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Revista Dr Plinio 123

Junho de 2008

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Ec o f i d e l í s s i m o d a Ig r e j a<br />

Esse pensamento de São Luís Grignion nos leva a uma<br />

importante consideração. Com efeito, pessoas há que parecem<br />

ser muito devotas de Nosso Senhor, mas, na hora<br />

de aceitar o sofrimento, de provar seu amor à Cruz, não<br />

o fazem. Ora, diz o santo, no fundo tais pessoas odeiam o<br />

Redentor, pois rejeitam sua Cruz.<br />

A frase é dura, mas verdadeira. Interpretando-a, poder-se-ia<br />

apontar como ridícula a afirmação que se ouve<br />

aqui e ali: “cada um pratica a religião a seu modo; uns<br />

amam Nosso Senhor com a Cruz; outros O amam sem<br />

ela”. Pelo que nos ensina São Luís, essa postura de alma<br />

é equivocada. Onde não entra a Cruz, não se acha o Redentor.<br />

E o requinte de amor a Ele é o amor à sua Cruz.<br />

Cumpre ter espírito de sacrifício, pois sem isto não existe<br />

autêntica adoração ao nosso Salvador.<br />

Compreendemos assim quanto é adequada a expressão<br />

de que todo católico deve se assemelhar ao Redentor<br />

enquanto vir dolorum, um varão de dores. Pareceme<br />

que esse qualificativo descreve de modo magnífico<br />

o Divino Mestre ao longo de sua existência terrena:<br />

um varão repleto de dores, que sofre profunda e lucidamente,<br />

e faz do sofrer o seu viver. Donde o autêntico<br />

católico dever se conformar a esse augusto exemplo,<br />

e levar sua cruz como Nosso Senhor levou a d’Ele,<br />

varonilmente, peito aberto, sem olimpismo, mas sem<br />

fraquezas.<br />

Peçamos à Santíssima Virgem que nos alcance a inestimável<br />

graça de amarmos assim a Cruz de seu Divino Filho.<br />

Necessidade da graça para tomarmos<br />

a sério esses ensinamentos<br />

Que a Mãe Dolorosa nos<br />

alcance a graça de sentirmos,<br />

como Ela, dor e pena pelos<br />

sofrimentos de seu Divino<br />

Filho; e nos faça ter,<br />

semelhante ao d’Ela, um<br />

abrasado amor à Cruz<br />

Mãe Dolorosa – Madrid, Espanha<br />

Muitos [são] amigos de minha mesa, e pouquíssimos<br />

de minha Cruz. A este apelo amoroso de Jesus elevemonos<br />

acima de nós mesmos; não nos deixemos seduzir pelos<br />

nossos sentidos, como Eva; não olhemos senão o autor<br />

e consumador de nossa fé, Jesus crucificado. Fujamos<br />

da concupiscência do mundo corrompido; amemos<br />

Jesus Cristo da melhor maneira, isto é, através de toda<br />

sorte de cruzes. Meditemos bem estas admiráveis palavras<br />

de nosso amável Mestre, que encerram toda a perfeição<br />

da vida cristã: ‘Si quis vult venire post me, abneget<br />

semetipsum et tollat crucem suam, et sequatur<br />

me!’ [Se alguém quiser vir após Mim, renuncie a si mesmo,<br />

tome a sua cruz e siga-me] (Mt 16, 24).<br />

Vemos, assim, qual é o convite feito para os genuínos<br />

amigos da Cruz. Nosso Senhor Jesus Cristo fez tudo por<br />

nós. Seria inteiramente lógico que, por retribuição, nós<br />

O seguíssemos. Porém, a maldade do homem é tal que<br />

precisamos pedir uma graça particular para tomarmos a<br />

sério esses ensinamentos, os quais entretanto são de molde<br />

a comover as pedras; devemos implorar o dom da fé<br />

capaz de mover montanhas, e termos os olhos sempre<br />

voltados para a Cruz.<br />

Pensemos: a morte de Cristo causou tanta perturbação<br />

no universo que o sol se toldou no firmamento, a terra<br />

tremeu e outros fenômenos do gênero se verificaram.<br />

Ora, se as próprias criaturas materiais como que se manifestaram<br />

diante da morte do Filho de Deus e Lhe preparam<br />

aquele funeral, como posso tomar conhecimento da<br />

Paixão e não me incomodar?<br />

Pois a maldade do homem decaído pelo pecado original<br />

o levará a ser indiferente aos padecimentos de Cristo<br />

e à sua Cruz, caso ele não seja auxiliado pela graça. A inclinação<br />

para essa indiferença, qualquer um pode sentir<br />

dentro de si: ouvirá diversos sermões a respeito dos sofrimentos<br />

de Nosso Senhor, os mais lógicos e atraentes;<br />

porém, sem uma assistência da graça, daria no mesmo se<br />

lhe narrassem a Guerra de Tróia. Quer dizer, não o abalaria<br />

nem o moveria a nenhuma boa disposição.<br />

Daí adquirirem especial valor aquelas palavras singelas<br />

do cântico Stabat Mater, frutos da piedade popular,<br />

acessível e amável: Santa Mãe, fonte de amor, fazei-me<br />

sentir a intensidade de vossa dor, fazei-me chorar convosco.<br />

Quer dizer, depois de Nosso Senhor ter feito tudo por<br />

mim, preciso pedir a Maria Santíssima que me alcance<br />

graças para eu ter pena d’Ele, pois a Cruz, sem o socorro<br />

da graça, pode me parecer apenas um pedaço de madeira,<br />

e todo um ciclo de conferências sobre a beleza e riqueza<br />

do sofrimento não nos tocará a alma.<br />

Oferecer com alegria nossos<br />

sofrimentos e renúncias<br />

Ao concluir esses comentários, gostaria de frisar como<br />

é excelente nutrirmos em nós, de maneira constan-<br />

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