ARRASA QUARTEIRÃO - Revista Filme Cultura - via: Ed. Alápis
Filme Cultura é uma realização viabilizada pela parceria entre o Centro Técnico Audiovisual – CTAv/SAV/MinC e a Associação Amigos do Centro Técnico Audiovisual – AmiCTAv. Este projeto tem o patrocínio da Petrobras e utiliza os incentivos da Lei 8.313/91 (Lei Rouanet).
Filme Cultura é uma realização viabilizada pela
parceria entre o Centro Técnico Audiovisual – CTAv/SAV/MinC
e a Associação Amigos do Centro Técnico Audiovisual – AmiCTAv.
Este projeto tem o patrocínio da Petrobras e utiliza os incentivos da Lei 8.313/91 (Lei Rouanet).
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Tubarão<br />
ver-se na tela de seus cinemas, reencontrar-se, decifrar-se.<br />
A imagem que surge é a imagem do mito de Narciso, que,<br />
vendo seu reflexo nas águas, descobre sua identidade.<br />
A ligação entre uma tela de cinema – na qual é projetada<br />
uma luz, que se reflete sobre o rosto do espectador –<br />
à idéia de espelho, espelho das águas, espelho de uma<br />
nacionalidade, é uma idéia que está implícita num conceito<br />
de cinema nacional.<br />
Quando Carlos Diegues vai ver Xica da Silva num cinema<br />
da Zona Norte do Rio – a zona proletária – repleto, e a<br />
sessão que presencia lhe dá a impressão de uma “festa<br />
bárbara”, neste momento se rompe a barreira entre consumo<br />
e cultura. O que passa a existir é uma cerimônia<br />
antropológica. O lazer amalgamado à informação cultural<br />
decorrente da produção industrial. O cinema reencontra<br />
afinal, na sociedade, a posição que ha<strong>via</strong> perdido.<br />
Hoje em dia, vemos países que já tiveram uma grande<br />
produção cultural, como a Alemanha, debatendo-se, não<br />
sem certo desespero, para restaurar o seu cinema.<br />
No Brasil, praticamente é como se não tivéssemos acendido<br />
a chama olímpica do cinema nacional, que nesse<br />
momento ameaça transformar-se num grande incêndio.<br />
Para que o país tenha um cinema que fale a sua língua<br />
é indispensável que ele conheça o terreno onde essa<br />
linguagem vai-se exercitar. Esse terreno é realmente o<br />
seu mercado. Nesse sentido explícito, é válido dizer que<br />
“mercado é cuItura”, ou seja, que o mercado cinematográfico<br />
brasileiro é, objetivamente, a forma mais simples<br />
da cultura cinematográfica brasileira.<br />
O consumo é uma experiência de fruição. A cultura é uma<br />
reflexão, é a fruição da reflexão. Num certo sentido, essa<br />
mistura tenta criar a coincidência que existe nos grandes<br />
momentos do cinema, aqueles momentos em que, segundo<br />
Salles Gomes, o espectador tem vontade de, “existindo<br />
ou não Deus, sair pela rua gritando que ele (o homem) foi<br />
feito a sua imagem e semelhança”.<br />
A originalidade do trabalho da Embrafilme e a grande demonstração<br />
de visão dada pelo Ministério da <strong>Ed</strong>ucação e<br />
<strong>Cultura</strong>, sobretudo nesses últimos anos – não oferecendo<br />
privilégios à expressão industrial, em detrimento da expressão<br />
cultural, nem favorecendo o inverso –, foi deixar que<br />
ambas se casassem.<br />
Canto da saudade, de Humberto Mauro<br />
68<br />
filmecultura 52 | outubro 2010