ARRASA QUARTEIRÃO - Revista Filme Cultura - via: Ed. Alápis
Filme Cultura é uma realização viabilizada pela parceria entre o Centro Técnico Audiovisual – CTAv/SAV/MinC e a Associação Amigos do Centro Técnico Audiovisual – AmiCTAv. Este projeto tem o patrocínio da Petrobras e utiliza os incentivos da Lei 8.313/91 (Lei Rouanet).
Filme Cultura é uma realização viabilizada pela
parceria entre o Centro Técnico Audiovisual – CTAv/SAV/MinC
e a Associação Amigos do Centro Técnico Audiovisual – AmiCTAv.
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Sonia Braga virou ícone do erotismo soft, uma alternativa às pornochanchadas para o público<br />
bem-pensante. A dama do lotação, de Neville d’Almeida, teve um público de 6,5 milhões (ver<br />
páginas 62 a 65) e Eu te amo (Arnaldo Jabor, 1981) atraiu 3,4 milhões. O fenômeno Eu te amo<br />
foi cuidadosamente preparado desde o elenco (com Vera Fischer e Tarcísio Meira vindos do<br />
firmamento global) até o lançamento numa raríssima emenda da Semana Santa com o feriado<br />
de Tiradentes. La Braga apareceu na finalíssima da Taça Brasil de futebol e lançou uma grife<br />
com o título do filme, que pretendia vestir as mulheres dos pés à cabeça e à bolsa.<br />
Em fins de 1977, dois filmes abririam uma nova vertente de sucesso no período mais eufórico<br />
do cinema brasileiro moderno. Barra pesada, de Reginaldo Faria, e Lúcio Flávio, o passageiro<br />
da agonia, de Hector Babenco, levavam a violência urbana e a corrupção policial para as telas<br />
com nível técnico invejável e contundência inaudita. O primeiro fez 1,3 milhão de espectadores,<br />
enquanto o segundo atingia a marca de 5,4 milhões. Fatos verídicos e linguagem de filme policial<br />
saciavam a fome de verdade de larga faixa de público diante de temas como o Esquadrão da<br />
Morte e a corrupção na polícia. Lúcio Flávio estreou em 85 cinemas de São Paulo e, meses depois,<br />
em 65 salas do Rio, fazendo até programa duplo com fitas de kung-fu. Um splash total.<br />
O policial-social teria prosseguimento com os êxitos de Amor bandido (Bruno Barreto, 1978,<br />
1,2 milhão), O caso Cláudia (Miguel Borges, 1979, 2,2 milhões) e Pixote (1980, 2,5 milhões).<br />
Essas obras repercutiam com força no meio social. Como anotou Bernardet num artigo, eram<br />
comentadas “nas universidades, nas filas de ônibus e até entre cineastas”. A percepção do<br />
cinema brasileiro pelo grande público começava a mudar para melhor. Ha<strong>via</strong> algo além de<br />
erotismo vulgar, pouca ação, estética defasada e técnica precária.<br />
As grandes bilheterias desse período áureo, só comparável ao das chanchadas, eram compostas<br />
não só de herdeiros do nacional-popular, como O cortiço (Francisco Ramalho Jr., 1978, 2,1 milhões)<br />
e Bye bye Brasil (Diegues, 1980, 1,5 milhão). Os números mais expressivos pertenciam aos filmes<br />
de temática sertaneja, às comédias de Mazzaroppi e dos Trapalhões, e às pornochanchadas,<br />
fomentadas por grupos de exibidores que formavam companhias produtoras para preencher<br />
as cotas de tela. Mesmo assim, fica clara a curva do nacional-popular em direção ao mercado,<br />
sintetizada na célebre afirmação de Gustavo Dahl, em 1977, de que “mercado é cultura”.<br />
Os anos 1980 assistiriam a uma reversão drástica desse quadro, em função de uma série de<br />
fatores. A competição com o vídeo doméstico e a televisão reduziu a frequência às salas;<br />
as distribuidoras americanas reforçaram seus arsenais a partir da nova onda de filmes com efeitos<br />
especiais; cinemas foram fechados em massa com o acirramento da crise econômica no país;<br />
as estratégias da Embrafilme começaram a ser fortemente questionadas; e até mesmo o sucesso<br />
comercial passou a ser visto como uma deformação, uma rendição da arte ao comércio.<br />
Acervo Funarte<br />
O total de espectadores dos filmes brasileiros caiu de 61 milhões em 1978 para menos de 24<br />
milhões em 1988. Estava pavimentado o caminho para a extinção da Embrafilme e a quase<br />
completa supressão do cinema no país durante o governo Collor.<br />
carmattos@filmecultura.org.br<br />
filmecultura 52 | outubro 2010