17.05.2016 Views

Poétnica

Nei Lopes teve seus primeiros poemas publicados em jornais na década de 1960 e depois na revista Civilização Brasileira (n. 7, maio de 1966), pela mão do diretor responsável M. Cavalcanti Proença. Na década seguinte, o brasilianista David Brookshaw, então professor da Queen’s University, de Belfast, publicou o texto ‘Quatro poetas negros brasileiros’ na Revista de Estudos Afro-Asiáticos (n. 2, 1978, p. 30-43). Nesse texto, o teórico inglês analisou a produção de Nei Lopes, reunida num volume intitulado ‘Feira Livre’, jamais publicado, comparando-a muito positivamente às de Lino Guedes, Solano Trindade e Eduardo de Oliveira. Entretanto, somente em 1996, Nei Lopes lançou um volume reunindo suas poesias: ‘Incursões sobre a Pele’, publicado pela Artium Editora. O presente volume, então, compila toda a poesia do autor produzida no período de 1966 a 2013, excluída sua porção cancionista, materializada em mais de três centenas de títulos tornados públicos, desde 1972, nas vozes de importantes intérpretes da música popular brasileira.

Nei Lopes teve seus primeiros poemas publicados em jornais na década de 1960 e depois na revista Civilização Brasileira (n. 7, maio de 1966), pela mão do diretor responsável M. Cavalcanti Proença. Na década seguinte, o brasilianista David Brookshaw, então professor da Queen’s University, de Belfast, publicou o texto ‘Quatro poetas negros brasileiros’ na Revista de Estudos Afro-Asiáticos (n. 2, 1978, p. 30-43). Nesse texto, o teórico inglês analisou a produção de Nei Lopes, reunida num volume intitulado ‘Feira Livre’, jamais publicado, comparando-a muito positivamente às de Lino Guedes, Solano Trindade e Eduardo de Oliveira. Entretanto, somente em 1996, Nei Lopes lançou um volume reunindo suas poesias: ‘Incursões sobre a Pele’, publicado pela Artium Editora.

O presente volume, então, compila toda a poesia do autor produzida no período de 1966 a 2013, excluída sua porção cancionista, materializada em mais de três centenas de títulos tornados públicos, desde 1972, nas vozes de importantes intérpretes da música popular brasileira.

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

“Nossa tragédia,<br />

Espetáculo<br />

De séculos:<br />

Na apanha do café,<br />

Na puxada do xaréu,<br />

No jogo mandingueiro,<br />

No saber e na fé,<br />

Feitos Folk,<br />

Lord.”<br />

Há coisas e situações que só a voz poética consegue<br />

abordar, pela sua natureza investigativa do impronunciável,<br />

pela sua sirene de alarme da alma rasurada. Nei Lopes<br />

sabe disso e, embora domine outras formas para expressar<br />

o que vê e apreende da imensa vastidão do drama humano,<br />

é na poesia que ele encontra o veículo adequado para<br />

sangrar com as palavras. E, no fervilhar dessa inquietação<br />

libertadora, espalha seus tentáculos verbais em busca da<br />

terra-mãe, a África, de tal forma, que boa parte dos seus<br />

mais inspirados poemas versam sobre Angola – da tradição<br />

mítica à revolução recente.<br />

“Angola<br />

É uma gazela correndo no meu sangue<br />

É uma fêmea de Anopheles darlingi<br />

Me picando a alma<br />

E inoculando o vírus de uma febre<br />

Que me incendeia e faz<br />

Tremer eternamente<br />

Num delírio de paz e igualdade.”<br />

Ou ainda, de posse de sua verve de filólogo, quando<br />

enumera a influência das línguas angolanas no nosso falar:<br />

16

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!