REVISTA-BICICLETA-EDICAO-DIGITAL-03
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Por exemplo, no Joshua Tree, se tem<br />
informações, técnicos (especialistas) e<br />
livros voltados para o deserto e a evolução<br />
dos ambientes ao longo do tempo. No<br />
Parque Yellowstone cada núcleo tem<br />
uma vocação própria, o Mammoth é mais<br />
voltado para fauna e história do parque e<br />
o Old Faithfull é voltado para a geologia.<br />
No Canadá, essa identidade não é tão<br />
marcante e nos parques brasileiros que<br />
conheci, também não.<br />
T Das unidades de conservação que você<br />
veio a conhecer até agora, qual delas você<br />
destacaria positivamente no tocante à<br />
relação com as comunidades do entorno?<br />
Que políticas encontrou que tenham como<br />
objetivo formar o sujeito ecológico e qual<br />
o contributo delas para a conservação da<br />
biodiversidade vegetal, especificamente?<br />
J Nos Estados Unidos e Canadá, as<br />
unidades de conservação formam<br />
importantes polos turísticos. No geral,<br />
as comunidades do entorno têm uma<br />
porcentagem relevante da economia<br />
diretamente ligada aos parques.<br />
O trabalho voluntário é também uma via<br />
de mão dupla. Os parques dependem<br />
de voluntários para trabalhos diversos e<br />
os voluntários, por sua vez, são agentes<br />
importantes na disseminação do respeito<br />
e cultura dentro dos parques. Conheci um<br />
voluntário no Glaciar National Park que<br />
trabalha há 27 verões no parque! Essa<br />
conexão não é nada desprezível.<br />
A disseminação da cultura de preservação<br />
é feita pessoa a pessoa e exige muito amor<br />
e entendimento sobre a importância das<br />
áreas protegidas. O sujeito ecológico não<br />
se forma de um dia para o outro, em uma<br />
única visita. É feito em cada contato. Os<br />
parques nacionais dos Estados Unidos,<br />
durante a temporada, têm uma extensa<br />
lista de atividades para todos os públicos e<br />
todos, sem exceção, possuem um auditório<br />
ao ar livre onde palestras são ministradas<br />
pelos guarda-parques (que também são<br />
pesquisadores). Uma noite, assisti uma<br />
das palestras no Yellowstone sobre a<br />
história da reintrodução e monitoramento<br />
das matilhas de lobos dentro do parque.<br />
No final, enquanto conversava com a<br />
guarda parque (que é bióloga e especialista<br />
em canídeos), vi várias pessoas enxugando<br />
as lágrimas, de emoção.<br />
O maior exemplo, na minha opinião,<br />
é o Yellowstone. Os conflitos com a<br />
comunidade do entorno (uma área também<br />
chamada de Grande Yellowstone) são<br />
tão intensos e envolvem tantas questões<br />
culturais, políticas, religiosas e econômicas<br />
que historicamente atraiu muitos<br />
pesquisadores. O volume e qualidade das<br />
pesquisas surtiram efeitos benéficos para<br />
todos. Hoje, duas grandes instituições de<br />
pesquisa, a Greater Yellowstone Coalition<br />
e a Yellowstone Association Institute,<br />
promovem e organizam pesquisa e cursos<br />
dentro e sobre o parque.<br />
Os conflitos existem, mas o conhecimento<br />
traz maturidade e, no caso do Yellowstone,<br />
todos os atores já se conhecem e estão<br />
habituados a isso, daí a tarefa de se<br />
sentar e pensar em soluções de maneira<br />
democrática é mais tranquila.<br />
T Dos locais por onde cruzou,<br />
Juliana, onde você percebeu que as<br />
problemáticas sociais graves impactam<br />
mais negativamente a conservação dos<br />
ecossistemas não-urbanos? <br />
80 <strong>REVISTA</strong> <strong>BICICLETA</strong>