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Jornal Giramundo - nº 24 - Ano 08 - Novembro de 2008 - O Brasil está longe de erradicar o trabalho infantil.

O Brasil está longe de erradicar o trabalho infantil.

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EDITORIALEDITORIALEm Julho <strong>de</strong> 20<strong>08</strong> o Estatuto daCriança e do Adolescente (ECA)completou 18 anos – atingiu a “maiorida<strong>de</strong>”, porém, necessita ainda <strong>de</strong>atenção, respeito e investimento. OECA é composto por 267 artigos<strong>de</strong>stinados única e exclusivamente àgarantia dos direitos das crianças e dosadolescentes, porém esta Lei não vemsendo executada como <strong>de</strong>veria, e isso éapontado na nossa vida diária, quandovemos ainda e em gran<strong>de</strong> número,crianças e adolescentes vítimas das maisterríveis agressões, como por exemplo:maus-tratos, <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong>, violênciasexual... e até, mortes.Nestes 18 anos do ECA não há muitosmotivos para comemoração, mas sim <strong>de</strong>discussão e reflexão, pois assim como ascrianças e os adolescentes brasileirosestão a cada dia sendo massificados pelamídia e pela socieda<strong>de</strong>, o ECA tambémgrita por socorro para que sua Lei possaao menos ser executada.Após as comemorações do Dia dasCrianças, o <strong>Giramundo</strong> apresenta duasformas <strong>de</strong> violação dos direitos dascrianças e dos adolescentes: O <strong>trabalho</strong><strong>infantil</strong> e a violência sexual. Na RegiãoSisaleira o Programa <strong>de</strong> Erradicação doTrabalho Infantil (PETI) retirou milhares<strong>de</strong> crianças do <strong>trabalho</strong> insalubre. Hoje,10 anos após a implantação do PETI,pesquisas apontam números alarmantesrevelando ser necessário maiscompromisso e investimento para aefetivação dos direitos assegurados. Sobrea violência sexual, você confere que omedo ainda é o principal empecilho paraajudar na i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> casos, mas,pouco a pouco as pessoas estãocomeçando a <strong>de</strong>nunciar.Ainda nesta edição, o Gira traz umaentrevista com Eliana Carneiro,coor<strong>de</strong>nadora do Programa <strong>de</strong> Criança eAdolescente do MOC e que em parceriacom algumas entida<strong>de</strong>s existentes nosTerritórios Bacia do Jacuípe e Sisal, vão<strong>de</strong>senvolver o projeto ConstruindoDireitos e Fortalecendo Re<strong>de</strong>s, umaestratégia <strong>de</strong> suporte, voltada para as açõesque asseguram os direitos das crianças edos adolescentes no estado da Bahia.Boa Leitura!Associação <strong>de</strong> Monitores do PETIcompleta um ano <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>sNo mês <strong>de</strong> setembro, a Associação Estadualdos Educadores Sociais do PETI (Amopeti)completou um ano <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s. Localizadana cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Feira <strong>de</strong> Santana, a Associaçãoconta hoje com mais <strong>de</strong> 500 monitoresassociados. De acordo com Valter <strong>de</strong> Jesus,secretário da Amopeti, um gran<strong>de</strong> avançonestes 12 meses foi conseguir provocar oGoverno do Estado da Bahia em relação aosmonitores, que em janeiro <strong>de</strong> 2009 têm seuscontratos vencidos. Valter afirma que asperspectivas são boas, pois o Governo apontouser <strong>de</strong> interesse <strong>de</strong>les absorver e manter osmonitores, além <strong>de</strong> investir nas capacitações.Educação para o enfrentamento à violência sexualFormado por três educadores,dois psicólogos, um advogadoe uma assistente social, oCREAS Sentinela <strong>de</strong> Feira <strong>de</strong>Santana, na Bahia, é umconjunto <strong>de</strong> ações sociaisespecializadas dirigidas acrianças, adolescentes efamílias envolvidas com aviolência sexual e quetrabalha em parceria com oConselho Tutelar e o Centro<strong>de</strong> Assistência Psicossocial(CAPS). O Sentinela<strong>de</strong>senvolve um <strong>trabalho</strong> <strong>de</strong>atendimento tanto naunida<strong>de</strong> como nos bairros.Primeiro, a área do municípioé mapeada e os dados sãolevantados e só então é feitaa análise da situação. SeAGIRMUNDOforem i<strong>de</strong>ntificados casos <strong>de</strong>violência inicia-se um<strong>trabalho</strong> <strong>de</strong> palestras, oficinas,feiras <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, e éestabelecido o contato com asescolas. De acordo com aeducadora da unida<strong>de</strong>, AldisaMalafaia, é essencial um<strong>trabalho</strong> <strong>de</strong> aproximação noprimeiro momento, porque écomum o estranhamentoinicial das pessoas queprocuram sempre se fecharnestes casos. “Primeirotentamos mostrar o que temospara oferecer, levando aintenção <strong>de</strong> ajuda, para<strong>de</strong>pois sermos referência aponto <strong>de</strong> entrarmos no campodas visitas domiciliares”,explica.Conselho Tutelar faz a diferençano município <strong>de</strong> Can<strong>de</strong>alCriado em novembro <strong>de</strong> 2007, o Conselho Tutelar domunicípio <strong>de</strong> Can<strong>de</strong>al <strong>está</strong> tentando fazer a diferença.Cinco jovens têm a difícil missão <strong>de</strong> sensibilizar apopulação sobre os direitos das crianças e dosadolescentes. Em menos <strong>de</strong> um ano <strong>de</strong> implantado, oConselho Tutelar realizou campanhas para arrecadação<strong>de</strong> agasalhos, alimentos e ajudou a emitir documentos <strong>de</strong>crianças que ainda estavam sem o registro. De acordocom a presi<strong>de</strong>nte do conselho, Lindiane <strong>de</strong> Oliveira, aspessoas já atentaram para o papel do conselho. “Atravésda nossa ação, as pessoas estão compreen<strong>de</strong>ndo que acriança é priorida<strong>de</strong>. Hoje, as pessoas e as própriascrianças sabem on<strong>de</strong> recorrer quando precisarem <strong>de</strong>ajuda”, afirma a presi<strong>de</strong>nte. Durante o mês <strong>de</strong> outubro, osconselheiros estarão visitando as escolas do municípioparticipando <strong>de</strong> um ciclo <strong>de</strong> palestras sobre drogas,violência, família e sexualida<strong>de</strong>. O ciclo é uma parceriado Conselho Tutelar, Secretaria Municipal <strong>de</strong> Educação ePolícia Militar.ESPACO ,DO LEITORESPACO DO LEITORLeia BastanteFoi uma história com emoção,Foi uma leitura alto astral,Foi uma leitura com prazer,Foi muito mais, foi tudo.Mas do que eu podia imaginar,Mas que tudo que eu sempre sonhei,Quando eu vi o Baú chegar,Pensei, ganhei o mundo. Õ, U, ÕU, Õ....Só que os livrinhos preparou,Umas historinhas para nos encantar,E conseguiu, eu sei.Sei que foi muito legal eu ler,Eu te peço pelo bem da educação,Leia bastante.,Refrão: Meu Baú se não fosse você,Não gostava <strong>de</strong> ler,Nem tão pouco <strong>de</strong> escrever (Bis)Paródia produzida pelas estudantes Djane,Fabricia, Franciele, Karina e Jacira, domunicípio <strong>de</strong> Nova Fátima.Realização: Movimento <strong>de</strong> Organização Comunitária Produção e Coor<strong>de</strong>nação: Programa <strong>de</strong> Comunicação do MOC Programa <strong>de</strong> Comunicação doMOC: Daiane Almeida, Klaus Minihuber, Lorena Amorim, Nayara Silva e Raquel Pinto. Diagramação e Design: Karime Salomão Apoio: UNICEF(Fundo das Nações Unidas para a Infância) e Instituto Simões Filho / A Tar<strong>de</strong> Fale Conosco: MOC - Movimento <strong>de</strong> Organização Comunitária: Rua Pontal61, Cruzeiro CEP: 44.017-170 Feira <strong>de</strong> Santana/Ba, tel: (75) 3322.4444 fax: (75) 3322.4401 e-mail: comunica@moc.org.br site: www.moc.org.br2GIR<strong>Jornal</strong> <strong>Giramundo</strong> . <strong>nº</strong> <strong>24</strong> A MUNDO<strong>Novembro</strong> <strong>de</strong> 20<strong>08</strong>


Vozes silenciadasMesmo com as campanhas realizadas pela socieda<strong>de</strong> e governo, o medoainda é principal entrave para <strong>de</strong>núnciasDe forma anônima, com iniciativastímidas, as pessoas estão rompendo asbarreiras e começando a <strong>de</strong>nunciar commais freqüência os casos <strong>de</strong> violência,abuso e exploração sexual contracrianças e adolescentes. Mas, em muitaslocalida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> o incentivo <strong>de</strong>campanhas não chegam, o principalempecilho - o medo, por muito temposilenciou vítimas e familiares, queatravés <strong>de</strong> campanhas e ações <strong>de</strong>entida<strong>de</strong>s voltadas ao apoio nãosomente a criança e o adolescente, mas,da família, começam a conscientizar-seda importância <strong>de</strong> <strong>de</strong>nunciar estes casos.Segundo Margarida Maria LucioTeixeira, assistente social do Centro <strong>de</strong>Referência e Assistência Social(CRAS) do município <strong>de</strong> Pintadas, noTerritório Bacia do Jacuípe, essasituação vem mudando aos poucos. “Eupercebo pela intensida<strong>de</strong> dascampanhas e palestras que as pessoasestão buscando mais os serviços,mesmo <strong>de</strong> forma anônima”, afirma.De acordo com dados do MinistérioPúblico do Estado, a Bahia ocupa um dosprimeiros lugares em número <strong>de</strong> <strong>de</strong>núnciaatravés do Disk 100. A coor<strong>de</strong>nação daInfância e Juventu<strong>de</strong>, do MinistérioPúblico da Bahia, informou que não existea sistematização <strong>de</strong>sses dados por região.Até o mês <strong>de</strong> maio <strong>de</strong>ste ano, foramrealizadas 722 ligações <strong>de</strong>nunciando casos<strong>de</strong> violência sexual na Bahia. ParaMargarida Teixeira, a família é o local on<strong>de</strong>a maioria <strong>de</strong>sses casos acontece e aponta oporquê. “Acredito que a <strong>de</strong>sestruturafamiliar <strong>está</strong> na raiz do problema. Aviolência ela não é somente física, ela émoral e psicológica também. Isto <strong>está</strong>diretamente ligado à questão davulnerabilida<strong>de</strong> econômica e social, mas,sem dúvida, se há uma <strong>de</strong>sestrutura, ela é<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m familiar”, explica.O <strong>trabalho</strong> dos ConselhosTutelaresDes<strong>de</strong> a sua criação, o Estatuto daCriança e do Adolescente (ECA)estabeleceu parâmetros para umarenovação das políticas e programas <strong>de</strong>atendimento das crianças eadolescentes no <strong>Brasil</strong>, propondo, entreoutras inovações, os ConselhosTutelares. Os Conselhos Tutelares têmcomo função aten<strong>de</strong>r crianças eadolescentes cujos direitos foramviolados ou ameaçados, aten<strong>de</strong>r pais eresponsáveis aplicando medidaspertinentes e mobilizar o MinistérioPúblico e <strong>de</strong>mais autorida<strong>de</strong>s judiciáriaspara a adoção <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> proteção.Trabalho como este vem sendo<strong>de</strong>senvolvido no município <strong>de</strong> Riachãodo Jacuípe, on<strong>de</strong> a equipe composta porquatro conselheiros trabalha emparceria com a comunida<strong>de</strong>, o CRAS eo Ministério Público. O conselhorecebe <strong>de</strong>núncias <strong>de</strong> violação dosdireitos da criança em diversos graus.Os mais comuns são <strong>de</strong> maus tratos, 11casos; agressão física por parte dos pais,9 casos; abuso sexual cometido poralheios a família, 4 casos;Saiba a quem recorrer em caso <strong>de</strong> suspeita <strong>de</strong> violência sexual infanto-juvenil:Conselhos Tutelarutelareses – Os Conselhos Tutelares foram criados para zelar pelocumprimento dos direitos das crianças e adolescentes. A eles cabe receber anotificação e analisar a procedência <strong>de</strong> cada caso, visitando as famílias. Se forconfirmado o fato, o Conselho <strong>de</strong>ve levar a situação ao conhecimento doMinistério Público.Varas da Infância e da Juvuventu<strong>de</strong>– Nos municípios on<strong>de</strong> não há ConselhosTutelares, as Varas da Infância e da Juventu<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m receber as <strong>de</strong>núncias.Outros órgãos que também estão preparados para ajudar são as Delegacias <strong>de</strong>Proteção à Criança e ao Adolescente e as Delegacias da Mulher.espancamento por parte dos pais, 3casos. O balanço dos dados é feito acada três meses. De acordo com oconselheiro Juarez Oliveira <strong>de</strong>Carneiro, estes dados são referentes aosmeses <strong>de</strong> fevereiro a maio, o querepresenta um aumento <strong>de</strong> 50% secomparado ao período anterior.O conselheiro ressalta que, apesar<strong>de</strong> muito dos casos <strong>de</strong> abuso eviolência sexual acontecerem <strong>de</strong>ntroda própria família, a ausência <strong>de</strong> dadosa este respeito é um forte indicador <strong>de</strong>que o medo ainda é um empecilho.“Há dois anos exerço a função <strong>de</strong>conselheiro no município e nuncarecebi uma <strong>de</strong>núncia <strong>de</strong> violênciasexual por parte dos familiares ou dafigura do pai, isto po<strong>de</strong> ser um<strong>de</strong>monstrativo <strong>de</strong> que ainda há umacultura do medo e do silêncio calandoas pessoas”, acrescenta.O Conselho Tutelar não temmecanismos para punir os infratores.Uma vez recebida a <strong>de</strong>núncia, éelaborado um documento para serencaminhado ao Ministério Público.No último trimestre, três dos acusadospor crime <strong>de</strong> abuso estão presos. “Separarmos para analisar, em 1979 surge oCódigo do Menor que mais reprimiu doque o ajudou. Em 1990 surge o ECA, eesse cumpre um papel, aimplementação dos conselhos numapalavra foi fundamental, porque é local<strong>de</strong> orientação da família na mediaçãodo conflito”, ressalta Juarez Oliveirasobre a importância dos conselhos.Como <strong>de</strong>nunciar atravésdo DISK 100O serviço do Disque DenúnciaNacional <strong>de</strong> Abuso e ExploraçãoSexual contra Crianças e Adolescentesé coor<strong>de</strong>nado e executado pelaSecretaria Especial dos Direitoshumanos da Presidência da República.Por meio do Disk 100, o usuário po<strong>de</strong><strong>de</strong>nunciar violências contra crianças eCartaz da Campanha <strong>de</strong> Combate aViolência Sexual <strong>de</strong>senvolvida peloMinistério Público da Bahia.adolescentes, colher informaçõesacerca do para<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> crianças eadolescentes <strong>de</strong>saparecidos, tráfico <strong>de</strong>pessoas – in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da ida<strong>de</strong>da vítima, e obter informações sobre osConselhos Tutelares. Os casos sãorepassados ao Ministério Público dosestados para investigação.O serviço funciona diariamente <strong>de</strong>8h às 22h, inclusive nos finais <strong>de</strong>semana e feriados. As <strong>de</strong>núnciasrecebidas são analisadas eencaminhadas aos órgãos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa eresponsabilização, conforme acompetência, num prazo <strong>de</strong> <strong>24</strong>h. Ai<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>nunciante é mantidaem absoluto sigilo.Campanha Pública contra aPornografia Infantil na InternetColocar fotos <strong>de</strong> conteúdo sexualenvolvendo crianças ou adolescentesna Internet, segundo o artigo <strong>24</strong>1 doEstatuto da Criança e doAdolescente, é crime. Se vocêencontrou alguma página na Internetcom imagens <strong>de</strong> crianças e/ouadolescentes submetidos a situaçõesconstrangedoras, poses sensuais ouatos sexuais, <strong>de</strong>nuncie! Copie oen<strong>de</strong>reço da página e enviewebmasterbrazil@unicef.org. Nãoenvie fotos, pois você po<strong>de</strong>rá seracusado <strong>de</strong> repassar materialpornográfico <strong>infantil</strong>.GIRA<strong>Jornal</strong> <strong>Giramundo</strong> . <strong>nº</strong> <strong>24</strong> MUNDO<strong>Novembro</strong> <strong>de</strong> 20<strong>08</strong>3


O <strong>Brasil</strong> <strong>está</strong> <strong>longe</strong> e<strong>de</strong>eeo <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong>No Nor<strong>de</strong>ste, a Bahia li<strong>de</strong>ra a lista dos estados commaior índice <strong>de</strong> explorxploração da mão-<strong>de</strong>-obra <strong>infantil</strong>Q“ uatro anos <strong>de</strong> muita experiência e aprendizado”. É assim que Rafael Bruno Miranda, moradordo município <strong>de</strong> Can<strong>de</strong>al, resume sua vivência no Programa <strong>de</strong> Erradicação do TrabalhoInfantil (PETI). Aos 19 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, o menino que ajudava a avó no mercado e não gostava <strong>de</strong> ler,hoje trabalha na secretaria da Escola Estadual Wilson Falcão.A história do jovem com o PETI teve início em 2001, quando tinha 12 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Ele contaque foi a partir do Programa que <strong>de</strong>spertou para o hábito da leitura. “O que eu mais gostava era doBaú <strong>de</strong> Leitura, que não <strong>de</strong>ixava que a leitura fosse uma coisa chata. Várias coisas em mimcomeçaram a <strong>de</strong>senvolver. Como eu não gostava <strong>de</strong> ler, não me mantinha informado. Passei a lermais e <strong>de</strong> cada coisa eu queria conhecer um pouquinho. Deixei<strong>de</strong> ser limitado”. Apaixonado pela metodologia do Baú <strong>de</strong>Leitura, Rafael Miranda realizou oficinas <strong>de</strong> leitura naescola on<strong>de</strong> trabalha e conseguiu obter um ótimoresultado.Com o PETI, o jovem fez novas amiza<strong>de</strong>se teve excelentes oportunida<strong>de</strong>s. Hoje,os textos escritos pelo egresso sãotrabalhados em oficinas <strong>de</strong>sensibilização e formação <strong>de</strong>educadores que trabalham com ametodologia do Baú <strong>de</strong> Leitura.Muito à vonta<strong>de</strong>, RafaelMiranda afirma que o PETIcresceu, mas, faz umaDelevantamInstituSocioecoem 2007milhões dPETI. EmredR$ 2ressalva. “Eu não troco a minhaépoca, pela época <strong>de</strong> hoje”.“O PETI já foi PETI” – Implantadopelo Governo Fe<strong>de</strong>ral no ano <strong>de</strong> 1997, oPETI na Bahia teve uma atuação diferenciada<strong>de</strong>vido à relação estabelecida entre o po<strong>de</strong>r públicoe a socieda<strong>de</strong> civil. Até o ano <strong>de</strong> 2006, o estado daBahia era referência no combate ao <strong>trabalho</strong> penoso einsalubre. No entanto, <strong>de</strong> acordo com a PesquisaNacional por Amostra <strong>de</strong> Domicílio (PNAD/2006), aBahia li<strong>de</strong>ra o ranking da Região Nor<strong>de</strong>ste no que dizrespeito ao aumento do Trabalho Infantil.No município <strong>de</strong> Can<strong>de</strong>al, localizado na RegiãoSisaleira, 156 crianças freqüentam as sete Unida<strong>de</strong>s daJornada Ampliada existentes. No entanto, 22 crianças<strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> freqüentar as jornadas. Para acoor<strong>de</strong>nadora das ações sócioeducativas, IvoneteCarneiro, a migração do PETI para o Bolsa Família fezcom que o Programa per<strong>de</strong>sse a sua característica.“Com a migração, a família não se preocupa se o aluno<strong>está</strong> freqüentado a escola, isto porque ela vai receber obenefício do mesmo jeito. Eu consi<strong>de</strong>ro o PETI <strong>de</strong> hojeum programa assistencialista”, afirma a coor<strong>de</strong>nadora.Dados do <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong> no <strong>Brasil</strong>• Ainda existem 2.500.842 crianças e jovens <strong>de</strong> 5 a 15 anos trabalhando;• Em 2007, 1.044.000 crianças <strong>de</strong> 7 a 15 anos não freqüentavam a escola;• Mais <strong>de</strong> 600 mil crianças estariam possivelmente impedidas <strong>de</strong> freqüentar a espor estar <strong>de</strong>senvolvendo ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> ou ativida<strong>de</strong>s domésticas;• As crianças <strong>de</strong> 7 a 15 anos, quando estudam, trabalham em média 20,1 horas posemana. Quando não freqüentam a escola, as crianças trabalham em média 35,3 hopor semana. As crianças que não estudam, trabalham em média 40 horas por seman• 65% das crianças que trabalham e estudam não recebem pagamento pelo <strong>trabalho</strong>• 45% das crianças que apenas trabalham também não recebem pagamento;• As crianças com ida<strong>de</strong> entre 7 e 15 anos que trabalham e estudam recebem pagamemensal médio <strong>de</strong> R$ 151.Fonte: PNAD 2007


adicarradicarIvonete também fala daparticipação da socieda<strong>de</strong> civil,fundamental para o crescimentoacordo comdo Programa no município, eento feito pelo que em 2006 conseguiu darto <strong>de</strong> Estudosvisibilida<strong>de</strong> ao <strong>de</strong>svio <strong>de</strong>recurso do Programa. Nanômicos (Inesc),época, a organização doshaviam R$ 376,8 atores sociais fez com que aestinados para o imprensa repercutisse e20<strong>08</strong>, o valor foi ajudasse na busca <strong>de</strong> soluçãouzido parapara o caso. Dois anos <strong>de</strong>pois,6,4 milhões.a educadora sente falta <strong>de</strong>staatuação e reclama da extinção dogrupo gestor. “A participação dasocieda<strong>de</strong> civil esfriou bastante. Nãoacompanha mais como antes, quando existiao grupo gestor e pessoas atuando com o programa, elasse sentiam na responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acompanhar, <strong>de</strong> sabercomo o dinheiro estava sendo utilizado, como osmonitores estavam trabalhando”.Integração entre PETI e Bolsa Família, mudançasna Política Nacional <strong>de</strong> Assistência Social, extinção <strong>de</strong>iniciativas <strong>de</strong> educação familiar, fragilida<strong>de</strong> da ComissãoEstadual, diminuição <strong>de</strong> recursos. Estes são alguns dos<strong>de</strong>safios enfrentados pelo Programa e que tem repercutidono <strong>trabalho</strong> direto com as crianças. Em Can<strong>de</strong>al, apesarda <strong>de</strong>dicação dos monitores, educadores, as jornadasampliadas <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> ser atraentes. “Temcrianças que dizem não ver a hora <strong>de</strong>completar 16 anos. Antes elas freqüentavampor prazer. Alguns chegam a dizer que oPETI já foi PETI. Falta sensibilização dosgestores públicos para a garantia doprograma nos municípios”, revelaa educadora Ivonete Carneiro.Egressos que voltam –Apenas 8 km <strong>de</strong> estrada <strong>de</strong> chãoseparam o povoado São Franciscoda se<strong>de</strong> do município <strong>de</strong> Novacolarrasa;;ntoFátima. No momento da visita, osalunos estavam fazendo pintura eartesanato para exibição durante a VIMostra <strong>de</strong> Leitura, Arte e Cultura. Noentanto, a turma orientada por Erisvaldo <strong>de</strong>Andra<strong>de</strong>, não é uma turma comum. Três egressosdo PETI resolveram voltar a freqüentar o espaçoda jornada ampliada.Com 15 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e cursando a 7ºsérie do ensino fundamental, Elias Moreira dosSantos Neto diz que a vida melhorou <strong>de</strong>pois doPETI. “Trabalhava na plantação <strong>de</strong> sisal e eramuito ruim ficar ao relento, acordar muito cedo.Mais fiscalizaçãoDe acordo com ErioneGuimarães, coor<strong>de</strong>nadorado Baú <strong>de</strong> Leitura emNova Fátima, muitascrianças estãoabandonando a escolapara trabalhar comocarregadores eprincipalmente nasplantações <strong>de</strong> sisal.Perigo no abatedouro<strong>de</strong> Can<strong>de</strong>alEm Can<strong>de</strong>al, crianças comida<strong>de</strong> entre 10 e 15 anosestão trabalhando nomatadouro municipal, abatendoboi. Apesar do Ministério Públicoter sido acionado, as criançaspermanecem trabalhando nasnoites <strong>de</strong> sexta-feira.Ia para a escola cansado. Então resolvi parar esó estudar. Hoje a vida é muito melhor”. Eleconta que ainda continua participando doPrograma porque gosta das brinca<strong>de</strong>iras e <strong>de</strong>estar próximo dos amigos.Para o coor<strong>de</strong>nadordas açõessócioeducativas domunicípio <strong>de</strong> NovaFátima,Erisvaldo <strong>de</strong>Andra<strong>de</strong>,<strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong>alunos comoElias ajudam asuperar osobstáculos doPrograma, como afalta <strong>de</strong> materialdidático e asdificulda<strong>de</strong>s namanutenção do lanche ealmoço. O último levantamento feito porErisvaldo, mostra que 301 crianças estãosendo atendidas. Ele afirma que foi necessáriofazer muitos ajustes para que a alimentaçãofosse garantida, pois, na maioria dos casos,esta é a oportunida<strong>de</strong> das crianças sealimentarem a<strong>de</strong>quadamente. “Fornecemoscarne uma vez por semana. Tivemos queSegundo dados daPNAD 2006, neste anohaviam 714 mil crianças eadolescentes em situação<strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong> naRegião Nor<strong>de</strong>ste. Somenteno Estado da Bahia, 500 milcrianças e adolescentesexerciam <strong>trabalho</strong> penosoe insalubre.substituir por salsicha ecarne vegetal”, diz Erisvaldo.Sobre a mudança no quadro do <strong>trabalho</strong><strong>infantil</strong> na Bahia, Erisvaldo <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> éenfático ao dizer que a socieda<strong>de</strong> se acomodou.“O po<strong>de</strong>r público e a socieda<strong>de</strong> civil pensouque estava tudo bom, que não precisavamelhorar, e nos acomodamos. O encontroregional, que era o momento <strong>de</strong> nos reunirmospara apontar e discutir o que fazer, foi extinto”.Há mais <strong>de</strong> um ano, Erisvaldo <strong>de</strong>Andra<strong>de</strong> também luta contra outro problema.As famílias <strong>de</strong> Edynoel Silva, 13 anos, e LaianeBorges, 14 anos, apesar <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r aos critériosestabelecidos pelo Ministério doDesenvolvimento Social (MDS), não estãorecebendo o benefício do Bolsa Família. Os doisafirmam continuar freqüentando a jornadaporque mesmo com todas as dificulda<strong>de</strong>s, é umespaço <strong>de</strong> aprendizado e <strong>de</strong> fazer novos amigos.O <strong>Brasil</strong> ainda <strong>está</strong> <strong>longe</strong> <strong>de</strong> encontraruma solução para o <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong>. Asjornadas ampliadas estão fragilizadas e semcondições <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver um <strong>trabalho</strong> <strong>de</strong>qualida<strong>de</strong>. Apesar do esforço e da <strong>de</strong>dicação <strong>de</strong>alguns monitores e coor<strong>de</strong>nadores, muitascrianças ao <strong>de</strong>ixarem o PETI, não têm o mesmo<strong>de</strong>stino do Jovem Rafael Bruno. Muitas estãovoltando ao <strong>trabalho</strong> insalubre por falta <strong>de</strong>oportunida<strong>de</strong>s.


EntrevistaLançando re<strong>de</strong>spara a construção da cidadaniaPartindo <strong>de</strong> uma iniciativa doMovimento <strong>de</strong> OrganizaçãoComunitária (MOC), em parceria coma Petrobrás e o Fundo Nacional daCriança e do Adolescente (FNCA), oProjeto Construindo Direitos eFortalecendo Re<strong>de</strong>s, configura-secomo mais uma estratégia <strong>de</strong> suporte,voltada para as ações que asseguram osdireitos das crianças e dos adolescentesno estado da Bahia. Conceição ElianaCarneiro, coor<strong>de</strong>nadora do ProgramaCriança e Adolescente do MOC, contaem entrevista um pouco mais sobre ascaracterísticas e perspectivas doprojeto.<strong>Jornal</strong> <strong>Giramundo</strong> - O ProjetoConstruindo Direitos e FortalecendoRe<strong>de</strong>s fundamenta-se como umaalternativa <strong>de</strong> proteção aos direitos dacriança e do adolescente. Dentre aspropostas já sistematizadas, comovocê apresenta o projeto?Eliana Carneiro - O projeto visacontribuir para a sensibilização econscientização das pessoas comrelação às questões do <strong>trabalho</strong><strong>infantil</strong>, especialmente no estado daBahia, visto que este é o quarto maiorestado do país em número <strong>de</strong> crianças eadolescentes trabalhando. Ele vaibuscar a conscientização para ofortalecimento <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s e açõesexistentes na linha <strong>de</strong> erradicação do<strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong>.JG - O que são estas re<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>que forma será feita estaconscientização?EC - São re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> proteção à criançae ao adolescente. Para fortalecê-las,vamos trabalhar com conselheiros <strong>de</strong>criança e adolescente, conselheirostutelares, conselheiros <strong>de</strong> assistênciasocial, monitores, coor<strong>de</strong>nadores doPrograma <strong>de</strong> Erradicação do TrabalhoInfantil (PETI) e atores sociais dosmunicípios. Nos municípios on<strong>de</strong> jáexistem as re<strong>de</strong>s, elas serão reforçadas.No entanto, nos municípios que aindanão possuem a intenção é construir e<strong>de</strong>senvolver. Além disto,através <strong>de</strong> capacitações,reuniões e assessorias, vamosmobilizar pessoas do po<strong>de</strong>rpúblico e da socieda<strong>de</strong> civilpara elaboração <strong>de</strong> planosmunicipais <strong>de</strong> atendimento àcriança e ao adolescente,sempre enfatizando a questãoda erradicação do <strong>trabalho</strong><strong>infantil</strong>.“Contribuir e trabalharpara a erradicação do<strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong>, através<strong>de</strong> ações que façam comque os cidadãos percebamque as crianças e osadolescentes têm os seusdireitos garantidos e queestes direitos <strong>de</strong>vem serrespeitados pela socieda<strong>de</strong>e pelo estado”.Eliana CarneiroJG – Quais municípios sãocontemplados com o projeto?EC – O projeto ConstruindoDireitos e Fortalecendo Re<strong>de</strong>s vaiatuar em 14 municípios dosTerritórios Bacia do Jacuípe e Sisal.São eles: Conceição do Coité,Can<strong>de</strong>al, Itiúba, Nor<strong>de</strong>stina,Retirolândia, Santa Luz, Valente,Cansanção, Ichu, Nova Fátima, Pé-<strong>de</strong>Serra, Riachão do Jacuípe, Gavião eCapela do Alto Alegre.JG - As crianças e osadolescentes também vão participardas sensibilizações? Quem será opúblico-alvo?EC - Na verda<strong>de</strong> não há um<strong>trabalho</strong> direto com crianças eadolescentes. Será um <strong>trabalho</strong> voltadopara monitores, coor<strong>de</strong>nadores <strong>de</strong>monitores, conselheiros <strong>de</strong> direitos,conselheiros tutelares, conselheiros <strong>de</strong>assistência social e <strong>de</strong>mais atoressociais, que porventura estejamparticipando, ou venham participardas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> proteção à criança e aoadolescente. Trabalhando diretamentecom este público, preten<strong>de</strong>-se que elesmultipliquem as experiências com ascrianças, adolescentes e suasrespectivas famílias, pois existe umatimi<strong>de</strong>z dos pais em participarem dosprocessos <strong>de</strong> educação e <strong>de</strong> garantia <strong>de</strong>direitos da criança e do adolescente.Em alguns municípios o PETIapresenta um <strong>trabalho</strong> voltado para asfamílias. Para fortalecer ainda maisesta ação, a nossa proposta é capacitare incentivar os monitores para arealização <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s com os pais apartir da questão dos direitos e <strong>de</strong>veresda criança e do adolescente.JG - Qual a sua análise a respeito<strong>de</strong>sse afastamento das famílias?EC – O afastamento acontece<strong>de</strong>vido a pouca informação que chegaaté às famílias. Há três anos o MOCteve uma experiência com o projetoagente <strong>de</strong> família, que prestava umaassessoria direta, incentivava eacompanhava a participação dasfamílias. Através <strong>de</strong>ste projeto, asfamílias entendiam que a participação<strong>de</strong>les era importante para garantir osdireitos <strong>de</strong> seus filhos e <strong>de</strong>les mesmos.Com a ausência do projeto<strong>de</strong>scobrimos, a partir <strong>de</strong> uma avaliação,que as famílias recuaram e não estãomais recebendo informações.JG – Quais os conteúdos queserão trabalhados nas oficinas com osconselheiros e monitores?EC – O conteúdo contempla osistema <strong>de</strong> garantia <strong>de</strong> direitos,importância do que é direito,orçamento público e participação.Também vamos trabalhar o papel domonitor e do conselheiro, aimportância <strong>de</strong>les no município, suaparticipação e como cada ator socialdará sua contribuição.JG – Estabelecer parceriascontribui com os resultados da ação.Nestes municípios, haverá aparticipação <strong>de</strong> outras entida<strong>de</strong>s?EC – Serão nossos parceiros osSindicatos dos Trabalhadores Rurais,Conselhos <strong>de</strong> Assistência e <strong>de</strong> Direitosda Criança e do Adolescente, igrejas eorganizações locais, pessoas que já<strong>de</strong>senvolvem nos municípiosativida<strong>de</strong>s voltadas à criança e aoadolescente, além <strong>de</strong> representantes daPastoral da Criança, Pastoral daJuventu<strong>de</strong>, educadores sociais esecretários municipais.JG – Com tantas ações realizadasem prol da erradicação do <strong>trabalho</strong><strong>infantil</strong>, como você avalia a questãoda mão-<strong>de</strong>-obra <strong>infantil</strong> atualmente?EC – Ainda há uma carência <strong>de</strong>sensibilização por parte das famílias,por parte das pessoas que utilizam amão-<strong>de</strong>-obra <strong>infantil</strong>. Desta forma,visa-se buscar a participação dosempregadores da Câmara <strong>de</strong> DirigentesLojistas (CDL), e representantes docomércio local nas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sensibilização e <strong>de</strong> conscientização.Isto porque, percebe-se que aquantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> meninos e meninasempregados no comércio local é muitogran<strong>de</strong>. Apesar do PETI existir há <strong>de</strong>zanos, a sensibilização ainda faz-senecessária.6GIR<strong>Jornal</strong> <strong>Giramundo</strong> . <strong>nº</strong> <strong>24</strong> A MUNDO<strong>Novembro</strong> <strong>de</strong> 20<strong>08</strong>


Educomunicação nas escolas do campoMais do que uma metodologia, um instrumento <strong>de</strong> participação políticaComo parte da proposta <strong>de</strong><strong>de</strong>mocratizar a comunicação, oMovimento <strong>de</strong> OrganizaçãoComunitária (MOC) <strong>de</strong>senvolve<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2005 ações <strong>de</strong>educomunicação nas escolas docampo. Dentro <strong>de</strong>ssa proposta, oseducadores são estimulados atrabalharem a produção <strong>de</strong> mídiaseducativas como programas <strong>de</strong>rádio, boletins e jornal mural,incentivando a participação ativa<strong>de</strong> crianças e adolescentes nosprocessos <strong>de</strong> construção <strong>de</strong>ssesmeios e o protagonismo infantojuvenil.Ao mesmo tempo, oseducadores promovem <strong>de</strong>bates e areflexão crítica dos conteúdosveiculados na gran<strong>de</strong> mídia.“Depois que iniciamos o <strong>trabalho</strong> <strong>de</strong>educomunicação, aliado arealida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada aluno,percebemos uma mudançasignificativa em sala <strong>de</strong> aula,principalmente no olhar <strong>de</strong>stes emrelação aos meios <strong>de</strong> comunicaçãoque consomem”, afirma JoelmaSantos, Coor<strong>de</strong>nadora <strong>de</strong> Educaçãodo Campo no município <strong>de</strong> Valente.Des<strong>de</strong> 2006, o MOC aceitou um<strong>de</strong>safio: Incluir a educomunicaçãono dia-a-dia escolar <strong>de</strong> 10 escolascom metodologia do campo. Asescolas foram selecionadas peloscoor<strong>de</strong>nadores municipais doprojeto Conhecer, Analisar eTransformar a realida<strong>de</strong> do campo(CAT) dos municípios <strong>de</strong>Conceição do Coité, Retirolândia eValente, sendo que os própriosmunicípios foram os responsáveispelas escolhas das escolas, turmas eprofessores. Atualmente sãocapacitados cerca <strong>de</strong> 58 educadoresdo campo que aplicam em sala <strong>de</strong>aula o resultado das oficinaspráticas <strong>de</strong>senvolvidas em parceriacom as prefeituras locais.Adriana Oliveira, educadora domunicípio <strong>de</strong> Retirolândia, acreditaque esta metodologia permite discutirem sala <strong>de</strong> aula e na comunida<strong>de</strong>, oEstudantes soltam a voz durantegravação do programa <strong>de</strong> rádioque se pensa e sente em relação aomundo. “A educomunicação nos fazrefletir sobre a nossa vida, a dosoutros e ao mundo que nos ro<strong>de</strong>ia,não importando ida<strong>de</strong>, sexo, credo oucondição social. Entendo que não énecessário ser jornalista para <strong>de</strong>batere fazer a comunicação, pelo contrário,a educomunicação nos dá liberda<strong>de</strong><strong>de</strong> exercer plenamente o nosso direitoa uma comunicação verda<strong>de</strong>iramente<strong>de</strong>mocrática”, relata.Além <strong>de</strong> serem capacitados, oseducadores do campo tambémparticipam <strong>de</strong> espaços políticos naárea da comunicação, como porexemplo, o Comitê Regional <strong>de</strong>Democratização da Comunicação,responsável pela gestão do Plano <strong>de</strong>Desenvolvimento Territorial quecontempla diversas ações nessaárea, <strong>de</strong>ntre elas, o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong>inserir a educomunicação comouma política pública <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento para osmunicípios. Fazereducomunicação ourealizar práticaseducomunicativas,possibilita construir umnovo discurso eexperimentar uma outraforma <strong>de</strong> convivênciasocial, on<strong>de</strong> os processossão mais importantes queos produtos. Nessecontexto, aeducomunicação, é,antes <strong>de</strong> tudo, uma proposta <strong>de</strong>organização social essencialmentediferente da que estamos inseridos.Resultados e Desafios - Comoresultado dos três anos <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>,os alunos das escolas do campoestão produzindo jornal mural eboletins (Fanzine), além <strong>de</strong>produzirem e apresentaremprogramas <strong>de</strong> rádio voltados para arealida<strong>de</strong> local. Na comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Encruzilhada, município <strong>de</strong>Valente, as crianças e adolescentestêm acesso à internet em sala <strong>de</strong>aula o que permite maioraproximação com os meios <strong>de</strong>comunicação.No município <strong>de</strong> Retirolândia,no mês <strong>de</strong> setembro os alunos dascomunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Alecrim, Bastião,Vargem e Vista Bela estiveramvisitando a se<strong>de</strong> da AgênciaMandacaru <strong>de</strong> Comunicação eCultura e o estúdio da rádiocomunitária Estrela FM. A visita foiproposta pelos educadores quetrabalham com a metodologia <strong>de</strong>educomunicação, como forma dosalunos conhecerem <strong>de</strong> perto o diaa-dia<strong>de</strong> uma rádio e ofuncionamento <strong>de</strong> uma agência <strong>de</strong>notícias. Neste mesmo dia, osalunos pu<strong>de</strong>ram conferir osprogramas <strong>de</strong> rádio produzidos poreles e que foram veiculados narádio comunitária.São inúmeros os <strong>de</strong>safios, mas avonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudar a realida<strong>de</strong> dacomunicação nessa região <strong>de</strong>monstraser mais forte. Recentemente foiaprovado pela Petrobras, um projetoque garante a capacitação <strong>de</strong> jovenscomunicadores na área <strong>de</strong>comunicação e educação e aformação continuada <strong>de</strong> educadoresdo campo. Além das capacitações, oprojeto garante a instalação <strong>de</strong>rádios-poste em comunida<strong>de</strong>s rurais,excluídas dos gran<strong>de</strong>s meios <strong>de</strong>comunicação. A proposta surgiu danecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se criar alternativaspara que os sujeitos tenham espaçogarantido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a concepção até acriação dos meios <strong>de</strong> comunicação.Pequenos ouvintes em visita a espaços<strong>de</strong> comunicação comunitária <strong>de</strong>RetirolândiaGIRA<strong>Jornal</strong> <strong>Giramundo</strong> . <strong>nº</strong> <strong>24</strong> MUNDO<strong>Novembro</strong> <strong>de</strong> 20<strong>08</strong>7


Monitores expõem talentosdurante capacitaçãoO <strong>trabalho</strong> realizado pelos monitores do PETI é avaliado e atualizado em Curso <strong>de</strong> CapacitaçãoO Programa <strong>de</strong> Erradicaçãodo Trabalho Infantil (PETI) temse <strong>de</strong>monstrado espaço <strong>de</strong>gran<strong>de</strong>s construções e<strong>de</strong>scobertas. Além <strong>de</strong> contribuirpara a formação <strong>de</strong> crianças eadolescentes, que ao longo<strong>de</strong>sses 10 anos vem construindouma trajetória <strong>de</strong> sucesso nosmais diversos espaços sociais, oprograma é um estímulo nãosomente para alunos, mastambém para os monitores.No mês <strong>de</strong> setembro, nacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Feira <strong>de</strong> Santana,através do convênio entre oMovimento <strong>de</strong> OrganizaçãoComunitária (MOC) e aSecretaria <strong>de</strong> DesenvolvimentoSocial e Combate a Pobreza(SEDES), os monitoresparticiparam <strong>de</strong> umacapacitação sobre a políticaNacional <strong>de</strong> Assistência Sociale Sistema <strong>de</strong> Garantia dosDireitos das Crianças eAdolescentes, momentotambém <strong>de</strong> avaliar as açõessócioeducativas da JornadaAmpliada. Além da reflexãosobre o <strong>trabalho</strong> <strong>de</strong>senvolvidopelos monitores, as oficinas sãoespaços <strong>de</strong> explorar acriativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>les.Os talentos dos monitores -Um grupo <strong>de</strong> monitores, apartir da prática em seusmunicípios, se uniram econstruíram uma paródia sobremitos e lendas brasileiras. Aativida<strong>de</strong> faz parte dametodologia <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>de</strong>uma das oficinas realizadasdurante o curso, a Oficina <strong>de</strong>Educação Contextualizada eincentivo à leitura lúdica ecrítica, on<strong>de</strong> aconteceramativida<strong>de</strong>s pedagógicas elúdicas na perspectiva do<strong>de</strong>senvolvimento sustentável.Outras oficinas discutiram aPolítica Nacional <strong>de</strong>Assistência Social e o Processo<strong>de</strong> DesenvolvimentoEconômico Infantil.Para os monitores,<strong>de</strong>senvolver ativida<strong>de</strong>senvolvendo música, teatro,paródias nem sempre foi algofácil como conta Maria IreneAlves dos Santos, monitora <strong>de</strong>Teofilândia. “A minha vidamudou <strong>de</strong>pois do PETI, eu<strong>de</strong>scobri em mim habilida<strong>de</strong>sque antes eu nunca imaginavaque tinha, mudou minha forma<strong>de</strong> pensar e conviver com aspessoas. Descobrimos que temosbons pintores, <strong>de</strong>senhistas,parodistas, contadores <strong>de</strong>história. Através do PETI e dosalunos eu me <strong>de</strong>spertei, se eunão fosse educadora leitora eujamais teria a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>me <strong>de</strong>scobrir, hoje eu meapresento em público, canto,faço coisas que eu não faziaantes”, afirma Maria Irene que<strong>está</strong> há sete anos no Programa.Os monitores não sãoprofessores, mais a sua presençajunto aos alunos é <strong>de</strong>fundamental importância para o<strong>de</strong>senvolvimento dacriativida<strong>de</strong> das crianças e dospróprios monitores. VilmaDantas dos Santos, monitora daal<strong>de</strong>ia indígena KaimbéMassacará, <strong>de</strong> Eucli<strong>de</strong>s daCunha, ressalta que a al<strong>de</strong>iamudou muito <strong>de</strong>pois do PETI,além <strong>de</strong> <strong>de</strong>baterem o Estatutoda Criança e do Adolescente,que antes não era conhecido, ascrianças<strong>de</strong>senvolvemativida<strong>de</strong>s comocoral, peças, dança,e os própriosmonitores<strong>de</strong>senvolvem seustalentos.Segundo Berna<strong>de</strong>teCarneiro,coor<strong>de</strong>nadora do cursoe técnica do Programa<strong>de</strong> Educação do MOC,há aproximadamenteseis anos os monitoresdo município <strong>de</strong>Eucli<strong>de</strong>s da Cunha não eramcapacitados, e os <strong>de</strong> Teofilândiahá quatro anos. “É muitomotivador, estimulador para osmonitores estarem renovandoseus conhecimentos, avaliandosuas práticas pedagógicas etrocando experiências”, afirma.O convênio foi firmado paraaten<strong>de</strong>r a 450 monitores dosTerritórios do Sisal, Bacia doJacuípe, Piemonte daDiamantina e Feira <strong>de</strong> Santanano Portal do Sertão, dos quais150 já foram capacitados.Incluindo esses 450monitores, o MOC realiza umacompanhamento pedagógicoa 1.776 monitores <strong>de</strong>ssesquatro territórios. No mês <strong>de</strong>outubro, participaram dos cursosos monitores do município <strong>de</strong>Jacobina. Já o <strong>trabalho</strong> realizadocom as Comissões Municipais<strong>de</strong> Enfrentamento ao TrabalhoInfantil (COMETIS), quetambém fazem parte doconvênio, terá suas ativida<strong>de</strong>sretomadas a partir <strong>de</strong> 2009,<strong>de</strong>vido ao período daseleições municipais.Mitos e Lenda brasileirasMitos e lendas brasileiras estudamos,Recontadas por Val<strong>de</strong>ck Garanhus,Em verso e prosa da Editora Mo<strong>de</strong>rnaHistoria do curupira da editora mo<strong>de</strong>rnaHistoria do curupira, folclore da nossa terra.É conhecido pelo nosso mundo inteiroMudando forma, tamanho e cor do <strong>de</strong>nte,Mas aqui no nor<strong>de</strong>ste brasileiro,Tem os pés invertidos e cabelos vermelhos.As suas formas variam por regiãoEm Santarém tem quatro palmos <strong>de</strong> alturaEm Rio Negro é calvo e corpo peludoNo Pará tem orifícios e Solimões é orelhudoEcologista por instinto que belezaQuem se atrever a <strong>de</strong>struir a fauna e a floraFica perdido sem saber o que fazerFica <strong>de</strong>sesperado durante algumas horas.E não importa se é verda<strong>de</strong> ou se é mentira,O importante é encantar a nossa gente,Enriquecer também a nossa cultura,Despertar a imaginação para as geraçõesfuturas.RealizaçãoAgênciaMandacaru <strong>de</strong>Comunicação eCulturaApoio

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