> cuidados especiais. Infelizmente,alguns alunos estão sentando no chão por falta <strong>de</strong>mobiliários. Assim, não po<strong>de</strong>mos vencer osobstáculos para o nosso <strong>de</strong>senvolvimentoeducacional. Hoje assistimos <strong>ao</strong> filme “Cuida bem<strong>de</strong> mim” que fala sobre o ambiente escolar que emmuitos lugares são <strong>de</strong>predados por alguns alunos eoutros têm a responsabilida<strong>de</strong> e a cidadania <strong>de</strong>conservar o seu ambiente. Pedimos também umapessoa para limpar a área por que as plantas estãomorrendo. Agra<strong>de</strong>ce, alunos do PETI.Escreva para o <strong>Jornal</strong> <strong>Giramundo</strong>R. Pontal 61, Cruzeiro, CEP: 44.017-170Feira <strong>de</strong> Santana-Ba. Tel/fax.: (75)32<strong>21</strong>.1393 giramundo@moc.org.brFotos: Lorena Amorim, Paulo Marcos e Camila Oliveira.Apoio: UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), Ministério da Cultura / Programa Pontos <strong>de</strong>Cultura e Instituto Simões Filho / A Tar<strong>de</strong>Agência Mandacaru <strong>de</strong> Comunicação e Cultura: Camila Oliveira, João Paulo Cerqueira, João Netto,Rose Rios e Sebastiana Eny.Programa <strong>de</strong> Comunicação do MOC: Cristiane Melo, Klaus Minihuber, Lorena Amorim, Nayara Silva ePaulo Marcos. Colaboração: Aline Araújo e Renildo Carvalho.Fale Conosco: MOC - Movimento <strong>de</strong> Organização Comunitária - R. Pontal 61, Cruzeiro CEP: 44.017-170 Feira<strong>de</strong> Santana/Ba, tel: (75) 32<strong>21</strong>.1393 fax: (75) 32<strong>21</strong>.1604 comunica@moc.org.br site: www.moc.org.br,2GIR<strong>Jornal</strong> <strong>Giramundo</strong> . <strong>nº</strong> <strong>21</strong> A MUNDO<strong>Dezembro</strong> <strong>de</strong> 20<strong>06</strong>


Esgotado prazopara Cadastramento ÚnicoO Ministério doDesenvolvimento Social (MDS)está construindo uma ferramenta<strong>de</strong> informática para facilitar aintegração do Programa BolsaFamília <strong>ao</strong>s <strong>de</strong>mais programassociais do Governo Fe<strong>de</strong>ral eestipulou o prazo <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong>outubro <strong>de</strong>sse ano para que osmunicípios realizassem ocadastramento único. O novoaplicativo permitirá i<strong>de</strong>ntificar eselecionar, entre as mais <strong>de</strong> 11milhões <strong>de</strong> famílias que recebemo benefício, aquelas quenecessitam <strong>de</strong> outras açõesgovernamentais.No inicio <strong>de</strong> 20<strong>06</strong>, o MDS emconjunto com a socieda<strong>de</strong> civil,encabeçou a discussão do atual<strong>de</strong>senho pedagógico do Programa,integrando através da PolíticaNacional <strong>de</strong> Assistência Social, àsações e linhas gerais do PETI <strong>ao</strong>Programa Bolsa-Família (PBF) eaumentou o orçamento <strong>de</strong>stinado<strong>ao</strong> pagamento das bolsas àsfamílias beneficiadas <strong>de</strong> R$ 328,2 milhões, em 2005, para R$ 900milhões este ano. Com aintegração, as famíliasbeneficiadas pelo PETI passam areceber ajuda financeira viaBolsa Família, evitando aduplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ambos osbenefícios. A meta do MDS paraeste ano, no entanto, é <strong>de</strong> chegar<strong>ao</strong> patamar <strong>de</strong> 3,2 milhões <strong>de</strong>crianças beneficiadas. “Olevantamento mais preciso <strong>de</strong>ssesmeninos e meninas será feito àmedida que os municípiosatualizarem os dados do CadastroÚnico e preencherem o campo270, no qual registram se o jovemé ou não utilizado como mão-<strong>de</strong>obra”,alerta Isa Maria,Secretária Executiva do FórumNacional <strong>de</strong> Prevenção eErradicação do Trabalho Infantil.Para todo efeito, Omonitoramento e a fiscalizaçãodas crianças e adolescentescontinua com o PETI, através dasações socioeducativas e <strong>de</strong>convivência (JornadasAmpliadas).Dados da Pesquisa Nacionalpor Amostra <strong>de</strong> Domicílios(Pnad), do Instituto Brasileiro <strong>de</strong>Pelo PETI, cada família recebe R$ 40 por menino oumenina retirada do <strong>trabalho</strong> infantil na área urbana e R$25 no campo. No Bolsa-Família, cada grupo familiar• As famílias que têmrenda per capita mensal igualou inferior a R$ 100 que hojerecebem a bolsa do PETI paramanter suas crianças longe do<strong>trabalho</strong> infantil serãotransferidas para o Bolsa-Família e terão o benefícioanterior cancelado.Tabela <strong>de</strong> dadossobre repasse <strong>de</strong> bolsas• Permanecem no PETIaquelas com renda superior aR$ 100 e cuja transferênciaimplique em redução dovalor do benefício recebidoatravés <strong>de</strong>ste programa. Paraesses casos – que o MDSestima em 10% a 15% do ummilhão <strong>de</strong> famíliasGeografia e Estatística (IBGE),indicam que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 14 anos <strong>de</strong>queda, a taxa <strong>de</strong> ocupação <strong>de</strong>crianças e jovens <strong>de</strong> 5 a 15 anos<strong>de</strong> ida<strong>de</strong> aumentou entre os anos<strong>de</strong> 2004 e 2005. Em 2005,aproximadamente 2,9 milhões <strong>de</strong>pessoas nesta faixa etáriatrabalhavam no país. Isa Maria,secretária executiva do FórumNacional <strong>de</strong> Prevenção eErradicação do Trabalho Infantil,com se<strong>de</strong> em Brasília, consi<strong>de</strong>raque o número <strong>de</strong> adolescentes ecrianças envolvidas em ativida<strong>de</strong>econômica aumentou em 120 milno ano passado. A secretáriacriticou o planejamentoorganizacional do Ministério doDesenvolvimento Social (MDS)<strong>ao</strong> estabelecer a meta <strong>de</strong> 3,2milhões <strong>de</strong> crianças cadastradasaté 20<strong>06</strong>. “Po<strong>de</strong>mos afirmar que aúnica mudança no PETI é suaintegração <strong>ao</strong> Bolsa Família, mas,o cenário permanece o mesmo. Ameta não vai se realizar”,<strong>de</strong>clara.Por Renildo Carvalho e João Nettorecebe um benefício básico fixo <strong>de</strong> R$ 50 e mais R$ 15por criança ou adolescente, po<strong>de</strong>ndo chegar a R$ 95.Com a mudança, os repasses ficam da seguinte forma:beneficiadas atualmente –serão mantidos noorçamento do Programa R$50 milhões, a serem usadospara o pagamento das bolsas.• Para receber asbolsas, todas as criançasem situação <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>,O processo <strong>de</strong>cadastramento das famíliasnos municípios foi realizado pelaUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Bahia(UFBA) nas áreas rurais eurbanas, áreas <strong>de</strong>finidas emreuniões realizadas com o po<strong>de</strong>rpúblico e socieda<strong>de</strong> civil,consi<strong>de</strong>radas <strong>de</strong> maior incidência<strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> infantil. Para osmunicípios que já estão no PETIhá quase <strong>de</strong>z anos, foram<strong>de</strong>finidos parâmetros einstrumentos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificaçãodas famílias apresentados emreuniões com os GruposGestores e nas Regionais doPETI, para que juntos pu<strong>de</strong>ssemi<strong>de</strong>ntificar novas famílias comcrianças em situação <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>para serem incorporadas àproporção que os adolescentescompletam 16 anos.Os municípios do territóriodo Sisal e Bacia do Jacuípeobtiveram uma meta a seralcançada em relação <strong>ao</strong>número <strong>de</strong> famílias e criançaspara realização do cadastroúnico. O município <strong>de</strong> Can<strong>de</strong>altinha como meta 230 criançase 135 famílias, em Retirolândia1.207 crianças e 710 famílias,em Quijingue 1.909 crianças e113 famílias, em Capim Grosso1.012 crianças e 595 famílias eem Riachão do Jacuípe foram1.8<strong>06</strong> crianças e 1.<strong>06</strong>2 famílias.Diante <strong>de</strong>sses números, apenaso município <strong>de</strong> Riachão doJacuípe conseguiu atingir quase100% dos cadastramentos.inseridas no PETI ou noBolsa Família, <strong>de</strong>vemfreqüentar a escola e asações socioeducativas e <strong>de</strong>convivência.Fonte: Re<strong>de</strong> AndiGIRA<strong>Jornal</strong> <strong>Giramundo</strong> . <strong>nº</strong> <strong>21</strong> MUNDO<strong>Dezembro</strong> <strong>de</strong> 20<strong>06</strong>3


Descaso PúblicoFamílias do PETI há <strong>de</strong>zmeses não recebembenefício e as criançassão obrigadas a trabalharNo ano em que o Programa <strong>de</strong>Erradicação do Trabalho infantil(PETI) comemora 10 anos <strong>de</strong>história e transformação social noestado da Bahia, muitos <strong>de</strong>safios ainda precisamser enfrentados. O Programa foi e continuasendo a porta <strong>de</strong> entrada <strong>de</strong> uma discussão que acada dia vem se ampliando, como por exemplo, oSistema <strong>de</strong> Garantia <strong>de</strong> Direitos <strong>de</strong> <strong>Crianças</strong> eAdolescentes. Durante 10 anos <strong>de</strong> existência doPETI muitas açõesaconteceram. Ações quevão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>ao</strong> seufortalecimento comprojetos e ações quefizeram da Bahia umestado dinâmico einovador. Po<strong>de</strong>mos<strong>de</strong>stacar o projeto Baú <strong>de</strong> Leitura, o Agente <strong>de</strong>Família e o Prosperar. Diante dos <strong>de</strong>safios postos,estão as <strong>de</strong>núncias das mais variadas formas,especialmente dos municípios on<strong>de</strong> a gestão doprograma não acontece <strong>de</strong> forma correta, como éo caso do município <strong>de</strong> Can<strong>de</strong>al.Can<strong>de</strong>al, fica a 168 Km <strong>de</strong> Salvador eencontra-se com problemas referentes àcondução das políticas públicas <strong>de</strong>stinadas apopulação, como é o caso do Programa <strong>de</strong>Erradicação do Trabalho Infantil. No município,reina uma situação <strong>de</strong> abandono, <strong>de</strong>srespeito<strong>ao</strong>s direitos humanos e má gestão dos recursospúblicos. <strong>Crianças</strong> e adolescentes que sãoobrigadas a abandonarem a escola paraexercerem <strong>trabalho</strong>s penosos a fim <strong>de</strong> ajudar noorçamento familiar. Jornadas Ampliadas semágua e condições higiênicas necessárias àprática do ensino, alimentação e transporteescolar precários – bens essenciais àdignida<strong>de</strong> humana, como educação,saú<strong>de</strong> e lazer estão sendo negados.Segundo as informações doGrupo Gestor do Programa <strong>de</strong>Erradicação do TrabalhoInfantil a merendarepassada às criançasnas Jornadas consisteem suco artificial ecarne <strong>de</strong> charque comfarinha. Mesmo assim, ofornecimento não apresentauma freqüência regular. Nomunicípio <strong>de</strong> Can<strong>de</strong>al, aDiante do forte calor,crianças trabalham no roçadosituação é ainda pior. O valor da bolsarepassado pelo governo fe<strong>de</strong>ral há <strong>de</strong>z mesesnão chega às mãos das famílias que possuemfilhos cadastrados no programa. O quadro épreocupante e <strong>de</strong>safia os movimentos sociais eos governos estadual e fe<strong>de</strong>ral a buscaremsoluções imediatas.Com a população estimada em 9.810habitantes, Can<strong>de</strong>al limita-se com os municípios<strong>de</strong> Ichu, Tanquinho, Serrinha, Lamarão, Feira <strong>de</strong>Santana e Serra Preta. Relatos <strong>de</strong> famílias ecrianças contempladas pelo programa ilustram oquadro <strong>de</strong>senhado pela gestão pública. “Nossomunicípio é uma terra tranqüila para morar”,conta Maria Miranda, moradora da se<strong>de</strong>.Miranda tem dois filhos cadastrados no PETI, ediz ser um orgulho vê-los estudando <strong>ao</strong> invés <strong>de</strong>levá-los para o <strong>trabalho</strong> doméstico que executatoda semana. Mas, por falta <strong>de</strong> infra-estrutura nagestão do programa, por não ter merenda nasJornadas, nem transporte que os conduzam até aescola, os meninos filam as aulas paratrabalharem como diaristas. Encaram tudo.Trabalho <strong>de</strong> roçado, lavan<strong>de</strong>ria e motor <strong>de</strong> sisal.“A vida da gente é tão pobre que não temoscondições <strong>de</strong> comprar nem o material didático.Há <strong>de</strong>z meses não recebo o recurso <strong>de</strong>stinado àsmães do PETI”, lamenta.Maria Miranda é apenas um exemplo do<strong>de</strong>scaso público espalhado no município. Ela fazparte do universo <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 100 famílias, quecolocam as crianças no <strong>trabalho</strong> para ajudar noorçamento doméstico. O mesmo acontece comAna Lúcia Lima, mãe <strong>de</strong> Cosme, Veralucia eVanessa Lima. Ana Lúcia está há 11 meses semreceber a verba <strong>de</strong>stinada <strong>ao</strong> pagamento da bolsae por isso consi<strong>de</strong>ra que a má gestão municipal éculpada pela volta das crianças <strong>ao</strong> <strong>trabalho</strong>infantil. Sem verba e condições para adquiriralimentação, as crianças <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ir à JornadaAmpliada para ajudar <strong>ao</strong>s pais no campo. Outroexemplo marcante é o que acontece com oadolescente N. C., 13 anos, que está cadastradono PETI e matriculado na escola formal. Apesardisso, muitas vezes não freqüenta as aulas porfalta <strong>de</strong> transporte. Segundo Ivonete Carneiro,coor<strong>de</strong>nadora dos monitores do município, oadolescente não freqüenta a jornada há mais <strong>de</strong>seis meses e tem freqüentado pouco às aulas naescola regular. “O PETI não funciona <strong>de</strong>s<strong>de</strong>janeiro <strong>de</strong> 20<strong>06</strong>. As ativida<strong>de</strong>s pedagógicas estãoparalisadas, se o programa tivesse funcionandoteríamos muita coisa para mostrar”, afirma acoor<strong>de</strong>nadora. O problema não é apenaspedagógico, e sim administrativo.Para Maurício Cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Oliveira,presi<strong>de</strong>nte do Sindicato dos TrabalhadoresRurais <strong>de</strong> Can<strong>de</strong>al (STR), o que acontece nomunicípio é conseqüência da má gestãopública e afirma ser inaceitável. “Évergonhoso. O município nunca prestouconta das verbas do PETI à SecretariaEstadual <strong>de</strong> Assistência Social Esporte eLazer da Bahia (SETRAS)”, replica. Osindicato encabeçou a construção e produção<strong>de</strong> um documentário, ví<strong>de</strong>o/dvd,<strong>de</strong>nunciando a situação <strong>ao</strong>s MinistériosPúblico Estadual e Fe<strong>de</strong>ral. De imediato, oMinistério Público Estadual convocou umareunião com representantes da SETRAS paraenten<strong>de</strong>r e esclarecer a <strong>de</strong>núncia. Romárioda Silva, tesoureiro do STR, e um dos autoresda <strong>de</strong>núncia consi<strong>de</strong>ra que o processo estáandando, mas cobra agilida<strong>de</strong> da justiça.“Queremos apenas que esta situação fiqueesclarecida para que as crianças voltem àsaulas gozando <strong>de</strong> direitos cívicos garantidospor lei”, acrescenta. Romário é um fielguardião dos direitos da criança eadolescente no município. No entanto, ointeresse em <strong>de</strong>svendar o problemaadministrativo, fez com que o tesoureirorecebesse ameaças <strong>de</strong> morte por telefone.O outro lado da história: Osecretário municipal <strong>de</strong> Assistência Social <strong>de</strong>Can<strong>de</strong>al, Carlos Lima dos Santos, tem umaversão diferenciada para o caso das <strong>de</strong>núncias.Silvanei Carneiro Lima dos Santos, mulher dosecretário é atualmente a coor<strong>de</strong>nadora dogrupo gestor. Ela classifica como politicagem eperseguição a iniciativa da socieda<strong>de</strong> civil quetraz a tona à falta <strong>de</strong> transparência naprestação <strong>de</strong> contas, indício <strong>de</strong> <strong>de</strong>svio <strong>de</strong>verbas e atraso nos recursos para pagamentodos benefícios. Carlos Lima argumenta quenão existem famílias com <strong>de</strong>z meses <strong>de</strong> atraso.Segundo ele, existe uma pequena disfunção <strong>de</strong>seis meses do tempo em que o pagamentoainda era feito via caixa bancário e motivadodiante da não prestação <strong>de</strong> contas daprefeitura e do grupo gestor à SETRAS. “Mas,isso está sendo resolvido. Des<strong>de</strong> a integraçãodo PETI <strong>ao</strong> Bolsa Família não constatamosmais nenhum problema”,garantiu. Já na visão daSETRAS, apenas emCan<strong>de</strong>al as jornadas estãofuncionando parcialmente, e os recursos aindanão foram liberados este ano. FátimaCarvalho, representante da SETRAS, afirmahaver dificulda<strong>de</strong> operacional. “Mas há umesforço coletivo tanto do po<strong>de</strong>r público comoda socieda<strong>de</strong> civil com os representantes dogrupo gestor em solucionar essas <strong>de</strong>mandas”,relata.Por Renildo Carvalho<strong>Crianças</strong> voltandodo <strong>trabalho</strong> com os paisEncontro <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> os novos rumos do PETINos dias 19 e 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, noCentro Diocesano em Feira <strong>de</strong>Santana, acontece o 10° EncontroEstadual do Programa <strong>de</strong> Erradicaçãodo Trabalho Infantil (PETI) paradiscutir os rumos do programa,perspectivas, <strong>de</strong>safios, propostas eposições dos novos governosEstadual e Fe<strong>de</strong>ral. O encontrocontará com a presença <strong>de</strong>monitores/as, membros do GrupoGestor, representantes da socieda<strong>de</strong>civil e do po<strong>de</strong>r público,representantes da Secretaria Estadual<strong>de</strong> Assistência Social do Estado daBahia (SETRAS), do Ministério <strong>de</strong>Desenvolvimento Social e Combate àFome e Fundo das Nações Unidaspara a Infância (UNICEF).O tema que será <strong>de</strong>batido noEncontro é “O PETI implementandoos direitos da criança e doadolescente no Estado da Bahia”. ElianaCarneiro do programa Criança eAdolescente do Movimento <strong>de</strong>Organização Comunitária (MOC),conta que, “a perspectiva maior é comrelação à continuida<strong>de</strong> das ações queo PETI <strong>de</strong>senvolve no Estado”. Noencontro terá também a participação<strong>de</strong> representantes do GovernoFe<strong>de</strong>ral que irá explicar sobre o PETI anível nacional. “Queremos discutircom o novo Governo Estadual sobreas perspectivas que o mesmo tempara o PETI e aproveitar o momentopara apresentar o mo<strong>de</strong>lo doPrograma que temos na Bahia”,<strong>de</strong>staca Eliana.Esse será um momento único par<strong>ao</strong> PETI, principalmente na RegiãoSisaleira que hoje é referênciaNacional e possui tantos resultadosalcançados, como o Baú <strong>de</strong> Leitura,que é uma ação que ren<strong>de</strong>u bonsfrutos para as crianças. Des<strong>de</strong> 1996quando foi implantado, o Programatem reduzidofortemente o índice <strong>de</strong><strong>trabalho</strong> infantil noBrasil. Este encontropor ser marcadopelos 10 anos do Programa no Estado,torna-se um <strong>de</strong>safio à discussão,principalmente por tantas “novida<strong>de</strong>s”estarem acontecendo, como porexemplo, a implantação da novaPolítica Nacional <strong>de</strong> Assistência Social,a integração do PETI <strong>ao</strong> ProgramaBolsa Família e no nível estadual a novagestão do Governo. Por esses eoutros <strong>de</strong>safios, Márcio Mascarenhas,coor<strong>de</strong>nador do Programa Criança eAdolescente do MOC, diz que “esse éum momento crucial para oprograma”. Mais mesmo assimacredita fortemente que esse será ummomento <strong>de</strong> construir e encaminharpropostas para melhor qualida<strong>de</strong> e<strong>de</strong>senvolvimento do PETI, a nívelNacional e Estadual.Por Camila Oliveira


Encontro fortaleceexperiências <strong>de</strong> convivênciacom o Semi-ÁridoO VI Encontro Nacional daArticulação no Semi-ÁridoBrasileiro (EconASA) queaconteceu entre os dias 20 e 24 <strong>de</strong>novembro, recebeu <strong>de</strong>legações dos11 estados do Semi-Árido, sendonove da região Nor<strong>de</strong>ste, mais oEspírito Santo e Minas Gerais, quelevaram cerca <strong>de</strong> 560 pessoas,entre <strong>de</strong>legados das ASAsestaduais e agricultores eagricultoras para trocaremExperiência da Barragem subterrâneaapresentada no eventoexperiências. Para Antônio Bispodos Santos, do município <strong>de</strong> SãoJoão, no sul do estado, asexpectativas foram válidas. “OEncontro fortaleceu os povos doSemi-Árido, as suas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s eas instituições que fazemos parte,aumentando a correlação <strong>de</strong> forçaspara disputar as políticas públicasno estado”, disse Bispo.Agrofloresta, agricultura,floricultura, casa <strong>de</strong> sementes, hort<strong>ao</strong>rgânica e organização social dascomunida<strong>de</strong>s, foram algumas das 12experiênciasapresentadas nasvisitas <strong>de</strong> intercâmbioque aconteceram noVI EnconASA.Aproximadamente500 pessoas estiveramdivididas visitandocada uma dasexperiências, queestavam localizadasno entorno da cida<strong>de</strong>do Crato (CE). Amaioria <strong>de</strong>las foi<strong>de</strong>senvolvida poragricultoras e agricultoresda Região. A expectativados participantes doevento para essas visitas foigran<strong>de</strong>. “Para mim esse foi um dosmelhores momentos, pois conhecemosnovas técnicas e aprimoramos o quejá sabemos”, diz Zé <strong>de</strong> Antônia,agricultor pernambucano.Para Naidison Batista, doMovimento <strong>de</strong> OrganizaçãoComunitária (MOC), “esse foi ummomento ímpar para a vida dosagricultores principalmente na troca<strong>de</strong> experiências, on<strong>de</strong> é dada <strong>ao</strong>portunida<strong>de</strong> para que asrepresentações mostrem seusconhecimentos”, <strong>de</strong>stacou Naidison.O evento aconteceu na EscolaAgrotécnica Fe<strong>de</strong>ral do Crato e foiorganizado pelo Fórum Cearense PelaVida no Semi-Árido e pelo FórumAraripense <strong>de</strong> Prevenção e Combatea Desertificação. Temas como acessoa terra e à água, agricultura familiar,Família participa doprocesso na produção agroecológicatecnologias adaptadas <strong>ao</strong> Semi-Árido,crédito, assistência técnica,juventu<strong>de</strong>, etnia, gênero e culturafizeram parte da programação.O encontro foi e é um espaçopolítico mais importante daArticulação, e <strong>de</strong>dicado àdiscussão e avaliação das políticaspúblicas voltadas para o Semi-Árido e fortalecimento dasexperiências <strong>de</strong> convivência com aregião. Além <strong>de</strong> promover umintercâmbio <strong>de</strong> cultura, valores econhecimentos entre aqueles quebuscam, em conjunto, construir umSemi-Árido com mais <strong>de</strong>liberação,on<strong>de</strong> o acesso à água e a terra sejaapenas o primeiro passo para umavida digna na região.Por Camila OliveiraSalão dos Territórios: valorizando os atores sociaisNuma oportunida<strong>de</strong> nunca vistano território nacional, mais <strong>de</strong> 500representantes dos territórios ruraisestiveram reunidos na semana <strong>de</strong> 29<strong>de</strong> novembro a 01 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro emBrasília, on<strong>de</strong> participaram do salãoNacional dos Territórios Rurais.Durante o encontro, os participantestiveram a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dialogarsobre a realida<strong>de</strong> dos territóriosrurais brasileiros.O Salão Nacional dos TerritóriosRurais foi um espaço <strong>de</strong> valorizaçãodos atores sociais dos territórios,além <strong>de</strong> ter estimulado acooperação, on<strong>de</strong> foramapresentados projetos e soluções quefomentam a autonomia,autoconfiança e autogestão dosterritórios rurais, melhorando aqualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da população. OsConselhos <strong>de</strong> DesenvolvimentoRural Sustentável do Território doSisal (CODES Sisal) e Jacuípe(CODES Bacia do Jacuípe)buscaram através do Salão dosTerritórios potencializar asexperiências <strong>de</strong> produção dos eixostemáticos estratégicos na construçãoda i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> territorial <strong>de</strong>ssasRegiões.Representantes dos doiscolegiados participaram do evento,com a incumbência <strong>de</strong> apresentarexperiências <strong>de</strong>senvolvidas no âmbitoda geração <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> e renda,valorização da agricultura familiar,construção <strong>de</strong> políticas agrárias,incentivo à juventu<strong>de</strong> do campo,conquistas na área da comunicação ea revitalização da ca<strong>de</strong>ia produtivado sisal, principal fonte <strong>de</strong> renda par<strong>ao</strong>s agricultores da Região Sisaleira. Oevento contou com a divulgaçãointerna e externa da AgênciaMandacaru <strong>de</strong> Comunicação eCultura, que durante os três dias <strong>de</strong>ativida<strong>de</strong>s mobilizou mais <strong>de</strong> 1500participantes, através <strong>de</strong> peças <strong>de</strong>comunicação impressas e em áudio.O Salão Nacional dos TerritóriosRurais foi promovido pela Secretaria<strong>de</strong> Desenvolvimento Territorial, doMinistério do DesenvolvimentoAgrário (SDT/MDA).Por Renildo carvalho6GIR<strong>Jornal</strong> <strong>Giramundo</strong> . <strong>nº</strong> <strong>21</strong> A MUNDO<strong>Dezembro</strong> <strong>de</strong> 20<strong>06</strong>


Institucionalização do MMTRSem luta não se conquistaO Movimento <strong>de</strong> MulheresTrabalhadoras Rurais (MMTR)surgiu na Região Sisaleira em1984 como estratégia <strong>de</strong>construção, mobilização e <strong>de</strong>fesados direitos civis, políticos, sociaise econômicos das mulheres. Coma organização do movimento, temcrescido muito as discussões emtorno <strong>de</strong> representação políticadas mulheres trabalhadoras rurais.Foram 22 anos <strong>de</strong> luta, e sóagora elas conseguiram no dia 27<strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 20<strong>06</strong> no salão doSindicato dos TrabalhadoresRurais <strong>de</strong> Serrinha (STR) realizara assembléia geral que aprovou oestatuto e elegeu a diretoria e oconselho fiscal do movimentopara os próximos três anos. Com aaprovação do estatuto, o MMTRpo<strong>de</strong> representar política ejuridicamente os interesses dasmulheres trabalhadoras rurais daregião semi-árida da Bahia, além<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver ações <strong>de</strong>qualificação profissional <strong>de</strong>mulheres do campo para geração<strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> erenda, se tornando protagonistas<strong>de</strong> ações.Atualmente o MMTR estápresente em sete municípios daRegião Sisaleira da Bahia, sendoque cinco <strong>de</strong>les estãoinstitucionalizados que são:Araci, Teofilândia, Retirolândia,Santa Bárbara e Serrinha. Com <strong>ao</strong>rganização do grupo elasconseguiram conquistar espaços<strong>de</strong> discussão na região, como oEmoção nomomento da assembléiaConselho Regional <strong>de</strong>Desenvolvimento Sustentável daRegião Sisaleira do Estado daBahia (CODES - Sisal) eparticiparam da campanha <strong>de</strong>documentação <strong>de</strong> mulheres, alémdo Programa Nacional <strong>de</strong>Fortalecimento da AgriculturaFamiliar (PRONAF-Mulher).Diante <strong>de</strong>ssas conquistas, o<strong>de</strong>safio agora é a construção daprópria se<strong>de</strong> e aquisição <strong>de</strong>equipamentos. Para AlvaízaCerqueira, Secretária <strong>de</strong>Políticas Públicas para asMulheres <strong>de</strong> Lauro <strong>de</strong> Freitas, ainstitucionalização domovimento é mais uma etapaque é complementar a lutaanterior, que era fazer com queas mulheres percebessem o seupotencial e a sua capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> interferir no mundo em quevivem.Segundo Marinei<strong>de</strong> Dias,integrante do MMTR <strong>de</strong>Retirolândia, a palavra queresume o processo <strong>de</strong>institucionalização éin<strong>de</strong>pendência. Ela diz aindaque o grupo ensinou às mulheresdo campo a lutarem por seusdireitos sem per<strong>de</strong>r a essência <strong>de</strong>ser mulher.Foram realizadas váriasreuniões nos municípios em que omovimento tem atuado para aelaboração do estatuto. ClodoaldoPaixão, Técnico do Movimento<strong>de</strong> Organização Comunitária(MOC) <strong>trabalho</strong>u na construçãodo <strong>de</strong>senho institucional daentida<strong>de</strong> e diz que todo esseesforço foi válido <strong>ao</strong> ver o número<strong>de</strong> jovens que estão se <strong>de</strong>dicando<strong>ao</strong> <strong>trabalho</strong>.Por Rose RiosGIRA<strong>Jornal</strong> <strong>Giramundo</strong> . <strong>nº</strong> <strong>21</strong> MUNDO<strong>Dezembro</strong> <strong>de</strong> 20<strong>06</strong>7


Uma casa sem condições <strong>de</strong> vida:O problema da moradia no sertãoA Declaração Universal dos Direitos Humanos,<strong>de</strong> 1948, garante que “toda pessoa tem direito aum padrão <strong>de</strong> vida capaz <strong>de</strong> assegurar a si e a suafamília saú<strong>de</strong> e bem-estar, inclusive alimentação,vestuário, habitação ...” (artigo XXV, item 1).“Isso aqui não é uma casa, provavelmente é umaarapuca”, Cosme <strong>de</strong> Jesus, passa por uma situaçãopresente na vida <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> brasileiros. Não tem umamoradia digna. Aqui no sertão a vida ainda é pior. A falta<strong>de</strong> estrutura no campo faz do sertanejo um ser humanosem direitos. As casas muitas vezes são feitas <strong>de</strong> argila epindoba. “Pra quem tem condições faz suas casas boas...eu não tenho, mas graças a Deus ainda tenho on<strong>de</strong>amparar a chuva e sol. Estou com maior medo <strong>de</strong> chegaràs chuvas <strong>de</strong> trovoadas... outro dia mesmo caiu umapare<strong>de</strong> do meio e por sorte não matou ninguém”, <strong>de</strong>sabafaCosme <strong>de</strong> Jesus, 43 anos, pai <strong>de</strong> sete filhos e que mora nacomunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Morros <strong>de</strong> Aroeira em Conceição doCoité*, um dos municípios mais pobres do Brasil segundoo Índice <strong>de</strong> Desenvolvimento Humano (IDH).“Aqui eu ganho em média R$ 30,00 a R$ 40,00 porsemana”, conta o agricultor familiar. E a água <strong>de</strong> sua casa<strong>de</strong> on<strong>de</strong> vem? “Água aqui nós pega nos tanques, nãotem outra solução”. Levando em conta todo o País, osdados são assustadores. O Brasil tem um déficit <strong>de</strong>aproximadamente cinco milhões <strong>de</strong> moradias, segundodados levantados pela Fundação João Pinheiro,instituição mineira que presta serviços técnicoespecializados.Mesmo entre as pessoas que têm umteto, 8,8 milhões <strong>de</strong>las moram em locais consi<strong>de</strong>radosina<strong>de</strong>quados, carentes e sem infra-estrutura.Realida<strong>de</strong> vivida no sertãopor milhares <strong>de</strong> pessoasOutro morador da comunida<strong>de</strong> éZacarias Gomes, 60 anos, que diz serfeliz em morar nesta região. “Masaqui falta muita coisa,principalmente porque não tem águaencanada, nem luz”. Pai <strong>de</strong> quatrofilhos, ele sabe apenas assinar opróprio nome e ganha cerca <strong>de</strong> R$40,00 reais por semana “ven<strong>de</strong>ndo odia nas fazendas vizinhas”.Cosme <strong>de</strong> Jesus faz um apelo. “Aqui mesmo eupreciso <strong>de</strong> uma casa, uma cisterna, <strong>de</strong> energia... Se nãofosse os projetos sociais como o Bolsa Família eramuito pior, podia se dizer que a gente não tinha nada,só promessa”. O morador comentouainda que espera um novocomportamento do Governo da Bahiaa partir <strong>de</strong> janeiro. “Eu peço que façamalguma coisa pra nós. Eles já ganharama eleição... a gente botou eles lá paraeles servir a gente na hora exata. Se agente mudou é porque não agüentavamais o sofrimento. Faz até vergonhaporque a energia é pertinho daqui enão botaram em nossas casas, é sópromessa”.E <strong>de</strong> promessa o agricultor não esquece. Em época<strong>de</strong> eleição os candidatos já prometeram até uma casanova para a família, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que votassem no grupo. “Ospolíticos passaram aqui e foi muito. Na eleição <strong>de</strong>prefeito mesmo, passaram aqui dizendo que ia fazer aminha casa e nunca foi feito nada. Eu disse a eles quenão acreditava. Essa promessa é velha. Depois disso eufui lá na prefeitura e o prefeito perguntou qual era meunome e eu respondi. Depois ele disse que colocou o• 8,8 milhões <strong>de</strong> brasileiros moramem locais consi<strong>de</strong>rados ina<strong>de</strong>quados,carentes e sem a infra-estrutura.• O Brasil tem um déficit <strong>de</strong>aproximadamente 5 milhões <strong>de</strong>moradias.Município: Conceição do CoitéRenda per capita: 94,896Índice <strong>de</strong> Des. HumanoMunicipal (IDH-M): 0,611Ranking na Bahia: 249Ranking Nacional: 4470meu nome na agenda e que nunca ia esquecer eninguém nunca mais viu a cara <strong>de</strong>le aqui”.Sem freqüentar a escola, Cosme <strong>de</strong> Jesus não sabeassinar o próprio nome. “Eu não estu<strong>de</strong>i porque a escolaque meu pai me <strong>de</strong>u foi a enxada”. No final daentrevista ele <strong>de</strong>sabafou. “A comunida<strong>de</strong> sofrendo emeus senhores só colhendo os bens que vem e a maiorparte tudo sobrando”.O plano do governador eleito Jaques Wagner, diz que“a gestão <strong>de</strong>mocrática <strong>de</strong> políticas públicas será priorida<strong>de</strong>,garantindo o direito às diferenças e à pluralida<strong>de</strong> cultural, epromovendo o acesso <strong>ao</strong>s recursos naturais e econômicos ea serviços, tais como saú<strong>de</strong>, terra, moradia, água, crédito,assistência técnica e infra-estrutura”.O direito à moradia está incorporado no direitobrasileiro <strong>de</strong> acordo com os trata-dos internacionais<strong>de</strong> direitos humanos do qual o Estado Brasileiro éparte. Assim, obriga o Brasil (União, Estados eMunicípios) a proteger e fazer valer esse direito. AConstituição Brasileira, no artigo 6º, garante amoradia como direito fundamental do ser humano.Uma idéia que tem se mostrado muito eficientesão os mutirões, promovidos tanto nas áreas urbanascomo nas rurais, para incentivar a contribuição dospróprios moradores na construção <strong>de</strong> suas moradias.O Sindicato dos Trabalhadores Rurais e AgricultoresFamiliares <strong>de</strong> Conceição do Coité informa que teveque realizar a reforma <strong>de</strong> várias casas no sistema <strong>de</strong>mutirão para po<strong>de</strong>r construir as cisternas doPrograma Um Milhão <strong>de</strong> Cisternas (P1MC).Um dos beneficiados com a iniciativa foi JoaquimGomes <strong>de</strong> Jesus, que trabalha todos os dias cortandosisal e ganha R$ 50,00 por semana. Casado, tem trêsfilhos e mora em Morros, é vizinho <strong>de</strong> Cosme <strong>de</strong> Jesus.“A minha casa era uma barraquinha <strong>de</strong> lona e pindoba.Se não fosse o Sindicato tava muito pior. Hoje comajuda dos amigos estamos bem melhor”, afirma Joaquim.“Para ser feita a cisterna tivemos que praticamenteconstruir a casa <strong>de</strong>le porque não tinha telhado, era umbarraco bem pequeno”, explica Edivaldo Andra<strong>de</strong>,diretor do sindicato, entida<strong>de</strong> que participa daComissão Municipal <strong>de</strong> Recursos Hídricos. “Depois doprograma das cisternas mudou tudo, aqui não tinhanem água pra beber, bebia água do tanque <strong>de</strong> barro. Eessa água tem muita diferença, porque a água da cisternaé água boa e do tanque é barrenta”, conta o sisaleiro.Por Paulo MarcosRealizaçãoAgênciaMandacaru <strong>de</strong>Comunicação eCulturaApoio

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