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UnicaPhoto-Edicao13

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processual da imagem fixa”.<br />

Na Parte I, Mutações entre a imagem fixa e a imagem em<br />

movimento, o autor trata da modificação da criação de<br />

imagens através de sistemas organizados por algoritmos,<br />

em que há uma transformação do modelo hegemônico<br />

da fotografia. Partindo das inovações tecnológicas, elementos<br />

da cultural digital e mutações estéticas, há novos<br />

estados da imagem. Para dar conta de situar essa imagem<br />

contemporânea, Fatorelli traz aspectos da história do cinema<br />

e da fotografia, como elementos da Photo Secession<br />

(movimento artístico ocorrido nos Estados Unidos no<br />

início do século XX), para analisar o atual momento de produção<br />

visual, pois já havia intercâmbios entre as obras visuais.<br />

Importante mencionar a necessidade de um amplo<br />

repertório cultural por parte do espectador para dar conta<br />

de compreender e experimentar essas novas obras. “As<br />

alternâncias de velocidades da imagem projetada – que<br />

oscila entre imobilidade da fotografia e a superaceleração<br />

da imagem em movimento – confronta o observador<br />

com duas disposições: o seu modo habitual de percepção<br />

das imagens em movimento e o seu próprio modo de<br />

experienciar a passagem do tempo” (FATORELLI, 2003, p.<br />

26). Nesta parte foram analisadas algumas obras, entre<br />

elas: de Lucas Bambozzi, intitulada Postcards (2000), que<br />

une fotografias de cartões postais em vídeo, acionando as<br />

questões sobre tempo, memória e indicialidade; de Feco<br />

Hamburguer, em que a instalação Neutrino (2009), permite<br />

interação numa tela imaterial; de Rosângela Rennó, há<br />

uma foto-projeção na instalação Experiência de cinema<br />

(2004/2005); de Doug e Mike Starn, o mosaic Double portrait<br />

in swirl (1985-1986), discute a mobilidade fotográfica.<br />

Ao ler o livro o autor indica os sites onde as obras audiovisuais<br />

podem ser vistas, o que faz com que se torna uma<br />

experiência diferenciada de leitura.<br />

A Parte II, Reconfigurações das imagens, Fatorelli aponta<br />

que essas novas criações visuais estão em trânsito e<br />

requerem um espectador participativo, pois evocam mudanças<br />

perceptivas numa ampla possibilidade expressiva<br />

que a tecnologia digital proporciona. Essa nova produção<br />

é híbrida, quando não se determina onde começa a fotografia<br />

e termina o vídeo, a imagem agrega várias linguagens<br />

através de superposições e interseções. De acordo<br />

com Fatorelli (2003, p. 85), “o trânsito das imagens e entre<br />

as imagens, inaugurado pela mobilidade da fotografia e<br />

expandido pelas tecnologias imagéticas eletrônicas e digitais,<br />

estabelece novas dinâmicas entre a obra e a sua<br />

percepção da ordem da mutabilidade”. Nas configurações<br />

entre imagem fixa e em movimento, o tempo é o fator<br />

preponderante, tanto na construção da obra, já que as<br />

máquinas de captura de luz são máquinas de explorar o<br />

tempo, como na recepção desta, no momento da percepção<br />

criativa. Nesta parte há a análise das obras do próprio<br />

autor, como O ar azul da enseada de Botafogo (2009), e<br />

de Katia Maciel, como Ver de (2009), que discute o movimento<br />

e a imobilidade, a cor e o preto e branco, o interior<br />

e o exterior, entre outros aspectos. Desse modo, há uma<br />

expansão da visão por parte do espectador, já que as criações<br />

requerem uma atitude crítica e participativa.<br />

Imagem e afecção intitula a Parte III do livro que trata<br />

sobre a participação do corpo na fruição da obra visual,<br />

visto que afecção indica o modo como o sujeito se sente.<br />

Neste sentido o autor estuda como o corpo absorve essa<br />

nova produção como uma experiência singular, despertando<br />

para novas formas de percepção. Nesse sentido, a<br />

imagem mobiliza a memória através de novos hábitos, “as<br />

novas mídias passam a convocar o corpo como um processador<br />

de informação, agora chamado a desempenhar<br />

as funções seletivas anteriormente delegadas às interfaces<br />

midiáticas” (FATORELLI, 2003, p. 141). Da visão para o<br />

tato, Fatorelli indica uma ampliação no modo de absorver<br />

a imagem através da afectibilidade do corpo, o que permite<br />

criar uma estética háptica. Um bom exemplo desse<br />

tipo de interação é a instalação, como a obra de Jeffrey<br />

Shaw, Place: a user’s manual (2008), em que o usuário fica<br />

numa plataforma giratória e controla as imagens que serão<br />

expostas nas telas. Outro exemplo é a criação de Rafael<br />

Lozano-Hemmer, Under Scan, Relational Architecture<br />

11 (2005), em que aparecem imagens fluidas projetadas<br />

através de sensores eletrônicos em função do movimento<br />

do corpo do espectador.<br />

O livro abre a possibilidade de ver e rever obras contemporâneas<br />

a partir dos conceitos e análises abordadas e nos<br />

faz refletir sobre essa mescla de linguagens nas produções<br />

visuais, sobretudo pelas novas inscrições temporais<br />

em que a cultura digital requer participação e reinvenção.<br />

Desse modo, a mudança tanto nas obras quanto nos espectadores<br />

amplia o modo de criação que traz inovação,<br />

mutação, reconfiguração, interação e diferentes temporalidades,<br />

entre a imobilidade da imagem e seu movimento<br />

há conexões, atravessamentos, simultaneidades que resultam<br />

numa criativa cena visual contemporânea.<br />

Antonio Fatorelli é doutor em Comunicação e Cultura pela<br />

Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde é professor<br />

da Escola de Comunicação, além de pesquisador de imagem<br />

e novas mídias através do Núcleo N-Imagem.<br />

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