Revista Criticartes 3 Ed
Ano I, nº. 3 - 2015
Ano I, nº. 3 - 2015
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<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 2º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 03<br />
Fotos: Arquivo pessoal do autor<br />
Entrevista com<br />
Davi Roballo<br />
Por Rogério Fernandes Lemes<br />
CriticArtes: Em seu livro “Ensaios de outros<br />
escritos”, no artigo “A vida pede passagem”,<br />
você afirma que a vida não é bela e que depende<br />
de cada um de nós se esforçar para torná-la<br />
melhor. Essa negação, que é mais filosófica do<br />
que ideológica, o que tem a nos dizer além do<br />
meramente evidente?<br />
Davi Roballo: Em uma visão racional<br />
quanto ao concreto, se torna um tanto<br />
difícil ver beleza total na vida, pois nesse<br />
aspecto reina absolutamente a indiferença<br />
da natureza. Acredito que esse belo,<br />
esse idílio estético que atribuímos a existência<br />
não passa de um embuste que<br />
nosso inconsciente nos aplica para que<br />
não percebamos, por exemplo: o horror<br />
que é a cadeia alimentar entre os seres<br />
vivos. Se a vida fosse bela e não o caos<br />
pela sobrevivência que é, os humanos<br />
não precisariam em hipótese alguma consumir<br />
partes de cadáveres de outros animais,<br />
sim, cadáveres, pois é isso que nos<br />
vendem nos açougues e posteriormente<br />
preparamos nas panelas. Se fossemos<br />
aqui enumerar outros aspectos ficaríamos<br />
a falar sem parar, entre eles, a fome e<br />
a miséria no Mundo.<br />
Realmente minha opinião é de<br />
que cabe a nós a responsabilidade de<br />
construirmos nossa felicidade, com a<br />
consciência de que devido ao caos do<br />
mundo ela jamais poderá ser integral,<br />
mas uma felicidade fragmentada, pois<br />
em nossas relações vivemos nos chocando<br />
ao outro e esses choques trazem em si<br />
consequências que alteram nosso espírito<br />
de humor.<br />
Quanto a beleza em si, acredito<br />
ser muito relativa, pois segundo Voltaire<br />
se pudéssemos perguntar a um sapo o<br />
que é a beleza, ele responderia: é a sapa.<br />
CriticArtes: Fale um pouco sobre as “influências<br />
exteriores” que governam o mundo e<br />
que, segundo suas afirmações, fundamentamse<br />
na falsidade, na incoerência e em uma<br />
injustiça transvestida de justiça. Podemos<br />
encontrar algo de bom neste mundo físico<br />
segundo a perspectiva roballiana?<br />
Davi Roballo: A problemática toda referente<br />
às influências exteriores, decorre<br />
do fato de estarmos destituídos de nós<br />
mesmos, há muito perdemos o controle<br />
de nossas ações, pois a grande maioria de<br />
nossas escolhas e decisões está calcada<br />
em um status quo pré-programado, isto é,<br />
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