Revista Criticartes 4 Ed
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CONTO<br />
<strong>Revista</strong> <strong>Criticartes</strong> | 3º Trimestre de 2016 / Ano I - nº. 04<br />
POESIA<br />
despedida, pois se dirigem até as fornalhas cumprindo<br />
um rito espiritual e obrigatório como parte de<br />
uma purificação. Segundo o Estado, isso se trata de<br />
uma tradição milenar e fundamentada no sétimo<br />
mandamento do Livro da Iluminação: “Todo ser ao<br />
completar mais de 150 ciclos de vida e não mais corresponder<br />
aos desígnios de produção, traz em si a<br />
mensagem de que cumpriu sua missão e a ele será ofertada<br />
toda glória e galardão dos céus, no qual deverá<br />
juntar-se ao pai de todas as coisas fundindo-se as cinzas<br />
das fornalhas, que representam o início de tudo.<br />
Este privilégio não deverá ser estendido aos sacerdotes<br />
e governantes, esses deverão ser incinerados apenas<br />
depois de mortos, não tendo um limite de idade<br />
para isso, pois a eles deve repousar o fardo e o sacrifício<br />
em comandar e liderar até o último suspiro, por<br />
que assim quer Deus”.<br />
André em suas últimas palavras lembra-se de<br />
seu passado: Sou de uma época em que as pessoas<br />
morriam em casa, nos hospitais, uma época em que<br />
existia amor entre os seres humanos, época em que<br />
não se eliminava os diferentes, como hoje fazem nas<br />
fornalhas. Antigamente, embora não acreditem, pois<br />
são programados para não acreditarem, dávamos muito<br />
valor a vida, pois não nos julgarmos capazes de eliminar<br />
um diferente, tanto que entre nós haviam deficientes<br />
e pessoas centenárias cuidadas pelos mais jovens,<br />
tendo segurado um salário correspondente aos<br />
anos que trabalharam em prol do progresso do<br />
Estado e hoje esse mesmo Estado livra-se daqueles<br />
que não mais possuem condições de produção. Faz isso,<br />
para aliviar o ônus que causam na economia e no<br />
tempo dispendido em ter de cuidá-los.<br />
Depois de uma pequena pausa prossegue: Se<br />
as pessoas das épocas em que vivi fossem trazidas até<br />
aqui, ficariam estarrecidas ao verem as fileiras de pessoas<br />
que se formam ante as fornalhas, para dar fim a<br />
própria vida. Seres humanos que são iludidos por<br />
uma programação cerebral, convictos de que isso se<br />
trata de uma tradição milenar, algo que nunca existiu<br />
a não ser na ideia de quem os controla. Talvez seja eu<br />
o único homem a ser incinerado que sabe ser isso<br />
uma grande mentira. Amanhã entre as primeiras horas<br />
do dia serei incinerado como um refugo, como<br />
um criminoso.<br />
Deixarei de existir e comigo desaparecerá fragmentos<br />
da verdade que todos vocês estão impedidos<br />
de ver. Amanhã será o dia de minha morte, não sei para<br />
onde vai a minha consciência, minha alma, meu espirito,<br />
mas sei que vou feliz, pois eu vivi, eu senti, eu<br />
amei, eu chorei, eu me desesperei, eu me confortei,<br />
eu menti, eu acreditei, eu sorri, eu chorei... sensações<br />
que nunca sentirão verdadeiramente, pois a capacidade<br />
natural em sentir é arrancada de todos vocês todo<br />
dia durante suas refeições...<br />
Apenas<br />
Confesso-te!?...<br />
Cláudio Dortas Araújo<br />
Itabuna, BA – Brasil<br />
Foto: enviada pelo autor.<br />
Não...<br />
Já estou cansado<br />
De professar-te um amor.<br />
Que te parece impossível!<br />
Mas confesso-te nesse instante<br />
É um sentir complicado;<br />
Impossível de ser domado.<br />
E sempre que o silêncio<br />
Envolve esse âmago<br />
Vem forte e profundo<br />
Todas as nossas emoções;<br />
Nossos momentos únicos...<br />
Este amor que sinto avassalador<br />
E inda é pouco o tudo quanto lhe<br />
digo.<br />
Se é para dias,<br />
Semanas,<br />
Meses,<br />
Mesmo anos...<br />
Até o final dos meus dias!<br />
És o Alguém especial<br />
Que sempre busquei...<br />
Você é quem tem<br />
Todos predicados<br />
A percepção que o meu amor<br />
Encontrou a sintonia,<br />
O elo perfeito...<br />
E para sempre o meu amor.<br />
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