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ARRASA QUARTEIRÃO - Revista Filme Cultura - via: Ed. Alápis

Filme Cultura é uma realização viabilizada pela parceria entre o Centro Técnico Audiovisual – CTAv/SAV/MinC e a Associação Amigos do Centro Técnico Audiovisual – AmiCTAv. Este projeto tem o patrocínio da Petrobras e utiliza os incentivos da Lei 8.313/91 (Lei Rouanet).

Filme Cultura é uma realização viabilizada pela
parceria entre o Centro Técnico Audiovisual – CTAv/SAV/MinC
e a Associação Amigos do Centro Técnico Audiovisual – AmiCTAv.
Este projeto tem o patrocínio da Petrobras e utiliza os incentivos da Lei 8.313/91 (Lei Rouanet).

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universal, inclusive nas religiões, cuja função social é tornar a vida possível, suportável.<br />

Com todo o respeito. O mesmo pode ser dito dos mecanismos de identificação que os<br />

filmes despertam. Identificação é a palavra-chave da relação com o público. Por um<br />

momento, eu sou o outro e minha vida é, pelo menos, diferente. Talvez melhor. Este é<br />

o serviço a ser prestado, vendido ou não, para o público. Com ou sem relação mercantil,<br />

há sempre uma troca. Não está excluída a possibilidade de o destino mais nobre do<br />

cinema ser a higiene mental da população. Mais qualidade de vida, simples assim.<br />

A característica mais inesperada dos cinemas nacionais, aqueles que não são Hollywood,<br />

é a capacidade de competir em pé de igualdade com os grandes sucessos multinacionais<br />

dentro de seus próprios mercados internos. Um teatro de operações em que David e Golias<br />

se equiparam. Há guerras em que grandes potências militares (França e EUA no Vietnã, URSS<br />

e EUA no Afeganistão, EUA e aliados no Iraque), apesar de infinitamente superiores como<br />

tropas e armamento, não derrotam a população local. <strong>Filme</strong>s brasileiros que entre produção<br />

e lançamento podem custar dezenas de vezes menos que os blockbusters americanos obtém<br />

resultados semelhantes internamente. Só um fenômeno pode explicá-lo: empatia.<br />

Quase amor. Por mais que a internet globalize e o inglês se torne a língua geral planetária<br />

(cem milhões de crianças chinesas estudam inglês e a Índia é bilinguamente anglófona),<br />

xingar em sua própria língua é diferente. Bem como o são os mais variados códigos de<br />

comportamento que constituem o ethos nacional. Paulo Emilio – sempre ele – sustentava<br />

que só se entende um cinema do qual se fala a língua. E constatava que era preciso conhecer<br />

sueco para apreciar finuras do uso da voz que Bergman, homem também de teatro, arrancava<br />

de seus intérpretes. Dizia que a gente sabe o jeito com que o brasileiro cospe: de frente,<br />

de lado, de esguicho... Belo exemplo. Não é só Humberto Mauro que ao entoar seu canto tem<br />

saudades do Brasil. Entre o purgatório certo e o paraíso possível, há uma visão de nação que<br />

só é atingida pelo cinema brasileiro. Mas também, mudando o que deve ser mudado, pelo<br />

argentino. E o francês, filipino, russo, chinês, australiano, espanhol, iraniano, indiano, japonês,<br />

peruano, italiano, nigeriano, egípcio e por aí afora. Inclusive e sobretudo o americano.<br />

É a cultura, à qual o filme pertence. Por isso é que o pior filme brasileiro nos diz mais respeito<br />

que o melhor filme estrangeiro. Nosso melhor não será melhor que outro, mas o será de uma<br />

forma diferente por que nada nele nos será indiferente. Ninguém pode ser sem pertencer.<br />

Quem segue o cinema brasileiro, pelo menos uma vez na vida, já teve esta sensação de sair<br />

da projeção de alma lavada e se disse: este cinema é meu.<br />

Gustavo Dahl Diretor da <strong>Filme</strong> <strong>Cultura</strong> e Gerente do CTAv

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