UnicaPhoto-Edicao13
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www.unicap.br/unicaphoto<br />
REVISTA DO CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM FOTOGRAFIA DA UNICAP<br />
#13 • AGOSTO DE 2019
EXPEDIENTE<br />
COORDENAÇÃO<br />
Renata Victor<br />
EDIÇÃO<br />
Carolina Monteiro e Filipe Falcão<br />
COMISSÃO EDITORIAL<br />
Carolina Monteiro<br />
PROGRAMAÇÃO VISUAL<br />
Jota Bosco<br />
DIAGRAMAÇÃO<br />
Jota Bosco<br />
TEXTOS E FOTOS<br />
André Antônio Barbosa, Filipe Falcão, Julianna Nascimento Torezani, Alice<br />
Brooks, Quel Valentim, Carol Monteiro, Mirandolina de Araújo Mouthuy,<br />
Gisely Tavares de Melo, João Guilherme de Melo Peixoto, Rafael Aguiar,<br />
Ricardo Marcelino e Renata Victor<br />
FOTO DA CAPA<br />
Renata Victor<br />
FOTO DA CONTRACAPA<br />
Renata Victor<br />
Escaneie o código QR abaixo, através de<br />
aplicativo no smartphone, e acesse todas<br />
as edições da revista na internet<br />
A <strong>UnicaPhoto</strong> é uma publicação semestral do Curso Superior de Tecnologia<br />
em Fotografia da Universidade Católica de Pernambuco. (ISSN 2357 8793)<br />
2
EDITORIAL<br />
Chegamos à 13ª edição da Unicaphoto, revista que foi<br />
pensada para incentivar a produção acadêmica e artística<br />
dos alunos do curso de Fotografia da Unicap.<br />
Nesses seis anos de existência, testemunhamos a<br />
criação e a formação de quatro turmas da especialização “As<br />
Narrativas Contemporâneas da Fotografia e do Audiovisual”,<br />
de cinco turmas do curso de extensão “Ganhando Asas através<br />
da Comunicação e da Arte” e quatro edições da “Gincana<br />
do Saber Fotográfico”; a consolidação dos sete anos do Prêmio<br />
Alcir Lacerda e do Fotovídeo; 20 cursos de extensão; 3 grupos<br />
de estudos; e a realização de várias exposições e atividades<br />
de Interdisciplinaridade e transversalidade. Acreditamos que<br />
essas iniciativas incrementam a formação dos nossos alunos,<br />
ao inseri-los num universo mais amplo e rico do que o da sala<br />
de aula. Esse resultado corresponde ao esforço contínuo de<br />
ofertar o melhor no ensino, pesquisa e extensão. Para isso<br />
contamos com um corpo docente com vasta experiência acadêmica,<br />
mas também no mercado, com a infraestrutura e com<br />
o corpo de funcionários da universidade que têm feito com<br />
que os nossos alunos se dediquem à iniciação científica e se<br />
destaquem no cenário universitário nacional, com a obtenção<br />
de 10 prêmios conferidos pela Sociedade Brasileira de Estudos<br />
Interdisciplinares da Comunicação.<br />
extensão. Temos como missão a valorização e o fortalecimento<br />
da fotografia e a formação de egressos com<br />
iniciativas empreendedoras, inovadoras, críticas e que<br />
revelem compromissos éticos e sociais.<br />
Ressalto, entretanto, que a nota 5 não nos faz acomodar,<br />
muito pelo contrário, nos impulsiona para novos<br />
desafios.<br />
E, para coroar essa retrospectiva, temos a satisfação de anunciar<br />
que pela segunda vez obtivemos a nota máxima na avaliação<br />
do Curso Superior de Tecnologia em Fotografia, pelo<br />
MEC. Nesses quase dez anos de curso, já passamos por três<br />
avaliações - em 2012, quando só tínhamos formado apenas<br />
uma turma, recebemos nota 3; em 2015, recebemos 5, a nota<br />
máxima; e agora, em agosto de 2019, repetimos a nota. Para<br />
nós, esse novo 5 é ainda mais especial, porque o instrumento<br />
de avaliação do MEC foi atualizado em 2018, e conseguimos<br />
reafirmar que temos um curso de excelência. Seja na metodologia<br />
antiga, seja na atual, atendemos às 3 dimensões (Organização<br />
Didático-Pedagógica, Corpo Docente e Tutorial e Infraestrutura)<br />
e os 33 indicadores. Esse resultado corresponde<br />
ao esforço contínuo de ofertar o melhor no ensino, pesquisa e<br />
Na oportunidade, agradeço à querida aluna Alícia Cohim<br />
que assinou a diagramação das três últimas edições<br />
e dou as boas-vindas ao designer Jota Bosco, que<br />
nos presenteia com um novo projeto gráfico.<br />
Sem mais delongas, convido os leitores para uma edição<br />
riquíssima em ensaios e textos de professores, alunos,<br />
ex-alunos e colaboradores.<br />
Renata Victor<br />
Coordenadora do Curso<br />
Superior de Tecnologia<br />
em Fotografia da Unicap<br />
3
SUMÁRIO<br />
PAG. 03<br />
Editorial<br />
PAG. 08<br />
Entrevista<br />
PAG. 24<br />
Cinema experimental brasileiro<br />
contemporâneo: Lucas Ferraço Nassif<br />
PAG. 40<br />
Novos modos de produção de imagem:<br />
Feed e Stories do Instagram<br />
PAG. 48<br />
A experimentação do corpo<br />
feminino na natureza<br />
PAG. 60<br />
O mundo hípico<br />
PAG. 68<br />
Imaculados<br />
PAG. 80<br />
Paraty e Ilha Grande são<br />
Patrimônio Mundial da Unesco<br />
PAG. 06<br />
Aconteceu<br />
PAG. 12<br />
Ano 33<br />
PAG. 28<br />
Reflexos sobre<br />
o Sertão<br />
PAG. 46<br />
Autorretrato, autoconhecimento<br />
e crescimento<br />
PAG. 56<br />
Você sabe o que é<br />
deepfake?<br />
PAG. 64<br />
Ensaio - Donostia<br />
PAG. 76<br />
Manipulação de imagens<br />
sem photoshop. E pode?!!<br />
PAG. 88<br />
Curso de Fotografia - conceito 5 pela 2ª vez
ACONTECEU<br />
JANEIRO<br />
28/01 - Formandos 2019.1 do Curso Superior de Tecnologia<br />
em Fotografia colaram grau no Teatro Guararapes.<br />
A aluna Natália Albuquerque foi a laureada da<br />
turma.<br />
MARÇO<br />
14/03 – Chá com fotografia recebeu o projeto Outras Leituras,<br />
com a participação de Ivan Alecrim, Mitsy Queiroz<br />
e Társio Alves.<br />
FEVEREIRO<br />
12/02 – Na abertura do semestre letivo, o curso de<br />
Fotografia recebeu as fotógrafas da Exposição “Outra<br />
Leitura”. O aluno Felipe Correia mostrou o trabalho,<br />
Derrubando Muros, Construindo Pontes – A Imersão na<br />
Fotografia Social.<br />
ABRIL<br />
25/04 – O curso recebeu os fotógrafos Roberta Guimarães,<br />
Ana Araújo, Luciana Dantas e Heudes Régis para<br />
uma palestra sobre Fotografia e Cultura de Raiz, parte do<br />
evento Abril Pras Artes na Unicap.<br />
17/02 – Realização da exposição “Na terra pra servir”,<br />
realizada em parceria com a Fundação Terra e com o<br />
coletivo f8 sobre o trabalho realizado pela fundação em<br />
Arcoverde.<br />
MAIO<br />
18/05 – Realização da 4ª Gincana do Saber Fotográfico,<br />
com a participação dos professores e alunos do curso.<br />
Foi uma manhã divertida, com muita troca de conhecimento<br />
e interação.<br />
6
11/05 - Os alunos do primeiro módulo do Curso de Fotografia<br />
e os alunos de Arquitetura, que pagam a disciplina<br />
de Introdução a Fotografia com a professora Renata Victor,<br />
visitaram o Forte de Tamandaré a convite de Lizete<br />
Maioli, da Secretaria de Turismo.<br />
JULHO<br />
29/07 – Realização do curso de extensão “Tecnologia audiovisual<br />
e seus usos em ambientes de ensino e aprendizagem”,<br />
com Mariana Porto<br />
JUNHO<br />
25/06 - Gabriel Santana e Quel Valentim venceram o<br />
prêmio Expocom nas categorias Vídeoclipe e Direção de<br />
Fotografia, respectivamente. Os alunos foram orientados<br />
pelos professores Filipe Falcão e Aline Grego, nas<br />
disciplinas de “Captura de vídeo em HDSLR e edição” e<br />
“Método e técnica de pesquisa em comunicação”.<br />
AGOSTO<br />
09/08 – Aula<br />
inaugural da<br />
quarta turma da<br />
Especialização “As<br />
Narrativas<br />
Contemporâneas<br />
da Fotografia e do<br />
Audiovisual”, com<br />
a professora e crítica fotográfica Simonetta Persichetti.<br />
08/08 – Dinâmica com o psicopedagogo Abel Sotero<br />
sobre sociologia e relações pessoais<br />
7
ENTREVISTA<br />
“Equipamentos podem ser<br />
importantes, mas conceitos<br />
são fundamentais”<br />
José Afonso Jr.<br />
Professor Doutor PPGCOM - DCOM -<br />
UFPE, Jornalista, Fotógrafo, Pesquisador<br />
QUEM É VOCÊ?<br />
Me considero um observador, meio andarilho, meio colecionador.<br />
Totalmente envolvido pela fotografia, praticando<br />
e pesquisando. Como pesquisador, talvez fotografando<br />
menos do que gostaria, e como fotógrafo, pesquisando<br />
menos do que necessário. Acho que procuro praticar a teoria<br />
da fotografia e imagem e teorizar a prática de quem<br />
faz um trabalho diferencial, sensível, tocante.<br />
QUAL SUA RELAÇÃO COM A FOTOGRAFIA?<br />
É trabalho, é forma de entender o mundo, as pessoas as<br />
relações, a passagem do tempo, entender a fotografia<br />
como uma arma contra o desaparecimento das coisas, o<br />
apagamento da memória. É também elemento de identidade<br />
do que faço, do que penso e do que sou. Houve<br />
época em que tentei me livrar dessa ligação de paixão<br />
com a fotografia, fazer outra coisa, mas não deu!<br />
VOCÊ SOFREU INFLUÊNCIA DE ALGUM FOTÓGRAFO?<br />
Como referência, primeiro a escola francesa. Cartier-<br />
-Bresson, Doisneau, Edouard Boubat, pela elaboração e<br />
controle da luz, composição e olhar sobre o cotidiano. Ou-<br />
tros fotógrafos como Robert Capa, Eugene Smith, Robert<br />
Frank também fizeram minha cabeça pela pegada humanista.<br />
Admiro também Annie Leibovitz, Maureen Bisiliat,<br />
Claudia Andujar, Rosangela Renó, Francesca Woodman,<br />
a Cristina Garcia Rodero. Dos Brasileiros, Tiago Santana,<br />
Sebastião Salgado, Cristiano Mascaro e Claudio Edinger.<br />
Atualmente, tenho gostado muito da documentação urbana<br />
de Robert Polidori e Andreas Gurski.<br />
UMA EMOÇÃO?<br />
A primeira vez que vi uma imagem surgindo na revelação<br />
em preto e branco. Ainda hoje é algo maravilhoso de se<br />
ver, em meio a luz vermelha, o papel fotográfico mostrando<br />
a imagem lentamente. Incrível. Outra: ver alunos que<br />
ensinei e foram pelo caminho da fotografia estarem trabalhando,<br />
ou na prática profissional ou no ensino. É algo<br />
impagável.<br />
VOCÊ VÊ DIFERENÇA ENTRE A FOTOGRAFIA DOS OUTROS ESTADOS EM<br />
RELAÇÃO COM A PRODUZIDA EM PERNAMBUCO?<br />
A fotografia contemporânea é muito homogeneizada, se<br />
fotografa muito de modo parecido, nos assuntos e abor-<br />
8
9
dagens. Penso que a fotografia de Pernambuco consegue<br />
escapar um pouco disso pelo vínculo forte com as<br />
tradições e culturas enraizadas e o interesse em que<br />
isso demanda para ser registrado. É um traço forte de<br />
apelo documental. Na verdade, um sintoma positivo,<br />
creio. Que nos singulariza, mas que não define totalmente.<br />
Há outras alternativas e perspectivas interessantes<br />
sendo exploradas, principalmente por fotógrafos<br />
mais novos que convergem a fotografia com a<br />
experimentação plástica e artística.<br />
David, João Castilho, Gilvan Barreto, Nadav Kander, Yeda<br />
Bezerra de Melo, Hélia Scheppa e Alcione Ferreira, me<br />
impressionam pelo olhar ao mesmo tempo atento e delicado.<br />
O QUE SIGNIFICA PARA VOCÊ RECEBER O PRÊMIO ALCIR LACERDA?<br />
Uma alegria, um privilégio e uma honra. Receber um prémio<br />
que leva o nome de um homem digno, um fotógrafo<br />
que era uma enciclopédia de conhecimento, que tinha<br />
um coração imenso de menino e uma generosidade in-<br />
PRETO E BRANCO OU COR?<br />
Os dois. Mas é importante sempre voltar a praticar o<br />
preto e branco, de vez em quando, para educar o olhar<br />
para a luz.<br />
ANALÓGICO OU DIGITAL?<br />
Os dois. Se misturar um com outro, melhor ainda!<br />
A TECNOLOGIA APRESENTADA PELOS EQUIPAMENTOS FOTOGRÁFICOS<br />
DIGITAIS APROXIMOU OS FOTÓGRAFOS PARA A PRODUÇÃO AUDIOVISUAL.<br />
QUAL É A SUA AVALIAÇÃO SOBRE TAL SITUAÇÃO?<br />
Isso não é novo. Desde os anos 1930 já se explorava<br />
esse convergência. Cartier-Bresson e Robert Frank<br />
também fizeram cinema e Robert Capa flertou com o<br />
cinema documental. Creio que agora é diferente pelo<br />
fato das gramáticas e códigos da imagem estática e em<br />
movimento serem mais interdependentes, por estarem<br />
sendo operadas por uma geração que já nasceu<br />
no digital e vê essa sobreposição de modo mais natural.<br />
Não acho, contudo, que é somente pelos equipamentos<br />
digitais assimilarem essa convergência. Com o<br />
desenvolvimento tecnológico, de certo modo, isso seria<br />
inevitável. Se as narrativas estão surgindo com essa<br />
tendência é pelo fato de culturalmente e socialmente,<br />
foto e vídeo estarem mais próximos do que nunca.<br />
UMA SAUDADE?<br />
Várias! Da expectativa de esperar o resultado da foto<br />
na revelação, do cheiro do laboratório fotoquímico,<br />
da cor incomparável nos filmes de cromo, das câmeras<br />
que podiam funcionar sem bateria e, sobretudo,<br />
de uma fotografia que podia ser feita com mais reflexão,<br />
numa relação menos imediatista e apressada, de<br />
modo mais delicado ao lidar com o tempo das coisas.<br />
ALGUM FOTÓGRAFO DA NOVA GERAÇÃO LHE IMPRESSIONA?<br />
Gosto e acompanho o trabalho dos brasileiros Pedro<br />
10
comparável, é algo que reverbera dentro de mim. Receber<br />
esse prêmio no ano em que a fotografia completa 180<br />
anos de invenção, de ser dado por um Curso de Fotografia<br />
importante e reconhecido, com bons professores e boa<br />
estrutura, também reforça a importância desse acontecimento<br />
na minha vida e percurso. Prosseguindo, o fato de<br />
eu ser um professor e pesquisador é algo simbólico que<br />
me alegra muito, em um momento de obscurantismo, o<br />
prêmio é também para todos aqueles que se dedicam ao<br />
ensino e ao conhecimento da imagem, dos que jogam luz<br />
sobre as sombras, exatamente como a fotografia faz.<br />
UM CONSELHO PARA OS QUE ESTÃO INICIANDO NA FOTOGRAFIA?<br />
Um bom livro de história da arte, um bom livro de história<br />
da fotografia. Muito museu, livrarias, bons sites, galerias<br />
de arte e fotografia. Viajar, conversar, ir a festivais, aprender,<br />
e praticar. No mínimo, 50 fotos por dia. Só depois,<br />
pense em comprar uma câmera. Equipamentos podem<br />
ser importantes, mas conceitos são fundamentais.<br />
Fotos:<br />
Renata Victor<br />
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ENSAIO<br />
ano 33<br />
Resumidamente, o Ano 33 consiste em<br />
oferecer ao observador a experiência<br />
de imergir através da imagem no ano da<br />
morte e ressurreição de Cristo<br />
Fotos:<br />
Sérgio Maranhão
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REPORTAGEM<br />
Cinema experimental<br />
brasileiro contemporâneo:<br />
Lucas Ferraço Nassif<br />
Texto:<br />
André Antônio Barbosa<br />
Nos últimos anos, o cinema brasileiro se fortaleceu<br />
não só como economia mas também como<br />
produção estética cuja qualidade o coloca em<br />
pé de igualdade com obras de todas as partes<br />
do mundo, seja em mostras internacionais, seja estreando<br />
nas programações de cinema de diversos países. Esse<br />
quadro, agora, é posto em risco com o desmonte operado<br />
pelo governo atual. No entanto, aqui, queremos falar de<br />
um outro cinema, que sempre existiu às margens. Pois,<br />
por mais que o cinema brasileiro fortalecido nos últimos<br />
tempos integre o circuito arthouse, trata-se de filmes que<br />
não quebram sua filiação à tradição oitocentista do naturalismo:<br />
personagens com profundidade psicológica, narrativas<br />
com arco, causas e consequências, encenações que<br />
se pretendem “representações” de coisas que existem “no<br />
mundo real”. Sem visibilidade e, na maioria das vezes, sem<br />
suporte financeiro, o cinema experimental busca explorar<br />
outras potências da imagem em movimento, inventando<br />
jogos inéditos de sensorialidade e fruição do suporte.<br />
Um dos nomes que mais tem se destacado nesse sentido é<br />
o do cineasta carioca Lucas Ferraço Nassif. Munido apenas<br />
de uma câmera Canon DSLR e do apoio de amigos que,<br />
enquanto performers espontâneos, se dispõem a estar na<br />
frente dessa câmera, Nassif tem desenvolvido uma estética<br />
que poderia ser definida como “formalismo millennial”.<br />
Isto é: o trabalho com elementos estéticos afetivamente caros<br />
à geração millennial (todo um repertório musical, toda<br />
uma indulgência em atmosferas de melancolia juvenil) mas<br />
retirados das fórmulas cansadas do realismo e do naturalismo<br />
e tensionados ao máximo, no limite da abstração.<br />
Sua obra mais conhecida foi o longa Being Boring (2015),<br />
exibido na Mostra de Tiradentes (MG) e na Semana dos<br />
Realizadores (RJ) - porém sempre fora das competições<br />
principais. A sessão do filme em Tiradentes, por exemplo,<br />
ocorreu à meia-noite e parte da plateia, já munida de long<br />
necks nas mãos, começou a dançar ao invés de simplesmente<br />
ficar sentada assistindo 1 . Um dos traços do cinema<br />
experimental desde sempre foi estimular outras formas de<br />
espectatorialidade, outras formas de se relacionar com as<br />
projeções. Por exemplo, os filmes de Andy Warhol - um dos<br />
nomes mais fortes do cinema experimental até hoje - podiam<br />
ser exibidos em salas de cinema, bem como projeta-<br />
1. Ver: http://revistacinetica.com.br/home/being-boring-de-lucas-ferraco-nassif-brasil-2015/?utm_source=rss&utm_<br />
medium=rss&utm_campaign=being-boring-de-lucas-ferraco-nassif-brasil-2015<br />
24
dos durante os concertos da banda Velvet Underground,<br />
sem qualquer prejuízo para a compreensão da “história”<br />
dos filmes. É que esses filmes nunca se propuseram a contar<br />
história nenhuma para início de conversa.<br />
Aqui, vamos nos debruçar sobre um trabalho menos conhecido:<br />
o longa Eu Sou Lana Del Rey (2016), fruto de uma<br />
parceria entre Nassif, que assina a direção e a montagem<br />
do filme, e o artista (carioca mas residente em Nova Iorque)<br />
Bráulio Cruz, que escreveu o roteiro e atua como<br />
protagonista. Trata-se de um artefato tão singular dentro<br />
da produção audiovisual brasileira recente que é preciso<br />
ter cuidado para não o esmagar, fraturando-o em mil pedaços<br />
incompreendidos, com as formas correntes de que<br />
normalmente dispomos para enxergar um filme no Brasil.<br />
No dispositivo de encenação de Eu Sou Lana Del Rey, Bráulio,<br />
em Nova Iorque, senta na frente de sua webcam enquanto<br />
Lucas, no Rio e conectado a Bráulio, filma a tela do próprio<br />
computador. Como resultado, o universo visual do filme é<br />
constituído pela textura de baixíssima definição das vídeo-<br />
-chamadas digitais e pela predominância do magenta, que<br />
cria uma paleta de cores talvez involuntária, mas que acaba<br />
por dialogar com o imaginário cheio de flores decadentes<br />
que Lana Del Rey, cujas músicas permeiam o filme inteiro,<br />
constrói através de seus videoclipes, capas de disco e concertos<br />
ao vivo. Ao mesmo tempo, é quase sempre possível<br />
ver o frágil reflexo de Lucas, de câmera na mão, na tela do<br />
seu próprio computador. Diversas vezes Bráulio interage e<br />
se dirige a Lucas, que em troca dá algum direcionamento<br />
para a sequência a que assistimos.<br />
A baixa definição de imagem, o quase monocromatismo,<br />
o som falho e por demais “eletrônico” advindo dos alto-<br />
-falantes do computador de Lucas, o tédio das sequências<br />
longuíssimas são claras escolhas estéticas que criam um<br />
universo único, a saber: não o da dificuldade experimental<br />
de uma obra de vanguarda, mas o da melancolia fantasmática<br />
das conversas digitais a longa distância, e o prazer<br />
lânguido de se perder nas madrugadas frias das confissões<br />
patéticas que às vezes temos coragem de fazer diante de<br />
uma webcam. Eu Sou Lana Del Rey parece indulgentemente<br />
retirar um prazer secreto dessa situação de distancia eletrônica<br />
e anseio na solidão, como se ela fosse o portal para<br />
um modo de ser próprio, um ethos notavelmente queer e<br />
masoquista. Para embalar essa tristeza inútil e efeminada,<br />
não seriam possíveis outras músicas que não as de Lana<br />
Del Rey, o guilty pleasure pop que teve a coragem de ja-<br />
Gold Marilyn Monroe<br />
(Andy Warhol, 1962)<br />
mais cantar algo alegre (nenhuma nota sequer) e que a<br />
cada disco cria uma sonoridade mais lenta, mais circular<br />
e mais repetitiva: o demônio-da-guarda das bichas tristes.<br />
Na primeira sequência de Eu Sou Lana Del Rey, enquanto escuta<br />
“Don’t Let Me Be Misunderstood”, de Lana, Bráulio faz<br />
uma espécie de tradução simultânea da letra para o português.<br />
A voz masculina e sem ritmo dele contrasta com os<br />
vocais de Lana, atrapalhando a audição de sua música. Mas<br />
a própria música chega aos ouvidos do espectador com a<br />
interferência da baixa qualidade do som da vídeo-chamada.<br />
É como se Nassif, em sua mise en scène, fizesse de tudo<br />
para atrapalhar uma fruição mais emocionalmente engajada<br />
por parte do espectador. Com a tradução de Bráulio e a<br />
baixa qualidade, fica difícil, num primeiro momento, se relacionar<br />
afetivamente com a música. Para completar, Nassif<br />
pede para Bráulio repetir o que acabara de fazer, só que<br />
com a música mais alta. O espectador, então, assiste a essa<br />
25
epetição um pouco estupefato, até o fim, e pode se perguntar<br />
o porque daquele gesto inútil, que apenas reforça a<br />
sensação de tédio e vazio de toda a sequência. Mas, com<br />
efeito, se alguém procurar “função” nos movimentos do<br />
filme de Nassif, nas repetições e nas sobreposições, está<br />
procurando no lugar errado. Nada no filme é feito com “algum<br />
objetivo”, mas para, numa espécie de prazer perverso<br />
nas coisas que uma estética mais “orgânica” consideraria<br />
supérfluas, mergulhar o espectador numa atmosfera onde<br />
nada é verdadeiro para, no processo, talvez, se chegar a<br />
um autêntico modo de ser.<br />
Ao “obrigar” o espectador a, duas vezes, ouvir a letra da<br />
música em inglês e português, Nassif esfria os afetos de<br />
um possível engajamento com a canção, chamando atenção<br />
para a linguagem, para a forma como as coisas são<br />
ditas em línguas diferentes (e em vozes diferentes – uma<br />
feminina e uma masculina), para esse gap e essa distância<br />
que há em qualquer tradução, em qualquer diálogo, em<br />
qualquer vídeo-chamada. Esse gap, esse vazio, essa condição<br />
de ser remoto, de jamais poder chegar realmente perto,<br />
é ecoado em todos os aspectos do filme, desde a baixa<br />
resolução da imagem monocromática que está longe de<br />
refletir os aspectos complexos da “realidade” que ela filma<br />
até o fato de um jovem brasileiro de barba ser a pessoa<br />
que está cantando, ao longo do filme, as músicas de uma<br />
cantora norte-americana. Mas, antes de tudo, haveria algo<br />
mais falso que a própria figura de Lana Del Rey? Com sua<br />
maquiagem pesada, unhas enormes e sempre emulando<br />
pastiches de épocas do passado e m suas roupas, músicas<br />
e videoclipes, a estética de Lana é, ela própria, esse buraco<br />
negro: um reino do falso. A própria “Don’t Let Me Be Misunderstood”<br />
é um cover de Lana de uma música que já<br />
existia antes. Mesmo assim, em Eu Sou Lana Del Rey, nesse<br />
mundo habitado apenas por caricaturas frágeis que mal se<br />
desenham, já se dissolvem em seus próprios excessos, o<br />
espectador já começa escutando repetitivamente o refrão<br />
da música: “Deus, por favor não deixe que eu seja mal compreendido”.<br />
Em outra sequência do filme, Lucas filma a tela do seu<br />
computador, que está conectado à webcam de Bráulio. A<br />
qual filma não ele, mas uma nova tela: sua televisão, onde<br />
Lana, em um concerto, tenta cantar um hit mas não consegue<br />
porque todos os fãs da plateia já o estão cantando<br />
com tanta força que ela se emociona. A canção continua,<br />
cantada por uma multidão anônima desafinada que, no<br />
extra-campo, não vemos. Há algo de falso e protocolar na<br />
Eu Sou Lana Del Rey<br />
(Lucas Ferraço Nassif, 2016)<br />
reação “emocionada” de Lana, em seu rosto minúsculo e<br />
sem cor que nós, espectadores, vemos na tela dentro da<br />
tela. Mas, o verdadeiro importa? Por mais “falsa” que Lana<br />
Del Rey (obviamente, aliás, não se trata do nome verdadeiro<br />
da cantora que lhe dá corpo) seja, os fãs estão cantando<br />
e dois artistas brasileiros estão fazendo um filme. O que<br />
resta é o falso, mas sua condição mesmo de falso parece<br />
torná-lo mais fascinante e perversamente mais prazeroso.<br />
Esta sequência do filme me remeteu com toda força às<br />
inúmeras pinturas que Warhol fez de Marilyn. Aqui como<br />
lá, trata-se da imagem fantasmática, falsa e fria de uma<br />
mulher cuja aura remota fascina uma sensibilidade queer<br />
ligada ao pop. Não é possível lamentar que na nossa época<br />
não temos mais Marilyns, mas apenas Lanas – mais falsas,<br />
mais previsíveis, etc. A questão é que a obra do próprio<br />
Warhol já se deleitava, de forma masoquista, na condição<br />
remota e inalcançável da imagem de Marylin. Logo no início<br />
de seu livro sobre o masoquismo, Deleuze, citando Dostoievski,<br />
sintetizou bem a discussão: “É idealista demais… e<br />
portanto cruel” 2 .<br />
Se na primeira sequência de Eu Sou Lana Del Rey predomina<br />
a desagradável tradução simultânea da letra de Don’t Let<br />
Me Be Misunderstood, numa sequência seguinte, Nassif<br />
parece “presentear” o espectador com uma performance<br />
mais prazerosa de Braúlio: de peruca e vestido brilhante,<br />
ele apenas dubla outra canção de Lana. Embora ainda<br />
caricatural (especialmente quando as caretas do rosto<br />
de Bráulio reforçam os momentos mais “emocionais” da<br />
música), sem dúvida esta sequência chega ao espectador<br />
como uma espécie de gratificação mais prazerosa depois<br />
da sequência anterior. E nesse vai-e-vem de dor e prazer,<br />
Eu Sou Lana Del Rey constrói uma dialética masoquista notavelmente<br />
próxima da descrição dada acima por Deleuze.<br />
2. DELEUZE, Gilles. “Coldness and Cruelty”. New York: Zone Books, 1991, p. 15. Tradução minha.<br />
26
CINEMA EXPERIMENTAL NO BRASIL<br />
FRONTEIRA<br />
O festival brasileiro de cinema que mais se volta para a produção experimental.<br />
Ocorre em Goiânia: http://www.fronteirafestival.com<br />
RISCO CINEMA<br />
Cineclube carioca voltado apenas para a exibição e debate de filmes experimentais. Primeiro funcionou<br />
numa pequena sala em Copacabana, mas hoje ocorre mensalmente na Cinemateca do MAM.<br />
Mais informações: https://pt-br.facebook.com/RISCOcinema/<br />
OSSO OSSO<br />
Coletivo carioca de cinema experimental que usa câmeras digitais DSLR e nenhum tipo de financiamento.<br />
Depois de vários curtas, lançou o longa Buraco Negro em 2017.<br />
Alguns de seus filmes podem ser vistos em: https://ossoosso.tumblr.com/tagged/FILMES<br />
DISTRUKTUR<br />
Duo formado por Melissa Dullius e Gustavo Jahn, que, entre o sul do Brasil e Berlin, fazem experimentos<br />
com filmes em película (8mm e 16mm), muitos deles vencidos, forjando um universo visual onírico e<br />
inesperado. Alguns de seus filmes podem ser vistos em: https://distruktur.com<br />
JOMARD MUNIZ DE BRITTO<br />
um dos cineastas experimentais mais instigantes de Pernambuco, desde os anos 70 trabalhando com<br />
8mm e, posteriormente, se aventurando em algumas produções digitais, sempre com um afiado olhar<br />
queer. Um de seus melhores filmes da época do Super 8, Noturno em Ré-cife Maior (1981), está disponível<br />
online em: https://vimeo.com/108592072<br />
LUCAS FERRAÇO NASSIF<br />
Além de Being Boring e Eu Sou Lana Del Rey, recomendamos o longa Marta L. Escreve (2017), todos disponiveis<br />
no Vimeo do artista: https://vimeo.com/user10560880<br />
MÁRIO PEIXOTO<br />
Um dos primeiros brasileiros a fazer um filme experimental no país. Seu longa Limite (1931), hoje em<br />
domínio público, pode ser conferido no link: https://www.youtube.com/watch?v=UeEArblJiMs<br />
YANN BEAUVAIS<br />
Cineasta experimental, curador e pesquisador francês que mora em Recife e, periodicamente, organiza<br />
mostras e cursos envolvendo o universo do cinema experimental, das artes híbridas e das imagens<br />
expandidas: http://yannbeauvais.com<br />
27
ENSAIO<br />
REFLEXÕES SOBRE O SERTÃO<br />
28
A vegetação do Sertão é marcada por tons amarelos. A caatinga é o retrato<br />
da região Nordeste e uma das representações visuais mais conhecidas no<br />
Brasil. Uma paleta de cores que guarda lendas, histórias e causos que se<br />
camuflam neste cenário.<br />
Fotos e texto:<br />
Filipe Falcão<br />
29
30
Com a chuva, o caminho percorrido pelos cangaceiros no<br />
passado se torna menos pesado ao menos para olhos<br />
contemporâneos. Árvores secas logo ganham flores e galhos<br />
que parecem cobrir o céu com suas novas folhas.<br />
31
32
A chuva quando chega à região faz uma onda verde<br />
brotar do solo seco. O amarelo vira verde e a esperança,<br />
assim como a vegetação, cresce a se perder de vista.<br />
33
34
Na rota até Angico, pedras e<br />
vegetação foram testemunhas dos<br />
passos silenciosos de Lampião e de<br />
Maria Bonita. Vilão e herói, homem<br />
justiceiro e assassino sádico. Lampião.<br />
No Sertão sergipano, a grota de Angico, palco do<br />
massacre que dizimou Lampião e seu bando, guarda<br />
memórias dos tempos dos cangaceiros. Duas cruzes<br />
marcam o lugar. Reflexão e lembrança diante da história<br />
daqueles homens e mulheres da caatinga.<br />
35
36
A chuva é efêmera no Sertão. O sertanejo sabe que a paisagem verde não vai<br />
durar. Logo o velho amarelo volta a ser a cor dominante. A beleza continua.<br />
O Sertão é antes de tudo um lugar lindo. O verde parece chamar mais os<br />
nossos olhos apenas por ser uma tonalidade mais rara na região. Até que<br />
venha a próxima chuva.<br />
37
38
39
REPORTAGEM<br />
Novos modos de produção<br />
de imagem: Feed e Stories<br />
do Instagram<br />
Texto:<br />
Julianna Nascimento Torezani<br />
Em tempos em que a fotografia deixou de lado o<br />
papel e apareceu nas telas, novas formas de criação<br />
e exibição de imagens surgiram, especialmente<br />
nas redes sociais. O elemento antes estático<br />
torna-se híbrido em configuração com outras linguagens<br />
visuais. A fotografia expande-se e encontra com o vídeo<br />
numa mescla de novos formatos de elaboração, aliada às<br />
ferramentas que as plataformas digitais criaram. Mudou<br />
a criação das imagens e mudou a exibição também, pois<br />
esta é modelada por uma nova temporalidade, ou seja,<br />
as imagens deslocam-se de uma para outra, pois estão<br />
em fluxo, o que Antonio Fatorelli (2013, p. 7) chama de<br />
“experiências da duração, da simultaneidade e da ubiquidade”,<br />
diferentes da fotografia instantânea e do cinema<br />
narrativo clássico.<br />
No Instagram, criado desde 2010 por Mike Krieger e Kevin<br />
Systrom, há duas formas de exibição de imagens: no<br />
Feed, em que as cenas (fotografias e vídeos) podem estar<br />
isoladas, em mosaico, ou em sequência; nos Stories, em<br />
que as cenas desaparecem após 24 horas da publicação.<br />
Este recurso foi criado em 2016, semelhante ao que existia<br />
no aplicativo SnapChat. Exceto as highlights (histórias<br />
destacadas) que ficam disponíveis pelo tempo que o usu-<br />
40
ário quiser, alguns perfis destacam alguns itens para facilitar<br />
a navegação dos usuários, elemento que pode ser<br />
usado como estratégia de algumas empresas para mostrar<br />
seus produtos.<br />
Ao teorizar tais elementos de publicação de registros<br />
observa-se a partir de Fatorelli (2013) que há novos modos<br />
de observar e experimentar as imagens na atualidade,<br />
já que o espectador contemporâneo atua de forma<br />
interativa com as mensagens que cria e recebe. Fatorelli<br />
(2013, p. 18) aponta que “convertidos em algoritmos, os<br />
diversos elementos expressivos – sons, imagens e textos<br />
-, que tradicionalmente condicionaram as linguagens e<br />
as estéticas associadas aos meios, têm as suas especificidades<br />
questionadas. A passagem do sinal de luz para o<br />
sinal eletrônico marca a transição da modernidade para<br />
a contemporaneidade, colocando em perspectiva os valores<br />
materiais e simbólicos, associados à representação<br />
fotocinematográfica baseada no modo analógico de inscrição,<br />
projeção, difusão e recepção da imagem”.<br />
Assim, temos nessas novas mídias os elementos de inovação<br />
tecnológica, mutações estéticas, publicação do<br />
cotidiano imediato e redimensionamento do tempo. Em<br />
função desse último item, o usuário oscila ao escolher<br />
ver as imagens do Feed ou do Stories, passando de uma<br />
observação rápida a uma maior atenção, inclusive dando<br />
feedback às cenas vistas. Mas, muitas vezes, a visualização<br />
dos Stories torna-se prioritária, já que estas imagens<br />
não permanecem, são efêmeras. Desse modo, vale aplicar<br />
as observações de Fatorelli (2013, p. 23) em seu estudo<br />
sobre a imagem contemporânea quando diz que “as<br />
fotografias são submetidas ao tratamento sequencial ou<br />
serial, editadas de modo a comportar certo encadeamento<br />
e certa duração, entrevendo uma narrativa e uma temporalidade<br />
multidirecionais”. Como ocorre nos Stories, os<br />
usuários ao publicarem as imagens colocam em determinada<br />
ordem contando uma história, haja vista os perfis<br />
dos viajantes quando mostram os lugares onde estão, da<br />
mesma forma das pessoas que publicam textos em partes,<br />
enquanto a temporalidade é definida pela plataforma<br />
em que a imagem fica aparente por alguns segundos.<br />
De acordo com a teoria de Boris Kossoy (2007) que indica<br />
a questão do tempo na fotografia, há o tempo da criação<br />
da imagem, o que chama de primeira realidade (já que o<br />
ato de registro é efêmero), e o tempo da representação<br />
como a segunda realidade por ser a foto em si, podendo<br />
ser eterna, já que congelou um momento passado. Observando<br />
o cenário atual, Kossoy indica que essas clássicas<br />
temporalidades estão em mudança, já que temos a<br />
onipresença da imagem, a grande produção de registros<br />
e os tempos de criação e de representação reelaborados,<br />
que ele chama de tempo reciclado. “Os antigos cenários,<br />
hoje irresistivelmente manipulados, ressurgem em sedutoras<br />
estetizações: é a morte do tempo histórico da criação,<br />
é a morte de sua representação. É, contudo, a aurora<br />
do tempo reciclado, ponto de partida para o mundo<br />
das representações sintéticas” (KOSSOY, 2007, p. 141). O<br />
Stories opera nos dois tempos, mas ambos efêmeros, no<br />
que diz respeito à visualização das imagens no Instagram,<br />
por segundos observo a cena e tenho apenas um dia para<br />
isso, tem assim um tempo reciclado.<br />
Podemos afirmar que diante de tais elementos há uma<br />
cena imagética contemporânea, em que no Instagram as<br />
imagens ficam entre o armazenamento do Feed e a atualização<br />
das Stories, pois estão em projeção e em movimento,<br />
na passagem de cena para outra, o que requer uma<br />
especial atenção de quem observa: “uma disposição física<br />
e psíquica do espectador, ele mesmo confrontado com os<br />
pressupostos da variabilidade, instabilidade e multiplicidade<br />
proporcionados pela dinâmica de atravessamento<br />
das imagens” (FATORELLI, 2013, p. 82). Assim, para além<br />
da fotografia estática, o Instagram promove novas formas<br />
de ver imagens, com fluidez e de forma híbrida com<br />
outras linguagens numa escala de tempo intensivo, já que<br />
a imagem transita na tela dos smartphones. Lembrando<br />
que “a fotografia ocupa o lugar de uma metalinguagem,<br />
de uma mídia capaz de processar e de ressignificar outras<br />
formas visuais” (FATORELLI, 2013, p. 33). Já que cada usuário<br />
vê as publicações das pessoas que segue, observamos<br />
entre os perfis os seguintes tipos de publicação: pessoas<br />
que mostram seu cotidiano todos os dias; indicação<br />
de eventos; registros de viagens; indicações de cursos,<br />
livros, filmes ou séries; frases motivacionais; campanhas<br />
sociais; receitas; e, claro, peças publicitárias de diversas<br />
empresas, as marcas de roupas, por exemplo, fazem desfiles<br />
com modelos e clientes com comentários sobre os<br />
trajes. Vale ressaltar que as narrativas pessoais são as<br />
que mais aparecem, já que fotografar o cotidiano é fazer<br />
parte dele, numa era de estética háptica o corpo produz a<br />
imagem e/ou participa dela.<br />
José Afonso da Silva Junior (2015) aponta as intencionalidades<br />
dos sujeitos ao criar e publicar suas imagens<br />
quando estuda o “segundo clique da fotografia”, no que<br />
tange aos modelos da fotografia digital, onde através dos<br />
41
aparelhos tecnológicos não basta fotografar, visto que a<br />
imagem pode circular na rede. “Se for clicada, mas não<br />
circulada, a imagem produzida carece de uma existência<br />
completa, pois não sincroniza-se com os demais valores<br />
pertença da produção simbólica com que convive” (SILVA<br />
JUNIOR, 2015, p. 8). Pois é o clique que torna sensível o<br />
instante do tempo capturado como fenômeno estético e<br />
social. Desta forma, opera a questão do pertencimento<br />
através da fotografia no século XXI, o que já ocorrera antes<br />
no século XIX quando através do retrato o sujeito afirmava<br />
a sua identidade, de igual modo no século XX com<br />
os processos industriais da produção fotográfica com o<br />
volume de cenas para mostrar os acontecimentos e a vida<br />
cotidiana, em que milhões de filmes foram revelados e<br />
ampliados em papel.<br />
Neste novo cenário Silva Junior (2015, p. 9) afirma que “a<br />
ampliação desses cenários de circulação, principalmente<br />
em redes sociais como Instagram e Facebook, deflagra<br />
através do hiperatributo uma economia da atenção diferenciada,<br />
onde o pertencimento é destacado. A ênfase,<br />
portanto, recai em um grau de alta exposição do self através<br />
de imagens. Ver e ser visto, sobreposto a onipresença<br />
de câmeras conectadas, móveis acionam o pertencimento<br />
simbólico como atributo desta fotografia contemporânea<br />
em seu uso cotidiano e vernacular”. Fotografar está ligado<br />
ao primeiro clique como uma forma de capturar o tempo,<br />
já o segundo clique torna visível este tempo capturado<br />
através da Internet. Quando se olha o Stories aplica-se o<br />
pensamento de Silva Junior (2015, p. 11) quando coloca<br />
que “são fotos para serem tiradas, disponibilizadas, curtidas<br />
e esquecidas no fluxo incessante de sucessão no<br />
qual são produzidas”. Desse modo, para além do que se<br />
discute sobre o tempo para fotografar e o tempo de olhar<br />
o que foi fotografado entre as nossas próprias cenas e<br />
das outras pessoas há as questões sociais envolvidas<br />
nestes atos em que as imagens contam histórias, narram<br />
viagens, indicam lugares e atividades, entre tantas outras<br />
possibilidades.<br />
Joan Fontcuberta (2012, p. 30) indica que a fotografia digital<br />
atende a uma sociedade que tem o tempo acelerado,<br />
em que tudo está em velocidade e requer imediatismo.<br />
Para o pesquisador de fotografia, “não existem mais fatos<br />
desprovidos de imagem, e a documentação e transmissão<br />
do documento gráfico já não são fases indissociadas<br />
do mesmo acontecimento”. Quando observamos as imagens<br />
do Instagram, especialmente dos Stories, notamos<br />
que os acontecimentos estão sendo apresentados visualmente<br />
para os demais seguidores, no mês de julho, geralmente<br />
período de férias para quem trabalha com educação,<br />
“viajei” através de alguns amigos, fui a Roma com @<br />
carla, visitei Paris com @marina, conheci três festivais de<br />
chocolate em Paris, em São Paulo e na Bahia com @karla,<br />
me diverti pela Itália, Suíça e Alemanha com @andrea, assisti<br />
trechos de shows de amigos que foram a festivais de<br />
música, por exemplo, isso com uma grande quantidade<br />
de fotos diárias e com comentários, de certo modo obtive<br />
como espectadora uma experiência em termos de viagem<br />
e fotografia. Desse modo, Fontcuberta (2012, p. 30)<br />
afirma que “transmitir e compartilhar fotos funciona então<br />
como um novo sistema de comunicação social, como<br />
um ritual de comportamento que está igualmente sujeito<br />
a normas particulares de etiqueta e cortesia”. Mais um<br />
exemplo que gostaria de mencionar, ao fazer um curso<br />
de culinária, o professor montou um bolo de chocolate<br />
com uma calda e não deu a receita, disse que quem quisesse<br />
buscasse nos Stories do perfil dele, ou seja, esse<br />
tipo de imagem está tomando o espaço das cenas para<br />
posteridade, para a imagem do presente para o agora.<br />
No Instagram, o instantâneo da captura da tomada se<br />
torna o instantâneo da visualização da cena, pelo deslocamento<br />
temporal que as imagens passam a ter. A fotografia<br />
se expande e, de acordo com Fatorelli (2013, p.<br />
34), “abandona a condição de objeto único compartilhado<br />
pelas imagens artesanais para materializar a condição de<br />
imagem em trânsito, que tem o seu significado condicionado<br />
ao modo de circulação e de atualização”. Discute-se<br />
a partir dessa concepção o visível de forma fixa ou efêmera<br />
e de acordo com Fontcuberta (2014) “isto nos imerge<br />
num mundo saturado de imagens: vivemos na imagem<br />
e a imagem nos vive e nos faz viver”. Mas o que o Instagram,<br />
e especialmente o Stories, traz é não apenas o ato<br />
de fotografar e ver imagens, mas a interação social que<br />
essas ações possibilitam, sobretudo de reconhecimento<br />
e pertencimento, nessa operação de disciplina e controle<br />
no qual a produção e visualização da imagem está<br />
submetida, já que compartilhar imagens é compartilhar<br />
ideias, sonhos, experiências.<br />
42
DICA<br />
Fotografia<br />
e as novas<br />
mídias: estudo<br />
de Antonio<br />
Fatorelli<br />
Texto:<br />
Julianna Nascimento Torezani<br />
FATORELLI, Antonio. Fotografia contemporânea: entre<br />
o cinema, o vídeo e as novas mídias. Rio de Janeiro:<br />
Senac Nacional, 2013.<br />
No momento que chamamos de contemporâneo<br />
há uma expansão da fotografia para além dos<br />
processos analógicos, visto que com a tecnologia<br />
digital e outras linguagens essas fronteiras<br />
se alargaram. No livro Fotografia contemporânea: entre o<br />
cinema, o vídeo e as novas mídias, Antonio Fatorelli apresenta<br />
diversos caminhos dessas novas conexões em que<br />
a imagem fotográfica se apresenta. A obra foi lançada<br />
pela Editora Senac Nacional, em 2013, e abre com uma<br />
Nota do Autor que indica as novas configurações entre a<br />
imagem fixa e a imagem em movimento, criando obras<br />
híbridas presentes em museus, galerias e demais espaços<br />
de arte, performances e exposições. Para Fatorelli (2013,<br />
p. 7), “nesse território de negociações recíprocas entre as<br />
imagens estáticas e as imagens em movimento, emergem<br />
modalidades singulares de inscrição temporal, referidas<br />
às experiências da duração, da simultaneidade e da ubiquidade,<br />
irredutíveis às definições convencionais da fotografia<br />
instantânea e do cinema narrativo clássico”.<br />
As produções imagéticas com os processos químicos<br />
eram situadas ao lugar, já as produzidas por esses novos<br />
dispositivos imagéticos estão relacionadas ao tempo, pois<br />
temos referências de sentido em fluxo. Portanto, com<br />
a influência entre os meios, como exemplo fotografia e<br />
cinema, existem concepções temporais que têm atravessamentos<br />
de linguagens, necessitando inclusive de um<br />
espectador contemporâneo, que vai além de observar,<br />
também experimentar a obra. Fatorelli (2013, p. 11) indica<br />
que “diversas imagens do tempo – tempo intensivo, tempo<br />
bifurcado, tempo paradoxal, tempo complexo, tempos<br />
simultâneos – foram empregadas com o intuito de descrever<br />
os efeitos, muitas vezes desestabilizadores, proporcionados<br />
pelas narrativas não lineares e pela inscrição<br />
43
processual da imagem fixa”.<br />
Na Parte I, Mutações entre a imagem fixa e a imagem em<br />
movimento, o autor trata da modificação da criação de<br />
imagens através de sistemas organizados por algoritmos,<br />
em que há uma transformação do modelo hegemônico<br />
da fotografia. Partindo das inovações tecnológicas, elementos<br />
da cultural digital e mutações estéticas, há novos<br />
estados da imagem. Para dar conta de situar essa imagem<br />
contemporânea, Fatorelli traz aspectos da história do cinema<br />
e da fotografia, como elementos da Photo Secession<br />
(movimento artístico ocorrido nos Estados Unidos no<br />
início do século XX), para analisar o atual momento de produção<br />
visual, pois já havia intercâmbios entre as obras visuais.<br />
Importante mencionar a necessidade de um amplo<br />
repertório cultural por parte do espectador para dar conta<br />
de compreender e experimentar essas novas obras. “As<br />
alternâncias de velocidades da imagem projetada – que<br />
oscila entre imobilidade da fotografia e a superaceleração<br />
da imagem em movimento – confronta o observador<br />
com duas disposições: o seu modo habitual de percepção<br />
das imagens em movimento e o seu próprio modo de<br />
experienciar a passagem do tempo” (FATORELLI, 2003, p.<br />
26). Nesta parte foram analisadas algumas obras, entre<br />
elas: de Lucas Bambozzi, intitulada Postcards (2000), que<br />
une fotografias de cartões postais em vídeo, acionando as<br />
questões sobre tempo, memória e indicialidade; de Feco<br />
Hamburguer, em que a instalação Neutrino (2009), permite<br />
interação numa tela imaterial; de Rosângela Rennó, há<br />
uma foto-projeção na instalação Experiência de cinema<br />
(2004/2005); de Doug e Mike Starn, o mosaic Double portrait<br />
in swirl (1985-1986), discute a mobilidade fotográfica.<br />
Ao ler o livro o autor indica os sites onde as obras audiovisuais<br />
podem ser vistas, o que faz com que se torna uma<br />
experiência diferenciada de leitura.<br />
A Parte II, Reconfigurações das imagens, Fatorelli aponta<br />
que essas novas criações visuais estão em trânsito e<br />
requerem um espectador participativo, pois evocam mudanças<br />
perceptivas numa ampla possibilidade expressiva<br />
que a tecnologia digital proporciona. Essa nova produção<br />
é híbrida, quando não se determina onde começa a fotografia<br />
e termina o vídeo, a imagem agrega várias linguagens<br />
através de superposições e interseções. De acordo<br />
com Fatorelli (2003, p. 85), “o trânsito das imagens e entre<br />
as imagens, inaugurado pela mobilidade da fotografia e<br />
expandido pelas tecnologias imagéticas eletrônicas e digitais,<br />
estabelece novas dinâmicas entre a obra e a sua<br />
percepção da ordem da mutabilidade”. Nas configurações<br />
entre imagem fixa e em movimento, o tempo é o fator<br />
preponderante, tanto na construção da obra, já que as<br />
máquinas de captura de luz são máquinas de explorar o<br />
tempo, como na recepção desta, no momento da percepção<br />
criativa. Nesta parte há a análise das obras do próprio<br />
autor, como O ar azul da enseada de Botafogo (2009), e<br />
de Katia Maciel, como Ver de (2009), que discute o movimento<br />
e a imobilidade, a cor e o preto e branco, o interior<br />
e o exterior, entre outros aspectos. Desse modo, há uma<br />
expansão da visão por parte do espectador, já que as criações<br />
requerem uma atitude crítica e participativa.<br />
Imagem e afecção intitula a Parte III do livro que trata<br />
sobre a participação do corpo na fruição da obra visual,<br />
visto que afecção indica o modo como o sujeito se sente.<br />
Neste sentido o autor estuda como o corpo absorve essa<br />
nova produção como uma experiência singular, despertando<br />
para novas formas de percepção. Nesse sentido, a<br />
imagem mobiliza a memória através de novos hábitos, “as<br />
novas mídias passam a convocar o corpo como um processador<br />
de informação, agora chamado a desempenhar<br />
as funções seletivas anteriormente delegadas às interfaces<br />
midiáticas” (FATORELLI, 2003, p. 141). Da visão para o<br />
tato, Fatorelli indica uma ampliação no modo de absorver<br />
a imagem através da afectibilidade do corpo, o que permite<br />
criar uma estética háptica. Um bom exemplo desse<br />
tipo de interação é a instalação, como a obra de Jeffrey<br />
Shaw, Place: a user’s manual (2008), em que o usuário fica<br />
numa plataforma giratória e controla as imagens que serão<br />
expostas nas telas. Outro exemplo é a criação de Rafael<br />
Lozano-Hemmer, Under Scan, Relational Architecture<br />
11 (2005), em que aparecem imagens fluidas projetadas<br />
através de sensores eletrônicos em função do movimento<br />
do corpo do espectador.<br />
O livro abre a possibilidade de ver e rever obras contemporâneas<br />
a partir dos conceitos e análises abordadas e nos<br />
faz refletir sobre essa mescla de linguagens nas produções<br />
visuais, sobretudo pelas novas inscrições temporais<br />
em que a cultura digital requer participação e reinvenção.<br />
Desse modo, a mudança tanto nas obras quanto nos espectadores<br />
amplia o modo de criação que traz inovação,<br />
mutação, reconfiguração, interação e diferentes temporalidades,<br />
entre a imobilidade da imagem e seu movimento<br />
há conexões, atravessamentos, simultaneidades que resultam<br />
numa criativa cena visual contemporânea.<br />
Antonio Fatorelli é doutor em Comunicação e Cultura pela<br />
Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde é professor<br />
da Escola de Comunicação, além de pesquisador de imagem<br />
e novas mídias através do Núcleo N-Imagem.<br />
44
45
FOTO SÍNTESE<br />
Autorretrato,<br />
autoconhecimento<br />
e crescimento<br />
Foto e texto:<br />
Alice Brooks<br />
Ao iniciar como autodidata na fotografia, em meados de 2011, acreditava<br />
que o grande trunfo daquele que tira fotos é não estar nelas.<br />
A fotografia parecia um mundo onírico onde o(a) autor(a) deveria<br />
ser ausente, ou quase como um vulto: a sedução provocada pelas<br />
vozes da fotografia “de momento” onde o assunto aparece, quase que por<br />
coincidência milagrosa, na frente da câmera. Mas algo não resiste à enorme<br />
vontade de se mostrar para o mundo como ser de opinião, direito e personalidade:<br />
a adolescência e suas nuances.<br />
A adolescência é caricata e estereotipada pelas grandes mídias, onde tudo se<br />
resume em namoricos, sociais e um novo corte de cabelo. Mas algumas adolescências<br />
não cabem nesta categoria fictícia quase que perfeita; é um período,<br />
na verdade, de muitos questionamentos e conflitos internos para alguns.<br />
No meu caso, estes conflitos eram pesados, brutais e dilacerados pelo fator<br />
depressão. O jovem não é capturado pelas lentes em sua tristeza. O jovial,<br />
o fantástico, o novo, tem de ser alegre. “Sorria!” diziam eles, sem saber que<br />
agonizavam em mim metais sobre os dentes. O olhar talvez pessimista criado<br />
por mim não é pessimista, mas sim, diria, intimista e realista. Na necessidade<br />
de ser vista, e obter representação, comecei a explorar o autorretrato em<br />
meados de 2012/2013, e continuo a praticar esse exercício. Quase sete anos<br />
depois, a câmera ainda se encontra não mais apenas atrás dos meus olhos,<br />
mas bem em frente a eles.<br />
46
Os medos, inseguranças e nuances de um ser. Uma menina, que<br />
as lentes foram focando com os anos e viram se transformar mulher.<br />
A rejeição, o afeto, o autocuidado, a autodestruição e todas as<br />
experiências pessoais diante de lentes. Não, o fotógrafo não precisa<br />
estar sempre por trás da câmera, ajustando as configurações e<br />
apontando para frente. Às vezes, apontar para dentro pode ser o<br />
ato de maior ousadia fotográfica. E ao entender essa dinâmica, essa<br />
dança lenta entre personalidade, representação e foto, há um crescimento<br />
que não poderia ser imaginado no começo dessa jornada<br />
quase incidental. A famosa frase “A câmera só registra” não poderia<br />
estar mais equivocada quando se percebe que a própria imagem,<br />
capturada pelas próprias mãos, transcende o registro. Cria uma conexão<br />
no espaço e tempo onde a figura ali projetada, daqueles anos<br />
efervescentes, jamais poderá se apagar. E espero, com o fundo do<br />
coração e alma, que não apague.<br />
47
ENSAIO<br />
A EXPERIMENTAÇÃO DO CORPO<br />
FEMININO NA NATUREZA<br />
O<br />
problema delimitado como enfoque do projeto foi escolhido<br />
por contemplar questões em constante acionamento<br />
pela sociedade contemporânea: o feminismo e a natureza.<br />
O dispositivo utilizado para tal expressão em convergência<br />
dessas problemáticas foi o audiovisual, por contemplar dois sentidos<br />
dos mais prestigiados entre a maioria dos seres humanos, que são a<br />
visão e a audição. A imagem acaba sendo objeto de apreciação e de<br />
experiência constante entre todos e a escuta também aciona subjetividades<br />
e abstrações que complementam essa interação tão forte nas<br />
realizações audiovisuais. A estética da videoarte traz liberdade ao fazer<br />
audiovisual, sem necessidade de seguir uma linha narrativa tradicional<br />
linear, mas sim em busca experimental por conexões não cronológicas<br />
do tempo e dimensionando também o espaço sem correlações geográficas<br />
precisas. O que atrai o projeto é essa fluidez do pensamento que<br />
a videoarte consegue traduzir em linguagem fílmica.<br />
Fotos, texto e vídeo:<br />
Quel Valentim<br />
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55
REPORTAGEM<br />
Você sabe o que é<br />
deepfake?<br />
Texto:<br />
Carol Monteiro<br />
No campo da fotografia e do audiovisual os<br />
avanços tecnológicos costumam ser comemorados<br />
especialmente pelos profissionais do<br />
campo, uma vez que oferecem mais qualidade<br />
de imagem, facilidade de tratamento e edição e melhoria<br />
de resultados. No entanto, alguns recursos desenvolvidos<br />
para incrementar a produção também podem ser usados<br />
para fins perigosos, especialmente em um ambiente político<br />
polarizado e dominado pela desinformação e pelas<br />
notícias falsas. É o caso das tecnologias que usam inteligência<br />
artificial para criar imagens falsas cada vez mais<br />
realistas, agora não mais em foto mas em vídeo.<br />
Chamadas de deepfakes, as notícias falsas em vídeo permitem<br />
fazer montagens de pessoas reais falando e fazendo<br />
coisas que nunca fizeram na vida real. Até o momento,<br />
as principais vítimas são celebridades e políticos inseridos<br />
em montagens pornográficas ou de humor, algumas<br />
já com repercussões negativas e constrangimentos mas<br />
é preocupante o que a tecnologia pode vir a provocar,<br />
especialmente em períodos de campanha eleitoral, por<br />
exemplo. O termo deepfake surgiu em dezembro de 2017<br />
quando um usuário do fórum Reddit usou este nome<br />
numa conta para postar vídeos de sexo falsos com atrizes<br />
famosas como Gal Gadot e Emma Watson. O rosto delas<br />
eram inseridos digitalmente em cenas de filmes pornô<br />
com um realismo que impressiona e assusta.<br />
Os efeitos especiais usados no cinema para criar personagens<br />
fictícios ou até mesmo reviver atores e atrizes não são<br />
novidade, mas o risco é que esta tecnologia está cada vez<br />
mais acessível para usuários finais em softwares de fácil<br />
manuseio e até aplicativos que permitem criar um vídeo<br />
falso em pouco tempo, e com grau de realismo capaz de<br />
enganar espectadores com pouco senso crítico para o conteúdo<br />
que recebe em grupos de Whatsapp ou redes sociais.<br />
Para criar um vídeo falso, basta ter acesso a um bom processador<br />
gráfico, um software baseado em bibliotecas de<br />
código aberto para edição e um conhecimento relativamente<br />
básico sobre algoritmos e deeplearning, como é<br />
chamada a capacidade das máquinas de aprenderem e<br />
responderem a comandos para transformar um rosto em<br />
outro, reproduzindo expressões e, no caso da manipulação<br />
de áudio, a voz da pessoa com a imagem falseada. Por<br />
enquanto, também é preciso ter um grande acervo de imagens<br />
da pessoa alvo da falsificação em várias situações e<br />
condições de iluminação, por exemplo, e, por isso, as vítimas<br />
até o momento são pessoas públicas, sobre as quais é<br />
possível ter acesso a um grande número de fotos e vídeos<br />
reais na Internet. Mas é apenas uma questão de tempo até<br />
a tecnologia precisar de cada vez menos dados para gerar<br />
resultados realistas. A Samsung, por exemplo, já anunciou<br />
a tecnologia para criar um vídeo a partir de uma única imagem<br />
de um rosto.<br />
56
Reprodução/Internet<br />
As fotos e vídeos reais são automaticamente<br />
processados por uma rede neural capaz de<br />
aprender como é determinado rosto, como<br />
se mexe e como reage a luz e sombras. Com<br />
tempo e recursos de memória e processamento,<br />
a máquina procura pontos em comum<br />
entre o rosto de origem e o rosto de<br />
destino e vai modelando a falsificação até<br />
que ela se torne o máximo possível realista.<br />
Reprodução/Internet/Samsung<br />
Há no mercado softwares de grandes fabricantes,<br />
como a Adobe, por exemplo, que<br />
facilitam esse aprendizado tanto do rosto<br />
quanto da voz, a partir de amostras reais da<br />
voz da vítima. Alguns desses vídeos estão<br />
sendo criados para alertar as pessoas sobre<br />
os riscos deste tipo de manipulação, entre<br />
eles alguns com o ex-presidente americano<br />
Barack Obama falando absurdos ou do presidente<br />
Jair Bolsonaro e do ministro da justiça<br />
Sérgio Moro em paródias no canal de humor<br />
do jornalista Bruno Sarttori. O objetivo<br />
57
Reprodução/Internet<br />
tanto é fazer humor quanto alertar para o atual nível de<br />
qualidade das falsificações em vídeo para que as pessoas<br />
tenham mais senso crítico quando receberem um conteúdo<br />
mal intencionado.<br />
É claro que a tecnologia não produz resultados perfeitos e<br />
indetectáveis mas são realistas o suficiente para enganar<br />
muita gente. As consequências do uso mal intencionado<br />
das deepfakes são inimagináveis e envolvem questões<br />
éticas, legais, riscos à integridade e à vida das pessoas,<br />
famosas ou anônimas, além de ameaçar a democracia e<br />
os processos eleitorais. Por isso, é preciso que a tecnologia<br />
seja exposta e, principalmente, que as pessoas sejam<br />
educadas para questionar e checar o conteúdo do que recebem<br />
nas redes sociais.<br />
É preciso também entender que a tecnologia não é maléfica<br />
por si só. As técnicas de inteligência artificial para criar<br />
vídeos realistas têm aplicações benéficas na indústria do<br />
entretenimento, alguns de seus princípios são usados em<br />
funções de filtros do Instagram e Snapchat, por exemplo,<br />
e fora do entretenimento, é possível pensar em aplicações<br />
como videoconferências com a imagem do palestrante<br />
falando em outras línguas para públicos estrangeiros, por<br />
exemplo. O problema não é a tecnologia existir ou estar<br />
disponível, mas as pessoas criarem conteúdos deliberadamente<br />
mal intencionados e, principalmente as pessoas<br />
que recebem, não saberem discernir os fatos ou checar<br />
minimamente a veracidade do que recebe e compartilha.<br />
E também não adianta ensinar as pessoas a reconhecerem<br />
um vídeo falso por recursos como a má qualidade<br />
das imagens ou tecnicalidades como o fato das deepfakes<br />
não piscarem (sim, elas hoje já piscam) ou olhar os detalhes<br />
ao redor da boca (área mais sensível para o aprendizado<br />
da máquina). É preciso que as pessoas aprendam<br />
a questionar o conteúdo das falas, o sentido e a coerência<br />
do que é dito. Também é preciso que as plataformas<br />
(Google, Facebook, Twitter, YouTube etc), se impliquem<br />
na discussão e unam esforços para barrar conteúdos falsos<br />
de qualquer natureza, como também a imprensa precisa<br />
fazer seu papel de checagem de fatos, e os políticos e<br />
as autoridades criarem mecanismos legais que punam a<br />
distribuição de conteúdo malicioso.<br />
58
59
ENSAIO<br />
o mundo hípico<br />
Fotos e texto:<br />
Mirandolina de<br />
Araújo Mouthuy<br />
A<br />
relação do cavalo com as pessoas surgiu no começo das civilizações quando<br />
se domesticou este a fim de locomoção e, em seguida, na agricultura.<br />
Desde a modernização industrial, este animal tem sua importância do uso<br />
substituída pelo prazer. O esporte da montaria conhecido pela elegância<br />
foi nomeado informalmente como esporte das nobrezas europeias na caça da raposa.<br />
Até os dias atuais, o esporte é caracterizado pelo o status e pelo seu alto custo. O<br />
hipismo surgiu na Irlanda com o objetivo de testar os cavalos de caça. Aos poucos,<br />
esses testes foram se tornando populares e mais criteriosos e os conjuntos (cavaleiro<br />
e cavalo) necessitavam pular troncos, riachos, entre outros obstáculos. No século<br />
XX, pistas desenvolvidas somente para a prática de saltos foram criadas. Em 1896, o<br />
hipismo participou de sua primeira Olimpíada como esporte de demonstração. Somente<br />
em 1912, em Estocolmo, este esporte foi inserido definitivamente nos Jogos<br />
Olímpicos. O hipismo vem sendo introduzido na sociedade brasileira por suas carac-<br />
60
terísticas do entrosamento da natureza junto ao exercício<br />
físico. Além de possibilitar que ambos os sexos e<br />
pessoas de qualquer idade possam participar e competir<br />
em igualdade neste esporte. O primeiro registro<br />
de competição de hipismo no Brasil ocorreu em abril<br />
de 1641, no Recife, organizada pelo holandês Maurício<br />
de Nassau. O esporte consiste na boa integração do<br />
cavalo com o cavaleiro ou amazona para obter melhores<br />
resultados. Para isto, tanto o manejo do cavalo<br />
como o estilo da montaria do cavaleiro foi mudando<br />
com o objetivo de facilitar o trabalho do animal. Os<br />
profissionais que fazem parte do cotidiano do cavalo<br />
e do esporte são o tratador, o ferrador, o instrutor e o<br />
médico veterinário. Todos estes profissionais são importantes<br />
sem distinção hierárquica para o bem-estar<br />
do majestoso atleta.<br />
61
62
A Mulher no Mundo Hípico<br />
Homens e mulheres, infelizmente, não desfrutam das mesmas oportunidades, direitos e obrigações<br />
em todos os campos da vida, como educação, trabalho, saúde, poder e influência. Mas, por<br />
isso, existe a luta por igualdade de gênero, para que seja alcançada essa compatibilidade das pessoas,<br />
independente do sexo. O hipismo é uma modalidade esportista em que homens, mulheres,<br />
jovens e atletas mais experientes disputem provas individuais e por equipe sob as mesmas condições.<br />
O hipismo é dividido em três modalidades: Adestramento, Concurso Completo de Equitação<br />
(CCE) e Saltos. É o único esporte dos Jogos Olímpicos em que homens e mulheres competem em<br />
igualdade.<br />
Nas quatro profissões principais deste esporte envolvendo o cavalo atleta (o médico veterinário,<br />
o tratador, o ferrador, e o instrutor), o lugar da mulher ainda é uma luta e um desfio. A ferradora<br />
é mais difícil encontar por ser um trabalho muito braçal e necessitar de muita força para forjar<br />
as ferraduras. As mulheres tratadoras são bem vistas na Europa pelas habilidades femininas nos<br />
cuidados no manejo e no bem-estar em geral do animal e, devido ao instinto materno, são ditas<br />
como mais zelosas. Assim acontece nas profissões da médica veterinária e da monitora. No entanto,<br />
mesmo ainda sendo o hipismo um esporte de igualdade de gênero, a mulher ainda luta<br />
com o machismo e a falta de credibilidade perante o mundo hípico em relação aos profissionais<br />
que rodeiam este esporte. Muita coisa ainda deve ser feita. A médica veterinária nem sempre é<br />
respeitada pelo tratador, ou o proprietário. A tratadora é mais vista como ‘baáa’ do animal. A monitora,<br />
se não for bem rígida, não é considerada eficaz por seu aluno. Ainda há muito a mudar na<br />
mentalidade que abrange este esporte. Mas o hipismo continua um pioneiro sobre a igualdade de<br />
gênero no esporte, o que já é um grande avanço no mundo olímpico.<br />
Para este trabalho, realizado no curso de Fotografia da Unicap, procurei dedicar as imagens ao<br />
cavalo atleta e aos profissionais que o rodeiam. Desenvolvi ensaios fotográficos: Eu e Ele -volume I<br />
e O Guia Silencioso -volume II (na graduação e na pós-graduação) e por último um documentário:<br />
Por Trás Das Rédeas (em pós-graduação). Os ensaios revelaram a relação individual e única do<br />
atleta hípico com o seu parceiro, o cavalo, por trás dos treinos. Esta parceria é chamada na linguagem<br />
hípica de Conjunto. A medida em que o meu amadurecimento fotográfico e o meu lado<br />
poético visual foram se revelando, outros temas e problemáticas surgiram ao ponto de concluírem<br />
em um documentário sobre os profissionais que mantêm o bem-estar do conjunto e o lugar da<br />
mulher entre estas profissões. Todos estes trabalhos foram reveladores não só na técnica, e na<br />
ousadia do uso do equipamento celular, mas também o prazer de ver esta relação entre Homem<br />
e Animal em um conjunto formando uma “Poesia da Vida”.<br />
Ao longo destes trabalhos, a escolha do registro foi inteiramente no celular por muitas razões<br />
entre elas, a praticidade. Encontrei muitas dificuldades como por exemplo, filmar com o celular<br />
pertíssimo de um forno de 1.500Cº, ou arriscar um coice em pleno rosto ou mesmo a perda do<br />
material. Muitas vezes senti que, como o hipismo, o que fazemos nada mais é, que um esporte radical,<br />
literalmente. A trajetória dos projetos dentro deste percurso acadêmico foi lapidada graças<br />
a incrível grande equipe de graduação e pós-graduação em fotografia e audiovisual da UNICAP<br />
liderada pela coordenadora e professora Renata Victor e seus colegas.<br />
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ENSAIO<br />
donostia<br />
Texto: Gisely Tavares de Melo<br />
Fotos: João Guilherme de Melo Peixoto<br />
Quando se fala em Espanha, imediatamente remetemos o pensamento à Madrid, Barcelona<br />
ou Sevilha, mas o País Basco (Euskal Herria em basco), situado no norte da Espanha, é uma<br />
região que surpreende os visitantes pelas paisagens, diversidade cultural e gastronomia.<br />
Uma das cidades bascas mais requisitadas é San Sebastián (Donostia). A fama da capital<br />
da província de Guipúscoa vem da praia La Concha, situada na Baía da Concha e considerada uma<br />
das melhores da região. No século XIX, ela se tornou destino da aristocracia espanhola por causa dos<br />
banhos de mar da rainha Maria Cristina, que adquiriu o hábito de mergulhar no mar Cantábrico por<br />
recomendação médica para amenizar seus problemas de saúde. Até hoje muitos turistas recorrem à<br />
cidade para fazer tratamentos dermatológicos com a água do mar.<br />
Durante o verão, a língua basca (euskera), uma das mais antigas da Europa, preservada e falada até<br />
hoje na Comunidade Autônoma do País Basco, e o castellano se misturam ao inglês e ao francês dos<br />
turistas que, além de apreciar o litoral basco, vão em busca de experiências gastronômicas. Ao invés<br />
de tapas, os visitantes são apresentados aos pinchos (pintxos), petiscos feitos com ingredientes típicos<br />
da região, alguns deles são pratos de alta gastronomia em miniatura, não é à toa que a província é<br />
uma das que mais concentram restaurantes com estrelas Michelin da Espanha. Os bascos costumam<br />
sair de bar em bar para “pinchar”, entre amigos, eles se reúnem em “quadrilhas” e saem para apreciar<br />
a gastronomia. O curioso é que os turistas, mesmo sem comungarem da tradição de “sair de pinchos”,<br />
acabam seguindo o mesmo ritual dos nativos porque é difícil escapar do circuito central da cidade,<br />
repleto de bares que expõem as iguarias nos balcões para atrair os clientes.<br />
A arquitetura de San Sebastián, com igrejas de estilos gótico e barroco, palácios e prédios de estilo<br />
francês também chama a atenção de turistas do mundo inteiro e revela fatos que ajudam a contar<br />
a história do País. A rua 31 de agosto, por exemplo, é famosa por ter sido a única que resistiu ao incêndio<br />
provocado pelas guerras napoleônicas no século XIX, com exceção dessa rua, toda a cidade<br />
precisou ser reconstruída.<br />
Depois de conhecer história e os encantos de San Sebastián, resta descobrir os segredos que mantém<br />
as amizades bascas inquebrantáveis durante anos e anos, afinal os bascos não fáceis de conquistar,<br />
mas como eles mesmos dizem: um amigo basco é um amigo para toda a vida.<br />
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ENSAIO<br />
imaculados<br />
Fotos e texto:<br />
Rafael Aguiar<br />
Imaculado, que é puro, isento de qualquer nódoa moral; inocente. Essas<br />
são características de uma noiva, ou o que se espera dela. O vestido é o<br />
símbolo dessa representação. Sempre vivi rodeado por mulheres. Desde<br />
criança, sempre amei o universo delas, suas lutas, seus amores, seus sonhos,<br />
e sempre odiei o machismo e a intolerância. De alguma forma precisava<br />
expor isso. Ressignificar o vestido de noiva propõe a mudança de ideias e<br />
paradigmas. É um vestido apenas, uma peça, como poderia ser uma blusa,<br />
uma calça. Só que ele carrega um histórico, uma energia muito grande em<br />
relação ao papel da mulher na sociedade e o papel de noiva, inclusive. Trazer<br />
isso para o homem tem um peso também. Ele veste tudo que a mulher veste<br />
quando coloca o vestido. Trazer essa reflexão de liberdade de gêneros, roupas<br />
e símbolos é o propósito do ensaio Imaculados. Enxergar a beleza dos vestidos<br />
em qualquer corpo, pois o corpo é livre e a liberdade está justamente em<br />
desconstruir tudo que nos é imposto social ou moralmente.<br />
A experiência de cada fotografado é uma, depende dele, da sua vivência, de<br />
seus sentimentos. O sentido de liberdade para o vestido e para o ser o humano<br />
é a proposta do projeto. Desconstruir uma imagem que, por séculos, viveu<br />
no imaginário da pureza e da castidade, trás uma reflexão: O quanto uma<br />
peça, um tecido, uma cor ou uma forma influencia nossos pensamentos e a<br />
nossa conduta? Enxergar essas novas possibilidades é ampliar o pensamento<br />
e assim a arte nos salva a cada dia.<br />
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REPORTAGEM<br />
Manipulação de imagens<br />
sem photoshop. E pode?!!<br />
Texto:<br />
Ricardo Marcelino<br />
Journey into Night<br />
(Jerry Uelsmann, 2006)<br />
76
Hoje, muito da fotografia passa pelo Photoshop.<br />
Desde a imagem produzida com o<br />
equipamento fotográfico mais moderno, até<br />
aquela fotografia em negativo de 30 anos<br />
atrás, se quisermos vê-la impressa novamente, temos<br />
uma grande chance de precisar escaneá-la para que ela<br />
seja impressa por um minilab digital ou em uma super<br />
impressora jato de tinta com mais cores do que a maioria<br />
dos impressores mais antigos poderiam sonhar.<br />
O referido programa de tratamento e manipulação de<br />
imagens está incorporado de forma tal ao nosso cotidiano<br />
que teremos certa dificuldade de achar em algum<br />
lugar uma pessoa que nunca tenha ouvido falar que a<br />
modelo levou uma “photoshopada”. E realmente também<br />
vai ser difícil encontrar uma modelo sem o tal tratamento,<br />
para ficar “mais bonitinha”.<br />
O uso extensivo de ferramentas de manipulação e tratamento<br />
de imagens e a percepção deste uso por parte<br />
da sociedade tem como reflexo a adoção de uma premissa<br />
sobre alterações de imagens fotográficas. A afirmação<br />
de que a manipulação de imagem com um nível<br />
de requinte e qualidade que os faz serem transparentes<br />
ao observador é resultado da era da imagem digital em<br />
que vivemos. Vejo quase sempre a já velha afirmação:<br />
isso só pode ser Photoshop! Corroborando com o pensamento<br />
de que a manipulação realista e imperceptível<br />
é um advento dos softwares de manipulação de imagem<br />
e principalmente do onipresente produto da Adobe.<br />
A fotomontagem , definida pela enciclopédia de artes<br />
visuais Itaú Cultural como o “termo genericamente empregado<br />
para designar a associação de duas ou mais<br />
imagens, ou fragmentos de imagens, com o propósito<br />
de gerar uma nova imagem”, é possível desde o início<br />
do séc. 19 nos laboratórios onde já se fazia correções de<br />
exposição e contraste nas ampliações. O conceito, em<br />
si, tem sua origem na segunda década do século vinte e<br />
é reivindicada por dois grupos, um formado por Raoul<br />
Hausmann e Hannah Hock e outro por George Groz e<br />
John Heartfield, ambos do movimento Dadaísta.<br />
A sobreposição de imagens e texto das fotomontagens<br />
dos artistas dadá pode ser considerado o embrião das<br />
manipulações fotográficas que observamos nos dias<br />
atuais. O uso de texto e imagem de forma desarmônica<br />
foi usada por Heartfield como uma arma poderosa de<br />
propaganda e como forma de protesto. Em uma Alemanha<br />
arrasada pela Primeira Guerra Mundial, os integrantes<br />
do movimento dadá se aliaram com a esquerda<br />
e publicavam revistas, folhetos e outros materiais que<br />
tinham na sua característica estética o uso da fotomontagem<br />
como indicação de suas posições políticas no<br />
combate a república burguesa de Weimar.<br />
Na União Soviética, com Alexander Rodchenco e Lissitzki,<br />
a fotomontagem foi utilizada como forma de expressão<br />
artística e também como instrumento de divulgação.<br />
Os artistas utilizam imagens manipuladas para<br />
atingir um maior nível de impacto visual e uma linguagem<br />
que refletisse a grandeza do regime socialista. Com<br />
Rodchencko, que também desenvolveu um forte trabalho<br />
no âmbito do design gráfico, vemos o tratamento<br />
dado à fotografia como uma matéria prima, que pode<br />
ser recortado, colado, rearrumado e refotografado para<br />
a criação de peças de grande impacto visual e ideológico.<br />
Os processos de manipulação de imagens em laboratório<br />
podem chegar a um nível de realismo e refinamento<br />
muito superiores quando comparados às fotomontagens<br />
realizadas através de colagem e podem ser facilmente<br />
confundidos como uma obra da tecnologia abarcada<br />
no Photoshop.<br />
Jerry N. Uelsman, fotógrafo americano nascido em<br />
1934, utilizando negativos produzidos por ele mesmo e<br />
realizando suas montagens durante o processo de ampliação<br />
das imagens, consegue desenvolver um trabalho<br />
com um nível de perfeição nas suas fusões que fica<br />
difícil perceber que o resultado alcançado por ele é feito<br />
de maneira quase artesanal, considerando as fusões de<br />
imagens realizadas atualmente em computador.<br />
77
O trabalho de Uelsman tem um destaque na criação de imagens de fantasia, na maioria<br />
das vezes desconectado com o real, porém com uma coerência de luz, sombra e fusão dos<br />
detalhes que faz o espectador ter dúvidas quanto a natureza irreal de sua obra. A imagem<br />
fotográfica é colocada em xeque quanto a sua natureza de fiel expressão da luz que atingiu a<br />
superfície sensível do filme, sem interferência do fotógrafo no processo.<br />
A manipulação das imagens se faz presente desde muito tempo no mundo da fotografia, de<br />
forma bastante realista e imperceptível aos olhos do observador. Esta constatação deveria<br />
gerar um distanciamento no nosso relacionamento com a técnica atual no trabalho do fotógrafo,<br />
que trata e manipula suas imagens. O que estamos fazendo é apenas uma aplicação<br />
em outra plataforma, de uma maneira de trabalhar para alcançarmos os resultados que queremos<br />
nas nossas imagens. Não é a ferramenta em si, mas a forma como a utilizamos que<br />
faz a grande diferença.<br />
Sand Castle<br />
(Jerry Uelsmann, 1990)<br />
78
ENSAIO<br />
Paraty e Ilha Grande<br />
são patrimonio<br />
mundial da unesco
Paraty e Ilha Grande, no litoral do Rio de Janeiro, foram reconhecidas em julho de 2019,<br />
como Patrimônio Mundial. Essa é a primeira vez que o Brasil tem um sítio misto reconhecido<br />
por sua cultura e natureza.<br />
Com cerca de 85% da cobertura vegetal nativa bem conservada, a área do sítio misto<br />
forma o segundo maior remanescente florestal do bioma Mata Atlântica. Além da sua<br />
extensão, as diferentes fisionomias vegetais forma uma natureza extraordinária.<br />
Com um importante acervo arquitetônico e ricas paisagens com belezas naturais, a cidade<br />
de Paraty costuma encantar a todos que a conhece.<br />
Fotos e texto:<br />
Renata Victor
88<br />
Curso de Fotografia<br />
alcança conceito 5<br />
pela segunda vez
Pela segunda vez, o Curso Superior de Tecnologia<br />
em Fotografia da Unicap foi reconhecido pelo Ministério<br />
da Educação (MEC) com o conceito 5, a<br />
nota máxima oferecida aos cursos que têm seu<br />
programa pedagógico, corpo docente e infraestrutura<br />
avaliadas presencialmente por uma comissão externa designada<br />
pelo ministério. O conceito já havia sido obtido<br />
pela primeira vez em 2015 e recebeu a segunda avaliação<br />
no início de agosto. A manutenção da nota máxima é<br />
motivo de comemoração para o curso, criado em 2010, e<br />
que está prestes a completar uma década formando profissionais<br />
de fotografia para o mercado pernambucano,<br />
com foco na fotografia contemporânea, aliando teoria e<br />
prática.<br />
O curso tem perfil voltado às necessidades do mercado,<br />
formando profissionais aptos a trabalharem em qualquer<br />
segmento da fotografia, a exemplo do fotojornalismo,<br />
da fotopublicitária, fotodocumental, moda, pesquisas e<br />
eventos em geral. A formação tem duração de dois anos<br />
e está estruturada em quatro módulos. Desta forma, o<br />
aluno poderá concluir o curso no máximo em três anos<br />
(seis semestres), o que permite uma maior flexibilidade<br />
ao estudante no planejamento e desenvolvimento de sua<br />
formação.<br />
Uma grande preocupação na formulação do projeto pedagógico<br />
é a atualização do conteúdo para atender às<br />
demandas do mercado atual, como a interação entre a<br />
fotografia e o vídeo, por exemplo, o uso da internet e das<br />
redes sociais como ferramentas de marketing e discussões<br />
ativas sobre o futuro da imagem.<br />
89
Além dos conteúdos práticas, as disciplinas também abordam<br />
o percurso teórico da imagem fotográfica, com disciplinas<br />
que tratam da linguagem fotográfica, da poética<br />
da imagem, semiótica e história da fotografia. Os alunos<br />
também são estimulados a mostrarem a sua produção,<br />
através da realização de exposições interdisciplinares, da<br />
revista <strong>UnicaPhoto</strong> e da participação em eventos, como<br />
o Intercom, Expocom e Set Universitário, com trabalhos<br />
premiados em níveis regional e nacional.<br />
PESQUISA<br />
Em 2019, o curso passou a investir ainda mais na pesquisa<br />
científica, com a inclusão dos alunos em programa de<br />
iniciação científica (PIBIC) em pesquisas conduzidas pelos<br />
professores do curso que tratam de Fotojornalismo e do<br />
Audiovisual contemporâneo. Também os alunos participam<br />
de grupos de estudo conduzidos pelos professores,<br />
como forma de ampliar os debates em sala de aula. Alguns<br />
dos egressos têm dado continuidade à formação<br />
acadêmica, ingressando na pós-graduação lato sensu As<br />
Narrativas Contemporâneas da Fotografia e do Audiovisual,<br />
e em programas strictu sensu, como o mestrado em<br />
Indústrias Criativas da Unicap e programas de mestrado<br />
e doutorado em outras instituições.<br />
EXTENSÃO<br />
Completando o tripé Ensino/Pesquisa e Extensão, o curso<br />
de fotografia também tem a preocupação de levar para<br />
fora da Universidade as reflexões e a prática da fotografia,<br />
além de tentar contribuir com o atendimento das demandas<br />
da sociedade civil organizada. Desde 2018, todas<br />
as ações de extensão foram concentradas no Núcleo de<br />
Ações de Extensão Social (Naes), cuja proposta é ampliar<br />
a atuação junto à sociedade civil em ações que aliem o conhecimento<br />
e a prática acadêmicos à prestação de serviços.<br />
Suas ações envolvem os alunos, bem como professores<br />
e funcionários, em atividades realizadas em parceria<br />
com institutos, fundações e ONGs, com fins à promoção<br />
da justiça social por meio do uso da fotografia como instrumento<br />
de comunicação dessas causas.<br />
As ações de extensão também incluem a oferta do curso<br />
Ganhando Asas Através da Comunicação e da Arte, que<br />
tem como objetivo oferecer aos jovens com Síndrome de<br />
Down e Deficiência Intelectual a oportunidade de participar<br />
de cursos oficinas diferentes das aulas escolares.<br />
São turmas que visam a inserção social, a identificação<br />
pessoal com as atividades desenvolvidas e a ampliação<br />
das suas capacidades cognitivas em ambientes comuns a<br />
jovens da mesma idade.<br />
DEPOIMENTOS<br />
Estamos todos muito felizes<br />
em comprovar mais uma vez a<br />
excelência do nosso corpo docente,<br />
da equipe, do Centro de Ciências<br />
Sociais, ao qual o curso está<br />
vinculado, e da instituição como<br />
um todo. Este resultado só nos dá<br />
ânimo para continuar trabalhando,<br />
produzindo e investindo cada vez<br />
mais nos nossos alunos.<br />
Renata Victor<br />
Coordenadora<br />
Este 5 é o resultado de um trabalho<br />
coletivo de todos que fazem o<br />
curso. Professores, coordenação,<br />
a própria universidade e claro,<br />
os alunos. É muito satisfatória<br />
entender este reconhecimento do<br />
MEC como para todas estas áreas.<br />
Acredito que o diferencial deste<br />
nosso curso é o mix de atividades<br />
que formam o dia a dia dos alunos.<br />
É possível destacar as atividades<br />
práticas, as teóricas, trabalhos<br />
que desenvolvem e reforçam a<br />
criatividade dos estudantes. Tudo<br />
feito com muito profissionalismo<br />
e carinho pelos professores. O<br />
resultado são alunos felizes e que<br />
se enxergam no curso.<br />
Filipe Falcão<br />
Professor<br />
O curso de Fotografia da<br />
Unicap proporciona um grande<br />
aprendizado não apenas para<br />
os alunos, mas também para os<br />
professores e funcionários. É fruto<br />
de um processo coletivo que se<br />
constrói não só em sala de aula,<br />
mas nos eventos que promove,<br />
nas ações de extensão e na visão<br />
da fotografia como instrumento<br />
de registro e de interferência na<br />
realidade.<br />
Carol Monteiro<br />
Professora<br />
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A Universidade Católica de<br />
Pernambuco conta com um dos<br />
melhores, se não o melhor, curso<br />
de fotografia do Nordeste. Com<br />
uma equipe altamente qualificada,<br />
dedicada e apaixonada pelo<br />
curso que busca mostrar para os<br />
alunos a beleza presente nessa<br />
área artística chamada fotografia,<br />
sempre com muito amor em cada<br />
aula ensinada. Os alunos, por sua<br />
vez, não são diferentes do corpo<br />
docente: mostram paixão em cada<br />
detalhe aprendido e apresentado<br />
no decorrer de dois anos e, com<br />
o apoio da universidade, correm<br />
atrás de realizações profissionais<br />
e pessoais, construindo suas<br />
carreiras de maneira exemplar<br />
numa faculdade de referência<br />
nacional. É quase impossível falar<br />
com tanta precisão da qualidade do<br />
curso, quando palavras não chegam<br />
a ser suficiente para exemplificar<br />
as teorias, métodos, técnicas e<br />
aprendizados que obtemos todos os<br />
dias enquanto estamos em contato<br />
com professores tão incríveis.<br />
Catarina Pennycook<br />
Aluna do 4º módulo<br />
Como aluna do 2° módulo do<br />
Curso de Fotografia da Unicap<br />
só posso sentir orgulho e alegria<br />
com o resultado da avaliação do<br />
MEC. Nós alunos também damos<br />
nota 5. Um curso abrangente:<br />
tecnologia, cultura, arte, história,<br />
contemporaneidade da fotografia<br />
e do audiovisual. Professores e<br />
convidados capacitados. Parabéns<br />
a todos que contribuem para esse<br />
resultado. Seguiremos desfrutando<br />
de tudo que nos é ofertado com<br />
tanto cuidado e atenção.<br />
Renata Vaz<br />
Aluna do 2º módulo<br />
O curso de Fotografia da Unicap é<br />
incrível! Os ensinamentos teóricos<br />
e práticos nos impulsionam para<br />
sermos fotógrafos autênticos, e<br />
não meros funcionários, como<br />
já diria Flusser. São dois anos de<br />
experiências e trocas, deixando<br />
uma saudade danada quando<br />
acaba. Na verdade, não acaba.<br />
Aqueles aprendizados ficam vivos<br />
dentro da gente.<br />
O contato com os professores,<br />
alunos e coordenação é tão forte,<br />
que vai muito além da sala de<br />
aula. A Unicap é uma Universidade<br />
maravilhosa e o curso de Fotografia<br />
recebe a nota máxima do MEC<br />
porque merece! Indico com o<br />
coração transbordando de amor! Só<br />
tenho a agradecer!<br />
Raquel Valentim<br />
Ex-aluna<br />
Conquistar mais um cinco pela<br />
avaliação do MEC, é a confirmação<br />
da seriedade e empenho de<br />
toda equipe de professores,<br />
laboratoristas e estagiários,<br />
comandada, com maestria, por<br />
Renata Victor. Cada pedacinho<br />
desse conceito é o estímulo e a<br />
certeza do caminho. Parabéns a<br />
todos!!!<br />
Niedja Dias<br />
Laboratorista<br />
O nosso 5 representa excelência<br />
acadêmica com certeza, mas acima<br />
de tudo é tradução de um trabalho<br />
coletivo sério e comprometido<br />
com o pensar e o fazer crítico<br />
de um curso em que todos e a<br />
Universidade, da qual ele faz parte,<br />
preza pela excelência humana.<br />
Tenho muito orgulho em fazer parte<br />
dessa história e da equipe do curso<br />
de Fotografia da Unicap.<br />
Aline Grego<br />
Professora<br />
No contexto da Unicap, o Curso<br />
Superior de Tecnologia em<br />
Fotografia foi um dos primeiros<br />
cursos a conseguir conceito 5 na<br />
avaliação do MEC, em 2015 .Em<br />
2019 , é outra vez contemplado com<br />
conceito 5 . Dessa forma entra na<br />
história da Unicap como o primeiro<br />
curso a obter em duas avaliações<br />
seguidas, conceito 5 Diante<br />
desses resultados, é um curso,<br />
consagradamente, de excelência,<br />
construída de forma coletiva ,sob<br />
o comando da Profa Renata Victor<br />
que soube juntamente com alunos<br />
e professores transformarem<br />
dificuldades em potencialidades<br />
e fomentarem êxitos obtidos no<br />
cotidiano do Curso É possível dizer<br />
que a gestão do Curso de Tecnologia<br />
é um exemplo de como colocar os<br />
resultados da avaliação a serviço da<br />
excelência.<br />
Conceição Bizerra<br />
Coordenadora da CPA<br />
A nota 5 é o reconhecimento da<br />
construção de um projeto de curso<br />
que já chega aos 10 anos. Tenho<br />
orgulho de fazer parte dessa<br />
história, primeiro lá em 2014/15,<br />
como aluno da graduação, em<br />
seguida, entre 2016/17, cursando a<br />
especialização, e hoje, integrando o<br />
corpo de docentes do curso.<br />
Paulo Souza<br />
Ex-aluno e professor<br />
A nota 5 reflete uma harmoniosa<br />
integração entre docentes,<br />
discentes e toda estrutura física e de<br />
recursos humanos da universidade<br />
católica de Pernambuco. Como<br />
professor do curso, fazer parte<br />
desta equipe é uma honra e um<br />
prazer enorme. Parabéns e que<br />
venham novas e desafiadoras<br />
conquistas!<br />
João Guilherme Peixoto<br />
Professor<br />
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REVISTA DO CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM FOTOGRAFIA DA UNICAP<br />
www.unicap.br/unicaphoto