Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Ec o f i d e l í s s i m o d a Ig r e j a<br />
Esse pensamento de São Luís Grignion nos leva a uma<br />
importante consideração. Com efeito, pessoas há que parecem<br />
ser muito devotas de Nosso Senhor, mas, na hora<br />
de aceitar o sofrimento, de provar seu amor à Cruz, não<br />
o fazem. Ora, diz o santo, no fundo tais pessoas odeiam o<br />
Redentor, pois rejeitam sua Cruz.<br />
A frase é dura, mas verdadeira. Interpretando-a, poder-se-ia<br />
apontar como ridícula a afirmação que se ouve<br />
aqui e ali: “cada um pratica a religião a seu modo; uns<br />
amam Nosso Senhor com a Cruz; outros O amam sem<br />
ela”. Pelo que nos ensina São Luís, essa postura de alma<br />
é equivocada. Onde não entra a Cruz, não se acha o Redentor.<br />
E o requinte de amor a Ele é o amor à sua Cruz.<br />
Cumpre ter espírito de sacrifício, pois sem isto não existe<br />
autêntica adoração ao nosso Salvador.<br />
Compreendemos assim quanto é adequada a expressão<br />
de que todo católico deve se assemelhar ao Redentor<br />
enquanto vir dolorum, um varão de dores. Pareceme<br />
que esse qualificativo descreve de modo magnífico<br />
o Divino Mestre ao longo de sua existência terrena:<br />
um varão repleto de dores, que sofre profunda e lucidamente,<br />
e faz do sofrer o seu viver. Donde o autêntico<br />
católico dever se conformar a esse augusto exemplo,<br />
e levar sua cruz como Nosso Senhor levou a d’Ele,<br />
varonilmente, peito aberto, sem olimpismo, mas sem<br />
fraquezas.<br />
Peçamos à Santíssima Virgem que nos alcance a inestimável<br />
graça de amarmos assim a Cruz de seu Divino Filho.<br />
Necessidade da graça para tomarmos<br />
a sério esses ensinamentos<br />
Que a Mãe Dolorosa nos<br />
alcance a graça de sentirmos,<br />
como Ela, dor e pena pelos<br />
sofrimentos de seu Divino<br />
Filho; e nos faça ter,<br />
semelhante ao d’Ela, um<br />
abrasado amor à Cruz<br />
Mãe Dolorosa – Madrid, Espanha<br />
Muitos [são] amigos de minha mesa, e pouquíssimos<br />
de minha Cruz. A este apelo amoroso de Jesus elevemonos<br />
acima de nós mesmos; não nos deixemos seduzir pelos<br />
nossos sentidos, como Eva; não olhemos senão o autor<br />
e consumador de nossa fé, Jesus crucificado. Fujamos<br />
da concupiscência do mundo corrompido; amemos<br />
Jesus Cristo da melhor maneira, isto é, através de toda<br />
sorte de cruzes. Meditemos bem estas admiráveis palavras<br />
de nosso amável Mestre, que encerram toda a perfeição<br />
da vida cristã: ‘Si quis vult venire post me, abneget<br />
semetipsum et tollat crucem suam, et sequatur<br />
me!’ [Se alguém quiser vir após Mim, renuncie a si mesmo,<br />
tome a sua cruz e siga-me] (Mt 16, 24).<br />
Vemos, assim, qual é o convite feito para os genuínos<br />
amigos da Cruz. Nosso Senhor Jesus Cristo fez tudo por<br />
nós. Seria inteiramente lógico que, por retribuição, nós<br />
O seguíssemos. Porém, a maldade do homem é tal que<br />
precisamos pedir uma graça particular para tomarmos a<br />
sério esses ensinamentos, os quais entretanto são de molde<br />
a comover as pedras; devemos implorar o dom da fé<br />
capaz de mover montanhas, e termos os olhos sempre<br />
voltados para a Cruz.<br />
Pensemos: a morte de Cristo causou tanta perturbação<br />
no universo que o sol se toldou no firmamento, a terra<br />
tremeu e outros fenômenos do gênero se verificaram.<br />
Ora, se as próprias criaturas materiais como que se manifestaram<br />
diante da morte do Filho de Deus e Lhe preparam<br />
aquele funeral, como posso tomar conhecimento da<br />
Paixão e não me incomodar?<br />
Pois a maldade do homem decaído pelo pecado original<br />
o levará a ser indiferente aos padecimentos de Cristo<br />
e à sua Cruz, caso ele não seja auxiliado pela graça. A inclinação<br />
para essa indiferença, qualquer um pode sentir<br />
dentro de si: ouvirá diversos sermões a respeito dos sofrimentos<br />
de Nosso Senhor, os mais lógicos e atraentes;<br />
porém, sem uma assistência da graça, daria no mesmo se<br />
lhe narrassem a Guerra de Tróia. Quer dizer, não o abalaria<br />
nem o moveria a nenhuma boa disposição.<br />
Daí adquirirem especial valor aquelas palavras singelas<br />
do cântico Stabat Mater, frutos da piedade popular,<br />
acessível e amável: Santa Mãe, fonte de amor, fazei-me<br />
sentir a intensidade de vossa dor, fazei-me chorar convosco.<br />
Quer dizer, depois de Nosso Senhor ter feito tudo por<br />
mim, preciso pedir a Maria Santíssima que me alcance<br />
graças para eu ter pena d’Ele, pois a Cruz, sem o socorro<br />
da graça, pode me parecer apenas um pedaço de madeira,<br />
e todo um ciclo de conferências sobre a beleza e riqueza<br />
do sofrimento não nos tocará a alma.<br />
Oferecer com alegria nossos<br />
sofrimentos e renúncias<br />
Ao concluir esses comentários, gostaria de frisar como<br />
é excelente nutrirmos em nós, de maneira constan-<br />
14