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Editorial<br />
É possível haver uma<br />
Civilização Cristã?<br />
Ao escrever seu ensaio “Revolução e Contra-Revolução”, em 1959, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> apontou cinco carácteres<br />
da Revolução: ela é una, universal, total, dominante e processiva. Porém, já no fim da<br />
vida, afirmou poder-se acrescentar mais um: seu carácter multitudinário.<br />
“É a multidão, sim, a multidão incontável dos que [...] promovem ou simplesmente toleram a ofensiva<br />
impune e avassaladora da propaganda revolucionária, oral ou escrita.<br />
“Se a Revolução fosse simplesmente uma ideologia tendo a seu serviço o impulso, faltar-lhe-ia importância<br />
histórica. É o carácter multitudinário da Revolução o fator mais importante do seu êxito.” 1<br />
Com efeito, muita gente se deixa arrastar pelos mitos revolucionários, por crer que todo o mundo pensa<br />
desse modo, e, não tendo coragem de enfrentar a maioria, verga-se à opinião dominante. Pois o instinto<br />
de sociabilidade leva o homem a não querer romper as relações com os seus semelhantes, preferindo<br />
ceder, abdicando de suas opiniões ou convicções, a ficar isolado por contrariar a opinião pública.<br />
É por isso que a Revolução, conhecedora e hábil manipuladora do instinto de sociabilidade, sempre se<br />
apresenta, aos olhos do público, com o apoio das maiorias. E assim ela impõe modas, maneiras de ser e<br />
de pensar, condutas morais, etc. Embora muitos preferissem pensar e ser diferentes, porque julgam que<br />
todo o mundo pensa segundo os padrões revolucionários, poucos conseguem praticar a proeza de discordar.<br />
Por esse mecanismo psicológico, ligado ao instinto de sociabilidade, a Civilização Cristã é tida por<br />
todo o mundo como uma utopia, como algo irrealizável na ordem prática.<br />
Sem dúvida, tendo a sociedade contemporânea voltado as costas para Deus, torna-se difícil a prática<br />
de sua Lei para os indivíduos, por falta de apoio dos semelhantes. Ora, se manter o estado de graça é tão<br />
difícil para uma pessoa isolada, não o seria ainda mais para toda a sociedade em seu conjunto?<br />
Há, contudo, uma forma de provar a possibilidade de uma sociedade autenticamente cristã: mostrar<br />
que ela já existiu no passado. A este respeito, afirmou Leão XIII: “Tempo houve em que a filosofia do<br />
Evangelho governava os Estados. Nessa época, a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam<br />
as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade<br />
civil.” 2 Portanto, o que hoje é tido como utopia foi outrora realidade.<br />
No presente número da revista, <strong>Dr</strong>. <strong>Plinio</strong> aborda a questão, sob um ponto de vista original, mostrando<br />
como a Civilização Cristã existiu na Idade Média, em muitos países da Europa. Eis um elemento a<br />
mais para reforçar a certeza do cumprimento da promessa feita por Nossa Senhora, em Fátima, do triunfo<br />
de seu Imaculado Coração e do advento de seu reinado.<br />
1) Corrêa de Oliveira, <strong>Plinio</strong>. Nobreza e elites tradicionais análogas — nas alocuções de Pio XII ao Patriciado e à<br />
Nobreza romana. Porto: Livraria Civilização-Editora, 1993.<br />
2) Acta Sanctae Sedis, Typis Polyglottae Officinae, Romae, 1885, vol. XVIII, p. 169.<br />
Declaração: Conformando-nos com os decretos do Sumo Pontífice Urbano VIII, de 13 de março de 1625 e<br />
de 5 de junho de 1631, declaramos não querer antecipar o juízo da Santa Igreja no emprego de palavras ou<br />
na apreciação dos fatos edificantes publicados nesta revista. Em nossa intenção, os títulos elogiosos não têm<br />
outro sentido senão o ordinário, e em tudo nos submetemos, com filial amor, às decisões da Santa Igreja.<br />
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