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Revista Criticartes 4 Ed

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3º Trimestre 2016 Ano I nº. 4<br />

AUTORES DESTA<br />

EDIÇÃO<br />

2016<br />

MENTES EM EVOLUÇÃO<br />

juventudesemcao.blogspot.com<br />

Dourados, Brasil, 30<br />

Simplesmente<br />

A POETISA BRASILEIRA<br />

CRIADORA DO ECOSYS<br />

Suely Sabino<br />

Página 4<br />

ISSN 2525285-2<br />

9 772525 285002


Sumário<br />

Simplesmente Sys (Suely Sabino Reis – Brasil), 4<br />

Racismo Ambiental: Uma Pré-Existência do Racismo Social<br />

(Bianca Marafiga – Brasil, MS), 7<br />

Para que serve uma Academia de Letras?<br />

(Rogério Fernandes Lemes – Brasil, MS), 8<br />

Espelho da Vida (Adail Alencar – Brasil, MS), 10<br />

Amor Vincit Omnia (Merlin Magiko – Angola), 10<br />

Um Coração de se Amar... (Flávia P. Vieira – Brasil, MS), 11<br />

ANAPE (Naviraí – Brasil, MS), 11<br />

Quando Divago (Tiago R. Marques – Brasil, MS), 12<br />

Solidão entre as Estrelas… (Leidyanne Andrade – Brasil, MT), 12<br />

Maranguape, o Brasil nasceu aqui<br />

(Nathália Fernandes – Brasil, MS), 13<br />

No Coração do Mundo (José de Castro – Brasil, DF), 13<br />

Simbolismo Poético (Nena Sarti – Brasil, MS), 14<br />

Quando a Primavera Chegar (Helena Luna – Brasil), 14<br />

Ecos de Fluir Inefável (Bosco Esmeraldo – Brasil), 15<br />

Escola Rural “Kiyoshi Suekane” (Adriana Bronzatte – Brasil, MS), 15<br />

O Melhor Roubo da História (Isloany Machado – Brasil, MS), 16<br />

A Inevitabilidade da Morte (Marcelo de O. Souza – Brasil), 18<br />

Papel (Clécia Santos – Brasil), 18<br />

Menino de Rua (Lorenzi Monteiro – Brasil), 19<br />

Curiosidades Literárias, 19<br />

Existir (Leonir Menegati – Brasil, MS), 20<br />

Poemas Argentinos (Victor Hugo Valledor – Argentina), 21<br />

Novas Igrejas (Ita Brasil – Brasil, MS), 22<br />

Segredo do Mundo (Manuela Vieira da Silva – Portugal), 23<br />

Dica de Filme: Os Demônios de São Petersburgo, 23<br />

Maldita Sombra (Alexandre Costa – Portugal), 24<br />

Solamente Unidos (Abraham García Campos – México), 24<br />

Orfeu e Eurídice (Valleria Gurgel – Brasil, MG), 25<br />

A Terra Dela (Robson Simões – Brasil, MS), 25<br />

Como Eu Era Antes de Você (Marta Amaral – Brasil, AL), 26<br />

O último velho (Davi Roballo– Brasil, MS), 27<br />

Apenas Confesso-te!?... (Cláudio Dortas Araújo– Brasil, BA), 28<br />

Insónia (Djessy Sitoe – Moçambique), 29<br />

Amor entre Mães e Filhos (Viviane Schiller Balau – Brasil, RS), 29<br />

Desventuras Ortográficas (Tim Soares – Brasil, SP), 29<br />

Projeto JUVENTUDE SEM CAÔ (Brasil, MS), 30<br />

JSC Amor demais Sufoca (Leandra Vitória Costa – Brasil, MS), 31<br />

JSC A Pessoa que te “completa” (Karen Letícia Sanches – Brasil, MS), 31<br />

JSC A Farsa do Desarmamento (Natanael Almeida – Brasil, MS), 32<br />

JSC Eu preciso te deixar ir (Laura Niz – Brasil, MS), 32<br />

JSC Bandido Bom é Bandido Morto (Lucas Oliveira – Brasil, MS), 33<br />

JSC Feche os olhos, querida (Victor Vinicius Lima – Brasil, MS), 33<br />

Tempo Sobrando (Antônio Amaro Alves – Brasil, MG), 34<br />

Flor do Campo (Jakson Aguirre da Silva – Brasil, MT), 34<br />

Seguir o Mestre (ecosys) (Elia Macedo – Brasil, BA), 35<br />

Cada um na sua (Leomária Mendes Sobrinho – Brasil, BA), 35<br />

No puedo dejar volar (Ana Aguire – Paraguai), 36<br />

A Pulsão do amor (Cidinei Nunes da Silva – Brasil), 36<br />

Flora e Fauna (Sueli Aquino – Brasil, MT), 36<br />

VIII Festival Mundial de ECOPOESIA (Tumbes – Perú), 37<br />

Confira as Normas para Publicação em:<br />

http://revistacriticartes.blogspot.com.br/2016/04/regras-para-publicacao-na-revista.html<br />

EXPEDIENTE<br />

Publicação trimestral<br />

Idioma<br />

Português Brasil<br />

Endereço eletrônico<br />

www.revistacriticartes.blogspot.com.br<br />

Redação<br />

(67) 99939-4746<br />

E-Mail<br />

revistacriticartes@gmail.com<br />

Design<br />

BIBLIO <strong>Ed</strong>itoração Eletrônica<br />

Foto da capa<br />

Nilzete Camilo Santos<br />

Estúdio Iguaçu: (31) 3821-1103<br />

CONSELHO EDITORIAL<br />

ROGÉRIO FERNANDES LEMES<br />

<strong>Ed</strong>itor Jornalista<br />

MTB 1588/MS<br />

ELEANE REIS<br />

Graduada em Letras<br />

Profa. Formadora da SEMED<br />

Dourados, MS<br />

DAVI ROBALLO<br />

Escritor e Jornalista<br />

DRT 697/MS)<br />

NENA SARTI<br />

Poetisa, Contista e Cronista<br />

Membro da Academia de Letras do Brasil<br />

Seccional MS<br />

JOSÉ AMÉRICO DINIZZ JÚNIOR<br />

Professor Universitário<br />

Mestre em Ciências da Religião<br />

VALÉRIA GURGEL<br />

Escritora, Compositora e<br />

Professora de História<br />

/revistacriticartes


<strong>Ed</strong>itorial<br />

Idealizada pelo Escritor e Poeta Rogério<br />

Fernandes Lemes, a <strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> é uma<br />

publicação trimestral, eletrônica e gratuita voltada à<br />

literatura e às artes do Brasil e do exterior.<br />

A revista foi criada com o objetivo de divulgar<br />

trabalhos literários e artísticos de autores iniciantes<br />

ou que já tenham publicação.<br />

Esta 4ª edição contou com a participação de<br />

poetas e poetisas, escritores e escritoras de todo o<br />

Brasil e de mais sete países.<br />

Já estamos recebendo trabalhos para a 5ª edição<br />

da <strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong>. Nosso entrevistado será Mário<br />

Roberto Carabajal, Fundador e Presidente Global da<br />

Academia de Letras do Brasil.<br />

Os autores interessados em publicar conosco<br />

devem ficar atentos às Normas de Publicação no blog<br />

e enviar seus trabalhos para o e-mail:<br />

revistacriticartes@gmail.com<br />

/revistacriticartes


- 4 -<br />

ENTREVISTA<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

Fotos: Nilzete Camilo Santos (Estúdio Neuza Produções) - Ipatinga, MG<br />

Simplesmente Sys<br />

Nossa entrevistada desta<br />

edição da <strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> é mineira,<br />

natural de Governador<br />

Valadares. Atualmente reside na<br />

cidade de Coronel Fabriciano,<br />

Minas Gerais. Ainda não tem livro<br />

publicado, porém, é autora de<br />

centenas de poemas e, o mais impressionante,<br />

é a criadora de um<br />

estilo de poesia totalmente novo<br />

batizado, por ela, de ECOSYS.<br />

Esse foi um dos fatores que<br />

despertou interesse e a motivação<br />

na escolha por entrevistá-la.<br />

Agradecemos ao Tim Soares, escritor<br />

paulista e autor de publicações<br />

em nossas edições anteriores,<br />

por ser o mediador desta produtiva<br />

e encantadora interação. Para<br />

deleite de nossos leitores, agora internacionais,<br />

Simplesmente Sys.<br />

<strong>Criticartes</strong>: Gostaríamos,<br />

primeiramente, de conhecer a autora<br />

por ela mesma. Conte-nos sobre<br />

sua trajetória e experiências<br />

com as letras desde a tenra infância.<br />

Suely Sabino: Eu com a<br />

idade de 10 anos, filha de pais analfabetos;<br />

recebi a responsabilidade<br />

de mediar cartas entre eles e os parentes.<br />

Eles ditavam o que queriam<br />

informar e o que desejavam saber.<br />

Eu floreava as cartas como dizia<br />

meu pai, elas ganhavam um toque<br />

poético nas palavras que eu escolhia.<br />

No final eu achava interessante<br />

citar um versículo bíblico.<br />

A fama das minhas cartas<br />

correu e alguns amigos e vizinhos<br />

me pediram para eu escrever cartas<br />

melosas (as de amor), para eles<br />

enviarem para namorados.<br />

Algumas para amigos e parentes<br />

distantes. Comecei a citar pensamentos<br />

e frases no final destas cartas,<br />

nada de minha autoria ainda.<br />

Lembrando que nesta época não<br />

tínhamos a tecnologia de hoje para<br />

conversarmos. As cartas eram<br />

tudo. Então, comecei escrevendo<br />

cartas.<br />

<strong>Criticartes</strong>: Em que momento<br />

de sua vida você, efetivamente,<br />

percebeu que não poderia<br />

ficar mais sem escrever?<br />

Suely Sabino: No ano de<br />

1982 eu cursava o curso de técnico<br />

em contabilidade, conheci um<br />

professor de português que amava<br />

literatura. Nesta época eu já lia pelo<br />

menos uns três livros por semana.<br />

Mas foi a pedido dele que nossa<br />

turma teve como trabalho escolar<br />

valendo 30 pontos, fazer uma<br />

coletânea de poesias, de diversos<br />

poetas. Eu tive que pesquisar em<br />

bibliotecas livros com poemas e copiar<br />

alguns manualmente.<br />

Sinceramente, eu fiquei<br />

fascinada com o que eu lia, fiz mais<br />

que o dever de casa, eu lia sobre<br />

os poetas, eu queria os livros para<br />

mim. No final meu caderno foi<br />

usado como modelo de trabalho e<br />

o professor repetiu o trabalho no<br />

final do ano e novamente recebi<br />

nota máxima pelo capricho e dedicação.<br />

No final sobraram folhas<br />

neste caderno e eu coloquei poemas<br />

de minha autoria. Abriu-se<br />

um portal de sentimentos e eu<br />

usei este refúgio para desabafar escrevendo;<br />

escrevia nas últimas folhas<br />

do caderno, mesmo em outras<br />

aulas como estatística.<br />

Meu professor de estatística<br />

(um japonês) veio como quem<br />

não quer nada e pegou meu caderno,<br />

sentou ao meu lado e começou<br />

a ler, meu coração disparou de<br />

medo. Ele saiu da sala com meu caderno<br />

e eu pensei, estou perdida,<br />

o que vão fazer. Tiraram Xerox do<br />

poema e entraram em contato<br />

com meu pai. Nesta ocasião meus<br />

pais haviam se separado e poema<br />

com o título MORTIFICAÇÃO<br />

assustou a todos.<br />

Pensaram ser uma carta de<br />

despedida, pensaram que eu ia suicidar.<br />

Recebi muita atenção nesta<br />

ocasião e levei outros poemas para<br />

eles lerem; eram tristes, mas era só<br />

um dom e não significava que era<br />

real.<br />

Depois deste trabalho e<br />

deste poema polêmico eu nunca<br />

mais parei de escrever. Só tomei o<br />

cuidado de não revelar eles.<br />

<strong>Criticartes</strong>: Quando você<br />

escreve, quais os signos que te inspiram<br />

no seu processo criativo?


<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

ENTREVISTA<br />

Fotos: Nilzete Camilo Santos<br />

Suely Sabino: Eu sou uma<br />

escritora romântica, uso muito de<br />

metáforas para descrever a realidade<br />

sem chocar. Eu chamo meus<br />

versos de enigmas, cada um entende<br />

de acordo com o que está vivendo.<br />

Observo isto nos comentários<br />

e dou vivas sorrindo aqui do outro<br />

lado da telinha quando um leitor<br />

comenta exatamente o que eu<br />

quis passar. Escrevo também situações<br />

fictícias, onde eu queria ser<br />

ou estar. Mas isto poucos percebem.<br />

<strong>Criticartes</strong>: Agora uma<br />

das perguntas mais esperadas.<br />

Quando e como surgiu o Ecosys?<br />

O que ele é?<br />

Suely Sabino: No ano de<br />

2013 eu decidi parar de publicar<br />

meus poemas no site que eu escrevo;<br />

eu estava bem deprimida e cansada<br />

de tudo. Eu ia apagar tudo<br />

que já tinha publicado. Mas resolvi<br />

ler antes alguns textos de amigos<br />

e vi a palavra mágica:<br />

EXPERIMENTAL. Li as regras de<br />

um e outro e comecei a escrever de<br />

novo seguindo as regras deles.<br />

Amo desafios! (é claro que não<br />

apaguei nada e fiquei).<br />

Num certo momento eu reli meu<br />

poema por título BORBOLETA<br />

NEGRA escrito em 31 de julho de<br />

2012, onde o ecosys escondeu por<br />

um tempo. Este poema tem característica<br />

do ecosys, embora não tinha<br />

as regras do ecosys ainda.<br />

Observando bem eu vi que meu<br />

poema tinha uma linha metódica<br />

oculta e agradou a muitos. Então<br />

resolvi criar regras para facilitar o<br />

entendimento do que eu queria<br />

como modelo para um poema que<br />

cativasse o gosto de outros poetas<br />

para eu ter minha categoria no experimental<br />

do site recanto das letras.<br />

O ECOSYS é uma criação<br />

minha, chamo de meu filho, e ele<br />

tem padrinhos importantes que<br />

me ajudaram opinando em detalhes<br />

para ficar sonoro e bem construído.<br />

Não levei o ecosys simplesmente,<br />

não o lancei de qualquer<br />

maneira, pedi aos poetas que avaliassem<br />

e fossem sinceros quanto à<br />

veracidade do mesmo. No início<br />

ele era com cinco quadras fechadas<br />

e acharam difícil, deixei só<br />

uma que hoje chamo de Ecosys-<br />

Ecosys. O ecosys-ecosys também<br />

repetia somente a última palavra<br />

do primeiro verso, aceitei a sugestão<br />

do poeta português Alexandre<br />

Costa e alterei a regra repetindo<br />

também a primeira palavra do primeiro<br />

verso.<br />

Com um pequeno espaço<br />

de tempo o ecosys ficou fácil de<br />

mais, e os poetas não conseguiam<br />

escrever só uma quadra. Foi quando<br />

criei a corrente de ecosys (sugeri<br />

no mínimo 05 quadras, onde as<br />

últimas palavras de cada quadra<br />

acorrentam-se uma na outra), depois<br />

veio o conto em ecosys (desafio<br />

de contar uma história verdadeira<br />

ou fictícia usando as regras<br />

básicas do ecosys com apenas 12<br />

quadras) e para desafiar mais a<br />

mente e o talento de todos, tem<br />

também o ecosysacróstico (onde o<br />

título aparece na diagonal), e com<br />

as mesmas regras básicas do<br />

ecosys.<br />

- 5 -<br />

<strong>Criticartes</strong>: Como se escreve<br />

um Ecosys?<br />

Suely Sabino: O ecosys é<br />

no início uma quadra de versos. O<br />

primeiro verso é a base de todos os<br />

outros. Quando termina o primeiro<br />

verso, a palavra final dará início<br />

ao segundo verso, e assim vai ser feito<br />

até o quarto e último verso que<br />

tem como regra repetir no final a<br />

primeira ou última palavra do primeiro<br />

verso.<br />

<strong>Criticartes</strong>: Quais são as<br />

particularidades de um Ecosys? O<br />

que, de fato, caracteriza-o como<br />

um legítimo Ecosys?<br />

Suely Sabino: A característica<br />

marcante do ecosys é a repetição<br />

das palavras. Ao ler em voz alta<br />

pode se notar um eco.<br />

<strong>Criticartes</strong>: Você disse que<br />

hoje já são mais de 1700 Ecosys publicados<br />

no Site do Escritor. São<br />

todos de sua autoria ou são em parceria<br />

com outros escritores?<br />

Suely Sabino: Estes mais<br />

de 1700 ecosys são só os meus.<br />

Tenho tido a honra de contar com<br />

a participação de 108 poetas que<br />

escreveram ou escrevem ecosys<br />

com frequência. Somam mais de<br />

3000 ecosys. Eu tenho arquivado<br />

os nomes e e-mails de vários poetas<br />

brasileiros. O ecosys já foi escrito<br />

em quase todos os Estados brasileiros.<br />

Faltam só sete Estados para<br />

este estilo atingir todo o Brasil.<br />

Fico feliz de ressaltar que este estilo<br />

já está sendo escrito por poetas<br />

estrangeiros, de Portugal e da África.<br />

<strong>Criticartes</strong>: Você também<br />

nos contou que tem um grande sonho:<br />

publicar seu primeiro livro.<br />

Disse também que já recebeu vários<br />

convites e que vem adiando esse<br />

sonho. Qual o motivo?<br />

Suely Sabino: Um sonho<br />

deve ser bem vivido. Eu quero publicar<br />

meu livro numa editora séria<br />

e de qualidade. Quero escolher<br />

uma capa que chame a atenção do<br />

público e ter o miolo do livro com


ENTREVISTA<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

uma qualidade ótima. Quero um<br />

livro revisado. Tudo que eu tiver<br />

direito. Não posso queimar meu<br />

filme na minha primeira publicação.<br />

<strong>Criticartes</strong>: Quando nos<br />

enviou seu currículo, algo chamou<br />

a atenção. Você se declara<br />

“apolítica”. Sabemos que essa escolha,<br />

por si mesma, já é uma escolha<br />

política. Você poderia falar sobre<br />

sua concepção de Literatura e<br />

Política? Você acredita que são movimentos<br />

que não devem convergir?<br />

Suely Sabino: Eu declaro<br />

ser apolítica neste país. Tenho vergonha<br />

da nossa política e não sou<br />

de dar meias palavras. Eu já participei<br />

de encontros com políticos,<br />

já tive um partido, já votei pelo partido,<br />

já acertei na escolha de alguns<br />

e decepcionei muito também.<br />

Leio o que outros escritores<br />

escrevem sobre política e me calo.<br />

Não me sinto á vontade sobre este<br />

assunto.<br />

Sempre leva a discussões<br />

sem sentido, cada um crê no que<br />

quer e não conseguimos converter<br />

ninguém. Então cada um vai se<br />

achar na sua própria decepção ou<br />

não. A literatura é um caminho<br />

com muitos atalhos, vale a pena<br />

aventurar-se no que se acredita e<br />

entende, até na política. Eu só entendo<br />

meu lado poético, hoje eu<br />

quero paz e levar ao meu público<br />

um pouco de esperança e amor, falar<br />

de coisas simples e deixar eles<br />

por alguns segundos longe da realidade<br />

cruel.<br />

<strong>Criticartes</strong>: Você tem participações<br />

em antologias? Qual<br />

sua concepção sobre essa forma<br />

que muitos editores têm de reunir<br />

e publicar vários autores?<br />

Suely Sabino: Eu participei<br />

de uma antologia organizada<br />

pelo poeta Antônio Bardo,<br />

Antologia II da revista de poesias.<br />

O lado positivo da antologia é a interação<br />

com outros poetas de diversos<br />

estados brasileiros. É uma<br />

forma de divulgar seu trabalho pelo<br />

Brasil. O lado negativo é a forma<br />

de vendas. Nossos direitos autorais<br />

são pagos com livros e nós temos<br />

que vender. Nem todos têm<br />

este dom de ser um bom vendedor.<br />

O custo de uma antologia<br />

não é barato. Mas vale pela participação<br />

é pela divulgação.<br />

<strong>Criticartes</strong>: Como você<br />

percebe esse movimento poético<br />

dos autores conectados pela internet?<br />

Suely Sabino: Um privilégio<br />

que devemos usufruir com sabedoria.<br />

Eu jamais teria publicado<br />

um poema se quer sem a ajuda da<br />

internet, venho aprendendo muito<br />

com meus amigos que escrevem.<br />

Já desengavetei centenas de<br />

poemas e ainda tive o privilégio de<br />

criar um estilo, que o mundo jamais<br />

ia conhecer sem a internet. Viva<br />

a modernidade! Escreva, publique,<br />

mas guarde seus originais, registre<br />

seus direitos autorais. Não<br />

confie em qualquer site. Existem<br />

muitos plagiadores. Na dúvida, peça<br />

opinião de quem entende do assunto.<br />

<strong>Criticartes</strong>: Agradecemos<br />

sua participação nesta 4ª <strong>Ed</strong>ição<br />

da <strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong>. Faça suas<br />

considerações finais.<br />

Suely Sabino: Eu estou feliz<br />

e emocionada com a oportunidade<br />

de trazer a público um pouco<br />

sobre minha pessoa e minha criação:<br />

o ecosys. Agradeço ao poeta<br />

Tim Soares por esta ponte que fez<br />

entre eu e a revista <strong>Criticartes</strong>.<br />

Está sendo um prazer interagir<br />

com vocês da revista, na pessoa do<br />

editor Rogério. Numa outra oportunidade<br />

espero estar lançando<br />

meu livro solo junto com vocês.<br />

Muito obrigado a toda equipe da<br />

revista <strong>Criticartes</strong>!<br />

Quero homenagear a<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> com um<br />

Ecosysacróstico e uma Corrente<br />

de Ecosys. AbraçoSys!<br />

- 6 -<br />

Acosysacróstico<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong><br />

Respeitando sentimentos<br />

Sentimentos que leva<br />

Leva os dons com seriedade<br />

Seriedade que transforma<br />

Transforma o simples em importante<br />

Importante voo é a aventura<br />

Aventur a e ir com o coração.<br />

Coração com criatividade<br />

Criatividade compõe a paisagem<br />

Paisagem é a arte que fortalece<br />

Fortalece a realidade<br />

Realidade desencadeia<br />

Desencadeia veleidades<br />

Veleidades vêm transbordando<br />

Transbordando muitos sentimentos<br />

Sentimentos e sobriedade<br />

Sobriedad e nos pensamentos<br />

Pensamento s e versos respeitando.<br />

Corrente de Ecosys<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong><br />

Encontrei um caminho<br />

Caminho livre para seguir<br />

Seguir e deixar uma mensagem<br />

Mensagem de otimismo,<br />

Otimismo eu encontrei aqui<br />

Aqui na revista cliticartes<br />

Clicartes que abraça a arte<br />

Arte de todos recebe,<br />

Recebe e impulsiona<br />

Impulsiona a autoestima<br />

Autoestima nós ganhamos<br />

Ganhamos espaço para viver,<br />

Viver um sonho em versos<br />

Verso hoje publicados<br />

Publicados para o mundo<br />

Mundo cheio de talentos,<br />

Talentos que vão ecoar<br />

Ecoar longe e voltar<br />

Voltar com o sucesso<br />

Sucesso eu já aqui encontrei.<br />

AbraçoSys!


- 7 -<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

ARTIGO<br />

http://racismoambiental.net.br/<br />

Bianca Marafiga<br />

Dourados, MS – Brasil<br />

A evolução da humanidade<br />

surge a partir da curiosidade e das<br />

invenções. A busca pelo desenvolvimento<br />

a qualquer custo trouxe, os<br />

impactos ambientais que vem crescendo<br />

e causando um desequilíbrio<br />

em larga escala. Tais impactos têm<br />

prejudicado de forma evidente<br />

comunidades e grupos menos favorecidos,<br />

na qual pode-se considerar<br />

uma prática evidente de hierarquização<br />

social que se estrutura nos<br />

moldes dos valores econômicos e<br />

políticos.<br />

A lei federal Art. 225 referese<br />

ao direito de todos a um meio<br />

ambiente ecologicamente equilibrado,<br />

bem como uso comum do<br />

povo e essencial á sadia qualidade<br />

de vida. Impondo-se ao poder<br />

público e a coletividade o dever de<br />

defendê-lo e preservá-lo para as presentes<br />

e futuras gerações. Porém o<br />

que se vê são órgãos e políticas<br />

públicas inexistentes ou ineficazes.<br />

Isto porque, não há fiscalização efetiva<br />

relacionada às leis e aos planos<br />

de gestão ambiental. Tais processos<br />

inviabilizam comunidades que<br />

geralmente ficam as margens da<br />

periferia, morros ou próximo a<br />

indústrias altamente poluentes.<br />

Estes por sua vez, são vistos como<br />

grupos não reivindicativos, sem<br />

poder de negociação e politicamente<br />

fracos devido a sua dependência<br />

econômica.<br />

Essas áreas são vistas como<br />

áreas das comunidades pobres,<br />

onde só há violência. Porém a violência<br />

ocorre por uma série de violações<br />

de direitos, como a falta ou a<br />

má administração de projetos relacionados<br />

ao lazer e cultura. Muitas<br />

vezes, diante dessa infeliz realidade,<br />

a única cultura que se instala é a<br />

“cultura do medo”.<br />

Diante dessa situação, podemos<br />

observar que a questão ambiental<br />

é mais complexa do que muitos<br />

imaginam. Ou seja, o racismo<br />

ambiental ultrapassa o indivíduo e<br />

chega ao local onde ele vive.<br />

Quando defendemos uma<br />

vida melhor para o planeta, podemos<br />

citar os efeitos mais danosos<br />

como: o aquecimento global, o triunfo<br />

do capital sobre a chamada<br />

economia verde, enfim, contestações<br />

não faltam. Todavia, precisamos<br />

de políticas públicas e a urgência<br />

de reformas na gestão política e<br />

ambiental, na qual as leis ambientais<br />

estejam de fato fortalecidas e sua<br />

aplicabilidade seja realizada de<br />

forma eficaz.<br />

Precisamos estar atentos no<br />

local e nas necessidades humanas<br />

mais emergentes que estão diante<br />

de nós, pois sem essa reflexão, o discurso<br />

sobre a projeção de um<br />

mundo ecologicamente correto<br />

não terá a eficácia necessária, sua<br />

fundamentação flutuará nas falácias<br />

teóricas da política corrupta que<br />

assola nosso país e desestrutura<br />

milhões de brasileiros.<br />

Contudo não podemos deixar<br />

de observar que a saúde do planeta<br />

depende da saúde daqueles<br />

que nele vivem.


<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

ARTIGO<br />

Académie française<br />

Sede em Paris<br />

Para que serve uma<br />

Academia de Letras?<br />

O ano é 1897. O mês, julho e<br />

o dia, vinte. Nasce a Academia<br />

Brasileira de Letras, a ABL, sigla pela<br />

qual a confraria seria conhecida e tornar-se-ia<br />

orgulho dos brasileiros.<br />

Seus ilustres intelectuais inspiraramse<br />

no modelo francês. As dimensões<br />

continentais do adolescente Brasil e,<br />

principalmente, suas peculiaridades<br />

linguísticas, forjaram o objetivo principal<br />

da ABL: “o cultivo da língua e<br />

da literatura nacionais”.<br />

A Academia Brasileira de<br />

Letras nasce para bem representar o<br />

Brasil nas reformas da língua junto<br />

aos países lusófonos através dos acordos<br />

ortográficos. Intelectuais brasileiros,<br />

paladinos da linguística, engajar-se-iam<br />

na defesa de um padrão da<br />

língua portuguesa, bem como, difundir<br />

a literatura brasileira da terra dos<br />

Tupinambá para o mundo. Uma referência<br />

nacional para as centenas de<br />

filhas que surgiriam nos estados e<br />

municípios.<br />

Machado de Assis foi aclamado,<br />

por unanimidade, para ser o primeiro<br />

ilustre Presidente da nova confraria.<br />

Em seu discurso naquela data<br />

gloriosa afirmou, o literato brasileiro,<br />

que a ABL nascia com a “alma<br />

nova” e, naturalmente, “ambiciosa”<br />

com o desejo de conservar, no Brasil,<br />

a unidade literária.<br />

Assim como a Académie française<br />

inspirou os imortais brasileiros,<br />

a ABL foi a inspiração para que academias<br />

de letras surgissem em vários<br />

estados federados. A exemplo da<br />

mais recente confraria, a Academia<br />

Teixeirense de Letras da cidade de<br />

Teixeira de Freitas na Bahia, que foi<br />

criada no dia quatro de junho de<br />

2016, no dia dos 109 anos de Castro<br />

Alves. A ATL segue o mesmo formato<br />

da confraria mãe. São 40 cadeiras<br />

a serem preenchidas por autores com<br />

- 8 -<br />

Rogério Fernandes Lemes<br />

Dourados, MS – Brasil<br />

upload.wikimedia.org<br />

obras publicadas, os imortais, como<br />

são conhecidos os eleitos.<br />

De acordo com o estatuto da ABL,<br />

“para alguém candidatar-se é preciso<br />

ser brasileiro nato e ter publicado,<br />

em qualquer gênero da literatura,<br />

obras de reconhecido mérito ou, fora<br />

desses gêneros, livros de valor literário”.<br />

Esses requisitos para concorrer<br />

a uma vaga podem variar nos estados<br />

e municípios, sempre através de editais<br />

públicos. Nomeia-se uma comissão<br />

para cuidar do pleito e levar em<br />

assembleia para a escolha de quem<br />

será detentor do que a sociologia<br />

chama dede “sanção positiva” e, se<br />

tratando de uma Academia de<br />

(2014) Ferreira Gullar (à esquerda) toma posse na ABL com o presidente Geraldo Holanda Cavalcanti<br />

(centro) e Antônio Carlos Secchin. (Fonte: Portal do Zacarias)<br />

http://portaldozacarias.com.br/


ARTIGO<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

Letras, vitalícia.<br />

Recentemente um pesquisador<br />

brasileiro revelou sua pesquisa<br />

com oitocentos universitários de<br />

Brasília, Distrito Federal, onde metade<br />

dos pesquisados apresentaram<br />

dificuldades na compreensão de textos.<br />

Um reflexo do chamado analfabetismo<br />

funcional.<br />

Sem entrar no mérito da qualidade<br />

e eficiência do ensino brasileiro<br />

e não cairmos na armadilha, cada<br />

vez exponencial, em dar respostas<br />

rápidas e superficiais ao apontar culpados,<br />

entende-se que as Academia<br />

de Letras, país a fora, têm fundamental<br />

importância na contribuição para<br />

o Brasil reverter este preocupante<br />

resultado.<br />

Outro dado impressionante<br />

são as reprovações do exame da<br />

Ordem dos Advogados do Brasil, juntamente<br />

com as reprovações dos<br />

novos Médicos brasileiros. Outro<br />

resultado nada animador é o que<br />

aponta o Brasil como um país que lê<br />

muito pouco.<br />

Se, de um lado, tem-se entidades<br />

criadas com o objetivo de fortalecer<br />

e preservar a língua e a escrita,<br />

de outro, tem-se um fenômeno social<br />

que ignora convenções e acordos<br />

ortográficos. A comunicação virtual<br />

é fértil em silogismos e apela, sem<br />

medo de “herrar”, em uma manifestação<br />

ortográfica hedonista voltada,<br />

apenas, para a satisfação em estar plugado<br />

na rede.<br />

Escrever palavras ou frases<br />

como “jelo”, “acabarão de roubar<br />

uma pessoa”, “acordar dece geito”,<br />

ou ainda, “oje acordei mi centindo<br />

poderoza” são alguns exemplos flagrados<br />

nas manifestações subjetivas<br />

no “muro das lamentações” virtual.<br />

Certamente que esses exemplos acontecem<br />

em um ambiente extraclasse e,<br />

por tanto, com certa liberdade e consentimento<br />

de seus autores. Mas até<br />

que ponto essa prática ortográfica e,<br />

sem precedentes, não acaba por refletir<br />

nos déficits da formação do pensamento<br />

social?<br />

Alguns discursos afirmam<br />

que se a manifestação estabelecida<br />

for compreendida e que, se houver<br />

entendimento entre emissor e receptor,<br />

não há problema algum. O fato é<br />

que, para uma avaliação oficial, uma<br />

redação com tais com tais exemplos<br />

dificilmente colocaria seu autor em<br />

uma posição classificatória, para<br />

aprovação de um vestibular ou um<br />

concurso público. Pelo menos em<br />

tese.<br />

Qual o comportamento das<br />

Academia de Letras diante dessa realidade<br />

cruel? Qual a contribuição efetiva<br />

dos confrades e confreiras em<br />

suas comunidades? Estariam eles,<br />

como os deuses gregos, de longe a<br />

olhar inebriados em suas satisfações<br />

pessoais apenas em tornarem-se acadêmicos<br />

imortais, ou com o status<br />

que a confraria lhes confere? Teriam<br />

as Academias cometido um desvio de<br />

finalidade ao tornarem-se verdadeiros<br />

templos narcisistas? Na pósmodernidade<br />

de Zygmunt Bauman<br />

qual a função social de uma<br />

Academia de Letras?<br />

Somente o exercício responsável<br />

e comprometido, com o ideal<br />

da preservação e difusão da literatura,<br />

será capaz de conduzir-nos seguramente<br />

a respostas reveladoras.<br />

Utilizando-se da falsa sensação<br />

de poder que as pessoas têm nas<br />

redes sociais, encontramos um relato<br />

de um autor anônimo, porém, muito<br />

apropriado para o momento. “O espírito<br />

humano fraterno, verdadeiro alicerce<br />

de uma confraria, tornou-se<br />

um espírito vaidoso, mesquinho,<br />

individual refletido na concepção de<br />

autossuficiência producente de pseudos-intelectuais”.<br />

Essa manifestação crítica,<br />

ainda que anônima, leva-nos a reavaliar<br />

o conceito de “extensão”, ou seja,<br />

o impacto, a repercussão e a relevância<br />

da produção literária de uma<br />

Academia de Letras no seu universo<br />

próximo. Dificilmente as gerações<br />

vindouras terão estômago e interesse<br />

em transmitir egos inflamados de<br />

seus imortais antecessores.<br />

Academia Brasileira de Letras é uma instituição literária brasileira fundada na cidade do Rio de Janeiro em<br />

20 de julho de 1897 por escritores como Machado de Assis. (Fonte: Wikipédia)<br />

- 9 -<br />

(*) Sociólogo, Escritor, Poeta e Jornalista; Membro da<br />

Academia Douradense de Letras e da Academia de Letras<br />

do Brasil/Seccional MS.


<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

POESIAS<br />

Espelho<br />

da Vida<br />

Adail Alencar<br />

Dourados, MS – Brasil<br />

A vida é um espelho e seus efeitos,<br />

Refletem nossas atitudes,<br />

Mostram os nossos defeitos,<br />

Como também, nossas virtudes.<br />

Nós somos reflexos do que fazemos,<br />

Do amor que semeamos,<br />

Se às vezes sofremos,<br />

Nós também sonhamos.<br />

NÓS transmitimos nossos sonhos e<br />

sentimentos,<br />

No espelho que a vida nos oferece,<br />

Por isso a cada momento,<br />

Precisamos nos revigorar numa prece.<br />

Se semeamos rosas ou espinhos,<br />

Depende de cada gesto que<br />

doamos,<br />

Podemos semear um lindo caminho,<br />

O melhor que nós desejamos.<br />

Mas se nossas atitudes não forem<br />

leais,<br />

O nosso espelho vai refletir,<br />

Se não fizermos dos nossos ideais,<br />

Uma razão pra se existir.<br />

Cuidado com o que você reflete,<br />

Pense no que você faz,<br />

As coisas erradas que você comete,<br />

São refletidas na sua paz.<br />

Faça da sua vida um espelho,<br />

Que possa orgulhar as pessoas<br />

amadas,<br />

Que possa a cada momento,<br />

Colorir de amor a sua estrada.<br />

A sua felicidade você pode construir,<br />

Tente pelo menos, vai vale a pena ter<br />

vivido,<br />

Não adianta você existir,<br />

Se o seu mundo for fingido.<br />

- 10 -<br />

Merlin Magiko<br />

Luanda – Angola<br />

Tal ventos tempestuosos,<br />

Da saudade dos teus olhos,<br />

Aqui jaz esse sentir...<br />

Aqui nasce o fluir...<br />

Amor vincit omnia,<br />

Tal flor que traz magia,<br />

Suar das almas em constelação,<br />

Laços da terna idade, união...<br />

Aliamento dos corações na<br />

cumplicidade,<br />

Sentir que embriaga a jovialidade,<br />

Renascer das cinzas da saudade,<br />

Enamorados elos da liberdade,<br />

Amor vincit omnia...<br />

Dos sons mudos,<br />

Amor transforma emoções,<br />

Contém o toque que traz harmonia,<br />

As frases degustadas em inspirações...<br />

Amor vincit omnia...<br />

Na mímica dos lábios,<br />

Em elogios sábios,<br />

No contacto da maciez da pele,<br />

Em paixão feito pote de mel...<br />

Amor vincit omnia...<br />

Muito além dos gemidos,<br />

Muito além dos amassos em lençóis<br />

de seda,<br />

Amor vincit omnia...<br />

Em todos os sentidos,<br />

Como face da mesma moeda,<br />

Em fases frias, ou em labaredas...<br />

AMOR VINCIT OMNIA...


POESIAS<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

Um Coração de se Amar...<br />

Flávia de Paula Vieira<br />

Naviraí, MS – Brasil<br />

Membro da ANAPE*<br />

Nasci assim,<br />

Meio anjo meio menina<br />

Sorriso aberto,<br />

Coração certo de<br />

vitórias pequeninas<br />

Cansada das dores,<br />

Frágil menina.<br />

Mamãe dizia calma a<br />

vida se vive devagar<br />

E as marcas da vida,<br />

Podem ficar.<br />

Sorria,<br />

Mas nem tanto assim<br />

As dores são grandes<br />

nunca se afaste de<br />

mim!!!<br />

Cabelos negros,<br />

Olhos grandes,<br />

Meio sem jeito<br />

Deselegante,<br />

Sorria a todo tempo<br />

E mesmo sem saber por<br />

que,<br />

Muito corações<br />

prisioneiros<br />

No meio jeito de não<br />

ser...<br />

Papai dizia ande com<br />

cuidado,<br />

Trace caminhos certo<br />

Nunca fique descalço,<br />

Essa menina não tem<br />

jeito,<br />

Tem algo diferente...<br />

Tem o sorriso de criança<br />

e alma de profeta!!<br />

Quero que sejas grande,<br />

Forte valente,<br />

Um troféu<br />

“Neguinha bonitinha do<br />

pai”<br />

Nasci assim,<br />

Meio menina meio anjo.<br />

Coração aberto,<br />

Sorrisos certo<br />

De dores grandiosas...<br />

Vitoriosa na vida,<br />

Forte mulher...<br />

Uma mãe deslumbrada,<br />

Longe da prole, mas<br />

amada...<br />

Marcas que nunca vou<br />

apagar;<br />

Sorrisos que não vi.<br />

Voz enfraquecida,<br />

Que grita filhinhos não<br />

se afaste de mim<br />

Cabelos<br />

embranquecendo,<br />

Olhos pequenos de<br />

chorar,<br />

Meio sem jeito,<br />

Deselegante andar!<br />

Tempo de sorrir e vibrar.<br />

E mesmo sem saber<br />

Prisioneira do amar...<br />

Esse é meu jeito de ser,<br />

Nunca vou mudar<br />

Coração de poeta,<br />

Esse herdei do meu pai...<br />

Coisas certas,<br />

Essa herança da minha<br />

mãe.<br />

Tenho alma diferente,<br />

- 11 -<br />

Ingênuo,<br />

Doce,<br />

Às vezes boba!!<br />

Coração de profeta,<br />

Forte valente...<br />

Hoje negra;<br />

Não tão bonita!<br />

Contente<br />

Por ser o que me tornei.<br />

Não tão forte,<br />

Não tão frágil...<br />

Nasci assim,<br />

Meio anjo,<br />

Meio menina<br />

Um coração de se<br />

AMAR...<br />

* Em 25/10/2011, um grupo de poetas,<br />

escritores, apreciadores e intelectuais se reuniram<br />

em uma sala na UEMS - Universidade<br />

Estadual de Mato Grosso do Sul e neste dia<br />

criaram a ANAPE - Associação Naviraiense<br />

de Poetas e Escritores. Em 07/11/2013 lançamos<br />

a primeira edição da <strong>Revista</strong> Literária<br />

da ANAPE, em homenagem ao cinquentenário<br />

de Naviraí, MS, com patrocínio da<br />

Prefeitura Municipal. Membros fundadores:<br />

Dr. Raphael Chociai (presidente), Estácio<br />

Valentim Carlos (Vice-Presidente), Paulo<br />

Hamilton Santos Marinho (1º Secretário),<br />

Fátima de Lourdes Ferreira Liuti (2ª<br />

Secretária), Ciro José Toaldo (1º Tesoureiro),<br />

Diego da Silva Rodrigues (2º Tesoureiro),<br />

Assunta Maria Bortolon (Diretora de<br />

Eventos), Adriana Bronzatti Teixeira (Assistente<br />

de Eventos) e Valdecir dos Santos (Patrimônio).<br />

Conselho Fiscal: Joana da Silva,<br />

Laércio Couto Lemos e Wanderson Pereira de<br />

Souza. Redação: Assunta Maria Bortolon<br />

(Diretora de Eventos) Fone: 55 (067) 3461-<br />

5838.


- 12 -<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

POESIAS<br />

Quando<br />

Leidyanne Andrade<br />

Cuiabá, MT – Brasil<br />

Divago<br />

Tiago R. Marques<br />

Dourados, MS – Brasil<br />

Eu divago,<br />

E quando divago<br />

Tudo me diz que voltas<br />

E vezes até, quando.<br />

Divago e tudo me dá esperanças<br />

Às vezes, se vais,<br />

Às vezes, quando vais.<br />

E quando chega a esperança,<br />

Em toda sua face<br />

Gloriosa, encantadora<br />

E vigorosa, desisto...<br />

Desisto e me jogo, e me esqueço<br />

Me esqueço de tudo;<br />

Me esqueço que sei<br />

E no descontrole, até do que sou.<br />

Antes de tudo, de afundar-me<br />

Por completo cair ao fundo<br />

Ainda sei, até o último ponto;<br />

Que daí saudade,<br />

Não virá o que quero,<br />

Virá verdade (que por sua vez...)<br />

Será o que quero,<br />

Logo que a ilusão agir.<br />

Se todo, qualquer vento pudesse<br />

arrancá-la e<br />

Leva-la longe...<br />

Mas não, só o tempo,<br />

Pode piorar ou arrancá-la<br />

E esse vento demora de vir.<br />

O céu explode pela pequena janela<br />

No qual posso ver seu mar azul…<br />

Escuridão tão bela<br />

Que só assim se vê a beleza dos astros<br />

De fragmentos esquecidos pelo<br />

tempo<br />

Onde agora resta apenas reflexo…<br />

E aqui<br />

Pequena poeira no meio dessa<br />

vastidão<br />

Ainda sonho<br />

Ainda sinto ela se mover<br />

Forte e imponente como uma<br />

canção que toca<br />

Que você repete como mantra…<br />

Sou feliz nessa minha solidão<br />

No balançar da rede<br />

No barulho tímido do vento<br />

Pensando se algum deus nos olha<br />

Se vigia nossos pensamentos<br />

Se chora ou se ri conosco.<br />

As horas se perdem,<br />

Sozinha ou com mais qualquer outra<br />

solidão<br />

E tudo o que sei é que meu coração<br />

Se enche com essa imagem,<br />

O céu e sua penumbra,<br />

Afago do universo.<br />

E aqui estamos nós,<br />

Seres que tanto se calam para ouvir<br />

O som que se estende longe,<br />

Que alcança outro coração amante,<br />

Que transborda inspiração.<br />

Sou grata, por cada vislumbre<br />

Da sua beleza.


POESIAS<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

Maranguape,<br />

o Brasil nasceu aqui<br />

Nathália Fernandes<br />

Membro da ADL-Jovem<br />

Dourados, MS – Brasil<br />

Maranguape!<br />

Amada Terra, onde o<br />

Respeito é o que não falta<br />

As pessoas são hospitaleiras<br />

Não hesitam em servir aos<br />

Grandes amigos que<br />

Unidos sempre vencem, e<br />

Andando juntos,<br />

Perdendo ou ganhando<br />

Em um mesmo sentimento<br />

O maranguapense<br />

Brasileiro de coração<br />

Resistiu aos holandeses<br />

Até brilhar um novo dia,<br />

Simplesmente corajoso,<br />

Independentes das dificuldades e das<br />

Lutas por um mundo melhor<br />

Na cultura do café<br />

A cidade trabalhou e<br />

Simplesmente prosperou, foi<br />

Criada em 17 de novembro de 1851<br />

E é terra natal de Capistrano e Chico<br />

Anysio;<br />

Um Município turístico<br />

Atividade agrícola<br />

Que se destaca no cenário nacional<br />

Unindo povos, línguas e culturas<br />

Independente de crença e religião.<br />

* Acróstico premiado em 11º lugar com Menção Especial no IV Concurso de Maranguape.<br />

No Coração do Mundo<br />

José de Castro<br />

Natal, RN – Brasil<br />

Ainda ontem<br />

Eu tocava flauta no vale das solidões escondidas<br />

Quando uma águia de prata,<br />

De asas longas<br />

E garras de vento, veio<br />

E roubou-me para sempre de mim.<br />

De repente, eu estava nas alturas<br />

E nem me lembrava mais<br />

Se era gente ou pássaro.<br />

Viajava sem saber para onde,<br />

Entregue ao desígnio pássaro<br />

Que tem o rumo desenhado apenas pelo instinto.<br />

Sabia da urgência em manter os olhos abertos<br />

Para contemplar tudo.<br />

Sentia um vento frio no rosto<br />

E um outro frio por dentro.<br />

Então, vi a montanha,<br />

Uma enorme montanha recortada<br />

Contra o azul da paisagem.<br />

Há momentos na vida que são únicos<br />

E derradeiros.<br />

O instante breve entre um voo e o pousar<br />

No ponto mais alto do mundo<br />

Me fez sentir que eu podia<br />

Ser bem maior do que um dia fora.<br />

Agora, eu era a própria montanha,<br />

E tinha olhos de águia e asas de vento.<br />

Naquele instante mágico,<br />

Tive a plena certeza de que<br />

Algo diferente acontecia.<br />

Tomei a flauta nas mãos,<br />

Levei-a aos lábios<br />

E soprei uma canção:<br />

A canção que celebra<br />

A inauguração de um novo tempo<br />

A pulsar no coração do mundo.<br />

Agora, com lábios de montanha<br />

Meu sopro de pedra esculpia o grito<br />

De esperança tamanha<br />

Que se ouvia feito um eco para além do infinito,<br />

Bem mais alto do que a própria montanha.<br />

- 13 -


POESIAS<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

Simbolismo Poético<br />

Nena Sarti<br />

Membro da ALB/MS<br />

Campo Grande, MS – Brasil<br />

Mente borbulha faíscas decadentes.<br />

Farfalhar de memórias antigas,<br />

Cantigas outonais...<br />

Desoras celestiais comunicam<br />

O fluir de pensamentos infantis.<br />

Ressonância de ondas quânticas<br />

Esquecidas em por de sol,<br />

À noite ressurge absoluta.<br />

Audível galope de desejos esculpidos,<br />

Em andejos de esperanças fugidias,<br />

No afagar dos olhos dormidos de saudade.<br />

Submissão plena dos sentidos<br />

Em busca do que não foi...<br />

Virtuosa viagem ao âmago.<br />

Simbolismo poético,<br />

Para compor poesia.<br />

Quando a<br />

Primavera Chegar<br />

Helena Luna<br />

Fortaleza, CE – Brasil<br />

Não te escondas atrás de máscaras,<br />

Mostra a cara, mostra a face,<br />

Porém te prepara pras pedras,<br />

Que alguns haverão de atirar.<br />

Mas não te incomodes, não liga,<br />

É assim mesmo esta vida,<br />

Esta vida que vivemos,<br />

Não a que nós merecemos.<br />

Cultiva uma boa amizade,<br />

Planta sementes à vontade,<br />

Pois tratadas com carinho,<br />

Eu pressinto, eu adivinho,<br />

Certamente hão de brotar<br />

Firmes, fortes, vigorosas,<br />

Desabrochando em mil rosas<br />

Quando a Primavera chegar.<br />

- 14 -<br />

“A missanga, todos a vêem.<br />

Ninguém nota o fio que, em<br />

colar vistoso, vai compondo<br />

as missangas. Também assim<br />

é a voz do poeta: um fio de<br />

silêncio costurando o<br />

tempo.”<br />

Autor: Mia Couto<br />

Título: O fio das missangas<br />

Capa: Rita da Costa Aguiar<br />

Páginas: 152<br />

Formato: 14.00 x 21.00 cm<br />

Peso: 0.22500 kg<br />

Acabamento: Brochura<br />

Lançamento: 30/01/2009<br />

ISBN: 9788535913811<br />

Selo: Companhia das Letras<br />

Valor: R$ 25,00<br />

MIA COUTO<br />

Nasceu em 1955, na Beira,<br />

Moçambique. É biólogo, jornalista e<br />

autor de mais de trinta livros, entre<br />

prosa e poesia.


- 15 -<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

POESIAS<br />

Adriana Bronzatte<br />

Naviraí, MS – Brasil<br />

Membro da ANAPE<br />

(Anagramode* #047)<br />

Bosco Esmeraldo<br />

Od L'Aremse M Peterson<br />

Gama, DF – Brasil<br />

Temos a fluir na mente<br />

um misto de nostalgia,<br />

livre de pedagogia<br />

de sentimento latente,<br />

que tem um que de magia<br />

fluindo suavemente.<br />

Tem-se lúcido, timo egresso,<br />

ora manda a pituitária.<br />

Tem-se largo, farto em dia,<br />

dons, cargas hereditárias,<br />

quer primárias, secundárias<br />

sol que não mais irradia.<br />

Mente suave de regresso,<br />

mente em panes temerárias.<br />

Eia garimpo infindável...<br />

A melhor poesia, é dita,<br />

mesmo em mente, tão palpável,<br />

é a que jamais foi escrita.<br />

Ecos de fluir inefável.<br />

(*) Anagramode é um estilo literário criado pelo<br />

Poeta Bosco Esmeraldo.<br />

Demoliram a escola em que estudei.<br />

Estão derrubando não só paredes<br />

Feitas de tábuas. Duas casas – uma<br />

Sala de aula – outra da cozinha,<br />

Lá no fundo o poço e<br />

Mais ao lado o banheiro.<br />

Não derrubam só as paredes,<br />

Derrubam meu coração.<br />

Meu coração que ainda tem sete<br />

anos,<br />

Que ama a professora (Que nunca<br />

soube disso)<br />

E lê a coleção Ciranda da Ciência.<br />

É a minha escola! Minha!<br />

E não é minha, é do fazendeiro...<br />

Ficou o buraco. O vazio. O nada<br />

Cheio de tudo! Cheio de<br />

recordações.<br />

As outras pessoas olham,<br />

E só veem o pasto. Mas eu não!<br />

Quando olho, vejo-me criança,<br />

Brincando de esconder lenço...<br />

Vejo as outras crianças...<br />

Será que ninguém pensou nisso?<br />

Atrás daquelas paredes de tábuas<br />

Batiam corações, e dentro deles<br />

Ficaram a saudade e a lembrança.<br />

Não quero ver nunca mais<br />

Outra escola derrubada. Por favor!


<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

CONTO<br />

O Melhor Roubo<br />

da História<br />

Isloany Machado<br />

Campo Grande, MS – Brasil<br />

Eu não tenho vergonha, nem medo de<br />

dizer que fui ladrão. E, antes que alguém me julgue<br />

e condene, vou contar minha história. Não<br />

pense que delinearei aqui uma triste história de<br />

um pobre coitado que teve de roubar para viver,<br />

ou para dar leite aos filhos. Nada disso. A verdade<br />

é que eu iniciei minha carreira roubando chocolates<br />

no supermercado, ainda criança. Com o<br />

tempo fui desenvolvendo técnicas e minha mão<br />

tornava-se cada dia mais leve. Tinha tantos chocolates,<br />

não é possível que sentiriam a falta de<br />

unzinho na barriguinha de um menininho.<br />

Quando já estava profissional decidi que<br />

roubaria bolsas, estava me graduando para um<br />

dia fazer um grande roubo, como desses de filmes,<br />

em algum banco. Já havia roubado três bolsas,<br />

mas não havia conseguido muita coisa de<br />

valor. Na primeira delas havia uma quantidade<br />

de dinheiro razoável; na segunda, alguns pacotes<br />

de chicletes; na terceira havia vários batons,<br />

que dei para minha mãe. Mesmo sendo profissional,<br />

a atuação com o roubo de bolsas não foi<br />

tranquilo, dizem que mesmo os grandes atores<br />

ou palestrantes famosos, sentem frio na barriga<br />

a cada atuação. E eu não era diferente. Quando<br />

me arrisquei à quarta atuação com bolsas foi<br />

que aconteceu a grande virada em minha história.<br />

Eu atuava de bicicleta, pois precisava<br />

- 16 -<br />

ganhar distância muito rapidamente. Um dia,<br />

no entardecer fiquei amoitado em uma rua com<br />

menos movimento. De repente surgiu uma<br />

moça de uns 25 anos aproximadamente com<br />

uma bolsa enorme e brilhante. Mascava chicletes<br />

e andava tranquilamente pela rua.<br />

Aproximei-me dela pelas costas e, ao chegar<br />

perto puxei a bolsa sem pedir autorização. Tive<br />

que pensar rápido, pois era bela e temi que, ao<br />

manter qualquer tipo de diálogo com ela, desistisse<br />

da ação. Todo profissional tem lá suas técnicas<br />

de trabalho. Puxei a bolsa sem nem olhar<br />

direito pra ela e voei rua afora. Já perto de casa e<br />

em segurança abri a bolsa.<br />

Na carteira havia uma mísera moeda de<br />

cinco centavos. Seu documento de identidade<br />

confirmou o cálculo que fiz da idade com uma<br />

pequena margem de erro: 27 anos. Uma cartela<br />

de anticoncepcional pela metade; algumas<br />

balas sete belo; dois batons: rosa e vermelho;<br />

uma escova de dentes; uma barrinha de chocolate;<br />

uma maçã, um sal de frutas, um espelho e<br />

outras coisas que já não me lembro. Mas o que<br />

havia de mais importante eu ainda não disse e<br />

fico emocionado só de lembrar. Dentro daquela<br />

bolsa havia um livro.<br />

Depois de vasculhar a bolsa e recolher o<br />

que não me interessava dentro dela de novo, no<br />

dia seguinte procurei um terreno baldio e


CONTO<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

joguei-a fora. A única coisa que esqueci de juntar<br />

foi o livro, que ficou esquecido no canto do<br />

meu quarto por alguns dias. Ah, guardei também<br />

a moeda de cinco centavos como minha<br />

moeda da sorte. Dias depois, como eu começava<br />

a trabalhar somente ao cair do dia, não tinha<br />

nada que fazer e lembrei-me do livro caído no<br />

canto. Peguei-o e li na capa: “Robinson<br />

Crusoé”. Folheei e vi que não havia desenho<br />

algum, eram muitas letras, mas, com todo o<br />

tempo livre, iniciei a leitura.<br />

No tempo de dois dias li todo aquele<br />

livro, não conseguia parar. Contava a história<br />

de um sujeito muito do teimoso que, contra o<br />

conselho de seu pai, vai viajar pelo mar até que<br />

um dia o navio em que estava bate contra um<br />

rochedo num dia de tempestade e somente ele<br />

sobrevive, pois consegue chegar à terra firme.<br />

Eu sofria com ele todas as atribulações de um<br />

homem que viveu, durante 28 anos, sozinho<br />

numa ilha. Lembro-me que ele tinha uma porção<br />

de dinheiro em papel e um pouco em ouro,<br />

mas aquilo era risível na situação que se encontrava.<br />

Até um pedaço de corda ou uma faca lhe<br />

seriam mais úteis. Nunca pensei que pudesse<br />

viajar para tão longe sem sequer sair do lugar.<br />

Fiquei deslumbrado.<br />

No dia seguinte, em meu próximo roubo,<br />

educadamente pedi à senhora que me desse<br />

apenas seu dinheiro, não precisava de mais<br />

nada. Eu estava ansioso para ir a uma livraria<br />

que ficava no centro da cidade, vendia livros usados.<br />

Pensei que poderia bem comprar livros de<br />

segunda mão, porque ler não gasta o livro. Eu<br />

queria viajar de novo. Fugir daquela minha vidinha<br />

medíocre e sem graça de ladrãozinho cuja<br />

maior aventura era causada pelo medo de ser<br />

pego pela polícia. Achei uma promoção de vários<br />

livros do detetive Sherlok Holmes. Li todos<br />

em menos de um mês. Fiquei perito em descobrir<br />

pistas e sabia até quando algum passarinho<br />

afanava a comida de meu cachorro. Roubava<br />

agora só o suficiente para comprar os livros da<br />

promoção do sebo. Comecei até a ficar conhecido<br />

por lá.<br />

A moça da livraria me vendeu uns livros<br />

que ela achava muito românticos, disse que as<br />

professoras recomendavam na escola. Mas desses<br />

eu não gostei não, as moças das histórias<br />

- 17 -<br />

eram muito brancas, pálidas e frescas.<br />

Desmaiavam à toa e jogavam seus lencinhos<br />

para os homens pegarem. Eu preferia mesmo<br />

eram as histórias de Macunaíma, que viajava<br />

pelo Brasil inteiro e eu ia junto com ele. Agora<br />

passava mais tempo lendo do que roubando.<br />

Não havia mais emoção nisso, só pensava no<br />

próximo livro que iria comprar. Conheci Paris<br />

com Balzac, Praga com Milan Kundera, a<br />

Rússia com Dostoievski, e muitos outros lugares.<br />

Me tornei homem viajado. Construí no<br />

fundo de casa uma cabana, para imitar Crusoé.<br />

Adorava passar o dia lá, viajando pelo mundo.<br />

A essa altura, já passava algum tempo conversando<br />

sobre literatura com a moça da livraria.<br />

Um dia cheguei lá e havia uma placa dizendo<br />

que estavam precisando de funcionário. A<br />

moça me incentivou e eu me inscrevi para a<br />

vaga, mas o que eu colocaria no meu currículo?<br />

“Experiência profissional: ladrão de chocolates<br />

e bolsas”. Não passaria mais da porta da loja.<br />

Então tive uma ideia, escrevi: “Experiência profissional:<br />

Leitor inveterado”. Na entrevista usei<br />

muitas palavras rebuscadas que havia aprendido<br />

nos livros, principalmente nos de Machado<br />

de Assis. Parece que convenci, consegui o<br />

emprego. O movimento da loja era mediano,<br />

não são muitas as pessoas que apreciam livros,<br />

quanto mais usados. Mas eu era um bom vendedor,<br />

contava as histórias de um jeito que incitava<br />

a curiosidade das pessoas e dava dicas de leitura.<br />

Após alguns anos, me casei com a moça<br />

da livraria. E tempos depois decidimos montar<br />

nosso negócio: uma livraria que tinha também<br />

curso de redação. Eu já amava tanto a literatura<br />

que resolvi voltar a estudar e cursei letras.<br />

Sempre senti vontade de ir à ilha de Crusoé, buscar<br />

resquícios de sua estadia por lá, mas carrego<br />

isso como uma fantasia, sei que toda história é<br />

ficção. Talvez meu desejo seja o de voltar para o<br />

que eu era, encontrar ali os resquícios de mim,<br />

reconstruí-los. Queria encontrar aquela moça e<br />

devolver a ela o livro que roubei, talvez me desculpar<br />

e agradecê-la pelo “empréstimo”. Contar<br />

a ela o final das aventuras de Crusoé e também<br />

das minhas, pois, como disse Drummond, “eu<br />

não sabia que minha história era mais bonita<br />

que a de Robinson Crusoé”.


<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

CONTO<br />

A Inevitabilidade<br />

da Morte<br />

Marcelo O. Souza, IWA<br />

Salvador, BA – Brasil<br />

Diante da inevitabilidade<br />

da morte, as pessoas<br />

caem no desespero perante<br />

um poder muito maior<br />

que a gente, em que não<br />

suportamos quando a dona<br />

da foice passa a sua sentença.<br />

Como faz parte de<br />

todo o desenvolvimento da<br />

vida, ela vem naturalmente,<br />

imponente, muitas vezes<br />

sem a gente perceber;<br />

outras vezes ela manda o<br />

convite que as pessoas teimam<br />

em não receber, onde<br />

viramos um paciente impaciente,<br />

sofrendo com uma<br />

doença terminal.<br />

Nesse caso não é apenas<br />

o enfermo que sofre, a<br />

família toda sente o impacto,<br />

onde esse doloroso<br />

tombo aos poucos vai corroendo<br />

as nossas resistências,<br />

da mesma forma que<br />

destrói o senso lógico de<br />

cada um.<br />

Uns perdem até a fé<br />

em Deus, chegando até a<br />

amaldiçoá-lo, outros se apegam<br />

mais ainda por um milagre<br />

que poderá não vir e<br />

depois do tombo vira-se contra<br />

o ser celestial, pois a<br />

intensa dor os impede de<br />

concatenar suas ideias.<br />

T e m o u t r o s q u e<br />

mudam a sua religião não<br />

hora final, passa a aceitar<br />

dogmas totalmente contrário<br />

à sua experiência de<br />

vida.<br />

Mesmo a morte nos<br />

traz muitas lições, muitos<br />

aprendizados são adquiridos<br />

diante dela, onde na<br />

maioria das vezes as pessoas<br />

depois de um tempo se<br />

resignam, tentando lembrar<br />

da época boa em que esse<br />

ente querido estava vivo,<br />

das mensagens que ele tentou<br />

enviar na sua passagem<br />

para o além; outras vezes o<br />

falecido é o alicerce de<br />

uma família que por sua vez<br />

se desmorona e não tem<br />

mais como reconstruir,<br />

mesmo diante de tanto sofrimento<br />

as pessoas não<br />

aprendem nada.<br />

A inevitável morte nos<br />

intriga, tem cientista que<br />

- 18 -<br />

estuda isso há anos, uns<br />

dizem que num futuro distante<br />

ela terá dificuldades<br />

de vim ceifar as almas, mas<br />

enquanto isso não acontece,<br />

temos que estar preparados<br />

para ela, mesmo que<br />

seja uma retórica, é a mais<br />

perfeita verdade, principalmente<br />

nessa época aqui no<br />

Brasil, onde o valor da vida<br />

está menor a cada dia,<br />

onde saímos e não sabermos<br />

se voltamos, em que o<br />

consumismo virou uma religião<br />

e o amor perante o<br />

nosso criador caiu no ostracismo.<br />

Papel<br />

Clécia Santos<br />

Natal, RN - Brasil<br />

Meu coração, eu sei!<br />

É de papel!<br />

Rasga, queima, voa...<br />

Não tem letras ou<br />

nomes<br />

Livre, iça distância<br />

como pipa<br />

Só para sentir<br />

lágrimas do céu.


POESIA<br />

Menino<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

Curiosidades<br />

Literárias<br />

de<br />

Rua<br />

1<br />

Chovia muito, o frio ardia,<br />

ardia na suja pele de João<br />

João o mendigo sofria<br />

sofria quando chovia<br />

2<br />

chovia muito no inverno<br />

inverno era a vida de João<br />

João dormia ao relento<br />

relento em pleno inverno<br />

3<br />

inverno fustigava lá fora<br />

fora é onde ele mora<br />

mora e vive de caridade<br />

caridade de alguém de fora<br />

4<br />

fora é o que ele recebe<br />

recebe a toda hora<br />

hora ganha esmola<br />

esmola ora o fora<br />

5<br />

fora que a vida lhe deu<br />

deu -lhe como destino<br />

destino merecido<br />

merecido se Deus lhe deu<br />

6<br />

deu mesmo? bem isso não sei<br />

sei que assim vive João<br />

João mora com a mãe<br />

mãe essa sim Deus lhe deu<br />

Lorenzi Monteiro<br />

Paranaguá, PR – Brasil<br />

7<br />

deu-lhe uma mãe mendiga<br />

mendiga vive na rua<br />

rua é onde eles moram<br />

moram vida mendiga<br />

8<br />

mindiga o pão cada dia<br />

dia come,dia não<br />

não! é o que mais ouvem<br />

ouvem isso todo dia<br />

9<br />

dia de sol secam as vestes<br />

vestes maltrapilhas sujas<br />

sujas molhadas e fétidas<br />

fétidas são suas vestes<br />

10<br />

vestes doadas por anjos<br />

anjos de carne e osso<br />

osso coração mole<br />

mole é o coração de anjo<br />

11<br />

anjo tem compaixão<br />

compaixão por quem padece<br />

padece nas ruas das cidades<br />

cidades povoadas por anjos<br />

12<br />

anjos vivem nas ruas<br />

ruas de mendigos<br />

mendigos é gente de bem<br />

bem mesmo quando não<br />

chovia.<br />

- 19 -<br />

1. Aldous Huxley, autor do clássico<br />

Admirável Mundo Novo, narrou<br />

suas experiências com alucinógenos<br />

num livro chamado As<br />

Portas da Percepção. Aliás, o<br />

nome do grupo de rock The<br />

Doors foi inspirado no livro As<br />

Portas da Percepção.<br />

2. No início da carreira, o escritor<br />

George Bernard Shaw teve que<br />

ser sustentado pela mãe por que<br />

não conseguia vender seus livros.<br />

3. O primeiro acidente de automóvel<br />

no Brasil foi causado pelo<br />

poeta Olavo Bilac. Ele bateu<br />

numa árvore em 1897.<br />

4. O monstro em Frankenstein<br />

não tem nome. Na verdade,<br />

Frankenstein é o nome do cientista<br />

que criou o monstro.<br />

5. J.K. Rowling escreveu todos os<br />

livros do Harry Potter à mão.<br />

6. O primeiro volume de Em<br />

Busca do Tempo Perdido, de<br />

Marcel Proust, foi publicado às<br />

custas do próprio autor, uma vez<br />

que havia sido recusado por<br />

diversas editoras.<br />

7. O poeta Carlos Drummond de<br />

Andrade publicou o seu primeiro<br />

livro, com tiragem de 500 exemplares,<br />

com o dinheiro do próprio<br />

bolso.<br />

8. O poeta chileno Pablo Neruda<br />

só conseguiu publicar seu primeiro<br />

livro, Crepusculário, depois de<br />

vender todos os seus bens para<br />

financiá-lo.<br />

Fonte: publiki.me


<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

POESIA<br />

Leonir Menegati<br />

Dourados, MS – Brasil<br />

Existir<br />

Se existimos...<br />

E porque alguém precisa de nós...<br />

O planeta precisa de nó...<br />

Eu preciso de mim...<br />

Preciso encontrar-me...<br />

Onde?<br />

Nas esquinas de meus desejos;<br />

Na alameda das ilusões;<br />

Ou durante meu sono, nos sonhos?<br />

Impossível...<br />

Existimos...<br />

Com nossos vícios e mazelas;<br />

Defeitos e qualidades;<br />

Estamos no planeta para aprender...<br />

Estou buscando, meu dom;<br />

Preciso contribuir para o Todo,<br />

Para isso, preciso doar-me;<br />

Com toda minha vontade e<br />

pequenez...<br />

Existimos...<br />

Não foi por acaso, fomos criados...<br />

Planejados para passar por mais esta<br />

existência<br />

- 20 -<br />

Com tudo o que ela tem para cada um<br />

de nos.<br />

Sofrimentos, decepções, dores,<br />

frustrações;<br />

Alegrias, comoções.<br />

Existimos...<br />

Para, com o tempo elaborar tudo isso;<br />

Galgar os caminhos da perfeição,<br />

Sermos Homens buscadores,<br />

De Ideais verdadeiros,<br />

Cumprindo, com Amor, Fe e Justiça<br />

Os Dons que nos foi conferido<br />

E sermos uma Célula benigna, no Todo!<br />

Existimos...<br />

Não para julgar, discriminar, mas sim,<br />

Para aceitar o outro com suas escolhas;<br />

Sem interferir, sem condenar...<br />

Cada ser tem sua história, sua missão...<br />

Todo um aprendizado, a realizar.<br />

Cabe a nós, dar suporte, compreensão<br />

E amar...amar...amar!<br />

Com nossos vícios e mazelas.


ARGENTINA<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

Poemas<br />

Argentinos<br />

Victor Hugo Valledor<br />

Berisso - Buenos Aires - Argentina<br />

Poemas con leyendas de dioses<br />

Que han perdido su capa de oxigeno.<br />

Lobos robados en artísticas tomas de<br />

cinematógrafos absueltos.<br />

Y el gran océano dando vueltas y vueltas<br />

en torno a una muela de oso acuático.<br />

Pocas leyes aún se cumplen con la<br />

formación estricta<br />

De los narradores apasionados del amor.<br />

Y esas palabras que destruyen a diestra y<br />

siniestra<br />

Todo vestigio de inocencia.<br />

Todo poeta concuerda con su destino.<br />

Todo poema concuerda con el destino<br />

que le fuera asignado<br />

En una mañana destinada a las caricias y<br />

que se malograra por el viento de los<br />

recuerdos.<br />

Dioses que se han puesto a dormir sobre<br />

una cama con clavos acerados<br />

Para no ser molestados por las horas<br />

robadas al sol.<br />

Sentir que somos vertientes dobles de una misma<br />

llanura<br />

en donde pernoctan nuestras fuerzas desatadas<br />

hacia una 2misma e incontenible fugacidad de la<br />

palabra.<br />

Nuestro poema es el poema de lo universal.<br />

Ronda de aves que atesoran su trino incontrastable.<br />

Nuestro poema es la vida.<br />

Nuestro poema es el amor de los niños por el sol.<br />

La pasión de los reflejos nocturnos por el amanecer<br />

impredecible.<br />

Mano abierta que dicta su monólogo a dúo<br />

porfía de toda razón en la cóncava impresión del<br />

futuro.<br />

Revelación compartida en todos los llanos y las<br />

cumbres<br />

confianza del caminante que lleva su estandarte en<br />

dos nombres.<br />

Poesía de las revelaciones.<br />

Poema de los poetas.<br />

Palabra de la construcción.<br />

Música impresa en los labios.<br />

Ofertorio universal de la idea.<br />

Poema de todos los poetas.<br />

Fuente inagotable de las raíces.<br />

1- 21 -<br />

Sentirse olvidado es poder saber lo que es<br />

el olvido.<br />

El nombre lleva adelante la concelebración mágica de<br />

todas las revelaciones posibles.


<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

ARTIGO<br />

Novas Igrejas<br />

Levantar-se-ão falsos Cristos e falsos profetas,<br />

que farão prodígios e coisas de espantar, a<br />

ponto de seduzirem os próprios escolhidos” S.<br />

Mateus<br />

Não precisamos nem ser um bom observador<br />

para verificarmos o grande número de<br />

“novas igrejas”, inauguradas em nossa cidade e<br />

por todo Brasil. Eu lhe pergunto: o que conduziu<br />

a esse fato peculiar de igrejas, crenças, com<br />

nomes esquisitos, que chegam a ser cômicos? O<br />

que leva o ser humano a procurar de todas as formas<br />

um refúgio para esvaziar, através de uma<br />

catarse coletiva, as suas dores, suas aflições?<br />

Outro dia enquanto passava em frente a<br />

uma casa religiosa, observei a placa de “alugase”,<br />

fiquei a conjeturar: qual o motivo do fechamento<br />

dessa casa de oração? Ou melhor, qual<br />

foi o motivo de sua abertura? Ou melhor ainda<br />

o porquê de tantos estabelecimentos ditos religiosos?<br />

Sem estrutura e sem preparo, tanto é<br />

que com a mesma rapidez que são inauguradas,<br />

são fechadas. Será a insegurança gerada pelo<br />

progresso avassalador de uns cem anos para cá?<br />

Queremos uma mão que nos segure e nos mostre<br />

o caminho certo, e na vontade de acertar caímos<br />

muitas das vezes nas garras de vilões da fé!<br />

O curioso é que na verdade os fatos sobrenaturais<br />

(pregados pelos ditos “profetas”, como:<br />

curas extraordinárias, problemas financeiros<br />

resolvidos, um pedacinho do céu reservado e<br />

etc...) deveriam se restringir na medida em que a<br />

ciência se alarga.<br />

Em todos os tempos, homens houve que<br />

exploraram, em proveito de suas ambições, de<br />

seus interesses e do seu anseio de dominação,<br />

certos conhecimentos que possuíam, a fim de<br />

alcançarem o prestígio de um pseudopoder<br />

sobre-humano, ou de uma pretendida missão<br />

divina.<br />

Acontece que na era tecnológica em que<br />

vivemos, globalizada, clonada, cheia de inova-<br />

- 22 -<br />

Ita Brasil<br />

Dourados, MS - Brasil<br />

ções científicas comprovadas, com a humanidade<br />

ensaiando novos voos em busca da expansão<br />

da vida, é inacreditável, incompreensível que<br />

certas pessoas (milhares por sinal) acreditam ser<br />

uma “missão divina”, o que nada mais é do que<br />

o resultado de conhecimentos, cuja aquisição<br />

está ao alcance de qualquer um, de acordo com<br />

oportunidades apresentadas e vontade férrea<br />

do domínio, do poder, da vida fácil.<br />

Mas o que leva, no entanto, o ser humano<br />

a procurar tais feitos, tais crenças? Será que<br />

paramos para refletir sobre o nosso dia-a-dia?<br />

Conseguimos avaliar o caminho percorrido<br />

para chegarmos aonde chegamos? Quantas dificuldades?<br />

Quantas dores? Quais os valores sedimentados,<br />

quais vistos, sentidos? O que é mais<br />

importante, a paz interna, o apreciar da natureza,<br />

o trabalho digno e necessário para nossa<br />

sobrevivência, ou a ambição, a ganância, a luta<br />

desenfreada pelo poder e pelo supérfluo?<br />

Onde e quando sentimos a necessidade<br />

de transferir para outrem, através do sobrenatural,<br />

as nossas responsabilidades, nossos compromissos<br />

conosco mesmos? Enquanto não nos<br />

sentirmos responsáveis pelos nossos próprios<br />

atos, estaremos criando falsos Cristos e falsos<br />

profetas, possibilitando vida farta a todos (os falsos)<br />

em detrimento do real caminho, da real fé.<br />

O que verdadeiramente nos sacia? Será o<br />

conhecimento de nós mesmos, que levará a plenitude<br />

da vida? Ou a subjugação que nos oprime<br />

e deprime?<br />

Nós somos o que somos e nossa luta pela<br />

liberdade necessariamente deveria passar pela<br />

dinâmica da lucidez mental.<br />

“Então, se alguém vos disser: O Cristo<br />

está aqui, ou está ali, não acrediteis absolutamente;<br />

porquanto falsos Cristos e falsos profetas<br />

se levantarão...”


- 23 -<br />

POESIA<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

DICA DE FILME<br />

Manuela Vieira da Silva<br />

Sintra, Lisboa – Portugal<br />

Peço ao mar o segredo do mundo<br />

Inescrutável e profundo no rasto<br />

Deixado na alva espuma que inunda a alma,<br />

Em voluptuosos afagos mágicos, que me renova<br />

Quando me deito e o corpo espraio num beijo,<br />

No vasto areal cósmico do universo amoroso.<br />

Praia longínqua dos meus sonhos de menina<br />

na planura cósmica do tempo<br />

onde o nada se funde<br />

(no todo existente)<br />

— passado e futuro —<br />

no coração do verbo<br />

amar — no presente.<br />

SINOPSE<br />

O filme mostra todo o sofrimento<br />

vivido pelo escritor Dostoiévski: os anos de<br />

trabalhos forçados na Sibéria, a rejeição dos<br />

outros presos, que o tinham como um<br />

intelectual que traiu o movimento, e as<br />

dificuldades financeiras. Dostoiévski<br />

escrevia sob pressão de um editor que o<br />

obrigava a produzir compulsivamente. Foi<br />

nesse período difícil que ele conheceu<br />

“Anna Grigorievna Snítikin”, uma<br />

estenógrafa com quem se casaria mais<br />

tarde.<br />

O título do filme faz alusão à<br />

célebre obra “Os Demônios”, em que<br />

Dostoiévski criou uma trama ficcional para<br />

contar uma história verídica, o assassinato<br />

do estudante I. Ivanov. O niilismo do<br />

grupo extremista da obra literária se faz<br />

presente no filme na desesperada luta para<br />

derrubar a burguesia imperialista. O filme<br />

retrata um Dostoiévski humano, vivendo<br />

uma eterna crise, imagem que vai de<br />

encontro à figura mitológica eternizada nos<br />

livros de história e na mídia.<br />

São Petersburgo, 1860. Um<br />

membro da família imperial é assassinado.<br />

Poucos dias depois, o escritor Dostoiévski<br />

reúne-se com Gusiev, um jovem internado<br />

em um hospital psiquiátrico. Gusiev<br />

confessa que tomou parte na conspiração<br />

terrorista e revela que seus colegas estão<br />

planejando matar outro de parentes do<br />

czar. O jovem também dá a Dostoiévski o<br />

endereço de Alexandra, sua líder. O<br />

escritor deve encontrá-la e convencê-la a<br />

cancelar a tentativa de assassinato.<br />

Fonte: Canal Marcelo Vinicius


PORTUGAL<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

Cidade de BRAGA<br />

Solamente<br />

Unidos<br />

Abraham García Campos<br />

(El escribano de Dios)<br />

Cuernavaca, Morelos – México<br />

Maldita Sombra<br />

Alexandre Costa<br />

Braga – Portugal<br />

Vejo a sombra, escorrida na calçada,<br />

Não me diz se é triste ou se está<br />

alegre...<br />

Só com luz ela sai do seu casebre,<br />

Mas está sempre cá, tão arreigada.<br />

Nadie podrá ser<br />

Como tú quieres;<br />

Y nadie podrá ser<br />

Como tú eres.<br />

Porque todos somos distintos<br />

Y es por eso que pensamos;<br />

Y actuamos tan diferente;<br />

Y que a pesar de que es<br />

Muy complejo<br />

Entendernos y comprendernos.<br />

Como seres humanos<br />

No es imposible<br />

Convivir en armonía;<br />

Y lograr un objetivo común,<br />

Sólo debemos tener presente,<br />

Que ni dos gotas de agua<br />

Son iguales, pero...<br />

Unidas forman los mares.<br />

Faça seu eBook conosco<br />

Não tem dores, maleitas, sequer febre,<br />

Tão inerte, ali fica descansada...<br />

Nada diz, nem reclama - mesmo atada!<br />

Queria vê-la correr como uma lebre!<br />

Quem me leva daqui este negrume,<br />

Que preso a mim se veste de costume<br />

E faz de mim escravo indo d'arrasto?<br />

Quem me corta tal mancha que atazana<br />

Que na alma se assemelha a persiana<br />

E me não deixa ver o céu tão vasto?<br />

- 24 -<br />

/biblioeditora<br />

e-Mail: biblioeditora@gmail.com


<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

POESIA<br />

A Terra<br />

Dela<br />

Robson Simões<br />

Campo Grande, MS – Brasil<br />

Orfeu e Eurídice<br />

Valleria Gurgel<br />

Itabirito, MG – Brasil<br />

Suave perfume<br />

Em meu jardim sois<br />

Dentre as rosas majestosa,<br />

Dileta musa das galáxias<br />

Toco minha<br />

Lira ao vosso sentir<br />

Seleta ninfa dos confins<br />

Oh! Quimera plêiade<br />

Que irradia a luz<br />

Sou teu Orfeu,<br />

Tu és minha Eurídice!<br />

De meu peito salta o<br />

coração<br />

Que vai ao encontro<br />

De tua indomável sedução...<br />

A sinuosa dor de teu rosário<br />

É rubra cor<br />

De minhas entranhas<br />

Tua morte me fez perecer<br />

Descer ao inferno e<br />

Torturar-me à tua cruz<br />

Eu vivo os sonhos cálidos<br />

De minha amada.<br />

Acreditei que bastasse<br />

Não querer sofrer<br />

Das dores de suas proezas<br />

Rasguei impávida saciedade<br />

Irresistível tentação<br />

De olhar prá trás<br />

Indomável altaneira<br />

Que ao Hades desceu<br />

Vida perene pelo vale chora<br />

Novamente seu Orfeu<br />

Sozinho implora<br />

Minha lira soa em desalinho<br />

Abraço o vento nu<br />

Retorna minh’amada<br />

Eurídice,<br />

Minha doce fada<br />

Clamo piedade aos deuses<br />

Volta!<br />

Ressoa a súplica<br />

Apaixonada…<br />

O amor sofre<br />

Um ser desfragmenta<br />

Numa tormenta<br />

A lenda se faz!<br />

- 25 -<br />

A Terra dela<br />

É banhada por um rio<br />

Um rio lento e profundo<br />

Tem nome de um país<br />

Um rio que não divide.<br />

A Terra dela<br />

Tem sol que nasce de<br />

dentro d’água<br />

Navega abrasado em<br />

céu límpido.<br />

No final do dia<br />

mergulha entre<br />

camalotes floridos<br />

Ao som de Ondinas e<br />

águas amnióticas.<br />

A Terra dela<br />

Tem carandás, ipês,<br />

araras e tuiuiús.<br />

É uma palheta de cores<br />

Tem amanhecer de<br />

vermelhos<br />

apaixonantes<br />

Entardecer de laranjas<br />

de tirar o sono.<br />

A Terra dela<br />

É pequena, sem<br />

espaço para todos os<br />

seus filhos,<br />

Mas como toda terra<br />

fecunda,<br />

Alimenta seus filhos<br />

gerados e adotados.<br />

A Terra dela<br />

É quase minha.


<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

Autora do<br />

eBook<br />

Marta Amaral<br />

Arapiraca, AL – Brasil<br />

- 26 -<br />

Uma vida sem graça, um viver por viver, um<br />

sorriso disfarçado, um olhar sem vida e um coração<br />

apertado. Era a certeza embaraçado com a dúvida,<br />

um talvez com medo de um amanhecer, uma canção<br />

sem versos do que é viver. Um mundo sem esperança,<br />

um passado cheio de lembrança.<br />

Sem amor à vida entreguei ao desprezo, mas<br />

quando te vi, nasceu novo desejo. Conhecer-te me<br />

deu um novo visual, percebi que nada era normal e<br />

aos poucos fui reencontrando um novo sorriso, um<br />

novo olhar até mesmo um novo falar. Um amor surgiu,<br />

mas não podia te dar, pois fiz promessas de ir<br />

embora e nunca mais voltar.<br />

Bem sei que você tentou e de tudo fez para<br />

me agradar, mas minha decisão já estava formada,<br />

vou embora para nunca mais voltar. Deixo-te uma<br />

carta em forma de gratidão, vou te levar dentro do<br />

meu coração, sei que, ao ler as lágrimas cairão sobre<br />

sua face, mas sei também que entenderá o que é<br />

renunciar.<br />

Posso imaginar teu sorriso desengonçado, a<br />

voz em meio a rouquidão, perdido pelo soluço de<br />

um coração. Meu perfume preferido deixarei como<br />

aroma de uma vida que por você passou, que aprendeu<br />

o que é amor. E se um dia se embriagar pela saudade,<br />

entenderá que mesmo não estando do teu<br />

lado sentirás o meu amor, nas mais lindas passagens<br />

de um sonhador.<br />

Nos demos um pouco de tudo, ao seu lado<br />

fui feliz em tudo que se diz. Meu tempo era resumido,<br />

mas você conseguiu de cada segundo transformar<br />

momentos de felicidade. Descobri em você<br />

uma mulher de verdade. Agora tudo que nos resta é<br />

nossos pensamentos, ficará marcado em você todos<br />

nossos momentos. Tu eras apenas uma garota que<br />

nada sabia, nada conhecia uma vida sem estrada e a<br />

paixão pela meia calça listrada. Como eu era antes<br />

de você... Um barco em meio à tempestade com<br />

medo de afundar, mas com seu jeito mais simples<br />

me ensinou o que é amar.<br />

Por amor a você tenho que partir, não quero<br />

te fazer sofrer com minha invalidez; é preciso morrer<br />

do que viver no talvez.<br />

Se uma lágrima cair em meio à saudade, lembra<br />

daquela canção que um dia cantou para mim,<br />

então saberá que nosso amor nunca chegará ao fim.<br />

Uma linda história de amor, onde um jovem<br />

perde o amor pela vida, por saber que sua invalidez<br />

seria incapaz de oferecer uma vida a outra vida e<br />

renunciar sua própria vida. Uma jovem imatura<br />

que abre mão dos seus sonhos para fazer alguém<br />

feliz.<br />

(Baseado no filme Como eu era antes de você).


- 27 -<br />

CONTO<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

O último velho<br />

Davi Roballo<br />

Dourados, MS – Brasil<br />

Fim de tarde do dia 16 de dezembro do ano de<br />

2195, últimos minutos de expediente diário de uma<br />

repartição pública, dois bolos decorativos, um com<br />

uma vela de 100 anos e o outro com uma de 120 estão<br />

dispostos em uma mesa. Em volta mais de vinte funcionários<br />

– todos aparentando a mesma idade, embora<br />

as diferenças variem entre 20 e 50 anos —, ouvem as<br />

palavras de um idoso de olhar firme que gesticula<br />

com a mão direita enquanto a esquerda apoia o corpo<br />

em uma bengala.<br />

André Aragão e Silva nasceu no ano de 2075 e<br />

ingressou no serviço público do Ministério da Justiça<br />

no dia em que completara 20 anos. Aragão é uma das<br />

poucas pessoas que se negam a se submeter a tratamentos<br />

à base de hormônios antienvelhecimento, a<br />

transplantes de órgãos mecânicos em substituição aos<br />

biológicos e a periódica reprogramação cerebral imposta<br />

pelo governo, diz que optou por isso por já estar<br />

cansado da vida.<br />

Em sua fala, o funcionário mais longevo do<br />

Ministério da Justiça confirma aos mais jovens aquilo<br />

que nessa data tornou-se um tipo de lenda, pois poucos<br />

acreditam que o mundo já esteve interligado digitalmente,<br />

que existem outros continentes além do<br />

continente americano, continentes que se isolaram<br />

após a 3ª Grande Guerra que destruiu parte da<br />

Europa e da Ásia.<br />

André provoca risos mecânicos quando com<br />

semblante triste conta a todos que seus pais e avós trabalharam<br />

por trinta anos e descansaram o resto de seus<br />

dias recebendo o mesmo salário. Ao contar o que<br />

acontecia antes da falência das previdências mundo à<br />

fora, devido ao aumento da expectativa de vida entre<br />

150 a 200 anos, muitos de seus colegas dizem ser isso<br />

impossível. Os jovens velhos não conseguem imaginar<br />

alguém em casa sem produzir, alguém sentado o<br />

dia inteiro em frente a uma TV, jogando xadrez com<br />

outros amigos idosos em um parque público ou buscando<br />

netos da escola. Cochicham entre eles que o<br />

Aragão tem uma imaginação muito fértil.<br />

Mesmo com conversas paralelas, André prossegue<br />

sua explanação, pois se sente nostálgico e precisa<br />

exteriorizar o que lhe aperta o coração nessa oportunidade<br />

em que completa 100 anos de profissão, sendo<br />

que 70 trabalhando sem férias, descansando apenas<br />

em feriados e fins de semana. Embora para seus<br />

colegas pareça ridículo, conta que nas férias sempre<br />

rumava com a família para as praias do litoral paulista,<br />

no qual se banhava e caminhava nas areias ao amanhecer.<br />

Diz que teve três filhos gerados naturalmente<br />

na barriga de sua esposa e não em úteros sintéticos,<br />

diz com os olhos marejados de lágrimas: meus filhos<br />

dormiam em meus braços, brincavam comigo e minha<br />

esposa, ouviam histórias de nossas bocas, jamais<br />

foram nanados, alimentados e educados por robôs<br />

humanoides. Seus colegas simplesmente acham isso<br />

tudo muito primitivo. Sexo entre dois humanos, um<br />

horror, sentir a temperatura, o hálito e o fluido de outro<br />

corpo, simplesmente nojento. Entendem eles que<br />

os úteros sintéticos e os bonecos sexuais programáveis<br />

visam uma higienização e controle de doenças.<br />

Entre a nova geração do século XXII ter filhos<br />

é procurar uma agência de fertilização e entregar lá<br />

um fio de cabelo ou um pedaço da própria pele e escolher<br />

as características do futuro bebê que será educado<br />

e criado por máquinas.<br />

André é o último velho do continente americano<br />

e por ter se negado até então a reprogramar seu<br />

cérebro e a consumir a comida industrializada distribuída<br />

pelo Estado das Nações Unidas do Sul do<br />

Mundo, foi condenado pela suprema corte a se submeter<br />

às fornalhas de incineração. Nessa oportunidade<br />

está a comunicar seus colegas que esse era seu último<br />

dia no Ministério da Justiça.<br />

As fornalhas foram criadas como local de eliminação<br />

de todas as pessoas consideradas estorvos ao<br />

bom andamento do Estado. Existem em todo o<br />

Continente. Nas Casas Úteros ao nascerem os bebês<br />

passam por uma triagem, na qual são eliminados todos<br />

deficientes físicos e aqueles que exames de retina<br />

e de sangue apontam uma tendência a desenvolver<br />

transtornos mentais. Os chamados refugos ardem nessas<br />

fornalhas onde também são eliminados os quase<br />

inexistentes ladrões, assassinos e estupradores que<br />

são refratários à reprogramação cerebral.<br />

As pessoas que ultrapassam os 150 anos de idade<br />

passam periodicamente por exames que medem seus<br />

desempenhos cognitivos e físicos e aqueles que não<br />

conseguem mais reprogramar e ficam aquém dos índices<br />

dados como suficientes pelo Estado, são encaminhados<br />

às fornalhas, mas não da mesma forma que os<br />

considerados refugos. A eles são reservados rituais de


CONTO<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

POESIA<br />

despedida, pois se dirigem até as fornalhas cumprindo<br />

um rito espiritual e obrigatório como parte de<br />

uma purificação. Segundo o Estado, isso se trata de<br />

uma tradição milenar e fundamentada no sétimo<br />

mandamento do Livro da Iluminação: “Todo ser ao<br />

completar mais de 150 ciclos de vida e não mais corresponder<br />

aos desígnios de produção, traz em si a<br />

mensagem de que cumpriu sua missão e a ele será ofertada<br />

toda glória e galardão dos céus, no qual deverá<br />

juntar-se ao pai de todas as coisas fundindo-se as cinzas<br />

das fornalhas, que representam o início de tudo.<br />

Este privilégio não deverá ser estendido aos sacerdotes<br />

e governantes, esses deverão ser incinerados apenas<br />

depois de mortos, não tendo um limite de idade<br />

para isso, pois a eles deve repousar o fardo e o sacrifício<br />

em comandar e liderar até o último suspiro, por<br />

que assim quer Deus”.<br />

André em suas últimas palavras lembra-se de<br />

seu passado: Sou de uma época em que as pessoas<br />

morriam em casa, nos hospitais, uma época em que<br />

existia amor entre os seres humanos, época em que<br />

não se eliminava os diferentes, como hoje fazem nas<br />

fornalhas. Antigamente, embora não acreditem, pois<br />

são programados para não acreditarem, dávamos muito<br />

valor a vida, pois não nos julgarmos capazes de eliminar<br />

um diferente, tanto que entre nós haviam deficientes<br />

e pessoas centenárias cuidadas pelos mais jovens,<br />

tendo segurado um salário correspondente aos<br />

anos que trabalharam em prol do progresso do<br />

Estado e hoje esse mesmo Estado livra-se daqueles<br />

que não mais possuem condições de produção. Faz isso,<br />

para aliviar o ônus que causam na economia e no<br />

tempo dispendido em ter de cuidá-los.<br />

Depois de uma pequena pausa prossegue: Se<br />

as pessoas das épocas em que vivi fossem trazidas até<br />

aqui, ficariam estarrecidas ao verem as fileiras de pessoas<br />

que se formam ante as fornalhas, para dar fim a<br />

própria vida. Seres humanos que são iludidos por<br />

uma programação cerebral, convictos de que isso se<br />

trata de uma tradição milenar, algo que nunca existiu<br />

a não ser na ideia de quem os controla. Talvez seja eu<br />

o único homem a ser incinerado que sabe ser isso<br />

uma grande mentira. Amanhã entre as primeiras horas<br />

do dia serei incinerado como um refugo, como<br />

um criminoso.<br />

Deixarei de existir e comigo desaparecerá fragmentos<br />

da verdade que todos vocês estão impedidos<br />

de ver. Amanhã será o dia de minha morte, não sei para<br />

onde vai a minha consciência, minha alma, meu espirito,<br />

mas sei que vou feliz, pois eu vivi, eu senti, eu<br />

amei, eu chorei, eu me desesperei, eu me confortei,<br />

eu menti, eu acreditei, eu sorri, eu chorei... sensações<br />

que nunca sentirão verdadeiramente, pois a capacidade<br />

natural em sentir é arrancada de todos vocês todo<br />

dia durante suas refeições...<br />

Apenas<br />

Confesso-te!?...<br />

Cláudio Dortas Araújo<br />

Itabuna, BA – Brasil<br />

Foto: enviada pelo autor.<br />

Não...<br />

Já estou cansado<br />

De professar-te um amor.<br />

Que te parece impossível!<br />

Mas confesso-te nesse instante<br />

É um sentir complicado;<br />

Impossível de ser domado.<br />

E sempre que o silêncio<br />

Envolve esse âmago<br />

Vem forte e profundo<br />

Todas as nossas emoções;<br />

Nossos momentos únicos...<br />

Este amor que sinto avassalador<br />

E inda é pouco o tudo quanto lhe<br />

digo.<br />

Se é para dias,<br />

Semanas,<br />

Meses,<br />

Mesmo anos...<br />

Até o final dos meus dias!<br />

És o Alguém especial<br />

Que sempre busquei...<br />

Você é quem tem<br />

Todos predicados<br />

A percepção que o meu amor<br />

Encontrou a sintonia,<br />

O elo perfeito...<br />

E para sempre o meu amor.<br />

- 28 -


<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

POESIA<br />

Insónia<br />

Djessy Sitoe<br />

Maputo – Moçambique<br />

Amor entre Mãe e Filhos<br />

Viviane Schiller Balau<br />

Porto Alegre, RS – Brasil<br />

Quero sentir,<br />

Que esse sentimento...<br />

De amor entre você<br />

Filho que chorava<br />

E me chamava de mãe,<br />

Que se transformou em sonho<br />

E hoje tudo foi levado ao vento...<br />

Transformando em uma triste lembrança,<br />

De uma fatalidade do destino,<br />

Onde arrancou meu amado filho de mim...<br />

Que levou embora seu sorriso para sempre,<br />

E se calou como uma saudade<br />

De uma partida estúpida deixando marcas<br />

Presentes entre a realidade e o imaginário<br />

De uma mãe que se cala na dor da perda.<br />

Vi o pano preto cobrindo me o caminho<br />

Encolhi-me no meu ninho e chorei no seio<br />

da multidão<br />

Á cada vez que o relógio puhetava-se<br />

O tempo grafitava suas trilhas nas paredes<br />

da minha memória<br />

Não era apenas a amargura e<br />

corrosividade do saber das suas desgraças<br />

Era o acumulo de túmulos silenciosos que<br />

em mim gemiam lágrimas da incerteza<br />

No corredor entre o silêncio e a solidão eu<br />

era voz que bailava nas teias da dor<br />

Excitando canções que faziam dançar<br />

bocas e preenchiam anedotas de<br />

insegurança<br />

Viajei a esperança que conquistei no<br />

silenciar de lágrimas alheias<br />

E conheci o pano negro que molda me o<br />

reflexo<br />

Enxugar-me-ei com o verbo chorar<br />

Chorarei angustiadamente no íntimo do<br />

meu consciente<br />

Atê o despertar do sentido vazio das<br />

lágrimas que dele frutarão<br />

E viverei-no atê o esgotar da atenção a<br />

ela atribuída!<br />

- 29 -<br />

Desventuras Ortográficas<br />

Tim Soares<br />

São Bernardo do Campo, SP – Brasil<br />

O que será dos sujeitos<br />

Se o futuro do pretérito<br />

É mais que imperfeito<br />

O que será dos eus, tus, e eles<br />

Se os artigos são artigos<br />

Em falta nas prateleiras<br />

O que será dos verbos verborrágicos<br />

E dos predicados cada vez mais precários<br />

Dos conjuntos de conjunções<br />

E dos pronomes que dão nome<br />

As propriedades garantidas<br />

Pelo verbo ter<br />

O que será dos substantivos<br />

Agora tão subjetivos<br />

E das metáforas sofrendo<br />

Metamorfoses desvairadas<br />

O que será dos hifens<br />

Que insistem em separar<br />

Dos ditongos, dos tritongos e das oxítonas<br />

Passando por hiatos seculares<br />

E dos plurais que nunca foram tão singulares.


PROJETO<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

Visita ao Curso de Direito da Universidade Federal da Grande Dourados.<br />

O Projeto Juventude sem<br />

Caô é uma iniciativa de alunos da<br />

Escola Estadual Floriano Viegas<br />

Machado na cidade de Dourados,<br />

MS. Coordenado pela Professora bióloga<br />

Bianca Marafiga e pelo Escritor<br />

e Poeta Rogério Fernandes Lemes,<br />

membro da Academia Douradense<br />

de Letras e criador da <strong>Revista</strong><br />

<strong>Criticartes</strong>. Tem por objetivo dar visibilidade<br />

da opinião jovem (lembrando<br />

que jovem é todo aquele que tem<br />

o desejo de ter novas experiências sobre<br />

a vida todos os dias).<br />

O início da história do<br />

Juventude sem Caô foi através de<br />

uma pesquisa nas aulas de ciências<br />

com o tema: Distúrbios Alimentares.<br />

O intuito do trabalho era uma pesquisa<br />

de campo entrevistando pessoas<br />

que tivessem convivido com essa<br />

problemática, de forma direta ou indiretamente.<br />

Em uma dessas entrevistas,<br />

conversamos com o Coronel Carlos<br />

Alberto Peixoto (pai de uma jovem<br />

de dezoito anos que faleceu por conta<br />

de anorexia nervosa). Diante de<br />

seu relato, nos sensibilizamos com a<br />

história e sua extrema vontade de ajudar<br />

o próximo. Com o mesmo objetivo,<br />

decidimos criar um blog que pudesse<br />

auxiliar o maior número de jovens<br />

sobre diversos assuntos relacionados<br />

às questões cotidianas e que fazem<br />

parte da vida de todo e qualquer<br />

ser humano.<br />

O que pretendemos? “Nosso<br />

principal intuito é alcançar o maior<br />

número de jovens de forma positiva e<br />

com pensamento crítico, sobre tudo<br />

o que nos cerca. Pois em um mundo<br />

em que somos taxados de geração<br />

“mimimi” ou de “juventude perdida<br />

e que não quer nada com nada”, queremos<br />

mostrar que podemos ser jovens<br />

atuantes nos mais diversos assuntos,<br />

principalmente, no que diz<br />

respeito às questões sociais nas quais<br />

muitas vezes querem nos deixar de fora,<br />

por aqueles que subestimam nossos<br />

pensamentos e ações. Queremos<br />

e somos pessoas em construção como<br />

todas as outras, e por meio da nossa<br />

voz, das nossas ações e dos nossos<br />

exemplos, demonstrar que somos capazes<br />

de sermos agentes transformadores<br />

de uma sociedade que vem adoecendo<br />

cada vez mais”.<br />

Nosso Legado: “Queremos<br />

- 30 -<br />

ouvir, mas também queremos ser ouvidos.<br />

O respeito mútuo é algo a ser<br />

praticado, queremos cada vez mais<br />

praticar o bem, embasado em nossos<br />

estudos e debates, pois acreditamos<br />

que para discutir um assunto, precisamos<br />

realmente entender sobre o<br />

mesmo. Não queremos ser meros reprodutores<br />

de pensamentos ou expectadores<br />

de nossas vidas, mas sim,<br />

costurar novas formas de pensar.<br />

Acreditamos que muitos jovens que<br />

hoje se calam, não tiveram oportunidades<br />

de se expressar e por meio do<br />

blog Juventude sem Caô, um canal<br />

de apoio, construir suas opiniões.<br />

Queremos e podemos discutir sobre<br />

assuntos ditos de “gente grande”.<br />

Nosso lema é: “por que não”? Por que<br />

não discutir sobre política, aborto, religião,<br />

gêneros e tantos outros?<br />

Gostaríamos de deixar registrado<br />

que nosso intuito são discussões embasadas.<br />

Aqui não tem nada inventado.<br />

Somos seres pensantes em constante<br />

aprimoramento de nossos ideais,<br />

uma vez que não somos adeptos às<br />

liturgias de papagaio. Por que não?<br />

Ações realizadas pelo Juventude sem<br />

Caô: visita ao asilo; entrevista sobre a<br />

bulimia; apresentação sobre assuntos<br />

sociais na escola; Feira Literária:<br />

“Idoso: nossa biblioteca viva”; criação<br />

do blog juventudesemcao.blogspot.com;<br />

reuniões mensais; artigos<br />

publicados na revista <strong>Criticartes</strong>; visita<br />

à aldeia com contação de estórias;<br />

e, visita ao curso de Direito da<br />

Fadir/UFGD.<br />

Abaixo, a logomarca oficial<br />

do projeto, desenvolvida por Rogério<br />

Fernandes Lemes.<br />

2016<br />

MENTES EM EVOLUÇÃO<br />

juventudesemcao.blogspot.com


JUVENTUDE<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

A Pessoa que<br />

te “completa”<br />

Leandra Vitória Costa<br />

Projeto Juventude sem Caô<br />

Dourados, MS – Brasil<br />

“ Não me ofereça todos os planetas, pois<br />

eu gosto mesmo é do encanto das estrelas”<br />

L.V. Você já parou para pensar que<br />

amor demais pode sufocar? Se equilibrarmos<br />

o amor em uma balança chamada<br />

razão versus emoção, conseguiremos manter<br />

a saúde espiritual.<br />

O amor e o exagero estão quase sempre<br />

lado a lado, e a emoção logo toma o lugar<br />

da razão, assim fazendo com que entremos<br />

em uma célula na qual o núcleo é<br />

quem amamos. Movemos mundos e fundos,<br />

oferecendo o universo em prol do<br />

amado (a), vendendo o brilho nos olhos<br />

para comprar quilates de ouro, fazendo<br />

da preocupação, do cuidado, do carinho<br />

uma desesperada obsessão.<br />

Tudo isso induz ao sufocar, a falta de liberdade<br />

e individualidade, levando qualquer<br />

sentimento do outro a perder sua cor, seu<br />

cheiro e até o desejo... O amor... Ah, ele<br />

não se complica, é simples e singelo.<br />

Libertador eu diria.<br />

Deixe de lado os planetas e ofereça as<br />

estrelas, arranque uma flor e tente curar a<br />

dor de quem você ama. Mas também respeite<br />

o espaço do outro, todos nós às<br />

vezes precisamos navegar a sós no nosso<br />

próprio mar de sentimentos.<br />

E como já dizia Ana Carolina, “Amor demais,<br />

sufoca que haja ao menos um minuto<br />

de ausência para sentir saudade”. Eu<br />

quero ser o navegador, aquele que experimenta<br />

navegar sobre o mar, não me ajude.<br />

Apenas me acompanhe.<br />

- 31 -<br />

Karen Letícia Sanches<br />

Projeto Juventude sem Caô<br />

Dourados, MS – Brasil<br />

Sinceramente eu não tenho ideia, mas<br />

sei que fácil não é e que dificilmente (para não<br />

dizer que é impossível) você vai encontrar de<br />

primeira.<br />

Isso porquê erros são necessários para<br />

conseguir acertar, ou seja, possivelmente você<br />

vai se decepcionar muitas vezes, talvez não<br />

muitas, mas algumas. O importante é continuar<br />

tentando e não repetir os erros do passado.<br />

Lembre se que quando encontrar a pessoa<br />

certa todo o esforço vai valer a pena (pelo<br />

menos é nisso em que eu quero acreditar).<br />

Então não tenha medo de tentar ou de se<br />

entregar mesmo se não der certo, aquilo vai te<br />

servir de aprendizado e bagagem para essa<br />

longa viagem, que a vida é.<br />

Por mais estranho que isso soe há uma<br />

grande diferença entre completar alguém e ser<br />

a sua “metade da laranja”. Você não tem que<br />

ser a metade de ninguém, você tem que encontrar<br />

uma pessoa que sendo inteiro se encaixe<br />

perfeitamente em você (nos seus conceitos,<br />

cotidiano, necessidades essas coisas).<br />

Muitas vezes cometemos o erro de pensar<br />

que pelo fato de querermos muito alguém,<br />

esse alguém é a pessoa certa e, às vezes, conseguimos<br />

o que queremos, mas não ficamos<br />

satisfeitos porque não é o que precisamos.<br />

Então sempre esteja com a mente e o<br />

coração abertos (isso não significa que você<br />

tem que deixar qualquer um entrar) tente,<br />

tente quantas vezes for necessário sem medo<br />

ou receio, porque só tentando você vai ter a<br />

chance de acertar.


JUVENTUDE<br />

A Farsa do<br />

Desarmamento<br />

Natanael Almeida<br />

Projeto Juventude sem Caô<br />

Dourados, MS – Brasil<br />

Gostaria de começar falando sobre<br />

uma lei que foi aprovada em 2004: Lei 10.826<br />

de 22 de dezembro de 2003, regulamentada<br />

pelo decreto 5.123 de 1 de julho de 2004 e<br />

publicada no Diário Oficial da União em 2 de<br />

julho de 2004, que dispõe sobre registro, posse e<br />

comercialização de armas de fogo e munição<br />

na época, com o critério de diminuir a violência<br />

no Brasil. O decidido foi restringir e até proibir o<br />

comércio e a posse de arma de fogo.<br />

Doze anos se passaram e o que o governo<br />

disse que mudaria neste cenário no Brasil,<br />

fez foi piorar a situação para o cidadão. Pois<br />

com as propagandas enganosas do governo<br />

para o porte de armas, o cidadão entregou<br />

suas armas acreditando nas mentiras pregadas<br />

pelo governo, e mesmo depois de um referendo<br />

que a população votou em que o direito do<br />

cidadão portar uma arma para sua DEFESA<br />

fosse mantido, o governo enfiou goela a baixo<br />

o tão deplorável estatuto do desarmamento.<br />

Hoje com uma população desarmada e<br />

desprotegida deixada a própria sorte, o Brasil<br />

ganha destaque quando se considera os<br />

assassinatos ao tamanho de nossa população.<br />

Mais de 10% dos assassinatos do mundo foram<br />

registradas no Brasil, o que coloca o país como<br />

o 16º mais violento do planeta.<br />

A taxa Nacional é de 25,2 assassinatos a<br />

cada 100 mil habitantes, número 4 vezes maior<br />

que a média mundial de 6,2/100 mil pessoas.<br />

Pois bem, como já disse, a população ficou<br />

desarmada e desprotegida. O governo não<br />

cumpriu o seu papel de desarmar o criminoso,<br />

pois hoje eles estão muito bem armados e a<br />

população sendo presa fácil a qualquer bandido.<br />

Precisamos mudar essa situação atual,<br />

devolvendo ao cidadão de bem o direito a legítima<br />

defesa, direito esse garantido pela constituição<br />

Brasileira, pois todo cidadão de bem<br />

que queira e esteja apto a portar uma arma<br />

para defesa sua e de sua família deve ter essa<br />

opção garantida.<br />

Um homem mal armado, só pode ser<br />

parado por um homem bem armado, esta é a<br />

regra. O resto é conversa para boi dormir.<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

- 32 -<br />

Eu preciso<br />

te deixar ir<br />

Laura Niz<br />

Projeto Juventude sem Caô<br />

Dourados, MS – Brasil<br />

Eu preciso te deixar ir. Eu sobrevivo de<br />

lembranças. Um abismo de saudade e de questionamentos.<br />

Eu preciso te deixar ir e mandar<br />

junto a bagagem de arrependimentos, porque<br />

você foi tudo quando em mim não havia nada,<br />

e ironicamente foi meu nada depois de me dar<br />

tudo. Não foi ilusão, eu apenas preciso entender<br />

que o tempo passa e as pessoas mudam. Eu<br />

só queria conseguir mudar, conseguir seguir<br />

em frente sem me lembrar de que talvez eu<br />

não tenha sido suficiente para sustentar tudo<br />

até agora.<br />

Eu preciso aceitar que você não faz<br />

parte da minha vida, aceitar que o espaço que<br />

faltava alguém pode completar, mas você é a<br />

tempestade da minha calmaria, o vento que<br />

entra pela janela sem que ninguém tenha<br />

dado permissão. Eu preciso continuar a viver,<br />

reconstruir do zero todo o vazio que você deixou,<br />

tirar a culpa que sinto e aprender que as<br />

vezes quem te ajuda a construir um mundo<br />

acaba sendo a mesma pessoa que testará sua<br />

sobrevivência.<br />

Eu preciso deixar você ir porque agora<br />

tudo o que eu preciso é de alguém que seja<br />

minha âncora, alguém que não mude a cada<br />

estação, alguém que seja mais do que suporte,<br />

me ame e ame estar comigo tornando cada<br />

momento único, um ciclo sem fim.<br />

Um dia serão apenas lembranças, simples<br />

lembranças de quem conseguiu compreender<br />

que deixa ir não é perder um tempo preciso,<br />

uma memória boa que passou, e sim<br />

ganhar experiência para um futuro de um<br />

tempo precioso que você tanto esperou.


JUVENTUDE<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

Bandido Bom é<br />

Bandido Morto<br />

Lucas Oliveira<br />

Projeto Juventude sem Caô<br />

Dourados, MS – Brasil<br />

Feche os olhos,<br />

querida<br />

Victor Vinicius Lima<br />

Projeto Juventude sem Caô<br />

Dourados, MS – Brasil<br />

A forma de punir um criminoso suja<br />

muito mais que o crime, a justiça determina<br />

para onde ele vai, são duas opções, o deixar<br />

livre sem punição para que prossiga sua vida<br />

no crime, ou colocar ele na cadeia, onde se<br />

aprende mais sobre a criminalidade e o<br />

deixa mais "habilidoso".<br />

Estamos em uma situação difícil,<br />

como se já não bastasse a falta de justiça na<br />

sociedade, temos agora os "justiceiros". No<br />

qual não sabem o significado de justiça, pois<br />

espancar torturar e até matar não é Justiça.<br />

Os “justiceiros’’ punem com a morte,<br />

ou com a tortura alguém que cometeu um<br />

crime, mas a partir do momento em que eles<br />

espancam um criminoso eles automaticamente<br />

se tornam um”. São hipócritas, aqueles<br />

que abominam a criminalidade e para<br />

curar a sociedade do crime cometem um.<br />

Precisamos de uma reforma nos conceitos<br />

de justiça nessa sociedade, ou talvez<br />

só precisasse de mais leitura. Pois se alguém<br />

acha justo torturar ou matar alguém por<br />

outro crime. Então deve olhar para os seus<br />

princípios e seus ideais, pois se suas raízes vos<br />

da essa visão de justiça é melhor rever seus<br />

ideais e olhar para si mesmo para ver se não<br />

é um criminoso (de acordo com seu pensamento).<br />

Pois planejar a morte de alguém ou<br />

desejar a morte de pessoas é uma conspiração.<br />

Formar grupos com esse pensamento,<br />

e seguir para o ato de se dar o poder de<br />

fazer "justiça", e fazer a "justiça" também o<br />

transforma em um colaborador. E ser colaborador<br />

o torna um cúmplice, o cúmplice<br />

também é um criminoso.<br />

Então, agora que você está no lugar<br />

da vítima reveja seus conceitos. Pois a única<br />

forma de se ter piedade, é se colocando no<br />

lugar de quem está sendo alvo daqueles<br />

que não há tem.<br />

- 33 -<br />

- Feche os olhos, querida. Adormeça. Deus nem o<br />

diabo querem que você veja.<br />

- Feche os olhos, querida. Está tarde! Talvez você<br />

possa presenciar seu milagre.<br />

- Feche os olhos, querida. Por favor! Ninguém no<br />

mundo deve sentir esta dor.<br />

- Feche os olhos, querida. Já está a sangrar. Não<br />

quero ver você chorar!<br />

- Feche os olhos, querida. Imagine. Lembre mentalmente<br />

o que sua mãe lhe disse.<br />

- Feche os olhos, querida. Sonhe com o seu filho.<br />

Que infelizmente está no mesmo recinto.<br />

- Feche os olhos, querida. Faça uma oração. Você<br />

vai ver no mundo tamanha união.<br />

- Feche os olhos, querida. Não se engane. Talvez o<br />

efeito passe e você ainda levante.<br />

- Feche os olhos, querida. A inocência acordava. E<br />

no outro quarto seu filho chorava.<br />

- Feche os olhos, querida. Vão te machucar. Eles já<br />

haviam terminado o que iria chocar, mais do que o<br />

ato de matar.<br />

- Abra os olhos, querida. E no lençol veja o sangue.<br />

Ela parou para processar ainda confusa, o que acontecia<br />

em um instante.<br />

- Conte comigo, querida. Basta notar. O olhar dos<br />

trinta e três a te perfurar.<br />

- Não entre em pânico, querida. Só não peço para<br />

ficar feliz. Talvez este machucado não se cure com<br />

uma cicatriz.<br />

- Não chore, querida. Não se julgue. O mundo vai<br />

fazer isso por você, não se preocupe.<br />

- Se levante, querida. Comece a correr. As risadas<br />

em coro perfuravam sua alma, mas o amor por seu<br />

filho a impedia de desistir de viver.<br />

- Não olhe para trás, querida. Continue a correr. Só<br />

que desta vez peço, talvez como um daqueles conselhos<br />

aconchegantes de amiga.<br />

- Não feche os olhos, querida. Uma garota. Trinta e<br />

três homens. Estupro. Um vídeo.<br />

E muitos ainda têm a audácia de dizer, que a culpa é<br />

da vítima.


POESIA<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

Antônio Amaro Alves<br />

Ipatinga, MG - Brasil<br />

Vamos jogar<br />

conversa fora,<br />

falar do<br />

que tá dentro<br />

e o que<br />

vem no vento<br />

desdenhar e<br />

gargalhar<br />

vamos falar<br />

de coisa boa<br />

tentar decifrar<br />

as coisas que<br />

achamos atoa<br />

mas vamos<br />

conversar numa<br />

boa.<br />

Sem projetos,<br />

vamos falar de<br />

assuntos<br />

desconexos<br />

do conversor,<br />

olhando pelo<br />

retrovisor.<br />

Vamos falar<br />

de amor,<br />

falar com malícia<br />

de comida,<br />

humm... delícia,<br />

esquecer as<br />

milicias que<br />

apavoram e nos<br />

esfriam<br />

a alma.<br />

Vamos falar<br />

com calma.<br />

- 34 -<br />

Jakson Aguirre da Silva<br />

Rondonópolis, MT - Brasil<br />

Flor do campo, beleza ímpar,<br />

chamativas cores,<br />

abelhas e beija-flores enamoram,<br />

roubam o néctar,<br />

Levam seu perfume, no ar exala, no<br />

tempo fica,<br />

Belas vestimentas, tão simples, tão<br />

belas,<br />

Curvo-me em reverência a sua<br />

beleza.<br />

Nasceu do nada, nem nome tem,<br />

Não tem procedência, para se<br />

orgulhar,<br />

Flor do campo, que enche os meus<br />

olhos,<br />

Que enche meu ser, com seu existir<br />

Prova que pra ser bela não precisa ter<br />

um nome,<br />

Uma tradição ou nascer no jardim,<br />

És flor do campo, nasceu entre as<br />

pedras,<br />

Cresceu entre absinto sofreu com a<br />

seca,<br />

Mas sobreviveu e hoje enche-me a<br />

alma<br />

Com seu existir<br />

Chorume do lixo, foi o teu alimento<br />

Cresceu sem esperança, sem razão<br />

de existir,<br />

Sem cuidado.


- 35 -<br />

POESIA<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

Cada um<br />

na sua<br />

Elia Macedo<br />

Canavieiras- BA – Brasil<br />

Chamou Jesus a praticar<br />

Praticar o exercício do amor<br />

Amor a Deus a ao próximo<br />

Próximo que Deus criou.<br />

Criou o homem simples<br />

Simples e ignorante<br />

Ignorante, mas aprendeu<br />

Aprendeu a amar a si mesmo.<br />

Mesmo ainda tropeçando<br />

Tropeçando vou seguindo<br />

Seguindo o mestre do amor<br />

Amor que alimenta a vida.<br />

Vida abundante vou ter<br />

Ter, se eu quiser seguir<br />

Seguir o que Ele pregou<br />

Pregou o amor e perdão.<br />

Perdão é esquecimento<br />

Esquecimento do mal<br />

Mal que um dia recebi<br />

Recebi e não vou praticar.<br />

Leomária Mendes Sobrinho<br />

Salvador, BA – Brasil<br />

Se faltam lâmpadas nos postes<br />

Que iluminam a rua<br />

Fazemos reclamações aos órgãos competentes.<br />

Fica cada um na sua.<br />

Se a violência aumenta na cidade<br />

Tem polícia, tem ronda, tem lei.<br />

Somente na hora da calamidade<br />

Cadê todo mundo? Eu é que não sei.<br />

Se cobramos saúde na política<br />

Estão construindo hospitais<br />

Sem médicos, UTIs e na logística<br />

Estão sempre faltando materiais.<br />

Na educação, há uma completa confusão.<br />

Escolas e recursos abundantes<br />

Fazem com que todos os estudantes<br />

Cheguem a nenhuma conclusão.<br />

É tanto emprego sobrando,<br />

Que até os salários estão tirando.<br />

E os funcionários deixando<br />

De trabalhar, só reivindicando.<br />

Para o país e seu presidente.<br />

Na política há eleição.<br />

A campanha deverá ser pertinente<br />

Entre o voto e a corrupção.


POESIA<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

Ana Aguire<br />

Pedro Juan Caballero - Paraguai<br />

Cidinei Nunes da Silva<br />

Passo Fundo, RS – Brasil<br />

No puedo dejar volar<br />

Los recuerdos que dejaron en mi,<br />

Mis amores pasados.<br />

Tampoco dejare de temblar y latir<br />

Mi corazon aunque pasen los años,<br />

Tirar los petalos de flores<br />

Que aun lo tengo entre las paginas<br />

De libros que aun me falta leer,<br />

Entre tantos poemas de amor<br />

Guardadas en hojas<br />

Amarillentas por el tiempo,<br />

Las ilusiones, tiempos pasados pero<br />

No olvidados, los besos tiernos<br />

Izados al viento,<br />

Algunas lágrimas de dolor y de alegrías.<br />

No puedo dejar volar lo aprendido<br />

De esos momentos de amor,<br />

Si fueron o no correspondido no importa<br />

Porque allí fue que empecé a conocer<br />

Que hay amores que no son para este mundo.<br />

Y que aparecen otros sueños,<br />

Otra ilusion y que se puede<br />

Volver amar sin ninguna presión<br />

Con el corazón limpio de temores<br />

Sin acechanza del olvido<br />

Movido por la comprensión,<br />

Alejados de la mentiras piadosas<br />

Que son peores de las mentiras grandes,<br />

Total no hay grandes ni pequeñas,<br />

Mentiras al fin.<br />

Guardo las mejores sonrisas,<br />

De las tantas alegrías,<br />

Las miradas que enamoran,<br />

Y que son las que llenan el alma.<br />

No necesito que mi corazón se renueve<br />

Para hacer que mi corazón vuelva a fluir<br />

Un nuevo deseo, para poder contener un nuevo amor,<br />

La esperanza, de poder mirar los ojos<br />

De otro ser y verme en el poder reir<br />

En un unisono eco de rizas,<br />

Podre pasar por una desilución<br />

O una frustración una y otra vez,<br />

Pero siempre estaré buscando esa ansiada felicidad,<br />

Deseo que mi corazon este lleno siempre<br />

De amor para seguir amando sin pesar.<br />

- 36 -<br />

Na pulsão de amar<br />

Não conseguimos racionalizar<br />

Esse sentimento tão nobre<br />

Simples e complexo<br />

Que requer um pouco só de afeto<br />

Brota de um olhar<br />

de um sorriso<br />

E nesse desejo de te tocar<br />

Que me dá sentido a vida<br />

A vida vivida nesse pulsar.<br />

Sueli Aquino<br />

Cuiabá, MT – Brasil<br />

Mãos do homem através da história.<br />

Mãos nem sempre humanas.<br />

Modificando a Flora e a Fauna.<br />

Mudando os caminhos da natureza.<br />

Retorna esse toque humano a<br />

natureza.<br />

Devolvendo com se ego de realeza.<br />

Na sua resposta as consequências.<br />

Consequências nem sempre cheias<br />

de beleza.<br />

Assim a humanidade suaviza o<br />

toque.<br />

Muda o rumo do enredo.<br />

Preservar a natureza.<br />

Transformando a Terra em beleza.


PERU<br />

<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />

UNIÓN MUNDIAL DE POETAS<br />

POR LA VIDA POETAS UNIVA<br />

VIII FESTIVAL MUNDIAL DE ECOPOESIA<br />

“Sembrando letras verdes por la vida”<br />

ECOPOESIA<br />

Información general: “Hace 8 años iniciamos este<br />

gran camino literario en defensa de la vida<br />

construyendo un sendero de palabras que<br />

anualmente renovamos y fortalecemos con la<br />

esperanza de cubrir de verdor el corazón de toda la<br />

humanidad, te extendemos nuestra cordial invitación<br />

para que junto a nosotros seas un obrero más en la<br />

consolidación de este gran sueño”.<br />

Lugar: El festival se desarrolla del 17 al 21 de agosto<br />

del 2016 en la ciudad de Tumbes, ubicada al norte<br />

del Perú, frontera con Ecuador. Se realizan visitas a diversas<br />

localidades de zona rural y de frontera y una<br />

presentación en una ciudad de Ecuador.<br />

Actividades: Lectura de poesía, conferencias, presentación<br />

de libros y números artísticos: danza, música,<br />

pintura, visita a ecosistemas naturales, plantación<br />

de árboles, etc. Los poetas recibirán reconocimientos<br />

en las localidades visitadas.<br />

Sólo ecopoesia: La lectura es sólo de ECOPOESIA y podrán<br />

hacerlo en diversos escenarios, también pueden<br />

leer narraciones breves (cuentos, fábulas…)<br />

Deben remitir 3 (tres) ecopoemas, una breve reseña<br />

biográfica y fotografía para difundir su participación<br />

a través de nuestro Facebook y medios de comunicación<br />

regional.<br />

Presentación audiovisual: Habrá una jornada de ecopoesia<br />

audiovisual y presentación de ponencias, para<br />

lo cual contarán con 05 (cinco) minutos para ecopoesia<br />

y 10 (diez) para ponencias. En total (Hay un límite<br />

para 10 exposiciones en esta modalidad, teniendo<br />

preferencia los primeros en comunicar su participación.<br />

El último día para confirmar la participación es el<br />

31 de julio.<br />

Aporte solidario: Este aporte es para brindarte mejores<br />

atenciones debido a que el apoyo que recibimos<br />

de las instituciones locales es muy limitado.<br />

Extranjeros: $ 100.00 (cien dólares USA) Nacionales S/.<br />

200,00 (Doscientos soles). Con ello se cubre el alojamiento,<br />

alimentación y movilidad a los diversos escenarios<br />

durante los días que dura el festival.<br />

Alojamiento: Hotel del centro de la ciudad, en habitación<br />

compartida (desde el 17 hasta el 21 medio<br />

día) Alimentación: A partir de cena del día 17 hasta almuerzo<br />

del día 21.<br />

Inauguración: Miércoles 17 de agosto a partir de las<br />

3,00 de la tarde, con la realización de un pasacalle<br />

por calles céntricas de la ciudad. La ceremonia protocolar<br />

y de presentación de los poetas será en el auditorio<br />

“Javier Pérez de Cuellar” de la Municipalidad<br />

Provincial de Tumbes. Pueden traer bandera de su país,<br />

ciudad, organización cultural o literaria.<br />

Información adicional: Los participantes podrán traer<br />

distintivos de su lugar de procedencia como bande-<br />

- 37 -<br />

ras, banderines, pancartas u otros para exhibir en el<br />

pasacalle inaugural y en los diversos escenarios donde<br />

se desarrolla el evento. Deberán traer ropa sencilla,<br />

el clima es semi tropical, fresco en la noche.<br />

Deberán traer zapatillas y vestimenta adecuada para<br />

visitar zonas rurales y de litoral (manglares).<br />

Comunicaciones: Cel. 972621318 – RPM # 0362416 –<br />

Domicilio 072-521147.<br />

Correos electrónicos:<br />

poetasuniva@gmail.com<br />

fhugonp@yahoo.com<br />

wilma1752@yahoo.com<br />

Información: F. Hugo Noblecilla P. (Presidente de POETAS<br />

UNIVA) - Tumbes - Perú


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ISSN 2525285-2<br />

9 772525 285002

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