Revista Criticartes 4 Ed
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<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />
CONTO<br />
O Melhor Roubo<br />
da História<br />
Isloany Machado<br />
Campo Grande, MS – Brasil<br />
Eu não tenho vergonha, nem medo de<br />
dizer que fui ladrão. E, antes que alguém me julgue<br />
e condene, vou contar minha história. Não<br />
pense que delinearei aqui uma triste história de<br />
um pobre coitado que teve de roubar para viver,<br />
ou para dar leite aos filhos. Nada disso. A verdade<br />
é que eu iniciei minha carreira roubando chocolates<br />
no supermercado, ainda criança. Com o<br />
tempo fui desenvolvendo técnicas e minha mão<br />
tornava-se cada dia mais leve. Tinha tantos chocolates,<br />
não é possível que sentiriam a falta de<br />
unzinho na barriguinha de um menininho.<br />
Quando já estava profissional decidi que<br />
roubaria bolsas, estava me graduando para um<br />
dia fazer um grande roubo, como desses de filmes,<br />
em algum banco. Já havia roubado três bolsas,<br />
mas não havia conseguido muita coisa de<br />
valor. Na primeira delas havia uma quantidade<br />
de dinheiro razoável; na segunda, alguns pacotes<br />
de chicletes; na terceira havia vários batons,<br />
que dei para minha mãe. Mesmo sendo profissional,<br />
a atuação com o roubo de bolsas não foi<br />
tranquilo, dizem que mesmo os grandes atores<br />
ou palestrantes famosos, sentem frio na barriga<br />
a cada atuação. E eu não era diferente. Quando<br />
me arrisquei à quarta atuação com bolsas foi<br />
que aconteceu a grande virada em minha história.<br />
Eu atuava de bicicleta, pois precisava<br />
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ganhar distância muito rapidamente. Um dia,<br />
no entardecer fiquei amoitado em uma rua com<br />
menos movimento. De repente surgiu uma<br />
moça de uns 25 anos aproximadamente com<br />
uma bolsa enorme e brilhante. Mascava chicletes<br />
e andava tranquilamente pela rua.<br />
Aproximei-me dela pelas costas e, ao chegar<br />
perto puxei a bolsa sem pedir autorização. Tive<br />
que pensar rápido, pois era bela e temi que, ao<br />
manter qualquer tipo de diálogo com ela, desistisse<br />
da ação. Todo profissional tem lá suas técnicas<br />
de trabalho. Puxei a bolsa sem nem olhar<br />
direito pra ela e voei rua afora. Já perto de casa e<br />
em segurança abri a bolsa.<br />
Na carteira havia uma mísera moeda de<br />
cinco centavos. Seu documento de identidade<br />
confirmou o cálculo que fiz da idade com uma<br />
pequena margem de erro: 27 anos. Uma cartela<br />
de anticoncepcional pela metade; algumas<br />
balas sete belo; dois batons: rosa e vermelho;<br />
uma escova de dentes; uma barrinha de chocolate;<br />
uma maçã, um sal de frutas, um espelho e<br />
outras coisas que já não me lembro. Mas o que<br />
havia de mais importante eu ainda não disse e<br />
fico emocionado só de lembrar. Dentro daquela<br />
bolsa havia um livro.<br />
Depois de vasculhar a bolsa e recolher o<br />
que não me interessava dentro dela de novo, no<br />
dia seguinte procurei um terreno baldio e