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local de estudo e de diversão, fotos de pratos,<br />
lugares, objetos, roupas... tudo é registrado<br />
como um acontecimento daquele momento,<br />
do presente, afinal o que mais interessa nessa<br />
onda de velocidade e globalização o que está<br />
acontecendo agora.<br />
Fontcuberta indica as características da pósfotografia:<br />
o artista não produz obras, mas<br />
sentidos pelas imagens. A autoria está além<br />
da criação em si, mas envolve outras pessoas<br />
que colaboram para apresentar visualmente<br />
um discurso, tomando decisões que afetam<br />
diretamente a obra; a imagem é recriada em<br />
função de diversos aplicativos como Prisma,<br />
Foodie e Snapseed, entre outros. A circulação<br />
das imagens se dá pela rede, ficando acima da<br />
reprodução em papel. Além da originalidade<br />
há também a apropriação de elementos e<br />
práticas nas atuais obras criadas;<br />
coautoria, criação colaborativa e<br />
interatividade reforçam o nono<br />
modo de conceber e produzir<br />
imagens. A esfera público e a<br />
esfera privada são fotografadas<br />
de igual modo. “Em 1888, George<br />
Eastman cunhou aquele slogan<br />
popular que levou a Kodak para<br />
o topo da indústria fotográfica (“Você aperta o<br />
botão, nós fazemos o resto!”); hoje nos damos<br />
conta de que o importante não é quem aperta<br />
o botão e sim quem faz todo o resto: quem põe<br />
o conceito e gere a vida da imagem”, afirma<br />
Fontcuberta.<br />
“O artista não<br />
produz obras, mas<br />
sentidos pelas<br />
imagens”<br />
- Fontcuberta<br />
expressão do termo pós-verdade, Fontcuberta<br />
(2012) afirma no livro A Câmera de Pandora:<br />
a fotografi@ depois da fotografia que “no ápice<br />
dessa onipresença a imagem estabelece novas<br />
regras com o real. Hoje tirar uma foto já não<br />
implica tanto um registro de um acontecimento<br />
quanto uma parte substancial do acontecimento<br />
em si. Acontecimento e registro fotográfico se<br />
fundem”. Lembrando que o processo fotográfico<br />
é uma sucessão de escolhas de elementos técnicos,<br />
elementos culturais e estéticos, assim a prática<br />
fotográfica passa pelo conhecimento e emoção,<br />
já que somos o encontro de vários discursos,<br />
científicos, religiosos, filosóficos, entre outros.<br />
E entre os temas que frequentemente são muito<br />
produzidos e publicados estão os autorretratos<br />
e os retratos, já aclamados pelo termo selfie,<br />
dispostos incessantemente, com a grande<br />
ruptura do retrato do século XIX<br />
em que as pessoas faziam apenas<br />
um ou poucos retratos durante<br />
a vida, estes agora mudam<br />
sempre, de local, de momento,<br />
de roupa, de pose. “Os retratos,<br />
e, sobretudo, os autorretratos,<br />
se multiplicam e se colocam na<br />
rede, expressando um duplo<br />
impulso narcisista e exibicionista que também<br />
tende a dissolver a membrana entre o privado e<br />
o público”, comenta Fontcuberta. Estes retratos<br />
inclusive são retocados pelas possibilidades<br />
digitais oferecidas, seja pelos filtros, molduras,<br />
ajustes, entre as ferramentas disponíveis.<br />
Mosaico criado no PhotoCollage com imagens<br />
criadas no Prisma, Julianna Torezani, 2016.<br />
Na pós-fotografia a imagem está circulando<br />
na rede e se apresenta de forma algorítmica,<br />
obedecendo às estruturas de disposição pelas<br />
plataformas criadas pelas empresas como<br />
Facebook, Instagram, Google e Twitter. A<br />
rede de difusão torna a imagem imediata e<br />
global e a visualização é interativa, haja vista<br />
os emojis para caracterizar as sensações que<br />
a cena provoca, ou expressões como “Curtir”,<br />
Comentar e Compartilhar”. Ao referenciar esta<br />
Pós-verdade e pós-fotografia são termos criados<br />
para definir essas questões atuais no processo<br />
de criação de textos e imagens. A partir das<br />
mudanças nos suportes veio a mudança no<br />
conteúdo surgindo novos regimes visuais.<br />
Com isso, a política, a sociedade, a economia, a<br />
religião, a imprensa deve buscar novos caminhos<br />
para restaurar a credibilidade e a legitimação dos<br />
discursos. Tudo está em fluxo, até as “verdades”.<br />
Imagem criada no MomentCam, Julianna Torezani,<br />
2016.<br />
¹Professora dos cursos de Fotografia e Jogos Digitais da UNICAP. Doutoranda em Comunicação pela<br />
UFPE. Mestre em Cultura e Turismo e Bacharel em Comunicação Social pela UESC. E-mail: juliannatorezani@yahoo.com.br.<br />
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