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ANISTIA INTERNACIONAL

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Os esforços impressionantes da Alemanha<br />

para abrigar e processar os pedidos de<br />

refúgio de quase um milhão de pessoas que<br />

chegaram ao país no ano anterior foram,<br />

talvez, a única resposta positiva de um<br />

governo à “crise de refugiados” na Europa.<br />

No geral, foram os cidadãos comuns que<br />

demonstraram a solidariedade que faltou a<br />

seus líderes. Em diversos centros de<br />

recepção em toda a Europa, dezenas de<br />

milhares de pessoas mostraram, sem cansar,<br />

que havia outro lado no debate tóxico sobre a<br />

migração, recebendo e apoiando pessoas<br />

refugiadas e migrantes.<br />

SEGURANÇA E COMBATE AO<br />

TERRORISMO<br />

Mais de cem pessoas foram mortas e muitas<br />

outras ficaram feridas em ataques violentos<br />

na França, Bélgica e Alemanha. Essas<br />

pessoas foram baleadas por homens<br />

armados, morreram em explosões em<br />

ataques suicidas e foram deliberadamente<br />

atropeladas quando andavam pelas ruas.<br />

Proteger o direito à vida e permitir que as<br />

pessoas vivam, circulem e pensem com<br />

liberdade se tornou uma preocupação cada<br />

vez maior para os governos em toda a<br />

Europa. No entanto, muitos responderam ao<br />

desafio de manter essas liberdades<br />

fundamentais com medidas de combate ao<br />

terrorismo, que enfraqueceram os direitos<br />

humanos e os próprios valores que estavam<br />

sendo atacados.<br />

No ano de 2016 testemunhou-se uma<br />

profunda mudança de paradigma: do ponto<br />

de vista que defende ser papel dos governos<br />

garantir a segurança para que as pessoas<br />

possam aproveitar seus direitos para o ponto<br />

de vista segundo o qual os governos devem<br />

restringir os direitos das pessoas para poder<br />

garantir a segurança. O resultado tem sido<br />

uma redefinição perigosa dos limites entre os<br />

poderes do estado e os direitos dos<br />

indivíduos.<br />

Um dos acontecimentos mais alarmantes<br />

foi o esforço dos estados para facilitar o<br />

decreto e a prorrogação de um “estado de<br />

emergência”. A Hungria liderou o caminho<br />

com a adoção de uma legislação que prevê a<br />

anulação dos poderes executivos em caso de<br />

declaração de emergência, incluindo a<br />

proibição de assembleias públicas, restrições<br />

rigorosas à liberdade de ir e vir e o<br />

congelamento de bens sem controle jurídico.<br />

O Parlamento búlgaro aprovou um conjunto<br />

de medidas parecido na primeira votação,<br />

em julho. Em dezembro, a França prorrogou<br />

pela quinta vez o estado de emergência<br />

imposto após os ataques de novembro de<br />

2015. Os poderes de emergência foram<br />

ampliados significativamente na prorrogação<br />

de julho, que reintroduziu as buscas<br />

domiciliares sem aprovação prévia do<br />

judiciário (um poder que tinha sido revogado<br />

na prorrogação anterior) e novos poderes<br />

para proibir eventos públicos por motivos de<br />

segurança pública, que foram usados,<br />

diversas vezes, para proibir protestos. Os<br />

números liberados pelo governo em<br />

dezembro de 2016 indicaram que, desde<br />

novembro de 2015, foram realizadas 4.292<br />

buscas domiciliares e 612 pessoas tinham<br />

sido condenadas à prisão domiciliar,<br />

aumentando as preocupações com o uso<br />

desproporcional dos poderes de emergência.<br />

As medidas, antes vistas como<br />

excepcionais, foram incorporadas à<br />

legislação criminal comum em vários países<br />

da Europa. Estão inclusas as prorrogações do<br />

período de detenção anterior à acusação<br />

para suspeitos de crimes relacionados a<br />

terrorismo na Eslováquia e Polônia e uma<br />

proposta de fazer o mesmo, para todas as<br />

acusações, na Bélgica. Nos Países Baixos e<br />

na Bulgária, foram feitas propostas no<br />

Parlamento para introduzir medidas de<br />

controle administrativo para restringir a<br />

liberdade de circulação das pessoas sem<br />

autorização judicial prévia. A França e o<br />

Reino Unido foram pioneiros nesses<br />

controles, em alguns casos chegando à<br />

prisão domiciliar. Eles eram impostos com<br />

base em arquivos secretos de segurança,<br />

fazendo com que os afetados não pudessem<br />

contestar as medidas com eficácia, o que<br />

prejudicou suas vidas e famílias.<br />

Centenas de pessoas foram processadas<br />

criminalmente, em violação ao direito à<br />

liberdade de expressão, por crimes como<br />

44 Anistia Internacional Informe 2016/17

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