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REPORTAGEM Novos modos de produção de imagem: Feed e Stories do Instagram Texto: Julianna Nascimento Torezani Em tempos em que a fotografia deixou de lado o papel e apareceu nas telas, novas formas de criação e exibição de imagens surgiram, especialmente nas redes sociais. O elemento antes estático torna-se híbrido em configuração com outras linguagens visuais. A fotografia expande-se e encontra com o vídeo numa mescla de novos formatos de elaboração, aliada às ferramentas que as plataformas digitais criaram. Mudou a criação das imagens e mudou a exibição também, pois esta é modelada por uma nova temporalidade, ou seja, as imagens deslocam-se de uma para outra, pois estão em fluxo, o que Antonio Fatorelli (2013, p. 7) chama de “experiências da duração, da simultaneidade e da ubiquidade”, diferentes da fotografia instantânea e do cinema narrativo clássico. No Instagram, criado desde 2010 por Mike Krieger e Kevin Systrom, há duas formas de exibição de imagens: no Feed, em que as cenas (fotografias e vídeos) podem estar isoladas, em mosaico, ou em sequência; nos Stories, em que as cenas desaparecem após 24 horas da publicação. Este recurso foi criado em 2016, semelhante ao que existia no aplicativo SnapChat. Exceto as highlights (histórias destacadas) que ficam disponíveis pelo tempo que o usu- 40
ário quiser, alguns perfis destacam alguns itens para facilitar a navegação dos usuários, elemento que pode ser usado como estratégia de algumas empresas para mostrar seus produtos. Ao teorizar tais elementos de publicação de registros observa-se a partir de Fatorelli (2013) que há novos modos de observar e experimentar as imagens na atualidade, já que o espectador contemporâneo atua de forma interativa com as mensagens que cria e recebe. Fatorelli (2013, p. 18) aponta que “convertidos em algoritmos, os diversos elementos expressivos – sons, imagens e textos -, que tradicionalmente condicionaram as linguagens e as estéticas associadas aos meios, têm as suas especificidades questionadas. A passagem do sinal de luz para o sinal eletrônico marca a transição da modernidade para a contemporaneidade, colocando em perspectiva os valores materiais e simbólicos, associados à representação fotocinematográfica baseada no modo analógico de inscrição, projeção, difusão e recepção da imagem”. Assim, temos nessas novas mídias os elementos de inovação tecnológica, mutações estéticas, publicação do cotidiano imediato e redimensionamento do tempo. Em função desse último item, o usuário oscila ao escolher ver as imagens do Feed ou do Stories, passando de uma observação rápida a uma maior atenção, inclusive dando feedback às cenas vistas. Mas, muitas vezes, a visualização dos Stories torna-se prioritária, já que estas imagens não permanecem, são efêmeras. Desse modo, vale aplicar as observações de Fatorelli (2013, p. 23) em seu estudo sobre a imagem contemporânea quando diz que “as fotografias são submetidas ao tratamento sequencial ou serial, editadas de modo a comportar certo encadeamento e certa duração, entrevendo uma narrativa e uma temporalidade multidirecionais”. Como ocorre nos Stories, os usuários ao publicarem as imagens colocam em determinada ordem contando uma história, haja vista os perfis dos viajantes quando mostram os lugares onde estão, da mesma forma das pessoas que publicam textos em partes, enquanto a temporalidade é definida pela plataforma em que a imagem fica aparente por alguns segundos. De acordo com a teoria de Boris Kossoy (2007) que indica a questão do tempo na fotografia, há o tempo da criação da imagem, o que chama de primeira realidade (já que o ato de registro é efêmero), e o tempo da representação como a segunda realidade por ser a foto em si, podendo ser eterna, já que congelou um momento passado. Observando o cenário atual, Kossoy indica que essas clássicas temporalidades estão em mudança, já que temos a onipresença da imagem, a grande produção de registros e os tempos de criação e de representação reelaborados, que ele chama de tempo reciclado. “Os antigos cenários, hoje irresistivelmente manipulados, ressurgem em sedutoras estetizações: é a morte do tempo histórico da criação, é a morte de sua representação. É, contudo, a aurora do tempo reciclado, ponto de partida para o mundo das representações sintéticas” (KOSSOY, 2007, p. 141). O Stories opera nos dois tempos, mas ambos efêmeros, no que diz respeito à visualização das imagens no Instagram, por segundos observo a cena e tenho apenas um dia para isso, tem assim um tempo reciclado. Podemos afirmar que diante de tais elementos há uma cena imagética contemporânea, em que no Instagram as imagens ficam entre o armazenamento do Feed e a atualização das Stories, pois estão em projeção e em movimento, na passagem de cena para outra, o que requer uma especial atenção de quem observa: “uma disposição física e psíquica do espectador, ele mesmo confrontado com os pressupostos da variabilidade, instabilidade e multiplicidade proporcionados pela dinâmica de atravessamento das imagens” (FATORELLI, 2013, p. 82). Assim, para além da fotografia estática, o Instagram promove novas formas de ver imagens, com fluidez e de forma híbrida com outras linguagens numa escala de tempo intensivo, já que a imagem transita na tela dos smartphones. Lembrando que “a fotografia ocupa o lugar de uma metalinguagem, de uma mídia capaz de processar e de ressignificar outras formas visuais” (FATORELLI, 2013, p. 33). Já que cada usuário vê as publicações das pessoas que segue, observamos entre os perfis os seguintes tipos de publicação: pessoas que mostram seu cotidiano todos os dias; indicação de eventos; registros de viagens; indicações de cursos, livros, filmes ou séries; frases motivacionais; campanhas sociais; receitas; e, claro, peças publicitárias de diversas empresas, as marcas de roupas, por exemplo, fazem desfiles com modelos e clientes com comentários sobre os trajes. Vale ressaltar que as narrativas pessoais são as que mais aparecem, já que fotografar o cotidiano é fazer parte dele, numa era de estética háptica o corpo produz a imagem e/ou participa dela. José Afonso da Silva Junior (2015) aponta as intencionalidades dos sujeitos ao criar e publicar suas imagens quando estuda o “segundo clique da fotografia”, no que tange aos modelos da fotografia digital, onde através dos 41
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