UnicaPhoto-Edicao13
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aparelhos tecnológicos não basta fotografar, visto que a<br />
imagem pode circular na rede. “Se for clicada, mas não<br />
circulada, a imagem produzida carece de uma existência<br />
completa, pois não sincroniza-se com os demais valores<br />
pertença da produção simbólica com que convive” (SILVA<br />
JUNIOR, 2015, p. 8). Pois é o clique que torna sensível o<br />
instante do tempo capturado como fenômeno estético e<br />
social. Desta forma, opera a questão do pertencimento<br />
através da fotografia no século XXI, o que já ocorrera antes<br />
no século XIX quando através do retrato o sujeito afirmava<br />
a sua identidade, de igual modo no século XX com<br />
os processos industriais da produção fotográfica com o<br />
volume de cenas para mostrar os acontecimentos e a vida<br />
cotidiana, em que milhões de filmes foram revelados e<br />
ampliados em papel.<br />
Neste novo cenário Silva Junior (2015, p. 9) afirma que “a<br />
ampliação desses cenários de circulação, principalmente<br />
em redes sociais como Instagram e Facebook, deflagra<br />
através do hiperatributo uma economia da atenção diferenciada,<br />
onde o pertencimento é destacado. A ênfase,<br />
portanto, recai em um grau de alta exposição do self através<br />
de imagens. Ver e ser visto, sobreposto a onipresença<br />
de câmeras conectadas, móveis acionam o pertencimento<br />
simbólico como atributo desta fotografia contemporânea<br />
em seu uso cotidiano e vernacular”. Fotografar está ligado<br />
ao primeiro clique como uma forma de capturar o tempo,<br />
já o segundo clique torna visível este tempo capturado<br />
através da Internet. Quando se olha o Stories aplica-se o<br />
pensamento de Silva Junior (2015, p. 11) quando coloca<br />
que “são fotos para serem tiradas, disponibilizadas, curtidas<br />
e esquecidas no fluxo incessante de sucessão no<br />
qual são produzidas”. Desse modo, para além do que se<br />
discute sobre o tempo para fotografar e o tempo de olhar<br />
o que foi fotografado entre as nossas próprias cenas e<br />
das outras pessoas há as questões sociais envolvidas<br />
nestes atos em que as imagens contam histórias, narram<br />
viagens, indicam lugares e atividades, entre tantas outras<br />
possibilidades.<br />
Joan Fontcuberta (2012, p. 30) indica que a fotografia digital<br />
atende a uma sociedade que tem o tempo acelerado,<br />
em que tudo está em velocidade e requer imediatismo.<br />
Para o pesquisador de fotografia, “não existem mais fatos<br />
desprovidos de imagem, e a documentação e transmissão<br />
do documento gráfico já não são fases indissociadas<br />
do mesmo acontecimento”. Quando observamos as imagens<br />
do Instagram, especialmente dos Stories, notamos<br />
que os acontecimentos estão sendo apresentados visualmente<br />
para os demais seguidores, no mês de julho, geralmente<br />
período de férias para quem trabalha com educação,<br />
“viajei” através de alguns amigos, fui a Roma com @<br />
carla, visitei Paris com @marina, conheci três festivais de<br />
chocolate em Paris, em São Paulo e na Bahia com @karla,<br />
me diverti pela Itália, Suíça e Alemanha com @andrea, assisti<br />
trechos de shows de amigos que foram a festivais de<br />
música, por exemplo, isso com uma grande quantidade<br />
de fotos diárias e com comentários, de certo modo obtive<br />
como espectadora uma experiência em termos de viagem<br />
e fotografia. Desse modo, Fontcuberta (2012, p. 30)<br />
afirma que “transmitir e compartilhar fotos funciona então<br />
como um novo sistema de comunicação social, como<br />
um ritual de comportamento que está igualmente sujeito<br />
a normas particulares de etiqueta e cortesia”. Mais um<br />
exemplo que gostaria de mencionar, ao fazer um curso<br />
de culinária, o professor montou um bolo de chocolate<br />
com uma calda e não deu a receita, disse que quem quisesse<br />
buscasse nos Stories do perfil dele, ou seja, esse<br />
tipo de imagem está tomando o espaço das cenas para<br />
posteridade, para a imagem do presente para o agora.<br />
No Instagram, o instantâneo da captura da tomada se<br />
torna o instantâneo da visualização da cena, pelo deslocamento<br />
temporal que as imagens passam a ter. A fotografia<br />
se expande e, de acordo com Fatorelli (2013, p.<br />
34), “abandona a condição de objeto único compartilhado<br />
pelas imagens artesanais para materializar a condição de<br />
imagem em trânsito, que tem o seu significado condicionado<br />
ao modo de circulação e de atualização”. Discute-se<br />
a partir dessa concepção o visível de forma fixa ou efêmera<br />
e de acordo com Fontcuberta (2014) “isto nos imerge<br />
num mundo saturado de imagens: vivemos na imagem<br />
e a imagem nos vive e nos faz viver”. Mas o que o Instagram,<br />
e especialmente o Stories, traz é não apenas o ato<br />
de fotografar e ver imagens, mas a interação social que<br />
essas ações possibilitam, sobretudo de reconhecimento<br />
e pertencimento, nessa operação de disciplina e controle<br />
no qual a produção e visualização da imagem está<br />
submetida, já que compartilhar imagens é compartilhar<br />
ideias, sonhos, experiências.<br />
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