Revista Criticartes 3 Ed
Ano I, nº. 3 - 2015
Ano I, nº. 3 - 2015
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 2º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 03<br />
Davi Roballo: É trocar seis por meia<br />
dúzia, o sujeito sai de uma escravidão<br />
silenciosa e sistemática para adentrar em<br />
uma escravidão ideológica, talvez ainda<br />
pior. Não há como sermos livres, a liberdade<br />
é uma utopia que nos faz caminhar.<br />
Parafraseando Mario Quintana, a utopia<br />
é como as estrelas que estão cintilantes<br />
no céu e inalcançáveis as nossas mãos,<br />
mas na época anterior a invenção da bússola<br />
apontava direções a serem seguidas<br />
pelos navegadores. Almejamos a liberdaaquém<br />
do que realmente ele é. A imparcialidade<br />
e a forma desapaixonada são<br />
importantes para que o escritor não crie<br />
ou defenda as aparentes verdades absolutas,<br />
mas que tenha consciência de que<br />
tudo é superável, nada é fechado, nada é<br />
absoluto.<br />
CriticArtes: Você é recorrente a Nitzsche,<br />
Le Bon e Rubem Alves para advertir sobre a<br />
importância de optarmos por um bom livro<br />
que, assim como nosso alimento, “a leitura<br />
errada traz consequências”. O que seria uma<br />
leitura errada e onde poderíamos observar a<br />
consequência dessa indigestão na formação<br />
do cidadão crítico, autônomo e emancipado?<br />
Davi Roballo: A nossa história está<br />
repleta de exemplos de interpretações e<br />
leituras erradas, mas podemos destacar o<br />
caso de alguns grupos islâmicos que<br />
interpretam o Alcorão a bel prazer,<br />
segundo seus interesses de domínio deixando<br />
como consequência a morte de<br />
milhares de inocentes.<br />
Outro exemplo são os livros de<br />
cunho ideológico, que de uma forma acovardada<br />
direcionam-se a conquistar e a<br />
arrebanhar jovens e adolescentes para<br />
suas fileiras, aproveitando-se dos períodos<br />
de conflitos existenciais em que os<br />
mesmos estão vivenciando em busca de<br />
uma identidade e de uma autoafirmação.<br />
CriticArtes: “Não somos livres, nem mesmo<br />
em nossas mais íntimas atitudes e decisões”.<br />
Na sua concepção, isso é algo aplicável a<br />
todas as pessoas como forma de regra geral, ou<br />
o “outro”, conforme nos fala Borges estaria<br />
imune, sendo somente ele, a única possibilidade<br />
de liberdade? Em outras palavras, isso tam-<br />
bém se aplica ao escritor?<br />
Davi Roballo: Acredito que a liberdade<br />
seja a maior de nossas utopias, estamos<br />
sempre caminhando em direção a ela,<br />
mas não a alcançaremos. Não há como<br />
sermos livres até mesmo em nossas escolhas,<br />
ou seja, queiramos ou não, nossas<br />
decisões levam a assinatura de nossos<br />
pais, professores, colegas, amigos entre<br />
outras pessoas, que nos constituíram,<br />
que trocaram de experiências conosco.<br />
Somos constituídos de outros porque<br />
não aprendemos a caminhar, falar, escrever,<br />
ler e etc. sozinhos.<br />
Se tratando do escritor essa liberdade<br />
é ainda mais difícil, pois quanto<br />
mais ler mais constituído fica. É certo<br />
que, quanto mais experiências e conhecimentos<br />
obtivermos, menos liberdade se<br />
acerca de nós, no entanto, mais aumenta<br />
nosso desejo em obtê-la.<br />
CriticArtes: Na percepção roballiana em<br />
“Sobre a Liberdade”, a sociedade encontra-se<br />
em uma “escravidão coletiva e inconsciente”,<br />
que a torna ávida por status e consumo. Qual<br />
sua avaliação sobre a contracultura como<br />
alternativa de liberdade?<br />
- 5 -