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ANAIS - II Semana de História

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1


2<br />

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA<br />

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – Campus X<br />

COLEGIADO DE HISTORIA<br />

<strong>ANAIS</strong><br />

<strong>II</strong> <strong>Semana</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>História</strong><br />

Os povos indígenas na Bahia: história, conflitos e territorialida<strong>de</strong><br />

26 a 28 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2016<br />

Teixeira <strong>de</strong> Freitas – Ba<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia - UNEB


3<br />

REITORIA<br />

JOSÉ BITES DE CARVALHO<br />

VICE-REITORIA<br />

CARLA LIANE NASCIMENTO DOS SANTOS<br />

DIREÇÃO DO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CAMPUS X<br />

MINERVINA JOSELI ESPINDOLA REIS<br />

COORDENAÇÃO DO NUPEX<br />

ELZICLEIA TAVARES DOS SANTOS<br />

COORDENAÇÃO DO COLEGIADO DE HISTÓRIA<br />

JONATHAN DE OLIVEIRA MOLAR<br />

COMISSÃO ORGNIZADORA<br />

DOCENTES<br />

Ariosvaldo Alves Gomes<br />

Benedito <strong>de</strong> Souza Santos<br />

Ediane Lopes <strong>de</strong> Santana<br />

Fernando César Coelho da Costa<br />

Maria Geovanda Batista<br />

Guilhermina Elisa Bessa da Costa<br />

Gislaine Romana <strong>de</strong> Carvalho<br />

Joelson Pereira dos Santos<br />

Jonathan <strong>de</strong> Oliveira Molar<br />

Liliane M. Fernan<strong>de</strong>s Cor<strong>de</strong>iro Gomes<br />

Marcio Soares santos<br />

Priscila Santos da Glória<br />

Uerisleda Alencar Moreira<br />

Yolanda Aparecida <strong>de</strong> Castro Almeida Vieira<br />

TÉCNICO ADMINISTRATIVO<br />

Fre<strong>de</strong>rico Loyola Viana<br />

DISCENTES<br />

Fabíola Gangá<br />

Helena Aparecida <strong>de</strong> Sousa Vieira<br />

Jasmim Lima dos Santos<br />

Sarah Quimba Pinheiro<br />

Jamile Stephane dos Santos Souza<br />

Jaqueline Nunes<br />

Jéssica Silva<br />

Kevelin Souza Santos<br />

Mirla Kleille Oliveira Correia


4<br />

Patrícia Alvez Silva<br />

Pablo Viana Cruz<br />

Raí Souza Costa<br />

Yasmin Silva Santos <strong>de</strong> Jesus<br />

COMISSÃO CIENTÍFICA<br />

Ariosvaldo Alves Aomes<br />

Benedito Souza Santos<br />

Ediane Lopes <strong>de</strong> Santana<br />

Fernando César Coelho da Costa<br />

Guilhermina Elisa Bessa da Costa<br />

Halysson Gomes da Fonseca<br />

Joelson Pereira <strong>de</strong> Sousa<br />

Jonathan <strong>de</strong> Oliveira Molar<br />

Liana Gonçalves Pontes Sodré<br />

Liliane Maria Fernan<strong>de</strong>s Cor<strong>de</strong>iro Gomes<br />

Márcio Soares Santos<br />

Maria Heovanda Batista<br />

Priscila Santos da Glória<br />

Uerisleda Alencar Moreira<br />

Yolanda Aparecida Castro<br />

Cristiane Gomes<br />

Cristhiane Ferreguett<br />

Organização<br />

Uerisleda Alencar Moreira<br />

Fre<strong>de</strong>rico Loyola Viana<br />

Marcio Soares Santos<br />

Diagramação<br />

Jasmim Lima dos Santos<br />

Marca do Evento<br />

<strong>II</strong> SEMANA DE HISTÓRIA<br />

Observação: a a<strong>de</strong>quação técnico-linguística dos textos, bem como seus conteúdos, são <strong>de</strong><br />

responsabilida<strong>de</strong> dos autores.


5<br />

A <strong>II</strong> SEMANA ESTADUAL DE HISTÓRIA<br />

A <strong>II</strong> <strong>Semana</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>História</strong>, promovida pelo Colegiado <strong>de</strong> <strong>História</strong> e pelo<br />

Departamento <strong>de</strong> Educação da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia, Campus X, visa constituirse<br />

como um evento <strong>de</strong> relevância no estado da Bahia para integração <strong>de</strong> acadêmicos da<br />

graduação e da pós-graduação, docentes e pesquisadores que se <strong>de</strong>bruçam sobre o campo<br />

histórico e áreas afins. Dessa forma, preten<strong>de</strong>-se, a partir da realização <strong>de</strong>sta segunda edição,<br />

consolidar um evento estadual que a cada dois anos reúna ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino, pesquisa e<br />

extensão Campus X da UNEB.<br />

Nesta edição, a <strong>II</strong> <strong>Semana</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>História</strong> propõe a temática Os povos indígenas<br />

na Bahia: história, conflitos e territorialida<strong>de</strong>, e tem como objetivo fomentar espaços <strong>de</strong><br />

formação e divulgação <strong>de</strong> pesquisas em <strong>História</strong> que colaborem para a construção do<br />

conhecimento histórico a partir <strong>de</strong> um viés socioeconômico, além <strong>de</strong> cumprir com a função<br />

social da aca<strong>de</strong>mia, <strong>de</strong>batendo problemáticas atuais, como a questão indígena no extremo sul<br />

da Bahia. O evento prioriza o <strong>de</strong>bate atual frente aos últimos acontecimentos que<br />

evi<strong>de</strong>nciaram o conflito em torna da <strong>de</strong>marcação das terras indígenas no Extremo Sul da<br />

Bahia, bem como oportunizar a apresentação <strong>de</strong> comunicações <strong>de</strong> discentes e docentes nos<br />

âmbitos da pesquisa, do ensino e da extensão, fortalecendo vínculos entre os pesquisadores<br />

espalhados pelos mais <strong>de</strong> vinte e quatro campi da UNEB no estado e <strong>de</strong> <strong>de</strong>mais universida<strong>de</strong>s,<br />

tanto na Bahia quanto nos outros estados da fe<strong>de</strong>ração. Além disso, ocorrerão minicursos e<br />

palestras ministradas por pesquisadores envolvidos diretamente com a temática.<br />

Desse modo, a <strong>II</strong> <strong>Semana</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>História</strong> do Campus X é compreendida,<br />

portanto, como um espaço privilegiado para o <strong>de</strong>bate acadêmico, a socialização <strong>de</strong><br />

conhecimentos e a troca <strong>de</strong> experiências, visando gerar, com isso, o incentivo a novas<br />

reflexões sócio-acadêmicas. Em suma, o conhecimento produzido <strong>de</strong>ntro e fora dos muros da<br />

universida<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> ficar recluso apenas em salas <strong>de</strong> aula ou em projetos <strong>de</strong> pesquisa, é<br />

necessário que o campo científico seja divulgado e, mais do que isso, discutido. Nesse<br />

sentido, os eventos são meios privilegiados para que se alcance tal objetivo, inserindo-se<br />

nessa proposta tem-se a <strong>II</strong> <strong>Semana</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>História</strong> do Campus X.<br />

O evento se realizará nos dias 26 a 29 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2016, no Departamento <strong>de</strong> Educação<br />

– Campus X, localizado à Avenida Kaikan, Jardim Caraípe, Teixeira <strong>de</strong> Freitas-Ba, CEP:<br />

45995-000.<br />

Importante ressaltar que a localização do Campus X da UNEB tem um valor adicional<br />

no estabelecimento <strong>de</strong> eventos científicos, pois este <strong>de</strong>partamento da Universida<strong>de</strong> encontrase<br />

em um local que requer cada vez mais eventos <strong>de</strong>sta natureza para aten<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>manda <strong>de</strong><br />

graduandos e graduados em <strong>História</strong>; além disso, <strong>de</strong>ve-se levar em consi<strong>de</strong>ração que o


6<br />

município <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas é um micro-pólo do Extremo Sul da Bahia, afinal, ao seu<br />

redor concentram-se 21 municípios, a saber: Alcobaça, Belmonte, Caravelas, Eunápolis,<br />

Guaratinga, Ibirapuã, Itabela, Itagimirim, Itamarajú, Itanhém, Itapebi, Jucuruçu, Lajedão,<br />

Me<strong>de</strong>iros Neto, Mucuri, Nova Viçosa, Porto Seguro, Prado, Santa Cruz <strong>de</strong> Cabrália e Vereda,<br />

além do próprio município <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas e seus mais <strong>de</strong> 190 mil habitantes.<br />

No total, essa micro-região abrange uma área <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 30.420 km², cujos<br />

estudantes, permanentemente, procuram pelos cursos oferecidos pela UNEB <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong><br />

Freitas (Campus X). Dessa forma, em <strong>de</strong>corrência da gran<strong>de</strong> área sócio geográfica abarcada<br />

pelo Campus X, preten<strong>de</strong>-se com a <strong>II</strong> <strong>Semana</strong> Estadual <strong>de</strong> <strong>História</strong> intensificar ainda mais as<br />

produções científicas dos discentes e docentes que se encontram no Campus X e,<br />

principalmente, fomentar as trocas <strong>de</strong> experiências e discussões epistemológicas entre os<br />

pesquisadores do estado da Bahia e do país.<br />

Ou seja, o evento quer se fazer ser estadual, ultrapassando assim, as fronteiras<br />

regionais já consolidadas, <strong>de</strong> modo a atrair para o Campus X um espaço intenso <strong>de</strong> divulgação<br />

e reconhecimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>mandas científicas. Em outros termos, preten<strong>de</strong>-se reunir na UNEB <strong>de</strong><br />

Teixeira <strong>de</strong> Freitas docentes e discentes oriundos das mais diversas Instituições <strong>de</strong> Ensino<br />

Superior da Bahia e do Brasil, fortalecendo o diálogo e a fraternida<strong>de</strong> entre elas, princípio<br />

fundamental da concepção <strong>de</strong> pesquisa e conhecimento.


03 BRASIL REPÚBLICA: SUBALTERNIZADOS EM MOVIMENTO -<br />

INDAGANDO DESATENÇÕES HISTORIOGRÁFICAS<br />

AS CIÊNCIAS NO BRASIL REPUBLICANO: O CONTROLE DOS<br />

CORPOS NA SOCIEDADE DO FINAL DO XIX E INÍCIO DO SÉCULO<br />

XX.<br />

Artur Silva Almeida<br />

ÍNDIOS MAXAKALI: ESTRATÉGIAS E TÁTICAS DE RESISTÊNCIA<br />

CAMUFLADAS.<br />

Agnes Cristine Men<strong>de</strong><br />

Carolina Ferreira Ferraz;<br />

Eduardo Antônio Bonzatto<br />

A ATIVIDADE EXTRATIVISTA E O SURGIMENTO DO POVOADO DE<br />

TEIXEIRA DE FREITAS.<br />

Ailton <strong>de</strong> Oliveira Junior<br />

A DEFESA DO SALÁRIO MÍNIMO NO CONGRESSO NACIONAL: O<br />

CASO DO PARLAMENTAR PAULO PAIM DO PARTIDO DOS<br />

TRABALHADORES (1986-2006).<br />

7<br />

SUMÁRIO<br />

RESUMOS<br />

01 SIMPÓSIO HISTÓRIA DA BAHIA COLONIAL: ECONOMIA,<br />

POLÍTICA E SOCIEDADE<br />

POSSÍVEIS ROTAS FLUVIAS NAS COMARCAS DO SUL UM<br />

PROJETO PARA O JEQUITINHONHA E RIO PARDO<br />

Julian <strong>de</strong> Souza Mota<br />

Jocenei<strong>de</strong> Cunha<br />

A PERSEGUIÇÃO AO TUPINAMBÁ DURANTE AS VISITAÇÕES DO<br />

SANTO OFÍCIO NA BAHIA: (1591-1595; 1618-1620).<br />

Laiane De Jesus Santos Macedo<br />

Suzana Maria <strong>de</strong> Sousa Santos Severs<br />

HOMENS DA FRONTEIRA: ÍNDIOS, CAPITÃES E SERTANISMO NA<br />

ILHÉUS SETECENTISTA.<br />

Rafael dos Santos Barros<br />

02 BRASIL IMPÉRIO - HISTÓRIAS DE LIBERDADE NA<br />

ESCRAVIDÃO E NO PÓS- ABOLIÇÃO: TRAJETÓRIAS, ALFORRIA<br />

E TRABALHO<br />

ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA UMA CAMUFLAGEM DA<br />

LIBERDADE.<br />

Angerlândia Carvalho dos Santos<br />

Laylla Raphaela dos Santos Silva Cardoso<br />

Marina Rios da Cunha Santa Rosa<br />

PASSANDO PELOS RITOS SACRAMENTAIS, NASCER E O MORRER:<br />

DAS CRIANÇASESCRAVIZADAS NA FREGUESIA DE NOSSA<br />

SENHORA DO CARMO, VILA DE BELMONTE (1867-1888)<br />

Jamilly Bispo Laureano<br />

Jocenei<strong>de</strong> Cunha;<br />

O BATISMO DE ESCRAVOS APÓS A LEI DO VENTRE LIVRE (1871)<br />

EM CARAVELAS, BA<br />

Priscila Santos da Glória<br />

Fernanda Silva Souza<br />

A PARTICIPAÇÃO POPULAR NO PROCESO DE INDEPENDÊNCIA DO<br />

BRASIL NA DECADA DE 1820<br />

Ramom Pereira <strong>de</strong> Jesus Moreira<br />

Priscila Santos da Glória<br />

POLÍTICAS INDIGENISTAS: RESISTÊNCIA INDÍGENA NA<br />

COMARCA DE CARAVELAS NO SÉCULO XIX<br />

Sarah Quimba Pinheiro


8<br />

Glauber Eduardo Ribeiro Cruz<br />

FOI-SE O TEMPO DO CORONELISMO? RUPTURAS,<br />

PERMANÊNCIAS, PRÁTICAS POLÍTICAS E DESENVOLVIMENTO<br />

REGIONAL EM TEIXEIRA DE FREITAS – BA (1985-2012).<br />

Junio Viana Gomes<br />

BOLETIM DIOCESANO, DIOCESE CARAVELAS – BAHIA, 1982:<br />

REGISTROS E POSICIONAMENTOS SOBRE DISPUTAS DE TERRA<br />

ENVOLVENDO POVOS PATAXO HÃ-HÃ-HÃE.<br />

Liliane Maria Fernan<strong>de</strong>s Cor<strong>de</strong>iro Gomes<br />

APOSENTADORIA E SINDICALISMO: DIREITOS E ESTRATÉGIAS DE<br />

TRABALHADORES NA ZONA RURAL DO MUNICÍPIO DE<br />

ITABERABA, BAHIA, DE 1971 A 1988.<br />

Marcelo Oliveira dos Santos<br />

ESPAÇOS NOTURNOS DE SOCIABILIDADE NA CIDADE DO RIO DE<br />

JANEIRO (1900-1930).<br />

Patrícia Alves Silva<br />

04 EDUCAÇÃO, DIVERSIDADE E ENSINO DE HISTÓRIA<br />

A CANÇÃO SERTANEJA E SUAS POSSIBILIDADES NO ENSINO DE<br />

HISTÓRIA DO 9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL.<br />

Lucieleny Ribeiro Jardim<br />

EDUCAÇÃO E METODO DE ENSINO: AGENTES<br />

TRANSFORMADORES EM UMA PERSPECTIVA ETINICORRACIAL.<br />

Wêrany Brites dos Santos Portugal<br />

ENTRE O DITO E O NÃO DITO: O AUDIOVISUAL E AS<br />

POSSIBILIDADES DA LINGUAGEM FÍLMICA NO ENSINO DE<br />

HISTÓRIA.<br />

Maurício Dias<br />

Rosimeire <strong>de</strong> Jesus Carvalho<br />

ESCOLA, ESCOLAS, O FESTIVAL ANUAL DA CANÇÃO<br />

ESTUDANTIL DA BAHIA E A CONSTRUÇÃO DA TRILHA<br />

SONORA NO ENSINO DE HISTÓRIA .<br />

Lucieleny Ribeiro Jardim<br />

RELATO DE EXPERIÊNCIA DA OFICINA: LITERATURA DE CORDEL<br />

COMO FONTE DE PRODUÇÃO E VALORIZAÇÃO DA HISTÓRIA<br />

LOCAL.<br />

Joel Bastos Alves<br />

RELATO DE EXPERIÊNCIA DA OFICINA: DIREITOS DOS POVOS:<br />

CULTURA INDÍGENA NO EXTREMO SUL BAIANO.<br />

Daiane Felix dos Santos; Franciele Santos Soares<br />

AS TIC’S NO PROCESSO DE ENSINO/APRENDIZAGEM NO ENSINO<br />

DA DITADURA MILITAR NO BRASIL (1964-1985).<br />

José Carlos Gomes <strong>de</strong> Campos<br />

COMPREENDENDO AS CATEGORIAS DE ANÁLISE DA GEOGRAFIA<br />

PARA UMA MELHOR COMPREENSÃO DA HISTÓRIA.<br />

Yolanda Aparecida <strong>de</strong> Castro<br />

OS JESUÍTAS E O ENSINO: EDUCAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE<br />

DOMINAÇÃO.<br />

Fábio Pereira Barros<br />

RELATÓRIO DO ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO <strong>II</strong>I:<br />

REGÊNCIA NAS SÉRIES FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL.<br />

Yasmin Silva Santos <strong>de</strong> Jesus<br />

A APRENDIZAGEM DOS ALUNOS NA DISCIPLINA DE HISTÓRIA NO<br />

ENSINO FUNDAMENTAL.<br />

Diógenes Santa Santos<br />

Jasmim Lima dos Santos<br />

A CULTURA LOCAL NO ENSINO DE HISTÓRIA.<br />

Geniclécia Lima dos Santos<br />

Rayla Roberta Silva <strong>de</strong> Oliveira;<br />

Iris Verena Santos <strong>de</strong> Oliveira


9<br />

A CONSTRUÇÃO DO INDÍGENA NOS LIVROS DE HISTÓRIA E DE<br />

LÍNGUA PORTUGUESA NO ENSINO MÉDIO: O QUE DIZ O PNLD?<br />

E<strong>de</strong>vard França Pinto JÚNIOR<br />

Stéfano Couto Monteiro<br />

FORMAÇÃO POLÍTICA DO PROFESSOR DE HISTÓRIA.<br />

Marconey <strong>de</strong> Jesus Oliveira<br />

UMA ANÁLISE DECOLONIAL DA REPRESENTAÇÃO INDÍGENA<br />

NOS LIVROS DIDÁTICOS DA REDE MUNICIPAL DE ARACRUZ-ES.<br />

Paulo <strong>de</strong> Tássio Borges da Silva<br />

Aciara Carvalho Guarani;<br />

Keilla Pereira da Rosa Tupinikim<br />

05 HISTÓRIA, RELAÇÕES DE GÊNERO E SEXUALIDADES<br />

A SULBATERNIZAÇÃO DA MULHER NA SOCIEDADE<br />

CAPITALISTA, PATRIARCAL, RACISTA E HETEROSSEXISTA.<br />

Delliana Ricelli Ribeiro da Silva<br />

OS DISCURSOS DA IGREJA SOBRE O COMPORTAMENTO E CORPO<br />

FEMININO, NA AMÉRICA PORTUGUESA DO SÉCULO XV<strong>II</strong>.<br />

Nadiny Chaiany Santos Luz<br />

A ATUAÇÃO DAS MULHERES ÍNDIGENAS PATAXÓ NO EXTREMO<br />

SUL DA BAHIA.<br />

Andreia Silva<br />

UM OLHAR SOBRE O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO DAS<br />

(OS) AGENTES COMUNITÁRIAS (OS) DE SAÚDE NA USF DA URBIS<br />

À LUZ DA POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À<br />

SAÚDE DA MULHER (PNAISM).<br />

Ada Fernanda Batista Correia Tigre<br />

CORPOS SUBJUGADOS: UMA HISTÓRIA DAS MULHERES NO<br />

FILME DESMUNDO.<br />

Pablo Viana Cruz<br />

RABALHADORAS RURAIS: MEMÓRIAS, TRAJETÓRIAS E GÊNERO<br />

NA LAVOURA DE CAFÉ EM ITAMARAJU-BA (1975-1995).<br />

Gabriele Balieiro Oliveira<br />

POR UMA HISTÓRIA DAS EXCLUÍDAS: MULHERES E<br />

PROSTITUIÇÃO NA RUA MAUÁ EM TEIXEIRA DE FREITAS.<br />

Mirla Kleille Oliveira Correia<br />

TRADIÇÃO RESISTENTE CATÓLICA: (RE) PENSANDO O CONCÍLIO<br />

VATICANO <strong>II</strong>.<br />

Helena Aparecida <strong>de</strong> Souza Vieira<br />

SOBRE “PERDAS CULTURAIS” EM SEXUALIDADES INDÍGENAS.<br />

Paulo <strong>de</strong> Tássio Borges da Silva<br />

06 CAMINHOS PARA A PESQUISA HISTÓRICA:<br />

AS INSTITUIÇÕES ARQUIVÍSTICAS E AS FONTES<br />

DOCUMENTAIS E PATRIMONIAIS<br />

A FESTA DE PESCADORES EM CONCEIÇÃO DA BARRA-ES E<br />

MUCURI-BA (1970-2015).<br />

Josiane Anacleto da Silva<br />

Stefane Souza Santos<br />

FESTA DE SÃO JOÃO NO INTERIOR DO EXTREMO SUL BAIANO:<br />

VALORES CULTURAIS X VALORES ECONÔMICOS.<br />

Franciele Santos Soares<br />

Marluce dos Santos<br />

CABOCLO NO TERREIRO, NO VALE E NA LÍNGUA:<br />

REPRESENTAÇÕES SEMIÓTICAS E RELIGIOSAS DO ÍNDIO.<br />

Bougleux Bomjardim da Silva Carmo<br />

OS REGISTROS ECLESIAIS PARA O ESTUDO DO BATISMO DE<br />

CRIANÇAS INDÍGENAS EM PORTO SEGURO (1837-1845).<br />

Uerisleda Alencar Moreira<br />

CEMITÉRIOS, SEPULTAMENTOS E URBANIZAÇÃO EM TEIXEIRA<br />

DE FREITAS (1980-2015).


10<br />

Maria D´Ajuda Rodrigues<br />

RELAÇÕES MATRIMONIAIS NA IGREJA DE SÃO BERNARDO DE<br />

ALCOBAÇA, BAHIA, EM MEADOS DO SÉCULO XIX.<br />

Uerisleda Alencar Moreira<br />

Laís Assunção Moreira<br />

ANÁLISE DAS FONTES DOCUMENTAIS DA LEGISLAÇÃO SOBRE A<br />

INCLUSÃO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO BRASIL (2005-<br />

2015).<br />

Romário Santos da Silva<br />

Fre<strong>de</strong>rico Loiola Viana<br />

Guilhermina Elisa Bessa da Costa<br />

INTERLOCUÇÕES ENTRE PESQUISA, HISTÓRIA E MEMÓRIA:<br />

RELATO DE EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM<br />

ESPAÇOS NÃO-ESCOLARES.<br />

Gislaine Romana Carvalho da Silva<br />

Guilhermina Elisa Bessa da Costa<br />

07 HISTÓRIA, ÁFRICA E AFRICANIDADES<br />

PORTUGAL – ÁFRICA E O ENCONTRO COM A ILHA BRASILIS:<br />

DIFERENTES PERSONAGENS QUE CONSTRUÍRAM A IDENTIDADE<br />

BRASILEIRA.<br />

Mariana Dourado da Silva<br />

Maríllia <strong>de</strong> Oliveira Pinho<br />

REIFICAÇÃO E RESISTÊNCIA NAS RELAÇÕES RACIAIS À<br />

BRASILEIRA.<br />

Jéssica Silva Pereira<br />

ESCRAVIDÃO E RESISTÊNCIA NEGRA: FORMAÇÃO DE<br />

QUILOMBOS.<br />

Ramom Pereira <strong>de</strong> Jesus Moreira<br />

AFROINDÍGENAS, MEDIAÇÃO E EMPODERAMENTO: UMA<br />

EXPERIÊNCIA DO MOVIMENTO CULTURAL ARTE MANHA EM<br />

CARAVELAS-BA.<br />

Benedito <strong>de</strong> Souza Santos<br />

A FIGURA DOS PRETOS-VELHOS: REPRESENTAÇÕES ENTRE<br />

LINGUAGEM E MEMÓRIA.<br />

Bougleux Bomjardim da Silva Carmo<br />

MEMÓRIA CULTURAL E SOCIAL DA COMUNIDADE QUILOMBOLA<br />

BOITARACA.<br />

Tailine Nascimento Argôlo<br />

OS ESPAÇOS OCUPADOS PELOS NEGROS COMO AFIRMAÇÃO DA<br />

LIBERDADE NO RIO DE JANEIRO.<br />

Helena Aparecida <strong>de</strong> Souza Vieira<br />

08 HISTÓRIA SEM FRONTEIRAS: ASPECTOS FILOSÓFICOS DO<br />

SABER HISTÓRICO<br />

FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO: DIDÁTICA, METODOLOGIA E<br />

CURRÍCULO.<br />

Fábio Pereira Barros<br />

POÉTICAS DOS POVOS ORIGINÁRIOS E O SISTEMA DA ARTE<br />

CONTEMPORÂNEA.<br />

Alessandra Mello Simões Paiva<br />

Aluizio Men<strong>de</strong>s<br />

A INFLUÊNCIA DA RELIGIÃO NA FORMAÇÃO HUMANA:<br />

IDEOLOGIA E O DESAFIO DO DIFERENTE.<br />

Izaiane Ferreira Costa<br />

AS EXPERIÊNCIAS TOTALITÁRIAS NO SÉCULO XX E O FIM DA<br />

TRADIÇÃO NO PENSAMENTO DE HANNAH ARENDT: A HISTÓRIA<br />

CONHECIDA CHEGA AO FIM.<br />

Raí Souza Costa<br />

HANNAH ARENDT E A CRISE DA MODERNIDADE: ASPECTOS<br />

HISTÓRICOS.


11<br />

Brendo Stoco Vidal<br />

HANNAH ARENDT E A TRANSGRESSÃO METODOLÓGICA<br />

COMO PONTO DE PARTIDA PARA O PENSAMENTO<br />

Joelson Pereira <strong>de</strong> Sousa<br />

09 A HISTÓRIA EM MOVIMENTO E SONS: AS LINGUAGENS E OS<br />

NOVOS OBJETOS NA PESQUISA HISTÓRICA<br />

CACAU E SUOR: ROMANCE PROLETÁRIO OU CENÁRIOS DA<br />

REVOLTA OU O VENENO E O ANTIDOTO.<br />

Maurício Dias<br />

OUTRAS LINGUAGENS NO ENSINO DE HISTÓRIA: A FOTOGRAFIA<br />

E A MEMÓRIA.<br />

Cristiane Silva <strong>de</strong> Meireles Cardoso<br />

DISCUTINDO VIOLÊNCIA E RACISMO ÉTNICO ATRAVÉS DOS<br />

HQFORISMOS.<br />

Danielle Barros Silva Fortuna<br />

“NÃO ENTREI NO CANGAÇO, ME BOTARAM NELE”: AS<br />

CANGACEIRAS E O INGRESSO INVOLUNTÁRIO NO BANDITISMO.<br />

Michele Soares Santos<br />

ARTIGOS<br />

A ATIVIDADE EXTRATIVISTA E O SURGIMENTO DO POVOADO DE<br />

TEIXEIRA DE FREITAS<br />

Ailton <strong>de</strong> Oliveira Junior<br />

A FIGURA DOS PRETOS-VELHOS: REPRESENTAÇÕES ENTRE<br />

LINGUAGEM E MEMÓRIA<br />

Bougleux Bomjardim da Silva Carmo<br />

RELATO DE EXPERIÊNCIA DA OFICINA: DIREITOS DOS POVOS:<br />

CULTURA INDÍGENA NO EXTREMO SUL BAIANO.<br />

Brendo Stoco Vidal<br />

Daiane Felix dos Santos<br />

Franciele Santos Soares<br />

Marluce Santos<br />

Janusa Neres<br />

OUTRAS LINGUAGENS NO ENSINO DE HISTÓRIA: A FOTOGRAFIA<br />

E A MEMÓRIA<br />

Cristiane Silva <strong>de</strong> Meireles Cardoso<br />

A APRENDIZAGEM DOS ALUNOS NA DISCIPLINA DE HISTÓRIA NO<br />

ENSINO FUNDAMENTAL.<br />

Diógenes Santa Santos<br />

Jasmim Lima dos Santos<br />

Prof. Me. Ariosvaldo Alves Gomes<br />

Prof. Me. Gislaine Romana Carvalho da Silva<br />

FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO: DIDÁTICA, METODOLOGIA E<br />

CURRÍCULO<br />

Fábio Pereira Barros<br />

OS JESUÍTAS E O ENSINO: EDUCAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE<br />

DOMINAÇÃO<br />

Fábio Pereira Barros<br />

A CULTURA LOCAL NO ENSINO DE HISTÓRIA<br />

Geniclécia Lima dos Santos<br />

Rayla Roberta Silva <strong>de</strong> Oliveira<br />

Iris Verena Santos <strong>de</strong> Oliveira<br />

ESCOLA, ESCOLAS, O FESTIVAL ANUAL DA CANÇÃO<br />

ESTUDANTIL DA BAHIA E A CONSTRUÇÃO DA TRILHA SONORA NO<br />

ENSINO DE HISTÓRIA<br />

Lucieleny Ribeiro Jardim<br />

ESPAÇOS NOTURNOS DE SOCIABILIDADE NA CIDADE DO RIO DE


12<br />

JANEIRO (1900-1930)<br />

Patrícia Alves Silva<br />

OS REGISTROS ECLESIAIS PARA O ESTUDO DO BATISMO DE<br />

CRIANÇAS INDÍGENAS EM PORTO SEGURO (1837-1845)<br />

Uerisleda Alencar Moreira<br />

RELAÇÕES MATRIMONIAIS NA IGREJA DE SÃO BERNARDO DE<br />

ALCOBAÇA, BAHIA, EM MEADOS DO SÉCULO XIX<br />

Laís Assunção Moreira<br />

Uerisleda Alencar Moreira


RESUMOS<br />

13


14<br />

SIMPÓSIO TEMÁTICO 01<br />

HISTÓRIA DA BAHIA COLONIAL: ECONOMIA, POLÍTICA E SOCIEDADE<br />

Proponente: Poliana Cor<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Farias (IFBaiano)<br />

Coor<strong>de</strong>nação: Liliane Maria Fernan<strong>de</strong>s Cor<strong>de</strong>iro Gomes<br />

Ementa: As últimas décadas caracterizaram-se por um crescimento consi<strong>de</strong>rável do número<br />

<strong>de</strong> pesquisas <strong>de</strong>dicadas à história da Bahia colonial. A abertura dos historiadores para<br />

perspectivas <strong>de</strong> análise mais complexas permitiram a produção <strong>de</strong> novos estudos, abordando<br />

diferentes aspectos da época referida, e a construção <strong>de</strong> novos olhares sobre temas<br />

tradicionais da história colonial. Neste sentido, partindo da compreensão do gran<strong>de</strong> vigor das<br />

investigações, este Simpósio Temático objetiva propiciar um espaço <strong>de</strong> diálogo e <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate<br />

<strong>de</strong>sses novos olhares que permitam repensar aspectos econômicos, sociais e políticos da<br />

Bahia dos séculos XVI ao início do XIX. Pesquisadores <strong>de</strong> variadas filiações teóricas serão<br />

bem vindos, buscando estimular o diálogo e confronto entre pontos <strong>de</strong> vista e perspectivas <strong>de</strong><br />

análises diversas, importando apenas que se atenham ao período e espaço <strong>de</strong>terminados.


POSSIVEIS ROTAS FLUVIAS NAS COMARCAS DO SUL UM PROJETO PARA O<br />

JEQUITINHONHA E RIO PARDO.<br />

15<br />

Julian <strong>de</strong> Souza Mota<br />

Graduando do curso <strong>de</strong> L. em <strong>História</strong>-DCHT-XV<strong>II</strong>I-UNEB<br />

E-mail: Juliansmotta@hotmail.com<br />

Drª. Jocenei<strong>de</strong> Cunha<br />

Professora do DCHT-XV<strong>II</strong>I- UNEB<br />

E-mail- Jocenei<strong>de</strong>cunha@gmail.com<br />

As Vilas do litoral Sul foram durante muito tempo alijadas da historiografia baiana, para estas<br />

restaram o estigma do atraso, da <strong>de</strong>cadência econômica, do pouco povoamento e da<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m, assim como, da incivilida<strong>de</strong> dos seus povos “gentios”, tais afirmativas são<br />

evi<strong>de</strong>nciadas por Stuart Schwartz (1985), Kátia Mattoso (1992) e Bert Barickman (2003) que<br />

<strong>de</strong> maneira rasa cita as Comarcas do Sul em seus trabalhos, que são referência do estudo da<br />

Bahia <strong>de</strong> modo geral e da região aqui enfocada <strong>de</strong> modo particular. No entanto uma onda <strong>de</strong><br />

novos trabalhos que buscam discutir a hinterlândia das atuais regiões Sul e Extremo Sul da<br />

Bahia tem se proliferado no meio historiográfico, sobretudo para romper com esse estigma,<br />

que excluía a região do contexto nacional e provincial do final do século XV<strong>II</strong> até finais do<br />

século XIX, David Barbuda Ferreira (2011) e Francisco Cancela (2012) são expoentes nesse<br />

novo estudo, que passa a caracterizar a região como uma “zona tampão” entre a Província <strong>de</strong><br />

Minas e da Bahia. Somando-se a tais pesquisas, esta comunicação objetiva <strong>de</strong>stacar o gran<strong>de</strong><br />

interesse <strong>de</strong>monstrado pela presidência da Província em estabelecer uma comunicação<br />

eficiente entre as Comarcas do Sul e a capital da Província mas, sobretudo com a Província<br />

vizinha <strong>de</strong> Minas Gerais. O projeto visava fazer dos rios Jequitinhonha e Pardo rotas fluviais<br />

possíveis e que inserisse <strong>de</strong> alguma forma as supraditas Vilas nas rotas comerciais. Tais rotas<br />

buscavam escoar a produção das Vilas, e <strong>de</strong>monstra uma ativida<strong>de</strong> das <strong>de</strong>stas vilas. Desse<br />

modo, fazendo uso dos relatórios da presidência da Província da Bahia da primeira meta<strong>de</strong> do<br />

século XIX, tentaremos traçar as estratégias utilizadas pelos Presi<strong>de</strong>ntes da Província para<br />

evi<strong>de</strong>nciar a gran<strong>de</strong> importância <strong>de</strong> firmar núcleos <strong>de</strong> povoamento e atrelado a isso uma re<strong>de</strong><br />

comercial que pu<strong>de</strong>sse inserir a região no contexto econômico e habitacional da Província.<br />

Palavras-chave: Comarcas do Sul, Comercio, Província da Bahia.


16<br />

A PERSEGUIÇÃO AO TUPINAMBÁ DURANTE AS VISITAÇÕES DO SANTO<br />

OFÍCIO NA BAHIA: (1591-1595; 1618-1620)<br />

Laiane De Jesus Santos Macedo<br />

Email: lay_parcelli@hotmail.com<br />

Departamento <strong>de</strong> Ciências Humanas, Campus V, Santo Antônio <strong>de</strong> Jesus<br />

Prof. Dra. Suzana Maria De Sousa Santos Severs<br />

Email: ssevers@uneb.br<br />

Departamento <strong>de</strong> Ciências Humanas, Campus V, Santo Antônio <strong>de</strong> Jesus<br />

O levantamento sobre ida<strong>de</strong>, sexo, origem e profissão, levou-nos a i<strong>de</strong>ntificar, e reconhecer o<br />

perfil dos indígenas processados pelo Santo Ofício, que tiveram envolvimento com o<br />

movimento religioso da Santida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jaguaripe. No entanto, com uma análise minuciosa feita<br />

através <strong>de</strong> fontes documentais inquisitoriais i<strong>de</strong>ntificamos outros <strong>de</strong>litos cometidos pelos<br />

Tupinambás, não relacionados à esta Santida<strong>de</strong>, e é sobre esses casos que <strong>de</strong>lineamos nossa<br />

pesquisa, esten<strong>de</strong>ndo-a à Visitação do Santo Ofício no Estado do Grão-Pará (1763-1769).<br />

Apesar dos estudos <strong>de</strong> Jorge Calazans e Ronaldo Vainfas sobre a Santida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jaguaripe,<br />

nenhum <strong>de</strong>les fez uma projeção quantitativa sobre os envolvidos, pois seus interesses<br />

voltavam-se para o fenômeno religioso, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> lado o perfil socioeconômico <strong>de</strong>stes<br />

personagens. Recentemente foi <strong>de</strong>fendida a Dissertação <strong>de</strong> Mestrado <strong>de</strong> Jamile Oliveira<br />

(UFBA), na qual a Santida<strong>de</strong> é o foco. Embora analise prosopograficamente as personagens,<br />

restringiu-se apenas aos participantes do movimento religioso. Nossa pesquisa tem como<br />

objeto <strong>de</strong> estudo os Tupinambá <strong>de</strong>nunciados ao Tribunal <strong>de</strong> Lisboa, durante as Visitações<br />

feitas à Bahia ((1591-1595;1618-1620). Contudo, outros crimes não relacionados ao<br />

movimento foram i<strong>de</strong>ntificados. Dentre eles encontramos a sodomia, a bigamia, o gentilismo,<br />

feitiçaria e sacrilégios. De tal modo, procuramos ampliar o conhecimento sobre os Tupinambá<br />

<strong>de</strong>nunciados e processados pelo Santo Ofício durante as duas Visitações à capitania da Bahia,<br />

enfocando aqueles pouco conhecidos por não terem seus nomes vinculados à Santida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Jaguaripe. A prosopografia e a análise micro histórica foram as metodologias empregadas<br />

nesta pesquisa, mediante as quais pu<strong>de</strong>mos i<strong>de</strong>ntificar socioculturalmente o grupo indígena<br />

processado pelo Tribunal <strong>de</strong> Lisboa, levantando e quantificando dados que traduzissem o<br />

lugar social dos Tupinambá do Recôncavo baiano, bem como os comportamentos e crenças<br />

que o tornaram hereges frente ao catolicismo dominante. A pesquisa no fundo “Tribunal do<br />

Santo Ofício” no site do Arquivo Nacional da Torre do Tombo encontrou mais cinco casos <strong>de</strong><br />

indígenas processados, os quais não se encontram registrados no arrolamento realizado por<br />

Anita Novinsky sobre os prisioneiros naturais do Brasil em seu livro Inquisição: Prisioneiros<br />

do Brasil. E que agora vem a engrossar as estatísticas dos Índios cristão “hereges”. Após um<br />

ano <strong>de</strong> leituras bibliográficas, leitura e análise <strong>de</strong> fontes primárias e exercício intelectual para<br />

a redação dos resultados da pesquisa, po<strong>de</strong>mos concluir que: a) em relação a origem dos<br />

processados fica claro a mescla étnica existente no Brasil colonial, estes eram índios e<br />

mamelucos filhos <strong>de</strong> portugueses cristãos-novos ou cristãos-velhos; muitos trabalhavam na<br />

terra, sobretudo como plantadores <strong>de</strong> cana. b). Analisando a questão <strong>de</strong> gênero entres os<br />

processados veremos que cerca <strong>de</strong> 50% eram homens nascidos na Bahia, enquanto que 42,9%<br />

são mulheres nascidas na capitania do Grão-Pará. Os <strong>de</strong>litos atribuídos a estes homens e<br />

mulheres são arrolados em catorze casos <strong>de</strong> gentilismo, cinco <strong>de</strong> bigamia, quatro <strong>de</strong> sodomia,<br />

quatro <strong>de</strong> sacrilégio, quatro <strong>de</strong> feitiçaria, sete <strong>de</strong> idolatria, e três <strong>de</strong> blasfêmias. As sentenças<br />

atribuídas foram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> penitências espirituais com humilhação pública a repreensão na Mesa<br />

do Santo Ofício. Assim registramos 41 índios naturais do Brasil julgados pelo Tribunal <strong>de</strong><br />

Lisboa, muitos receberam sentenças. Enfim, o Tribunal da Inquisição fez registros da dita<br />

“animalida<strong>de</strong>” dos indígenas, estes Tupinambá e praticantes <strong>de</strong> rituais que iam <strong>de</strong> encontro<br />

aos dogmas da fé católica, estabelecida como fé única e absoluta.<br />

Palavras-Chave: Inquisição ibérica, Visitações do Santo Ofício, Capitania da Bahia, índios.


17<br />

HOMENS DA FRONTEIRA: ÍNDIOS, CAPITÃES E SERTANISMO NA ILHÉUS<br />

SETECENTISTA.<br />

Rafael dos Santos Barros (UFBA)<br />

Email: barrosrafaeldossantos@gmail.com<br />

Esta comunicação discorrerá sobre uma etapa das expedições que percorreram a Capitania dos<br />

Ilhéus durante a primeira meta<strong>de</strong> do século XV<strong>II</strong>I. Formada por inúmeros agentes coloniais,<br />

estas jornadas <strong>de</strong>vassaram o interior <strong>de</strong>ssa região em busca <strong>de</strong> índios para serem escravizados,<br />

metais preciosos e quilombos para serem <strong>de</strong>struídos. Além <strong>de</strong>sses objetivos, as entradas<br />

tinham como principal responsabilida<strong>de</strong> fazer com que os contra-ataques indígenas não<br />

<strong>de</strong>sviassem a sobredita donataria do seu objetivo principal, a produção <strong>de</strong> viveres para<br />

Salvador. Diante <strong>de</strong>ssa situação, a Coroa vai investir <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r as autorida<strong>de</strong>s locais,<br />

premiando com cargos e mercês aqueles que realizassem a maior quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conquista,<br />

seja territorial ou <strong>de</strong> mão <strong>de</strong> obra. Um das autorida<strong>de</strong>s responsável pela expansão da fronteira<br />

da supracitada capitania foi o Capitão-mor Antônio Veloso da Silva, o qual além <strong>de</strong> possuir o<br />

título nobiliárquico <strong>de</strong> capitão conseguiu uma légua <strong>de</strong> terra <strong>de</strong>marcada e ribeiros auríferos<br />

para explorar no rio <strong>de</strong> Contas. Imersos nesse contexto estavam os indígenas, os quais não só<br />

foram vítimas pacificas da exploração portuguesa, mas souberam incorporar os códigos <strong>de</strong><br />

funcionamento do sistema colonial, agindo, quando tinham espaço, em função dos seus<br />

interesses, ora combatendo grupos inimigos ora <strong>de</strong>nunciando a sua localização. Para dar<br />

suporte a essa pesquisa foram consultadas fontes do fundo Avulsos da Bahia da Coleção<br />

Resgate do Arquivo Histórico Ultramarino, os quais <strong>de</strong>tém boa parte da documentação que<br />

tramitava pelo Conselho Ultramarino, incluindo processos, representações, pareceres e outros<br />

documentos <strong>de</strong> cunho jurídico. Nesses fundos se buscou todo documento que diz respeito as<br />

expedições sertanistas que percorreram as terras do Camamu, a busca nos CDs dos<br />

documentos avulsos se orientou pelos catálogos publicados nos Anais da Biblioteca Nacional<br />

(vols. 32, 36 e 37).<br />

Palavras-chave: índios, sertanistas, Capitania <strong>de</strong> Ilhéus.


18<br />

SIMPÓSIO TEMÁTICO 02<br />

BRASIL IMPÉRIO: HISTÓRIAS DE LIBERDADE NA ESCRAVIDÃO E NO PÓS–<br />

ABOLIÇÃO: TRAJETÓRIAS, ALFORRIA E TRABALHO<br />

Proponente: Flaviane Ribeiro Nascimento (IFBA)<br />

Ementa: O <strong>de</strong>smonte do escravismo na segunda meta<strong>de</strong> do século <strong>de</strong>zenove foi resultado <strong>de</strong><br />

um processo <strong>de</strong> acúmulo <strong>de</strong> lutas antiescravistas <strong>de</strong> cativos, libertos e livres, bem como <strong>de</strong><br />

leis emancipacionistas levadas a cabo pelo Império Brasileiro numa conjuntura <strong>de</strong><br />

ilegitimida<strong>de</strong> da escravidão. Nesse contexto, a luta pela alforria e pela realização da liberda<strong>de</strong><br />

introduziu cativos e libertos em uma “cultura jurídica” que seria mobilizada mesmo <strong>de</strong>pois da<br />

abolição. Os tribunais, o Parlamento e os jornais foram arena <strong>de</strong> um intenso <strong>de</strong>bate em torno<br />

dos significados da liberda<strong>de</strong> que, em muitos momentos, <strong>de</strong>svelavam a força da escravidão,<br />

assentada na <strong>de</strong>fesa da proprieda<strong>de</strong> privada e da força moral que fazia senhores <strong>de</strong> gente e <strong>de</strong><br />

terras das mais diversas cores políticas e i<strong>de</strong>ológicas pactuarem em <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> seus interesses.<br />

Por certo, a segunda meta<strong>de</strong> do século <strong>de</strong>zenove foi uma conjuntura <strong>de</strong> ascensão do<br />

abolicionismo, enquanto movimento que preten<strong>de</strong>u um projeto <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> para o pósabolição.<br />

Assim, a historiografia mais recente tem se <strong>de</strong>bruçado sobre as questões relativas à<br />

luta, sentidos e realização da liberda<strong>de</strong> pretendida pelos cativos, libertos e seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes<br />

na meta<strong>de</strong> final do século <strong>de</strong>zenove. Por sua vez, os estudos sobre o pós-abolição têm<br />

enfocado trajetórias <strong>de</strong> libertos, significados da liberda<strong>de</strong>, lutas por direitos, conflitos em<br />

torno <strong>de</strong> terra e <strong>de</strong> trabalho e processos <strong>de</strong> racialização. Nesse sentido, entre os temas <strong>de</strong><br />

interesse neste Simpósio Temático, estão os <strong>de</strong>bates sobre a solução do problema servil, a luta<br />

dos cativos pela alforria e realização da liberda<strong>de</strong>, os sentidos emprestados à liberda<strong>de</strong>, os<br />

processos <strong>de</strong> emancipação, abolicionistas e abolicionismos, as expectativas geradas com a<br />

extinção da escravidão, as reconfigurações das relações <strong>de</strong> trabalho e os reor<strong>de</strong>namentos das<br />

hierarquias sociais e raciais no período pós-abolição.


ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA UMA CAMUFLAGEM DA<br />

LIBERDADE<br />

19<br />

Angerlândia Carvalho dos Santos<br />

Graduanda em Licenciatura em <strong>História</strong><br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia- UNEB- Campus XIV<br />

Email: angerlandiaa@gmail.com<br />

Laylla Raphaela dos Santos Silva Cardoso<br />

Graduanda em Licenciatura em <strong>História</strong><br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia- UNEB- Campus XIV<br />

Email: laylla_cardoso@hotmail.com<br />

Marina Rios da Cunha Santa Rosa<br />

Graduanda em Licenciatura em <strong>História</strong><br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia- UNEB- Campus XIV<br />

Email: ninastarosa@hotmail.com<br />

Esse artigo tem como objetivo <strong>de</strong>mostrar o <strong>de</strong>scaso sistemático das autorida<strong>de</strong>s em relação ao<br />

cumprimento das leis antiescravistas antes da abolição em 1888 e como foram fundamentais nesse<br />

processo. Este artigo é resultado <strong>de</strong> uma produção realizada no curso <strong>de</strong> Licenciatura em <strong>História</strong> na<br />

UNEB (Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia) - Campus XIV. É um produto final da disciplina Brasil<br />

Império que foi ministrada pela Professora/Doutora Iris Verena Santos <strong>de</strong> Oliveira. Abordaremos as<br />

trajetórias das leis abolicionistas: <strong>de</strong> 07 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1831 “Proibição <strong>de</strong> tráfico <strong>de</strong> escravos”<br />

(Todos os escravos, que entrarem no território ou portos do Brasil, vindos <strong>de</strong> fora, ficam livres); 04 <strong>de</strong><br />

setembro <strong>de</strong> 1850 “Eusébio <strong>de</strong> Queiroz” (Lei <strong>de</strong> extinção do tráfico negreiro no Brasil); 28 <strong>de</strong><br />

setembro <strong>de</strong> 1871 “Lei do ventre livre” (Declara <strong>de</strong> condição livre os filhos <strong>de</strong> mulher escrava que<br />

nascerem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a data <strong>de</strong>sta lei), dando ênfase à conivência do Estado com o contrabando <strong>de</strong> milhares<br />

<strong>de</strong> africanos diante das leis. No <strong>de</strong>correr <strong>de</strong>sse artigo vamos enfatizar como foi precária a experiência<br />

da liberda<strong>de</strong> para os negros no Brasil oitocentista. Também apontaremos as instabilida<strong>de</strong>s políticas,<br />

jurídicas e sociais em que os negros viviam e contra a qual lutavam, buscando enten<strong>de</strong>r como se<br />

arquitetou a emaranhada engenharia institucional para silenciar o contrabando ilegal <strong>de</strong> africanos no<br />

Brasil Império. Outro aspecto relevante que iremos discutir são as relações entre escravos e senhores,<br />

escravos e libertos, escravos e escravos e como essas relações sócias são retratadas nos contos <strong>de</strong><br />

Machado <strong>de</strong> Assis. Para produção do mesmo dialogamos com os autores/pesquisadores do tema:<br />

Sidney Chalhoub, José Murilo <strong>de</strong> Carvalho e Jaime Rodrigues, on<strong>de</strong> os mesmos em suas obras sobre<br />

escravidão <strong>de</strong>ixam transparecer que a abolição da escravatura no Brasil foi um movimento complexo e<br />

<strong>de</strong> muitas incertezas. Reconhecendo a precária experiência da liberda<strong>de</strong> dos negros no século XIX,<br />

enfatizando que essa estava a mercê <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> interesses da elite brasileira.<br />

Palavras- chave: Leis antiescravistas, Abolição, Conivência do Estado, Relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, Liberda<strong>de</strong>.


A SOCIEDADE OITOCENTISTA: OS LAÇOS CONSTRUÍDOS ATRAVÉS DOS<br />

RITOS SACRAMENTAIS DAS CRIANÇAS ESCRAVIZADAS NA FREGUESIA DE<br />

NOSSA SENHORA DO CARMO, VILA DE BELMONTE (1867-1888)<br />

20<br />

Jamilly Bispo Laureano<br />

Graduanda do Curso Licenciatura em <strong>História</strong><br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia<br />

E-mail: jamillylaureano@gmail.com<br />

Jocenei<strong>de</strong> Cunha dos Santos<br />

Professora da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia<br />

E-mail: jocenei<strong>de</strong>cunha@gmail.com<br />

Estudar a população escravizada <strong>de</strong> origem africana na Bahia Oitocentista parece um tema já<br />

bastante explorado pelos historiadores, entretendo é importante chamar atenção para as<br />

mudanças que a historiografia brasileira vem passando nas últimas décadas. Dentro das novas<br />

perspectivas historiográficas, o presente trabalho tem por finalida<strong>de</strong> apontar alguns elementos<br />

sobre o nascer e do morrer das crianças escravizadas na Freguesia <strong>de</strong> nossa Senhora do<br />

Carmo, situada no Litoral Sul da província baiana. Analisando os registros é possível perceber<br />

características da formação familiar dos escravizados. Utilizaremos os documentos<br />

eclesiásticos <strong>de</strong> batismo (1867-1888) e óbito (1872-1888) da Freguesia interiormente citada.<br />

Segundo Bassanezi (2011) os registros eclesiásticos são fontes populares, pois, escravizados,<br />

índios, crianças enjeitadas <strong>de</strong>ntre outros, também tiveram seus eventos vitais registrados. A<br />

criança criava a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecer vínculos com a população livre, muitos dos seus<br />

padrinhos eram livres e/ou libertos. O batismo possibilitou a construção <strong>de</strong> mais uma relação<br />

<strong>de</strong> parentesco para os escravizados, através do apadrinhamento tinha-se uma nova aliança<br />

sendo formada. Possivelmente, essas crianças foram batizadas com até dois meses e todas na<br />

se<strong>de</strong> Freguesia. Em relação ao rito <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro, algumas mortes <strong>de</strong> crianças escravizadas<br />

também foram registradas, possivelmente as que tiveram direito ao rito final e foram<br />

sepultadas na Igreja ou no seu cemitério. Ou seja, o nascer e o morrer <strong>de</strong> algumas crianças<br />

escravizadas foram registrados, consistiam em momentos importantes na vida <strong>de</strong>ssas crianças,<br />

e que permitiam a socialização dos seus familiares. Ressalta-se que a pesquisa ainda está em<br />

andamento.<br />

Palavras chaves. Crianças, Escravizados, Belmonte.


21<br />

O BATISMO DE ESCRAVOS APÓS A LEI DO VENTRE LIVRE (1871) EM<br />

CARAVELAS, BA<br />

Priscila Santos da Glória<br />

Mestre em <strong>História</strong> Regional e Local<br />

Professora Assistente UNEB/Campus X<br />

E-mail: priumani@yahoo.com.br<br />

Fernanda Silva Souza<br />

Discente do curso <strong>de</strong> <strong>História</strong> UNEB/Campus X<br />

E-mail: fernandasouza33@hotmail.com<br />

A presente apresentação nos convida a refletir sobre o sacramento <strong>de</strong> batismo em Caravelas<br />

na Bahia, especificamente o batismo <strong>de</strong> escravos, em um contexto <strong>de</strong> transformação do final<br />

do século XIX. Com a Lei do Ventre Livre, promulgada em setembro <strong>de</strong> 1871, os filhos e<br />

filhas <strong>de</strong> escravos ganharam a condição <strong>de</strong> livres, no entanto, ainda continuaram sob a guarda<br />

<strong>de</strong> suas mães e dos senhores das mesmas, a partir <strong>de</strong>ste processo a comunicação preten<strong>de</strong><br />

discutir as mudanças nos registros <strong>de</strong> batismo quanto ao perfil da população escrava <strong>de</strong><br />

Caravelas. Utilizaremos os registros paroquiais como fontes privilegiadas para iniciarmos esta<br />

discussão, fontes localizadas na Cúria Diocesana <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas. Apoiaremos-nos<br />

também nas análises <strong>de</strong> Sidney Chalhoub (1991) para tratarmos do contexto do fim da<br />

escravidão, Stephen Gu<strong>de</strong>man e Stuart Schwartz (1988; 2001), Líbano Soares (2010) e Jonis<br />

Freire (2012) para compreen<strong>de</strong>rmos as relações <strong>de</strong> batismo, ainda Eni Mesquita (1989),<br />

Sheila Faria (1998) e Robert Slenes (1999) para refletirmos sobre as famílias escravas no<br />

Brasil, e por fim Uerisleda Moreira (2014) no intuito <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>rmos as relações <strong>de</strong><br />

parentesco em Caravelas-BA. A apresentação aqui exposta trata-se <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong> pesquisa<br />

ainda em <strong>de</strong>senvolvimento, com algumas análises iniciais. Em geral os registros <strong>de</strong> batismo<br />

trazem poucas informações sobre o sujeito batizado, seus pais e respectivos padrinhos. Na<br />

maioria dos registros dos livros <strong>de</strong> batismo encontrados na Cúria Diocesana poucos batizados<br />

têm a i<strong>de</strong>ntificação da cor, os párocos <strong>de</strong>stacavam apenas a condição social dos inocentes<br />

quando não eram brancos, pois queriam <strong>de</strong>marcar a origem dos ingênuos através do seu<br />

estatuto legal (Escravo). Com a Lei <strong>de</strong> Ventre Livre houve uma mudança nos registros <strong>de</strong><br />

batismo on<strong>de</strong> os representantes religiosos buscaram enfatizar a condição social dos ingênuos<br />

por uma classificação racial.<br />

Palavras-chave: Batismo, Escravos, Lei do Ventre Livre.


A PARTICIPAÇÃO POPULAR NO PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA DO BRASIL<br />

NA DÉCADA DE 1820.<br />

22<br />

Ramom Pereira <strong>de</strong> Jesus Moreira<br />

Graduando no curso <strong>de</strong> <strong>História</strong> UNEB/ Campus X<br />

E-mail: ramom.moreira@hotmail.com<br />

Priscila Santos da Glória<br />

Professora Assistente da UNEB/ Campus X<br />

Mestre em <strong>História</strong> Regional e Local<br />

E-mail: priumani@yhaoo.com.br<br />

Esta comunicação busca apresentar elementos que objetiva discutir como se efetivou a<br />

participação popular no processo <strong>de</strong> emancipação politica do Brasil na então região Norte<br />

(Maranhão, Pernambuco e Bahia). Compreen<strong>de</strong>r a in<strong>de</strong>pendência do Brasil é também analisar<br />

todo um conjunto <strong>de</strong> acontecimentos que cercava o império brasileiro (ou o fim <strong>de</strong>le) a partir<br />

<strong>de</strong> meados do século XV<strong>II</strong>I, pelos quais po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar sendo provenientes <strong>de</strong> duas or<strong>de</strong>ns,<br />

fatores externos como: Revolução Francesa, os i<strong>de</strong>ais iluministas e o liberalismo político e<br />

econômico já difuso em quase toda a Europa, além dos <strong>de</strong> caráter interno como a<br />

inconfidência mineira e a conjuração baiana, embora uma e outra representassem interesses<br />

mais locais po<strong>de</strong>m ser compreendidas como os fatores iniciais aos movimentos revoltosos <strong>de</strong><br />

com feições separatista que buscava o fim da relação mantida entre Portugal e Brasil,<br />

<strong>de</strong>stacando a Participação do “partido Negro” na “in<strong>de</strong>pendência” que ocorreu no 02 <strong>de</strong> Julho<br />

<strong>de</strong> 1823 na Bahia. Destacando ainda acontecimentos que favoreceram a intensificação <strong>de</strong><br />

movimentos insurrecionais e <strong>de</strong> caráter separatistas e a possível abertura política as camadas<br />

mais populares da socieda<strong>de</strong> (pretos, pardos, livres ou escravos) vislumbrada por estes. Este<br />

Estudo é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> relevância para a comunida<strong>de</strong> acadêmica em geral e para todos os<br />

cidadãos que constituem a dimensão pública da vida, na medida em que possibilita enten<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong> que forma as camadas populares participaram efetivamente no processo <strong>de</strong> emancipação<br />

política do Brasil. A pesquisa é resultado <strong>de</strong> uma revisão bibliográfica que se pautou, entre<br />

outros estudiosos com, João José Reis (1989); Luiz Geraldo Santos da Silva (2006); Matthias<br />

Rohrig Assunção (2005); Hendrik Kraay (2006) que apontam como essa participação se<br />

<strong>de</strong>senvolveu nestas regiões, possibilitando a compreensão das diferentes intenções que<br />

permeavam o imaginário <strong>de</strong>stes grupos envolvidos, uma vez que eles compunham um grupo<br />

heterogêneo, na década <strong>de</strong> 1820.<br />

Palavras-chave: Participação Popular, in<strong>de</strong>pendência, Brasil, séc. XIX.


23<br />

POLÍTICAS INDIGENISTAS: RESISTÊNCIA INDÍGENA NA COMARCA DE<br />

CARAVELAS NO SÉCULO XIX<br />

Sarah Quimba Pinheiro<br />

Graduanda no curso <strong>de</strong> <strong>História</strong><br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – UNEB<br />

Departamento <strong>de</strong> Educação – Campus X<br />

E-mail: sari_nha_qp@hotmail.com<br />

RESUMO: Consi<strong>de</strong>rando que durante muito tempo a história do Brasil foi contada sobre a<br />

ótica das elites excluindo os <strong>de</strong>mais sujeitos e somente a partir do século XX, com novas<br />

correntes históricas, como a <strong>História</strong> Nova, surge outro olhar, outras possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> estudo,<br />

dando ênfase a sujeitos como os negros, as mulheres e os povos indígenas, estes últimos<br />

apresentados na história contada pelas elites, como sendo preguiçosos, submissos, que foram<br />

praticamente extintos. Esse outro olhar consente também o estudo regional, permitindo o<br />

estudo do que está próximo, e não somente dos gran<strong>de</strong>s centros. Desta forma este artigo tem<br />

como objetivo apresentar as políticas indigenistas do século XIX, relatando como os índios do<br />

sul da Bahia mais especificamente os da Comarca <strong>de</strong> Caravelas resistiam à elas. A<br />

metodologia usada para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste artigo foi revisão bibliográfica das obras <strong>de</strong><br />

MOISÉS (1992), CUNHA (1992), ALMEIDA (2010), FERREIRA (2011) e CANCELA<br />

(2012), que exibem quais foram as políticas voltadas para a questão indígena nesse período e<br />

apresentam os índios enquanto sujeitos históricos, que encontraram diferentes formas <strong>de</strong><br />

sobreviver socialmente e culturalmente, pois as políticas do século XIX tinham como objetivo<br />

a assimilação dos povos indígenas, extinguindo a certo modo suas comunida<strong>de</strong>s e suas<br />

culturas, em nome do “<strong>de</strong>senvolvimento e progresso” da nação, pois os povos indígenas neste<br />

século estavam sendo consi<strong>de</strong>rados o empecilho, os selvagens, os não trabalhadores, e donos<br />

<strong>de</strong> terras, terras que os colonos queria provar serem <strong>de</strong>volutas. Dentre as políticas estavam o<br />

Regulamento das Missões - Decreto nº 426 <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> Julho 1845 e a Lei nº 601 <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong><br />

Setembro <strong>de</strong> 1850, conhecida com a Lei <strong>de</strong> Terras.<br />

Palavras-chave: Políticas indigenistas, Sul da Bahia, Resistência.


24<br />

SIMPÓSIO TEMÁTICO 03<br />

BRASIL REPÚBLICA: SUBALTERNIZADOS EM MOVIMENTO - INDAGANDO<br />

DESATENÇÕES HISTORIOGRÁFICAS<br />

Proponente: Liliane Mª Fernan<strong>de</strong>s C.Gomes (UNEB)<br />

Ementa: Discute reflexões acerca da história do Brasil no período republicano enfocando<br />

ações <strong>de</strong> segmentos sociais subalternizados, neste sentido dialoga também com pesquisas que<br />

tratem da história regional e local. Problematiza produções historiográficas a respeito do<br />

período indicado, analisando silenciamentos <strong>de</strong> conflitos e confrontos. Debate a organização e<br />

os enfrentamentos experienciados por movimentos sociais, em diferentes territorialida<strong>de</strong>s<br />

nacionais, e suas memórias.


25<br />

AS CIÊNCIAS NO BRASIL REPUBLICANO: O CONTROLE DOS CORPOS NA<br />

SOCIEDADE DO FINAL DO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX<br />

Artur Silva Almeida<br />

Graduando em <strong>História</strong><br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia<br />

E-mail: arrtualmeida@gmail.com<br />

Ediane Lopes Santana<br />

Mestra e docente da UNEB<br />

E-mail: edianezeferina@gmail.com<br />

Esse trabalho busca evi<strong>de</strong>nciar o processo <strong>de</strong> penetração da eugenia no Brasil <strong>de</strong> forma a<br />

analisar como as ciências médicas buscaram intervir no cotidiano dos sujeitos. No sentido <strong>de</strong><br />

se estabelecer, enquanto instrumento <strong>de</strong> orientação para a constituição dos indivíduos<br />

buscando a disciplinar e or<strong>de</strong>nar as socieda<strong>de</strong>s, em especial, os corpos, buscando ensinar e<br />

orientar a percepção do espaço que ro<strong>de</strong>ia esse indivíduo. E para tal empreitada a figura do<br />

“médico politico”, trazida por Lilia Moritz Schwarcz (1993), é essencial para análise da<br />

maneira como esses i<strong>de</strong>ais foram introduzidos na socieda<strong>de</strong> e influenciaram a maneira que<br />

esta procurará aplicar tais princípios no seu cotidiano. O mecanismo <strong>de</strong> pesquisa utilizado<br />

nesse trabalho foi o <strong>de</strong> pesquisa bibliográfica e para tal é utilizado autores como: Liane Maria<br />

Bertucci (2013), Lilia Moritz Schwarcz (1993), Maria Eunice <strong>de</strong> S. Maciel (1999), Foucault,<br />

Michael (1979). A leitura <strong>de</strong>sses autores <strong>de</strong>ram mecanismos para que fosse possível a análise<br />

do processo <strong>de</strong> transformação pelo qual a medicina passou entre os séculos XV<strong>II</strong>I e XIX, a<br />

criação das teorias eugênicas e higienistas na Europa e Estados Unidos e a importação <strong>de</strong>ssas<br />

i<strong>de</strong>ias para o Brasil ao final do XIX e durante o período republicano. Como consi<strong>de</strong>ração fica<br />

nítido a preocupação no final do século XIX e início do XX em sanar a socieda<strong>de</strong>. A<br />

socieda<strong>de</strong> será vista como um gran<strong>de</strong> laboratório <strong>de</strong> experimentação e aplicação das teorias<br />

científicas formuladas por acadêmicos, que, extasiados pelas teorias europeias, copiam e até<br />

mesmo criam conceitos e práticas que fossem aplicadas ao contexto brasileiro. E importante<br />

sinalizar que os teóricos da época não vislumbravam limites para aplicar suas i<strong>de</strong>ias, mesmo<br />

que para implementá-las, fosse preciso cercear as liberda<strong>de</strong>s individuais dos cidadãos visando<br />

o saneamento do principal veículo <strong>de</strong> disseminação <strong>de</strong> doenças, os hábitos e costumes da<br />

população.<br />

Palavras-chave: Eugenia, Saú<strong>de</strong>, Brasil, Limpeza, Saneamento.


26<br />

ÍNDIOS MAXAKALI: ESTRATÉGIAS E TÁTICAS DE RESISTÊNCIA CAMUFLADAS<br />

Agnes Cristine Men<strong>de</strong>s<br />

Estudante do Bacharelado Interdisciplinar <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Sul da Bahia, Teixeira <strong>de</strong> Freitas<br />

E-mail: agnescristine@live.com<br />

Carolina Ferreira Ferraz<br />

Estudante do Bacharelado Interdisciplinar <strong>de</strong> Humanida<strong>de</strong>s<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Sul da Bahia, Teixeira <strong>de</strong> Freitas<br />

E-mail: carolinaferferraz@gmail.com<br />

Eduardo Antônio Bonzatto<br />

Professor do IHAC<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Sul da Bahia, Teixeira <strong>de</strong> Freitas<br />

E-mail: eabonzatto@gmail.com<br />

Este trabalho tem por objetivo compreen<strong>de</strong>r o conflito cultural, principalmente no que tange à questão<br />

da bebida alcoólica, entre o povo indígena semi-nôma<strong>de</strong> Maxakali do Vale do Mucuri, do estado <strong>de</strong><br />

Minas Gerais e a cultura do homem não-indígena. O problema <strong>de</strong> pesquisa centra-se no<br />

questionamento sobre os modos <strong>de</strong> enfrentamento e resistência <strong>de</strong>sse povo, que foi e continua sendo<br />

silenciado pelos “erros” <strong>de</strong> análise historiográficas. O objeto <strong>de</strong> pesquisa consiste na análise dos dados<br />

apurados por Rachel <strong>de</strong> Las Casas na tese Saú<strong>de</strong> Maxakali, recursos <strong>de</strong> cura e gênero: análise <strong>de</strong> uma<br />

situação social, <strong>de</strong>fendida no Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação da Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro em 2007. Para tanto, utilizamos como fontes teóricas o trabalho <strong>de</strong> análise social <strong>de</strong>sse grupo<br />

produzido por Rachel <strong>de</strong> Las Casas e as reflexões sobre povos “primitivos” <strong>de</strong> Pierre Clastres. Como<br />

operadores <strong>de</strong> análise, utilizamos os conceitos <strong>de</strong> rizoma, Estado e máquina <strong>de</strong> guerra, <strong>de</strong> Gilles<br />

Deleuze, e as proposições <strong>de</strong> Michel <strong>de</strong> Certeau sobre as lógicas dos fazeres cotidianos. Adotamos<br />

como indícios para a pesquisa, na etapa exploratória, material jornalístico publicado por sites<br />

noticiosos regionais sobre conflitos entre o povo Maxacali e outros grupos moradores dos municípios<br />

do extremo sul baiano em espaço urbano e dados sobre a coletivida<strong>de</strong> Maxakali e a situação social <strong>de</strong><br />

Rachel <strong>de</strong> Las Casas. Esse corpus teórico tem como princípio recusar o papel <strong>de</strong> vítimas sociais que o<br />

uso <strong>de</strong> bebidas alcoólicas normalmente registra e impõe a esse grupo: O conceito <strong>de</strong> máquina <strong>de</strong><br />

guerra primitiva admite reconhecer estratégias e táticas camufladas por imprecisão do preconceito que<br />

os não indígenas carregam e que preten<strong>de</strong>mos subverter, aceitando que esse grupo atua como sujeitos<br />

<strong>de</strong> sentidos, munidos <strong>de</strong> recursos para confrontar as crescentes limitações territoriais <strong>de</strong> seu<br />

nomadismo.<br />

Palavras-chave: Semi-nomadismo, Máquina <strong>de</strong> guerra, Etnografia.


A ATIVIDADE EXTRATIVISTA E O SURGIMENTO DO POVOADO DE TEIXEIRA<br />

DE FREITAS<br />

27<br />

Ailton <strong>de</strong> Oliveira Junior<br />

Graduado em Licenciatura Plena em <strong>História</strong><br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – DEDC X<br />

E-mail: bob_junior_historia@hotmail.com<br />

O município <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas, situado no Extremo Sul baiano, próximo ao norte do<br />

estado do Espírito Santo, surge e se <strong>de</strong>senvolve enquanto povoado no período nacional<br />

<strong>de</strong>senvolvimentista na década <strong>de</strong> 1950, a partir da extração <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e da consequente<br />

chegada das primeiras levas <strong>de</strong> moradores à região. Nesse primeiro momento, o povoado<br />

passa a crescer e se <strong>de</strong>senvolver, principalmente, por meio <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s privadas, guiada pela<br />

lógica do capitalismo, inserido em meio à divisão sócio-espacial do trabalho. Essa pesquisa<br />

aborda a ativida<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ireira/extrativista no Extremo Sul da Bahia e sua contribuição para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento urbano inicial <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu surgimento, até achegada<br />

da Rodovia BR-101, em 1972, quando a localida<strong>de</strong> passa a ter nova dinâmica <strong>de</strong> crescimento.<br />

Para isso, analisamos o contexto econômico do momento histórico pesquisado e sua<br />

influência no processo <strong>de</strong> urbanização do até então povoado, nos servindo <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong><br />

autores como Mumford (2008), Castells (1983), Singer (2002), Rolnik (1995), Sposito (2012),<br />

Santos & Silveira (2008) e Hobsbawn (1995). Perceber as relações entre economia, política e<br />

socieda<strong>de</strong> na conformação do cenário urbano é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância, apontando espaços <strong>de</strong><br />

exploração e opressão, levando-se em consi<strong>de</strong>ração que a localida<strong>de</strong> teve como vetor <strong>de</strong><br />

progresso a ação <strong>de</strong> empresas <strong>de</strong> extração <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, fazendas <strong>de</strong> pecuárias e comércio, em<br />

um contexto mais amplo <strong>de</strong> crescimento econômico nacional e global. Para além do contexto<br />

histórico, foi feita a reconstrução do espaço urbano teixeirense no período <strong>de</strong>limitado por<br />

meio do cruzamento das fontes orais, jornalísticas, como o Jornal Alerta, bibliográfica e<br />

historiográficas, como as monografias <strong>de</strong> Ferreira (2010), <strong>de</strong> Guerra & Silva (2010) e <strong>de</strong> Pinto<br />

(2014). A pesquisa aponta que, mesmo não sendo uma cida<strong>de</strong> industrial, Teixeira <strong>de</strong> Freitas<br />

cresceu com base na lógica capitalista industrial. Seu crescimento acompanhou o crescimento<br />

urbano e populacional que assolou não apenas o Brasil, mas todo o mundo. Maior atenção foi<br />

dada ao espaço nuclear da cida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> hoje se localiza o “Centro” da cida<strong>de</strong> e seus arredores,<br />

espaços on<strong>de</strong> o município começou a se <strong>de</strong>senvolver.<br />

Palavras-chave: Urbanização, Extrativismo, Teixeira <strong>de</strong> Freitas, Povoado.


A DEFESA DO SALÁRIO MÍNIMO NO CONGRESSO NACIONAL: O CASO DO<br />

PARLAMENTAR PAULO PAIM DO PARTIDO DOS TRABALHADORES (1986-<br />

2006)<br />

28<br />

Glauber Eduardo Ribeiro Cruz<br />

Mestre em <strong>História</strong><br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais<br />

E-mail: glaubereduardo@uol.com.br<br />

O objetivo do texto é apresentar como o <strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral - entre o período <strong>de</strong> 1986 e 2002 – e<br />

o senador – entre os anos <strong>de</strong> 2002 e 2006 – Paulo Paim construiu uma carreira política tendo<br />

como um dos focos o salário mínimo, consi<strong>de</strong>rado digno e necessário para o trabalhador. Para<br />

isso, a fonte principal são os discursos disponibilizados nos sites da Câmara dos Deputados e<br />

do Senado Fe<strong>de</strong>ral. As principais referências teóricas que possibilitaram o pensar<br />

historiográfico da situação do parlamentar foram os trabalhos <strong>de</strong> Ana Lúcia Aguiar Melo<br />

(1998), Paulo Roberto Figueira Leal (2005), e Sônia Ranincheski, Nathália Cor<strong>de</strong>iro (2008)<br />

que têm como foco os <strong>de</strong>putados fe<strong>de</strong>rais. Existe uma realida<strong>de</strong> em que poucos estudiosos se<br />

dispuseram a examinar o partido sob a ótica dos seus parlamentares, havendo lacunas sobre a<br />

atuação congressual e a relação entre a estrutura partidária e o mandato parlamentar. Na<br />

perspectiva metodológica, o uso da análise <strong>de</strong> discurso feito é baseado em Pocock (2003).<br />

Para o autor, é importante partir da varieda<strong>de</strong> das linguagens políticas, dos atores e dos<br />

contextos históricos, lingüísticos e políticos, em que se percebem construções e valores<br />

sociais reconhecidos na performance discursiva. Por isso, o discurso político é prático e po<strong>de</strong><br />

causar abalos, constituindo-se num instante privilegiado para a ação política, em meio aos<br />

fatos e aos acontecimentos, e “certamente <strong>de</strong>vemos estudar as transformações no discurso na<br />

medida em que elas geram transformações na prática, mas há sempre um intervalo no tempo,<br />

suficiente para gerar heterogeneida<strong>de</strong> no efeito” (POCOCK, 2003, p. 82). Ainda como<br />

contribuição à metodologia, Albuquerque Júnior (2009) afirma que a utilização dos discursos<br />

como objeto <strong>de</strong> pesquisa requer a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serem mapeados em regularida<strong>de</strong>s, em<br />

séries, em saberes, em temas e em conceitos, para localizar a construção <strong>de</strong> imagens <strong>de</strong> si e<br />

dos outros, lutas políticas e batalhas discursivas. Os discursos são consi<strong>de</strong>rados como<br />

elementos i<strong>de</strong>ntitários, que proferidos na ativida<strong>de</strong> partidária, se consolidam como fonte <strong>de</strong><br />

inspiração, paixão e consciência para a consolidação <strong>de</strong> uma carreira e <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

política. Os discursos do parlamentar Paulo Paim elucidam que: enquanto <strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral<br />

(1986-2002) e senador (2002-2006) o petista consolidou sua carreira política por meio da<br />

ban<strong>de</strong>ira do salário mínimo: propondo projetos <strong>de</strong> lei, criticando as propostas dos governos<br />

fe<strong>de</strong>rais para protelar e minimizar a importância do tema, participando <strong>de</strong> comissões <strong>de</strong><br />

estudos e <strong>de</strong>finindo critérios políticos para a consolidação do tema do salário mínimo como<br />

sua especificida<strong>de</strong> e sua singularida<strong>de</strong> como ator político do PT e como questão fundamental<br />

para os trabalhadores e a socieda<strong>de</strong> brasileira.<br />

Palavras-chave: carreira política, discurso, Partido dos Trabalhadores, Paulo Paim e salário<br />

mínimo.


FOI-SE O TEMPO DO CORONELISMO? RUPTURAS, PERMANÊNCIAS,<br />

PRÁTICAS POLÍTICAS E DESENVOLVIMENTO REGIONAL EM TEIXEIRA DE<br />

FREITAS – BA (1985-2012)<br />

29<br />

Junio Viana Gomes<br />

Licenciado em <strong>História</strong><br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia<br />

E-mail: juniovgomes@gmail.com<br />

Liliane Maria Fernan<strong>de</strong>s Cor<strong>de</strong>iro Gomes<br />

Mestre em <strong>História</strong> Local e Regional<br />

Professora da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia<br />

E-mail: liufernan<strong>de</strong>sc@yahoo.com.br<br />

Este estudo tem como objetivo analisar em que medida o <strong>de</strong>senvolvimento da região do<br />

Extremo Sul da Bahia, e da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas em especial, contribuiu para o<br />

enfraquecimento <strong>de</strong> forças e práticas políticas tradicionais. O recorte temporal que embasa<br />

este trabalho vai do ano em que ocorreu a primeira eleição na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas,<br />

1985, ao ano em que houve a última eleição municipal, 2012. Para alcançar o objetivo<br />

exposto realizou-se uma revisão bibliográfica <strong>de</strong> como parte da historiografia existente analisa<br />

o fenômeno do coronelismo, em autores como Vitor Nunes Leal (2012), Eul Soo Pang (1979)<br />

e José Murilo <strong>de</strong> Carvalho (1997, 2001), discutindo conceitos como “coronelismo”,<br />

“mandonismo”, “filhotismo” e “clientelismo”. São <strong>de</strong>stacados aspectos da organização<br />

política e administrativa na história brasileira que contribuem para compreensão da origem e<br />

evolução do fenômeno. Discute-se como a imagem do Nor<strong>de</strong>ste está associada ao<br />

coronelismo, e na história <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas consi<strong>de</strong>ra elementos que nos possibilitam<br />

perceber a permanência <strong>de</strong> traços do coronelismo em tempos recentes, através <strong>de</strong> um estudo<br />

que teve por base a análise <strong>de</strong> documentos oficiais, o uso <strong>de</strong> fonte jornalística e entrevistas<br />

orais. Um olhar sobre o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sta região indica uma mudança na forma <strong>de</strong> ver a<br />

política, e, paradoxalmente, a existência <strong>de</strong> práticas tradicionais não compatíveis com a<br />

dinâmica <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática. Conforme a aceleração no ritmo do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento regional começou a se processar, a pesquisa aponta que há indicativos <strong>de</strong><br />

mudanças sobre a permissivida<strong>de</strong> das pessoas em relação a estas práticas, não mais vistas<br />

como a<strong>de</strong>quadas à socieda<strong>de</strong> atual.<br />

Palavras-chave: Mandonismo, Coronelismo, Desenvolvimento Regional, Extremo Sul.


BOLETIM DIOCESANO, DIOCESE CARAVELAS – BAHIA, 1982: REGISTROS E<br />

POSICIONAMENTOS SOBRE DISPUTAS DE TERRA ENVOLVENDO POVOS<br />

PATAXO HÃ-HÃ-HÃE<br />

30<br />

Liliane Maria Fernan<strong>de</strong>s Cor<strong>de</strong>iro Gomes<br />

Profª Assistente da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – DEDC/X<br />

Mestra em <strong>História</strong> Regional e Local<br />

E-mail: liufernan<strong>de</strong>sc@yahoo.com.br<br />

O objetivo <strong>de</strong>ste artigo é refletir sobre alguns posicionamentos da Diocese <strong>de</strong> Caravelas –<br />

Bahia frente à conjuntura experienciada pela comunida<strong>de</strong> indígena Pataxo Hã-hã-hãe no<br />

extremo sul da Bahia no início da década <strong>de</strong> 1980, buscando compreen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> que forma<br />

enfrentamentos <strong>de</strong>sta comunida<strong>de</strong> indígena, no que diz respeito à proprieda<strong>de</strong> e uso da terra<br />

eram apresentados por documento produzido pela diocese, documento este que circulava entre<br />

seus fiéis, posto se tratar <strong>de</strong> um periódico impresso, o que implica dizer que o mesmo tinha<br />

caráter público. Tal investigação foi possível a partir do acesso ao Boletim Diocesano dos<br />

meses novembro/<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1982 que se encontra no arquivo da Cúria Diocesana <strong>de</strong><br />

Teixeira <strong>de</strong> Freitas/Caravelas. Este Boletim traz elementos das Diretrizes pastorais da região<br />

nor<strong>de</strong>ste <strong>II</strong>I, composta pelos estados da Bahia e Sergipe, e ali está expresso o apoio dado à<br />

luta dos Pataxo Hã-hã-hãe da área indígena Paraguaçu-Caramuru que buscavam recuperar<br />

suas terras. Entre os autores utilizados como referencial teórico <strong>de</strong>staca-se Polanyi (2000) que<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a existência <strong>de</strong> amalgamas entre a economia dos homens e suas relações sociais,<br />

Motta (2009) que aborda o uso da terra enquanto construção histórica indicando diferentes<br />

dimensões ali estabelecidas, Deelen (1966) utilizado para referendar a concentração fundiária<br />

na região da diocese <strong>de</strong> Caravelas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 1960. A pesquisa indica conflitos <strong>de</strong><br />

terra existentes em diversos lugares que compõem a referida Diocese, ao tempo que aponta, a<br />

partir da análise da fonte acessada, imbricamentos das tomadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão do campo religioso<br />

com o universo político e social. Neste sentido sugere que a Diocese era orientada por seu<br />

bispo, à época Dom Filipe Tiago Broers, a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r comunida<strong>de</strong>s indígenas, no sentido <strong>de</strong><br />

que o Estado respeitasse as concepções <strong>de</strong> territorialida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes, que enten<strong>de</strong>m e vivenciam a<br />

terra como algo que transcen<strong>de</strong> e diverge da noção capitalista, na qual esta é vista unicamente<br />

como mercadoria. Há indícios <strong>de</strong> que esta orientação não foi acolhida por todos, como <strong>de</strong> fato<br />

não po<strong>de</strong>ria ser, em razão, inclusive, da concentração fundiária também ser protagonizada por<br />

integrantes <strong>de</strong>sta comunida<strong>de</strong> religiosa.<br />

Palavras-chave: Diocese Teixeira <strong>de</strong> Freitas/Caravelas, Terra, Pataxó Hã-hã-hãe, Conflitos.


APOSENTADORIA E SINDICALISMO: DIREITOS E ESTRATÉGIAS DE<br />

TRABALHADORES NA ZONA RURAL DO MUNICÍPIO DE ITABERABA, BAHIA,<br />

DE 1971 A 1988<br />

31<br />

Marcelo Oliveira dos Santos<br />

Graduando em Licenciatura em <strong>História</strong><br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia, UNEB, Campus X<strong>II</strong>I, Itaberaba<br />

E-mail: macelo_o18@hotmail.com<br />

A aposentadoria foi uma das gran<strong>de</strong>s conquistas dos trabalhadores. Porém, este benefício foi<br />

alcançado em momentos diferentes no Brasil, a partir <strong>de</strong> 1923, para algumas categorias <strong>de</strong><br />

trabalhadores urbanos e, apenas em 1971, para os trabalhadores rurais. O objetivo principal<br />

<strong>de</strong>ste trabalho é analisar os impactos trazidos pelas obtenções <strong>de</strong> direitos previ<strong>de</strong>nciários e<br />

assistenciais para os idosos da zona rural do município <strong>de</strong> Itaberaba, Bahia, bem como as<br />

estratégias <strong>de</strong>senvolvidas por estes trabalhadores no intuito <strong>de</strong> conquistar estes benefícios, no<br />

período <strong>de</strong> 1971 a 1988. Por meio da análise <strong>de</strong> um dos periódicos locais, O Paraguaçu, foi<br />

possível notar que após a criação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) <strong>de</strong> Itaberaba,<br />

em 1975, atenuou-se os conflitos entre os patrões e empregados, principalmente, no que<br />

concerne a aposentadoria e ao atendimento médico. Antes <strong>de</strong>sta data ambas as classes eram<br />

representadas pelo Sindicato Rural <strong>de</strong> Itaberaba, também chamado <strong>de</strong> Sindicato Patronal.<br />

Através <strong>de</strong> algumas entrevistas, foi possível notar, também, que existia, no âmbito local, uma<br />

significativa concepção <strong>de</strong> direito sobre aqueles benefícios, mesmo entre os trabalhadores que<br />

não tiveram contato direto e frequente com o STR e, foi através da posse <strong>de</strong>ste conhecimento<br />

que eles, utilizaram <strong>de</strong> vários meios para alcançá-los. Nota-se nisso, um significativo grau <strong>de</strong><br />

consciência <strong>de</strong> classe. A luz das concepções <strong>de</strong> classe <strong>de</strong> E. P. Thompson, mostrarei que os<br />

trabalhadores rurais se solidarizavam uns com os outros e percebiam, que esta solidarieda<strong>de</strong><br />

era necessária para a resistência e luta contra os fazen<strong>de</strong>iros da região. Este ato era, também,<br />

uma questão <strong>de</strong> sobrevivência. O processo <strong>de</strong> “aposentação” era marcado por meios, muitas<br />

vezes, diversos do caminho normal – através da comprovação <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e do exercício <strong>de</strong><br />

ativida<strong>de</strong> rural. Apontarei, indícios que nem todos seguiram este percurso. Alguns se<br />

aproximaram dos gran<strong>de</strong>s proprietários <strong>de</strong> terra, políticos e até mesmo os pequenos<br />

proprietários <strong>de</strong> terra para conquistar os benefícios previ<strong>de</strong>nciários e assistenciais.<br />

Palavras-chave: Aposentadoria rural, Sindicalismo, Classe social.


ESPAÇOS NOTURNOS DE SOCIABILIDADE NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO<br />

(1900-1930)<br />

32<br />

Patrícia Alves Silva<br />

Graduanda em <strong>História</strong><br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – UNEB – Campus X<br />

E-mail: patricia_linf@hotmail.com<br />

Liliane Maria Fernan<strong>de</strong>s C. Gomes<br />

Profª Assistente da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – DEDC/X<br />

Mestra em <strong>História</strong> Regional e Local<br />

E-mail: liufernan<strong>de</strong>sc@yahoo.com.br<br />

O artigo tem como objetivo i<strong>de</strong>ntificar espaços noturnos <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> na cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro (1900-1930), percebendo como o surgimento <strong>de</strong>stes locais também está relacionado<br />

ao processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização do espaço citadino, e as condições sociais da população carioca.<br />

Esses meios <strong>de</strong> entretenimento vão surgindo, alguns <strong>de</strong>saparecendo e outros se <strong>de</strong>senvolvendo<br />

até alcançar o auge e promover novas funções on<strong>de</strong> os “<strong>de</strong>socupados” começam a atuar.<br />

Juntamente com esses lugares a música e seus diversos estilos vai dando cores e<br />

performances, contribuindo para essas mudanças. Os espaços noturnos <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> da<br />

cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro se constituíram reflexos da situação vigente do período <strong>de</strong> transição<br />

do século XIX para o XX, em que as inspirações europeias a<strong>de</strong>ntravam no Brasil gerando<br />

ações como o processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização da cida<strong>de</strong>, mudanças nas estruturas físicas, mas<br />

também nas relações dos indivíduos, essas ocorreram, inclusive, nos ambientes construídos<br />

pelos negros aos cuidados das tias e os cabarés. A cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro no período <strong>de</strong><br />

1900-1930 vai se mostrando um lugar heterogêneo e <strong>de</strong> complexa habitação, pois ao <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r<br />

da sua condição social as pessoas eram simplesmente <strong>de</strong>spejadas <strong>de</strong> suas casas e obrigadas a<br />

procurar outro lugar, o que não era diferente no que se diz respeito às condições <strong>de</strong> trabalho,<br />

em que por vezes eram sujeitados a situações precárias, pouco ganhavam, mal conseguiam<br />

sustento. Uma vez i<strong>de</strong>ntificado estes espaços o artigo procurou analisar a relação <strong>de</strong> pessoas<br />

que ali viviam, através das leituras realizadas a partir <strong>de</strong> autores como Sidney Chalhoub em<br />

seu livro Trabalho, Lar e Botequim que vem mostrando minuciosamente a relação do<br />

botequim com os trabalhadores que ali frequentavam e como, tanto o ambiente, quanto o<br />

sujeito era visto pelas pessoas <strong>de</strong> alta renda. O autor Luiz Noronha em Malandros: Noticias <strong>de</strong><br />

um submundo distante, trás <strong>de</strong>talhadamente os inúmeros ambientes <strong>de</strong> socialização. O método<br />

utilizado foi, portanto, a pesquisa bibliográfica. O <strong>de</strong>spertar para a pesquisa neste tema<br />

perpassa pela compreensão <strong>de</strong> quanto, estes ambientes são ricos em <strong>de</strong>talhes para a<br />

compreensão tanto das ações, como das condições <strong>de</strong> vida dos sujeitos históricos.<br />

Palavras-chave: Sociabilida<strong>de</strong>, Mo<strong>de</strong>rnização, Músicas.


33<br />

SIMPOSIO 4<br />

ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO<br />

Proponente: Jonathan Molar e Márcio Soares (UNEB)<br />

Ementa: O presente simpósio visa discutir e inscrever trabalhos que estejam relacionados ao<br />

Ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong> em seus aspectos metodológicos, didáticos, curriculares, atuação em<br />

espaços formais ou não, abordagens teóricas e relatos <strong>de</strong> experiência. Além disso, abarca<br />

também interlocuções com a Educação <strong>de</strong> modo geral, abrigando produções <strong>de</strong> outras<br />

Licenciaturas e <strong>de</strong>mais áreas do conhecimento histórico e historiográfico.


A CANÇÃO SERTANEJA E SUAS POSSIBILIDADES NO ENSINO DE HISTÓRIA<br />

DO 9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL<br />

34<br />

Lucieleny Ribeiro Jardim<br />

Mestranda em Ensino na Educação Básica na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo–<br />

CEUNES/UFES<br />

E-mail: lucieleny@hotmail.com<br />

Ailton Pereira Morila<br />

Professor permanente do Mestrado Acadêmico em Ensino na Educação Básica do<br />

Departamento <strong>de</strong> Educação e Ciências Humanas na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo–<br />

CEUNES-UFES<br />

E.mail: apmorila@gmail.com<br />

O repertório musical sertanejo é pouco usual nos livros didáticos, raramente citado como<br />

fonte histórica ou como crônica do cotidiano. Geralmente, os materiais <strong>de</strong> apoio didático<br />

exploram canções que abordam dois gran<strong>de</strong>s períodos da <strong>História</strong> do Brasil: a Era Vargas e a<br />

Ditadura Militar no Brasil. Mesmo em outras situações em que as canções não exploram tais<br />

momentos históricos, pouco se percebe a canção sertaneja, também <strong>de</strong>nominada “caipira”<br />

como possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> problematização no ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong>. Contrapondo a esta tendência,<br />

realizei um estudo sobre o ensino da <strong>História</strong> do Brasil, refletindo a canção sertaneja ou <strong>de</strong><br />

raiz, como instrumento <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s didáticas. Pretendi <strong>de</strong>monstrar que o trabalho com<br />

fontes contribui para a efetivação <strong>de</strong> uma consciência histórica, visto que são instrumentos <strong>de</strong><br />

comunicação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias que facilitam a sistematização dos conteúdos curriculares da<br />

disciplina. A proposta trouxe como referência empírica, canções sertanejas do <strong>de</strong>nominado<br />

Rei do Baião, Luiz Gonzaga, cantor relevante no Brasil, especialmente no nor<strong>de</strong>ste e <strong>de</strong><br />

influencia na MPB. O trabalho tratou <strong>de</strong> temas históricos, especialmente os que refletem a<br />

profundida<strong>de</strong> das permanências ainda existentes, acerca do passado do homem do campo, e <strong>de</strong><br />

que forma a canção sertaneja aliada ao fazer docente, po<strong>de</strong> nortear o trabalho do professor<br />

enquanto recurso didático no ensino da <strong>História</strong> do Brasil. Esta investigação foi embasada em<br />

minha própria prática no ensino <strong>de</strong> história do 9º ano do Ensino Fundamental, na aplicação da<br />

canção sertaneja como documento histórico e recurso didático-pedagógico, com objetivo <strong>de</strong><br />

contribuir para o aprimoramento <strong>de</strong> um processo ensino-aprendizagem significativo, dinâmico<br />

e agradável nas aulas <strong>de</strong> <strong>História</strong> do Brasil. Como referencial teórico, revisitei Burke (1997) e<br />

(2005), Brasil (2002) e (2006), Cândido (1990), Chaves (2014) Fernan<strong>de</strong>s (2015), Morila<br />

(2012), Pinsky org. (2009), Schmidt e Cainelli (2009), Sny<strong>de</strong>rs (1995) Sobanski (2009) entre<br />

outros. Neste sentido, para alcançar os objetivos, além do aprofundamento na literatura<br />

acadêmica, foram utilizados abordagem qualitativa e estudo <strong>de</strong> caso. Todo procedimento<br />

empírico foi realizado no Colégio Estadual Inácio Tosta Filho, Itamaraju, Bahia.<br />

Palavras Chave: Ensino- <strong>História</strong>- Fontes- Canções - Sertanejo


35<br />

EDUCAÇÃO E METODO DE ENSINO: AGENTES TRANSFORMADORES EM<br />

UMA PERSPECTIVA ETINICORRACIAL<br />

Wêrany Brites dos Santos Portugal<br />

Graduanda em <strong>História</strong> na Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia (UNEB) – Campus V<br />

weranyportugal@hotmail.com<br />

A educação no Brasil ainda é algo discutível não só em relação às más condições <strong>de</strong> ensino e<br />

a <strong>de</strong>svalorização do professor, mas em relação ao modo <strong>de</strong> transmitir o conteúdo que<br />

continua, muitas vezes, sendo pautado em uma educação positivista, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>corar e<br />

memorizar são sinônimos <strong>de</strong> aprendizagem, engessando o ensino a uma metodologia na qual<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento do pensamento crítico não é exercitado, viabilizando o comodismo e a<br />

falta <strong>de</strong> interesse, em relação aos professores, que <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> inovar os métodos <strong>de</strong> ensino, e<br />

em relação aos alunos, que optam pela proposta mais fácil, e ficam prejudicados ao <strong>de</strong>correr<br />

das séries. Levando em conta que até hoje a disciplina <strong>de</strong> <strong>História</strong> é vista, apesar <strong>de</strong> várias<br />

discussões, para alguns, principalmente para os estudantes do ensino fundamental e médio,<br />

como uma disciplina entediante, que aborda o passado, e o passado como algo chato e<br />

<strong>de</strong>sinteressante, busco com este trabalho <strong>de</strong>smistificar essa concepção e propor novas formas<br />

e possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> praticas pedagógicas. O presente artigo almeja criticar a educação baseada<br />

na memorização <strong>de</strong> fatos, que ainda é uma pratica recorrente <strong>de</strong> muitos docentes da área <strong>de</strong><br />

<strong>História</strong>. Discorre sobre a importância do discente se auto compreen<strong>de</strong>r como sujeito histórico<br />

ressaltando suas vivencias que, interagindo com o meio, favorece na construção da própria<br />

história. Discorre sobre algumas dificulda<strong>de</strong>s encontradas em ressignificar as diferenças<br />

culturais nas práticas pedagógicas em sala <strong>de</strong> aula, e na hora <strong>de</strong> abordar a temática<br />

étnicorracial, assim como a invisibilida<strong>de</strong> do negro na socieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> como isso po<strong>de</strong> afetar o<br />

discente não só no ambiente escolar, mas também no familiar e social. As formas <strong>de</strong> pesquisa<br />

estabelecidas para aten<strong>de</strong>r os objetivos <strong>de</strong>ste trabalho foram baseadas em observações em<br />

salas <strong>de</strong> aula, e na análise <strong>de</strong> teóricos como Fernando Seffener, Ana Célia da Silva, Helena<br />

Teodoro e Amadou Hampaté Bâ.<br />

Palavras-chave: Educação, Metodologia <strong>de</strong> ensino, Pensamento crítico, Questões étnico<br />

raciais.


36<br />

ENTRE O DITO E O NÃO DITO: O AUDIOVISUAL E AS POSSIBILIDADES DA<br />

LINGUAGEM FÍLMICA NO ENSINO DE HISTÓRIA<br />

Maurício Dias<br />

Graduado em <strong>História</strong> pela Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – UNEB, Campus X.<br />

His_toriaviva@hotmail.com.<br />

Rosimeire <strong>de</strong> Jesus Carvalho<br />

Graduada em <strong>História</strong> pela Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – UNEB, Campus X.<br />

Rosimeire<strong>de</strong>jesuscarvalho@hotmail.com.<br />

Jonathan Oliveira Molar<br />

Orientador<br />

Professor da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia - UNEB, campus X.<br />

jonathanmolar@hotmail.com.<br />

Marcio Soares Santos<br />

Orientador<br />

Professor da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia - UNEB, campus X.<br />

marciusuarez@hotmail.com.<br />

RESUMO<br />

Além da Nova <strong>História</strong> surge também a “Nova Escola” responsável pela busca por novos<br />

recursos, fontes e linguagens que pu<strong>de</strong>ssem dinamizar o processo <strong>de</strong> ensino e aprendizagem e<br />

que trouxessem novos mecanismos que pu<strong>de</strong>ssem auxiliar o professor/pesquisador/intelectual<br />

em sala <strong>de</strong> aula. Sendo assim, a partir das experiências do projeto PIBID vivenciadas no<br />

Centro Educacional Machado <strong>de</strong> Assis (CEMAS) em Teixeira <strong>de</strong> Freitas – BA pô<strong>de</strong>-se notar<br />

certas limitações e fronteiras nas aulas <strong>de</strong> <strong>História</strong> quanto ao manuseio e exploração<br />

abrangente dos recursos audiovisuais e, mais especificamente, da fonte cinematográfica no<br />

processo <strong>de</strong> ensino-aprendizagem. Desta forma, munido metodologicamente da análise<br />

qualitativa e quantitativa preten<strong>de</strong>mos intercruzar os dados obtidos com a pesquisa <strong>de</strong> campo<br />

e com o grupo focal e as observações internas à sala <strong>de</strong> aula objetivando problematizar a<br />

linguagem cinematográfica e audiovisual em intersecção com os estudos <strong>de</strong> (BELLONI,<br />

2005), (BITTENCOURT, 2004), (MCLAREN, 1997), (FREIRE, 1996), (NAPOLITANO,<br />

2006) entre outros, no intuído <strong>de</strong> refletir sobre as problemáticas ainda existentes que orbitam<br />

em torno <strong>de</strong> sua utilização. A utilização das linguagens na instituição pesquisada, ao contrário<br />

do apropriado, parece estar se resumindo a mera distração ou a um “assistir” passivamente,<br />

sendo assim, sem que se ultrapasse está fronteira, nesse formato, o que haverá em sala <strong>de</strong> aula<br />

será somente transposição <strong>de</strong> informação e não construção problematizada do conhecimento.<br />

De fato a linguagem fílmica e audiovisual tem muito a oferecer, todavia, é imprescindível<br />

uma reflexão sobre a práxis que vem sendo implementada nas aula <strong>de</strong> <strong>História</strong> da instituição<br />

<strong>de</strong> ensino CEMAS, <strong>de</strong> maneira que venha fomentar ações consequentes e duradouras.<br />

Palavras-chave: Audiovisual. Cinema. <strong>História</strong>. PIBID.


ESCOLA, ESCOLAS, O FESTIVAL ANUAL DA CANÇÃO ESTUDANTIL DA<br />

BAHIA E A CONSTRUÇÃO DA TRILHA SONORA NO ENSINO DE HISTÓRIA<br />

37<br />

Lucieleny Ribeiro Jardim<br />

Mestranda em Ensino na Educação Básica na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo–<br />

CEUNES/UFES<br />

E-mail: lucieleny@hotmail.com<br />

Ailton Pereira Morila<br />

Professor permanente do Mestrado Acadêmico em Ensino na Educação Básica do<br />

Departamento <strong>de</strong> Educação e Ciências Humanas na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo–<br />

CEUNES-UFES<br />

E.mail: apmorila@gmail.com<br />

RESUMO<br />

A historiografia tradicional foi questionada pela Escola dos Annales, imprimindo novos<br />

olhares para o conhecimento das socieda<strong>de</strong>s. Conforme Burke (2008), a Nova <strong>História</strong><br />

Cultural foi germinada neste novo olhar, contribuindo no alargamento das fronteiras do<br />

conhecimento histórico. Consi<strong>de</strong>rando a importância <strong>de</strong>ssas novas perspectivas, quais seriam<br />

as ferramentas <strong>de</strong> trabalho necessárias para ensinar e apren<strong>de</strong>r a pensar historicamente, o<br />

saber-fazer, o saber-fazer-bem? Talvez a reinvenção das fontes, como aponta Ailton Morila<br />

(2012), para justificar transformações necessárias no ensino, <strong>de</strong>monstrando que é possível<br />

ensinar e estudar história com instrumentos passíveis <strong>de</strong> leitura diversas, formas e ângulos<br />

particulares. Revisitando os PCNs <strong>de</strong> <strong>História</strong>, encontramos reflexões que apontam as canções<br />

como fontes no sentido mais amplo, e adotadas como documento pelos historiadores, são<br />

consi<strong>de</strong>radas sinais <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>s históricas, expressando não somente a influência <strong>de</strong> fatores<br />

sociais e políticos, mas, sobretudo representando as manifestações culturais da época <strong>de</strong> quem<br />

os produziu. Bahia (2008) diz que a Lei 11.769/08 que torna a música componente obrigatório<br />

no currículo da Educação Básica), estimulou a implementação do Festival Anual da Canção<br />

Estudantil na Bahia, que espera promover o <strong>de</strong>senvolvimento do ensino da música nos<br />

contextos escolares da re<strong>de</strong> estadual da educação da Bahia. A investigação acerca <strong>de</strong>ste tema<br />

compreen<strong>de</strong> importante estudo no campo da cultura escolar e inserção da música no ensino <strong>de</strong><br />

história, e foram tomados como referencial teórico os seguintes autores: Burke (1997) e<br />

(2008), <strong>de</strong> Certeau (2003), Foucault (2005) Nunes (1992) e (1996) Silva (2002), Bahia<br />

(2008), Morila (2006) e (2012), Mattos (2006) Schmidt e Cainelli (2009) Rocha (2009)<br />

Swanwick (2003), entre outros. O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho configurou-se em investigar, por<br />

meio <strong>de</strong> pesquisa bibliográfica e análise documental <strong>de</strong> que forma este movimento cultural,<br />

po<strong>de</strong> contribuir no espaço escolar, para um processo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> sentidos sobre o mundo e<br />

a socieda<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>rando os saberes na área <strong>de</strong> conhecimento das humanida<strong>de</strong>s.<br />

Interpretações documentais, organização e compreensão <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s realizadas com alunos,<br />

foram realizadas na intenção <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r suas especificida<strong>de</strong>s e contextualizá-las com a<br />

literatura teórica, tomando-as positivamente como referência empírica na produção do<br />

conhecimento proposto.<br />

Palavras chave: <strong>História</strong>- Ensino- Música- Cultura escolar- Festival


RELATO DE EXPERIÊNCIA DA OFICINA: LITERATURA DE CORDEL COMO<br />

FONTE DE PRODUÇÃO E VALORIZAÇÃO DA HISTÓRIA LOCAL.<br />

38<br />

Joel Bastos Alves<br />

(UNEB, Campus X<strong>II</strong>I)<br />

Email: joelbastos19@hotmail.com<br />

RESUMO<br />

Esta ativida<strong>de</strong> foi organizada pelo grupo <strong>de</strong> bolsistas do PIBID (Programa Institucional <strong>de</strong><br />

Bolsas <strong>de</strong> Iniciação à Docência) da UNEB Campus X<strong>II</strong>I que atua no Centro Territorial <strong>de</strong><br />

Educação Profissional Piemonte do Paraguaçu I, sob a supervisão da professora Gilsiane<br />

Brito Leão <strong>de</strong> Oliveira. O grupo é composto por pibidianos. A oficina foi realizada com os<br />

alunos do 3º Ano <strong>de</strong> Agricultura. O trabalho teve como objetivos principais, compreen<strong>de</strong>r e<br />

resgatar a função social do gênero cor<strong>de</strong>l, bem como contribuir para a valorização da<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> através do resgate da história local, além <strong>de</strong> refletir acerca da formação<br />

profissional do professor <strong>de</strong> Educação do Ensino Médio e as diversas linguagens da Literatura<br />

<strong>de</strong> Cor<strong>de</strong>l. Dessa forma, a Literatura <strong>de</strong> Cor<strong>de</strong>l para a turma do 3º Ano <strong>de</strong> Agricultura, tornase<br />

significativa, pois, conhecer a arte <strong>de</strong> outras culturas é fundamental. É nesse sentido que<br />

<strong>de</strong>ve haver nas escolas reflexões acerca da Literatura <strong>de</strong> Cor<strong>de</strong>l e sua importância como<br />

gênero facilitador <strong>de</strong> aprendizagens, além <strong>de</strong> favorecer uma aproximação do aluno <strong>de</strong> suas<br />

raízes histórico-geográficas. Nessa perspectiva, a discussão sobre a temática e sua efetiva<br />

aplicação na sala <strong>de</strong> aula, auxiliará á construção <strong>de</strong> uma educação que venha a <strong>de</strong>senvolver no<br />

aluno o gosto pela leitura e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita através da rica cultura popular brasileira. A<br />

literatura <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l é um <strong>de</strong>sses meios, pois possibilita contar <strong>de</strong> maneira simples histórias <strong>de</strong><br />

pessoas e lugares <strong>de</strong>sconhecidos por muitos. A preparação da ativida<strong>de</strong> e sua aplicação foram<br />

catalogadas na compreensão do grupo, pois, enten<strong>de</strong>-se que são significativas as práticas<br />

pedagógicas que contemplem o gênero cor<strong>de</strong>l e venham possibilitar um encontro com a<br />

experiência cultural que emana <strong>de</strong>sta literatura e toda sua riqueza expressiva, já que<br />

oportuniza a articulação <strong>de</strong> várias linguagens como verbal oral, verbal escrita, musical através<br />

da análise <strong>de</strong> xilogravuras, etc. Nesse sentido, a Literatura <strong>de</strong> Cor<strong>de</strong>l é <strong>de</strong> suma importância,<br />

pois possibilita a aproximação do aluno com sua realida<strong>de</strong> histórica, além <strong>de</strong> permitir<br />

apreciação e socialização artístico-literária, contribuindo para uma melhor cidadania. O<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da oficina foi somado por momentos <strong>de</strong> discussão e <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s práticas e<br />

lúdicas que envolveram todos os participantes. A literatura <strong>de</strong> Cor<strong>de</strong>l oferece aos alunos uma<br />

maneira <strong>de</strong> pensar o mundo e <strong>de</strong> afirmar uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, traçando caminho <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, e a<br />

escola como agente <strong>de</strong>sse espaço poético <strong>de</strong> luta.<br />

Palavras-Chave: Literatura <strong>de</strong> Cor<strong>de</strong>l, <strong>História</strong> Local, Prática Lúdica.


RELATO DE EXPERIÊNCIA DA OFICINA: DIREITOS DOS POVOS: CULTURA<br />

INDÍGENA NO EXTREMO SUL BAIANO.<br />

RESUMO<br />

Daiane Felix dos Santos<br />

Graduanda em <strong>História</strong> pela Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia<br />

E-mail: felix_daiane@hotmail.com<br />

Franciele Santos Soares<br />

Graduanda em <strong>História</strong> pela Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia<br />

E-mail: franciele_pessoa@hotmail.com<br />

39<br />

Jonathan <strong>de</strong> Oliveira Molar<br />

Orientador. Professor da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia<br />

E-mail: jonathanmolar@hotmail.com<br />

Márcio Soares Santos<br />

Orientador. Professor da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia<br />

E-mail: marciusuarez@hotmail.com<br />

Esse relato <strong>de</strong> experiência é resultado <strong>de</strong> uma oficina com a temática Direitos dos Povos:<br />

Cultura indígena no extremo sul baiano, cujo objetivo foi o <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o processo <strong>de</strong> luta<br />

e resistência dos povos indígenas no Brasil em busca da concretização dos seus direitos como<br />

cidadãos brasileiros, além <strong>de</strong> terem acesso a uma educação, Saú<strong>de</strong> e Segurança <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>,<br />

realizada pelo subprojeto PIBID <strong>de</strong> <strong>História</strong>, intitulado “A <strong>História</strong> e o social: a comunida<strong>de</strong> e<br />

os espaços da cida<strong>de</strong> como integrantes do processo <strong>de</strong> ensino-aprendizagem”, do Programa<br />

Institucional <strong>de</strong> Bolsa <strong>de</strong> Iniciação à Docência (PIBID), do Campus X da Universida<strong>de</strong> do<br />

Estado da Bahia – UNEB, em Teixeira <strong>de</strong> Freitas– BA, no ambiente escolar do Colégio<br />

Estadual Democrático Ruy Barbosa - CEDERB. Quanto à metodologia utilizada no âmbito<br />

<strong>de</strong>sse trabalho, consiste na revisão bibliográfica <strong>de</strong> textos <strong>de</strong> autores como: LUCIANO<br />

(2006), SAMPAIO (2000), BATISTA (2004), GERLIC (2007), FREIRE (1996), SCHMIDT;<br />

GARCIA (2005), que oferecem aporte teórico e pedagógico para a confecção do projeto e a<br />

aplicação da oficina. A oficina se <strong>de</strong>u através da explanação dos aspectos gerais dos povos<br />

indígenas do extremo sul baiano, seguido <strong>de</strong>: 1- dinâmicas para captar a percepção dos alunos<br />

a cerca da temática. A partir das falas foi-se tecendo novas informações. 2 – Apresentação do<br />

ví<strong>de</strong>o As caravelas passam, fazendo a <strong>de</strong>sconstrução da visão criada pelos portugueses, tanto<br />

da aparência como da passivida<strong>de</strong> do índio brasileiro, ao longo da história, 3 – Ressaltou-se a<br />

presença do índio no Extremo Sul baiano, em específico na cida<strong>de</strong> baiana <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong><br />

Freitas, 4 – Uso <strong>de</strong> charges sobre a temática, 5 - Apresentação uma cartilha sobre o povo<br />

indígena Pataxó, especificamente do distrito <strong>de</strong> Cumuruxatiba-Ba. 6 - Produção textual,<br />

baseada em toda a discussão que foi realizada durante a oficina. Todo o processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sconstrução <strong>de</strong>ssas i<strong>de</strong>ias foi satisfatório, utilizando para esse objetivo discussões que não<br />

buscaram impor uma verda<strong>de</strong>, mas simplesmente apresentar visões históricas diferentes,<br />

dados gerais e <strong>de</strong>poimentos dos próprios índios, o que <strong>de</strong>spertou mudança <strong>de</strong> pensamento, e o<br />

questionamento dos estereótipos existentes.<br />

Palavras-chave: Direitos, Povos indígenas, Extremo Sul da Bahia.


40<br />

AS TIC’S NO PROCESSO DE ENSINO/APRENDIZAGEM NO ENSINO DA<br />

DITADURA MILITAR NO BRASIL (1964-1985)<br />

José Carlos Gomes <strong>de</strong> Campos<br />

Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Santa Cruz Graduando em Ciências Sociais<br />

E-mail: Ze.karlos@msn.com<br />

RESUMO<br />

O presente trabalho relata a experiência do uso das Tecnologias da Informação e<br />

Comunicação TICs com o projeto intitulado “Assim sendo <strong>de</strong>claro vaga a presidência da<br />

república”: 50 anos <strong>de</strong>pois, cujo o principal objetivo foi realização <strong>de</strong> oficinas com alunos e<br />

professores da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino pública do estado da Bahia, na microrregião <strong>de</strong> Jequié, para fins<br />

<strong>de</strong> capacitar no resgate da memória no sentido da violação dos direitos humanos durante o<br />

Regime Civil Militar Brasileiro (1964 – 1985). As oficinas tiveram como instrumentos <strong>de</strong><br />

trabalho, filmes, documentários, áudios da época do regime, assim, possibilitando uma maior<br />

compreensão do período trabalhado no projeto. O ensino e a aprendizagem estão cada vez<br />

mais ligados ao processo <strong>de</strong> comunicação. Há uma mutação pedagógica no processo<br />

educacional influenciando profundamente a relação aluno-professor-instituição <strong>de</strong> ensino. O<br />

que antes era acessório para o <strong>de</strong>senvolvimento profissional e educacional, hoje se mostra<br />

como parte essencial da educação. Sandhaltz (2008) afirma que na inter-relação entre<br />

pesquisa, formação <strong>de</strong> professores e prática pedagógica com o uso da TIC, a área <strong>de</strong><br />

conhecimento tecnologia em educação se transforma e avança a partir dos resultados das<br />

investigações e novos conhecimentos produzidos. O projeto foi elaborado para ser executado<br />

em ações divididas em três etapas distintas. Na primeira etapa trata-se da aquisição dos<br />

materiais que foram utilizados nas oficinas: Áudios, Documentários, Ví<strong>de</strong>os, Jornais e Livros.<br />

Esta etapa ficou <strong>de</strong> minha responsabilida<strong>de</strong> na confecção <strong>de</strong>sse acervo digital.<br />

Posteriormente, após a confecção do acervo, teve inicio a segunda etapa. De maio <strong>de</strong> 2014 a<br />

<strong>de</strong>zembro do mesmo ano foram realizadas as oficinas, que serão <strong>de</strong>scritas a partir <strong>de</strong> agora.<br />

Inicialmente é realizado um momento <strong>de</strong> apresentação da proposta do projeto, com uma<br />

palestra sobre A ditadura Militar e a violação dos direitos humanos durante esse período, esse<br />

contato inicial possibilitou envolvimento e compreensão dos professores e alunos acerca da<br />

temática, assim, facilitando o processo <strong>de</strong> aplicação da oficina, proporcionando aos mesmos<br />

uma maior abertura/aceitação aos conteúdos abordados. A realização <strong>de</strong>sse trabalho permitiu<br />

apontar que boa parte dos participantes, adquiram a compreensão do motivo <strong>de</strong> ser necessário<br />

tem uma noção social da história do seu país, a exposição dos materiais <strong>de</strong> multimídia, os<br />

relatos pessoais foram partes bastante relevantes para o trabalho. Foi possível promover<br />

estudos a cerca dos diversos métodos <strong>de</strong> violação dos direitos humanos, durante o regime<br />

militar. A tortura como instrumento repressor, os setores do Estados que se organizavam para<br />

à realização <strong>de</strong>ssas práticas, e as vítimas que até o presente momento se encontram da<br />

situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>saparecidos.<br />

Palavras –chave: Memória. Direitos Humanos.


41<br />

COMPREENDENDO AS CATEGORIAS DE ANÁLISE DA GEOGRAFIA PARA<br />

UMA MELHOR COMPREENSÃO DA HISTÓRIA<br />

Yolanda Aparecida <strong>de</strong> Castro Almeida<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia<br />

yalmeida@uneb.br<br />

RESUMO<br />

Nas duas últimas décadas muito se escreveu sobre o ensino interdisciplinar, multidisciplinar e<br />

transdisciplinar na Educação Básica. Esta nova maneira <strong>de</strong> ensinar já se materializa no<br />

Exame Nacional do Ensino Médio, ENEM, on<strong>de</strong> as disciplinas escolares são cobradas <strong>de</strong>ntro<br />

das gran<strong>de</strong>s áreas do conhecimento. Porém, o que se percebe é uma gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> em<br />

efetivar nas salas <strong>de</strong> aula um trabalho on<strong>de</strong> o entrelaçar das disciplinas se concretize. Numa<br />

tentativa <strong>de</strong> se pensar em um trabalho transdisciplinar constante, este projeto busca mostrar<br />

como as categorias <strong>de</strong> análise da Geografia po<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>vem ser trabalhadas constantemente<br />

com o ensino da <strong>História</strong>. Justifica-se esta preocupação por se enten<strong>de</strong>r não ser possível uma<br />

compreensão completa do processo histórico sem uma análise geográfica. A abordagem<br />

empregada assenta-se no entendimento da perspectiva da percepção geográfica, on<strong>de</strong> as<br />

representações das categorias <strong>de</strong> análise que balizam a ciência geográfica po<strong>de</strong>m melhorar o<br />

ensino da <strong>História</strong>. A metodologia compreen<strong>de</strong> relacionar tempo espaço, mostrando como o<br />

uso consciente das categorias <strong>de</strong> análise da Geografia possibilita maior compreensão das<br />

narrativas históricas são ensinadas nas aulas da Educação Básica. Para isto, as categorias<br />

serão explicadas a partir <strong>de</strong> conceitos e analogias. E em seguida alguns exemplos <strong>de</strong><br />

conteúdos cobrados no ensino da <strong>História</strong> serão explicados a partir das categorias <strong>de</strong> análise<br />

da Geografia. Os resultados mostrarão ser possível ao professor <strong>de</strong> <strong>História</strong> trabalhar as<br />

categorias <strong>de</strong> análise da Geografia para uma melhor compreensão dos fatos históricos<br />

ensinados durante o ensino médio. Para elaborar este artigo, recorreu-se aos seguintes<br />

teóricos: Carlos, Claval, Haesbaert, Harvey, Kant, Moraes, Moreira, Santos e Tuan.<br />

Palavras-chave: Ensino – Categorias <strong>de</strong> análise da Geografia – <strong>História</strong> -


42<br />

OS JESUÍTAS E O ENSINO: EDUCAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE<br />

DOMINAÇÃO<br />

Fábio Pereira Barros<br />

Mestrando em Ensino na Educação Básica na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo–UFES<br />

E-mail: fabiosaojose2000@hotmail.com<br />

RESUMO<br />

Os Jesuítas trouxeram para o Brasil, junto com o catolicismo, a educação, marcando o início<br />

<strong>de</strong> sua história na colônia e o suporte i<strong>de</strong>ológico necessário à estruturação e à manutenção da<br />

socieda<strong>de</strong> exploratória e dos privilégios da classe dominante, os quais não po<strong>de</strong>riam se<br />

solidificar apenas na força do aparelho repressor da Coroa. Foi estruturado na colônia um<br />

aparelho i<strong>de</strong>ológico fundamentado na Igreja Católica e vinculado diretamente a Coroa. A<br />

pedagogia utilizada pelos jesuítas <strong>de</strong>finia-se em transformar índios em bons cristãos, instruílos<br />

nos hábitos <strong>de</strong> trabalho dos europeus. Os colonizadores tendiam forçosamente a<br />

concentrar todo seu pensamento e todos os seus esforços na exploração e <strong>de</strong>fesa das colônias.<br />

I<strong>de</strong>ntifica-se que a educação não lhe interessava senão como meio <strong>de</strong> submissão e <strong>de</strong> domínio<br />

político, que mais facilmente se podiam alcançar pela propagação da fé, com a autorida<strong>de</strong> da<br />

Igreja. A partir <strong>de</strong>ssa breve análise histórica preten<strong>de</strong>u-se discutir a educação como meio <strong>de</strong><br />

submissão e domínio político, e enten<strong>de</strong>r a posição assumida pelos jesuítas e pela Igreja.<br />

Discutiu-se ainda a utilização da educação para impor um po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> dominação que, segundo<br />

Bourdieu (2014) essa dominação se dá através da ação pedagógica impondo um arbitrário<br />

cultural não percebido e assim aceito como legítimo. A imposição implica sempre o exercício<br />

<strong>de</strong> violência simbólica por parte <strong>de</strong> uma autorida<strong>de</strong> pedagógica. Este estudo realizou uma<br />

pesquisa bibliográfica, recorrendo a procedimentos como leitura e fichamento <strong>de</strong> algumas<br />

obras que tratam <strong>de</strong>sse assunto. Com base na análise e interpretação dos dados encontrados<br />

nos textos selecionados, foi <strong>de</strong>senvolvido o estudo e estruturado o texto que é apresentado<br />

aqui. Foi tomada como referencial teórico o pensamento <strong>de</strong> Almeida (2000), Bourdieu (2014),<br />

Cambi (1999), Costa e Lima (2008), Veiga (1992) entre outros, para a investigação, análise e<br />

interpretação da realida<strong>de</strong> histórico-educacional da colônia brasileira. Ao longo do estudo,<br />

conclui-se que somos her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> uma história, cujos alicerces são profundamente <strong>de</strong> base<br />

autoritária e alheia aos interesses da coletivida<strong>de</strong>. Os interesses religiosos e políticos da<br />

Companhia <strong>de</strong> Jesus, sem dúvida, moveram a ação educativa <strong>de</strong>sses padres, que encontraram<br />

no ensino, um meio eficaz <strong>de</strong> submissão e domínio. O sentido da educação, portanto, na<br />

dominação fica bastante evi<strong>de</strong>nte, referindo-se a um sentido <strong>de</strong> educação basicamente elitista.<br />

Palavras-chave: Jesuítas. Ensino. Dominação. Educação.


RELATÓRIO DO ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO <strong>II</strong>I: REGÊNCIA<br />

NAS SÉRIES FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL<br />

43<br />

Yasmin Silva Santos <strong>de</strong> Jesus<br />

Graduanda em <strong>História</strong>- UNEB – Campus X<br />

yasminsilva.tm@gmail.com<br />

Prof. Me. Ariosvaldo Alves Gomes<br />

UNEB – Campus X<br />

tyry@tdf.com.br<br />

(orientador)<br />

Prof.ª Me. Liliane Maria Fernan<strong>de</strong>s C. Gomes<br />

UNEB – Campus X<br />

liufernan<strong>de</strong>sc@yahoo.com.br<br />

(orientadora)<br />

RESUMO<br />

O presente trabalho trata-se <strong>de</strong> um relatório <strong>de</strong> estágio <strong>de</strong> regência, realizado para a disciplina<br />

<strong>de</strong> Estágio Supervisionado <strong>II</strong>I do Curso <strong>de</strong> Licenciatura em <strong>História</strong>, do Departamento <strong>de</strong><br />

Educação – Campus X, da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia (UNEB). Objetivando relatar<br />

elementos que caracterizam as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas na Escola Municipal João Mendonça<br />

junto aos alunos dos 6º e 7º anos, no período vespertino, a partir da realização <strong>de</strong> uma oficina<br />

<strong>de</strong> história que procurava discutir as formas como as comunida<strong>de</strong>s indígenas vêm sendo<br />

representadas através <strong>de</strong> imagens e ví<strong>de</strong>os, buscando possibilitar reflexões junto aos<br />

estudantes <strong>de</strong> forma a contribuir no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconstrução <strong>de</strong> alguns estereótipos<br />

referentes a estas comunida<strong>de</strong>s. As aulas da oficina <strong>de</strong> <strong>História</strong> foram realizadas durante cinco<br />

semanas, cada encontro teve a duração <strong>de</strong> 5 horas nas quartas-feiras, com exceção <strong>de</strong> um<br />

encontro extra, realizado em uma quinta-feira. Para realização <strong>de</strong>ste trabalho utilizou-se como<br />

referencial teórico autores(as) como Dayrell (1996), Demo (2001), Luckesi (1996), Pimenta e<br />

Lima (2005/2006), Ribeira (2004) no sentido <strong>de</strong> colaborar com a discussão teórica, no que<br />

tange a aspectos como a importância do estágio, a avaliação enquanto processo, o espaço<br />

escolar e os múltiplos olhares que <strong>de</strong>vemos ter sobre a educação e a cultura. Utilizou-se como<br />

imagens principais a pintura “A primeira missa no Brasil”, autoria <strong>de</strong> Victor Meirelles (1861)<br />

e algumas charges <strong>de</strong> Maurício <strong>de</strong> Sousa que fazem uma releitura do quadro <strong>de</strong> Victor<br />

Meirelles. O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tais ativida<strong>de</strong>s contribuiu <strong>de</strong> forma significativa para o<br />

crescimento dos estudantes e da estagiária, conforme <strong>de</strong>scrições e análise apresentadas no<br />

relatório, isso se <strong>de</strong>u em razão da oficina ter oportunizado que eles e elas na prática<br />

apren<strong>de</strong>ssem a tecer novos discursos, que confrontaram os relatos eurocêntricos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrição<br />

das comunida<strong>de</strong>s indígenas, além <strong>de</strong> permitir uma aproximação com a história <strong>de</strong>stes,<br />

percebendo algumas <strong>de</strong> suas contribuições na formação cultural do nosso país, além <strong>de</strong><br />

compreen<strong>de</strong>r como agem e reagem às tentativas <strong>de</strong> exclusão na história local e nacional; suas<br />

resistências e avanços, no sentido, por exemplo, <strong>de</strong> garantirem leis afirmativas como<br />

conquistas <strong>de</strong> grupos tidos como minorias.<br />

Palavras-chave: estágio <strong>de</strong> regência – representação dos povos indígenas – ensino <strong>de</strong><br />

<strong>História</strong>.


44<br />

A APRENDIZAGEM DOS ALUNOS NA DISCIPLINA DE HISTÓRIA NO<br />

ENSINO FUNDAMENTAL.<br />

Diógenes Santa Santos<br />

Graduando em <strong>História</strong> – UNEB – Campus X<br />

E-mail: diogenessantana.ds94@gmail.com<br />

Jasmim Lima dos Santos<br />

Graduanda em <strong>História</strong> – UNEB – Campus X<br />

E-mail: jasminlimas.jl@gmail.com<br />

Ariosvaldo Alves Gomes<br />

Professor da UNEB – Campus X . (Orientador)<br />

Prof. Me. Gislaine Romana Carvalho da Silva<br />

Professora da UNEB – Campus X. (Orientadora)<br />

RESUMO<br />

O presente artigo é resultado das aulas tidas na disciplina <strong>de</strong> estagio supervisionado I, on<strong>de</strong><br />

através das aulas observadas na escola em que atuávamos como estagiários surgiram algumas<br />

indagações a respeito do ensino <strong>de</strong> historia e sua aplicabilida<strong>de</strong>, tal artigo tem como objetivo<br />

analisar o processo <strong>de</strong> aprendizagem dos alunos na disciplina <strong>de</strong> história no ensino<br />

fundamental, i<strong>de</strong>ntificando quais os fatores que contribuem para este processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento seja ele positivo ou negativo. Para enten<strong>de</strong>r melhor sobre isto, iremos falar<br />

sobre o ensino <strong>de</strong> história, sua aplicabilida<strong>de</strong>, o papel do professor como agente responsável<br />

<strong>de</strong> transmitir a matéria, metodologias, didáticas e como a forma <strong>de</strong> se aplicar e ver o ensino <strong>de</strong><br />

historia po<strong>de</strong> influenciar no <strong>de</strong>senvolvimento do aluno. Para isso, utilizaremos autores como<br />

Circer Bittencourt, Leandro Karnal entre outros, para <strong>de</strong>bater sobre o ensino <strong>de</strong> historia, sua<br />

importância, a visão dos alunos e o papel do professor, para que assim possamos compreen<strong>de</strong>r<br />

melhor sobre os temas que preten<strong>de</strong>mos abordar. Para esta analise foram entrevistados 30<br />

alunos mais o professor <strong>de</strong> história, on<strong>de</strong> foram feito perguntas sobre sua visão a respeito da<br />

matéria, o seu olhar sobre o <strong>de</strong>senvolvimento da sala e o objetivo da disciplina, a partir dai<br />

iremos analisar como o ensino <strong>de</strong> história tem sido trabalhado em sala <strong>de</strong> aula, a metodologia<br />

e a didática usada pelo o professor da disciplina, qual é a visão dos alunos a respeito à<br />

importância da matéria, a opinião que possuem sobre a função da história em sala <strong>de</strong> aula e<br />

seu impacto individual, dialogando com a visão sobre as mesmas questões vistas pelo o<br />

professor educador da matéria. Com isso, buscamos i<strong>de</strong>ntificar quais são os fatores que<br />

contribuem para o processo do <strong>de</strong>senvolvimento da aprendizagem dos alunos na disciplina,<br />

buscando enten<strong>de</strong>r as falhas que o ensino <strong>de</strong> história na sala <strong>de</strong> aula ainda comete e que<br />

prejudicam na formação dos alunos, a fim <strong>de</strong> que assim possamos ter uma melhor<br />

compreensão <strong>de</strong> como aplicar a matéria <strong>de</strong> história em sala <strong>de</strong> aula. Cabe então ao docente<br />

educador permanecer em seu objetivo, acreditando estar evoluindo e buscando sempre<br />

i<strong>de</strong>ntificar quais são as causas para o mal rendimento <strong>de</strong> sua turma, caso haja, pois<br />

i<strong>de</strong>ntificando o problema é possível buscar soluções, on<strong>de</strong> o professor não po<strong>de</strong> olhar a turma<br />

apenas como um todo, mas consi<strong>de</strong>rar seus avanços individuais <strong>de</strong> cada individuo, pois talvez<br />

não se possa alcançar a totalida<strong>de</strong> no ensino em uma única sala, mas a minoria não po<strong>de</strong> ser<br />

ignorada nem tão pouco <strong>de</strong>svalorizada, pois ela representa os avanços e conquistas <strong>de</strong> sua<br />

pratica como docente.<br />

Palavras-Chave: Ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong>, Ensino Fundamental, Aprendizagem.


45<br />

A CULTURA LOCAL NO ENSINO DE HISTÓRIA<br />

Geniclécia Lima dos Santos – UNEB<br />

Graduanda em Licenciatura em <strong>História</strong>, Bolsista <strong>de</strong> Iniciação Científica FAPESB<br />

geniclecialima94@gmail.com<br />

Rayla Roberta Silva <strong>de</strong> Oliveira – UNEB<br />

Graduanda em Licenciatura em <strong>História</strong>, Bolsista <strong>de</strong> Iniciação Científica FAPESB<br />

raylla.roberta@hotmail.com<br />

Iris Verena Santos <strong>de</strong> Oliveira – UNEB<br />

Doutora em Estudos Étnicos e Africanos pela UFBA<br />

irisveren@gmail.com<br />

RESUMO<br />

O presente trabalho discute a importância da abordagem da cultura local e da memória no<br />

ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong> no ensino fundamental I a partir da análise <strong>de</strong> “Fichas Pedagógicas”,<br />

documento produzido nos planejamentos por docentes e coor<strong>de</strong>nadores pedagógicos.<br />

Analisamos como o ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong> é pensado através dos planos <strong>de</strong> aula do ensino<br />

fundamental e apontamos sugestões <strong>de</strong> como o uso das memórias dos alunos, da comunida<strong>de</strong><br />

e das experiências dos docentes e discentes po<strong>de</strong>m ser o ponto <strong>de</strong> partida para se pensar o<br />

estudante enquanto sujeito ativo na produção do conhecimento, assim como sugere autores da<br />

terceira geração dos Analles, que para os estudiosos da área da educação po<strong>de</strong> ser<br />

<strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> formação cidadã, substituindo o acúmulo <strong>de</strong> conhecimentos sistematizados. É<br />

importante ressaltar, que a relativização do conhecimento histórico <strong>de</strong> modo a buscar práticas<br />

on<strong>de</strong> os conteúdos sejam contextualizados com o meio social do individuo não implica,<br />

necessariamente, em uma perda <strong>de</strong> significados, legitimida<strong>de</strong> ou referencial. Enten<strong>de</strong>mos<br />

ainda, que a dada importância e inclusão <strong>de</strong>ssa cultura local, necessita <strong>de</strong> uma consciência e<br />

<strong>de</strong> um comprometimento das práticas docentes, para que possam perceber quais são as reais<br />

<strong>de</strong>mandas a serem vivenciadas. Não menos importante, é a incorporação <strong>de</strong> diferentes<br />

linguagens usada pelo professor e a atenção que este <strong>de</strong>ve ter aos diferentes níveis <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento do seu alunado. Tomamos como base fundamental para esta discussão,<br />

principalmente, o conceito <strong>de</strong> “cultura” segundo Clifford Geertz e para dialogar com este,<br />

utilizamos da área da educação, Ana Maria Monteiro (formação em <strong>História</strong> e Educação),<br />

entre outros. Nosso principal objetivo é reafirmar a importância <strong>de</strong> se estimular a produção <strong>de</strong><br />

narrativas locais a partir <strong>de</strong> vivências selecionadas, a fim <strong>de</strong> fortalecer a memória e a história<br />

local.<br />

Palavras-Chave: Ensino <strong>de</strong> história, cultura, memória, história local.


46<br />

A CONSTRUÇÃO DO INDÍGENA NOS LIVROS DE HISTÓRIA E DE LÍNGUA<br />

PORTUGUESA NO ENSINO MÉDIO: O QUE DIZ O PNLD?<br />

E<strong>de</strong>vard França Pinto Júnior<br />

Mestrando em <strong>História</strong> - Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> São Paulo (UNIFESP)<br />

e<strong>de</strong>vardjunior@gmail.com<br />

Stéfano Couto Monteiro<br />

Mestrando em Educação - Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Santa Cruz (UESC)<br />

stecoutmon@yahoo.com.br<br />

RESUMO<br />

A inserção da temática indígena no âmbito da Educação Básica embora seja obrigatória <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

2008, enfrenta <strong>de</strong>safios quanto à clareza e a abordagem, em especial, quando consi<strong>de</strong>rado os<br />

livros disponibilizados através do Programa Nacional do Livro Didático – PNLD. Nesse<br />

sentido, a presente comunicação tem por objetivo expor os avanços e as limitações das<br />

coletâneas resenhadas e disponibilizadas para o Ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong> e <strong>de</strong> Língua Portuguesa e<br />

suas respectivas Literaturas, no âmbito do Ensino Médio, no triênio compreendido entre 2015<br />

e 2017, tendo em vista o ensino <strong>de</strong>sta temática sob a perspectiva intercultural (CANDAU,<br />

2011; WALSH, 2010). Para isso, como procedimento metodológico proce<strong>de</strong>u-se a análise<br />

documental com a exploração das resenhas presentes nos Guias Didáticos (BRASIL, 2015b),<br />

do Edital PNLD (BRASIL, 2015a) e <strong>de</strong> cada um dos volumes das obras analisadas pelo<br />

Ministério da Educação. Para isso, a análise tomou como parâmetro as compreensões teóricas<br />

<strong>de</strong> BATISTA (2010) e VALENTE (2004) quanto às <strong>de</strong>finições dos critérios para a escolha do<br />

Livro Didático, as construções conceituais <strong>de</strong> WALSH (2010), FLEURI (2013), BACKES<br />

(2014) quanto a abordagem intercultural sob perspectiva crítica, a visão <strong>de</strong> BITTENCOURT<br />

(2004) referente ao Ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong>, assim como as contribuições advindas do Ensino da<br />

Língua Portuguesa e da Literatura (CEREJA, 2009; ABAURRE, 2014). A análise contemplou<br />

um total <strong>de</strong> 29 (vinte e nove) coletâneas e aponta que há uma insistência em prol do<br />

atendimento do mercado editorial a qual cita o indígena, seja sob a condição <strong>de</strong> personagem<br />

literário ou <strong>de</strong> sujeito histórico, como ser <strong>de</strong>slocado, mítico, litorâneo, pitoresco, miscigenado,<br />

uno, tribal, isolado, embora haja iniciativas que caminham em diálogo com a proposta <strong>de</strong><br />

reconhecer o indígena como sujeito contextualizado, responsável pela ressignificação <strong>de</strong> sua<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.<br />

Palavras-chave: Lei 11.645/2008, Livro Didático, Ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong>, Literatura e<br />

Interculturalida<strong>de</strong>.


47<br />

FORMAÇÃO POLÍTICA DO PROFESSOR DE HISTÓRIA<br />

Marconey <strong>de</strong> Jesus Oliveira<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia (UNEB), Campus IV<br />

Graduando no Curso <strong>de</strong> Licenciatura em <strong>História</strong><br />

marconey<strong>de</strong>oliveira@gmail.com<br />

RESUMO<br />

O presente trabalho tem por objetivo discutir os principais percalços na formação dos<br />

professores <strong>de</strong> história e ao mesmo tempo avaliar a atuação dos docentes iniciantes <strong>de</strong>ntro das<br />

instituições <strong>de</strong> ensino. Pensar a formação docente no século XXI é vislumbrar um caminho<br />

com gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>safios. Pesquisa realizada pela Revista Nova Escola entre os<br />

meses <strong>de</strong> janeiro e fevereiro <strong>de</strong> 2010, mostra que apenas 2% dos alunos do ensino médio<br />

entrevistados, preten<strong>de</strong>m prestar vestibular para os cursos <strong>de</strong> licenciaturas e pedagogia, ambos<br />

têm como principal intuito a formação <strong>de</strong> professores, esses dados constatados pela pesquisa<br />

mostram o <strong>de</strong>sprestigio que a profissão vem sofrendo nos últimos anos. Busco escrever esse<br />

trabalho motivado pela minha experiência como aluno da graduação do curso <strong>de</strong> licenciatura<br />

em história pela UNEB campus IV, é através <strong>de</strong> minha convivência no <strong>de</strong>terminado assunto<br />

que tento perceber os principais <strong>de</strong>safios e percalços que se encontra na formação docente da<br />

atualida<strong>de</strong>. Uso como base para as minhas consi<strong>de</strong>rações, textos e discussões trabalhados<br />

pelos meus professores do ensino superior <strong>de</strong>ntro da sala <strong>de</strong> aula e outros escritos sobre o<br />

tema para ajudar na formação <strong>de</strong> opinião. Além da análise da reportagem Atrativida<strong>de</strong> da<br />

Carreira Docente, da revista Nova Escola 2010. Diversos autores já se mostraram interessados<br />

na tentativa <strong>de</strong> caracterizar os problemas vivenciados pelos professores. Para Maurice Tardif<br />

(2000), a formação no magistério se dar em um mo<strong>de</strong>lo “aplicacionista” acarretando assim<br />

uma série <strong>de</strong> problemas. A formação do professor e principalmente o <strong>de</strong> história tem que ser<br />

feita <strong>de</strong> uma forma crítica para que ele possa pensar, compreen<strong>de</strong>r e perpassar essa mesma<br />

visão para seus futuros alunos, algo a mais que uma simples transmissão do conhecimento,<br />

para MAGALHÃES (2011), são exigidas novas formas <strong>de</strong> conhecimentos aos docentes <strong>de</strong><br />

história. São usados como referenciais autores como Pedro Demo “ De que Escola Estamos<br />

Falando” (2002), Antônio J. Severino “Preparação técnica e formação ético-política dos<br />

professores” (2003), Marcos Silva e Selva Guimarães “Ensinar <strong>História</strong> no Século XXI: Em<br />

busca do tempo entendido” (2007), e Rodrigo L. Simões “Formação <strong>de</strong> professores na área<br />

<strong>de</strong> história: Entre prática e discursos” (2012) entre outros. A Revista Nova Escola (2010),<br />

aponta para várias formas <strong>de</strong> melhorar a situação dos professores, além <strong>de</strong> uma boa reforma<br />

no piso salarial, melhorar também a formação inicial e resgatar o valor da profissão na<br />

socieda<strong>de</strong> entre outros. A tarefa não é fácil, mas tenho certeza <strong>de</strong> que venceremos, não apesar,<br />

mas porque somos professores.<br />

Palavras chaves: Formação, <strong>História</strong>, Ensino, Professores iniciantes.


UMA ANÁLISE DECOLONIAL DA REPRESENTAÇÃO INDÍGENA NOS LIVROS<br />

DIDÁTICOS DA REDE MUNICIPAL DE ARACRUZ-ES<br />

48<br />

Paulo <strong>de</strong> Tássio Borges da Silva<br />

Doutorando em Educação/Proped-UERJ<br />

E-mail: paulo<strong>de</strong>tassiosilva@yahoo.com.br<br />

Aciara Carvalho Guarani<br />

Licenciana no Curso <strong>de</strong> Licenciatura Intercultural Indígena Tupinikim e Guarani- UFES<br />

E-mail: aciaracarvalho12@gmail.com<br />

Keilla Pereira da Rosa Tupinikim<br />

Licenciana no Curso <strong>de</strong> Licenciatura Intercultural Indígena Tupinikim e Guarani- UFES<br />

E-mail: keilla-almeida@bol.com.br<br />

RESUMO<br />

A proposta em questão é oriunda <strong>de</strong> reflexões construídas na disciplina “Conhecimento e<br />

Interculturalida<strong>de</strong>” no curso <strong>de</strong> Licenciatura Intercultural Indígena Tupinikim e Guarani da<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo – UFES. Como encerramento da disciplina foi<br />

proposto ao coletivo <strong>de</strong> estudantes um análise dos livros didáticos recebidos pelas escolas<br />

Tupinikim e Guarani no Programa Nacional do Livro Didático – PNLD, com uso <strong>de</strong> 2016 a<br />

2018. Durante a análise dos livros localizamos naqueles <strong>de</strong>stinados ao Ensino Fundamental I,<br />

nos componentes curriculares <strong>de</strong> Língua Portuguesa e <strong>História</strong>, a presença <strong>de</strong> imagens e<br />

informações dos Povos Indígenas do Xingu, bem como outros da região Norte e Centro-<br />

Oeste, o que vemos como problemático, tendo em vista que a representação construída nestes<br />

livros em muito difere do Povo Tupinikim e Guarani que habitam o município <strong>de</strong> Aracruz.<br />

Vale ressaltar que, o Povo Tupinikim e o Povo Guarani já sofreram campanhas difamatórias<br />

acerca <strong>de</strong> suas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s étnicas, sendo marginalizados por “falsos índios”, o que nos leva a<br />

crer que a não representação <strong>de</strong>stes nos livros didáticos só reforça estereótipos e preconceitos<br />

regionais sobre os mesmos. A justificativa para tais livros estarem nas escolas indígenas é que<br />

estes são <strong>de</strong>stinados à Educação do Campo, estando as escolas indígenas mais próximas <strong>de</strong>ste<br />

contexto do que o urbano. A justificativa é problemática, uma vez que a a Educação Escolar<br />

Indígena é uma modalida<strong>de</strong> in<strong>de</strong>npen<strong>de</strong>nte da Educação do Campo, e como tal <strong>de</strong>ve ser<br />

respeitada, tendo livro didático próprio. Neste sentido, perseguindo uma interculturalida<strong>de</strong><br />

crítica <strong>de</strong>colonial, reiteramos que tais práticas fragilizam e (re)colonizam i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s,<br />

epistemes, localida<strong>de</strong>s, entre outros. Desta forma, cabe registrar a necessida<strong>de</strong> da produção <strong>de</strong><br />

materiais didáticos que dialoguem com os contextos e especificida<strong>de</strong>s das comunida<strong>de</strong>s<br />

indígenas.<br />

Palavras-chave: Decolonialida<strong>de</strong>; Livros Didádicos; Licenciatura Indígena; Tupinikim;<br />

Guarani.


49<br />

SIMPOSIO 05<br />

HISTÓRIA, RELAÇÕES DE GÊNERO E SEXUALIDADES<br />

Proponente: Ediane Lopes (UNEB)<br />

Ementa: Para compreen<strong>de</strong>rmos a história dos movimentos sociais, temos que levar em<br />

consi<strong>de</strong>ração a pluralida<strong>de</strong> dos mesmos. Os movimentos sociais – com seus objetivos e<br />

ban<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> lutas – organizam-se a partir <strong>de</strong>ssa pluralida<strong>de</strong>. Isso significa que são<br />

movimentos que po<strong>de</strong>m ter horizontes ou objetivos comuns, mas, atuam <strong>de</strong> maneiras as mais<br />

diversas para concretizá-los. O movimento feminista <strong>de</strong>ita as suas origens nos mais diversos<br />

movimentos <strong>de</strong> mulheres. Em suas raízes encontram-se mulheres ligadas à educação, ao<br />

movimento operário, ao movimento negro, ao movimento LGBT, etc. Pensando esses<br />

movimentos, é importante evi<strong>de</strong>nciar as mudanças ocorridas ao longo das décadas <strong>de</strong> 1960 e<br />

1970. A virada da década <strong>de</strong> 60 para a década <strong>de</strong> 70 do século XX é marcada por uma nova<br />

forma <strong>de</strong> pensar o corpo e a sexualida<strong>de</strong>. Em 1975, no Brasil, é lançado o Movimento pela<br />

libertação Homossexual no Brasil. A questão posta naquele momento era se gays e lésbicas<br />

iriam lutar pela sua integração ao mundo da forma como se encontrava ou iriam lutar pela<br />

criação <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> com cultura própria. Levando em consi<strong>de</strong>ração todas essas<br />

histórias e essa diversida<strong>de</strong>, o Simpósio temático <strong>História</strong>, gênero e sexualida<strong>de</strong>s objetiva<br />

reunir trabalhos envolvendo as diversas histórias das mulheres, bem como as muitas<br />

discussões acerca das novas sexualida<strong>de</strong>s. Além disso, histórias envolvendo as mudanças das<br />

sexualida<strong>de</strong>s ao longo das lutas e conquistas dos movimentos <strong>de</strong> gays e lésbicas. O ST<br />

também <strong>de</strong>baterá os diversos feminismos e movimentos <strong>de</strong> mulheres e LGBT's que, ao longo<br />

da história, embasaram teórica e politicamente diversas experiências <strong>de</strong> resistência.


50<br />

A SULBATERNIZAÇÃO DA MULHER NA SOCIEDADE CAPITALISTA,<br />

PATRIARCAL, RACISTA E HETEROSSEXISTA<br />

Delliana Ricelli Ribeiro da Silva<br />

Instituto Fe<strong>de</strong>ral da Bahia IFBA- Campus Eunápolis<br />

Graduada em Filosofia/ Mestre em Linguagens e Representações<br />

Email: <strong>de</strong>llianitaricelli@gmail.com<br />

O Feminismo é uma corrente diversificada, e exatamente por esse motivo o i<strong>de</strong>al é referir-se a<br />

ele no plural. É sabido que quando se trata <strong>de</strong> gênero, essa nomenclatura não engloba apenas o<br />

sexo, mas classe, raça/etnia, orientação sexual. Assim, todas essas diferenças precisam ser<br />

percebidas e consi<strong>de</strong>radas <strong>de</strong>ntro dos movimentos feministas. Por mais que o gênero nos una,<br />

a homossexualida<strong>de</strong> una gays e lésbicas, a geração una idosas e jovens, a classe e a raça/etnia<br />

nos divi<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro da or<strong>de</strong>m capitalista. Nosso objetivo é apresentar os <strong>de</strong>safios dos<br />

movimentos feministas brasileiro no combate a opressões, as quais não se dão <strong>de</strong> forma<br />

homogênea, como já foi aqui sinalizado, sobretudo, quando se trata <strong>de</strong> mulheres negras. Ser<br />

negra é estar numa situação <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>, se além <strong>de</strong> ser mulher e negra, a pessoa for<br />

gorda, lésbica ou bissexual, travesti ou transexual, pobre ou ca<strong>de</strong>irante esse risco se torna<br />

ainda maior. Tem gente que só <strong>de</strong> sair na rua já é motivo <strong>de</strong> piada; é a "nega" do cabelo duro,<br />

é a sapatona, é a gorda rolha <strong>de</strong> poço, é o traveco. É mais fácil humilhar, enxovalhar quem é<br />

minoritorizado e como a empatia é moeda escassa, esses subgrupos não encontram um<br />

lenitivo pra sua dor nos movimentos feministas tradicionais. Apesar <strong>de</strong> ter a consciência que<br />

as versões <strong>de</strong> feminismos não dão conta das opressões vividas pelas mulheres brasileiras,<br />

também reconhecemos que essa discussão só é possível graças a existência <strong>de</strong>sses<br />

movimentos.<br />

Palavras- chave: Feminismos, Raça/ Etnia, Classe.


51<br />

OS DISCURSOS DA IGREJA SOBRE O COMPORTAMENTO E CORPO<br />

FEMININO NA AMÉRICA PORTUGUESA DO SÉCULO XV<strong>II</strong>.<br />

Nadiny Chaiany Santos Luz<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia (UNEB) – Campus V<br />

Graduanda do Curso Licenciatura <strong>de</strong> <strong>História</strong><br />

Email: nadiny-luz95@hotmail.com<br />

O presente estudo é um projeto <strong>de</strong> pesquisa acadêmica, elaborado para aten<strong>de</strong>r ao requisito do<br />

curso <strong>de</strong> Licenciatura em <strong>História</strong>, oferecido pela Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia, campus<br />

V. Este projeto tem como objetivo, mostrar o imaginário e as normas <strong>de</strong> comportamento<br />

criadas a partir do olhar clérigo sobre o corpo feminino na América portuguesa. As estratégias<br />

<strong>de</strong> regulação do corpo feminino foram historicamente construídas sobre uma perspectiva <strong>de</strong><br />

dominação do masculino sobre o feminino. Até o final do século XV<strong>II</strong>I, o clero <strong>de</strong>tinha o<br />

monopólio do saber, sendo ele o incumbido <strong>de</strong> pensar as questões da humanida<strong>de</strong> e orientar<br />

os homens no plano da salvação. Todavia, a formação <strong>de</strong>stes eclesiásticos era distanciada do<br />

convívio com as mulheres, o que resultava em uma representação do feminino a distância,<br />

sem nada saberem <strong>de</strong>las. Devemos refletir e analisar quais as concepções <strong>de</strong> mulher é<br />

projetado pelo discurso da Igreja e as consequências morais e sociais que <strong>de</strong>las po<strong>de</strong>m ser<br />

retiradas. Vale ressaltar que a hierarquia sexual, não foi iniciada pelo cristianismo, o discurso<br />

da Igreja Católica seria provavelmente uma justificação religiosa <strong>de</strong> uma or<strong>de</strong>m social<br />

anteriormente estabelecida. Há importância em tratar <strong>de</strong>ste assunto, pois ele contribui para<br />

compreensão da mulher e homem <strong>de</strong> maneira geral e as relações <strong>de</strong> hierarquia <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. A<br />

escolha do tema abordado vem <strong>de</strong> uma inquietação pessoal em enten<strong>de</strong>r os princípios das<br />

i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero existente socieda<strong>de</strong> cristã no Brasil. Apesar do aumento nos<br />

estudos sobre as mulheres ainda há dificulda<strong>de</strong>s nas fontes, o que dificulta o trabalho dos<br />

historiadores. Preten<strong>de</strong>-se contribuir para o conjunto <strong>de</strong> estudos historiográficos sobre a<br />

história da mulher, no que se refere ás i<strong>de</strong>ologias <strong>de</strong> repressão. Na análise será feito o uso <strong>de</strong><br />

pesquisa bibliográfica e <strong>de</strong> fontes documentais, como cartas e textos da igreja. O estudo<br />

apresentado tem uma temática que po<strong>de</strong> e será discutido no campo histórico como domínio, a<br />

<strong>História</strong> das Mulheres voltada para o campo da <strong>História</strong> Cultural, dialogando com a <strong>História</strong><br />

do Imaginário.<br />

Palavras-chave: Igreja, mulheres, gênero.


A ATUAÇÃO DAS MULHERES ÍNDIGENAS PATAXÓ NO EXTREMO SUL DA<br />

BAHIA<br />

52<br />

Andreia Silva<br />

Graduanda do Curso Licenciatura em <strong>História</strong><br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia<br />

Francisco Cancela<br />

Doutor em <strong>História</strong> Social do Brasil<br />

Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em <strong>História</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Bahia<br />

Professor da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia- UNEB<br />

Estudar sobre a população indígena tem sido <strong>de</strong> extrema importância, a valorização e o<br />

conhecimento da história e cultura <strong>de</strong>sses povos tem <strong>de</strong>spertado avanços historiográficos que<br />

ao longo do tempo trouxe novas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> estudos e também novos olhares acerca das<br />

novas fontes. Dentro <strong>de</strong>ssa perspectiva a mulher indígena vem se <strong>de</strong>stacando em sua maneira<br />

<strong>de</strong> atuação, reivindicando espaços e políticas que a<strong>de</strong>quem suas comunida<strong>de</strong>s sem que<br />

interfira em sua cultura, enfatizando sua importância enquanto mulher conhecedora <strong>de</strong> seus<br />

saberes e atuante no movimento <strong>de</strong> mulheres indígenas. Este trabalho tem como finalida<strong>de</strong><br />

discutir á ativa presença das mulheres indígenas na li<strong>de</strong>rança das al<strong>de</strong>ias Pataxó no extremo<br />

Sul da Bahia, <strong>de</strong>signadamente nas comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Coroa Vermelha, Al<strong>de</strong>ia Juerana e<br />

Reserva da Jaqueira. Tal comunicação propõe realizar uma discussão sobre a atuação<br />

feminina num espaço que ainda é tido como masculino na socieda<strong>de</strong> brasileira e nas próprias<br />

comunida<strong>de</strong>s indígenas, levando uma reflexão sobre o papel do gênero como instrumento <strong>de</strong><br />

discussões voltadas para compreensão das especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssas mulheres indígenas. Além<br />

dos levantamentos bibliográficos que se divi<strong>de</strong>m entre historiadores e antropólogos como<br />

Manuela Carneiro da Cunha, Jonh Monteiro, Francisco Cancela, Maria Hilda Paraíso, entre<br />

outros teóricos, utilizaremos as cartas, escritas pelo movimento <strong>de</strong> mulheres indígenas, nelas<br />

po<strong>de</strong>mos analisar como essas mulheres se articulam e como as mesmas reivindicam seus<br />

direitos diante a constituição. As entrevistas, que também enriquecem esse projeto, mostrando<br />

na íntegra a força e a voz <strong>de</strong>ssas guerreiras que buscam reconhecimento <strong>de</strong> gênero no conceito<br />

<strong>de</strong> igualda<strong>de</strong>, respeito e enfretamento diante as políticas públicas. Vale se <strong>de</strong>stacar que essa<br />

pesquisa ainda está em construção.<br />

Palavras-chave: Mulheres Indígenas, Gênero, Políticas Públicas, Al<strong>de</strong>ia Pataxó.


53<br />

UM OLHAR SOBRE O DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO DAS (OS)<br />

AGENTES COMUNITÁRIAS (OS) DE SAÚDE NA USF DA URBIS À LUZ DA<br />

POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DA MULHER<br />

(PNAISM)<br />

Ada Fernanda Batista Correia Tigre<br />

Graduanda do Curso Licenciatura em <strong>História</strong><br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – Campus X<br />

. Email: ada-fernanda@hotmail.com<br />

Ediane Lopes <strong>de</strong> Santana<br />

Mestre em <strong>História</strong> Social do Brasil<br />

Email: edianezeferina@gmail.com<br />

Esta pesquisa, oriunda do Grupo <strong>de</strong> pesquisa Ecos no Silêncio da <strong>História</strong>: participação das<br />

mulheres na organização do município <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas, Bahia, UNEB, CAMPUS X,<br />

objetiva enten<strong>de</strong>r como as (os) agentes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> têm <strong>de</strong>senvolvido seu trabalho na Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong> da Família do bairro Urbis, em Teixeira <strong>de</strong> Freitas-Ba, entre 2004 e 2015 a partir da<br />

perspectiva <strong>de</strong> Gênero inserida na Política Nacional <strong>de</strong> Atenção Integral à Saú<strong>de</strong> da Mulher<br />

(PNAISM). Através <strong>de</strong> pesquisa qualitativa sob o viés da <strong>História</strong> Oral, analisamos dados que<br />

serão <strong>de</strong>batidos qualitativamente junto ao referencial teórico. Para tanto, analisaremos<br />

entrevistas realizadas com as (os) agentes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família (USF) da<br />

Urbis buscando compreen<strong>de</strong>r a maneira como a perspectiva <strong>de</strong> Gênero perpassa (ou não) o<br />

trabalho junto à comunida<strong>de</strong>. Compreen<strong>de</strong>ndo a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> por em pauta discussões<br />

recentes da historiografia envolvendo conflitos das relações <strong>de</strong> gênero, <strong>de</strong>stacamos <strong>de</strong>ntre<br />

estas discussões os estudos a respeito da invisibilida<strong>de</strong> das mulheres e dos silenciamentos na<br />

<strong>História</strong>, especialmente a partir <strong>de</strong> PERROT (2007) e SCOTT (2012), além da noção <strong>de</strong><br />

Integralida<strong>de</strong> exigida pelo Sistema Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SUS) alicerçada na perspectiva das<br />

relações <strong>de</strong> Gênero discutida por REZENDE (2011) entre outros. Espera-se, a partir <strong>de</strong>sta<br />

pesquisa, contribuir para o registro histórico referente ao <strong>de</strong>senvolvimento do trabalho das<br />

(os) agentes comunitárias (os) <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do bairro Urbis na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas-Ba,<br />

através da análise do olhar específico das (os) próprias (os) agentes sobre si e sobre sua<br />

atuação na USF e comunida<strong>de</strong>. Objetivamos também observar alguns caminhos percorridos<br />

para a formação profissional a partir <strong>de</strong>ssa política pública <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e acumular entrevistas no<br />

intuito <strong>de</strong> construir um acervo <strong>de</strong> fontes orais, que <strong>de</strong>verão compor o que chamamos <strong>de</strong><br />

Museu da Palavra. Os Museus da Palavra po<strong>de</strong>m ser organizados em blogs ou sites gratuitos,<br />

on<strong>de</strong> preten<strong>de</strong>mos disponibilizar, em breve, os áudios e as transcrições <strong>de</strong> forma a contribuir<br />

para outros trabalhos acadêmicos.<br />

Palavras- chave: Política Nacional <strong>de</strong> Atenção Integral à Saú<strong>de</strong> da Mulher, Agentes<br />

Comunitários <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, Relações <strong>de</strong> Gênero.


54<br />

CORPOS SUBJUGADOS: UMA HISTÓRIA DAS MULHERES NO FILME<br />

DESMUNDO<br />

Pablo Viana Cruz<br />

Discente do Curso <strong>de</strong> <strong>História</strong> UNEB/Campus X<br />

Email: pabloviana_13@hotmail.com<br />

Priscila Santos da Glória<br />

Mestre em <strong>História</strong> Regional e Local<br />

Professora Assistente UNEB/Campus X<br />

Email: priumani@yahoo.com.br<br />

A trajetória das mulheres no Brasil vem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o período colonial, apesar <strong>de</strong> por muito ter sido<br />

silenciada pela historiografia. No século XX a história das mulheres começa abordar temas<br />

como o matrimônio, maternida<strong>de</strong>, submissão e todo um processo histórico da sexualida<strong>de</strong><br />

feminina em uma socieda<strong>de</strong> colonial patriarcal. O objetivo <strong>de</strong>ste estudo é através <strong>de</strong> uma<br />

análise fílmica da obra “Desmundo” (2003) narrar características das condições <strong>de</strong> vida da<br />

mulher no Brasil colonial e sua posição na socieda<strong>de</strong>. Na obra temos como personagem<br />

principal a Oribela uma órfã portuguesa enviada <strong>de</strong> Portugal a colônia no período do século<br />

XVI para se casar e constituir família com um colono <strong>de</strong> posses. No enredo também<br />

encontramos outras personagens que <strong>de</strong>notam os conflitos que as mulheres coloniais<br />

enfrentaram em um ambiente inóspito e violento. A partir <strong>de</strong>stas trajetórias femininas<br />

abordadas no filme e as obras <strong>de</strong> Michele Perrot (2008) e Emanuel Araújo (2007) preten<strong>de</strong>-se<br />

explorar os diferentes aspectos da visão sobre a mulher no <strong>de</strong>correr dos séculos e como se<br />

legitimou toda uma cultura que inferioriza, fragiliza e a subjuga nessa hierarquia dos sexos<br />

como alguém que <strong>de</strong>vesse sempre estar no campo da proteção e do recolhimento.<br />

Características <strong>de</strong> um processo histórico que sempre buscou intimidar, taxar e julgar a figura<br />

feminina na socieda<strong>de</strong>. Sondando cenas da obra fílmica com o apoio das obras<br />

historiográficas utilizadas no estudo, constatamos uma forte herança machista em nossa<br />

história, notamos os papéis das mulheres, como eram tratadas nas diferentes ida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> como<br />

eram inibidas na intimida<strong>de</strong> e na sexualida<strong>de</strong>, a sua importância no lar, sua autonomia política<br />

e como eram comparadas aos homens em seu nascimento e morte. Com base no estudo<br />

constata-se uma forte herança machista, <strong>de</strong>sigual e homogênea na nossa socieda<strong>de</strong> e formação<br />

colonial, história essa que nos reflete aos dias <strong>de</strong> hoje <strong>de</strong>notando violência, distinção <strong>de</strong><br />

trabalhos, abusos, representações e o simbolismo da mulher.<br />

Palavras-Chave: Mulheres, Desmundo, <strong>História</strong>.


55<br />

TRABALHADORAS RURAIS: MEMÓRIAS, TRAJETÓRIAS E GÊNERO NA<br />

LAVOURA DE CAFÉ EM ITAMARAJU-BA (1975-1995)<br />

Gabriele Balieiro Oliveira<br />

UNEB - Campus X, Licencianda em <strong>História</strong><br />

Email: gabibalieiro@hotmail.com<br />

Ediane Lopes <strong>de</strong> Santana<br />

Professora da UNEB - Campus X<br />

Mestre em <strong>História</strong> Social do Brasil<br />

Email: edianezeferina@gmail.com<br />

A presente pesquisa busca enten<strong>de</strong>r o processo <strong>de</strong> inserção das mulheres na lavoura do café e<br />

as relações <strong>de</strong> gênero na dinâmica do trabalho rural em Itamaraju – BA (1975-1995).<br />

Utilizamos fontes documentais, mas as principais fontes são orais, as entrevistas concedidas<br />

pelas trabalhadoras rurais. O percurso teórico metodológico <strong>de</strong>lineia-se principalmente<br />

através dos estudos <strong>de</strong> Thompson (1992), Lozano (2006), Scott (1989), Silva (1981), Silva<br />

(2006), Melo e Novais (1998), Hirata (2002), Ávila (2002), Costa e Soares (2002). Os<br />

resultados das análises cruzados ao referencial teórico apontam que as trabalhadoras rurais<br />

migraram do campo para a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vido ao processo <strong>de</strong> industrialização do campo,<br />

concentração fundiária e a reestruturação produtiva, bem como as promessas <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong><br />

que a cida<strong>de</strong> oferecia, como saú<strong>de</strong>, educação e melhores condições <strong>de</strong> trabalho. Mas,<br />

encontram na cida<strong>de</strong> baixos índices <strong>de</strong> ofertas <strong>de</strong> empregos para os trabalhadores e as<br />

trabalhadoras que não tinham formação escolar ou profissional, e as poucas vagas ofertadas<br />

pela indústria eram ocupadas por homens. As trabalhadoras rurais acabam por voltar ao<br />

trabalho no campo, mas agora como boias-frias, residindo na cida<strong>de</strong> e trabalhando no campo.<br />

A trajetória <strong>de</strong>ssas mulheres evi<strong>de</strong>ncia a transformação <strong>de</strong> colonas e pertencentes da<br />

agricultura familiar, para trabalhadoras individualizadas on<strong>de</strong> o vínculo com a terra é<br />

sobreposto aos quantitativos da produção. Enquanto mulheres, eram invisibilizadas pela<br />

figura do homem, seja irmão, pai, marido ou filho, seu trabalho sempre era visto<br />

predominantemente como complementar/auxiliar, como boias-frias, na “labuta” da lavoura.<br />

As mulheres exercem as mesmas ativida<strong>de</strong>s braçais e pesadas que os homens, recebem<br />

referente ao que produzem/colhem, estão em situação <strong>de</strong>sigual por serem ou po<strong>de</strong>rem ser<br />

mães, filhas ou esposas, já que, são as principais responsáveis pelo trabalho produtivo em<br />

suas famílias. O que para os patrões é visto com <strong>de</strong>sagrado, porque, são elas que levam os<br />

filhos para o trabalho e “atrapalham a produção” com o resguardo. Estes elementos mostram a<br />

<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> gênero tanto na agricultura familiar quanto no agronegócio. O patriarcado<br />

está enraizado nas práticas e na subjetivida<strong>de</strong> do dia-a-dia no trabalho e no convívio socialfamiliar.<br />

Os homens ocupam um lugar <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> comando e <strong>de</strong> chefia que não é absoluto<br />

nem homogêneo, já que as mulheres exercem várias formas <strong>de</strong> resistência.<br />

Palavras-chave: <strong>História</strong> das Mulheres, Trabalhadoras Rurais, <strong>História</strong> Oral, Itamaraju -<br />

Bahia.


POR UMA HISTÓRIA DAS EXCLUÍDAS: MULHERES E PROSTITUIÇÃO NA RUA<br />

MAUÁ EM TEIXEIRA DE FREITAS<br />

56<br />

Mirla Kleille Oliveira Correia<br />

UNEB - Campus X, Licencianda em <strong>História</strong><br />

Email: mirla_oliver@hotmail.com<br />

Ediane Lopes <strong>de</strong> Santana<br />

Professora da UNEB - Campus X<br />

Mestre em <strong>História</strong> Social do Brasil<br />

Email: edianezeferina@gmail.com<br />

Este estudo teve seu início no Grupo <strong>de</strong> pesquisa ECOS NO SILÊNCIO DA HISTÓRIA:<br />

Participação das mulheres na organização do município <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas, Bahia, UNEB,<br />

CAMPUS X, que está sob a coor<strong>de</strong>nação da Profª Msª Ediane Lopes <strong>de</strong> Santana. Tem como<br />

objetivo analisar a histórias <strong>de</strong> mulheres em prostituição, consi<strong>de</strong>rando como se <strong>de</strong>u o<br />

processo histórico através da categoria das relações <strong>de</strong> gênero. Buscamos compreen<strong>de</strong>r as<br />

histórias envolvendo as mulheres e os homens que trabalham/trabalharam e/ou<br />

frequentam/frequentaram a Rua Mauá na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas-Ba. O processo <strong>de</strong><br />

organização da pesquisa se baseia na busca por documentos que nos aju<strong>de</strong> a compreen<strong>de</strong>r,<br />

através da perspectiva histórica, as histórias das mulheres na prostituição e as relações <strong>de</strong><br />

gênero construídas em torno <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong>. Enten<strong>de</strong>ndo a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> perceber as<br />

mulheres que estão/estiveram na prostituição, <strong>de</strong> seu papel enquanto sujeitas da história da<br />

socieda<strong>de</strong> teixeirense, <strong>de</strong>vemos nos apropriar <strong>de</strong> entrevistas com as mesmas. Nesse sentido, o<br />

recorte temporal da pesquisa inicia a partir da década <strong>de</strong> 1960, on<strong>de</strong> já foram apontados em<br />

algumas falas a intensa movimentação e crescimento populacional pela incidência <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ireiras interessadas na extração da ma<strong>de</strong>ira da região, on<strong>de</strong> a prostituição na Rua Mauá<br />

começa a aparecer, atraindo mulheres trabalhadoras da região e outros estados.<br />

Posteriormente, a construção <strong>de</strong> estradas, especialmente da BR-101 também trouxeram muitas<br />

pessoas. O marco temporal final ainda esta por ser <strong>de</strong>finido, pois a pesquisa está em curso.<br />

Em <strong>de</strong>trimento da complexida<strong>de</strong> das questões postas quando discutimos relações <strong>de</strong> gênero na<br />

<strong>História</strong>, fica nítido a partir <strong>de</strong> reflexões como a da prostituição, que imprescindíveis o<br />

entendimento <strong>de</strong> conceitos como <strong>de</strong> gênero, corpo e sexualida<strong>de</strong>. Além disso, é significante a<br />

apropriação dos <strong>de</strong>bates acerca da ausência da mulheres enquanto sujeitas na <strong>História</strong>,<br />

apontadas por autoras como SCOTT (1989), PERROT (2003), DEL PRIORE (2011).<br />

Preten<strong>de</strong>mos, a partir <strong>de</strong>ssa pesquisa, evi<strong>de</strong>nciar especialmente as perspectivas <strong>de</strong> mulheres<br />

que tem suas histórias comumente ocultadas, bem como a partir dos olhares das pessoas que<br />

participaram, contribuíram e se relacionaram com o cotidiano da Rua Mauá.<br />

Palavras-chave: Teixeira <strong>de</strong> Freitas/Ba, Mulheres, Relações <strong>de</strong> gênero, Prostituição.


TRADIÇÃO RESISTENTE CATÓLICA: (RE) PENSANDO O CONCÍLIO<br />

VATICANO <strong>II</strong><br />

57<br />

Helena Aparecida <strong>de</strong> Souza Vieira<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia<br />

Graduanda do curso em licenciatura plena em <strong>História</strong><br />

Email: helena018@gmail.com<br />

Ediane Lopes <strong>de</strong> Santana<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia<br />

Docente do curso <strong>de</strong> licenciatura plena em <strong>História</strong><br />

Email: edianezeferina@gmail.com<br />

Este trabalho é parte da pesquisa <strong>de</strong> TCC “Tradição Resistente Católica: Cotidiano e relações<br />

<strong>de</strong> gênero na juventu<strong>de</strong> do Apostolado Nossa Senhora do Rosário <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas<br />

(2011-2012).” É oriundo do grupo <strong>de</strong> pesquisa ECOS NO SILÊNCIO DA HISTÓRIA:<br />

Participação das mulheres na organização do município <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas, Bahia, da<br />

UNEB, sob a coor<strong>de</strong>nação da Profª Msª Ediane Lopes <strong>de</strong> Santana. Tem como objetivo<br />

compreen<strong>de</strong>r como a juventu<strong>de</strong> da Tradição Resistente Católica <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas<br />

vivencia as relações <strong>de</strong> gênero no seu cotidiano, buscando compreen<strong>de</strong>r os fatores que<br />

contribuíram para que estes jovens do Apostolado Nossa Senhora do Rosário opinassem em<br />

prol da formação tradicional, favorecendo a permanência <strong>de</strong> tradições milenares Católicas que<br />

foram reavaliadas no Concílio Ecumênico Vaticano <strong>II</strong> (CEV<strong>II</strong>). Compreen<strong>de</strong>r também em que<br />

processo se <strong>de</strong>u a criação do grupo Tradicionalista em Teixeira <strong>de</strong> Freitas, questionando como<br />

no ano <strong>de</strong> 2011-2012, a cida<strong>de</strong> se encontrava para suscitar aos jovens <strong>de</strong>sta comunida<strong>de</strong><br />

firmar posicionamentos tradicionalistas. A análise contextual <strong>de</strong>ste trabalho partirá da<br />

abertura do CEV<strong>II</strong> em 1962, na tentativa <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>rmos se essas alterações na<br />

instituição Católica influenciaram nos rumos dos grupos tradicionais Católicos. A partir <strong>de</strong>ssa<br />

análise, partimos da hipótese que a criação do grupo Tradição Resistente <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong><br />

Freitas é fruto <strong>de</strong>ssas mudanças realizadas no CEV<strong>II</strong>. Nosso referencial teórico é: Costa<br />

(2013), que traça uma perspectiva ecumênica do Concílio Vaticano <strong>II</strong>; Libânio (2005), que<br />

nos possibilitou ter noção da contextualização sociocultural em que o Concílio Vaticano <strong>II</strong> foi<br />

<strong>de</strong>senvolvido; Melo (2013), que possibilitou uma análise sobre a sistematização do Concílio,<br />

conceituando-o. Para melhor conhecer Teixeira <strong>de</strong> Freitas usaremos as monografias <strong>de</strong><br />

Fabiano; Silva (2011), Guerra; Silva (2010), Santos; Maia (2010) e Oliveira (2012). Além <strong>de</strong><br />

bibliografia pertinente, faremos uso <strong>de</strong> documentos diversos e entrevistas.<br />

Palavras-chave: Tradição Resistente Católica; Concílio Vaticano <strong>II</strong>; Igreja Católica;<br />

Cotidiano.


58<br />

SOBRE “PERDAS CULTURAIS” EM SEXUALIDADES INDÍGENAS<br />

Paulo <strong>de</strong> Tássio Borges da Silva<br />

Doutorando em Educação/Proped-UERJ<br />

E-mail: paulo<strong>de</strong>tassiosilva@yahoo.com.br<br />

Em quase uma década <strong>de</strong> pesquisas com povos indígenas brasileiros, em particular, povos<br />

indígenas da região nor<strong>de</strong>ste, as expressões <strong>de</strong> gênero e sexualida<strong>de</strong>s tem me feito refletir<br />

acerca <strong>de</strong> seus lugares e não lugares, bem como suas fronteiras e cruzamentos no que veio<br />

sendo <strong>de</strong>lineado e normalizado como i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> indígena. Neste sentido, apontei, numa<br />

discussão anterior, uma vinculação das práticas <strong>de</strong> sexualida<strong>de</strong>s não heterossexuais às perdas<br />

culturais e à “mistura i<strong>de</strong>ntitária”. Nesta perspectiva, é negociado um bloco <strong>de</strong> indianida<strong>de</strong><br />

homogêneo, numa lógica <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação em que o Estado brasileiro <strong>de</strong>fine o que vem a ser<br />

índio mais ou menos “puro”, obe<strong>de</strong>cendo uma regra <strong>de</strong> inteligibilida<strong>de</strong> baseada num fetiche<br />

i<strong>de</strong>ntitário calcificado, sendo essa <strong>de</strong>finição requisito <strong>de</strong> acesso às políticas públicas e<br />

programas indigenistas pelas etnias. Na busca por uma categoria que não fosse colonizadora<br />

das sexualida<strong>de</strong>s indígenas, e enten<strong>de</strong>ndo que o termo “homossexualida<strong>de</strong> indígena” levaria a<br />

uma concepção binária com a “heterossexualida<strong>de</strong> indígena”, optei, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma<br />

perspectiva <strong>de</strong>rridiana (DERRIDA, 1997, 1994), tratar como rasura a questão, usando o termo<br />

“sexualida<strong>de</strong>s indígenas in<strong>de</strong>cidíveis”, percebendo estas como “condições <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s”,<br />

lugares do “não-conceito”. Vale dizer que, muitos são os relatos e as pesquisas que trazem<br />

experiências <strong>de</strong> “sexualida<strong>de</strong>s indígenas in<strong>de</strong>cidíveis” no Brasil (MOTT, 1998; TORRES,<br />

2011; TREVISAN, 1986; CANCELA, SILVEIRA & MACHADO, 2010; SILVA, 2012). No<br />

entanto, vivências sexuais indígenas que fogem à representação da heterossexualida<strong>de</strong> são<br />

tratadas como características <strong>de</strong> povos com “perdas culturais”. Neste sentido, ainda há uma<br />

vinculação espectral <strong>de</strong> perdas culturais em torno das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s indígenas ao evolucionismo<br />

cultural, o que faz Oliveira (1998) nos convidar a pensar numa etnologia que vá além das<br />

perdas e ausências culturais: uma etnologia dos índios misturados. Desta forma, acredita-se<br />

que para se avançar no estudo das “sexualida<strong>de</strong>s indígenas in<strong>de</strong>cidíveis”, o diálogo <strong>de</strong>verá<br />

perpassar as fronteiras e os cruzamentos em que os povos indígenas se encontram e <strong>de</strong>sejam<br />

estar, o que se vincula à intenção <strong>de</strong>sta proposta.<br />

Palavras-chave: Povos Indígenas; Espectro; Sexualida<strong>de</strong>s Indígenas.


59<br />

SIMPOSIO 06<br />

CAMINHOS PARA A PESQUISA HISTÓRICA: AS INSTITUIÇÕES<br />

ARQUIVÍSTICAS E AS FONTES DOCUMENTAIS E PATRIMONIAIS<br />

Proponentes: Gislaine Romana <strong>de</strong> Carvalho (UNEB) e Uerisleda Alencar Moreira (UNEB)<br />

Ementa: O presente simpósio temático tem por finalida<strong>de</strong> propiciar um espaço para o <strong>de</strong>bate<br />

acerca das fontes documentais e patrimoniais amplamente utilizadas para a pesquisa histórica.<br />

Nesta, serão privilegiados os trabalhos <strong>de</strong> cunho acadêmico que abor<strong>de</strong>m o campo<br />

metodológico para a construção do conhecimento histórico a partir <strong>de</strong> documentos e<br />

monumentos. Também serão priorizados os relatos <strong>de</strong> experiência no trato documental, seja<br />

em acervos públicos e/ou privados. Assim, preten<strong>de</strong>-se discutir diferentes perspectivas acerca<br />

do uso documental e patrimonial para a produção do conhecimento, seja em relatos <strong>de</strong><br />

experiência em estágio ou mesmo o resultado <strong>de</strong> pesquisa científica.


A FESTA DE PESCADORES EM CONCEIÇÃO DA BARRA – ES E MUCURI – BA<br />

(1970-2015)<br />

60<br />

Josiane Anacleto da Silva<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – DEDC – Campus X<br />

Graduanda do curso <strong>de</strong> Licenciatura em <strong>História</strong><br />

Email: bianacleto20@gmail.com<br />

Stefane Souza Santos<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – DEDC – Campus X<br />

Graduanda do curso <strong>de</strong> Licenciatura em <strong>História</strong><br />

E-mail: tete_1294@hotmail.com<br />

Priscila Santos da Glória<br />

Docente da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – DEDC – Campus X<br />

Mestre em <strong>História</strong> Regional e Local pela UNEB<br />

E-mail: priumani@yahoo.com.br<br />

O presente trabalho busca abordar a manifestação cultural da festa dos pescadores, nas duas<br />

cida<strong>de</strong>s litorâneas, Conceição da Barra- ES e Mucuri-Ba, partindo do ano <strong>de</strong> 1970 até 2015,<br />

tendo como objetivo mostrar as permanências e rupturas da festa, fazendo um comparativo<br />

entre as duas regiões citadas acima. A festa dos pescadores é realizada no dia 29 <strong>de</strong> junho,<br />

conhecida também como a festa <strong>de</strong> São Pedro, o padroeiro dos pescadores. No período do dia<br />

25 até o dia 29 <strong>de</strong> junho, as Igrejas e as praças são preparadas para a celebração e o ritual do<br />

Santo Padroeiro dos Pescadores. Durante a realização, as pessoas se divertem com<br />

brinca<strong>de</strong>iras e gincanas seguidas <strong>de</strong> premiação. A tradição Cultural da Festa sofreu<br />

modificações ao longo do tempo. O passado, a memória e o presente <strong>de</strong>ssa gente <strong>de</strong>ixa vivo<br />

na história sua tradição carregada <strong>de</strong> significados. A partir <strong>de</strong> pesquisa com fontes orais, por<br />

meio <strong>de</strong> entrevistas, analisou-se as narrativas dos pescadores sobre as suas memórias do<br />

festejo, isso será possível através da metodologia da história oral. Também serão realizadas<br />

pesquisas escritas com arquivos documentais encontrados nas Colônias <strong>de</strong> Pescadores e das<br />

prefeituras dos municípios em questão. Como embasamento teórico, utilizaremos Geraldo<br />

Silva (2001), Brandão (2011), Michael Pollak (1992), Amado (1995) e Portelli (2001; 1997).<br />

Esta proposta <strong>de</strong> trabalho ainda encontra-se em construção, visto que, faz parte <strong>de</strong> um projeto<br />

<strong>de</strong> pesquisa em andamento. A festa representa uma tradição cultural que há muito tempo vem<br />

fazendo parte da vida social, religiosa e econômica dos moradores.<br />

Palavras-Chave: Festa, tradição, memória, permanências e rupturas.


FESTA DE SÃO JOÃO NO INTERIOR DO EXTREMO SUL BAIANO: VALORES<br />

CULTURAIS X VALORES ECONÔMICOS<br />

61<br />

Franciele Santos Soares<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – DEDC – Campus X<br />

Graduanda do curso <strong>de</strong> Licenciatura em <strong>História</strong><br />

E-mail: franciele_pessoa@hotmail.com<br />

Marluce dos Santos<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – DEDC – Campus X<br />

Graduanda do curso <strong>de</strong> Licenciatura em <strong>História</strong><br />

E-mail:luli-perigo@hotmail<br />

Gislaine Romana Carvalho da Silva<br />

Docente da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – DEDC – Campus X<br />

Doutoranda em Ciência da Educação<br />

E-mail: gislainercs@gmail.com<br />

Priscila Santos da Glória<br />

Docente da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – DEDC – Campus X<br />

Mestre em <strong>História</strong> Regional e Local pela UNEB<br />

E-mail: priumani@yahoo.com.br<br />

Este trabalho é resultado <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong> pesquisa que tem como objetivo compreen<strong>de</strong>r o<br />

processo <strong>de</strong> apropriação econômica do festejo do São João no interior do extremo sul baiano.<br />

Observar a leitura que o homem contemporâneo faz aliado a teóricos à respeito da temática<br />

proposta no projeto, tornou-se importante para a compreensão da percepção que se tem do<br />

tema pela própria comunida<strong>de</strong>, para tal, utilizou-se um relatório do Governo do Estado da<br />

Bahia (2013) sobre os aspectos econômicos da festa <strong>de</strong> São João em algumas cida<strong>de</strong>s do<br />

interior baiano e autores como: Peter Berger e Thomas Luckmann (1985); Norberto Luiz<br />

Guarinelo (2001); Cássia Lobão Assis e Cristiane Maria Nepomuceno (2008); Lúcia Helena<br />

Vitalli Rangel (2008); Rita Amaral (1998) e Jânio Roque Barros Castro (2009). Os autores<br />

vieram contribuir para a compreensão a partir do entendimento que a vida cotidiana nos<br />

remete a realida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> as festas são a reprodução do nosso cotidiano, sendo está um<br />

conjunto <strong>de</strong> conhecimentos e práticas vivenciadas pelo povo e para o povo, ou seja, cultura<br />

popular. Sendo as festas juninas comemoradas no país inteiro, em que suas tradições culturais<br />

permanecem, percebe-se as rupturas no sentido <strong>de</strong> que as pessoas não conhecem a origem do<br />

festejo, assim como o caráter religioso e social da festa que se modificaram no <strong>de</strong>correr do<br />

tempo. Porém, sabe-se que mesmo com o multiculturalismo e uma apropriação mercantil do<br />

festejo, não impediu que as características primeiras se per<strong>de</strong>ssem; apenas que se<br />

modificassem. Desse modo, utilizou-se como base metodológica a revisão bibliográfica e a<br />

utilização <strong>de</strong> pesquisa oral. O comprometimento com as estratégias metodológicas permitiram<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento reflexivo dos pontos-chave para a compreensão da temática bem como a<br />

percepção da comunida<strong>de</strong> sobre a temática.<br />

Palavras-chave: Festa, Cultura Popular, São João, Cotidiano.


62<br />

CABOCLO NO TERREIRO, NO VALE E NA LÍNGUA: REPRESENTAÇÕES<br />

SEMIÓTICAS E RELIGIOSAS DO ÍNDIO<br />

Bougleux Bomjardim da Silva Carmo<br />

Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Santa Cruz<br />

Mestre em Letras / Profletras<br />

E-mail: bug7raio@gmail.com<br />

No terreno do simbólico a relação entre a constituição semiótica <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados atores<br />

sociais se <strong>de</strong>smembram <strong>de</strong> sua condição primeira e passa a fazer parte <strong>de</strong> novos universos<br />

simbólicos e sociais. Nesse contexto, a figura do caboclo, mais do que um elemento social em<br />

permanente luta por representativida<strong>de</strong> político-cultural, constitui-se numa representação que<br />

salta do nível profano e alcança um status religioso no âmbito das configurações míticas em<br />

<strong>de</strong>terminados segmentos sincrético-religiosos. Diante <strong>de</strong>sse quadro, o presente trabalho tem<br />

por objetivo refletir sobre a formação religiosa da figura do caboclo no seio <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas<br />

crenças. Em meio a essa reflexão, pontua-se a presença da linguagem como um item <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntização e representação cabocla. Para tanto, analisa-se a presença <strong>de</strong>ssa figura no âmbito<br />

das linhas da Umbanda, do Candomblé e do Vale do Amanhecer, espaços on<strong>de</strong> o caboclo<br />

exerce papel proeminente. Nossa discussão apoia-se nos estudos culturais (HALL, 2013), na<br />

compreensão da figura cabocla (RIBEIRO, 1983; SILVA; MAUÊS, 2005; CASALI, 2014),<br />

partindo do conceito antropológico <strong>de</strong> cultura (ARANTES, 1990; LARAIA, 2014;<br />

CHARTIER, 1995). Tendo em conta o diálogo entre estudos disciplinares concernentes à<br />

<strong>História</strong>, Linguagem e Cultura, realiza-se uma análise qualitativa das representações ao passo<br />

que as inflexões teóricas se convergem para uma compreensão semiótica <strong>de</strong>ssas<br />

representações. Dessa forma, adota-se uma metodologia bibliográfico-analítica. Uma leitura<br />

interdisciplinar e atenta das questões aqui postas <strong>de</strong>monstra que, no contexto atual, a figura<br />

cabocla encontra-se num paradoxo, qual seja a <strong>de</strong>slegitimação social e o status religioso em<br />

<strong>de</strong>terminadas linhas <strong>de</strong> crenças. Igualmente, na sua constituição semiótica <strong>de</strong> caboclo, a<br />

língua é marca <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e do primitivismo que passa a ter cunho místico no espaço<br />

religioso. Finalmente, concebe-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhor entendimento <strong>de</strong>ssas figuras nos<br />

vários espaços sociais, <strong>de</strong> forma central, no âmbito pedagógico, tendo em consi<strong>de</strong>ração a<br />

educação das relações étnico-raciais, <strong>de</strong> forma a legitimar social, política, cultural e<br />

religiosamente o caboclo.<br />

Palavras-chave: Representações simbólicas, Caboclo, Linguagem, Semiótica, Religiosida<strong>de</strong>.


63<br />

OS REGISTROS ECLESIAIS PARA O ESTUDO DO BATISMO DE CRIANÇAS<br />

INDÍGENAS EM PORTO SEGURO (1837-1845)<br />

Uerisleda Alencar Moreira<br />

Docente da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia - DEDC – Campus X<br />

Mestre em <strong>História</strong> Regional e Local<br />

E-mail: uerisleda@yahoo.com.br<br />

O presente estudo surgiu <strong>de</strong> uma inquietação frente ao silenciamento da história da criança e<br />

da infância no extremo sul da Bahia. Deste modo, com um olhar voltado para as crianças, a<br />

presente proposta procura estudar a história da criança sul baiana a partir dos registros<br />

contidos nos livros <strong>de</strong> batismo da Igreja Matriz Nossa Senhora da Penna da Vila <strong>de</strong> Porto<br />

Seguro, no período <strong>de</strong> 1837 a 1845. Para tal, o trabalho se apóia na análise documental em um<br />

mo<strong>de</strong>lo quali-quantitativo, que possibilitou através da construção <strong>de</strong> uma base <strong>de</strong> dados,<br />

atribuir valores e significados às características levantadas e quantificadas. Nos registros<br />

eclesiais termos como inocente, legítimos e naturais foram utilizados para se referir às<br />

crianças batizadas, estes termos foram analisados juntamente com o contexto <strong>de</strong> produção dos<br />

registros eclesiásticos <strong>de</strong> modo a possibilitar a compreensão do sujeito infante para a Igreja<br />

Católica e, consequentemente, para a socieda<strong>de</strong> em foco. Evi<strong>de</strong>nciar questões relacionadas às<br />

práticas voltadas à infância que sobreviveram no tempo e no espaço po<strong>de</strong>m contribuir para a<br />

construção da <strong>História</strong> da infância. O estudo busca compreen<strong>de</strong>r o papel assumido pelo rito <strong>de</strong><br />

batismo junto a população porto-segurense em meados do século XIX <strong>de</strong> modo a tentar<br />

analisar as múltiplas facetas assumidas pelo ritual em foco. Os assentos <strong>de</strong> batismo<br />

permitiram entrever a presença da criança indígena no rito católico. Consi<strong>de</strong>ra-se que os<br />

assentos permitem entrever a participação indígena nos rituais católicos bem como apreen<strong>de</strong>r<br />

o conceito <strong>de</strong> criança forjado num território em que sujeitos <strong>de</strong> várias origens étnicas<br />

(brancos, negros, índios e mestiços) criaram as relações as mais diversas sob o<br />

condicionamento da colonização portuguesa.<br />

Palavras-Chaves: Registros eclesiais, Crianças, índios, Porto Seguro.


64<br />

CEMITÉRIOS, SEPULTAMENTOS E URBANIZAÇÃO EM TEIXEIRA DE<br />

FREITAS (1980-2015)<br />

Maria D´Ajuda Rodrigues<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – DEDC – Campus X<br />

Graduanda do curso <strong>de</strong> Licenciatura em <strong>História</strong><br />

E-mail: dajudam6@gmail.com<br />

Priscila Santos da Glória<br />

Docente da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – DEDC – Campus X<br />

Mestre em <strong>História</strong> Regional e Local pela UNEB<br />

E-mail: priumani@yahoo.com.br<br />

A presente pesquisa tem a intenção <strong>de</strong> abordar os sepultamentos e cemitérios em Teixeira <strong>de</strong><br />

Freitas- Ba na década <strong>de</strong> 1980 até 2015, tendo como objetivo compreen<strong>de</strong>r a relação entre os<br />

locais <strong>de</strong> sepultamento, o crescimento e a urbanização da cida<strong>de</strong>. O crescimento da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Teixeira <strong>de</strong> Freitas está ligado a sua emancipação e urbanização, esse processo influenciou o<br />

comércio funerário, pois a elite buscou formas privadas <strong>de</strong> sepultamento, enquanto a<br />

população reivindicou ao po<strong>de</strong>r municipal a construção <strong>de</strong> cemitérios públicos. O comércio<br />

funerário dividiu as classes populares e uma elite que dispôs <strong>de</strong> sepultamentos diferenciados,<br />

assim buscamos enten<strong>de</strong>r como os símbolos que são característicos <strong>de</strong> cada classe social são<br />

representados após a morte. Para a análise utiliza-se a pesquisa <strong>de</strong> campo, on<strong>de</strong> se realizou<br />

entrevistas através da metodologia da história oral, buscou-se analisar as narrativas dos<br />

entrevistados para compreen<strong>de</strong>r a relação dos cemitérios em Teixeira com sua urbanização,<br />

mas também como as memórias reportam a símbolos funerários. Em paralelo, utilizam-se as<br />

seguintes referências: Marc Bloch (2002), João José Reis (1991) e André RIBEIRO (2008). A<br />

presente proposta é ainda um projeto <strong>de</strong> pesquisa em <strong>de</strong>senvolvimento, mas que já possuí<br />

alguns resultados, como a percepção da urbanização <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas <strong>de</strong> forma<br />

precipitada e seu crescimento <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado, esses dois elementos fizeram com que houvesse<br />

um aumento populacional e um crescimento nos números <strong>de</strong> mortos. Então, o po<strong>de</strong>r público<br />

buscou formas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nar e higienizar a cida<strong>de</strong> percebendo a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar um lugar<br />

oficial para sepultar seus mortos, influenciando na construção do primeiro cemitério em<br />

Teixeira <strong>de</strong> Freitas. Constata-se também que os cemitérios carregam valores que estão<br />

diretamente ligados à representação <strong>de</strong> estigmas econômicos e sociais.<br />

Palavras-Chave: Cemitérios, símbolos, urbanização.


RELAÇÕES MATRIMONIAIS NA IGREJA DE SÃO BERNARDO DE ALCOBAÇA,<br />

BAHIA, EM MEADOS DO SÉCULO XIX<br />

65<br />

Laís Assunção Moreira<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – DEDC – Campus X<br />

Graduanda do curso <strong>de</strong> Licenciatura em <strong>História</strong><br />

E-mail: laismoreira8@hotmail.com<br />

Uerisleda Alencar Moreira<br />

Docente da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia - DEDC – Campus X<br />

Mestre em <strong>História</strong> Regional e Local<br />

E-mail: uerisleda@yahoo.com.br<br />

A pesquisa investigará as relações matrimoniais em meados do século XIX, com objetivo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>linear as escolhas matrimoniais realizadas entre sujeitos <strong>de</strong> diferentes extratos sociais na<br />

Igreja Matriz São Bernardo <strong>de</strong> Alcobaça, <strong>de</strong> modo a conhecer e contribuir para a composição<br />

da <strong>História</strong> Local e Regional. Assim, serão analisadas as relações sociais que se <strong>de</strong>senrolaram<br />

a partir do matrimônio. Além <strong>de</strong> analisar as relações elitistas, que foi enfatizada e priorizada<br />

por muito tempo pela história <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> lado a história das classes marginalizadas. Serão<br />

abordadas as relações <strong>de</strong> toda a socieda<strong>de</strong> que fez uso do sacramento no local e período em<br />

estudo, evi<strong>de</strong>nciando todos os sujeitos presentes nas fontes. Para <strong>de</strong>senvolver a pesquisa, se<br />

recorrerá às fontes eclesiásticas, oriundas da administração dos sacramentos católicos que<br />

tiveram papel fundamental - pelo fato <strong>de</strong> ser o único meio <strong>de</strong> conseguir o casamento legal - na<br />

documentação matrimonial no período em estudo. As fontes eclesiásticas oferecem uma<br />

gran<strong>de</strong> riqueza <strong>de</strong> informações <strong>de</strong> on<strong>de</strong> é possível <strong>de</strong>senvolver pesquisas sobre como a Igreja<br />

propagava o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> família, composto pela união conjugal <strong>de</strong> um homem e <strong>de</strong> uma mulher.<br />

Ao lado das fontes matrimoniais, a legislação eclesiástica para a formação familiar será<br />

consultada, pois se enten<strong>de</strong> fundamental conhecer os preceitos que originaram as fontes a<br />

serem privilegiadas na presente proposta <strong>de</strong> pesquisa. No registro <strong>de</strong> matrimônio, informações<br />

como nome <strong>de</strong> ambos os nubentes, ida<strong>de</strong>, origem <strong>de</strong> nascimento, filiação, cor da pele,<br />

condição jurídica e <strong>de</strong> origem étnica, são observados no documento como modo <strong>de</strong><br />

possibilitar traçar um perfil dos nubentes. Também são encontradas informações como dia,<br />

mês, ano, horário e local on<strong>de</strong> fora realizada a cerimônia, além da <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> dispensa <strong>de</strong><br />

impedimento, informações que dizem respeito aos próprios legislativos sinodais e sua<br />

aplicação na Matriz em estudo. Assim, busca-se analisar a norma e a prática dos dispositivos<br />

legais, <strong>de</strong> modo a compor um panorama das relações matrimoniais em foco e problematizar as<br />

relações que se <strong>de</strong>senvolveram a partir do matrimônio na localida<strong>de</strong>, na região e no século<br />

apontado.<br />

Palavras–Chave: Fontes Eclesiais, Igreja Católica, Matrimônio, Século XIX.


ANÁLISE DAS FONTES DOCUMENTAIS DA LEGISLAÇÃO SOBRE A INCLUSÃO<br />

DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO BRASIL (2005-2015)<br />

66<br />

Romário Santos da Silva<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia - DEDC – Campus X<br />

Graduando do curso Licenciatura em <strong>História</strong><br />

Bolsista da Iniciação Cientifica – PICIN/UNEB<br />

E-mail: romario_silva01@hotmail.com<br />

Fre<strong>de</strong>rico Loiola Viana<br />

Graduando do curso <strong>de</strong> Licenciatura em Letras Inglês e suas Respectivas Literaturas<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia - DEDC – Campus X<br />

Voluntário da Iniciação Cientifica<br />

E-mail: fredyloy@hotmail.com<br />

Guilhermina Elisa Bessa da Costa<br />

Docente da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – DEDC – Campus X<br />

Orientadora da Iniciação Científica/PICIN/UNEB<br />

Mestre em Educação<br />

E-mail: guilbessa@yahoo.com.br<br />

O presente trabalho buscar analisar as fontes documentais da legislação brasileira sobre a<br />

inclusão das pessoas com <strong>de</strong>ficiência no Brasil, no período histórico <strong>de</strong> 2005 a 2015, na<br />

perspectiva <strong>de</strong> refletir sobre a inclusão social, mais precisamente, sobre a inclusão escolar. A<br />

inclusão social promove a criação <strong>de</strong> condições que favoreçam ao máximo a autonomia das<br />

pessoas em uma comunida<strong>de</strong>. Nesse sentido, a escola necessita propiciar ao educando romper<br />

barreiras que permeiam o convívio social, que por vezes, se mostra preconceituosa e<br />

discriminatória, com vistas a aten<strong>de</strong>r os princípios da alterida<strong>de</strong>, por isso surge a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> conhecer os seus direitos, preconizados na legislação brasileira. O objetivo da educação<br />

inclusiva é buscar condições <strong>de</strong> refletir e buscar ações propositivas para minimizar a exclusão<br />

social e proporcionar o respeito a diversida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>batendo acerca dos problemas individuais,<br />

não menosprezando a capacida<strong>de</strong> física, intelectual e cultura dos educandos,<br />

mas enriquecendo o seu aprendizado. As fontes documentais a serem analisadas, referem-se a<br />

<strong>de</strong>cretos, resoluções e leis brasileiras promulgadas pelo Governo Fe<strong>de</strong>ral, as quais<br />

influenciam nas políticas públicas dos estados e municípios. O referencial teórico centra-se<br />

nos estudos <strong>de</strong> Ainscow (1999), Brasil (2013) e (2015), Crochik (2011), Diniz; Barbosa;<br />

Santos (2009) <strong>de</strong>ntre outros. Trata-se <strong>de</strong> uma pesquisa <strong>de</strong> caráter teórico e bibliográfico. Os<br />

resultados preliminares <strong>de</strong>monstram que existe um distanciamento entre os direitos<br />

preconizados na legislação e sua aplicabilida<strong>de</strong> na prática e no cotidiano da vida das pessoas<br />

com <strong>de</strong>ficiência no Brasil.<br />

Palavras-chaves: Fontes documentais, legislação, Pessoas com <strong>de</strong>ficiência.


67<br />

INTERLOCUÇÕES ENTRE PESQUISA, HISTÓRIA E MEMÓRIA: RELATO DE<br />

EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM ESPAÇOS NÃO-<br />

ESCOLARES<br />

Gislaine Romana Carvalho da Silva<br />

Docente da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – DEDC – Campus X<br />

Doutoranda em Ciência da Educação<br />

E-mail: gislainercs@gmail.com<br />

Guilhermina Elisa Bessa da Costa<br />

Docente da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – DEDC – Campus X<br />

Mestre em Educação<br />

E-mail: guilbessa@yahoo.com.br<br />

O presente texto consiste no relato <strong>de</strong> experiência <strong>de</strong> estágio supervisionado dos graduandos<br />

do VI semestre do curso <strong>de</strong> Licenciatura em <strong>História</strong> da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia, do<br />

Departamento <strong>de</strong> Educação – Campus X, realizado em arquivos públicos e particulares da<br />

microrregião <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas, territorialida<strong>de</strong> do Extremo Sul da Bahia, Brasil.. O<br />

Estágio supervisionado fundamentou-se nas discussões teóricas e metodológicas dos autores:<br />

Arroyo (2000); Candau (2002); Alarcão (2003); Freire (2000); Lima (2002), Libâneo (2006);<br />

Pimenta (2004); e Veiga (1998), Lima (2002); Bloch (2001); Flamareon (1994); Pinsky<br />

(2004); Júnior (1995); Abreu (2003); Horn e Germinari (2006); entre outros teóricos tanto das<br />

disciplinas pedagógicas quanto das especificas do curso <strong>de</strong> <strong>História</strong>. O projeto <strong>de</strong> intervenção<br />

foi elaborado com a participação do (a)s acadêmico (a)s prevendo a sua execução em espaços<br />

socioeducativos, não-escolares (ONGs, Museus, Arquivos públicos e particulares,<br />

comunida<strong>de</strong>s religiosas, entre outras. O estágio foi dividido em três momentos: estudos<br />

teóricos com vistas a elaboração do projeto, execução do projeto com a utilização <strong>de</strong> fichas <strong>de</strong><br />

registro e acompanhamento das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> intervenção nos arquivos, durante o trabalho <strong>de</strong><br />

campo; subsídios para memória e relatório escrito do momento da observação e exploração<br />

documental e para análise reflexiva e articulação das informações e do aprendizado produzido<br />

nas experiências vivenciadas no contexto do estudo, foi proposto a realização <strong>de</strong> Seminário <strong>de</strong><br />

socialização para analisar as informações suscitadas no <strong>de</strong>correr do Estagio Supervisionado,<br />

o qual proporcionou aos acadêmico(a)s envolvido(a)s, o acesso a ferramentas voltadas para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s específicas ao historiador(a), como: manusear, conservar,<br />

armazenar e interpretar com proprieda<strong>de</strong>, documentos das rotinas administrativas,<br />

burocráticas e seus expedientes, história oral e vestígios históricos dos arquivos pesquisados.<br />

Conclui-se que o estágio em arquivos é imprescindível para agregar conhecimentos e<br />

experiências significativas, concatenando teoria e prática. Observa-se a relevância do estágio<br />

no processo <strong>de</strong> formação tanto dos educadores em exercício, como dos futuros<br />

educadores/historiadores.<br />

Palavras-chave: <strong>História</strong> local e regional, Arquivos e Memória.


68<br />

SIMPOSIO 07<br />

HISTÓRIA, ÁFRICA E AFRICANIDADES<br />

Proponente: Benedito <strong>de</strong> Souza Santos (UNEB)<br />

Ementa: Este simpósio temático tem como objetivo fomentar discussões em torno das<br />

resistências negras no pós travessia atlântica e provocar discussões sobre formação <strong>de</strong><br />

quilombos como experiências <strong>de</strong> resistências convergentes entre africanos e indígenas no<br />

Brasil. Fomentar pesquisa para compreen<strong>de</strong>r influência da cultura indígena nas comunida<strong>de</strong>s<br />

quilombolas, bem como a influência da cultura afro-brasileira e africana nas al<strong>de</strong>ias<br />

indígenas. Apontar possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisas históricas com abordagem teóricometodológica<br />

interdisciplinar sobre apropriações e usos da categoria afroindígena por atores<br />

sociais contemporâneos. Discutir as emergências étnicas a partir da perspectiva dos próprios<br />

atores sociais.


PORTUGAL – ÁFRICA E O ENCONTRO COM A ILHA BRASILIS: DIFERENTES<br />

PERSONAGENS QUE CONSTRUÍRAM A IDENTIDADE BRASILEIRA<br />

69<br />

Mariana Dourado da Silva<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – UNEB - Campus IV<br />

Graduanda no Curso Licenciatura em <strong>História</strong><br />

Maríllia <strong>de</strong> Oliveira Pinho<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – UNEB - Campus IV<br />

Graduanda no Curso Licenciatura em <strong>História</strong><br />

Ao se pensar num Brasil com múltiplas faces culturais e étnicas, surge a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

refletir sobre a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do povo brasileiro e dar voz aos personagens da história brasileira<br />

que construíram a nossa brasilida<strong>de</strong>. Nesse sentido, é preciso compreen<strong>de</strong>r todo um processo<br />

histórico que se inicia num período pré-colonial quando a ilha brasilis assim <strong>de</strong>nominada<br />

pelos europeus era habitada somente pelos povos indígenas e o período colonial quando os<br />

portugueses chegam ao Brasil e o momento em que se inicia o tráfico negreiro para a colônia.<br />

Desse modo, o projeto busca não somente discutir sobre a formação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, mas<br />

provocar questionamentos no tocante a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional, bem como enten<strong>de</strong>r o<br />

que instiga um indivíduo a se auto<strong>de</strong>clarar brasileiro, <strong>de</strong> modo que possa i<strong>de</strong>ntificar aspectos<br />

culturais oriundos das três etnias (índios, portugueses e africanos) que inicialmente compõe a<br />

civilização brasileira e a diversida<strong>de</strong> cultural. Segundo Milton Moura, o estabelecimento ou a<br />

consolidação <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> é um processo complexo. “... numa socieda<strong>de</strong> colonial, a<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> não se coloca como problema até o momento em que o po<strong>de</strong>r metropolitano é<br />

enfrentado e posto em questão”. Nesse sentido o enfrentamento entre colonizador e<br />

colonizado proporciona as novas formulações <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Portanto, o projeto vem com o<br />

intuito <strong>de</strong> proporcionar um novo entendimento sobre o que se discute em relação a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

nacional, <strong>de</strong> modo que, instigue os indivíduos a questionar sua própria concepção <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e valorizar cada personagem da história do pais e as culturas <strong>de</strong> cada povo que<br />

juntas formam um Brasil mestiço e diversificado, reafirmando o que Gilberto Freyre postula<br />

em seu estudo a miscigenação é a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do país. A partir do Estagio Supervisionado <strong>II</strong><br />

que possibilita-nos a aplicação <strong>de</strong> minicurso em locais não formais, materializamos este<br />

projeto buscando oportunizar discussões com os participantes, utilizando recursos didáticos e<br />

midiáticos para um melhor aprimoramento. Este Simpósio contribuíra e nos possibilitará<br />

agregar novas abordagens para enriquecimento do projeto em questão.<br />

Palavras–Chave: I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, diversida<strong>de</strong> cultural, socieda<strong>de</strong> colonial.


70<br />

REIFICAÇÃO E RESISTÊNCIA NAS RELAÇÕES RACIAIS À BRASILEIRA<br />

Jéssica Silva Pereira<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – DEDC – Campus X<br />

Graduanda do curso <strong>de</strong> Licenciatura em <strong>História</strong><br />

E-mail: jspereira422@gmail.com<br />

Benedito <strong>de</strong> Souza Santos<br />

Docente Substituto da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – DEDC – Campus X<br />

Professor assistente <strong>de</strong> Sociologia da Faculda<strong>de</strong> do Sul da Bahia-FASB<br />

Mestre e Doutorando em Estudos Africanos (CEAO-UFBA)<br />

E-mail: estudante<strong>de</strong>africa@hotmail.com<br />

No presente artigo preten<strong>de</strong>-se discutir o conceito <strong>de</strong> raça nas suas múltiplas reproduções<br />

histórica a partir <strong>de</strong> revisão <strong>de</strong> literatura, buscando apresentar o contexto geral a partir do<br />

último quartel. Estes estudos têm a pretensão <strong>de</strong> compor o primeiro capítulo do trabalho <strong>de</strong><br />

conclusão <strong>de</strong> curso, que visa <strong>de</strong>sconstruir o entendimento do lugar social do negro – pardo,<br />

moreno, mulato, etc. – enquanto representação <strong>de</strong> não-sujeito da população negra antes,<br />

durante e no pós-abolição. Contribui, portanto, para o constante refazer da <strong>História</strong> do Negro<br />

no Brasil, pois a cada dia torna evi<strong>de</strong>nte o quanto o racismo no cotidiano brasileiro, pautado<br />

numa construção histórica das relações raciais que agrega novas estratégias, perpetua na<br />

socieda<strong>de</strong> em questão. Camuflada na i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> “<strong>de</strong>mocracia racial”, acaba colocando as<br />

margens discussões que precisam fazer parte dos espaços educacionais e políticos. As<br />

manutenções <strong>de</strong> tais perspectivas reafirmam a lógica histórica <strong>de</strong> reificar a representação do<br />

negro na socieda<strong>de</strong> brasileira. Nesta direção este trabalho procura apresentar o contexto social<br />

que, <strong>de</strong> maneira coercitiva, leva parte significativa da população negra se reconhecer como<br />

pardos. A principal hipótese <strong>de</strong>sta proposta é que tal contexto multirracial brasileiro<br />

influencia o processo <strong>de</strong> invisibilida<strong>de</strong> e manutenção da reificação do “ser negro”, atravessada<br />

pela i<strong>de</strong>ologia racista <strong>de</strong> branqueamento que foi disseminada no Brasil on<strong>de</strong> o “mestiço” por<br />

hora teria a sua mobilida<strong>de</strong> social e em tempo possibilitaria a superação da <strong>de</strong>generação e do<br />

atraso do país. Para <strong>de</strong>linear o objeto <strong>de</strong> pesquisa foi utilizado como metodologia, revisão<br />

bibliográfica, tendo como base estudos empreendidos por Appiah (1997), Guimarães (1999),<br />

Santos (2002), Skidmore (1976), <strong>de</strong>ntre outros estudos que são <strong>de</strong> reconhecida importância<br />

para temática. Dessa forma, busca-se propor a reflexão sobre o lugar imposto à população<br />

negra por aqueles que historicamente ocuparam espaço <strong>de</strong> privilégio, bem como discutir os<br />

mecanismos e estratégias <strong>de</strong> resistência da população negra enquanto atores sociais que se<br />

inquietaram e se inquietam com o lugar lhes reservados nas relações sociais/raciais da<br />

socieda<strong>de</strong> brasileira. Terá essa contextualização geral representação local no Extremo Sul da<br />

Bahia? É possível, a princípio, que mesmo diante <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pessoas negras<br />

esse território <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> promova a invisibilida<strong>de</strong> do “ser negro” enquanto representação<br />

étnica-racial.<br />

Palavras-chave: Raça, Negros, Representações sociais, Relações raciais.


71<br />

ESCRAVIDÃO E RESISTÊNCIA NEGRA: FORMAÇÃO DE QUILOMBOS<br />

Ramom Pereira <strong>de</strong> Jesus Moreira<br />

Graduando em <strong>História</strong> pela UNEB - CAMPUS X.<br />

E-mail: ramom.moreira@hotmail.com<br />

Liliane Maria Fernan<strong>de</strong>s Cor<strong>de</strong>iro Gomes<br />

(Orientadora).<br />

Profª Assistente do Colegiado <strong>de</strong> <strong>História</strong>/UNEB - CAMPUS X<br />

Mestra em <strong>História</strong> Regional e Local - UNEB - Campus V.<br />

E-mail: liufernan<strong>de</strong>sc@yahoo.com.br<br />

Este artigo busca apresentar elementos que integram o primeiro capitulo do Trabalho <strong>de</strong><br />

Conclusão <strong>de</strong> Curso que esta sendo produzido, e busca discutir questões referentes à<br />

escravidão, tomando as dimensões que permeiam o início <strong>de</strong>sta prática ainda em África, para<br />

percebermos quais elementos provocaram as transformações das dimensões escravistas em<br />

algumas regiões do continente, a partir da entrada <strong>de</strong> “agentes externos” que foram<br />

responsáveis pelo tráfico transaariano e transatlântico <strong>de</strong> cativos para diversas regiões do<br />

mundo, inclusive para o Brasil. No século XV, quando se iniciou o processo <strong>de</strong> escravização<br />

realizado pelos europeus no continente africano, essa prática não se caracterizou como um<br />

fato novo, levando em consi<strong>de</strong>ração que a escravidão estava longe <strong>de</strong> ser um fenômeno da<br />

ida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna, segundo estudos <strong>de</strong> Lovejoy (2002). A partir <strong>de</strong>stas concepções, discutiremos<br />

as ações <strong>de</strong> africanos e seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes para resistirem à escravidão a qual eram<br />

submetidos, das muitas formas <strong>de</strong> resistência utilizadas por eles, discutiremos sobre a fuga e<br />

formação <strong>de</strong> quilombos, enten<strong>de</strong>ndo que, on<strong>de</strong> houve o uso do trabalho escravo, ocorreram<br />

diversas formas <strong>de</strong> resistência. A pesquisa é resultado <strong>de</strong> uma revisão bibliográfica que se<br />

pautou, entre outros estudiosos, em Lovejoy (2002) que discorre acerca das transformações da<br />

escravidão interna africana a partir das invasões dos agentes externos (árabes e europeus);<br />

Albuquerque e Fraga Filho (2010) contribuem com a história do negro no Brasil, discutindo<br />

as muitas formas encontradas por africanos e seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes contra o sistema escravocrata;<br />

Moura (1987) contribui ao sinalizar que a formação <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> escravos, em locais<br />

recanteados na floresta à <strong>de</strong>ntro, ia além da intenção <strong>de</strong> se livrarem dos trabalhos forçados,<br />

nas fazendas <strong>de</strong> café e <strong>de</strong> algodão, no plantio da cana <strong>de</strong> açúcar, ou nos engenhos e moinhos,<br />

também sendo possível afirmar que ali havia o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> preservar a cultura, crenças,<br />

expressões religiosas e míticas trazidas do continente africano para cá e que a diáspora via<br />

Atlântico não foi capaz <strong>de</strong> fazê-los esquecer. A analise das leituras feitas fortalece a i<strong>de</strong>ia dos<br />

quilombos como a reprodução <strong>de</strong> uma nova África, on<strong>de</strong> os fugidos reproduziriam antigos<br />

costumes e formas <strong>de</strong> sobrevivência ao tempo em que faziam ajustes relacionados ao seu<br />

tempo presente, integrando-se no local em que se vivia no Brasil.<br />

Palavras Chaves: Escravidão, resistência, quilombos.


AFROINDÍGENAS, MEDIAÇÃO E EMPODERAMENTO: UMA EXPERIÊNCIA DO<br />

MOVIMENTO CULTURAL ARTE MANHA EM CARAVELAS-BA<br />

72<br />

Benedito <strong>de</strong> Souza Santos<br />

Docente Substituto da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – DEDC – Campus X<br />

Professor assistente <strong>de</strong> Sociologia da Faculda<strong>de</strong> do Sul da Bahia-FASB<br />

Mestre e Doutorando em Estudos Africanos (CEAO-UFBA)<br />

E-mail: estudante<strong>de</strong>africa@hotmail.com<br />

Neste artigo apresento o Movimento Cultural Arte Manha em Caravelas como mediador <strong>de</strong><br />

ações representadas por diferentes atores <strong>de</strong> diferentes compreensões <strong>de</strong> pertença étnica, que<br />

se movimentam em busca do fortalecimento <strong>de</strong> suas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s. Destacamos a mediação<br />

como estratégia <strong>de</strong> empo<strong>de</strong>ramento do Arte Manha nas relações com grupos <strong>de</strong><br />

representações étnicas variadas, usando como pano <strong>de</strong> fundo suas múltiplas au<strong>de</strong>finições<br />

como meio <strong>de</strong> inserção e diálogo. O uso do relato e da história <strong>de</strong> vida no formato <strong>de</strong><br />

gravação foi possível através da produção <strong>de</strong> um documentário realizado pelo Arte Manha na<br />

Al<strong>de</strong>ia Renascer no dia 08/09/2013 que teve como um dos objetivos a <strong>de</strong>núncia das condições<br />

a que os indígenas daquela al<strong>de</strong>ia são submetidos. A gravação foi realizada com a<br />

participação marcante do Cacique Bawai que relatou parte <strong>de</strong> sua trajetória e suas<br />

perspectivas em relação ao futuro da al<strong>de</strong>ia. A partir da história <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> um indivíduo,<br />

nesta experiência em particular, foi possível retratar parte da experiência da comunida<strong>de</strong>. Para<br />

dialogar com a pesquisa utilizamos Agier (2001), Arruti (1997), Bartolomé (2006) e Hall<br />

(2000) que nos permite discutir i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural, emergência étnica e etnogênese enquanto<br />

categorias políticas aplicadas a uma experiência nativa. Assim, a pesquisa oferece dados para<br />

reflexão como o quanto os participantes do Movimento Cultural Arte Manha, na ação <strong>de</strong><br />

mediar os interesses dos grupos étnicos com outros atores sociais, acabam por se inserir em<br />

uma zona <strong>de</strong> empo<strong>de</strong>ramento no seu sentido amplo.<br />

Palavras-chave: Afroindígena, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, empo<strong>de</strong>ramento, mediação.


A FIGURA DOS PRETOS-VELHOS: REPRESENTAÇÕES ENTRE LINGUAGEM E<br />

MEMÓRIA<br />

73<br />

Bougleux Bomjardim da Silva Carmo<br />

Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Santa Cruz<br />

Mestre em Letras / Profletras<br />

E-mail: bug7raio@gmail.com<br />

O presente trabalho situa-se no contexto dos estudos em <strong>História</strong> e Cultura Afro-brasileira, tendo<br />

como objetivo central discorrer acerca das representações da figura do preto-velho, para constituição<br />

<strong>de</strong> um panorama <strong>de</strong> um dos ícones relativos às manifestações históricas, culturais e religiosas da<br />

matriz africana no Brasil. Nesse sentido, abre-se uma discussão entre questões <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e<br />

memória centradas na linguagem. Este trabalho ancora-se nos estudos culturais e questões i<strong>de</strong>ntitárias<br />

em Hall (2013) como contextualização ampla. Igualmente, são revisitados estudos acerca dos<br />

elementos religiosos e históricos que envolvem a representativida<strong>de</strong> e simbolismo dos pretos-velhos,<br />

nos termos <strong>de</strong> Santos (1999) e sobre conceitos fundamentais <strong>de</strong> memória e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> (SOUZA, 2007;<br />

ANDRÉ, 2008; ALKIMIM; LOPEZ, 2009) Nesse quadro, o conceito <strong>de</strong> cultura adotado segue em<br />

consonância com Arantes (1990), Laraia (2014) e Chartier (1995), conceito esse que envolve<br />

múltiplos aspectos e polifonia <strong>de</strong> vozes. A metodologia utilizada é qualitativa <strong>de</strong> cunho bibliográfico,<br />

na confluência interdisciplinar entre estudos históricos, da linguagem e culturais. Como resultado <strong>de</strong><br />

nossa revisitação teórica e análise das representações constituídas, <strong>de</strong>stacamos a construção míticoreligiosa<br />

<strong>de</strong>ssas figuras <strong>de</strong> escravos e/ou entida<strong>de</strong>s espirituais como uma representação específica <strong>de</strong><br />

nossa religiosida<strong>de</strong>, bem como tendo a linguagem como elemento <strong>de</strong> coesão i<strong>de</strong>ntitária, memória,<br />

espaço das ressignificações e <strong>de</strong> luta cultural. Nessa perspectiva, o panorama aqui constituído po<strong>de</strong><br />

servir <strong>de</strong> base para estudos diversos e aprofundamentos relativos aos aspectos da diversida<strong>de</strong> e da<br />

memória <strong>de</strong> elementos da cultura afro-brasileira centrados nas peculiarida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssa figura nomeada <strong>de</strong><br />

preto-velho, em <strong>de</strong>staque ao papel da linguagem para sua concepção semiótica e religiosa. Além disso,<br />

constatou-se que tal linguagem tem suas raízes em um lento processo <strong>de</strong> contato linguístico,<br />

endoculturação, acomodação e dominação colonial. Os traços linguísticos e o comportamento peculiar<br />

do escravo permaneceram como uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntização do preto-velho que são assumidas como<br />

espíritos <strong>de</strong>sencarnados, <strong>de</strong> luz, mentores e/ou guias espirituais numa gama <strong>de</strong> representações míticoreligiosas.<br />

Palavras-chave: Preto-velho, Representações socioculturais, Linguagem, Memorialida<strong>de</strong>s.


74<br />

MEMÓRIA CULTURAL E SOCIAL DA COMUNIDADE QUILOMBOLA<br />

BOITARACA<br />

Tailine Nascimento Argôlo<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – UNEB – Campus V<br />

Graduanda do curso <strong>de</strong> Licenciatura em <strong>História</strong><br />

E-mail: tai_gospel_gta@hotmail.com<br />

O projeto tem como objetivo analisar as experiências culturais e sociais, averiguar a memória,<br />

a ancestralida<strong>de</strong> e as tradições orais como estratégias no processo <strong>de</strong> construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

a partir da experiência da comunida<strong>de</strong> Boitaraca localizada no município <strong>de</strong> Nilo Peçanha<br />

baixo sul da Bahia. As formas <strong>de</strong> pesquisa estabelecida para aten<strong>de</strong>r os objetivos do trabalho<br />

em questão, foram baseadas na análise das formas simbólicas <strong>de</strong> ações sociais e culturais, e<br />

embasadas nós teóricos como Tomaz Ta<strong>de</strong>u, Muniz Sodré, Alfredo Wagner, Stuart Hall,<br />

salientando que o trabalho busca trazer reflexões a cerca da dinâmica sócio territorial do<br />

Quilombo do Boitaraca, categoria <strong>de</strong> análise que traz a tona, questões que emanam <strong>de</strong><br />

aspectos simbólicos como, por exemplo, a cultura <strong>de</strong> um grupo social. Contudo, cabe aqui<br />

mencionar que o estágio preliminar <strong>de</strong> uma pesquisa com culturas é a etnografia, através <strong>de</strong><br />

entrevistas e outros tipos <strong>de</strong> coletas <strong>de</strong> dados com o objetivo <strong>de</strong> reconstruir as maneiras como<br />

as formas simbólicas são interpretadas e compreendidas nos vários contextos da vida social.<br />

As comunida<strong>de</strong>s quilombolas negras no Brasil enfrentam diversos obstáculos na garantia <strong>de</strong><br />

direitos aos seus territórios ancestrais e neste contexto <strong>de</strong> lutas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s político/culturais<br />

são criadas, recriadas ou inventadas. A escolha comunida<strong>de</strong> quilombola Boitaraca como<br />

objeto <strong>de</strong> estudo, vem da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> que forma os remanescentes<br />

quilombolas se apropriam <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, como forma <strong>de</strong> resistência, presentes na<br />

formação das comunida<strong>de</strong>s. Outro fato <strong>de</strong> fundamental importância está relacionado ao grau<br />

<strong>de</strong> parentesco com os moradores <strong>de</strong>ssa comunida<strong>de</strong>.<br />

Palavras-chave: Quilombo, memória, territorialida<strong>de</strong>, cultura.


75<br />

OS ESPAÇOS OCUPADOS PELOS NEGROS COMO AFIRMAÇÃO DA<br />

LIBERDADE NO RIO DE JANEIRO<br />

Helena Aparecida <strong>de</strong> Souza Vieira<br />

Graduanda do curso <strong>de</strong> Licenciatura em <strong>História</strong><br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia - DEDC - Campus X<br />

E-mail: helena018@gmail.com<br />

Priscila Santos da Glória<br />

Docente da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – DEDC – Campus X<br />

Mestre em <strong>História</strong> Regional e Local pela UNEB<br />

E-mail: priumani@yahoo.com.br<br />

Este trabalho é parte das ativida<strong>de</strong>s propostas da disciplina <strong>de</strong> <strong>História</strong> do Brasil (Século XIX)<br />

tendo como objetivo investigar o processo <strong>de</strong> apropriação dos cortiços, analisando a sua<br />

utilização como ferramenta <strong>de</strong> contra sujeição. Partindo <strong>de</strong>sta indagação inicial que fomentou<br />

a compreensão acerca do processo abolicionista no Brasil, i<strong>de</strong>ntificando os fatores que<br />

levaram gradativamente os negros a conquistarem sua liberda<strong>de</strong>, não <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> analisar as<br />

medidas tomadas contra este novo estado social em que o negro está a se afirmar enquanto<br />

pessoa livre. Destarte, este referente trabalho sendo uma revisão bibliográfica necessita-se<br />

teóricos que além <strong>de</strong> ajudar na compreensão acerca do tema provocou enxergar este período<br />

histórico em outra vertente, vertente esta que proporcionou perceber maiores resistências,<br />

apropriações <strong>de</strong> espaços como afirmação <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> que por muito foi negligenciada, sendo<br />

assim, para uma maior contextualização utilizou-se <strong>de</strong> Walter Fraga Filho (2006);<br />

Albuquerque (2006) que retrata o Brasil no período abolicionista on<strong>de</strong> o insere numa<br />

contextualização <strong>de</strong>ste processo, igualmente utiliza-se <strong>de</strong> Chalhoub (1990) que através dos<br />

relatos pô<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar como esta apropriação <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados espaços foi crucial para que<br />

estes negros se firmassem enquanto libertos; novamente fazendo uso <strong>de</strong> Chalhoub (1996) que<br />

analisa os cortiços enquanto espaço epidêmico e como foi manuseados segundo os<br />

respectivos interesses envolvidos. Utilizou-se <strong>de</strong> Schwarcz (1993) que nos apresenta como a<br />

medicina foi utilizada para uma concepção social e estrutural na perspectiva hegemônica <strong>de</strong><br />

higienização, numa forma <strong>de</strong> sanar.<br />

Palavras-chave: Processo abolicionista, Apropriação dos cortiços, Negros, Liberda<strong>de</strong>.


76<br />

SIMPOSIO 08<br />

HISTÓRIA SEM FRONTEIRAS: ASPECTOS FILOSÓFICOS DO SABER<br />

HISTÓRICO<br />

Proponente: Joelson Pereira <strong>de</strong> Sousa (UNEB)<br />

Ementa: Propõe um espaço transdisciplinar conveniente ao encontro <strong>de</strong> múltiplas abordagens<br />

do saber histórico (todos, entretanto, convergentes no objeto geral <strong>de</strong> estudo: a relação entre<br />

história e filosofia). Deseja-se chamar à inscrição estudantes e pesquisadores que, com<br />

respeito à necessária transposição <strong>de</strong> obstáculos metodológicos, venham produzindo<br />

pesquisas em uma perspectiva histórica capaz <strong>de</strong> realizar aproximações e/ou integrações entre<br />

as mais diversas áreas do conhecimento, seja no campo das ciências, das artes ou das<br />

humanida<strong>de</strong>s.


FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO: DIDÁTICA, METODOLOGIA E CURRÍCULO<br />

77<br />

Fábio Pereira Barros<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo–UFES<br />

Mestrando em Ensino na Educação Básica<br />

E-mail: fabiosaojose2000@hotmail.com<br />

A obrigatorieda<strong>de</strong> do ensino <strong>de</strong> Filosofia pela LEI 11.684/2008 impulsionou o <strong>de</strong>bate acerca<br />

da Filosofia, dos conteúdos que são trabalhados e a forma como são trabalhados. Seu ensino<br />

tem sido alvo <strong>de</strong> investigações constantes e incessantes por parte dos educadores, com o<br />

objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver uma metodologia específica para seu ensino e prática. No que<br />

concerne ao currículo <strong>de</strong> Filosofia havia escolas que priorizavam temas filosóficos, como<br />

Ética, Lógica, entre outros; em <strong>de</strong>trimento da <strong>História</strong> da Filosofia. Por outro lado, havia<br />

também, escolas que priorizavam a <strong>História</strong> da Filosofia, fazendo <strong>de</strong>sta o próprio conteúdo da<br />

disciplina. O professor <strong>de</strong> Filosofia recorre a uma metodologia e didática para suas aulas que<br />

Rancière (2000) chama <strong>de</strong> lógica da explicação. Essa postura carrega implícita a crença <strong>de</strong><br />

que aquele que explica é o <strong>de</strong>tentor dos conhecimentos filosóficos necessários que lhe<br />

permitem assumir a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transmitir os conteúdos da Filosofia àqueles que não<br />

o possuem. O presente estudo se propôs a investigar o ensino <strong>de</strong> Filosofia no Ensino Médio,<br />

no intuito <strong>de</strong> analisar o seguinte problema: há uma didática e uma metodologia específicas<br />

para ensinar Filosofia? O que ensinar e como ensinar? Com base na análise e interpretação<br />

dos dados encontrados nos textos selecionados, foi <strong>de</strong>senvolvido o estudo e estruturado o<br />

texto que é apresentado aqui. Foi tomada como referencial teórico o pensamento <strong>de</strong> Cerletti<br />

(1999), Deleuze (1992), Gallo e Kohan (2000), Lipiman (1994), Lorieri (2002), Navia (2004),<br />

Rancière (2000) entre outros, para a investigação, análise e interpretação da realida<strong>de</strong> acerca<br />

do ensino <strong>de</strong> Filosofia no Brasil. Esse estudo nos revelou que na educação brasileira ainda<br />

prevalece a perspectiva positivista <strong>de</strong> valorização das disciplinas das áreas <strong>de</strong> ciências Físico-<br />

Biológicas e Matemáticas. On<strong>de</strong> o tecnicismo permeia a educação que se volta para a<br />

preparação do jovem para o mercado <strong>de</strong> trabalho. E no que se refere à Filosofia e seu ensino,<br />

a maneira como os conteúdos são abordados em aula se apresenta insuficiente, muitas vezes,<br />

para <strong>de</strong>senvolver no estudante uma atitu<strong>de</strong> filosófica. On<strong>de</strong> prevalecem os conhecimentos<br />

prontos visando uma assimilação mecânica. Não havendo também uma didática nem uma<br />

metodologia própria para o ensino <strong>de</strong> Filosofia. Mas, possibilida<strong>de</strong>s diversas <strong>de</strong> se trabalhar a<br />

Filosofia em sala <strong>de</strong> aula.<br />

Palavras-Chave: Filosofia, Ensino Médio, Didática, Currículo.


78<br />

POÉTICAS DOS POVOS ORIGINÁRIOS E O SISTEMA DA ARTE<br />

CONTEMPORÂNEA<br />

Alessandra Mello Simões Paiva<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Sul da Bahia (UFSB)<br />

Doutora/Professora Adjunta<br />

E-mail: alesimoespaiva@gmail.com<br />

Aluízio Men<strong>de</strong>s<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Sul da Bahia (UFSB)<br />

Aluno/Bacharelado Interdisciplinar Ciências Humanas<br />

E-mail: aluiziooms@hotmail.com<br />

Consi<strong>de</strong>rando a recente indicação da artista Arissana Pataxó para o prêmio PIPA 2016, uma<br />

das chancelas mais relevantes no sistema da arte contemporânea brasileira, este trabalho tem<br />

como objetivo <strong>de</strong>bater as relações entre arte indígena e arte contemporânea, suas interfaces e<br />

dissonâncias teóricas, e paralelismos históricos. A metodologia partiu do planejamento e dos<br />

<strong>de</strong>sdobramentos do Componente Curricular intitulado “Movimentos artísticos e linguísticos<br />

dos povos pré-colombianos e diaspóricos nas Américas”, oferecido no primeiro quadrimestre<br />

<strong>de</strong> 2016 na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Sul da Bahia (UFSB). Segundo a ementa da disciplina,<br />

procurou-se abordar sistemas <strong>de</strong> pensamento, culturas, artes e línguas que sustentam<br />

expressões artísticas dos povos originários das Américas, analisados a partir <strong>de</strong> referencial<br />

teórico transdisciplinar. A partir <strong>de</strong>sta proposta inicial, este trabalho alcançou como resultado<br />

o entendimento da produção artística indígena latino-americana nas seguintes abordagens: a)<br />

Compreensão do momento em que se torna possível a conjugação da estética e da etnografia<br />

na <strong>História</strong> da Arte em suas relações com os povos originários; b) Inter-relações entre a<br />

produção histórica e atual <strong>de</strong>stes povos; c) Entendimento da atual situação da arte dos povos<br />

originários nas Américas e sua inserção nos meios <strong>de</strong> produção e circulação da arte<br />

contemporânea; d) Reconhecimento da arte dos povos originários das Américas enquanto<br />

produção estética legítima, marcada por suas especificida<strong>de</strong>s autorais e regionais; e)<br />

Apreensão <strong>de</strong> seus processos <strong>de</strong> criação enquanto heranças i<strong>de</strong>ntitárias, passíveis <strong>de</strong> serem<br />

utilizadas em diálogo com seus próprios sistemas poéticos e subjetivida<strong>de</strong>s.<br />

Palavras-chave: arte indígena, artes visuais, arte contemporânea, poéticas ameríndias.


79<br />

A INFLUÊNCIA DA RELIGIÃO NA FORMAÇÃO HUMANA:<br />

IDEOLOGIA E O DESAFIO DO DIFERENTE<br />

Izaiane Ferreira Costa<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – DEDC - Campus X<br />

Programa Institucional <strong>de</strong> Bolsas <strong>de</strong> Iniciação à Docência – PIBID<br />

Discente do curso <strong>de</strong> Licenciatura em <strong>História</strong><br />

E-mail: izaiane_ferreira@hotmail.com<br />

Joelson Pereira <strong>de</strong> Sousa<br />

Docente da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – DEDC - Campus X<br />

Mestre em Filosofia - Universida<strong>de</strong> São Judas Ta<strong>de</strong>u - USJT<br />

E-mail: joelson.filo@hotmail.com<br />

Trabalhando numa perspectiva interdisciplinar e abordando não só o campo da <strong>História</strong>, mas<br />

também elementos existentes <strong>de</strong>ntro do campo da Filosofia, da Psicologia e da Sociologia,<br />

este trabalho tem como objetivo compreen<strong>de</strong>r como a incerteza do novo po<strong>de</strong> levar ao <strong>de</strong>safio<br />

do diferente, estabelecendo uma ligação entre a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> apropriação e não compreensão do<br />

outro no meio em que ele vive. Apontando assim, a i<strong>de</strong>ologia como fator implicante no<br />

pensamento reducionista para explicar a realida<strong>de</strong> do outro. Apoiando-me em estudos dos<br />

autores Edgar Morin, Marta Kohl <strong>de</strong> Oliveira e Louis Althusser irei analisar a influência<br />

religiosa e as polêmicas que a envolvem <strong>de</strong>ntro do contexto social. Afinal, quando se trata <strong>de</strong><br />

dogma religioso tudo fica mais complexo e inquestionável. Mostrando o seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

apropriação sobre outros fatores influentes nessa formação cultural, i<strong>de</strong>ntificando a maneira<br />

como a Igreja influi na formação <strong>de</strong> normas e na orientação das éticas, já que atualmente as<br />

i<strong>de</strong>ologias responsáveis pela alienação <strong>de</strong> indivíduos são em gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> cunho religioso.<br />

Levando em conta que a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> submeter uma cultura ou uma religião à outra não surgiu no<br />

século atual. Po<strong>de</strong>mos observar isso claramente se fizermos uma breve análise do Brasil<br />

Colônia, on<strong>de</strong>, com a chegada dos portugueses houve a evangelização/catequização dos<br />

índios baseada na implantação do ensino religioso forçado. E olhando por esse ângulo é<br />

possível afirmar que apesar dos tempos terem avançado, a religião continua sendo fator<br />

implicante na formação mental dos seres humanos. Já que o ser humano nasce inserido em um<br />

sistema, e esse sistema <strong>de</strong> relações sociais varia <strong>de</strong> acordo com a sua cultura. E na maioria das<br />

vezes, é esse sistema que dita à forma como esse ser irá agir, se vestir, se comunicar e até<br />

mesmo pensar.<br />

Palavras-chave: Religião, I<strong>de</strong>ologia, Cultura, Formação humana.


AS EXPERIÊNCIAS TOTALITÁRIAS NO SÉCULO XX E O FIM DA TRADIÇÃO<br />

NO PENSAMENTO DE HANNAH ARENDT: A HISTÓRIA CONHECIDA CHEGA<br />

AO FIM<br />

80<br />

Raí Souza Costa<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – DEDC - Campus X<br />

Bolsista do Programa <strong>de</strong> Iniciação Científica da FAPESB<br />

Discente do curso <strong>de</strong> Licenciatura em <strong>História</strong><br />

E-mail: raicosta_rsc@hotmail.com<br />

Joelson Pereira <strong>de</strong> Sousa<br />

Docente da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – DEDC - Campus X<br />

Mestre em Filosofia - Universida<strong>de</strong> São Judas Ta<strong>de</strong>u - USJT<br />

E-mail: joelson.filo@hotmail.com<br />

O presente trabalho é fruto <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong> Iniciação Científica e visa apresentar o modo como<br />

Hannah Arendt aborda as experiências totalitárias ocorridas no século XX, <strong>de</strong>stacando, sob<br />

uma perspectiva histórica, sua tese <strong>de</strong> fim da tradição. Com essa finalida<strong>de</strong>, propomos o<br />

seguinte percurso: 1) crítica arendtiana da historiografia positivista em relação às fontes <strong>de</strong><br />

pesquisa sobre os regimes nazista e stalinista; 2) as experiências totalitárias como<br />

acontecimento central na ruptura histórica entre passado e futuro e 3) a compreensão da tese<br />

arendtiana <strong>de</strong> fim da tradição. Isso porque, segundo Hannah Arendt, os fenômenos políticos,<br />

sociais, militares e econômicos oriundos <strong>de</strong>ste período, trouxeram à cena histórica fatos<br />

radicalmente novos e sem prece<strong>de</strong>ntes no mundo oci<strong>de</strong>ntal. Neste sentido, a pesquisa consiste<br />

na revisão bibliográfica acerca da concepção <strong>de</strong> teoria da história possibilitando um espaço <strong>de</strong><br />

diálogo para novas conspecções acerca da temática. A pesquisa consiste em revisão<br />

bibliográfica das seguintes obras: Origens do totalitarismo (1951) e Entre o passado e o<br />

futuro (1954) <strong>de</strong> Hannah Arendt, avançando para textos secundários como: A Alemanha <strong>de</strong><br />

Hitler: origens, interpretações, legados (2002) <strong>de</strong> Ro<strong>de</strong>rick Stackelberg Hannah Arendt –<br />

história e liberda<strong>de</strong> (2012) <strong>de</strong> Sônia Maria Schio e por fim, a dissertação <strong>de</strong> Mestrado<br />

Hannah Arendt: entre a política e a história (2009) <strong>de</strong> Márcia Raquel Branco. Diante <strong>de</strong>sse<br />

percurso espera-se avançar no campo da reflexão sobre a teoria da história colaborando para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novas abordagens sobre as temáticas em <strong>de</strong>staque no contexto <strong>de</strong>sta<br />

pesquisa a fim <strong>de</strong> abrir caminho para novas discussões acerca <strong>de</strong>ste campo da história e os<br />

meandros pelos quais passam o seu entendimento.<br />

Palavras-chave: Hannah Arendt, Regimes Totalitários, <strong>História</strong>, Tradição, Ruptura.


HANNAH ARENDT E A CRISE DA MODERNIDADE: ASPECTOS HISTÓRICOS<br />

81<br />

Brendo Stoco Vidal<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – DEDC - Campus X<br />

Bolsista no Programa <strong>de</strong> Iniciação Científica da FAPESB<br />

Discente do curso <strong>de</strong> Licenciatura em <strong>História</strong><br />

E-mail: brendooescolhido@hotmail.com<br />

Joelson Pereira <strong>de</strong> Sousa<br />

Docente da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – DEDC - Campus X<br />

Mestre em Filosofia - Universida<strong>de</strong> São Judas Ta<strong>de</strong>u - USJT<br />

E-mail: joelson.filo@hotmail.com<br />

Este trabalho é resultado <strong>de</strong> pesquisa realizada no âmbito da iniciação científica e tem como<br />

objetivo apresentar o modo como Hannah Arendt aborda a crise da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Uma crise<br />

tão profunda que, segundo Arendt, resulta na <strong>de</strong>cadência das formas <strong>de</strong> pensamento que<br />

serviram <strong>de</strong> fundamento e <strong>de</strong> referência para o <strong>de</strong>senvolvimento da própria cultura oci<strong>de</strong>ntal.<br />

Neste sentido, propomos o seguinte percurso histórico: 1) a crise da religião, latente já nos<br />

séculos XV<strong>II</strong> e XV<strong>II</strong>I com o avanço da dúvida metodológica do campo da ciência e da<br />

filosofia em direção ao questionamento dos dogmas e das verda<strong>de</strong>s religiosas; 2) a crise da<br />

tradição como perda do fio condutor que guiou a humanida<strong>de</strong> com segurança através <strong>de</strong> todo<br />

seu passado, <strong>de</strong> modo que sem uma tradição firmemente ancorada, toda a dimensão do<br />

passado é colocada em perigo; e por fim, 3) a crise da autorida<strong>de</strong> que, segundo Hannah<br />

Arendt, é a consequência final das crises da religião e da tradição e, por isso, consolida-se<br />

como a crise mais emblemática e <strong>de</strong>cisiva quanto à <strong>de</strong>cadência da autorida<strong>de</strong> do passado.<br />

Com isso, Arendt traz uma importante reflexão que nos permite problematizar o centro da<br />

crise que se abateu sobre a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, a saber, o <strong>de</strong>saparecimento da autorida<strong>de</strong> no mundo<br />

mo<strong>de</strong>rno. Quanto à metodologia utilizada no âmbito <strong>de</strong>sse trabalho, consiste na revisão<br />

bibliográfica <strong>de</strong> textos como: Entre o passado e o futuro (1961) <strong>de</strong> Hannah Arendt,<br />

especialmente os ensaios ‘O que é autorida<strong>de</strong>?’ e ‘O que é liberda<strong>de</strong>’ e ‘A crise na cultura –<br />

sua importância social e política’; bem como <strong>de</strong> comentadores: PETRY (2012), OLIVEIRA<br />

(2006) e ALMEIDA (2012) que abordam a origem da noção <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> e sua <strong>de</strong>cadência<br />

na socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna. Tal comprometimento com as estratégias metodológicas permitiram o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento reflexivo <strong>de</strong> pontos-chave para a compreensão da temática da autorida<strong>de</strong> em<br />

Arendt: a crise na religião, a crise na tradição e por fim a crise da própria autorida<strong>de</strong>.<br />

Palavras-chave: Hannah Arendt, Crise, Autorida<strong>de</strong>, Tradição, Religião.


82<br />

HANNAH ARENDT E A TRANSGRESSÃO METODOLÓGICA<br />

COMO PONTO DE PARTIDA PARA O PENSAMENTO<br />

Joelson Pereira <strong>de</strong> Sousa<br />

Docente da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – DEDC - Campus X<br />

Mestre em Filosofia - Universida<strong>de</strong> São Judas Ta<strong>de</strong>u - USJT<br />

E-mail: joelson.filo@hotmail.com<br />

O objetivo <strong>de</strong>sta comunicação é problematizar uma possível estratégia metodológica<br />

encontrada na obra <strong>de</strong> Hannah Arendt, responsável por trazer ao conjunto <strong>de</strong> seus textos uma<br />

reconhecida originalida<strong>de</strong> na abordagem <strong>de</strong> temas consi<strong>de</strong>rados clássicos na história da<br />

filosofia, como política, história, pensamento e ação. Neste sentido, essa apresentação não se<br />

trata <strong>de</strong> uma abordagem conceitual dos conteúdos tratados pela autora, mas sim <strong>de</strong> uma<br />

tentativa <strong>de</strong> alcançar alguns elementos do percurso intelectual que pairam sobre a escrita<br />

arendtiana, tais como: a experiência do choque, a paixão por compreen<strong>de</strong>r e o pensar sem<br />

corrimão. Como se vê, importa <strong>de</strong>stacar aqui aspectos muitas vezes externos ao texto, mas<br />

que, sem dúvida, representam disposições internas <strong>de</strong> caráter espontâneo que marcam a<br />

personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta pensadora. Assim, interessa observar bem menos o que o texto arendtiano<br />

diz e muito mais aquilo que po<strong>de</strong> ser dito sobre ele, especialmente quando estes elementos do<br />

seu percurso intelectual servem como motivação para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> reflexões, sem<br />

que necessariamente sejam reconhecidos e citados em algum momento pela própria autora.<br />

Por conseguinte, além <strong>de</strong> concentrar esse trabalho na leitura da obra <strong>de</strong> Hannah Arendt, vale<br />

<strong>de</strong>stacar os estudos <strong>de</strong> Celso Lafer e Eduardo Jardim, que apontaram em seus trabalhos alguns<br />

elementos característicos do percurso intelectual <strong>de</strong> Hannah Arendt, <strong>de</strong> forma não só<br />

inequívoca mais, sobretudo, distintiva do modo como ela concebe seu próprio pensamento.<br />

Diante disso, espera-se, além <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar e discutir a presença <strong>de</strong> um modo <strong>de</strong> pensar que<br />

reverbera em toda a obra arendtiana, contribuir para a superação dos obstáculos<br />

metodológicos que muitas vezes condicionam os trabalhos acadêmicos a verda<strong>de</strong>iros<br />

confinamentos científicos, on<strong>de</strong> o conhecimento parece um fim em sim mesmo e não um<br />

meio para alcançar a emancipação e a autonomia intelectual.<br />

Palavras-chave: Hannah Arendt, Aspectos metodológicos, Pensamento, Autonomia.


83<br />

SIMPOSIO 09<br />

A HISTÓRIA EM MOVIMENTO E SONS: AS LINGUAGENS E OS NOVOS<br />

OBJETOS NA PESQUISA HISTÓRICA<br />

Proponente: Caroline Lima (UNEB)<br />

Ementa: A produção historiográfica brasileira interessada em perceber relações e tensões<br />

estabelecidas no cotidiano vem, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os anos 1970, <strong>de</strong>monstrando interesse por fontes e<br />

objetos <strong>de</strong> estudos que registraram e <strong>de</strong>ixaram impressões <strong>de</strong> juízos e valores sobre relações<br />

estabelecidas entre os sujeitos em seus modos <strong>de</strong> fazer, saber, sentir, através dos quais buscam<br />

construir seus lugares na história. Nesse sentido, o Simpósio Temático apresentado tem como<br />

proposta reunir estudantes e pesquisadores para divulgação e <strong>de</strong>bates sobre os resultados <strong>de</strong><br />

pesquisa, estas localizadas na relação <strong>História</strong> e Linguagens (literatura, cinema, fotografia,<br />

música, cordéis e afins), nos oferecendo ricas discussões sobre i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, gênero, memória,<br />

representações e relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.


CACAU E SUOR: ROMANCE PROLETÁRIO OU CENÁRIOS DA REVOLTA OU O<br />

VENENO E O ANTIDOTO<br />

84<br />

Maurício Dias<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia - DEDC – Campus X<br />

Graduado em Licenciatura em <strong>História</strong><br />

E-mail: His_toriaviva@hotmail.com.<br />

Jonathan Oliveira Molar<br />

Docente na Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia - DEDC - Campus X<br />

Doutorado em Educação pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná (UFPR)<br />

E-mail: jonathanmolar@hotmail.com.<br />

A presente pesquisa objetiva analisar o processo <strong>de</strong> construção do pensamento <strong>de</strong> Jorge<br />

Amado sobre a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional nas obras escritas entre as décadas <strong>de</strong> 1930-35, mais<br />

especificamente, visa compreen<strong>de</strong>r essa construção a partir das relações tecidas pelo autor<br />

com seu contexto histórico, reservando lugar central para as influências tanto políticas, sociais<br />

e, principalmente, culturais, i<strong>de</strong>ológicas e “científicas” em torno do campo intelectual do qual<br />

Jorge Amado estava integrado no início <strong>de</strong> sua carreira literária. Metodologicamente, este<br />

trabalho adotou a pesquisa bibliográfica e a representação social. Primeiramente foi feita uma<br />

investigação sobre as entrevistas concedidas pelo autor contemporaneamente a cada obra ou<br />

posteriores. Foram utilizadas também as <strong>de</strong>clarações, os discursos, as entrevistas concedidas e<br />

biografias para tentar enten<strong>de</strong>r a lógica <strong>de</strong> pensamento <strong>de</strong> Jorge Amado. Também recorreu-se<br />

aos estudos <strong>de</strong> Magalhães (2011), Meucci (2006), Goldstein (2003), Calixto (2011), Schwarcz<br />

(1994), Patricio (1999), Chalhoub (1998), Albuquerque Júnior (1999), Mello e Souza (2006),<br />

Souza (2008), Linhares (1990), Fausto (2006) e outros foram fundamentais na tessitura <strong>de</strong>sta<br />

pesquisa. O romance proletário era uma literatura “<strong>de</strong> luta e <strong>de</strong> revolta” e, “sem senso <strong>de</strong><br />

imoralida<strong>de</strong>”, <strong>de</strong>veria fixar “vidas miseráveis sem pieda<strong>de</strong>, mas com revolta”, <strong>de</strong>sta forma,<br />

esta tipologia literária tomava para si uma função inconfundível, uma necessida<strong>de</strong>, qual seja, a<br />

<strong>de</strong> “movimento <strong>de</strong> massa”, além disso, não sem um tom idílico e i<strong>de</strong>alizado, Jorge Amado<br />

retomando o processo histórico <strong>de</strong> mistura étnico-cultural novamente legitima a miscigenação<br />

como repositória da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional baiana/brasileira. Para o autor, inclusive, <strong>de</strong>ssa<br />

mistura “mágica” entre as culturas e entre as raças é que o povo brasileiro encontraria forças<br />

para superar os problemas e a realida<strong>de</strong> terrível que a envolvia. Nesse sentido, a miscigenação<br />

além <strong>de</strong> possibilitar o apagamento das diferenças e a formação <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> multirracial<br />

seria, também, uma espécie <strong>de</strong> antidoto contra a miséria e opressão. A mistura é entendida<br />

como significante <strong>de</strong> nossa peculiarida<strong>de</strong> enquanto povo em relação às outras nações, pois,<br />

apesar da dor e <strong>de</strong> todo sofrimento porque passava o povo, ainda assim conseguiria sorrir, ser<br />

alegre, carnavalesco, alegórico, esperançoso, solidário, acolhedor, generoso.<br />

Palavras-chave: I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, Regionalismo, Literatura e <strong>História</strong>.


85<br />

OUTRAS LINGUAGENS NO ENSINO DE HISTÓRIA: A FOTOGRAFIA E A<br />

MEMÓRIA<br />

Cristiane Silva <strong>de</strong> Meireles Cardoso<br />

Espírito Santo–CEUNES/UFES<br />

Aluna especial <strong>de</strong> Mestrado em Ensino na Educação Básica na UFES<br />

E-mail: criscardosoicm@hotmail.com<br />

Ailton Pereira Morila<br />

Docente permanente do Mestrado Acadêmico em Ensino na Educação Básica<br />

Departamento <strong>de</strong> Educação e Ciências Humanas na CEUNES-UFES<br />

E-mail: apmorila@gmail.com<br />

O ensino <strong>de</strong> história tem sido foco <strong>de</strong> reflexão quanto a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> romper com uma<br />

metodologia que impõe atitu<strong>de</strong> passiva ao aluno, impedindo-o <strong>de</strong> atuar como sujeito do<br />

processo <strong>de</strong> sua aprendizagem. Os PCNs (1998) trazem o ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong> como um<br />

oportunizador <strong>de</strong> realização <strong>de</strong> cidadãos, estes tomando gosto pelo conhecimento, apren<strong>de</strong>ndo<br />

a apren<strong>de</strong>r. Auxiliando esse pressuposto, as fontes históricas ganharam <strong>de</strong>staque, aponta<br />

Ailton Morila (2012), e diz que a imagem e a fotografia vêm recebendo atenção <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

abertura proposta pelos Annales. Pinckler (2010) coloca que os avanços tecnológicos digitais<br />

prosseguiram a gran<strong>de</strong> velocida<strong>de</strong> e atualmente há utilização massiva <strong>de</strong>ssas novas técnicas e<br />

há <strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar a fotografia recurso visual, iconográfico midiático. Para Pinheiro e Soares<br />

(2011), a fotografia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu surgimento esteve a serviço da memória e da história, e em<br />

um fazer histórico baseado no cotidiano, o uso <strong>de</strong>ssa ferramenta possibilita o regaste e a<br />

preservação da memória. Chauí (2011) afirma que a memória é a evocação do passado e<br />

vivemos num tempo em que a palavra <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m é mudança, a constância per<strong>de</strong>u espaço para<br />

o novo e o agora, imediatismo, portanto falar <strong>de</strong> memória é também falar <strong>de</strong> permanências e<br />

mudanças, além do impacto da socieda<strong>de</strong> em constante transformação. Boris Kossoy (1999)<br />

diz que os homens colecionam pedaços do passado em forma <strong>de</strong> imagens, tendo sempre na<br />

imagem o start da lembrança, da recordação. O estudo <strong>de</strong>sse tema traz importante<br />

contribuição quanto à inclusão das ferramentas midiáticas, principalmente as iconográficas e<br />

em particular a fotografia nas aulas <strong>de</strong> <strong>História</strong>, e apresenta como referencial teórico Le Goff<br />

(1924), Morila (2012), Pinckler (2010), Pinheiro e Soares (2011), Chauí (2011), Schmidt e<br />

Cainelli (2009), Boris Kossoy (1999) Freud (1901), entre outros. Esse Trabalho objetiva<br />

i<strong>de</strong>ntificar, através <strong>de</strong> pesquisa bibliográfica, entrevista semi-estruturada e pesquisa analisada<br />

através <strong>de</strong> métodos quantitativos e qualitativos, como a imagem iconográfica, especialmente a<br />

fotografia, possibilita a construção <strong>de</strong> memórias, discutindo o uso <strong>de</strong>stas na impressão dos<br />

sentidos e <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> eternizar o passado. Investigando o seu uso como fonte histórica para<br />

resgate <strong>de</strong> memórias e reconstrução do passado através <strong>de</strong> imagens, aperfeiçoa o olhar e aguça<br />

a imaginação reveladora da realida<strong>de</strong> contribuindo para uma interpretação que “<strong>de</strong>sperte e a<br />

imaginação e a motivação dos alunos” nas aulas <strong>de</strong> <strong>História</strong>.<br />

Palavras-Chave: <strong>História</strong>, Ensino, Memórias, Fotografia.


DISCUTINDO VIOLÊNCIA E RACISMO ÉTNICO ATRAVÉS DOS HQFORISMOS<br />

86<br />

Danielle Barros Silva Fortuna<br />

Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz/RJ)<br />

Mestre em Ciências, Doutoranda em Ensino <strong>de</strong> Biociências e Saú<strong>de</strong><br />

E-mail: danbiologa@gmail.com<br />

Edgar Silveira Franco<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Goiás (UFG)<br />

Pós-doutor em arte e tecnociência (UnB), Doutor em (USP)<br />

E-mail: ciberpaje@gmail.com<br />

De acordo com alguns dicionários <strong>de</strong> filosofia, aforismos são proposições que exprimem <strong>de</strong><br />

maneira sucinta uma verda<strong>de</strong>, uma regra ou uma máxima concernente à vida prática<br />

(ABBAGNANO, 2007). Na Grécia antiga, os aforismos eram utilizados para transmitir<br />

conhecimentos, uma vez que a base do ensino se estabelecia através do diálogo, sobretudo<br />

segundo o nascimento das i<strong>de</strong>ias, no pensamento socrático. Alguns pesquisadores têm feito<br />

aproximações entre aforismos e literatura, primeiro porque muitos autores literários os<br />

escrevem, segundo porque muitos aforismos possuem <strong>de</strong> fato uma estrutura narrativa. Neste<br />

trabalho estabelecemos uma ponte entre aforismos e histórias em quadrinhos. Em uma<br />

perspectiva mais ampla, a união <strong>de</strong> texto e imagem caracterizam as histórias em quadrinhos<br />

(GUIMARÃES, 2003). Os HQforismos constituem-se um subgênero <strong>de</strong> quadrinhos poéticosfilosóficos<br />

que consiste na experimentação da linguagem: a união <strong>de</strong> imagem e textos<br />

aforismáticos (BARROS; FRANCO, 2013). O trabalho tem objetivo <strong>de</strong> discutir o conceito <strong>de</strong><br />

HQforismos e apresentar experimentação quadrinhística em HQforismo postado na internet<br />

pela autora do trabalho tomando como temática o assassinato <strong>de</strong> Vitor Pinto, criança indígena<br />

da etnia Kaingang <strong>de</strong> 2 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, morto no colo da mãe enquanto amamentava, em<br />

Florianópolis (SC) em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2015, e sua baixa repercussão midiática. Partimos da<br />

hipótese <strong>de</strong> que a violência contra os povos tradicionais no Brasil e a construção <strong>de</strong> uma<br />

imagem negativa em torno dos índios têm sido motivada por racismo, agronegócio e pela<br />

indústria da produção animal. Metodologia: através da triangulação <strong>de</strong> métodos (MINAYO,<br />

2007) articulando estudo <strong>de</strong> caso (GIL, 2009) com experimentação criativa <strong>de</strong> HQforismo e<br />

pesquisa exploratória em sites <strong>de</strong> notícias no período <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro 2015 a fevereiro <strong>de</strong> 2016<br />

sobre o tema. Resultados: o HQforismo criado com a temática escolhida foi disponibilizado<br />

em blog, teve mais <strong>de</strong> 400 visualizações e em re<strong>de</strong> social atingiu 15.000 pessoas diretamente,<br />

e indiretamente através <strong>de</strong> compartilhamentos não foi possível obter o número <strong>de</strong> acessos. A<br />

interação do público através <strong>de</strong> comentários, em sua maioria, lamentava o ocorrido, a situação<br />

dos povos indígenas no Brasil, o racismo, mas, sobretudo ressaltando a baixa cobertura<br />

nacional na mídia e que o HQforismo era a primeira fonte <strong>de</strong> acesso à notícia. Consi<strong>de</strong>rações:<br />

Acreditamos que assim como as charges e cartuns promovem a expressão <strong>de</strong> críticas<br />

socioculturais e filosóficas, os HQforismos na mesma perspectiva, permitem instigar reflexão<br />

e problematizar aspectos da realida<strong>de</strong> histórica e cultural <strong>de</strong> grupos étnicos – bem como <strong>de</strong><br />

outros grupos em <strong>de</strong>svantagem social - através da experimentação quadrinhística,<br />

constituindo-se um espaço pertinente e potencial <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncia, crítica social e política.<br />

Palavras-chave: <strong>História</strong>s em Quadrinhos, Gênero Poético-filosófico, HQforismos.


“NÃO ENTREI NO CANGAÇO, ME BOTARAM NELE”: AS CANGACEIRAS E O<br />

INGRESSO INVOLUNTÁRIO NO BANDITISMO<br />

87<br />

Michele Soares Santos<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia - Campus XV<strong>II</strong>I<br />

Graduada em Licenciatura em <strong>História</strong><br />

E-mail: michelisoares@hotmail.com<br />

A comunicação ora apresentada é resultado do trabalho <strong>de</strong> conclusão <strong>de</strong> curso (TCC),<br />

intitulado De Maria Clódia a Maria Bonita: as representações sociais das cangaceiras no<br />

cinema brasileiro. O objetivo consiste em i<strong>de</strong>ntificar como suce<strong>de</strong>u o ingresso involuntário<br />

das mulheres no cangaço e a violência física e <strong>de</strong> gênero imposta a elas. Como embasamento<br />

teórico-metodológico a presente pesquisa conta com estudos <strong>de</strong> gênero e sobre as cangaceiras.<br />

Como resultado <strong>de</strong>ste trabalho são discutidas as relações <strong>de</strong>senvolvidas entre homens e<br />

mulheres, <strong>de</strong>ntro do grupo que <strong>de</strong>ram certo e as que foram mal sucedidas, o código <strong>de</strong> ética<br />

que foi instituído pelos lí<strong>de</strong>res, que reflete uma cultura machista, patriarcalista e, como os<br />

cangaceiros lidaram com as companheiras que transgrediram as normas do bando. Para além<br />

<strong>de</strong> discutir a violência que elas sofreram, este trabalho apresenta mulheres, que mesmo com<br />

todo o controle <strong>de</strong> gênero, mostraram-se insubordinadas quando infringiram o código civil da<br />

socieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> ética do cangaço, quando romperam intencionalmente ou não com o padrão<br />

estabelecido sobre o ser feminino. Esta pesquisa contribui nos estudos, relacionado às<br />

cangaceiras, visto que há uma gran<strong>de</strong> lacuna em produções bibliográficas e cinematografias<br />

sobre o tema, isto se <strong>de</strong>ve ao fato <strong>de</strong>ssas mulheres, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da forma <strong>de</strong> inserção<br />

no cangaço, terem representado uma ameaça ao código civil <strong>de</strong> 1916, que estipulava o i<strong>de</strong>al<br />

feminino e suas funções na socieda<strong>de</strong>. Conforme Caroline Santos (2010), tais mulheres<br />

romperam voluntariamente ou involuntariamente em parte com o padrão imposto pela<br />

socieda<strong>de</strong> que <strong>de</strong>limitava como função da mulher casar e ser mãe, tornando-se assim um<br />

perigo ao mo<strong>de</strong>lo feminino da época. Assim, a elas foram adicionados adjetivos negativos,<br />

quando representadas na imprensa da época e no cinema, ou relegadas à sombra dos<br />

cangaceiros, aparecendo sempre em segundo plano, sendo escassas pesquisas sobre as<br />

mesmas.<br />

Palavras-chave: cangaço, gênero, mulheres.


ARTIGOS<br />

88


A ATIVIDADE EXTRATIVISTA E O SURGIMENTO DO POVOADO DE TEIXEIRA<br />

DE FREITAS<br />

89<br />

Ailton <strong>de</strong> Oliveira Junior 1<br />

INTRODUÇÃO<br />

O presente trabalho aborda o surgimento urbano do atual município baiano <strong>de</strong> Teixeira<br />

<strong>de</strong> Freitas na década <strong>de</strong> 1950, quando um número consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> resi<strong>de</strong>ntes começou a se<br />

fixar na região, estimulados pelas ativida<strong>de</strong>s ma<strong>de</strong>ireiras (extrativismo), até o ponto do seu<br />

<strong>de</strong>senvolvimento urbano, <strong>de</strong>marcado pelo ano da inauguração da BR-101, em 1972, que<br />

inaugura uma nova dinâmica <strong>de</strong> crescimento inserida no plano <strong>de</strong>senvolvimentista nacional<br />

(GUERRA & SILVA, 2010).<br />

Buscamos enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong> que maneira as empresas <strong>de</strong> extração <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira nortearam a<br />

formação inicial do povoado <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas, quando a localida<strong>de</strong> ainda não era<br />

emancipada 2 , para compreen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> que formas o processo histórico inicial <strong>de</strong> urbanização<br />

marca o atual contexto municipal. Maior atenção é dada ao espaço nuclear da cida<strong>de</strong>,<br />

sobretudo on<strong>de</strong> hoje se localiza centro da cida<strong>de</strong> e seus arrabal<strong>de</strong>s. Trata-se do espaço<br />

geográfico on<strong>de</strong> o município <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas começou a se <strong>de</strong>senvolver em termos<br />

urbanos, com suas primeiras ruas, calçadas, bairros, casas comerciais e residências, espaços<br />

<strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong>, etc., e como este é percebido pela população resi<strong>de</strong>nte.<br />

Em termos mais amplos, no interior do processo <strong>de</strong> urbanização capitalista industrial,<br />

no qual Teixeira <strong>de</strong> Freitas se insere por meio da divisão socioespacial do trabalho, torna-se<br />

necessário problematizar certas questões, tais como: o sentido original das primeiras vias <strong>de</strong><br />

tráfego abertas na cida<strong>de</strong>; a existência <strong>de</strong> lugares <strong>de</strong>stinados ao lazer e a sociabilida<strong>de</strong>; a<br />

significação que os distintos moradores davam a tais espaços; quais alterações interferiram<br />

drasticamente na paisagem local; as insatisfações da população local; e os problemas<br />

urbanísticos mais citados à época.<br />

Tais questões são fundamentais para compreen<strong>de</strong>r, por meio da dimensão espaçotemporal<br />

do lugar, a dinâmica e a forma <strong>de</strong> reprodução geográfica dos meios necessários à<br />

acumulação <strong>de</strong> capital, para percebermos quais as formas que a dominação econômica,<br />

representada pelas empresas ma<strong>de</strong>ireiras, implantou no âmbito sociopolítico, no interior do<br />

processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento urbano em Teixeira <strong>de</strong> Freitas entre as décadas <strong>de</strong> 1950 e 1970.<br />

Compreen<strong>de</strong>r as inter-relações entre economia, política e socieda<strong>de</strong> na conformação<br />

do cenário urbano - levando-se em consi<strong>de</strong>ração que a localida<strong>de</strong> teve como vetor <strong>de</strong><br />

1<br />

Graduado em Licenciatura em <strong>História</strong> pela Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – UNEB, Departamento <strong>de</strong><br />

Educação – DEDC, Campus X.<br />

2<br />

A emancipação <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas dos municípios <strong>de</strong> Alcobaça e Caravelas se <strong>de</strong>u em 9 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1985,<br />

sob a lei 4452 (GUERRA & SILVA, 2010).


3<br />

O conceito <strong>de</strong> “capitalismo tardio” é esclarecido pelo economista brasileiro Paul Singer na apresentação que<br />

faz da obra máxima <strong>de</strong> Ernest Man<strong>de</strong>l, O Capitalismo Tardio (1982). De acordo com Singer, Man<strong>de</strong>l atribui ao<br />

capitalismo contemporâneo a condição <strong>de</strong> “[...] subfase da época imperialista. A periodização adotada distingue<br />

uma fase do capitalismo concorrencial (dividida em duas subfases) e uma fase <strong>de</strong> capitalismo monopolista ou<br />

imperialismo, dividida na subfase ‘clássica’ e na subfase atual do ‘capitalismo tardio’” (p. X). A subfase do<br />

capitalismo tardio inicia-se a partir da Terceira Revolução Tecnológica entre 1940/45, nos EUA e nas potências<br />

capitalistas. Essa terceira fase da revolução industrial ou tecnológica é distinguida pela automação eletrônica, ou<br />

90<br />

<strong>de</strong>senvolvimento inicial a ação <strong>de</strong> empresas <strong>de</strong> extração <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira - em meio ao contexto<br />

mais amplo <strong>de</strong> crescimento econômico nacional, <strong>de</strong>nominado período <strong>de</strong>senvolvimentista<br />

(FERREIRA, 2010), é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância, pois aponta mecanismos <strong>de</strong> exploração e<br />

opressão, indica espaços <strong>de</strong> resistência criados pelos moradores da localida<strong>de</strong>, bem como os<br />

limites e as possibilida<strong>de</strong>s do processo local <strong>de</strong> urbanização.<br />

A INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA E O REARRANJO SOCIOESPAL<br />

O Brasil dos anos 1950/60 passava por uma retomada do processo <strong>de</strong> industrialização,<br />

em curso <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o período Vargas (1930-45), acompanhando o forte crescimento econômico<br />

do pós Segunda Guerra Mundial (HOBSBAWM, 1995). Nesse contexto, vários centros<br />

urbanos se <strong>de</strong>senvolvem, no intuito <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r as <strong>de</strong>mandas da industrialização. Destaca-se<br />

nesse processo o estado <strong>de</strong> São Paulo, a partir <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se consolidou posições regionais<br />

diferenciadas, em que cada “centro urbano” buscou encontrar sua “posição” <strong>de</strong>ntro da<br />

“divisão territorial do trabalho”, conceito utilizado por Maria Sposito em seu livro<br />

Capitalismo e Urbanização (2012). Nesse sentido:<br />

A crescente especialização funcional que a industrialização provocou, e a ampliação<br />

dos mercados que sua produção em série exigiu, ao fortalecer a articulação entre os<br />

lugares, e principalmente entre as cida<strong>de</strong>s, reforçou a divisão social do trabalho, que<br />

se manifestou a nível espacial – a divisão territorial do trabalho. Ou seja, os lugares<br />

também se especializam funcionalmente, à medida que transformações estruturais<br />

foram se dando a nível da socieda<strong>de</strong>; o espaço foi sendo produzido socialmente para<br />

aten<strong>de</strong>r esta nova realida<strong>de</strong> – a <strong>de</strong> uma economia com forte base no<br />

<strong>de</strong>senvolvimento industrial (SPOSITO, 2012, p. 53-54).<br />

O aumento populacional mundial após novo surto <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento industrial na<br />

segunda meta<strong>de</strong> do século XX acelerou o crescimento <strong>de</strong> vários aglomerados urbanos<br />

(HOBSBAWM, 1995). A chegada <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pessoas, atraídas pelo<br />

<strong>de</strong>senvolvimento econômico e <strong>de</strong> melhores condições para <strong>de</strong> vida e possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

realizações pessoais, gerou uma vasta improvisação na ocupação do espaço urbano. Os<br />

recém-chegados iam se acumulando on<strong>de</strong> encontravam espaço (MUMFORD, 2008). Esse<br />

alentado crescimento urbano, segundo Sposito (2012), iniciou-se nas economias capitalistas<br />

ao norte do globo, Grã-Bretanha, França, Holanda, EUA, entre outras, após a Revolução<br />

Industrial no século XV<strong>II</strong>I. No Brasil, ocorreu na segunda meta<strong>de</strong> do século XX, sob o<br />

período do capitalismo tardio 3 , na conjuntura das políticas nacionais <strong>de</strong>senvolvimentistas


seja, a “regulagem <strong>de</strong> máquinas por aparelhos eletrônicos” (MANDEL, E. O Capitalismo Tardio. São Paulo:<br />

Abril Cultural. 1982. p. X).<br />

91<br />

iniciadas no governo <strong>de</strong> Juscelino Kubitschek (1956-1961) e levadas à adiante durante a<br />

ditadura civil-militar (1964-1985) (SANTOS & SILVEIRA, 2008).<br />

A<strong>de</strong>mais, além da crescente instalação das indústrias nos centros urbanos, houve<br />

também uma tendência à localização <strong>de</strong> indústrias nas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> suas fontes <strong>de</strong><br />

energia, matérias-primas e meios <strong>de</strong> transporte. Para Sposito (2012, p.52), “quando isto<br />

ocorreu, a indústria gerou a cida<strong>de</strong>”.<br />

A indústria tornou-se, também no Brasil, a gran<strong>de</strong> força impulsionadora do processo<br />

<strong>de</strong> urbanização, a <strong>de</strong>speito da influência incontestável do setor primário na produção da<br />

riqueza nacional, sobretudo nas áreas menos urbanizadas do país, como é o caso do Extremo<br />

Sul baiano (CERQUEIRA NETO, 2013).<br />

O INÍCIO DA ATIVIDADE MADEIREIRA<br />

Localizada no Extremo Sul do estado da Bahia, próximo às divisas dos estados <strong>de</strong><br />

Minas Gerais e Espírito Santo, situa-se o município <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas. Este, elevado à<br />

condição <strong>de</strong> município em 1985, possui atualmente vários problemas ligados à infraestrutura<br />

urbana: muitas ruelas, aglomerados humanos <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nados, precária sinalização <strong>de</strong> trânsito,<br />

pavimentação insuficiente, sistema ina<strong>de</strong>quado para drenagem <strong>de</strong> água, ausência <strong>de</strong> cobertura<br />

a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> saneamento básico, parca cobertura vegetal urbana, falta <strong>de</strong> espaços e<br />

equipamentos públicos <strong>de</strong> lazer e para locomoção segura dos transeuntes, aproveitamento<br />

insuficiente das praças públicas, problema no uso do solo, <strong>de</strong>ntre inúmeros outros dilemas<br />

urbanísticos. Em geral, tais problemas são oriundos <strong>de</strong> um rápido crescimento urbano<br />

(MUMFORD, 2008), somado a expressa incompetência e <strong>de</strong>scaso dos po<strong>de</strong>res públicos<br />

municipais para com as <strong>de</strong>mandas crescentes da população local. Por outro lado, esses<br />

fenômenos são resultantes das contradições sociais próprias do modo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

orientado pela <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> capital no modo <strong>de</strong> produção e reprodução capitalista<br />

(CASTELLS, 1983).<br />

O quadro urbanístico sumariado acima apresenta a dinâmica do território em que hoje<br />

está situado o município Teixeira <strong>de</strong> Freitas, na condição <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>. Na região on<strong>de</strong> se<br />

<strong>de</strong>senvolveu o povoado <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas, a lógica do capitalismo industrial, que já<br />

impulsionava o <strong>de</strong>senvolvimento econômico no âmbito nacional e regional, ainda não tinha se<br />

instalado até a década <strong>de</strong> 1960. A região do Extremo Sul baiano era ainda predominantemente<br />

rural, tendo gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> seu território coberto por vegetação nativa (Mata Atlântica), com<br />

exceção do litoral - em que a presença europeia, remontada ao período colonial brasileiro, já<br />

tinha iniciado a ocupação e urbanização <strong>de</strong> alguns centros, como Porto Seguro, Prado,<br />

Alcobaça e Caravelas (PRADO JÚNIOR, 2011).


92<br />

FIGURA 1: Mapa da área da Mata Atlântica no Extremo Sul da Bahia (1945).<br />

Fonte: AMORIM, R. R; OLIVEIRA, R. C. Degradação ambiental e novas territorialida<strong>de</strong>s no extremo sul da<br />

Bahia. Caminhos <strong>de</strong> Geografia. Uberlândia, V.8, n. 22, p. 18-37, setembro <strong>de</strong> 2007.p 28.<br />

A ocupação do território, marcada, no primeiro momento, pela ausência <strong>de</strong><br />

investimento <strong>de</strong> capital, não seguia um plano estabelecido pelos interesses econômicos<br />

regionais (Bahia) e nacionais (Brasil) em âmbito local, mas se dava <strong>de</strong> forma “espontânea”,<br />

nem mesmo havia, nesse primeiro momento, um propósito consciente <strong>de</strong> urbanização da<br />

região.<br />

Em entrevistas feitas por Ferreira (2010), em sua monografia, intitulada A vida<br />

privada <strong>de</strong> negros pioneiros no povoamento <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas na década <strong>de</strong> 1960, a<br />

historiadora <strong>de</strong>staca que antes da abertura da primeira estrada para escoamento da nascente<br />

produção extrativista, o que se tinha é uma gran<strong>de</strong> área <strong>de</strong> plantação <strong>de</strong> mandioca, mais<br />

especificamente junto a proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Hermenegildo Félix <strong>de</strong> Almeida. Frei Elias Hooij<br />

(2011) remonta ao início do povoado ao ano <strong>de</strong> 1948, quando, segundo ele, chega Manuel<br />

Ferreira <strong>de</strong> Duque <strong>de</strong> Caxias, o “Arriba-Saia”, construindo, então, duas casas no meio da mata<br />

virgem.<br />

Antes <strong>de</strong> 1950 já existiam algumas proprieda<strong>de</strong>s rurais na região, em gran<strong>de</strong> parte<br />

pertencentes às pessoas negras, obtendo <strong>de</strong>staque a fazenda Nova América, adquirida na<br />

década <strong>de</strong> 1920, por José Felix <strong>de</strong> Freitas Correa. Outra que merece ser citada é a Fazenda<br />

Cascata, situada às margens do rio Alcobaça, próxima a BA-290 (HOOIJ, 2011). Esta,<br />

diferentemente, era <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> portugueses adquirida pelo Coronel<br />

Joaquim Muniz <strong>de</strong> Almeida na segunda meta<strong>de</strong> do século XIX.


93<br />

A partir <strong>de</strong> 1950, em meio ao novo processo <strong>de</strong> industrialização do Brasil (SANTOS<br />

& SILVEIRA, 2008), é aberta a BR-5, precursora da atual BR-101. Esta estrada ligava a<br />

Bahia ao estado do Espírito Santo. A BR-5 influenciou o crescimento inicial da ativida<strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ireira (AMORIM & OLIVEIRA, 2007).<br />

Antes da abertura da rodovia BR-5 e das estradas abertas pela ativida<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ireira,<br />

existiam apenas picadas no meio da mata, aberta por moradores rurais. A própria BR-5 foi<br />

uma extensão <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>ssas estradas, a chamada BA-02 (OLIVEIRA JUNIOR, 2015).<br />

Possuindo gran<strong>de</strong> reserva <strong>de</strong> mata nativa, portanto muita “ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> lei”, com a BR-5<br />

houve maior facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escoamento das ma<strong>de</strong>iras. Gradativamente, a região passa a atrair<br />

empresas, iniciando o ciclo da ativida<strong>de</strong> extrativista ma<strong>de</strong>ireira. O empresário Eleosippo<br />

Cunha é o primeiro ma<strong>de</strong>ireiro a chegar, explorando as terras no território on<strong>de</strong> futuramente<br />

se surgirá o município <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas.<br />

O início da ativida<strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ireira trouxe trabalhadores à região, gran<strong>de</strong> parte vindos dos<br />

estados do Espírito Santo e Minas Gerais. A abertura das primeiras estradas <strong>de</strong> escoamento <strong>de</strong><br />

produtos, como já foi dito, ligou o comercinho dos pretos (um dos primeiros nomes pelo qual<br />

o povoado era conhecido) aos municípios circunvizinhos e à pequenos aglomerados urbanos<br />

nas proximida<strong>de</strong>s.<br />

A Praça Castro Alves, conhecida popularmente como Praça dos Leões, po<strong>de</strong> ser<br />

consi<strong>de</strong>rada o marco zero do município, pois, segundo Oliveira Junior (2015), foi on<strong>de</strong> se<br />

montou o primeiro acampamento da empresa <strong>de</strong> Eleosippo Cunha. Tal acampamento é<br />

significativo, pois dá início ao crescimento do povoado em termos urbanos pela primeira vez.<br />

Sobre o fator <strong>de</strong> atração gerado pelas oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho, Singer (2002)<br />

argumenta que a <strong>de</strong>manda por trabalho não po<strong>de</strong> ser entendida como sendo restrita a ativida<strong>de</strong><br />

produtiva, nesse caso a ativida<strong>de</strong> extrativista, pois com o aumento populacional gerado pela<br />

imigração há a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> expansão dos serviços.<br />

Historicamente a instalação <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s produtivas em qualquer localida<strong>de</strong> ten<strong>de</strong> a<br />

atrair pessoas às cercanias. O aumento do número da população faz crescer a <strong>de</strong>manda por<br />

bens e serviços (sobretudo o consumo). Surgem escolas, hospitais, feiras, comércio varejista,<br />

etc. A elevação da renda e do consumo passa a ser um atrativo para novas ativida<strong>de</strong>s<br />

produtivas que, suprindo essas novas <strong>de</strong>mandas, incrementam a diversificação da economia<br />

local. Os imigrantes que não se inserem na economia urbana, muitas vezes por não aten<strong>de</strong>rem<br />

as exigências do mercado, normalmente passam a reproduzir na cida<strong>de</strong> a lógica da “economia<br />

marginal” por meio <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s autônomas, como ven<strong>de</strong>dores ambulantes, domésticas,<br />

carregadores, etc. (SINGER, 2002).<br />

A PRIMEIRAS ESTRADAS E O DELINEAMENTO URBANO DO POVOADO


94<br />

Com o início da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> extração da ma<strong>de</strong>ireira, logo se fez necessário abrir vias<br />

para o escoamento da mercadoria. Para Teixeira <strong>de</strong> Freitas essas estradas foram abertas<br />

inicialmente por Eleosippo Cunha, já na década <strong>de</strong> 1950.<br />

A primeira estrada aberta, que ainda permanece com o mesmo traçado inicial,<br />

compreen<strong>de</strong> um trecho da Avenida Getúlio Vargas (BA-290), entrando na Rua Mauá,<br />

passando pela Praça dos Leões, seguindo pela Rua Princesa Isabel, Rua Lomanto Júnior,<br />

Avenida São Paulo até o seu final, on<strong>de</strong> a estrada se encerra encontrando com a BR-5, atual<br />

BR-101 (OLIVEIRA JUNIOR, 2015).<br />

Após a abertura da primeira estrada cortando o povoado, via <strong>de</strong> transporte <strong>de</strong><br />

mercadoria <strong>de</strong> Barcelona para o porto <strong>de</strong> Santa Luzia, em Nova Viçosa, a empresa <strong>de</strong><br />

Eleosippo Cunha abriu uma segunda estrada, <strong>de</strong>sta vez ligando a primeira estrada à Fazenda<br />

Cascata, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> já existia uma estrada ligando a proprieda<strong>de</strong> à cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Caravelas – trata-se<br />

da atual BA-696 (OLIVEIRA JUNIOR, 2015).<br />

FIGURA 2: Mapa atual do município <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas, com o traçado da primeira e da segunda<br />

estrada aberta por Eleosippo Cunha (<strong>de</strong>stacada em vermelho e preto, respectivamente, no mapa)<br />

Fonte: OLIVEIRA JUNIOR, A. Ocupação e <strong>de</strong>senvolvimento do espaço urbano teixeirense (1950 – 1970).<br />

Teixeira <strong>de</strong> Freitas, 2015. Monografia apresentada ao Colegiado <strong>de</strong> <strong>História</strong> do DEDC/Campus X da UNEB.<br />

O mapa acima <strong>de</strong>staca as duas estradas abertas pela ma<strong>de</strong>ireira <strong>de</strong> Eleosippo Cunha. A<br />

primeira, <strong>de</strong>stacada em vermelho, e a segunda, <strong>de</strong>stacada em preto. É possível visualizar o<br />

ponto <strong>de</strong> encontro das duas estradas, região on<strong>de</strong> se fixaram os primeiros moradores. A<br />

estradas posteriormente passam a <strong>de</strong>limitar os limites entre os territórios pertencentes aos<br />

municípios <strong>de</strong> Alcobaça e Caravelas (OLIVEIRA JUNIOR, 2015).<br />

A empresa <strong>de</strong> Eleosippo Cunha foi a primeira a explorar o território, mas sua ativida<strong>de</strong><br />

somente se iniciou após a abertura das gran<strong>de</strong>s estradas locais, a BA-2 e posteriormente a BR-


95<br />

5. Com o passar do tempo começam a chegar os capixabas à região, interessados na extração<br />

da ma<strong>de</strong>ira. São eles os introdutores das serrarias.<br />

Para além do interesse nas ma<strong>de</strong>iras nobres, a abertura <strong>de</strong> estradas era motivada por<br />

incentivos fiscais cedidos pelo po<strong>de</strong>r público. Tais concessões não se limitaram ao empresário<br />

Eleosippo Cunha. Várias empresas posteriormente se fixam na região, expandido a<br />

exploração da ma<strong>de</strong>ira tendo também isenção fiscal (OLIVEIRA JUNIOR, 2015).<br />

Percebe-se então o interesse do estado na região do Extremo Sul baiano, no qual se<br />

insere Teixeira <strong>de</strong> Freitas, embora não preocupado por sua urbanização. Oferecer o benefício<br />

<strong>de</strong> isenção <strong>de</strong> imposto <strong>de</strong> renda às empresas <strong>de</strong> extração <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira para que estas se instalem<br />

na região visava o suprimento das <strong>de</strong>mandas dos gran<strong>de</strong>s centros econômicos do país (Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte), mostrando o papel do Extremo Sul da Bahia na divisão<br />

territorial do trabalho, ao qual o povoado <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas era fornecedor <strong>de</strong> “ma<strong>de</strong>ira<br />

nobre” para polos industriais em outros estados.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

A ativida<strong>de</strong> econômica extrativista, como se viu, é quem fornece os contornos do<br />

avanço urbano inicial. Os incentivos fiscais cedidos pela prefeitura <strong>de</strong> Alcobaça em troca da<br />

abertura das estradas indica o interesse do po<strong>de</strong>r público no <strong>de</strong>senvolvimento do comércio no<br />

Extremo Sul da Bahia, pois isso implicaria em elevação da arrecadação. Mesmo sendo uma<br />

região rural e não industrializada, é a lógica do capital que impulsiona a ação das empresas<br />

ma<strong>de</strong>ireiras e, consequentemente, o <strong>de</strong>senvolvimento urbano da futura Teixeira <strong>de</strong> Freitas.<br />

Desta maneira, não se po<strong>de</strong> analisar o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento urbano <strong>de</strong><br />

Teixeira <strong>de</strong> Freitas sem levar em conta o histórico do seu caráter extrativista predatório e<br />

mercantil, não <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> incorporar-se espontaneamente à lógica capitalista industrial,<br />

quando da participação <strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong> no circuito da “divisão territorial do trabalho” típica do<br />

período <strong>de</strong>senvolvimentista do Brasil (anos 1950-80).<br />

REFERÊNCIAS<br />

AMORIM, R. R; OLIVEIRA, R. C. Degradação ambiental e novas territorialida<strong>de</strong>s no<br />

extremo sul da Bahia. Caminhos <strong>de</strong> Geografia. Uberlândia, V.8, n. 22, p. 18-37, setembro <strong>de</strong><br />

2007.<br />

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CERQUEIRA NETO, S. P. G. Construção geográfica do Extremo Sul da Bahia. Revista <strong>de</strong><br />

Geografia. Pernambuco, Vol. 30, Nº 1, p. 243-263, 2013.<br />

FERRARI JÚNIOR, J. C. Limites e potencialida<strong>de</strong>s do planejamento urbano: uma discussão<br />

sobre os pilares e aspectos recentes da organização espacial das cida<strong>de</strong>s brasileiras. Estudos<br />

Geográficos. Rio Claro, V. 2, n. 1, p. 15-28, junho <strong>de</strong> 2004.


4<br />

Mestre em Letras – Profletras / UESC. Membro do Grupo <strong>de</strong> Pesquisa Ensino <strong>de</strong> Língua Materna e Estrangeira<br />

– UESC. Projeto financiado pela CAPES. Esse trabalho é uma reconstituição do trabalho <strong>de</strong> conclusão <strong>de</strong> curso<br />

da especialização em <strong>História</strong> e Cultura Afro-Brasileira pela Faculda<strong>de</strong> Vale do Cricaré. E-mail:<br />

bug7raio@gmail.com<br />

96<br />

FERREIRA, S. T. A vida privada <strong>de</strong> negros pioneiros no povoamento <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong><br />

Freitas na década <strong>de</strong> 1960. Teixeira <strong>de</strong> Freitas, 2010. Monografia apresentada ao Colegiado<br />

<strong>de</strong> <strong>História</strong> do DEDC/Campus X da UNEB.<br />

GUERRA, J. C. P.; SILVA, L. S. O processo <strong>de</strong> emancipação política <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong><br />

Freitas (1972-1985). Teixeira <strong>de</strong> Freitas, 2010. Monografia apresentada ao Colegiado <strong>de</strong><br />

<strong>História</strong> do DEDC/Campus X da UNEB.<br />

HOBSBAWM, E. Era dos extremos: o breve século XX: 1914-1991. 2.ed. São Paulo:<br />

Companhia das Letras, 1995.<br />

HOOIJ, E. Os “Desbravadores” do extremo sul da Bahia: história da presença franciscana<br />

nessa região – raízes e frutos. Belo Horizonte: Província Santa Cruz, 2011.<br />

LEFEBVRE, H. O direito à cida<strong>de</strong>. 5.ed. São Paulo: Centauro, 2008.<br />

MANDEL, E. O capitalismo tardio. São Paulo: Abril Cultural, 1982.<br />

MARX, K. “A Assim Chamada Acumulação Primitiva”. In. O Capital. São Paulo: Nova<br />

Cultural, 1996. Vol. 1. p. 339-381.<br />

MUMFORD, L. A cida<strong>de</strong> na história: suas origens, transformações e perspectivas. 5.ed. São<br />

Paulo: Martins Fontes, 2008.<br />

OLIVEIRA JUNIOR, A. Ocupação e <strong>de</strong>senvolvimento do espaço urbano teixeirense (1950<br />

– 1970). Teixeira <strong>de</strong> Freitas, 2015. Monografia apresentada ao Colegiado <strong>de</strong> <strong>História</strong> do<br />

DEDC/Campus X da UNEB.<br />

PINTO, A. P. A. Da “pauzueira” ao mercadão: Embates da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> na feira <strong>de</strong> sábado<br />

<strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas – BA (1985 -2000). Teixeira <strong>de</strong> Freitas, 2014. Monografia apresentada<br />

ao Colegiado <strong>de</strong> <strong>História</strong> DEDC/Campus X da UNEB.<br />

PRADO JÚNIOR, C. Formação do Brasil Contemporâneo: colônia; entrevista Fernando<br />

Novais; posfácio Bernardo Ricupero. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.<br />

ROLNIK, R.O que é cida<strong>de</strong>. São Paulo: Brasiliense, 1995.<br />

SANTOS, M.; SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e socieda<strong>de</strong> no início do século XXI.<br />

11.ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Record, 2008.<br />

SINGER, P. Economia política da urbanização. 2.ed. São Paulo: Contexto, 2002.<br />

SPOSITO, M. E. B. Capitalismo e Urbanização. 16.ed. São Paulo: Contexto, 2012.<br />

A FIGURA DOS PRETOS-VELHOS: REPRESENTAÇÕES ENTRE LINGUAGEM E<br />

MEMÓRIA<br />

Bougleux Bomjardim da Silva Carmo 4<br />

INTRODUÇÃO


97<br />

O presente trabalho visa discorrer acerca das representações da figura do preto-velho,<br />

para constituição <strong>de</strong> um panorama <strong>de</strong> um dos ícones relativos às manifestações históricas,<br />

culturais e religiosas da matriz africana no Brasil, como ponto <strong>de</strong> partida para discussão <strong>de</strong><br />

questões <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e memória centradas na linguagem.<br />

Em termos teóricos são revisitados precipuamente estudos acerca dos elementos<br />

religiosos e históricos que envolvem a representativida<strong>de</strong> e simbolismo dos pretos-velhos,<br />

conforme as pesquisas <strong>de</strong> Santos (1999) e sobre conceitos fundamentais <strong>de</strong> memória e<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> em Souza (2007) e André (2008).<br />

Dessa forma, planificamos esse artigo em três momentos: no primeiro expomos em<br />

breves linhas a questão da aculturação e da subjetivação do negro. No segundo, <strong>de</strong>lineamos as<br />

representações simbólicas, históricas e religiosas da figura do preto-velho nas diversas<br />

correntes religiosas. Finalmente, <strong>de</strong>stacamos a linguagem e seu papel na construção das<br />

representações, em sua caracterização e relação semiótica, social, cultural e religiosa.<br />

1 ACULTURAÇÃO E SUBJETIVIDADE<br />

Quais memórias culturais trazem os pretos-velhos em seu acervo linguageiro, agora<br />

aculturados no vernáculo português? Linguística e geograficamente é correto afirmar que a<br />

Bahia constituiu-se o primeiro locus <strong>de</strong> rupturas e ressignificações, como palco laboratorial <strong>de</strong><br />

transformações linguísticas, por meio também dos candomblés como estratégia <strong>de</strong><br />

perpetuação e/ou resistência <strong>de</strong> seus valores culturais contemporâneos, como sobrevivência à<br />

opressão e reclusão escravocrata (MINGA, 2012). Sob essa ótica, afirmamos que essa<br />

transformação é uma via <strong>de</strong> mão dupla, na qual a língua transformou os sujeitos africanos e<br />

esses a língua colonizadora. Toda essa transformação se efetiva em um lento processo <strong>de</strong><br />

apagamento <strong>de</strong> memórias culturais, em gran<strong>de</strong> medida, politicamente motivado, fazendo com<br />

que gradativamente o africano absorva a língua colonizadora pela quebra das linhagens<br />

biológicas, étnicas e costumes originais (PRANDI, 2000). Entretanto, o traço religioso é o<br />

único item institucional, que sobrevive a esse processo <strong>de</strong> apagamento, pois todos os traços<br />

culturais originais foram se diluindo nos novos rearranjos étnicos, geográficos e <strong>de</strong><br />

aculturação promovidos pelos colonizadores, instaurando-se uma i<strong>de</strong>ntização menos africana<br />

e mais brasileira como forma <strong>de</strong> integrar-se à nova condição.<br />

Além disso, a questão da aculturação e ressignificação i<strong>de</strong>ntitária contribuíram para<br />

uma nova configuração <strong>de</strong>ssas figuras, diluídas da origem e apropriadas por outras formas <strong>de</strong><br />

memória, como resultado da criativida<strong>de</strong> popular que em seu curso elabora e propagam suas<br />

versões, histórias, personagens, hábitos e lembranças divergentes das do colonizador e<br />

assumem sua legitimida<strong>de</strong>, na qual o formato dos cultos <strong>de</strong> várias linhas religiosas é


98<br />

manipulado pelos <strong>de</strong>votos numa bricolagem <strong>de</strong> doutrinas, histórias e significados <strong>de</strong>sse<br />

período da escravidão (SOUZA, 2007).<br />

Em síntese, a conotação mítico-religiosa dos pretos-velhos é construída no contexto<br />

histórico afro-brasileiro, em meio às rupturas culturais e étnicas da escravidão, na resistência e<br />

recriação <strong>de</strong> suas crenças e, <strong>de</strong>ssa maneira, nos domínios da memorialida<strong>de</strong> popular esses<br />

personagens assumem uma função espiritual, em um lento processo <strong>de</strong> subjetivação, ou seja,<br />

ao passo que os negros escravizados trazidos e já os nascidos no Brasil são obrigados a<br />

reconstituírem-se enquanto ser, enquanto humanida<strong>de</strong>. Para Prandi (1996) o surgimento dos<br />

cultos afro-brasileiros é tardio, pelas últimas levas <strong>de</strong> escravizados às cida<strong>de</strong>s em meados do<br />

século XIX e é nos primeiros centros urbanos, pela possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maior contato e interação,<br />

que os negros escravizados formam os primeiros cultos organizados. Todavia, essa nova<br />

subjetivação se dá em meio a representações negativas do colonizador num contínuo<br />

tratamento <strong>de</strong> estigmatização, apesar da popularida<strong>de</strong> (SOUZA, 2007).<br />

Essa estigmatização ainda é presente, construída sob a perspectiva da “invisibilização”<br />

e branqueamento do afro<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte. Segundo André (2008) não foram poucas as teorias,<br />

comportamentos e práticas institucionais que construíram representações sociais negativas do<br />

negro, que construíram processos <strong>de</strong> exclusão sistematizados em todos os âmbitos sociais. A<br />

nosso ver, tal contexto tem suas raízes no chamado etnocentrismo, fenômeno relacionado a<br />

não aceitação e <strong>de</strong>preciação dos sistemas culturais do outro (LARAIA, 2007), já que o<br />

homem enxerga o mundo conforme seus padrões culturais.<br />

É histórico e institucional esse fenômeno no Brasil no comportamento etnocêntrico do<br />

colonizador e da anulação da alterida<strong>de</strong>. Assim, se na escravidão os negros eram apenas<br />

mercadoria, após ela <strong>de</strong>u-se um agudo processo <strong>de</strong> estratificação relegando o liberto à<br />

marginalida<strong>de</strong> e exclusão social, <strong>de</strong>ssa forma “o negro foi renomeado com os mesmos<br />

predicados <strong>de</strong> antes, agora revisitados com ênfase: preguiçoso, vadio, criminoso, alcoólatra,<br />

<strong>de</strong>sgarrado, macumbeiro, assinalando negativamente a sua situação social” (ANDRÉ, 2008, p.<br />

141). Todos os padrões afro<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes passam a ser taxados <strong>de</strong> baixo nível herdados da<br />

“África selvagem”.<br />

Tendo em conta esses fatores, em relação aos pretos-velhos temos dois efeitos<br />

opostos: a semiotização mítico-religiosa construída no seio da cultura popular, integrando-se<br />

aos padrões religiosos afro-brasileiros e, ao mesmo tempo, a representação negativa marcada<br />

pelo processo concomitante <strong>de</strong> estigmatização no contexto exterior à religiosida<strong>de</strong>.<br />

2 A FIGURA DOS PRETOS-VELHOS: Representações<br />

Nessa seção apresentamos uma silhueta das representações simbólico-culturais <strong>de</strong><br />

nossos personagens. Essas simbologias não são superpostas, mas apresentam contatos e


99<br />

distanciamentos, pelos quais aspectos da subjetivação dos pretos-velhos se mantiveram, por<br />

meio da bricolagem e releituras. Essa condição é específica da religiosida<strong>de</strong> afro-brasileira.<br />

De fato, as religiões africanas em si mesmas não têm nessas figuras como elemento <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>voção e culto. De fato, no que tange à África subsaariana, diferentemente da influência<br />

islâmica e da cultura egípcia antiga, as religiões tribais tem nos orixás, sejam familiares ou<br />

tribais, suas referências mítico-religiosas, relacionadas às forças da natureza, seus ritos e<br />

xamanismo peculiares, além <strong>de</strong> uma constituição mítica seguindo sua própria lógica e<br />

padrões.<br />

Na tradição popular católica, po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>screver um preto-velho conforme os seguintes<br />

traços: sentado num tronco embaixo <strong>de</strong> alguma árvore, vestido com roupas simples, talvez<br />

brancas, fumando seu cachimbo ou fumo <strong>de</strong> rolo. Sua pele muito negra, “negro preto”. Seu<br />

nome? João, José, Joaquim, Cipriano, etc., cansado da lida na roça, contador <strong>de</strong> histórias,<br />

prepara chás, ervas e outros benzimentos para ajudar curar alguém que procura sua ajuda. A<br />

voz rouca, com um linguajar brejeiro, coluna curvada, ritmo lento e portador <strong>de</strong> uma<br />

sabedoria que não prescin<strong>de</strong> <strong>de</strong> livros e estudos. Comumente chamado <strong>de</strong> pai ou vovô, tem<br />

um caráter resignado, benevolente, astuto, conciliador e conselheiro. É um homem típico <strong>de</strong><br />

norte a sul do país, escravo resignado em sua condição (SANTOS, 2007).<br />

Até adquirir essa conotação religiosa, a socieda<strong>de</strong> brasileira, nos afirma Santos (2007)<br />

tratava a cor da pele em várias superposições classificatórias, <strong>de</strong>ntre elas os mais “pretos”<br />

eram tidos como pessoas <strong>de</strong> má reputação, má vida, <strong>de</strong> conotações muito negativas ratificadas<br />

pela cultura judaico-cristã que opunha o branco a tudo o que é bom e o preto a tudo que é<br />

mau.<br />

Nessa oposição, o folclore popular o absorveu dando sempre um caráter <strong>de</strong>preciativo e<br />

estereotipado do “negro preto”. Fenômeno relacionado ao permanente branqueamento que a<br />

socieda<strong>de</strong> faz como consequência do etnocentrismo e aceitação social. Nesse sentido, “a<br />

superstição da cor preta, a que também se ligam as imagens do Preto Velho, é revestida <strong>de</strong> um<br />

forte sentido religioso que fun<strong>de</strong> o negro ao <strong>de</strong>mônio e à malda<strong>de</strong>, e a cor branca à beleza e à<br />

bonda<strong>de</strong>” (SANTOS, 2007, p. 164).<br />

Somente mais tar<strong>de</strong>, a “alma” <strong>de</strong>sses pretos é “branqueada” surgindo, por exemplo, o<br />

mito <strong>de</strong> Pai João, na sua passivida<strong>de</strong> frente à escravização, afetivida<strong>de</strong> e respeito aos valores<br />

culturais do branco, em consonância com o sistema colonial (SANTOS, 2007). Ramos 5<br />

(1954) apud Santos (2007, p. 165) nos dá uma breve <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>ssa simbologia enquanto<br />

mistura <strong>de</strong> várias personagens como “o griot das selvas africanas, guardador e transmissor da<br />

tradição, o velho escravo conhecedor das crônicas <strong>de</strong> família, o bardo, o músico cantador <strong>de</strong><br />

melopeias nostálgicas”, <strong>de</strong>ntre outros.<br />

5<br />

RAMOS, Arthur. O Folclore Negro do Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ed Carioca, 1954.


100<br />

Simultaneamente, o processo <strong>de</strong> cristianização promovido pelo catolicismo<br />

colonizador <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início tratou <strong>de</strong> acomodar as crenças africanas à exclusão ao passo que<br />

fez com que os traços da negritu<strong>de</strong> fossem incorporados à crença dos santos, como forma <strong>de</strong><br />

acolhimento e aculturação, ou seja, perceberam na cor e na martirização uma ponte para<br />

evangelização e dominação religiosa, já que a vida dos santos forneceu um mo<strong>de</strong>lo para<br />

cristianização do negro, pela qual o sofrimento se constitui passo para ascensão espiritual e<br />

divinização, inclusive na criação <strong>de</strong> irmanda<strong>de</strong>s e missões que contribuíram para o<br />

apagamento das crenças afro (SANTOS, 2007).<br />

De fato, a partir da formação do candomblé, o processo <strong>de</strong> ancestralida<strong>de</strong> começa a<br />

fazer parte da conotação simbólica dos pretos-velhos. A complexida<strong>de</strong> da formação dos<br />

candomblés se <strong>de</strong>u lentamente na formação cultural e social brasileira, em um contexto <strong>de</strong><br />

endoculturação, luta cultural e acomodação. Como também, sua ritualística ajudou a<br />

reconstituir a socieda<strong>de</strong> e religiosida<strong>de</strong> africana, por meio das linhagens mítico-espirituais dos<br />

orixás e, <strong>de</strong>ssa maneira, as mães e pais <strong>de</strong> santo personificam esta herança baseada até então<br />

na família <strong>de</strong> sangue (PRANDI, 2000).<br />

Sob a ótica <strong>de</strong>ssa formação, po<strong>de</strong>-se afirmar que os pretos-velhos não são parte da<br />

mítica religiosa dos candomblés, embora muitos dos a<strong>de</strong>ptos <strong>de</strong>ssa corrente religiosa os<br />

aceitem e, como nos afirma Negrão (1996, p. 213), “para o Candomblé, os pretos-velhos<br />

seriam simplesmente espíritos <strong>de</strong> mortos, os eguns, não teriam a dignida<strong>de</strong> transcen<strong>de</strong>nte dos<br />

<strong>de</strong>uses, como os Orixás”. Nessa mesma linha, embora historicamente os pretos-velhos<br />

fizessem parte do mesmo processo <strong>de</strong> dominação e contribuindo para a resistência cultural<br />

africana em solo brasileiro, muitos barracões <strong>de</strong> candomblé não aceitam essas figuras como<br />

parte <strong>de</strong> seu panteão. Para Jagun (s.d.) os pretos-velhos po<strong>de</strong>riam ser consi<strong>de</strong>rados ancestrais<br />

e po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>rados como fundadores verda<strong>de</strong>iros do candomblé, merecendo<br />

<strong>de</strong>votamento e respeito dos mais novos. Portanto, ora não são aceitos como parte do panteão<br />

<strong>de</strong> culto, reconhecidos como espíritos <strong>de</strong> mortos (eguns), ora são parte <strong>de</strong>sse conjunto <strong>de</strong><br />

crenças como espíritos protetores, fundadores e portadores da ancestralida<strong>de</strong> africana. Tal<br />

diferenciação, ao que parece, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> fundamentalmente da interpretação que os barracões<br />

fazem da simbologia herdada historicamente.<br />

Não obstante, é na Umbanda que essas figuras passam a assumir uma posição, <strong>de</strong><br />

forma <strong>de</strong>finitiva, cristianizada e mesclada por elementos afro, católicos e espíritas. Tidos<br />

como feiticeiros e curan<strong>de</strong>iros, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a origem <strong>de</strong>ssa linha religiosa que os pretos-velhos<br />

exercem papel proeminente. A origem da Umbanda é controversa e figura-se sob a repressão,<br />

tanto externa por meio da polícia, das políticas públicas, do catolicismo dominante e das<br />

comunida<strong>de</strong>s espíritas kar<strong>de</strong>cistas em formação no início do século XX. Segundo Roh<strong>de</strong><br />

(2009), existe um mito da fundação da umbanda centrada na figura <strong>de</strong> Zélio <strong>de</strong> Moraes,<br />

médium kar<strong>de</strong>cista que teria recebido o Caboclo das 7 Encruzilhadas e um Preto-Velho, os<br />

quais teriam proferido um discurso que, por sua vez, em seu teor <strong>de</strong>latava o <strong>de</strong>sprezo dos


6<br />

Essa <strong>de</strong>scrição baseia-se nas informações contidas no sítio do Terreiro Pai Maneco. Disponível em:<br />

. Acesso em: 20 jul. 2015.<br />

101<br />

brancos kar<strong>de</strong>cistas a essas entida<strong>de</strong>s e que, portanto, os pretos-velhos e caboclos a partir <strong>de</strong><br />

então, teriam uma nova religião para praticarem a carida<strong>de</strong> em nome <strong>de</strong> Jesus Cristo. Essa<br />

anunciação teria ocorrido no Rio <strong>de</strong> Janeiro em 15 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1908. Zélio <strong>de</strong> Moraes<br />

tinha 17 anos e teria sido curado <strong>de</strong> problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Essa narrativa, sem documentação oficial comprobatória, mas cercada <strong>de</strong> inúmeras<br />

outras narrativas, ainda constitui o marco da fundação das tendas umbandistas, sendo a Tenda<br />

Espirita Nossa Senhora da Pieda<strong>de</strong> o primeiro terreiro, assumindo a mística e ritualística<br />

especifica <strong>de</strong>ssa corrente (NUNES, 2008). Entretanto, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> como a constituição<br />

da Umbanda se <strong>de</strong>u, é evi<strong>de</strong>nte a ruptura estabelecida com o kar<strong>de</strong>cismo, ao passo que <strong>de</strong>sta<br />

linha, a Umbanda adota inúmeros princípios.<br />

Na Umbanda, <strong>de</strong> acordo a <strong>de</strong>scrição dos estudos <strong>de</strong> Negrão (1996), os pretos-velhos<br />

assumem uma postura serena, <strong>de</strong> meiguice, procurando sempre o apaziguamento dos que os<br />

procuram ou clientes, fazendo benzementos. São representantes da humilda<strong>de</strong> e são pacíficos.<br />

Nos terreiros ou tendas, costumam fazer as curas e é on<strong>de</strong> a cristianização se firma <strong>de</strong>vido o<br />

passado da escravidão como forma <strong>de</strong> sublimação. Nesse sentido, trabalham somente para o<br />

bem se valendo <strong>de</strong> todo o acervo cultural adquirido com a experiência da escravidão, por<br />

meio das mandingas, rezas, terços, benzementos, patuás e orientações. É também o feiticeiro<br />

que, com sua fala mansa, realiza o seu trabalho <strong>de</strong> magia 6 .<br />

A linguagem <strong>de</strong>ssas figuras na Umbanda é simples, com os traços característicos do<br />

português vernáculo com influências das línguas bantas, iorubas, etc. Alkmim e Lopez (2009)<br />

afirmam que além da memória cultural, os pretos-velhos como espíritos <strong>de</strong> escravos africanos<br />

exibem no comportamento linguístico as peculiarida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ssa condição.<br />

Apesar da ruptura com o Kar<strong>de</strong>cismo a posteriori, nos diversos centros kar<strong>de</strong>cistas ou<br />

casas espíritas eram comuns a incorporação <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s africanas. Inicialmente, como afirma<br />

Henrique (2013) somente após meados do século XX começa a haver o distanciamento e<br />

separação, ou seja, passou-se a não admitir que entida<strong>de</strong>s africanas comunicassem em casas<br />

kar<strong>de</strong>cistas, bem como os médiuns eram instruídos a não veicular comunicação ou trabalhos<br />

<strong>de</strong>ssas entida<strong>de</strong>s. Buscando uma pretensa pureza doutrinária, os centros espíritas a partir <strong>de</strong><br />

1949, bem como a Fe<strong>de</strong>ração Espírita Brasileira, passaram a repelir qualquer simbologia<br />

africana e a consi<strong>de</strong>rar qualquer entida<strong>de</strong> afro como inferior e necessitada <strong>de</strong> doutrinação<br />

evangélica e, portanto, não tinham mais permissão para comunicar (HENRIQUE, 2013).<br />

Nesse contexto <strong>de</strong> rupturas, os pretos-velhos foram banidos dos centros, passando a<br />

ser consi<strong>de</strong>rada como entida<strong>de</strong>s carentes luz e que necessitavam <strong>de</strong> orientação e evolução.<br />

Segundo o referido autor, atualmente verifica-se progressos com relação a aceitação dos<br />

pretos-velhos em centros espíritas kar<strong>de</strong>cistas.


102<br />

Atualmente, um dos entraves nessa relação se <strong>de</strong>ve à opinião 7 <strong>de</strong> Divaldo Franco, um<br />

dos maiores pregadores do Kar<strong>de</strong>cismo, que atribui a essas figuras uma condição <strong>de</strong><br />

ignorância e que não <strong>de</strong>vem ser levados a sério, consi<strong>de</strong>rando haver uma discriminação<br />

inconsciente ao assumir sua apresentação espiritual na condição <strong>de</strong> preto e velho.<br />

Chico Xavier, outro expoente do Kar<strong>de</strong>cismo no Brasil, em uma entrevista 8 ao<br />

Programa Pinga Fogo em 1971 afirma que a condição da cor não <strong>de</strong>ve ser tomada em<br />

consi<strong>de</strong>ração, apesar do respeito à nova organização religiosa. Nesse contexto, há<br />

reconhecimento da posição evangélica da Umbanda, mas não o há em relação à atribuição<br />

mítico-religiosa dos pretos-velhos. Á linguagem <strong>de</strong>ssas figuras é atribuída <strong>de</strong>svalorização, na<br />

qual maneirismos, africanismos e fonética são atribuições a um modo errado <strong>de</strong> se falar.<br />

Entretanto, para alguns pensadores <strong>de</strong>ssa linha religiosa, importa mais o conteúdo das<br />

mensagens do que propriamente o modo <strong>de</strong> falar.<br />

A completa cristianização e conotação positiva, bem como tendo papel doutrinário<br />

fundamental na constituição religiosa do preto-velho se <strong>de</strong>sdobra, da Umbanda, para o Vale<br />

do Amanhecer. Nesse movimento religioso surgido em 1969 em Brasília, por Neiva Chavez<br />

Zelaya, constitui-se em uma corrente espiritualista que sincretiza elementos do catolicismo,<br />

umbanda, kar<strong>de</strong>cismo, tradições orientais e elementos históricos <strong>de</strong> povos antigos. Nessa<br />

corrente as entida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>ntre elas os pretos-velhos, são consi<strong>de</strong>radas servidores que trabalham<br />

sob uma filosofia: amor, humilda<strong>de</strong> e tolerância (OLIVEIRA, 2013).<br />

Conforme <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> Zelaya (2009, p. 113), os pretos-velhos são espíritos <strong>de</strong> alta<br />

hierarquia, com a missão <strong>de</strong> <strong>de</strong>sintegrar correntes negativas pela força do amor, além disso,<br />

“trabalham na lei do auxílio e, nesta roupagem <strong>de</strong> simplicida<strong>de</strong> e carinho, atuam em ação<br />

<strong>de</strong>sobsessiva, aliviando as pessoas <strong>de</strong> suas dores materiais e espirituais”. Nessa corrente, a<br />

linha <strong>de</strong> pretos-velhos realiza o trabalho doutrinário <strong>de</strong> evangelização, limitando-se a receitar<br />

água fluidificada e os trabalhos realizados no templo, não po<strong>de</strong>ndo interferir no livre-arbítrio<br />

do consulente, prever futuro ou solicitar a interrupção <strong>de</strong> qualquer tratamento médico.<br />

Para Labarrere (s.d.) essa nova configuração <strong>de</strong>sses personagens se refere a um<br />

processo <strong>de</strong> crioulização, na assimilação e reestruturação <strong>de</strong> outros sistemas culturais do<br />

crioulo, além das <strong>de</strong>mais doutrinas. Além disso, uma das figuras proeminentes nessa corrente<br />

doutrinária também é um preto-velho chamado Pai João <strong>de</strong> Enoque, responsável pela<br />

execução da doutrina, dispondo <strong>de</strong> toda autorida<strong>de</strong> no âmbito espiritual e doutrinário frente<br />

aos a<strong>de</strong>ptos e/ou médiuns. Pai João <strong>de</strong> Enoque tem em suas mãos a lei a ser seguida pelos<br />

missionários jaguares, como são chamados os a<strong>de</strong>ptos <strong>de</strong>ssa corrente.<br />

3 ASPECTOS DA LINGUAGEM DOS PRETOS-VELHOS<br />

7<br />

Disponível em: . Acesso em: 20 jul. 2015.<br />

8<br />

Entrevista disponível em: . Acesso em: 20 jul. 2015.


103<br />

Maniacky (2010) ao refletir na importância <strong>de</strong> se estudar a linguagem africana nos<br />

dispõe <strong>de</strong> pistas para compreen<strong>de</strong>rmos alguns aspectos importantes na compreensão da<br />

linguagem dos pretos-velhos, principalmente, como alvo <strong>de</strong> inúmeras representações <strong>de</strong><br />

preconceitos. Esse autor nos mostra que o processo <strong>de</strong> cristianização visava forçar, também,<br />

<strong>de</strong>terminada variante do vernáculo português colonizador, em <strong>de</strong>sprezo e <strong>de</strong>trimento das<br />

línguas crioulas e bantas.<br />

A língua é um ponto <strong>de</strong> conflito da luta cultural, um espaço <strong>de</strong> intersecção do<br />

acoplamento <strong>de</strong> culturas e tradições, como nos afirma Hall (2013). O contato linguístico entre<br />

as línguas africanas e o português colonizador promoveu o apagamento das línguas<br />

colonizadas, ao passo que recebeu inúmeras influências ou africanismos, influências essas<br />

ainda vistas com muito <strong>de</strong>sprezo e preconceito, frutos <strong>de</strong> um processo violento <strong>de</strong> dominação.<br />

Além disso, a <strong>de</strong>struição da própria língua significa a <strong>de</strong>struição da própria história e<br />

humanida<strong>de</strong>, forçando o alheamento e a aceitação do mundo do colonizador (CARENO,<br />

2010).<br />

Por outro lado, Careno (2010) nos mostra que os africanismos imbricaram-se no<br />

português vernáculo promovendo variações lexicais, na estrutura morfossintática, nas formas<br />

e tempos verbais, em traços fonético-fonológicos, bem como na estrutura dos atos verbais<br />

negativos, na estrutura <strong>de</strong> sentenças com diminutivos, <strong>de</strong>ntre outros elementos. Toda essa<br />

composição <strong>de</strong>termina, por conseguinte, a caracterização da linguagem dos pretos-velhos. De<br />

fato, os elementos simbólicos oriundos das crenças nos orixás, o uso dos elementos<br />

medicinais tradicionais, os costumes adquiridos e ressignificados em solo colonizador, as<br />

reinvenções <strong>de</strong> mitos e lendas, a acoplagem com o catolicismo tradicional, <strong>de</strong>ntre outros<br />

inúmeros fatores, compõem a base semiológica que permeia o linguajar <strong>de</strong>ssas figuras.<br />

Alkmin e Lopez (2009) explica que <strong>de</strong>ntre as características da fala escrava estaria a<br />

iotização (lh > i como em “mió” – melhor); a apócope (supressão <strong>de</strong> letra ou sílaba no fim <strong>de</strong><br />

palavra: “comê” – comer); a redução <strong>de</strong> ditongos (ai > a; ou > ô como em “baxo” / baixo;<br />

“chegô” / chegou); a redução da concordância (“dissero que nóis vai ganha”; “esses bicho<br />

todo”); a paragoge (adição <strong>de</strong> sílaba no fim <strong>de</strong> palavras: “a<strong>de</strong>uzi” – a<strong>de</strong>us); a palatização (s ><br />

x como em: “ixo” / isso; “xabe” / sabe), sendo a paragoge e palatização, com o uso <strong>de</strong> uma<br />

partícula muito característica das línguas bantas.<br />

Todos esses matizes linguísticos, por conseguinte, também são alvos <strong>de</strong> <strong>de</strong>preciação<br />

preconceituosa, por fazer parte <strong>de</strong> variantes linguísticas <strong>de</strong>sprestigiadas. A linguagem como<br />

um todo encerra em si um prisma variado <strong>de</strong> histórias, constituição i<strong>de</strong>ntitária, símbolos, ritos<br />

e representações. Daí ser um dos elementos centrais na constituição mítico-religiosa, bem<br />

como ser o espaço para o dinamismo ético e estético das figuras dos pretos-velhos.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS


LABARRERE, Vanessa. Doutrina religiosa do Vale do Amanhecer como índice <strong>de</strong><br />

crioulização cultural. Disponível em:<br />

104<br />

O preto-velho, como personagem religioso, é criado no contexto do Brasil colonial e<br />

atual, não tendo essa conotação em outros contextos. Aqui, essa figura passou a fazer parte do<br />

panteão <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s espirituais no âmbito ritualístico, cerimonial, das crenças e da<br />

espiritualida<strong>de</strong> brasileira em um profundo sincretismo, primeiramente na Umbanda, <strong>de</strong>pois no<br />

Vale do Amanhecer e tardiamente aceito, com inúmeras restrições, em espaços do Candomblé<br />

e do Kar<strong>de</strong>cismo.<br />

Nesse âmbito, a linguagem se posiciona como espaço <strong>de</strong> memórias, rupturas,<br />

resistência e emancipação. Memórias, porque é na linguagem que a caracterização <strong>de</strong>ssas<br />

figuras mantém traços linguísticos, tradições, mitos, pensamentos e uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

elementos que mantiveram uma unida<strong>de</strong>, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e i<strong>de</strong>ntização do “ser negro” na figura do<br />

preto-velho. Rupturas tendo em vista sua dissociação tardia da tradição católica e do<br />

kar<strong>de</strong>cismo, constituindo-se ainda em espaço <strong>de</strong> luta cultural contra diversas representações<br />

negativas oriundas dos agentes externos ao contexto religioso.<br />

Igualmente, os traços <strong>de</strong> resistência e emancipação <strong>de</strong>ssas figuras encontram-se na<br />

simbologia, ritualistica, crença e institucionalização, principalmente na Umbanda e no Vale<br />

do Amanhecer, que in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> suas peculiarida<strong>de</strong>s, concebem a figura do preto-velho<br />

em sua divindida<strong>de</strong>, como servidor <strong>de</strong> uma causa: a carida<strong>de</strong>.<br />

REFERÊNCIAS<br />

ALKMIM, Tânia; LÓPEZ, Laura Álvarez. Registros da escravidão: as falas <strong>de</strong> pretos-velhos<br />

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em: 22 jun. 2015.<br />

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Acesso em: 20 jul.<br />

2015.<br />

JAGUN. Márcio <strong>de</strong>. O Candomblé e os Pretos Velhos. (s.d.). Disponível em:<br />

. Acesso em: 20 jul. 2015


105<br />

. Acesso em: 22 jun.<br />

2015.<br />

LARAIA, Roque <strong>de</strong> Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Zahar,<br />

1986. 24ª Impressão, 2014.<br />

MANIACKY, Jacky. O estudo das língua africanas: por que é tão importante no Brasil como<br />

na África? In: In: COSTA, Edil Silva; LOPES, Norma da Silva; CASTRO, Yeda Pessoa <strong>de</strong>.<br />

(orgs.). Acolhendo as línguas africanas: segundo momento. Salvador: EDUNEB, 2010.<br />

MINGAS, Amélia Arlete. A língua como fator <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntização. In: COSTA,<br />

Edil Silva; LOPES, Norma da Silva; CASTRO, Yeda Pessoa <strong>de</strong>. (orgs.). Acolhendo as<br />

línguas africanas: segundo momento. Salvador: EDUNEB, 2010.<br />

NEGRÃO, Lísias Nogueira. Entre a cruz e a encruzilhada: formação do campo umbandista<br />

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Acesso em: 20 jul. 2015.<br />

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______. As religiões negras do Brasil: para uma sociologia dos cultos afro-brasileiros. 1996.<br />

http://www.usp.br/revistausp/28/05-prandi.pdf 24 jun. 2015.<br />

ROHDE, Bruno Faria. Umbanda, uma Religião que não Nasceu: Breves Consi<strong>de</strong>rações<br />

sobre uma Tendência Dominante na Interpretação do Universo Umbandista. 2009. Disponível<br />

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. Acesso em: 20 jul. 2015.<br />

SANTOS, Eufrázia Cristina Menezes. A construção simbólica <strong>de</strong> um personagem<br />

religioso: o preto-velho. 2007. Disponível em:<br />

. Acesso em: 10 jul. 2015.<br />

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memória popular. In: SILVA, Vagner Gonçalves da. (org.). Memória afro-brasileira:<br />

imaginário, cotidiano e po<strong>de</strong>r. São Paulo: Selo Negro, 2007.<br />

ZELAYA, Carmem Lúcia. Os símbolos na doutrina do Vale do Amanhecer: sob os olhos<br />

da clarivi<strong>de</strong>nte. Brasília: Editora Tia Neiva Publicações Ltda., 2009.


9,2,3,4 e 5<br />

Alunos (as) do curso <strong>de</strong> Licenciatura em <strong>História</strong> da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – UNEB<br />

/ DEDC- Campus X. Projeto: A <strong>História</strong> e o social: a comunida<strong>de</strong> e os espaços da cida<strong>de</strong> como<br />

integrantes do processo ensino-aprendizagem, do Programa Institucional <strong>de</strong> bolsa <strong>de</strong> Iniciação a<br />

Docência.<br />

RELATO DE EXPERIÊNCIA DA OFICINA: DIREITOS DOS POVOS: CULTURA<br />

INDÍGENA NO EXTREMO SUL BAIANO.<br />

106<br />

Brendo Stoco Vidal 9<br />

Daiane Felix dos Santos²<br />

Franciele Santos Soares³<br />

Marluce Santos 4<br />

Janusa Neres 5<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

O subprojeto PIBID <strong>de</strong> <strong>História</strong>, intitulado “A <strong>História</strong> e o social: a comunida<strong>de</strong> e os<br />

espaços da cida<strong>de</strong> como integrantes do processo <strong>de</strong> ensino-aprendizagem”, do<br />

Programa Institucional <strong>de</strong> Bolsa <strong>de</strong> Iniciação à Docência (PIBID),do Campus X da<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – UNEB, em Teixeira <strong>de</strong> Freitas– BA, realiza<br />

ativida<strong>de</strong>s por meio <strong>de</strong> minicursos temáticos no ambiente escolar do Colégio<br />

Estadual Democrático Ruy Barbosa - CEDERB, problematizando questões<br />

relacionadas à disciplina <strong>de</strong> história.<br />

Desse modo, é importante atrelar a história local com o conhecimento<br />

histórico <strong>de</strong> proporção mais ampla. Segundo Freire (1996), po<strong>de</strong>mos nos perguntar:<br />

por que não se discutir com os estudantes a realida<strong>de</strong> concreta à sua volta? Por que<br />

não associar o conteúdo programático da disciplina à realida<strong>de</strong> em que eles vivem?<br />

É necessário apresentar os saberes curriculares fundamentais à experiência<br />

individual dos discentes, poiseducação formal só terá sentido se o saber se <strong>de</strong>finir<br />

como um conjunto <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> socialização dos indivíduos, parte constitutiva <strong>de</strong><br />

qualquer sistema cultural <strong>de</strong> um povo, englobando mecanismos que visam a sua<br />

produção e mudança. Paulo Freire (1996) em sua obra pedagogia da autonomia<br />

ressalta a importância que se tem <strong>de</strong> respeitar a autonomia do “ser” do educando. A<br />

educação escolar <strong>de</strong>ve abrir caminhos para o acesso a conhecimentos universais,<br />

mas sem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> interliga-los com saberes locais, para dar aos alunos, assim, a<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reconhecerem criticamente o espaço em que vivem situarem-se<br />

nele enten<strong>de</strong>ndo que o espaço escolar <strong>de</strong>ve se gerar um:<br />

[..] espaço <strong>de</strong> compartilhamento <strong>de</strong> experiências individuais e<br />

coletivas, <strong>de</strong> relação dos sujeitos com os diferentes saberes<br />

envolvidos na produção do saber escola. Dessa forma, ampliando –<br />

se o entendimento da aula <strong>de</strong> história, abrindo novas perspectivas<br />

para o <strong>de</strong>bate [...] (SCHMIDT & GARCIA, 2005 p. 298)


107<br />

Assim cabe ao educador perceber e reconhecer a autonomia dos seus alunos bem<br />

como tentar lançar mão <strong>de</strong> métodos para se alcançar uma relação entre o conteúdo<br />

e a vida cotidiana <strong>de</strong>sses alunos <strong>de</strong> modo que o ensino/aprendizagem possa ser<br />

atingido e assim por meio <strong>de</strong> novos questionamentos, mudar a sua realida<strong>de</strong>.<br />

Foi e então que, a partir <strong>de</strong> uma preocupação local com a realida<strong>de</strong> da formação<br />

étnica regional, com forte presença <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s indígenas e seus<br />

<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes, surgiu a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> realizar uma oficinasobre o assunto, cuja temática<br />

seria assim intitulada: “Direitos dos Povos: Cultura Indígena no Extremo Sul Baiano”.<br />

A proposta <strong>de</strong>ssa oficina é discutir o Direito dos povos indígenas no mundo<br />

globalizado, em especial as etnias que compõem o extremo sul da Bahia,<br />

<strong>de</strong>sconstruindo também a i<strong>de</strong>ia romantizada do “ser índio” que tanto é estereotipada<br />

pela literatura brasileira e que em pleno século XXI ainda se reproduz tais equívocos<br />

sobre esses povos. Observamos no Brasil o fenômeno da etnogênese, o <strong>de</strong>spertar<br />

da consciência étnica e o processo <strong>de</strong> reivindicação <strong>de</strong> direitos que são verídicos e<br />

que lhes são garantidos na constituição. É errôneo dizer que o indígena inva<strong>de</strong><br />

terras, os mesmos reocupam suas terras tradicionais, a Constituição Fe<strong>de</strong>ral<br />

reconhece o direito originário <strong>de</strong>ssas populações, porém faltam outros direitos a<br />

serem reconhecidos, como acesso a saú<strong>de</strong> e educação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, segurança e<br />

tantos outros. Mas sabemos que essas lutas não são isoladas, e sim <strong>de</strong>manda que a<br />

maioria da socieda<strong>de</strong> brasileira também busca. Dessa forma há uma tentativa<br />

<strong>de</strong>aproximá-los das comunida<strong>de</strong>s indígenas da região, em específico os Pataxó,<br />

instalados em Cumuruxatiba-Ba, distrito que pertence ao Prado-BA e está a 111 Km<br />

<strong>de</strong> distância da cida<strong>de</strong> em que o publico alvo vive, além da existência do Parque<br />

Nacional do <strong>de</strong>scobrimento bem próximo a reserva indígena.<br />

2. DELIMITAÇÃO DO TEMA<br />

Sampaio (2000), em um artigo intitulado “<strong>História</strong> e Presença dos povos<br />

indígenas na Bahia” aponta a presença <strong>de</strong> povos indígenas nessa região <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

século XVI. Também informa que no entorno do rio Corumbau houve a formação <strong>de</strong><br />

um al<strong>de</strong>amento composta por índios da etnia Pataxó e da família Linguística<br />

Maxacali, a mando do Presi<strong>de</strong>nte da Província em 1861. Posteriormente, em 1940,<br />

este passou a ser <strong>de</strong>nominada “Barra Velha”. Em 1951 houve uma tentativa <strong>de</strong><br />

expulsão dos indígenas daquela áreapor pressão do Estado, com intervenção do<br />

governo fe<strong>de</strong>ral para que se retirarem <strong>de</strong>ste espaço os índios, com a intensão <strong>de</strong><br />

transformar aquele território em um parque <strong>de</strong> preservação do monumento natural e<br />

histórico, ação que só se concretiza em 1961 com a implantação do parque nacional


108<br />

<strong>de</strong> monte pascoal, sob a gestão do Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Desenvolvimento Florestal<br />

(IBDF). Os indígenas tiveram <strong>de</strong> se dispersar, pois estavam proibidos <strong>de</strong> plantar em<br />

seu próprio território.<br />

Após <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong> muitas lutas e entraves com o Estado, finalmente a<br />

Fundação Nacional do Índio (FUNAI), juntamente com li<strong>de</strong>ranças indígenas (De<br />

quais povos?) conquistaram o direito <strong>de</strong> habitar seu território novamente, com a<br />

criação do posto “Barra Velha”. Com isso foram realizados estudos antropológicos<br />

pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Bahia (UFBA) no propósito <strong>de</strong> ajudar na <strong>de</strong>marcação<br />

<strong>de</strong> territórios <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s indígenas do Extremo Sul baiano, em parceria com a<br />

FUNAI e o Programa <strong>de</strong> Pesquisas <strong>de</strong> Povos Indígenas do Nor<strong>de</strong>ste Brasileiro<br />

(PINEB). Em 1970 <strong>de</strong>u-se o embasamento técnico necessário para a recuperação<br />

<strong>de</strong> terras que no passado foram ocupadas pelos indígenas e que agora estavam<br />

sendo exploradas por ma<strong>de</strong>ireiros, criadores <strong>de</strong> gado etc.<br />

Trazendo a questão para realida<strong>de</strong> local, Batista (2004) discorre em sua<br />

dissertação <strong>de</strong> mestrado a respeito do povoado <strong>de</strong> Cumuruxatiba, relembrando<br />

memórias <strong>de</strong> tempos antigos, mais precisamente <strong>de</strong> 1815, quando nesta chegaram<br />

os primeiros brancos e escravos negros africanos, para os trabalhos <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrubadas<br />

das matas, limitando o espaço geográfico das comunida<strong>de</strong>s indígenas (Pataxó e<br />

Aimorés ) que existiam no local. Nos dias atuais a comunida<strong>de</strong> Pataxó <strong>de</strong><br />

Cumuruxatiba - BA, esta com seu território reduzido e <strong>de</strong>limitado pelo governo.<br />

Luciano (2006), que traz aspectos contemporâneos sobre a situação dos<br />

povos indígenas, nos mostra um avançoacerca da <strong>de</strong>marcação <strong>de</strong> terras indígenas<br />

no Brasil. Antes da constituição <strong>de</strong> 1988 os direitos dos povos indígenas eram muito<br />

pouco explícitos, <strong>de</strong>ixando esses povos sob tutela <strong>de</strong> administradores públicos e<br />

dirigentes políticos que nem sempre <strong>de</strong>fendiam os seus interesses O objetivo era<br />

reduzir a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> terras <strong>de</strong>stinadas a estes povos, <strong>de</strong> forma que os mesmos<br />

não pu<strong>de</strong>ssem empreen<strong>de</strong>rsua sobrevivência, per<strong>de</strong>ndo parte <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

enquanto povo, para assim mais tar<strong>de</strong> serem inseridos na cultura nacional. Esse era<br />

o projeto nacional, portanto político.<br />

Gerlic (2007) que produz uma cartilha com relatos da comunida<strong>de</strong> Pataxó no<br />

Prado, on<strong>de</strong> o índio é tratado sobre sua própria perspectiva Nos relatos da vivência<br />

<strong>de</strong>ssa comunida<strong>de</strong> que, apesar <strong>de</strong> terem o seu direito à terra resguardado, por se<br />

tratar <strong>de</strong> uma reserva indígena vivem com medo dos fazen<strong>de</strong>iros da região e<br />

parcialmente enclausurados e sofrem discriminação a partir da construção que foi<br />

feita ao longo da formação nacional. Essa reviravolta na história da comunida<strong>de</strong><br />

Pataxó e <strong>de</strong> tantas outras comunida<strong>de</strong>s no Brasil são frutos do forte apoio <strong>de</strong><br />

setores progressistas da socieda<strong>de</strong> brasileira e da articulação e mobilização<br />

indígena que garantiu uma serie <strong>de</strong> direitos entre os quais as suas terras


109<br />

tradicionais, estas passaram a ser vistas por políticos <strong>de</strong>fensores da causa<br />

indígenacomo necessida<strong>de</strong>s vitais para sua sobrevivência e reprodução física e<br />

cultural.<br />

Segundo os dados da Associação Nacional Indígena (ANAI) e do Instituto<br />

Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística (IBGE), essas novas condições permitiram que<br />

houvesse um aumento populacional significativo <strong>de</strong>sses povos, o que,<br />

consequentemente, <strong>de</strong>u a eles condições para retomarem suas culturas e<br />

reassumirem suas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> povos ligados à terra. O que acontece é que em<br />

algumas regiões, como o Nor<strong>de</strong>ste, este fenômeno <strong>de</strong> retomada <strong>de</strong> terras e<br />

recuperação <strong>de</strong> suas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s étnicas tem sido dinâmica, com aumento<br />

expressivo da participação política em níveis importantes <strong>de</strong> maneira que houve<br />

uma diminuição do preconceito e discriminação <strong>de</strong>ssas comunida<strong>de</strong>s, pois ao<br />

contrário do que se pregavam nos períodos coloniais, essas comunida<strong>de</strong>s são<br />

capazes <strong>de</strong> gerenciar e <strong>de</strong>cidir seus <strong>de</strong>stinos e ainda contribuir para o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento país. (LUCIANO, 2006)<br />

Há muitos <strong>de</strong>safios a serem vencidos, mas atualmente através dos meios <strong>de</strong><br />

comunicação e outros recursos (Quais?) essas causas não ficam mais restritas a um<br />

lugar, mas tem-se um caráter <strong>de</strong> dimensão regional, nacional e muitas vezes<br />

internacional, fazendo com que as autorida<strong>de</strong>s responsáveis tomem posições mais<br />

rápidas ao invés <strong>de</strong> travaram os processos como faziam antigamente. (LUCIANO,<br />

2006)<br />

Quando analisamos a questão indígena e sua importância para o processo <strong>de</strong><br />

construção do Brasil, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> dar evidência à lei <strong>de</strong> n° 11.645<br />

sancionada durante o governo Lula, no dia 10 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2008, ela nos leva a<br />

refletiracerca da <strong>de</strong>ficiência que as escolas têm ao se trabalhar a temática indígena<br />

na sala <strong>de</strong> aula e, principalmente as consequências <strong>de</strong>sse não reconhecimento da<br />

história <strong>de</strong>sses povos, reproduzindo mais preconceitos e ampliando o abismo entre<br />

as instituições sociais e essas comunida<strong>de</strong>s indígenas <strong>de</strong>ntro do território brasileiro.<br />

Durante muito tempo os livros didáticos preservaram a visão do “colonizador”<br />

e seu domínio sobre o “colonizado” mostrando muitas vezes uma realida<strong>de</strong><br />

harmoniosa e reproduzindo a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> os indígenas como povos sem Deus, sem rei<br />

e sem lei, necessitam da “tutela” do para chegar ao estágio <strong>de</strong> “civilização”. Essa<br />

i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> incivilizados fez aparte do estratagema empreendido pelo europeu<br />

colonizador para explorar a mão <strong>de</strong> obra indígena e lucrar com o trabalho <strong>de</strong>sses<br />

povos. Não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossa região, que abrange<br />

o Extremo Sul Baiano, correspon<strong>de</strong>ndo a outrora “terra do <strong>de</strong>scobrimento”, hoje<br />

“costa do <strong>de</strong>scobrimento”.


10<br />

Título: “As Caravelas Passam...” Direção: Ivo Souza Realização: Instituto Nosso Chão/CE 2000, 23’<br />

Sinopse: Através dos <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> importantes li<strong>de</strong>ranças indígenas do Nor<strong>de</strong>ste e do Antropólogo José<br />

Augusto Laranjeiras Sampaio, o ví<strong>de</strong>o procura <strong>de</strong>sfazer preconceitos a respeito da realida<strong>de</strong> indígena do<br />

Nor<strong>de</strong>ste, mostrando a verda<strong>de</strong>ira realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses povos. Suas dinâmicas culturais, as relações com a<br />

socieda<strong>de</strong> não indígena ao longo <strong>de</strong> 500 anos <strong>de</strong> contato e suas principais reivindicações.<br />

110<br />

3. DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES REALIZADAS E OS SEUS RESULTADOS<br />

Através das discussões realizadas nas reuniões <strong>de</strong> planejamento do PIBID <strong>de</strong><br />

<strong>História</strong> da UNEB – Campus X, e refletindo sobre as ações realizadas pela<br />

instituição em <strong>de</strong>fesa das comunida<strong>de</strong>s indígenas da região, surgiu a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transpor essa questão para além do universo acadêmico e<br />

repensar a questão indígena na atualida<strong>de</strong> analisando os conflitos territoriais e<br />

preconceitos em relação a esses povos que estão presentes no extremo sul<br />

baiano.<br />

Com esse objetivo pensamos em realizar a oficina no Colégio Estadual<br />

Democrático Ruy Barbosa – CEDERB, que esta localizado no Bairro Bela Vista<br />

na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas – BA, que aten<strong>de</strong> à estudantes do ensino médio,<br />

nosso proposito com essa oficina era evi<strong>de</strong>nciar as dificulda<strong>de</strong>s vividas por essas<br />

comunida<strong>de</strong>s na busca pela preservação <strong>de</strong> suas tradições, crenças e costumes<br />

além <strong>de</strong> problematizar as questões ligadas a <strong>de</strong>marcação <strong>de</strong> terras indígenas<br />

nessa região.<br />

A apresentação da oficina “Direito dos povos: cultura indígena no extremo sul<br />

baiano” tratou <strong>de</strong> expor aspectos gerais dos povos indígenas no Extremo Sul baiano.<br />

Buscou-se, <strong>de</strong> início, por meio <strong>de</strong> uma dinâmica a construção do entendimento dos<br />

estudantes a respeito do assunto, ao partir <strong>de</strong> perguntas acerca da temática, os<br />

mesmos retiravam perguntas <strong>de</strong> uma caixa e <strong>de</strong>viam respon<strong>de</strong>r em voz alta para<br />

que todo o grupo pu<strong>de</strong>sse ouvir. A partir das falas foi-se construindo novas<br />

informações.<br />

Utilizando o ví<strong>de</strong>o “As caravelas passam” 10 , em que um repórter entrevista<br />

diversas pessoas nas ruas, perguntando qual a i<strong>de</strong>ia que os mesmos tem sobre o<br />

índio. Tenta-se, assim, como no ví<strong>de</strong>o, fazer a <strong>de</strong>sconstrução da visão criada pelos<br />

portugueses, tanto da aparência como da passivida<strong>de</strong> do índio brasileiro, ao longo<br />

da história.<br />

Também foram apresentados dados gerais acerca da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

indígenas na época da colonização, fazendo-se um comparativo com os dados<br />

atuais, que <strong>de</strong>monstram uma gigantesca redução no número <strong>de</strong> indivíduos<br />

indígenas, o que provocou certo espanto por parte dos estudantes, pois estes<br />

acreditavam que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre havia poucas “tribos” e que em geral elas habitavam


111<br />

litoral da Bahia e a floresta amazônica. Foram indicadas, a partir <strong>de</strong> dados do IBGE,<br />

as principais localida<strong>de</strong>s e povos indígenas neles instalados, apontando alguns<br />

povos em específico, bem como seu os costumes, as tradições eos hábitos. Assim,<br />

acreditamostornaro conhecimento maisenriquecedor, com base nas informações<br />

que tínhamos acerca <strong>de</strong>sses povos.<br />

Relatamos também com base bibliográficos sobre as instituições que<br />

atualmente, procuram preservar a cultura indígena, como por exemplo, a FUNAI, <strong>de</strong><br />

também <strong>de</strong> instituições não governamentais que tratam da questão <strong>de</strong>sses povos .<br />

Buscando enten<strong>de</strong>r se essas instituições realmente auxiliam, se o seu trabalho tem<br />

resultado efetivo na proteção e benefício dos indígenassua cultura, suas tradições,<br />

etc.<br />

Falou-se também acerca da presença do índio no Extremo Sul baiano, em<br />

específico na cida<strong>de</strong> baiana <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas. Foi trabalhada a presença<br />

indígena em Teixeira, tanto no presente, quanto no passado, sendo expostos<br />

<strong>de</strong>talhes importantes e <strong>de</strong>sconhecidos por gran<strong>de</strong> parte dos ouvintes, mas também<br />

da população que resi<strong>de</strong> em Teixeira <strong>de</strong> Freitas. Algo ressaltado e que chamou a<br />

nossa atenção, foi acerca da área em que se encontra aPraça da Bíblia e arredores,<br />

que para os indígenas da etnia Maxacali era consi<strong>de</strong>rado um local sagrado. A atual<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas era um local <strong>de</strong> passagem dos índios Maxacali,<br />

quando transitavam <strong>de</strong> território para território, em todo o extremo sul.<br />

Outra técnica utilizada <strong>de</strong>ntro da oficina, e <strong>de</strong> bastante eficácia, foram as<br />

charges acerca do tema indígena. Charges que retratavamuma realida<strong>de</strong> muitas<br />

vezes está oculta. Nestas, liam-se frases como estas: “Quando vieram eles tinham a<br />

bíblia e nós a terra, e nos disseram, fechem os olhos e rezem, quando abrimos os<br />

olhos nós tínhamos a bíblia e eles a terra”. Foi um material que provocou uma ótima<br />

reflexão, e <strong>de</strong>spertou um pensamento crítico e reflexivo nos ouvintes.<br />

Uma das charges apresentava a imagem <strong>de</strong> um pequeno índio com seu pai,<br />

parados em frente a uma floresta <strong>de</strong>smatada Opequeno índio dizia a seu pai: “agora<br />

que cresci entendo por que precisamos <strong>de</strong> cesta básica para sobreviver”. O que<br />

mais chamou a atenção é que estas simples charges geraram uma gran<strong>de</strong><br />

discussão acerca do tratamento que sempre foi e ainda é dado ao indígena.<br />

Os alunos comentaram que era dado a eles o que comer e era tirada <strong>de</strong>les o<br />

direito <strong>de</strong> viver A discussão continuou pensando-se na i<strong>de</strong>ia interessante <strong>de</strong> que se<br />

falava muito sobre a preservação da cultura indígena, mas ao mesmo tempo o local<br />

<strong>de</strong>sses povos era <strong>de</strong>struído, e toda riqueza existente ia diretamente para a mão dos<br />

colonizadores. O entendimento e os questionamentos <strong>de</strong>les acerca <strong>de</strong>sse assunto<br />

nos impressionaram, pois para quem tinha <strong>de</strong> início parco conhecimento, fazer<br />

essas indagações e ter o interesse <strong>de</strong> buscar respostas que antes nem passavam


112<br />

pela cabeça <strong>de</strong>les, realmente provou que a oficina teve resultados melhores do que<br />

esperamos.<br />

Apresentou-se também a questão do auto reconhecimento indígena. Foram<br />

realizadas uma série <strong>de</strong> <strong>de</strong>poimentos por parte dos alunos e dos apresentadores da<br />

oficina, buscando conhecer se os presentes tinham alguma relação <strong>de</strong> <strong>de</strong>scendência<br />

com os povos indígenas. Foi <strong>de</strong>scoberto inclusive que havia alguns participantes<br />

que tinham relação hereditária com os povos indígenas, o que auxiliou no aumento<br />

do interesse pela questão por parte dos ouvintes. Houve um momento <strong>de</strong> lanche e<br />

<strong>de</strong>scontração e logo após um <strong>de</strong>scanso. Após, foi retomada a discussão.<br />

Foi apresentada uma cartilha sobre o povo indígena Pataxó, especificamente<br />

do distrito <strong>de</strong> Cumuruxatiba-Ba. Foi entregue aos estudantes da oficina alguns<br />

<strong>de</strong>poimentos dos próprios indígenas pataxós, o que foi realmente bom, pois fez com<br />

que eles enten<strong>de</strong>ssem como pensam esses povos. Fez com que eles vissem algo<br />

que não partia <strong>de</strong> uma visão exterior. Pu<strong>de</strong>ram perceber todo o sofrimento e o<br />

preconceito pelos quais eles passaram; uma visão “interior”, <strong>de</strong> quem lutou e ainda<br />

luta pra manter a sua cultura e resistindo a todas as dificulda<strong>de</strong>s.<br />

Realizou-se também, ao final das discussões, uma ativida<strong>de</strong> para os alunos<br />

presentes. Foi solicitada uma produção textual, baseada em toda a discussão que<br />

foi realizada durante a oficina, nos ví<strong>de</strong>os que foram apresentados e discutidos, nas<br />

charges que geraram a reflexão crítica e na cartilha indígena. Praticamente todos<br />

levaram essa ativida<strong>de</strong> realmente a sério, como se esperava. Produziram textos que<br />

mostraram a mudança que a discussão realizara durante a oficina. Durante a<br />

socialização dos textos produzidos, pô<strong>de</strong>-se perceber que o objetivo da oficina foi<br />

alcançado, pois os pensamentos iniciais agora estavam modificados, sobretudo a<br />

maneira <strong>de</strong> abordar e falar acerca do tema. As palavras dos alunos <strong>de</strong>monstraram<br />

um pensamento crítico e reflexivo, que com certeza será passado para outras<br />

pessoas próximas.<br />

11<br />

“Bom essa oficina teve um papel fundamental para forçar o que eu pensava<br />

a respeito dos indígenas, ela contribuiu também trazendo conhecimentos<br />

fantásticos sobre esse povo no qual tenho orgulho <strong>de</strong> chamar <strong>de</strong> meu povo,<br />

pois tenho convicção <strong>de</strong> que sangue indígena correndo em minhas veias. O<br />

triste é saber que os indígenas sofrem com a repressão <strong>de</strong> auto Clero, é<br />

preciso formar uma socieda<strong>de</strong> mais justa e que valorize mais a cultura<br />

indígena. É preciso que os Brasileiros e Brasileiras reconheçam que os índios<br />

são os patriarcas da nossa cultura e merecem o nosso respeito. É preciso<br />

também que nós Brasileiros e Brasileiras carreguemos esta causa indígena<br />

cobrando do congresso e do senado fe<strong>de</strong>ral leis que beneficiam esses<br />

povos.”<br />

11<br />

João Felipe Alves Malaquias, estudante do 1° ano do ensino médio do Colégio Estadual<br />

Democrático Ruy Barbosa.


113<br />

Com isso po<strong>de</strong>mos perceber a importância da <strong>de</strong>sconstrução das i<strong>de</strong>ias<br />

preconceituosas presentes na vida cotidiana. Pois quando o assunto,é abordado <strong>de</strong><br />

uma perspectiva crítica o pensamento preconceituoso é lançado por terra, junto<br />

com os estereótipos que os sustentam, tão utilizados por todos.<br />

12<br />

“Eu particularmente tinha uma visão geral muito pobre sobre esses<br />

povos tão ricos em cultural e sabedoria. [...]É triste saber que,<br />

fazemos parte <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> que tem a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser tão<br />

petulantes a ponto <strong>de</strong> se apropriar <strong>de</strong> algo que não é seu, e ainda<br />

querer ter a razão. [...]Além <strong>de</strong> ter a terra, temos uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

se esquecer que índios é gente, tem sentimentos, sofre, que amam o<br />

que fazem, e quem são. Espero um dia ver meus filhos nascerem em<br />

uma socieda<strong>de</strong> menos capitalista, mais humana e que tenham a<br />

noção que: não tem como conquistar o que já foi conquistado.”<br />

O povo indígena precisa (e exige) ser reconhecido em seus termos, A sua<br />

cultura, suas tradições e costumes, tão diversos e tão ricos, estão colocados na luta<br />

que enfrentam. Acreditamos ser <strong>de</strong> extrema importância realizar essas discussões<br />

sobre a diversida<strong>de</strong> do povo brasileiro e sobre as mazelas sofridas pelos povos<br />

indígenas no Brasil para que possamos <strong>de</strong>senvolver o sentimento <strong>de</strong> empatia para<br />

com essas etnias que já habitam esse território á mais <strong>de</strong> 500 anos. As falas dos<br />

alunos nos enchem <strong>de</strong> esperança <strong>de</strong>mostrando que é necessário repensar a<br />

importância dos povos indígenas, novos questionamentos são essenciais para se<br />

<strong>de</strong>scontruir os estereotipo em volta <strong>de</strong>sses povos.<br />

Após a socialização foi realizado o encerramento da oficina. Os rostos eram<br />

sorri<strong>de</strong>ntes e convencidos da importância da cultura indígena em todo o mundo.<br />

Tivemos a compreensão a partir <strong>de</strong>ssas e <strong>de</strong>mais observações que o objetivo da<br />

oficina foi alcançado, além do que era esperado por nós organizadores, os <strong>de</strong>bates<br />

foram fundamentais para abrir portas a cerca da questão indígena evi<strong>de</strong>nciando que<br />

essa oficina foi o começo <strong>de</strong> muitas outras oficinas sobre o assunto.<br />

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Durante a realização da oficina foi assumido o compromisso <strong>de</strong> apresentar <strong>de</strong><br />

forma clara o tema ‘’Direito dos povos: cultura indígena no extremo sul baiano’’. O<br />

uso <strong>de</strong> recursos audiovisuais nos auxiliaram à chegar aos objetivos esperados. Com<br />

a apresentação e <strong>de</strong>bate das i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> cada pessoa presente, foi possível i<strong>de</strong>ntificar<br />

i<strong>de</strong>ias preconceituosas e errôneas acerca da questão indígena. Todo o processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sconstrução <strong>de</strong>ssas i<strong>de</strong>ias foi realizado com sucesso, utilizando para esse<br />

objetivo discussões que não buscaram impor uma verda<strong>de</strong>, mas simplesmente<br />

12<br />

Lorrane Cardoso <strong>de</strong> Almeida, estudante do 2° ano do ensino médio do Colégio Estadual<br />

Democrático Ruy Barbosa.


114<br />

apresentar visões históricas diferentes, dados gerais e <strong>de</strong>poimentos dos próprios<br />

índios, o que <strong>de</strong>spertou mudança <strong>de</strong> pensamento, e o questionamento dos<br />

estereótipos existentes.<br />

Tivemos diversas surpresas durante a apresentação da oficina, e foi possível<br />

<strong>de</strong>spertar nos estudantes outros pensamentos, que esperamos sejam críticos e<br />

reflexivos acerca do tema. Assim, buscou-se estimular ir um interesse pelo tema nos<br />

ouvintes, o que com certeza, esperamos, refletirá no dia a dia dos mesmos, e<br />

contribuirá para que os povos e a cultura indígena sejam mais valorizadas e<br />

respeitadas, inclusive os povos indígenas no Extremo-Sul baiano.<br />

5. REFERÊNCIAS<br />

Associação Nacional <strong>de</strong> Ação Indigenista. Disponível em: www.anai.org.br. Acesso<br />

em: 23 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 2014<br />

BATISTA, Maria Geovanda. NOS RIZOMAS DA ALEGRIA VAMOS<br />

TODOS HÃMIYA: As múltiplas relações entre o brincar o corpo e o território no<br />

imaginário sociocultural Pataxó. UNEB / Université du Québec, 2003.<br />

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários á pratica educativa.<br />

São Paulo: Paz e Terra, 1996. (Coleção Leitura)<br />

GERLIC, Sebastían (Org.) Índios na visão dos índios Pataxó do Prado. Ty<strong>de</strong>was.<br />

Prado – BA, 2004;<br />

GONÇALVES, José Reginaldo. Autenticida<strong>de</strong>, memória e i<strong>de</strong>ologias nacionais: o<br />

problema dos patrimônios culturais. Estudos Históricos, Rio e Janeiro, v. 1, n. 2,<br />

p. 264-275, 1988;<br />

LUCIANO, Gersem dos Santos. O índio Brasileiro: o que você precisa saber sobre<br />

os povos indígenas no Brasil <strong>de</strong> hoje. Ministério da Educação. Coleção Educação<br />

Para Todos. Brasília, 2006;<br />

PAOLI, Maria Célia. Memória, história e cidadania: o direito ao passado. In. O<br />

direito à memória: patrimônio histórico e cidadania. São Paulo: DPH, 1992, p. 25-28;<br />

PEREIRA, Tamires Santos. AS RELAÇÕES INTERCULTURAIS ENTRE ÍNDIOS E<br />

NÃO ÍNDIOS NO EXTREMO SUL DA BAHIA. UNEB- CAMPUS – X. 2014;<br />

SAMPAIO, José Augusto Laranjeiras. Breve história da presença indígena no<br />

extremo sul baiano e a questão do território Pataxó do Monte<br />

Pascoal. Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> <strong>História</strong>, Belo Horizonte, v.5, n.6, p.31-46, Nov. 2000.<br />

Disponível<br />

em:<br />

.A<br />

cessado em: 20 Outubro <strong>de</strong> 2014.<br />

SCHMIDT, Maria Auxiliadora Moreira Dos Santos e GARCIA, Tânia Maria F. Braga.<br />

A FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA HISTÓRICA DE ALUNOS E PROFESSORES E<br />

O COTIDIANO E AULAS DE HISTÓRIA. Cad. Ce<strong>de</strong>s, Campinas, Vol, n. 67, p. 297-


308, set/<strong>de</strong>z. 2005 297. Acesso em: 20 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 2015. Disponível em:<br />

www.ce<strong>de</strong>s.unicamp.br<br />

Ví<strong>de</strong>o: As Caravelas passam. Realizada por: Caritas Nacional, CEDOC e<br />

Arquidiocese <strong>de</strong> Fortaleza. Sob a Direção <strong>de</strong>: Ivo Souza e Marcos Passerini;<br />

115<br />

OUTRAS LINGUAGENS NO ENSINO DE HISTÓRIA: A FOTOGRAFIA E A<br />

MEMÓRIA<br />

Introdução<br />

Cristiane Silva <strong>de</strong> Meireles Cardoso¹ 13<br />

O processo ensino-aprendizagem nas aulas <strong>de</strong> <strong>História</strong>, principalmente no que concerne às<br />

metodologias utilizadas merece autorreflexão por parte do professor, pois uma atitu<strong>de</strong> abusiva<br />

<strong>de</strong> aulas expositivas po<strong>de</strong>m impedir que o aluno seja um sujeito <strong>de</strong>sse processo e impõe uma<br />

atitu<strong>de</strong> passiva <strong>de</strong> mero receptor <strong>de</strong> informações e conteúdos, impossibilitando-o <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolver-se criticamente e perceber a realida<strong>de</strong> para po<strong>de</strong>r transformá-la. Ao buscar um<br />

tema para o presente trabalho, buscou-se uma metodologia diferenciada para instigar os<br />

alunos a participarem mais ativamente das aulas, tendo as mídias como apoio, como<br />

ferramenta didática que po<strong>de</strong> oportunizar a motivação necessária para que o aluno se torne<br />

sujeito ativo e pesquisador, como também, promotora do processo ensino-aprendizagem da<br />

história global à particular e ao mesmo tempo articulando tal conhecimento, simultaneamente,<br />

com a história do Colégio Inácio Tosta Filho (doravante, ITF), pertencente à re<strong>de</strong> Oficial <strong>de</strong><br />

Ensino da Bahia.<br />

Diante da velocida<strong>de</strong> das mudanças, enten<strong>de</strong>mos a pertinência <strong>de</strong> resgatar memórias,<br />

especialmente <strong>de</strong>ssa unida<strong>de</strong> escolar. No estudo com o tema Outras Linguagens no Ensino <strong>de</strong><br />

<strong>História</strong>: A Fotografia e a Memória observa-se a utilização da fotografia como exercício <strong>de</strong><br />

uma análise histórico-científica, ao mesmo tempo inovadora e significativa no contexto<br />

vivenciado pelo aluno, além <strong>de</strong> lançar mão <strong>de</strong> ferramentas midiáticas e novas tecnologias para<br />

recuperar essa memória. Em relação à imagem na historiografia, Morila (2012, p. 58), aponta<br />

que “<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a abertura dos Annales que essa questão vem recebendo atenção dos historiadores,<br />

que muitas vezes se apropriam <strong>de</strong> outros campos do conhecimento para fazer frente às suas<br />

necessida<strong>de</strong>s”.<br />

Esse tema tem como importância o resgate da memória e do passado repletos <strong>de</strong> significações<br />

e traz como contribuição o reconhecimento da história local, ontem e hoje e análise das<br />

13<br />

Aluna especial <strong>de</strong> Mestrado em Ensino na Educação Básica na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo–<br />

CEUNES/UFES - Orientador: Doutor Ailton Pereira Morila


116<br />

permanências e mudanças, além do seu impacto em uma socieda<strong>de</strong> em constante<br />

transformação. Essa proposta consiste em um <strong>de</strong>safio que exige reflexão, flexibilida<strong>de</strong>, criativida<strong>de</strong> e<br />

renovação <strong>de</strong> prática pedagógica, contribuindo como resgate das memorias do Colégio Inácio Tosta<br />

Filho, instituição <strong>de</strong> 32 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> com histórico que perpassa pela vida <strong>de</strong> muitos itamarajuenses,<br />

muitos dos quais, pais e até avós dos atuais alunos, <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando recordações. Neste sentido, Boris<br />

Kossoy diz que “Os homens colecionam esses inúmeros pedaços congelados do passado em<br />

forma <strong>de</strong> imagens para que possam recordar, [...], ‘<strong>de</strong>scongelam’ momentaneamente seus<br />

conteúdos e contam a si mesmos e aos mais próximos suas histórias <strong>de</strong> vida.” (1999, p. 138).<br />

O problema a ser investigado recai na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar esse resgate <strong>de</strong> memórias a<br />

partir da utilização <strong>de</strong> mídias, especialmente a fotografia, ao qual tem como proposta o uso <strong>de</strong><br />

fotografias do ontem e hoje e preservação das memórias será como uma forma <strong>de</strong> sedução<br />

pelas imagens visuais registrando momentos e buscando lembranças, possibilitando<br />

aperfeiçoar o olhar e aguçar a imaginação reveladora da realida<strong>de</strong> contribuindo, assim, para<br />

uma interpretação que tenha valor para o que se propõe esse trabalho.<br />

1. <strong>História</strong> como Prática: Novos Olhares<br />

O ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong> tem a função, através <strong>de</strong> diversas abordagens e enfoques, o estímulo à<br />

análise e ao <strong>de</strong>senvolvimento crítico, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN<br />

(1998):<br />

[...] “fornecendo condições efetivas para que os possa <strong>de</strong>parar-se com problemas,<br />

compreendê-los e enfrentá-los, participar <strong>de</strong> um convívio social que lhes dê<br />

oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se realizarem como cidadãos, fazerem escolhas e proposições,<br />

tomarem gosto pelo conhecimento, apren<strong>de</strong>rem a apren<strong>de</strong>r” ( p. 136).<br />

Por tal pressuposto, busca-se um trabalho no ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong>, através <strong>de</strong> uma aprendizagem<br />

mais significativa, o qual incentiva a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensamentos, buscando explicações não<br />

só no fato histórico, mas nas diferentes situações vivenciadas num mesmo tempo histórico,<br />

construir a noção <strong>de</strong> tempo, quando se estabelece relações entre acontecimentos e suas<br />

continuida<strong>de</strong>s e rupturas, mediante as ações dos sujeitos <strong>de</strong> uma mesma época ou <strong>de</strong> épocas<br />

diferentes. Destarte, o ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong> necessita <strong>de</strong> um diálogo constante e permanente<br />

com os diversos campos do saber, elaborados em diferentes espaços, que são os saberes da<br />

experiência, da aca<strong>de</strong>mia, da vivência dos alunos, da mídia, os quais se tornarão os saberes<br />

escolares, mediados pela ação <strong>de</strong> professores e alunos. Se o objetivo da <strong>História</strong> é a<br />

explicação do real, do acontecido, para ajudar-nos a conhecer nosso papel como cidadãos há a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inovação pedagógica para a superação das estruturas presentes no sistema<br />

educacional brasileiro.


117<br />

Do próprio movimento da história, repousa a história não estática, mas a recuperada e<br />

compreendida, incorporando ao processo ensino-aprendizagem outras fontes <strong>de</strong> saber<br />

histórico, como exemplo, o cinema, os quadrinhos, a literatura, a imprensa, as diversas<br />

ferramentas tecnológicas e cultura midiática, as múltiplas vozes dos cidadãos e os<br />

acontecimentos cotidianos e com o intuito <strong>de</strong> diversificar as fontes para dinamizar a prática <strong>de</strong><br />

ensino e produzir acesso ao saber. Segundo Ailton Morila (2012, p. 60), a imagem po<strong>de</strong> e<br />

<strong>de</strong>ve ser encarada como fonte <strong>de</strong> pesquisa e <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong>, porém ele nos alerta para o<br />

cuidado <strong>de</strong> como usar <strong>de</strong>ssa imagem, por que ao apresentarmos a alguém uma imagem como<br />

ilustração – e, portanto, sem crítica – estamos corroborando a i<strong>de</strong>ia que este faz da imagem,<br />

que como vimos tem no senso comum o valor <strong>de</strong> prova. [...] A imagem, seja um quadro ou<br />

uma foto, passa a ser encarada como produto cultural, e o que é mais importante passível <strong>de</strong><br />

diálogo, <strong>de</strong> interpretação, <strong>de</strong> <strong>de</strong>smascaramento. Ensinar história a partir <strong>de</strong> documentos<br />

familiares, como as fotos antigas e atuais, estas, registros <strong>de</strong> experiências individuais e<br />

familiares, nos possibilita estudar o homem no tempo através da inovação,<br />

2. Vivências e práticas <strong>de</strong> um tempo que se redime através da memória<br />

Tecendo sobre os diversos e possíveis conceitos <strong>de</strong> história, nos <strong>de</strong>paramos com Walter<br />

Benjamim (1940), que contribui afirmando que ao narrar a história, não <strong>de</strong>ve haver distinção<br />

entre os gran<strong>de</strong>s e os pequenos e que somente uma humanida<strong>de</strong> redimida po<strong>de</strong>rá apropriar-se<br />

totalmente do seu passado”. Vivemos em um tempo em que a palavra <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m é mudança.<br />

As ações e atuações do homem no mundo atual incorrem <strong>de</strong> forma “<strong>de</strong>scartável”, pois o que<br />

era já não é mais; a constância per<strong>de</strong>u espaço para o novo e o agora, o imediatismo. Com o<br />

advento da escrita, não cabia mais à memória humana ser sozinha a responsável em registrar<br />

os fatos, reter e preservar informações. Segundo Pickler (2010, p. 05), “com o advento da<br />

escrita, o saber torna-se disponível, estocado, consultável, comparável, <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> ser apenas<br />

aquilo que é útil no dia-a-dia para ser um objeto suscetível <strong>de</strong> análise e exame”. Não<br />

queremos dizer com isso, que a memória escrita aniquila a memória oral no auxílio da<br />

memória biológica. Segundo Le Goof (2003), “a escrita externaliza a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

memorização do cérebro humano; assim, aparentemente, tudo é possível <strong>de</strong> ser lembrado,<br />

uma vez que seja registrado e preservado”.<br />

Percebe-se, então, que o esquecimento <strong>de</strong>ve ser tratado <strong>de</strong> forma relevante, pois este po<strong>de</strong> ser<br />

usado como instrumento i<strong>de</strong>ológico. Morila nos chama a atenção para a questão da<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um trabalho analítico e contextual com as imagens escolhidas ou coletadas<br />

para uso como ferramenta ou fonte histórica no ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong>.<br />

Ao compararmos os três tipos <strong>de</strong> memória mencionados ao longo do texto, a memória<br />

biológica, a escrita e a digital, po<strong>de</strong>mos observar que cada uma <strong>de</strong>las afeta a memória <strong>de</strong><br />

diversas maneiras diferentes e que o esquecimento e a lembrança também ocorrem <strong>de</strong> forma


118<br />

mais evi<strong>de</strong>nte em um ou outro tipo <strong>de</strong> extensão da memória biológica. De acordo com Pickler<br />

(2010), a oral preserva o que interessa, na escrita, o que é julgado convenientemente é<br />

registrado e guardado em suporte e no meio digital, no ciberespaço a retirada <strong>de</strong> documentos<br />

da re<strong>de</strong> implica em esquecimento (p. 4). Refletir sobre esquecimento é fundamental para a<br />

discussão que propomos, lembrando que a memória possui outras categorias apoiadas<br />

atualmente na sua relação com as tecnologias da informação.<br />

2.1 A memória, o passado e a fotografia<br />

O uso o recurso midiático iconográfico como fonte histórica, po<strong>de</strong> contribuir para que os<br />

alunos nas aulas <strong>de</strong> <strong>História</strong> <strong>de</strong>senvolvam, a partir das i<strong>de</strong>ias que já tem, a compreensão <strong>de</strong><br />

conceitos historicamente construídos pelas socieda<strong>de</strong>s humanas, no nosso caso, as percepções<br />

dos eventos <strong>de</strong> um espaço, o ITF, e produzir a partir daí, novos conceitos, novas<br />

representações, ampliando o significado e a percepção da realida<strong>de</strong> para po<strong>de</strong>r transformá-la.<br />

A fotografia, segundo Bencosta (2011, p. 401), “como suporte material da memória e<br />

testemunho da informação histórica, a imagem fotográfica se apresenta como representação<br />

<strong>de</strong> realida<strong>de</strong>s imediatas”. Ele afirma que apesar das fotografias escolares serem uma fonte<br />

histórica carregada <strong>de</strong> sentido, a compreensão <strong>de</strong> sua representação somente será possível<br />

caso as informações resultantes da sua análise estiverem relacionadas ao contexto histórico no<br />

qual foram produzidos. É pertinente afirmar, porém, que a fotografia, <strong>de</strong>fendida como recurso<br />

valioso no resgate e preservação da memória, um meio <strong>de</strong> saber sobre o passado, por si só<br />

“não representa o conhecimento <strong>de</strong>finitivo, mas sim, apenas o registro <strong>de</strong> um momento, já que<br />

o valor histórico como fonte documental vai ser conquistado a partir da pesquisa, do estudo da<br />

imagem (Prado, 2007, p. 05)”. Outros autores <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m essa premissa, visto que afirma Boris<br />

Kossoy (1999), “As imagens fotográficas permitem diferentes interpretações e todos nós<br />

temos um repertório cultural, i<strong>de</strong>ológico, moral, ético. A interpretação vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong>les, e<br />

cada um adaptam-na conforme seus valores”. Morila (2012), quanto ao valor <strong>de</strong>sse<br />

documento no que concerne não só a seleção e manuseio, mas também a produção <strong>de</strong>ssas<br />

imagens, orienta perceber as intenções explicitas e implícitas, um exercício eficaz que<br />

<strong>de</strong>sperta a imaginação e motivação dos alunos. (p. 61).<br />

3. METODOLOGIA<br />

Esta pesquisa foi realizada numa abordagem qualitativa e quantitativa com objetivo <strong>de</strong><br />

realizar um estudo <strong>de</strong> caso no ITF, partindo <strong>de</strong> uma coleta <strong>de</strong> dados, através dos instrumentos<br />

<strong>de</strong> entrevista semiestruturada e questionário. Foi <strong>de</strong>finida como população, 40 (quarenta)<br />

alunos do turno matutino ente 13 e 17 anos, sendo que 10 alunos da 8ª série do ensino<br />

fundamental, turma A, 10 alunos do 1º ano do ensino médio, turma A, 10 alunos do 2º ano do<br />

ensino médio, turma A, 10 alunos do 3º ano do ensino médio, turma A, pois as turmas <strong>de</strong>ssa


119<br />

unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino são organizadas com alunos que estão <strong>de</strong>ntro da correspondência <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong>/série para essas classes, enquanto que as <strong>de</strong>mais turmas são heterogêneas em relação à<br />

ida<strong>de</strong> e com um índice gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> distorção ida<strong>de</strong> série, o qual <strong>de</strong>sejo evitar para tornar a<br />

pesquisa o mais linear possível em relação a ida<strong>de</strong> dos alunos, visto que os interesses e<br />

comportamentos mudam <strong>de</strong> acordo com o crescimento nas séries e ida<strong>de</strong>.<br />

Participarão, ainda, do questionário, 5 professores, sendo 2 <strong>de</strong> <strong>História</strong>, 1 <strong>de</strong> Língua<br />

Portuguesa, 1 <strong>de</strong> Sociologia, 1 <strong>de</strong> Filosofia por fazerem parte <strong>de</strong> um currículo a fim com a<br />

pesquisa, o que po<strong>de</strong>rá facilitar o diálogo com o instrumento e conteúdo do questionário. E,<br />

também, especificamente <strong>de</strong> entrevista, o gestor do colégio, 2 funcionários administrativos,<br />

nos cargos <strong>de</strong> secretário e auxiliar <strong>de</strong> secretaria .<br />

A pesquisa será analisada através <strong>de</strong> método qualitativo e quantitativo, objetivando perceber o<br />

hábito <strong>de</strong> utilizar os recursos das mídias, em especial as imagens fotográficas como meio <strong>de</strong><br />

relembrar o passado e resgatar a memórias e as usar como uma extensão da memória<br />

biológica.<br />

4. RESULTADOS E ANÁLISE<br />

4.1 Questionários aplicados aos alunos<br />

Para atingir o objetivo proposto nesse trabalho, os instrumentos utilizados para a coleta <strong>de</strong><br />

dados foram diversificados, sendo um <strong>de</strong>les, um questionário aplicado aos alunos, cujo foco<br />

estava no fotográfico do indivíduo, das formas e meios <strong>de</strong> adquirir este recurso iconográfico e<br />

seu uso como resgate da memória. Foram utilizados 12 perguntas fechadas e 1 aberta. Para as<br />

questões abertas obteve-se dos 40 alunos o seguinte resultado diante das questões:<br />

“O que são memórias para você?”<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

a) Coisas boas ou ruins que guardamos na nossa mente.<br />

8ªA 1ºA 2ºA 3A<br />

b) São recordações ou lembranças do passado<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

8ªA 1ºA 2ºA 3ºA<br />

Percebe-se, então, que os alunos, em sua gran<strong>de</strong> maioria, respon<strong>de</strong>ram que “memória” está<br />

mais relacionada à palavra como guardar e lembranças.<br />

“Você possui registro <strong>de</strong> memória do Inácio Tosta Filho?”


120<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

Isso mostra que os alunos amadurecem e mudam <strong>de</strong> modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino, e até mesmo quando tem<br />

um convívio maior com a instituição se envolvem mais com os registros.<br />

20<br />

10<br />

0<br />

8ªA 1ºA 2ºA 3ºA<br />

“Compartilha essas memórias/lembranças do passado?”<br />

As respostas nos mostram e provam que a maturida<strong>de</strong> favorece o processo <strong>de</strong> registro e<br />

compartilhamento, evi<strong>de</strong>nciando dos mesmos.<br />

20<br />

10<br />

0<br />

8ªA 1ºA 2ºA 3ºA<br />

“Costuma guardar suas fotografias?”<br />

8ªA 1ºA 2ºA 3ºA<br />

Vemos que as fotografias não só fazem parte do cotidiano e universo dos alunos, mas<br />

também, ao serem guardadas, adquirem valor <strong>de</strong> vestígio histórico, tornando-se fonte<br />

riquíssima <strong>de</strong> estudo e pesquisa.<br />

Sim<br />

Não<br />

Nas questões fechadas foram obtidos os seguintes resultados:<br />

Sim<br />

Não<br />

Sim<br />

Não<br />

“Costuma Guardar suas fotos?”<br />

20<br />

10<br />

0<br />

8ªA 1ºA 2ºA 3ºA<br />

Sim<br />

Não<br />

As vezes<br />

Raramente<br />

Percebemos nessas respostas, a insegurança <strong>de</strong> associar o significado <strong>de</strong> memória e fotografia,<br />

ao compararmos com os resultados do gráfico anterior.<br />

“Essas memórias produzem lembranças?”<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

As respostas <strong>de</strong>ssa questão confirmam o pressuposto <strong>de</strong> que a memória produz lembrança, ou<br />

seja, aquilo que não se quer esquecer.<br />

15<br />

10<br />

8ªA 1ºA 2ºA 3ºA<br />

5<br />

0<br />

“Você se utiliza das fotografias para lembrar?”<br />

8ªA 1ºA 2ºA 3ºA<br />

Comprovando as reflexões do nosso estudo, essas respostas nos afirmam que as fotografias<br />

são usadas em longa escala como recurso para resgatar lembranças.<br />

Sim<br />

Não<br />

Sim<br />

Não


121<br />

“Quais os recursos midiáticos que você utiliza para fotografar?”<br />

Uma verda<strong>de</strong>ira revolução explodiu no século XXI no que concerne à fotografia,<br />

especialmente em relação ao uso das tecnologias digitais agregadas ao ato <strong>de</strong> fotografar,<br />

tornando-a mais popular e <strong>de</strong>mocrática. Todo o processo <strong>de</strong> captação, armazenamento,<br />

impressão tem sido facilitado mediante integração com as tecnologias da informação e<br />

comunicação. Po<strong>de</strong>mos constatar nessas respostas, que a fusão da câmara fotográfica ao<br />

aparelho celular representou um excelente avanço na construção da memória imagética <strong>de</strong><br />

modo a forjar documentos da história privada e coletiva.<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

8<br />

6<br />

4<br />

2<br />

0<br />

8ªA 1ºA 2ºA 3ºA<br />

“Seu celular tira fotografia?”<br />

Percebe-se assim, que o aparelho celular além <strong>de</strong>le mesmo se popularizar, quase<br />

universalizando o seu uso, também representa uma excelente ferramenta <strong>de</strong> armazenamento<br />

da imagem fotográfica.<br />

“Você costuma fotografar com muita frequência?”<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

8ªA 1ºA 2ºA 3ºA<br />

8ªA 1ºA 2ºA 3ºA<br />

Câmara fotográfica<br />

Tablet<br />

Celular<br />

Web can<br />

Outros<br />

Diante das respostas, constatamos que os alunos fazem uso da ação <strong>de</strong> fotografar, buscando<br />

perpetuar um tempo e um espaço que no futuro possam ser recapturados.<br />

“Qual o papel da fotografia no resgate <strong>de</strong>ssas lembranças em sua vida?”<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

8ªA 1ºA 2ºA 3ºA<br />

Segundo Pinheiro e Soares (2011), “Uma única fotografia do passado quando tomada no<br />

presente é capaz <strong>de</strong> trazer a tona uma miría<strong>de</strong> <strong>de</strong> emoções por vezes cambiantes, fazendo-nos<br />

rir, chorar, ressentir e comover sentimentos perpassados por lembranças”. Observamos então,<br />

que as respostas a essa questão provam o quanto as pessoas dão importância, não só à<br />

fotografia, mas à realida<strong>de</strong> vivida e a memória perpetuada.<br />

Sim<br />

Não<br />

As vezes<br />

Importante<br />

Sem importância<br />

“Você costuma guardar memórias do seu período escolar?”<br />

Sim<br />

Não<br />

20<br />

10<br />

0<br />

Sim<br />

Não<br />

8ªA 1ºA 2ºA 3ºA<br />

“Quais os instrumentos, objetos, meios ou fontes utilizados para isso?”


122<br />

10<br />

5<br />

0<br />

8ªA 1ºA 2ºA 3ºA<br />

Cartas<br />

Bibelôs<br />

Fotografias<br />

Diários<br />

Po<strong>de</strong>mos observar, nessas duas últimas questões, que efetivamente a maioria dos alunos<br />

utiliza-se <strong>de</strong> fotografias para guardar suas memórias, apropriando-se <strong>de</strong>sta forma <strong>de</strong> registrar<br />

momentos da vida para posterior recordação e que os meios empregados são diversos para o<br />

resgate <strong>de</strong>ssa memória, mas é evi<strong>de</strong>nte a superiorida<strong>de</strong> do uso da fotografia para esse fim.<br />

Sobre isso, Carvalho (2009, p. 08), afirma que: “Apesar <strong>de</strong> aparentemente mudas, as<br />

fotografias comunicam, expressam e significam”.<br />

4. 2 Questionários aplicados aos professores<br />

Dando continuida<strong>de</strong> à pesquisa, o questionário aplicado aos professores continha 13 questões<br />

ao todo, sendo 11 perguntas fechadas e 2 abertas. Nas perguntas abertas, questionou-se sobre<br />

“o que são memórias para você e qual o papel da fotografia no resgate <strong>de</strong>ssas lembranças em<br />

sua vida?”. De forma aleatória, os professores respon<strong>de</strong>ram <strong>de</strong> modo similar aos estudantes,<br />

afirmando que são resgate <strong>de</strong> mementos vividos e lembranças <strong>de</strong> uma vida. E quanto ao<br />

papel, quase que repetiram a resposta da primeira pergunta, só que com outras palavras.<br />

Nas questões fechadas, cinco professores respon<strong>de</strong>ram que costumam guardar suas memórias,<br />

três respon<strong>de</strong>ram que só às vezes e um raramente. Respon<strong>de</strong>ram ainda, que os meios que<br />

utilizam, cumulando opções, são: nove professores armazenam fotografias em pendrive ou<br />

cartão <strong>de</strong> memória, oito respon<strong>de</strong>ram fotografias impressas, um em ví<strong>de</strong>os VHS, dois em<br />

ví<strong>de</strong>os no celular e quatro no Facebook.<br />

Em outra questão, “essas memórias produzem lembranças?” Nove respon<strong>de</strong>ram sim e um<br />

não. E na pergunta “você utiliza fotografias para relembrar?”, também nove respon<strong>de</strong>ram sim<br />

e um não. Na pergunta “Você costuma compartilhar essas memórias / lembranças com outras<br />

pessoas?”, Nove respon<strong>de</strong>ram sim e um não. Em “Você costuma guardar memórias do seu<br />

período escolar?” Sete respon<strong>de</strong>ram sim e três não. E ainda, “Quais os instrumentos, objetos,<br />

meios ou fontes são utilizados para isso?”, Três professores respon<strong>de</strong>ram carta, sete<br />

fotografias, e <strong>de</strong> forma cumulativa, um roupas, dois livros e / ou periódicos.<br />

Na pergunta seguinte “Você possui registros <strong>de</strong> memórias do ITF?”, Oito respon<strong>de</strong>ram sim e<br />

dois não. Em “Compartilha com alguém essas memórias?”, sete respon<strong>de</strong>ram sim e três não.<br />

E na pergunta “Costuma guardar suas fotografias?”, sete respon<strong>de</strong>ram sim e três não. Na<br />

última pergunta, “Já utilizou algumas <strong>de</strong>ssas fotografias do ITF para algum trabalho escolar<br />

que envolvesse resgate da memória do Colégio?”, três professores respon<strong>de</strong>ram sim e três<br />

não.


123<br />

Diante das respostas dos professores, observamos uma similarida<strong>de</strong> às respostas dos alunos,<br />

nos provando que a fotografia é fonte histórica rica, simples, <strong>de</strong> uso social, individual e<br />

coletivo, porém constatamos que muito pouco aproveitada como recurso pedagógico, quando<br />

po<strong>de</strong>ria fazer parte do cotidiano escolar na busca e estímulo a um pensamento reflexivo.<br />

4.3 Entrevistas aplicadas aos funcionários e gestores<br />

A pesquisa realizada junto aos funcionários e equipe gestora do ITF teve como instrumento<br />

para coleta <strong>de</strong> dados uma entrevista semiestruturada.<br />

Os resultados <strong>de</strong>monstram que o Colégio não possui um acervo fotográfico organizado,<br />

possuindo apenas algumas fotografias <strong>de</strong> anos aleatórios, sem nenhum tipo <strong>de</strong> cuidado<br />

específico para conservação e preservação. Os eventos que são fotografados não são pré<strong>de</strong>terminados<br />

pela importância da culminância para a memória histórica da entida<strong>de</strong>, mas<br />

segundo todos os entrevistados, são escolhidos pelo calendário escolar anual. Em outras<br />

perguntas, <strong>de</strong>clararam em suas respostas que o ITF não tem uma pessoa responsável por estas<br />

fotografias e que estas eram raramente usadas por professores e alunos. A análise <strong>de</strong>sses<br />

dados nos revela que apesar da escola ter potencial para possuir um acervo fotográfico, não<br />

tem <strong>de</strong>monstrado preocupação com essa forma <strong>de</strong> representação dos indivíduos (a<br />

comunida<strong>de</strong> escola) para a posterida<strong>de</strong>.<br />

A partir da comparação das i<strong>de</strong>ias apresentadas na fundamentação teórica e as respostas<br />

obtidas nos questionários e entrevistas, percebe-se que a fotografia faz parte do cotidiano das<br />

pessoas e que estas são usadas como recurso para resgatar a memória <strong>de</strong> uma história e, ainda<br />

que a maioria das pessoas gosta <strong>de</strong> fotografar, <strong>de</strong> guardar e compartilhar suas fotografias, e<br />

que utilizam diversos meios, recursos e ferramentas para esse fim. Mas, por outro lado,<br />

percebe-se que os funcionários e equipe gestora não organizam o acervo fotográfico da<br />

instituição impossibilitando ou inibindo, assim, o uso <strong>de</strong>ste por professores e alunos.<br />

Percebemos, também, que o professor faz pouco uso <strong>de</strong>ste recurso midiático iconográfico em<br />

suas salas <strong>de</strong> aulas, fazendo necessário por conta da importância do mesmo, que toda a equipe<br />

escolar discuta e promova movimentos <strong>de</strong> aprendizagem com essa fonte histórica tão<br />

pertinente, pertencente e prática para resgatar a memória e produzir lembranças.<br />

5. CONSIDERAÇÕES<br />

Ao compararmos os resultados dos dados obtidos na pesquisa, tanto nos questionários quanto<br />

nas entrevistas, com as i<strong>de</strong>ias dos teóricos analisados na pesquisa bibliográfica, constatamos<br />

que apesar da fotografia ser um recurso midiático <strong>de</strong> fácil acesso, principalmente pelas<br />

camadas populares, aja vista que esta foi, com o passar dos anos, sendo incorporada ao mundo<br />

tecnológico digital, especialmente no celular e nas re<strong>de</strong>s sociais <strong>de</strong> comunicação e<br />

informação, principalmente o Facebook, tem sido pouco utilizada pela escola como fonte <strong>de</strong>


124<br />

pesquisa e vestígio histórico como também pouco manuseada como ferramenta nas práticas<br />

pedagógicas cotidianas por parte dos professores, inclusive os da disciplina <strong>de</strong> <strong>História</strong>.<br />

Percebemos, ainda, que a própria entida<strong>de</strong> escolar não contempla este recurso midiático<br />

iconográfico como acervo histórico, não tratando <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>quada para preservação o seu<br />

material fotográfico, inclusive, não foi possível a mim, como professora <strong>de</strong> <strong>História</strong> da<br />

unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino pesquisada, realizar paralelamente as ativida<strong>de</strong>s, a <strong>de</strong> pesquisar e a <strong>de</strong><br />

inovar pedagogicamente, pelo menos no que concerne ao resgate histórico do ITF pelas<br />

fotografias, em virtu<strong>de</strong> da escassez <strong>de</strong>sse acervo.<br />

As discussões apresentadas neste artigo e as reflexões acerca da questão do resgate <strong>de</strong><br />

memórias através da fotografia visam sensibilizar toda a comunida<strong>de</strong> escolar para o uso <strong>de</strong>sse<br />

recurso midiático iconográfico como fonte <strong>de</strong> pesquisa histórica e extensão da memória<br />

humana e, em especial, os docentes que atuam na disciplina <strong>de</strong> <strong>História</strong> pela relevância da<br />

importância <strong>de</strong> preservar a memória local, especificamente, a instituição <strong>de</strong> ensino, o Colégio<br />

ITF, e, também, evi<strong>de</strong>nciar o potencial dos documentos fotográficos guardados em arquivos e<br />

acervos públicos e/ ou particulares, contribuindo para um ensino mais significativo e<br />

potencialmente mais interessante para os alunos e para um diálogo mais efetivo com a<br />

comunida<strong>de</strong>. Em síntese, po<strong>de</strong>mos dizer que a fotografia escolar po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve ser uma<br />

“mensagem que registre comportamentos, tradições e eventos. [...] testemunha <strong>de</strong> um<br />

aconteceu assim (Bencosta 2001, p. 407).<br />

Destarte, durante a construção <strong>de</strong>ssa pesquisa, po<strong>de</strong>mos enxergar a fotografia como<br />

ferramenta <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> revelação metodológica no auxílio do ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong> e após<br />

explanarmos nossas reflexões acerca <strong>de</strong>ssa proposta, afirmamos que métodos e técnicas<br />

diferenciados oportunizam o aprimoramento nas aprendizagens ativas para a formação cidadã<br />

e, portanto, mais eficazes.<br />

REFERÊNCIAS<br />

BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas. Vol. 1. Magia e técnica, arte e política. Ensaios<br />

sobre literatura e história da cultura. Tradução: Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo:<br />

Brasiliense, 1987, p. 222- 232.<br />

BRASIL. Secretaria <strong>de</strong> Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro<br />

e quarto ciclo do ensino fundamental: introdução aos parâmetros nacionais. MEC, Brasília,<br />

1998.<br />

_______ Secretaria <strong>de</strong> Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro<br />

e quarto ciclo do ensino fundamental: <strong>História</strong>. MEC. Brasília, 1998.


BENCOSTTA, Marcus Levy. Memória e Cultura Escolar: a imagem fotográfica no<br />

estudo da escola primária <strong>de</strong> Curitiba, 2011. _______ Disponível em<br />

http://www.scielo.br/pdf/his/v30n1/v30n1a19.pdf Acesso em 28/12/2012.<br />

125<br />

CARVALHO, <strong>de</strong> Renato, A fotografia como memória do passado, 2009. ____Disponível<br />

em:http://www.partes.com.br/cultura/fotografiacomomemoria.asp Acesso em 12/09/2012.<br />

LE GOFF, Jacques, 1924 <strong>História</strong> e memória / Jacques Le Goff; tradução Bernardo Leitão.<br />

[et al.] -- Campinas, SP Editora da UNICAMP, 1990. (Coleção Repertórios)<br />

KOSSOY, B. Realida<strong>de</strong>s e ficções na trama fotográfica. São Paulo: Ateliê editorial, 1999.<br />

MORAN, José Manuel, Especialista em projetos inovadores na educação presencial e a<br />

distância _____ 2007. Disponível em: http://www.eca.usp.br/moran/midias_educ.htm<br />

Acesso em 08/09/2012.<br />

MORILA, Ailton P. Diálogos sobre o ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong>. São Mateus/ES: Ed. Do Autor, 2012.<br />

PRADO, Sandra Mara. <strong>História</strong>, Memória e I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>: O Município <strong>de</strong> Maria Helena<br />

através da Fotografia, 2007. ________________________ Disponível em<br />

http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/p<strong>de</strong>/arquivos/225-4.pdf<br />

Acesso em 28/12/2012.<br />

PICKLER, Maria Elisa Valentin, MONTEIRO, Silvana Drumond e CARELLI, Ana<br />

Esmeralda. A Ciência da Informação, Memória e Esquecimento, 2008. ___________<br />

Disponível em http://www.dgz.org.br/<strong>de</strong>z08/F_I_art.htm Acesso em 07/01/2013.


A APRENDIZAGEM DOS ALUNOS NA DISCIPLINA DE HISTÓRIA NO ENSINO<br />

FUNDAMENTAL.<br />

126<br />

Diógenes Santa Santos 14<br />

Jasmim Lima dos Santos 15<br />

Prof. Me. Ariosvaldo Alves Gomes 16<br />

Prof. Me. Gislaine Romana Carvalho da Silva 17<br />

O presente artigo é resultado das aulas tidas na disciplina <strong>de</strong> estagio supervisionado I, on<strong>de</strong><br />

através das observações na escola em que atuávamos como estagiários surgiram algumas<br />

indagações a respeito do ensino <strong>de</strong> historia e sua aplicabilida<strong>de</strong>, tal artigo tem como objetivo<br />

analisar o processo <strong>de</strong> aprendizagem dos alunos na disciplina <strong>de</strong> história no ensino<br />

fundamental, i<strong>de</strong>ntificando quais os fatores que contribuem para este processo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento seja ele positivo ou negativo. Para enten<strong>de</strong>r melhor sobre isto, iremos falar<br />

sobre o ensino <strong>de</strong> história, sua aplicabilida<strong>de</strong>, o papel do professor como agente responsável<br />

<strong>de</strong> transmitir a matéria, metodologias, didáticas e como a forma <strong>de</strong> se aplicar e ver o ensino <strong>de</strong><br />

historia po<strong>de</strong> influenciar no <strong>de</strong>senvolvimento do aluno. Para isso, utilizaremos autores como<br />

Circer Bittencourt, Leandro Karnal entre outros, para <strong>de</strong>bater sobre o ensino <strong>de</strong> historia, sua<br />

importância, a visão dos alunos e o papel do professor, para que assim possamos compreen<strong>de</strong>r<br />

melhor sobre os temas que preten<strong>de</strong>mos abordar. Para compreen<strong>de</strong>r o processo do ensino <strong>de</strong><br />

historia foram entrevistados 30 alunos mais o professor da disciplina, on<strong>de</strong> a partir das<br />

entrevistas analisamos como o ensino <strong>de</strong> história tem sido trabalhado em sala <strong>de</strong> aula, e qual é<br />

a visão dos alunos a respeito à importância da matéria. Com isso, buscamos i<strong>de</strong>ntificar quais<br />

são os fatores que contribuem para o processo do <strong>de</strong>senvolvimento da aprendizagem dos<br />

alunos na disciplina, buscando enten<strong>de</strong>r as falhas que o ensino <strong>de</strong> história em sala ainda<br />

comete e que prejudicam a formação dos alunos, a fim <strong>de</strong> que assim tivéssemos uma melhor<br />

compreensão <strong>de</strong> como aplicar a matéria <strong>de</strong> história em sala <strong>de</strong> aula. Concluindo que, cabe ao<br />

docente educador permanecer em seu objetivo, acreditando estar evoluindo e buscando<br />

sempre i<strong>de</strong>ntificar quais são as causas para o mal rendimento <strong>de</strong> sua turma, caso haja, pois<br />

i<strong>de</strong>ntificando o problema é possível buscar soluções, on<strong>de</strong> o professor não po<strong>de</strong> olhar a turma<br />

apenas como um todo, mas consi<strong>de</strong>rar seus avanços individuais, pois talvez não se possa<br />

alcançar a totalida<strong>de</strong> no ensino em uma única sala, mas a minoria não po<strong>de</strong> ser ignorada nem<br />

tão pouco <strong>de</strong>svalorizada, pois ela representa os avanços e conquistas <strong>de</strong> sua pratica como<br />

docente.<br />

Palavras-chave: Ensino <strong>de</strong> Historia, processo <strong>de</strong> aprendizagem, fatores <strong>de</strong> contribuição.<br />

INTRODUÇÃO<br />

O ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong> é sem duvida um assunto dotado <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> velhos<br />

paradigmas, é notório que na atualida<strong>de</strong> acadêmica tem-se tido o gran<strong>de</strong> esforço <strong>de</strong><br />

reorganizar o pensamento a respeito à disciplina <strong>de</strong> história em sala <strong>de</strong> aula, pois durante um<br />

longo período na educação a disciplina foi vista como responsável unicamente em transmitir<br />

acontecimentos antigos que <strong>de</strong> nada interagiam com a vida do docente, tornando assim os<br />

14<br />

Graduando em <strong>História</strong> pela UNEB, Campus X. E-mail: diogenessantana.ds94@gmail.com<br />

15<br />

Graduanda em <strong>História</strong> pela UNEB, Campus X. E-mail: jasminlimas.jl@gmail.com<br />

16<br />

Professor da UNEB, Campus X. Orientador. E-mail: tyry@tdf.com.br<br />

17<br />

Professora da UNEB, Campus X. orientadora. E-mail: gislainercs@gmail.com


127<br />

alunos como meros observadores da história e não seres críticos e participantes <strong>de</strong>la. Hoje, na<br />

educação do ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong> o professor educador tem como papel fundamental transmitir<br />

a disciplina <strong>de</strong> forma em que o aluno possa se ver como agente participante da historia, tendo<br />

o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> situar o aluno no mundo tornando-o um ser crítico, político e social.<br />

Diante disso, durante as aulas <strong>de</strong> estágio <strong>de</strong> observação na Escola Municipal Antônio<br />

Chicon Sobrinho em Teixeira <strong>de</strong> Freitas – BA com a turma do 7ºB do ensino fundamental foi<br />

possível notar que havia uma gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> na compreensão da disciplina <strong>de</strong> historia e<br />

um baixo rendimento na matéria por parte dos alunos, on<strong>de</strong> os mesmos se mostravam não ter<br />

interesse pelas as explicações e não consi<strong>de</strong>ravam sua importância. A partir <strong>de</strong>sse problema<br />

fez-se necessário enten<strong>de</strong>r como o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do ensino <strong>de</strong> história em sala<br />

<strong>de</strong> aula po<strong>de</strong> contribuir para o interesse ou a falta <strong>de</strong>le na disciplina. Para esta analise foram<br />

entrevistados 30 alunos mais o professor <strong>de</strong> história, on<strong>de</strong> foram feitas perguntas sobre sua<br />

visão a respeito da matéria, o seu olhar sobre o <strong>de</strong>senvolvimento da sala e o objetivo da<br />

disciplina para que, através das respostas obtidas, seja analisada como o ensino <strong>de</strong> história<br />

tem sido trabalhado em sala <strong>de</strong> aula. Analisando ainda a metodologia e didática usada pelo<br />

professor, a opinião que possuem sobre a função da história em sala <strong>de</strong> aula e seu impacto<br />

individual, dialogando com a visão sobre as mesmas questões vistas pelo professor educador<br />

da matéria.<br />

Mediante a esses questões é preciso i<strong>de</strong>ntificar quais as falhas que o ensino <strong>de</strong> história<br />

em sala <strong>de</strong> aula ainda comete e como isso po<strong>de</strong> prejudica a formação dos alunos, a fim <strong>de</strong> ter<br />

uma melhor compreensão <strong>de</strong> como aplicar a matéria <strong>de</strong> história, levando sempre em conta a<br />

visão do aluno em relação à disciplina, o vendo não como um ser disposto apenas para<br />

aprendê-la, mas sim como sujeito <strong>de</strong> interação com a disciplina, pois ele é também um sujeito<br />

histórico. Diante <strong>de</strong>ssa percepção, será <strong>de</strong>batida sobre o ensino <strong>de</strong> história, sua aplicabilida<strong>de</strong>,<br />

o papel do professor, metodologias e didáticas e como a forma <strong>de</strong> se aplicar e ver o ensino <strong>de</strong><br />

historia po<strong>de</strong> influenciar no <strong>de</strong>senvolvimento do aluno. Para tanto, será feita a análise entre os<br />

fundamentos teórico-metodológicos da <strong>História</strong> e o processo <strong>de</strong> ensino/aprendizagem <strong>de</strong><br />

<strong>História</strong>, a fim <strong>de</strong> reforçar nossa linha <strong>de</strong> pesquisa e fortalecer que a educação é o fator<br />

primordial na formação do indivíduo na socieda<strong>de</strong>, mas que, muitas das vezes, não aten<strong>de</strong> as<br />

necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> todos os indivíduos. Para enfatizar essas questões, <strong>de</strong> acordo com Leandro<br />

Karnal (2004, p. 10) “é comum ver professores frustrados porque não conseguiram “dar toda<br />

a matéria” ao longo do ano letivo”. Ensinar história sempre se constitui num <strong>de</strong>safio para os<br />

professores, consi<strong>de</strong>rando sua abrangência, complexida<strong>de</strong> e as não poucas dificulda<strong>de</strong>s dos<br />

alunos para com o estabelecimento <strong>de</strong> relações com tempos e épocas históricas. Circe<br />

Bittencourt enten<strong>de</strong> que; Um primeiro <strong>de</strong>safio para quem ensina <strong>História</strong> parece ser a<br />

explicação da razão <strong>de</strong> ser da disciplina [...] (2009, p. 11). Percebe-se ai que a educação


128<br />

voltada ao ensino e aprendizagem tem-se tornado um <strong>de</strong>safio para os professores,<br />

principalmente na disciplina <strong>de</strong> <strong>História</strong> on<strong>de</strong> muitos alunos acreditam que a mesma é<br />

composta somente <strong>de</strong> narrativa épica, permeada <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s nomes e feitos. Na ótica dos<br />

alunos, geralmente a historia é vista como acontecimentos passados que tiveram como marco<br />

histórico datas, heróis, cida<strong>de</strong>s, países, sendo na maioria das vezes o foco central do ensino,<br />

on<strong>de</strong> são valorizadas ações passadas e que em <strong>de</strong>terminados momentos o aluno não vem a ser<br />

questionado. Bittencourt ainda ressalta que, indiferentemente das dúvidas, das indagações, das<br />

perplexida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> educadores e educandos, o estudo da <strong>História</strong> permanece assegurado nos<br />

contextos escolares, mediante as propostas curriculares, mas ao ensinar <strong>História</strong>, o professor<br />

tem a oportunida<strong>de</strong> privilegiada <strong>de</strong> levar o estudante a estabelecer com esse campo <strong>de</strong> estudo<br />

uma relação duradoura, que ultrapasse os limites da escola.<br />

Outro ponto a se observar também é como vem sendo manejado o livro didático pelos<br />

professores que se utiliza <strong>de</strong>sse recurso como única ferramenta <strong>de</strong> ensino. De acordo com<br />

Freitas, ainda hoje os segmentos <strong>de</strong> análise se intitulam: o professor e os livros didáticos, que<br />

já não é novida<strong>de</strong> tê-los como protagonistas em discussões <strong>de</strong>ssa alçada. Ou seja, em gran<strong>de</strong><br />

parte das vezes, a escolha do livro didático constitui-se no principal meio <strong>de</strong> trabalho dos<br />

educadores e servindo <strong>de</strong> base <strong>de</strong> conhecimento para os alunos, que cada vez mais se valem<br />

<strong>de</strong>sse objeto como se os mesmo carregassem em si a verda<strong>de</strong> absoluta das coisas, porque os<br />

professores ficam presos aos conteúdos dos livros, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> lado o conhecimento <strong>de</strong><br />

mundo do aluno ao invés <strong>de</strong> trabalhar assuntos que envolvam sua realida<strong>de</strong>, relacionando-a<br />

com contextos passados. Assim fica notório que a realida<strong>de</strong> do ensino <strong>de</strong> história valoriza<br />

muitas questões passadas como únicos e verda<strong>de</strong>iros acontecimentos históricos, <strong>de</strong>ixando<br />

muitas vezes <strong>de</strong> construir o conhecimento concreto a partir do que já existe sem <strong>de</strong>svalorizar<br />

as informações historicamente construídas. Contudo cabe também afirmar que alguns<br />

professores acabam não utilizando <strong>de</strong>sse conhecimento <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>quada, isto é, não<br />

possibilitam ao aluno uma visão <strong>de</strong> mundo do seu contexto.<br />

Cabrini (2000) ainda ressalta que ensinar história a partir da nítida divisão entre o<br />

saber e o não saber configura-se como um produto acabado e pronto como se fosse uma<br />

verda<strong>de</strong> absoluta transmitida pelo professor e até mesmo pelos livros didáticos e faz com que<br />

o aluno não se preocupe com as condições <strong>de</strong>ste produto acabado, ficando <strong>de</strong>ssa forma<br />

prisioneiro a uma concepção teológica do conhecimento do passado, ou seja, o que é passado<br />

aos alunos são conteúdos geralmente já “cristalizados” no ensino da história que por muitas<br />

das vezes, fogem da realida<strong>de</strong> histórica e da realida<strong>de</strong> imediata por eles vividas<br />

impossibilitando-o ao indagamento sobre a sua própria realida<strong>de</strong> individual, da sua família,<br />

da sua classe e principalmente da historicida<strong>de</strong>. Segundo o autor, muitos dos problemas<br />

emergidos na educação afetam direta e indiretamente a forma como é repassado os conteúdos


129<br />

das disciplinas em sala <strong>de</strong> aula. Nesse sentido, muitos dos problemas mesmo que externos à<br />

escola refletem no dia-a-dia da sala <strong>de</strong> aula. Entretanto, Cabrini <strong>de</strong>staca que como seres<br />

humanos estamos em construção, e por conta disso não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> perceber que a<br />

nossa socieda<strong>de</strong> está passando por mudanças, e essas mudanças estão chegando às escolas<br />

numa época <strong>de</strong> quebra <strong>de</strong> paradigmas, on<strong>de</strong> os alunos estão chegando às escolas com<br />

conceitos e valores diferentes daqueles que os professores foram educados, causando <strong>de</strong> certa<br />

forma um <strong>de</strong>scompasso entre a realida<strong>de</strong> em que o professor foi educado e a realida<strong>de</strong> em que<br />

os alunos vivem hoje.<br />

Morin ao analisar o contexto escolar, reflete sobre o distanciamento entre a vivência<br />

do aluno e a forma que o professor ten<strong>de</strong> a passar <strong>de</strong>terminados conteúdos, o dinamismo<br />

vivenciado pelo aluno está fora da realida<strong>de</strong> transmitida pela maioria dos professores <strong>de</strong><br />

história, que ten<strong>de</strong>m a ensinar uma “história estrangeira” como comenta:<br />

Como ligar o ensino <strong>de</strong> história à preocupação com o presente e com o<br />

futuro que os adolescentes po<strong>de</strong>m experimentar? Essas questões colocam-se<br />

na realida<strong>de</strong> porque a história, aquela que os historiadores contam e tentam<br />

explicar e interpretar parece estrangeira ao que os homens fazem e<br />

experimentam. [...] vou tentar argumentar em favor da disciplina histórica<br />

mostrando que esse distanciamento da história com relação à vida é, na<br />

verda<strong>de</strong>, constituído do conhecimento histórico. (2002, p. 369)<br />

De acordo com MORIN esse distanciamento vivenciado no ensino <strong>de</strong> história fica<br />

mais evi<strong>de</strong>nte quando analisarmos a história da educação. Percebemos que estamos passando<br />

por gran<strong>de</strong>s mudanças, reformas e aperfeiçoamentos em relação ao ensino, o papel do<br />

professor na maioria das vezes era <strong>de</strong> exercer influência sobre o comportamento dos sujeitos<br />

sociais que ali atuavam, levando à construção <strong>de</strong> um discurso que influenciava<br />

comportamentos. Ao <strong>de</strong>stacar o papel do professor neste processo, Circe Bittencourt, afirmar<br />

que o professor é uma peça fundamental do processo <strong>de</strong> ensino e que é ele quem transforma o<br />

“saber a ser ensinado em saber a ser apreendido”. O professor é um mero “reprodutor do<br />

saber”, pois sua ativida<strong>de</strong> exige saber complexo, <strong>de</strong>senvoltura, domínio. Assim o professor<br />

como mediador do conhecimento po<strong>de</strong> trabalhar partindo <strong>de</strong> um confronto entre o particular e<br />

o geral, o próximo e o distante, contribuindo para uma ativida<strong>de</strong> docente que valorize<br />

primeiramente a realida<strong>de</strong> concreta, para posteriormente envolver as situações abstratas.<br />

Baseada nessas perspectivas Marta Valquíria Winch vai dizer:<br />

O ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong>, hoje em intenso processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates e criticas, é<br />

abordado por diferentes educadores que almejam mudanças com dois<br />

principais objetivos: formar cidadão crítico e levar o aluno a sentir-se sujeito<br />

da história. (2001, p. 39)


130<br />

Assim é importante ressaltar que <strong>de</strong>bater sobre o ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong> é compreen<strong>de</strong>r<br />

sua contribuição na vida social do individuo levando em consi<strong>de</strong>ração suas características<br />

próprias, on<strong>de</strong> o ambiente escolar é um pequeno espaço da socieda<strong>de</strong> que envolve uma<br />

diversida<strong>de</strong> bastante complexa <strong>de</strong> pensamentos, costumes e idéias diversos, porém a escola<br />

também <strong>de</strong>ve respeitar e valorizar a singularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada ser humano, pois são essas<br />

diferenças que formam nossa socieda<strong>de</strong> com os mais diversos valores sociais. Reconhecemos<br />

que a sala <strong>de</strong> aula é o local primordial <strong>de</strong> atuação do professor, on<strong>de</strong> existe relação entre<br />

interlocutores, construtores <strong>de</strong> sentidos e significados. Essa dimensão, além <strong>de</strong> ser convidativa<br />

para a reflexão, <strong>de</strong>safia os profissionais do ensino a assumirem posturas ousadas, criativas,<br />

compromissadas com transformações no seio escolar. Compreen<strong>de</strong>mos também que estudar a<br />

história nos remete um estudo da nossa própria realida<strong>de</strong> social, uma vez que a história não se<br />

refere somente ao passado, pois toda ação humana tem um valor histórico que po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve ser<br />

conhecido, valorizando e transmitindo as futuras gerações. Winch ainda afirma:<br />

A história, para ser interessante ao aluno, implica em “aten<strong>de</strong>r” a muitas<br />

ansieda<strong>de</strong>s, aspirações e respon<strong>de</strong>r questionamentos <strong>de</strong> crianças e jovens<br />

sobre acontecimentos que norteiam suas vidas e, para tal, necessita-se <strong>de</strong><br />

professores que <strong>de</strong>ixem o positivismo latente e adotem uma postura<br />

questionadora diante dos acontecimentos, nos quais, a realida<strong>de</strong> do é aluno é<br />

o ponto <strong>de</strong> partida e <strong>de</strong> chegada. (2001, p. 40)<br />

Mediante a essa percepção, <strong>de</strong> acordo com Ernesta Zamboni citada pela autora, é<br />

importante que o professor saiba problematizar o conteúdo à realida<strong>de</strong> cotidiana para que<br />

possa criar condições para que o aluno pense sobre ele, argumente e fundamente suas<br />

opiniões. Essa questão <strong>de</strong> problematizar o conteúdo exige que o “aluno pesquise, levante<br />

hipóteses, classifique-as e passe a um processo <strong>de</strong> comprovação ou rejeição com argumentos<br />

da hipótese escolhida”, pois a problematização vai ampliar possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> reflexão fazendo<br />

com que o aluno fuja da tradicional memorização ou <strong>de</strong>coreba dos fatos e acontecimentos.<br />

Dessa maneira a escola não tem apenas a função <strong>de</strong> preparar os cidadãos para o mercado<br />

competitivo <strong>de</strong> trabalho, mas também salientar <strong>de</strong> que escola tem em sua essência formar<br />

pessoas para a cidadania, ensinando os valores que permeiam na socieda<strong>de</strong>, sobre tudo<br />

quando se pensa em igualda<strong>de</strong> e justiça social, on<strong>de</strong> o professor também é uma importante<br />

figura nesse processo, por isso funciona como um mediado <strong>de</strong> saberes que precisa ter o<br />

compromisso com sua profissão, trabalhar em conjunto com os <strong>de</strong>mais educadores, para que<br />

concretize <strong>de</strong> fato uma educação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, que avalie o aluno como ser pensante, sem<br />

<strong>de</strong>sprezar seus conhecimentos. Schmidt orienta que o professor <strong>de</strong> <strong>História</strong> trabalhe a partir da<br />

problematização, superando a “passivida<strong>de</strong>”, características do alunado receptivo:<br />

O professor <strong>de</strong> <strong>História</strong> po<strong>de</strong> ensinar o aluno a adquirir as ferramentas <strong>de</strong><br />

trabalho necessárias; o saber-fazer bem, lançar os germes do histórico. Ele é<br />

responsável por ensinar o aluno a captar e a valorizar a diversida<strong>de</strong> dos


131<br />

pontos <strong>de</strong> vista. Ao professor cabe ensinar o aluno a levantar problemas e<br />

reintegrá-los num conjunto mais vasto <strong>de</strong> outros problemas, procurando<br />

transformar, em cada aula <strong>de</strong> história temas em problemáticas. (2002, p. 57)<br />

Dessa maneira, o autor esclarece que transformar temas <strong>de</strong> estudos em problemas <strong>de</strong><br />

investigação significa, em suma, <strong>de</strong>svencilhar-se <strong>de</strong> certas comodida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> certa “pseudosegurança”<br />

que impactam a discussão e a produção <strong>de</strong> conhecimento, bem como fazeres<br />

pedagógicos em sala <strong>de</strong> aula, isto é, as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas por professores e alunos. As<br />

prováveis soluções, ou o ensaio <strong>de</strong> novas alternativas, precisam estar respaldados pelo i<strong>de</strong>al<br />

transformador, pois, segundo Theodoro:<br />

Se não sabemos colocar o problema, observar uma situação por diferentes<br />

ângulos, trabalhar inúmeras variáveis, estabelecer relações, discutir as<br />

premissas, não encontraremos o campo do provável. Se não sabemos<br />

questionar hipóteses, também não saberemos enfrentar mudanças. (2003, p.<br />

53)<br />

Assumir efetivamente a opção pela transformação exige mais que simples leituras<br />

bibliográficas orientadoras para tal. Cabe ao professor, em conjunto com seus alunos, o<br />

potencial transformador do ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong>, bem como <strong>de</strong>senvolver estratégias que<br />

envolvam a ambos. Assim, o professor em sua prática <strong>de</strong>ve ser além <strong>de</strong> professor um<br />

educador. Somente repassar o conhecimento obrigatório <strong>de</strong> sua disciplina não aten<strong>de</strong> mais às<br />

necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pessoas que já chegam à escola moldadas pelas mudanças sociais,<br />

econômicas, culturais e tecnológicas <strong>de</strong> sua vida cotidiana.<br />

2. O ENSINO DE HISTÓRIA: O OLHAR DO ALUNO.<br />

Observando o <strong>de</strong>senvolvimento da turma do 7ºB do ensino fundamental da Escola<br />

Municipal Antônio Chicon Sobrinho ao <strong>de</strong>correr do ano <strong>de</strong> 2015, foi possível notar<br />

claramente o mau rendimento da sala em relação a disciplina <strong>de</strong> história, on<strong>de</strong> a gran<strong>de</strong><br />

maioria não alcançava a média das notas no semestre e se mostravam totalmente<br />

<strong>de</strong>sinteressados na matéria. Para ilustrar melhor sobre isto observe a tabela abaixo:<br />

I UNIDADE <strong>II</strong> UNIDADE <strong>II</strong>I UNIDADE<br />

Aprovados 18 10 19<br />

Reprovados 14 22 11


132<br />

Po<strong>de</strong>-se notar a partir dai que a turma não conseguiu evoluir <strong>de</strong> forma positiva na<br />

disciplina no <strong>de</strong>correr do ano, nota-se que a cada unida<strong>de</strong> o número <strong>de</strong> alunos reprovados na<br />

matéria é quase a mesma média ou superior ao número <strong>de</strong> alunos aprovados, tendo apenas o<br />

terceiro semestre como o melhor rendimento do ano em que se tem um número maior <strong>de</strong><br />

aprovação, no entanto a média da turma foi 6,0 mostrando que embora o número <strong>de</strong><br />

aprovados possam ser maiores nesta unida<strong>de</strong>, a nota ainda é baixa, sendo que incluindo no<br />

número <strong>de</strong> alunos aprovados encontra-se entre eles uma boa parte que já se encontram<br />

reprovados no ano letivo por não terem a condição <strong>de</strong> alcançarem a média total <strong>de</strong> 20 pontos<br />

no final do ano, os levando assim diretamente ao conselho <strong>de</strong> classe. Isso mostra claramente o<br />

rendimento da turma na disciplina <strong>de</strong> historia durante o ano.<br />

A turma analisada continha trinta alunos matriculados regularmente e se encontrava na<br />

faixa etária <strong>de</strong> 12 a 16 anos, on<strong>de</strong> cinco <strong>de</strong>les estavam repetindo a sétima série pela segunda<br />

vez. Com base nesta realida<strong>de</strong> foi aplicada um questionário aos alunos em visão do que cada<br />

um tem sobre si como alunos, como forma <strong>de</strong> uma auto avaliação, que consistiu em saber se<br />

eles se consi<strong>de</strong>ravam alunos: bons, ruins, ótimos ou medianos. Ao fazer o levantamento dos<br />

dados obtidos os resultados foram: sete alunos se consi<strong>de</strong>raram bons, seis como ótimos<br />

alunos, quinze como alunos medianos e dois como alunos ruins. Nisto temos a média <strong>de</strong> que a<br />

turma se consi<strong>de</strong>ra em sua maioria, uma turma mediana na disciplina <strong>de</strong> historia, no entanto<br />

isto entra em contradição ao observarmos as notas tidas pela a turma no <strong>de</strong>correr do ano na<br />

matéria.<br />

Os alunos aos serem questionados sobre a importância da disciplina <strong>de</strong> história em<br />

sala <strong>de</strong> aula, 100% dos alunos apontaram consi<strong>de</strong>rar a matéria extremamente importante para<br />

a formação do aluno, mas ao perguntamos o porquê <strong>de</strong>ssa importância obteve-se as seguintes<br />

respostas: “Ela ajuda a conhecer coisas que aconteceram no passado” “Pois, temos que saber<br />

da época antiga para ficarmos bem informados e também é bom saber sobre as historias<br />

antigas” “A gente conhece coisas antigas, estuda o conteúdo básico do livro e busca enten<strong>de</strong>r<br />

como era as coisas naquele tempo.”<br />

Com base nestas respostas po<strong>de</strong>-se claramente ver que a visão dos alunos sobre o<br />

ensino <strong>de</strong> historia tem como finalida<strong>de</strong> apresentar o passado, sendo assim representada como<br />

uma matéria responsável por contar histórias antigas. Diante disto perguntamos aos alunos<br />

qual era a opinião <strong>de</strong> cada um sobre o objetivo da disciplina, on<strong>de</strong> tivemos 8% da turma que<br />

<strong>de</strong>ram como resposta “Expor o conteúdo didático”, 2% respon<strong>de</strong>ram “Para levar o aluno se<br />

tornar um ser critico sobre o meio em que vive”, 20% <strong>de</strong>ram a resposta “Debater sobre os<br />

assuntos que ocorre no mundo” e 70% dos alunos respon<strong>de</strong>ram “Contar histórias antigas”.<br />

Com isso vemos claramente qual é a visão dos alunos a respeito ao ensino <strong>de</strong> historia,


133<br />

sabendo assim que a turma enxerga a disciplina como uma exposição <strong>de</strong> historias ou apenas<br />

para <strong>de</strong>bater assuntos atuais, o que fica claro que o ensino <strong>de</strong> historia não tem alcançado seu<br />

real objetivo.<br />

3. O ENSINO DE HISTORIA: O OLHAR DO PROFESSOR.<br />

Como já <strong>de</strong>batemos anteriormente, o professor educador tem o papel fundamental para<br />

a formação do aluno, e tratando-se da disciplina <strong>de</strong> historia tal professor não <strong>de</strong>ve se<br />

preocupar unicamente com a transmissão do conteúdo do livro didático, mas sim na formação<br />

crítica do aluno. Ao questionarmos o professor sobre sua visão em relação à importância da<br />

matéria <strong>de</strong> historia em sala <strong>de</strong> aula o mesmo disse que a matéria é <strong>de</strong> extrema importância<br />

para a formação do aluno, pois ela tem como principal objetivo transformar o aluno um ser<br />

crítico sobre o meio em que ele vive e não um mero conhecedor <strong>de</strong> histórias antigas. Nisso<br />

vemos que o professor que leciona tal disciplina tem a consciência da importância da matéria,<br />

pois sua visão ultrapassa a idéia <strong>de</strong> um ensino preso em livros didáticos e em velhas<br />

metodologias, e esta visão é <strong>de</strong> extrema relevância para o processo <strong>de</strong> aprendizagem e<br />

formação do aluno. Sabendo a visão do professor em relação o ensino <strong>de</strong> historia, seu objetivo<br />

e relevância, <strong>de</strong>cidimos contrapor com o rendimento da turma na disciplina, questionando o<br />

discente se em sua concepção a turma estava atingindo suas expectativas como professor, se a<br />

matéria <strong>de</strong> história estava alcançando seu objetivo na formação do aluno. A resposta dado<br />

pelo o educador foi que: Apesar dos resultados não serem tão satisfatórios, é possível<br />

perceber alguns avanços na visão dos alunos a respeito da realida<strong>de</strong> em que estão inseridos.<br />

Com isso, fica claro que a visão do professor em relação a turma é <strong>de</strong> que as<br />

dificulda<strong>de</strong>s é notórias e que há sim o reconhecimento <strong>de</strong> um baixo rendimento na disciplina,<br />

porém não se <strong>de</strong>scarta o todo, pois alguns objetivos estão sendo alcançados com o tempo,<br />

provando assim que a aprendizagem é um processo trabalhado ao longo do prazo.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS.<br />

Cabe então ao docente educador permanecer em seu objetivo, acreditando estar<br />

evoluindo e buscando sempre i<strong>de</strong>ntificar quais são as causas para o mal rendimento <strong>de</strong> sua<br />

turma, caso haja, pois i<strong>de</strong>ntificando o problema é possível buscar soluções, on<strong>de</strong> o professor<br />

não po<strong>de</strong> olhar a turma apenas como um todo, mas consi<strong>de</strong>rar os avanços individuais e<br />

particulares <strong>de</strong> cada individuo, pois talvez não se possa alcançar a totalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus objetivos<br />

no ensino em uma única sala, mas a minoria não po<strong>de</strong> ser ignorada nem tão pouco<br />

<strong>de</strong>svalorizada, pois ela representa os avanços e conquistas <strong>de</strong> sua pratica como docente.


134<br />

REFERÊNCIAS:<br />

BITTENCOURT, Circe. (Org.) O saber histórico na sala <strong>de</strong> aula. 7. Ed. São Paulo:<br />

Contexto, 2002.<br />

CABRINI, Conceição. “O que achamos importante lembrar sobre o ensino <strong>de</strong> história ou<br />

fundamentação teórica da proposta”. In: Ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong>, revisão urgente. São Paulo:<br />

Educ. 2000.<br />

FREITAS, Itamar <strong>de</strong>. Livro didático <strong>de</strong> <strong>História</strong>: <strong>de</strong>finições, representações e prescrições <strong>de</strong><br />

uso. In: Livros didáticos <strong>de</strong> <strong>História</strong>: escolhas e utilizações. Natal: EDUFRN, 2009.<br />

KARNAL, Leandro. (Org.) <strong>História</strong> na Sala <strong>de</strong> Aula: conceito, práticas e propostas. São<br />

Paulo: contexto, 2003.<br />

MORIN, Edgar. Educação e complexida<strong>de</strong>: os sete saberes e outros ensaios. São Paulo,<br />

Cortez, 2002.<br />

SCHIMIDT, Maria Auxiliadora. A formação do professor <strong>de</strong> história e o cotidiano da sala <strong>de</strong><br />

aula. In: BITTENCOURT, Circe (Org.) O Saber Histórico na Sala <strong>de</strong> Aula. 7 ed. São<br />

Paulo: Contexto, 2002, p. 54-66.<br />

TEODORO, Janice. Educação para um mundo em transformação. In. KARNAL, Leandro.<br />

(Org.) <strong>História</strong> na Sala <strong>de</strong> Aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto,<br />

2003.<br />

WINCH, Marta Valquíria. O Ensino da <strong>História</strong>: O Olhar do Aluno. Série: Ciências Socais<br />

e Humanas, Santa Mari, V.2, n.1, p.37-48, 2001.


Mestrando em Ensino na Educação Básica na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo–UFES/CEUNES,<br />

E-mail: fabiosaojose2000@hotmail.com<br />

FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO: DIDÁTICA, METODOLOGIA E CURRÍCULO<br />

135<br />

RESUMO<br />

Fábio Pereira Barros <br />

A LEI 11.684/2008 que torna obrigatória a Filosofia enquanto disciplina escolar impulsionou<br />

o <strong>de</strong>bate acerca da Filosofia, dos conteúdos que são trabalhados e a forma como são<br />

trabalhados. Seu ensino tem sido alvo <strong>de</strong> investigações constantes por parte dos educadores,<br />

com o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver uma metodologia específica para seu ensino e prática. No que<br />

concerne ao currículo <strong>de</strong> Filosofia havia escolas que priorizavam temas filosóficos, como<br />

Ética, Lógica, entre outros; em <strong>de</strong>trimento da <strong>História</strong> da Filosofia. Por outro lado, havia<br />

também, escolas que priorizavam a <strong>História</strong> da Filosofia, fazendo <strong>de</strong>sta o próprio conteúdo da<br />

disciplina. O professor <strong>de</strong> Filosofia recorre a uma metodologia e didática para suas aulas que<br />

Rancière (2000) chama <strong>de</strong> lógica da explicação, que segundo o filosofo francês embrutece e<br />

não dá autonomia. O presente estudo se propôs a investigar o ensino <strong>de</strong> Filosofia no Ensino<br />

Médio, no intuito <strong>de</strong> analisar o seguinte problema: há uma didática e uma metodologia<br />

específicas para ensinar Filosofia? O que ensinar e como ensinar? Foi tomada como<br />

referencial teórico o pensamento <strong>de</strong> Cerletti (1999), Deleuze (1992), Gallo e Kohan (2000),<br />

Lipiman (1994), Lorieri (2002), Navia (2004), Rancière (2000) entre outros, para a<br />

investigação, análise e interpretação da realida<strong>de</strong> acerca do ensino <strong>de</strong> Filosofia no Brasil. E é<br />

justamente a metodologia <strong>de</strong>senvolvida por Silvio Gallo para o ensino <strong>de</strong> Filosofia no Ensino<br />

Médio que <strong>de</strong>stacaremos nesse estudo.<br />

Palavras-Chave: Filosofia. Ensino Médio. Didática. Currículo.<br />

INTRODUÇÃO<br />

A obrigatorieda<strong>de</strong> do ensino <strong>de</strong> Filosofia pela LEI 11.684/2008 impulsionou o <strong>de</strong>bate<br />

acerca da Filosofia, dos conteúdos que são trabalhados e a forma como são trabalhados. Seu<br />

ensino tem sido alvo <strong>de</strong> investigações constantes por parte dos educadores, com o objetivo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolver uma metodologia específica para seu ensino e prática. No que concerne ao<br />

currículo <strong>de</strong> Filosofia havia escolas que priorizavam temas filosóficos, como Ética, Política,<br />

Lógica, entre outros; em <strong>de</strong>trimento da <strong>História</strong> da Filosofia. Pois, “tratar filosoficamente<br />

<strong>de</strong>terminados temas, articulando-os com questões filosóficas, po<strong>de</strong> ser muito difícil para um<br />

professor que não tome para si mesmo a Filosofia como um exercício <strong>de</strong> reflexão constante”.<br />

(TOMAZETTI, 2002, p. 72). Por outro lado, havia também, escolas que priorizavam a<br />

<strong>História</strong> da Filosofia, fazendo <strong>de</strong>sta o próprio conteúdo da disciplina. Sobre esse aspecto<br />

Gallo e Kohan afirmam que “não se pensa filosoficamente sem o recurso a uma história <strong>de</strong><br />

mais <strong>de</strong> dois mil e quinhentos anos” (GALLO e KOHAN, 2000, 194). No entanto, eles<br />

advertem que:<br />

A remissão à <strong>História</strong> da Filosofia não po<strong>de</strong> significar um retorno ao mesmo: essa<br />

remissão <strong>de</strong>ve ser essencialmente crítica e criativa [...] retomar um conceito é<br />

problematizá-lo, recriá-lo, transformá-lo <strong>de</strong> acordo com nossas necessida<strong>de</strong>s, tornálo<br />

outro (GALLO e KOHAN, 2000, p. 71).


136<br />

Percebemos que na educação brasileira ainda prevalece a perspectiva positivista <strong>de</strong><br />

valorização das disciplinas das áreas <strong>de</strong> ciências físico-biológicas e matemáticas. On<strong>de</strong> o<br />

tecnicismo permeia a educação que se volta para a preparação do jovem para o mercado <strong>de</strong><br />

trabalho. E no que se refere à Filosofia, a maneira como os conteúdos são abordados em aula<br />

se apresenta insuficiente, muitas vezes, para <strong>de</strong>senvolver no estudante uma atitu<strong>de</strong> filosófica.<br />

On<strong>de</strong> prevalecem os conhecimentos prontos visando uma assimilação mecânica. Assim diz<br />

Lorieri:<br />

Nem Kant nem Dewey recusavam o trabalho <strong>de</strong> ensino com os conteúdos: ambos o<br />

<strong>de</strong>fendiam. Mas não queriam que os alunos simplesmente os repetissem sem tê-los<br />

compreendido. Dewey dizia que os conteúdos <strong>de</strong>vem ser tomados como dados com<br />

os quais o aluno <strong>de</strong>ve "construir" (ou reconstruir) um conhecimento necessário à<br />

situação problema na qual ele se encontre. Daí a importância que dava à colocação<br />

a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> questões problematizadoras, não apenas retoricamente, mas<br />

significativamente colocadas (LORIERI, 2002 p. 4).<br />

Para que se consiga dar conta <strong>de</strong>ssa formação crítica, os conteúdos <strong>de</strong> ensino merecem<br />

atenção especial, pois se <strong>de</strong>ve pensar na elaboração <strong>de</strong> uma programação a partir da qual o<br />

aluno se sinta envolvido com a Filosofia. Esse envolvimento só é possível através do<br />

encantamento pelo filosofar que po<strong>de</strong> levá-lo a problematizar a realida<strong>de</strong>, proporcionando a<br />

construção <strong>de</strong> uma forma autônoma <strong>de</strong> pensar, objetivo principal da Filosofia no Ensino<br />

Médio. A seleção <strong>de</strong> conteúdos é, sem dúvida, um dos principais <strong>de</strong>safios, atualmente, quanto<br />

ao ensino <strong>de</strong> Filosofia no nível médio.<br />

A educação atual, com raras exceções, não exige que o estudante tome uma posição<br />

crítica diante dos problemas. Nesse contexto pouco propício ao filosofar, o ensino da<br />

Filosofia muitas vezes se restringe a uma transmissão <strong>de</strong> conteúdos cujo objetivo é fazer com<br />

que o aluno acumule o máximo <strong>de</strong> informações possíveis no pouco tempo que lhe é<br />

reservado. Sobre isso Nietzsche, na obra Schopenhauer como educador, tece severas críticas<br />

ao sistema educacional da Alemanha do século XIX. Afirmava que os alunos <strong>de</strong>coravam<br />

diversos sistemas filosóficos sem que houvesse real aprendizado, eram submetidos a provas e<br />

<strong>de</strong>pois das provas esqueciam tudo aquilo que supostamente apren<strong>de</strong>ram. Po<strong>de</strong>mos perceber<br />

que esse problema ainda se reflete no ensino atualmente.<br />

Percebe-se, <strong>de</strong>ssa maneira, um problema que inviabiliza a consolidação do processo<br />

formativo. O processo formativo se configura com a efetivação <strong>de</strong> uma mudança <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> do<br />

aluno face ao mundo e a si mesmo, a partir <strong>de</strong> um pensamento crítico amparado pelas<br />

reflexões <strong>de</strong>spertadas no encontro do pensamento do aluno com o pensamento dos filósofos.<br />

No entanto, isso é quase impossível <strong>de</strong> acontecer por se fundamentar, na maioria das vezes,<br />

em um modo superficial <strong>de</strong> articulação entre as perspectivas dos filósofos apresentadas pelo<br />

professor acerca <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado tema e os conteúdos tidos como necessários no ensino da<br />

Filosofia. Assim diz Gallo:


137<br />

Quando pensamos o exercício da filosofia na sala <strong>de</strong> aula, [...] a pergunta que se<br />

impõe é: estamos investindo em experiências <strong>de</strong> pensamento ou impondo uma<br />

recognição? Ou, em outras palavras: estamos ensinando a filosofia como atitu<strong>de</strong><br />

crítica e criativa ou estamos disseminando uma imagem dogmática do pensamento?<br />

(GALLO, 2008, p. 71).<br />

Como consequência cria-se uma imagem distorcida do pensamento filosófico e do<br />

filosofar, transmitindo ao aluno não muito mais do que “fórmulas filosóficas” que passam a se<br />

constituir em mo<strong>de</strong>los a serem aplicados na resolução <strong>de</strong> questão. Essa lógica do ensino faz<br />

da relação ensinar/apren<strong>de</strong>r uma relação equivocada que não leva a construção do<br />

conhecimento crítico. Pois, nessa lógica, ensinar é transmitir as teorias e i<strong>de</strong>ias dos filósofos e<br />

apren<strong>de</strong>r é compreen<strong>de</strong>r a<strong>de</strong>quadamente aquilo que foi explicado, fazendo uma correlação<br />

entre a explicação do professor e o que se encontra nas obras filosóficas para, posteriormente,<br />

o aluno repetir <strong>de</strong> forma clara aquilo o que se apren<strong>de</strong>u. Isso é <strong>de</strong>nominado por Rancière <strong>de</strong><br />

razão explicadora, e comporta um:<br />

[...] princípio <strong>de</strong> uma regressão ao infinito: a reduplicação das razões não tem jamais<br />

razão <strong>de</strong> se <strong>de</strong>ter. O que <strong>de</strong>tém a regressão e conce<strong>de</strong> ao sistema seu funcionamento<br />

é, apenas o fato, que o explicador seja o único juiz do ponto em que a explicação é<br />

ela mesma explicada. [...] O segredo do mestre é saber reconhecer a distância entre a<br />

matéria ensinada e o sujeito a instruir, também a distância, entre apren<strong>de</strong>r e<br />

compreen<strong>de</strong>r (RANCIÈRE, 2002, p. 18).<br />

O professor <strong>de</strong> Filosofia recorre a uma didática para suas aulas: a explicação. Essa<br />

postura carrega implícita a crença <strong>de</strong> que aquele que explica é o <strong>de</strong>tentor dos conhecimentos<br />

filosóficos necessários que lhe permitem assumir a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transmitir os<br />

conteúdos da Filosofia àqueles que não o possuem.<br />

Por meio da estrutura da explicação, o ensino da Filosofia corre o risco <strong>de</strong> se tornar<br />

apenas uma a<strong>de</strong>quação do que se apren<strong>de</strong> àquilo que foi ensinado. Em outras palavras, no ato<br />

<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, a relação entre o aluno e o texto filosófico acontece através do processo <strong>de</strong><br />

mediação da aprendizagem que resi<strong>de</strong> na explicação apresentada pelo professor. Segundo<br />

Rancière, a lógica da explicação foi ganhando espaço por estar amparada pelo argumento <strong>de</strong><br />

que os professores conscientes têm como gran<strong>de</strong> tarefa transmitir seus conhecimentos aos<br />

alunos.<br />

Em suma, o ato essencial do mestre era <strong>de</strong> explicar, <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar os elementos<br />

simples dos conhecimentos e <strong>de</strong> conferir sua simplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> princípio com a<br />

simplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fato que caracteriza os espíritos jovens e ignorantes. Ensinar era,<br />

simultaneamente, transmitir conhecimentos e formar espíritos, conduzindo-os,<br />

segundo uma progressão or<strong>de</strong>nada, do mais simples ao mais complexo<br />

(RANCIÈRE, 2002, p. 16 - 17).<br />

Assim, o professor teria como função ser o mediador entre o texto filosófico e o aluno,<br />

com o objetivo <strong>de</strong> romper a barreira que, supostamente, existe entre aquilo que o aluno leu<br />

nos livros <strong>de</strong> Filosofia e as falhas na compreensão que ele possa ter tido em sua leitura. E aos<br />

alunos cabe compreen<strong>de</strong>r o que os filósofos disseram, compreen<strong>de</strong>r a estrutura das gran<strong>de</strong>s<br />

obras filosóficas, tendo como base para a compreensão a explicação do professor. Para que<br />

<strong>de</strong>ssa forma eles consigam repeti-las em um exercício <strong>de</strong> pretensa erudição.


Nessa perspectiva, o pensamento dos alunos são pensamentos “pobres”, carentes <strong>de</strong><br />

conceitos e <strong>de</strong> criticida<strong>de</strong>. Pois, os alunos não adquirem a representação a<strong>de</strong>quada dos<br />

significados produzidos através do confronto com o texto filosófico para que consigam<br />

relacioná-los com sua própria experiência no mundo que os cerca. Dessa forma, pensar<br />

filosoficamente se configura como um exercício <strong>de</strong> erudição vazio, <strong>de</strong>senvolvido a partir do<br />

acúmulo <strong>de</strong> conhecimentos sobre a Filosofia. Isso dificulta uma experiência com a Filosofia<br />

capaz <strong>de</strong> produzir uma atitu<strong>de</strong> critica e inovadora capaz <strong>de</strong> permitir ao aluno a procura <strong>de</strong> uma<br />

ressignificação <strong>de</strong> sua relação com o mundo e com a própria Filosofia. Gallo e Kohan nos<br />

dizem que:<br />

138<br />

É importante que todo jovem, ao ter contato com a filosofia, possa <strong>de</strong>senvolver<br />

experiências <strong>de</strong> pensamento, apren<strong>de</strong>ndo a reconhecer e a produzir, em seu nível,<br />

conceitos, a fazer a experiência da crítica e da radicalida<strong>de</strong> sobre a sua própria vida,<br />

a <strong>de</strong>senvolver uma atitu<strong>de</strong> dialógica frente ao outro e ao mundo e,<br />

fundamentalmente, possa apren<strong>de</strong>r uma atitu<strong>de</strong> interrogativa frente ao mundo e a si<br />

mesmo. Pensamos que uma educação para a autonomia, no sentido da formação <strong>de</strong><br />

indivíduos que possam escolher por si mesmos em que mundo querem viver, só<br />

po<strong>de</strong> ser tal se nela tiver lugar a filosofia (GALLO e KOHAN, 2000, p. 195).<br />

Esse problema figura-se como um problema que afeta <strong>de</strong>cisivamente toda a ação do<br />

professor na sala <strong>de</strong> aula. No entanto, não se configura simplesmente como um problema <strong>de</strong><br />

or<strong>de</strong>m pedagógica, didática ou educacional, mas como um problema filosófico que afeta<br />

significantemente o ensino <strong>de</strong> Filosofia. Pois como afirmam Gallo e Kohan, (2000, p. 191) a<br />

questão do ensino <strong>de</strong> filosofia é uma questão filosófica e não meramente pedagógica. Diante<br />

<strong>de</strong>ssa colocação, percebe-se que o problema atinge a própria vida do filósofo que é professor<br />

<strong>de</strong> Filosofia. Como afirma Cerletti (1999):<br />

Nós que nos <strong>de</strong>dicamos ao ensino da filosofia temos como habituais acompanhantes<br />

na nossa vida profissional duas perguntas muito simples que parecem ser as<br />

orientadoras <strong>de</strong> nossos passos didáticos mais <strong>de</strong>cididos, mas também <strong>de</strong> nossas<br />

preocupações filosóficas mais reiteradas: Como ensinar? O que ensinar? Ensinar<br />

filosofia supõe pôr em ação uma ativida<strong>de</strong> ou uma prática a partir <strong>de</strong> certas questões<br />

que não estão constituídas como um campo fechado <strong>de</strong> saberes e, como essa<br />

ativida<strong>de</strong> é também seu próprio objeto, abordar os <strong>de</strong>safios do que e como torna-se<br />

uma tarefa complexa; mas, por sua vez, constituem <strong>de</strong>safios filosóficos sugestivos<br />

que evitam, se estamos alertas, que entremos em uma rotina asfixiante (CERLETTI,<br />

1999, p. 149).<br />

PROPOSTA METODOLOGICA PARA O ENSINO DE FILOSOFIA NO ENSINO<br />

MÉDIO<br />

A metodologia é um dos aspectos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância relacionado ao ensino, uma<br />

vez que um método <strong>de</strong> ensino bem elaborado contribui eficazmente com a aula, promovendo<br />

uma aproximação crítica e bem elaborada entre o aluno, com toda sua carga cultural, e as<br />

exigências inerentes ao saber filosófico. As metodologias e estratégias são importantes,<br />

especialmente no trabalho com adolescentes, no qual o professor precisa, muitas vezes,<br />

suscitar o interesse pela Filosofia e elaborar metodologias <strong>de</strong> ensino que se constituem em<br />

meios que contribuem para <strong>de</strong>spertar o pensar reflexivo.


Dentro da prática pedagógica do ensino <strong>de</strong> Filosofia alguns autores recomendam<br />

algumas metodologias: Lipiman (1994), Lorieri (2002), Navia (2004), entre outros. No<br />

presente trabalho investigamos a teoria <strong>de</strong> Gallo (2000) e (2012).<br />

Ele se questiona sobre a ensinabilida<strong>de</strong> da Filosofia e afirma que é possível ensiná-la.<br />

Para ele a Filosofia é a experiência com conceito, <strong>de</strong>signando-a como uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

produção conceitual. Sílvio Gallo propõe a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se ensinar Filosofia<br />

caracterizando-a como ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> conceitos. Sobre isso ele afirma que:<br />

139<br />

A aula <strong>de</strong> filosofia <strong>de</strong>ve funcionar como uma oficina <strong>de</strong> conceitos, um local on<strong>de</strong> os<br />

conceitos historicamente criados são experimentados, testados, <strong>de</strong>smontados,<br />

remontados, sempre frente aos nossos problemas vividos. E também um local on<strong>de</strong><br />

se arrisque a criação <strong>de</strong> novos conceitos, por mais circunscritos e limitados que eles<br />

possam ser. (GALLO, 2003, p.4)<br />

Gallo (1999), fundamentando-se em Deleuze e Guatari (1992), afirma que seu<br />

propósito consiste na aplicação da filosofia <strong>de</strong> Deleuze em colaboração com Guattari à<br />

Filosofia da Educação, on<strong>de</strong> fará uso <strong>de</strong> conceitos daqueles, recriando-os, “para pensarmos o<br />

sentido e a tarefa da Filosofia da educação em nossos dias” (GALLO, 1999, p.1).<br />

O autor explica que a experiência filosófica emprega-se <strong>de</strong> três características básicas:<br />

o pensamento conceitual, o caráter dialógico e a crítica radical. Entretanto a filosofia<br />

<strong>de</strong>sempenha seu papel <strong>de</strong> Filosofia quando exerce seu trabalho <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> conceitos. Em<br />

outras palavras, é sabido que “o sentido do ensino <strong>de</strong> Filosofia seja tratado como uma<br />

‘pedagogia do conceito’, que ele seja tratado <strong>de</strong> forma estritamente filosófica” (GALLO;<br />

KOHAN, 2000, p. 191), evitando, assim, tratá-lo exclusivamente no plano pedagógico, pois a<br />

“ativida<strong>de</strong> filosófica é em si mesma educativa, não faz sentido falar em ensino <strong>de</strong> Filosofia no<br />

contexto <strong>de</strong> didática apenas instrumental” (GALLO; KOHAN, 2000, p. 191). Mas como<br />

garantir que o trabalho <strong>de</strong> Filosofia em sala <strong>de</strong> aula seja capaz <strong>de</strong> fazer com que o estudante<br />

alcance por si mesmo a criação <strong>de</strong> conceitos?<br />

Para respon<strong>de</strong>r a essa pergunta toma-se como base a metodologia <strong>de</strong>senvolvida por<br />

Silvio Gallo para o ensino <strong>de</strong> Filosofia no âmbito do Ensino Médio, na tentativa <strong>de</strong> promover<br />

um ensino que tenha coerência com as exigências da Filosofia.<br />

Silvio Gallo, em sua obra Metodologia do Ensino <strong>de</strong> Filosofia uma Didática para o<br />

Ensino Médio, propõe dois métodos para o ensino <strong>de</strong> Filosofia. O primeiro é um roteiro<br />

metodológico <strong>de</strong>senvolvido em quatro momentos consecutivos: a sensibilização, a<br />

problematização, a investigação e a conceituação; e o segundo é método regressivo. Esses<br />

métodos têm como objetivo oportunizar a experiência filosófica ao jovem, através do qual<br />

expõe como produzir, didaticamente, uma aula <strong>de</strong> Filosofia on<strong>de</strong> o estudante experimenta,<br />

testa e cria conceitos.<br />

O primeiro método parte do problema para se chegar ao conceito. Gallo propõe quatro<br />

etapas: a Sensibilização trata-se <strong>de</strong> chamar a atenção dos alunos ao tema trabalhado. É fazer


140<br />

os alunos serem tocados, afetados para que eles vivam o problema. Para isso, o professor po<strong>de</strong><br />

utilizar <strong>de</strong> elementos não filosóficos, tais como filmes, peças teatrais, músicas, poemas.<br />

A próxima etapa seria a da Problematização que consiste em tornar os temas em<br />

problemas. Problematizar todos seus aspectos <strong>de</strong> diferentes perspectivas. Para fazer com que<br />

<strong>de</strong>sperte no aluno o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> buscar soluções.<br />

Em seguida tem-se a Investigação que consiste em buscar elementos que permitam a<br />

solução dos problemas. A investigação filosófica consiste em fazer com os alunos busquem<br />

na <strong>História</strong> da Filosofia os conceitos que possam, através <strong>de</strong>sses conceitos, pensar o problema<br />

levantado.<br />

E por fim tem-se a Conceituação que consiste em recriar os conceitos encontrados na<br />

etapa da Investigação para que nossos problemas sejam equacionados, ou até mesmo que os<br />

alunos criem novos problemas.<br />

O segundo método é o Método Regressivo que parte do conceito para o problema.<br />

Sobre o Método Regressivo Gallo diz que “po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar como pistas para um método<br />

regressivo para o ensino <strong>de</strong> filosofia seria a busca do problema ou do conjunto <strong>de</strong> problema<br />

que engendrou o conceito <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado filósofo” (GALLO, 20012, p. 111). Para tal<br />

empreita Gallo propõe que o professor quatro procedimentos.<br />

O primeiro consiste em escolher um texto ou uma parte <strong>de</strong> um texto <strong>de</strong> um filósofo; o<br />

segundo procedimento é ler esse texto com os alunos; <strong>de</strong>pois evi<strong>de</strong>nciar o conceito proposto<br />

pelo filósofo nesse texto; e por fim, investigar o problema ou os problemas que moveram o<br />

filósofo a criar tal conceito.<br />

É <strong>de</strong>ssa forma, partindo <strong>de</strong>sses métodos, que Sílvio Gallo tenta romper com o ensino<br />

que se apresenta mais anti-filosófico que filosófico, vislumbrando um ensino <strong>de</strong> Filosofia que<br />

consiga <strong>de</strong>spertar no aluno o senso filosófico e a experiência do pensamento.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Esse estudo nos revelou que o ensino <strong>de</strong> Filosofia está no centro das preocupações dos<br />

profissionais da área. E que os problemas referentes ao seu ensino são muitos e não po<strong>de</strong>m ser<br />

tomados como um problema meramente didático-pedagógico, mas como um problema<br />

filosófico. Percebemos, também, que não existe um currículo, uma didática e uma<br />

metodologia para seu ensino, mas que existem diversas propostas que se surgem <strong>de</strong> acordo a<br />

concepção <strong>de</strong> Filosofia que cada autor tem acerca da Filosofia.<br />

Percebemos que na educação brasileira ainda prevalece a perspectiva positivista <strong>de</strong><br />

valorização das disciplinas das áreas <strong>de</strong> ciências Físico-Biológicas e Matemáticas. On<strong>de</strong> o<br />

tecnicismo permeia a educação que se volta para a preparação do jovem para o mercado <strong>de</strong><br />

trabalho. E no que se refere à Filosofia e seu ensino, a maneira como os conteúdos são


abordados em aula se apresenta insuficiente, muitas vezes, para <strong>de</strong>senvolver no estudante uma<br />

atitu<strong>de</strong> filosófica. On<strong>de</strong> prevalecem os conhecimentos prontos visando uma assimilação<br />

mecânica. Não havendo também uma didática nem uma metodologia própria para o ensino <strong>de</strong><br />

Filosofia. Destarte, é perceptível que há possibilida<strong>de</strong>s diversas <strong>de</strong> se trabalhar a Filosofia em<br />

sala <strong>de</strong> aula. E vários autores sugerem, à medida <strong>de</strong> como concebem a Filosofia, uma<br />

metodologia diferente, mas <strong>de</strong>spertadora <strong>de</strong> experiência filosófica.<br />

Nesse sentido, educadores-filósofos como Silvio Gallo, preocupado com o problema<br />

do ensino <strong>de</strong> Filosofia, propõe ao professor <strong>de</strong> Filosofia e ao ensino da disciplina uma<br />

metodologia que leva os alunos a problematizar e criar conceitos. Vale esclarecer que Gallo<br />

não pensa a sua metodologia como uma receita pronta e acabada, mas como algo que ajuda o<br />

professor a trabalhar na perspectiva da Filosofia como criação <strong>de</strong> conceitos. Sabemos que não<br />

é a única metodologia proposta, mas não po<strong>de</strong>mos negar que é uma proposta bem acertada<br />

para o trabalho em sala <strong>de</strong> aula para <strong>de</strong>spertar no aluno o espirito filosófico.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

CERLETTI, A.A. O ensino filosófico e a reflexão sobre o presente. In: Kohan, W.O.; Leal,<br />

B. (Org.). Filosofia para Crianças. Petrópolis: Vozes, 1999.<br />

_______. KOHAN, W. O. A Filosofia no Ensino Médio: caminhos para pensar seu sentido.<br />

Trad. <strong>de</strong> Norma Guimarães Azeredo. Brasília: UNB, 1999.<br />

GALLO, Sílvio. CORNELLI, G. DANELON, M. (Orgs). Filosofia do Ensino <strong>de</strong> Filosofia.<br />

Petrópolis, Vozes, 2003.<br />

_______. KOHAN, W. O. Filosofia no ensino médio. Petrópolis: Vozes, 2000<br />

_______. ASPIS, Renata Lima. Ensinar filosofia: um livro para professores. São Paulo: Atta<br />

Mídia e Educação, 2009.<br />

_______. Filosofia e o Exercício do Pensamento Conceitual na Educação Básica. In:<br />

Educ. e Filos., Uberlândia, v. 22, n. 44, p. 55-78, jul./<strong>de</strong>z. 2008.<br />

_______. Metodologia do ensino <strong>de</strong> filosofia: Uma didática para o ensino médio. Campinas,<br />

SP: Papirus, 2012.<br />

_______. O que é filosofia da educação? Anotações a partir <strong>de</strong> Deleuze e Guattari.<br />

ANPEd. In: REUNIÃO ANUAL DA ANPEd; 22., 1999, Caxambu. Anais... Caxambu: GT<br />

Filosofia da Educação, 1999.<br />

KOHAN, Walter O. (org.). Filosofia: caminhos para o seu sentido. Rio <strong>de</strong> Janeiro: DP&A,<br />

2004.<br />

LORIERI, M. A. Filosofia: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002.<br />

RANCIÈRE, Jacques. O mestre ignorante. Cinco lições sobre a emancipação intelectual.<br />

Tradução <strong>de</strong> Lílian do Valle. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. Série:<br />

Educação. Experiência e sentido.<br />

TOMAZETTI, Elisete. Filosofia no Ensino Médio e seu professor: algumas reflexões.<br />

Educação, Santa Maria, v. 27, n 2, P.69-75, 2002. Disponível em:<br />

http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs-2.2.2/in<strong>de</strong>x.php/reveducacao/article/view/4454/2632.<br />

141


142<br />

OS JESUÍTAS E O ENSINO: EDUCAÇÃO COMO INSTRUMENTO DE<br />

DOMINAÇÃO<br />

Fábio Pereira Barros <br />

RESUMO<br />

Os Jesuítas trouxeram para o Brasil, junto com o catolicismo, a educação, marcando o início<br />

<strong>de</strong> sua história na colônia e o suporte i<strong>de</strong>ológico necessário à estruturação e à manutenção da<br />

socieda<strong>de</strong> exploratória e dos privilégios da classe dominante, os quais não po<strong>de</strong>riam se<br />

solidificar apenas na força do aparelho repressor da Coroa. A pedagogia utilizada pelos<br />

jesuítas <strong>de</strong>finia-se em transformar índios em bons cristãos, instruí-los nos hábitos <strong>de</strong> trabalho<br />

dos europeus. Os colonizadores tendiam forçosamente a concentrar todo seu pensamento e<br />

todos os seus esforços na exploração e <strong>de</strong>fesa das colônias. I<strong>de</strong>ntifica-se que a educação não<br />

lhe interessava senão como meio <strong>de</strong> submissão e <strong>de</strong> domínio político, que mais facilmente se<br />

podiam alcançar pela propagação da fé, com a autorida<strong>de</strong> da Igreja. Foi tomada como<br />

referencial teórico o pensamento <strong>de</strong> Almeida (2000), Azevedo (1971), Bourdieu (2014),<br />

Cambi (1999), Sodré (1994), Stoer (2008), Veiga (1992) entre outros, para a investigação,<br />

análise e interpretação da realida<strong>de</strong> histórico-educacional da colônia brasileira. Ao longo do<br />

estudo, conclui-se que somos her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> uma história, cujos alicerces são profundamente <strong>de</strong><br />

base autoritária e alheia aos interesses da coletivida<strong>de</strong>. Os interesses religiosos e políticos da<br />

Companhia <strong>de</strong> Jesus, sem dúvida, moveram a ação educativa <strong>de</strong>sses padres, que encontraram<br />

no ensino, um meio eficaz <strong>de</strong> submissão e domínio. O sentido da educação, portanto, na<br />

dominação fica bastante evi<strong>de</strong>nte, referindo-se a um sentido <strong>de</strong> educação basicamente elitista.<br />

Palavras-chave: Jesuítas. Ensino. Dominação. Educação.<br />

INTRODUÇÃO<br />

A <strong>História</strong> da educação no Brasil tem início com a chegada dos jesuítas no final da<br />

primeira meta<strong>de</strong> do século XVI.<br />

Responsáveis pela realização <strong>de</strong> obras que <strong>de</strong>ixam<br />

consequências marcantes para nossa cultura e civilização. Assim afirma Azevedo:<br />

A vinda dos padres jesuítas, em 1549, não só marca o início da história da educação<br />

no Brasil, mas inaugura a primeira fase, a mais longa <strong>de</strong>ssa história, e, certamente, a<br />

mais importante pelo vulto da obra realizada e sobretudo pelas consequências que<br />

<strong>de</strong>la resultaram para nossa cultura e civilização (AZEVEDO, 1971, p. 509).<br />

Em pelo menos dois séculos, os jesuítas constituíram na colônia portuguesa do Brasil<br />

uma presença cultural e social relevante. Inseridos no contexto <strong>de</strong> regime colonial e<br />

submetidos às regras do po<strong>de</strong>r do reino português, os missionários foram responsáveis pela<br />

criação da primeira re<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino no país e pela construção <strong>de</strong> numerosas obras, com o<br />

objetivo <strong>de</strong> integrar as culturas indígenas e europeias.<br />

A or<strong>de</strong>m jesuítica foi fundada por Inácio <strong>de</strong> Loiola, em 1534, aprovada pelo Papa<br />

Paulo <strong>II</strong>I, em 1540, por meio da bula papal Regimini militantis ecclesiae 18 . A Companhia <strong>de</strong><br />

<br />

Mestrando em Ensino na Educação Básica na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo-UFES/CEUNES. E-mail:<br />

fabiosaojose2000@hotmail.com.<br />

18<br />

Em seu artigo a Estrutura e organização das Constituições dos jesuítas (1539-1540), Arnaut e Ruckstadter<br />

afirmam que o texto resume os propósitos, métodos <strong>de</strong> atuação e <strong>de</strong>termina regras para o ingresso e permanência


na Companhia <strong>de</strong> Jesus. As normas têm a característica <strong>de</strong> unir os aspectos administrativo-estruturais <strong>de</strong> uma<br />

Or<strong>de</strong>m Religiosa com uma perspectiva <strong>de</strong>finidora <strong>de</strong> uma forma <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong> até então <strong>de</strong>sconhecida - ao<br />

<strong>de</strong>finir métodos, regras e propósitos da espiritualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada membro da Or<strong>de</strong>m em suas funções específicas.<br />

Jesus foi criada “no espírito reformador” da Igreja Católica, <strong>de</strong>nunciando, da mesma forma<br />

que outras or<strong>de</strong>ns que a prece<strong>de</strong>ram, “o estado tido como pouco cristão que as or<strong>de</strong>ns<br />

religiosas tradicionais se encontravam” (COSTA, 2004, p. 32).<br />

Essa congregação surgiu em uma época <strong>de</strong> lutas religiosas. Essas lutas, que tinham<br />

como armas a fé inabalável, a disposição a todos os sacrifícios e a disciplina exemplar,<br />

tornaram seus missionários uma força eficaz contra o protestantismo e implantação do po<strong>de</strong>r<br />

da Igreja entre os povos infiéis, colaborando também, com a conquista e colonização das<br />

terras além mar.<br />

Por 210 anos, <strong>de</strong> 1549, quando chegaram ao Brasil, até 1759, quando se <strong>de</strong>u a<br />

expulsão dos mesmos pelo Marquês <strong>de</strong> Pombal, foram praticamente os únicos educadores do<br />

Brasil. De acordo com Romanelli (1997), subordinando-se aos imperativos do meio social, o<br />

sistema educacional dos jesuítas, pô<strong>de</strong> permanecer inviolável, aumentando a cada dia as<br />

fileiras <strong>de</strong> fiéis e servidores. No dizer <strong>de</strong> Sodré (1994):<br />

143<br />

O ensino jesuítico, por outro lado, conservado à margem, sem aprofundar a sua<br />

ativida<strong>de</strong> e sem preocupação outras senão as do recrutamento <strong>de</strong> fiéis ou <strong>de</strong><br />

servidores, tornava-se possível porque não perturbava a estrutura vigente,<br />

subordinava-se aos imperativos do meio social, marchava paralelo a ele. Sua<br />

marginalida<strong>de</strong> era a essência <strong>de</strong> que vivia e se alimentava (SODRÉ, 1994, p. 17).<br />

O sistema jesuítico não questionava a or<strong>de</strong>m colonial. Os jesuítas ficavam apáticos ao<br />

sistema, pois seu interesse não era a transformação e mudança do status quo, mas a conquista<br />

<strong>de</strong> fiéis para a igreja. Por isso que, o seu papel conservador, possibilitou que culturas inteiras,<br />

como aquelas pertencentes às comunida<strong>de</strong>s primitivas indígenas, fossem esmagadas, sendo<br />

logo substituídas pela cultura alienada dos europeus.<br />

É por isso que Gilberto Freyre, examinando a questão a essa luz, do contato e<br />

choque <strong>de</strong> duas culturas, e da atitu<strong>de</strong> dos jesuítas em face <strong>de</strong>sse conflito, consi<strong>de</strong>ra o<br />

missionário como “o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>struidor <strong>de</strong> culturas não europeias do século XVI ao<br />

atual”, e a sua ação mais “dissolvente que a do leigo”. Os jesuítas, sob esses aspecto,<br />

foram <strong>de</strong> fato, “puros agentes europeus <strong>de</strong> <strong>de</strong>sintegração <strong>de</strong> valores nativos”<br />

(AZEVEDO, 1971, p. 517).<br />

O principal objetivo dos integrantes da Companhia <strong>de</strong> Jesus pelas colônias das gran<strong>de</strong>s<br />

potências europeias da época como, Portugal e Espanha, se constituiu como uma reação ao<br />

crescimento da influência das i<strong>de</strong>ias luteranas, tendo como objetivo o combate às críticas<br />

reformistas e à expansão do protestantismo. Tornando-se, também, um “elemento” crucial na<br />

colonização brasileira.<br />

AÇÃO EDUCACIONAL JESUÍTICA NA COLONIA<br />

Com base sólida no reino <strong>de</strong> Portugal, a Igreja Católica se interessou em trazer a sua<br />

religião para a nova colônia, visando, principalmente, converter os gentios que existiam, por


144<br />

meio da fundação <strong>de</strong> al<strong>de</strong>ias indígenas <strong>de</strong>stinadas à catequese, e oferecer educação aos filhos<br />

dos colonos, com a criação <strong>de</strong> colégios educacionais e seminários. Por isso que, segundo<br />

Abreu (1971), em todas as esquadras que partiam <strong>de</strong> Portugal havia pelo menos um<br />

representante da Igreja Católica a bordo.<br />

É no governo <strong>de</strong> Tomé <strong>de</strong> Souza que a história religiosa regular na colônia teve início,<br />

e com ele chegaram ao Brasil, em 1549, os jesuítas, chefiados por Manoel da Nóbrega, que<br />

juntamente com José <strong>de</strong> Anchieta, realizaram um trabalho <strong>de</strong> religioso e <strong>de</strong> civilização, já que<br />

consi<strong>de</strong>ravam os índios povos que careciam <strong>de</strong> civilização. Iniciaram seus trabalhos<br />

<strong>de</strong>dicando-se à catequese entre os índios, ensinando-lhes os princípios básicos da religião<br />

católica, combatendo o contato <strong>de</strong>les com os europeus, a poligamia, o antropofagismo.<br />

Dedicaram-se, especialmente, à evangelização dos curumins, além <strong>de</strong> ensina-lhes a ler e a<br />

escrever em língua portuguesa.<br />

O plano jesuíta <strong>de</strong> catequizar e educar foi implementado rapidamente. On<strong>de</strong> quer que<br />

abrissem uma igreja, também, abriam uma escola. E acontecia tão rapidamente “que na Bahia,<br />

enquanto se fundava a cida<strong>de</strong> do Salvador, quinze dias <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> chegarem os jesuítas, já<br />

funcionava uma escola <strong>de</strong> ler e escrever” (AZEVEDO, 000, p. 511). E isso foi se expandindo<br />

à medida que o domínio territorial do português também se expandia<br />

Dessa forma, inaugurou-se a partir da Bahia um movimento que se esten<strong>de</strong>u para o<br />

Sul, até São Vicente. Foi o padre Manoel da Nóbrega, “gran<strong>de</strong> apóstolo da instrução”, que<br />

concebeu o plano <strong>de</strong> levantar sobre os alicerces do ensino toda a obra <strong>de</strong> catequese e <strong>de</strong><br />

colonização. Esse jesuíta se empenhou na sua realização, <strong>de</strong>terminando, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1550, que se<br />

construíssem casas para se recolherem e ensinarem os índios jovens e também os cristãos, não<br />

só em benefício da catequese, mas também visando o sossego da terra.<br />

Outro jesuíta <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque foi Pe. Anchieta, que por volta <strong>de</strong> 1555, um ano após a<br />

fundação do colégio na al<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Piratininga, ponto mais avançado na ofensiva da catequese e<br />

da colonização, orgulhava-se dos jesuítas terem ali uma gran<strong>de</strong> escola <strong>de</strong> meninos índios bem<br />

instruídos na leitura, escrita e bons costumes. Para esse trabalho, que tinha a participação <strong>de</strong><br />

todos, Anchieta compunha canções, escrevia pequenas peças <strong>de</strong> teatro e organizava<br />

compêndios, que copiados e recopiados, se tornaram <strong>de</strong> uso corrente em quase todos os<br />

colégios.<br />

A Companhia <strong>de</strong> Jesus publicou, em 1599, o Ratium Studiorum, que serviu <strong>de</strong> norma<br />

aos colégios até a supressão da mesma, em 1773. De acordo com Julia (2001) este programa<br />

<strong>de</strong> estudos e <strong>de</strong> lições foi elaborado lentamente, por pelo menos duas razões: a) não se tinha<br />

por objetivo impor hierarquicamente uma norma, mas sim elaborar um texto o mais próximo<br />

possível das experiências confrontadas; e b) o crescimento extraordinário da Companhia <strong>de</strong>


145<br />

Jesus no final do século XVI tornou mais difícil a troca <strong>de</strong> informações bem como a<br />

unificação <strong>de</strong>sejada.<br />

Na primeira versão, no ano <strong>de</strong> 1586, esse plano foi <strong>de</strong>senvolvido segundo o currículo<br />

<strong>de</strong> aulas, tratando-se <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> lições e <strong>de</strong> exercícios graduados que partia do curso<br />

<strong>de</strong> teologia para chegar na mais simples aula <strong>de</strong> gramática. Na segunda e terceira versões,<br />

datada em 1591 e 1599, respectivamente, o plano se <strong>de</strong>sdobrava <strong>de</strong> acordo com as funções <strong>de</strong><br />

cada jesuíta.<br />

O padre José <strong>de</strong> Anchieta, por exemplo, contribuiu muito na conversão dos gentios,<br />

utilizando como instrumento o teatro, a serviço <strong>de</strong> Deus e o rei português, pois a priorida<strong>de</strong> e<br />

o sentido do seu teatro eram a formação <strong>de</strong> um ambiente cultural português e cristão,<br />

facilitando a conversão dos índios, ou seja, ensinando-os a não comer carne humana, não ter<br />

mais que uma mulher e serem amigos do português e muito mais dos padres, que cuidavam<br />

<strong>de</strong>les. Dessa forma, observa-se que o teatro constituiu um veículo eficaz <strong>de</strong> aculturação dos<br />

povos nativos. O teatro “é um recurso para a catequese – portanto, para a educação – e parte<br />

integrante do projeto colonizador lusitano” (FERREIRA JR E BITTAR, 2004, p. 174).<br />

Entretanto, os jesuítas encontravam muitos obstáculos para a realização da<br />

evangelização dos índios. Eram obstáculos inerentes aos próprios índios, como o nomadismo,<br />

quanto relacionadas aos portugueses, que apresentavam relaxamento moral, como o<br />

concubinato com as índias, por exemplo.<br />

Para facilitar o processo <strong>de</strong> catequese dos índios, os jesuítas adotaram o al<strong>de</strong>amento,<br />

ou seja, a organização <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s distantes dos brancos. O al<strong>de</strong>amento facilitava o<br />

trabalho dos jesuítas, no entanto, a fixação tinha o objetivo <strong>de</strong> transformar o índio, <strong>de</strong> caçador<br />

e coletor, em agricultor, o que acarretava uma mudança fundamental em seu gênero <strong>de</strong> vida.<br />

Outro objetivo do al<strong>de</strong>amento, recomendada pelo próprio Tomé <strong>de</strong> Souza, era separar os<br />

índios que ainda convertidos a fé católica dos índios pagãos.<br />

Os jesuítas privilegiaram a educação dos curumins (crianças índias), que tiveram papel<br />

fundamental na propagação da fé e ensinamentos da língua portuguesa. Pois, os curumins<br />

eram instruídos pelos jesuítas, e em seguida saiam pelas al<strong>de</strong>ias a ensinar seus pais em sua<br />

própria língua. E para fortalecer a ensino e aprendizado dos curumins, os jesuítas solicitaram<br />

ao rei que enviasse para o Brasil alguns órfãos do rei, como eram conhecidas as crianças que<br />

ficavam sob os cuidados <strong>de</strong> instituições caridosas mantidas pela Coroa, para que as crianças<br />

portuguesas interagissem com as crianças índias, <strong>de</strong> forma a apren<strong>de</strong>r sua língua e ensinarlhes<br />

a língua do branco.<br />

A educação dada aos curumins era restrita à catequese continuada e ao aprendizado do<br />

ler e escrever nas escolas <strong>de</strong> “bê-á-bá”, observando que as primeiras letras eram necessárias


para a catequese continuada. Em outros termos, o ensino elementar era, para os jesuítas,<br />

apenas um instrumento <strong>de</strong> catequese e a base para a organização do seu sistema. Não havia,<br />

para os índios, uma formação abrangente. Aprendiam a ler e escrever com o objetivo da<br />

catequização, enquanto os filhos dos colonos, <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> europeus, eram instruídos.<br />

A VIOLÊNCIA SIMBÓLICA NA AÇÃO PEDAGÓGICA DOS JESUÍTAS<br />

Analisaremos, à luz da teoria <strong>de</strong> Bourdieu e Passeron (2014), como a ação pedagógica<br />

exercida pelos jesuítas carregava em seu bojo a violência simbólica. O conceito <strong>de</strong> ação<br />

pedagógica como um exercício <strong>de</strong> violência simbólica <strong>de</strong> inculcação <strong>de</strong> arbítrios culturais é:<br />

146<br />

Todo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> violência simbólica, isto é, todo po<strong>de</strong>r que chega a impor<br />

significações e a impô-las como legítima, dissimulando as relações <strong>de</strong> força que<br />

estão na base <strong>de</strong> sua força, acrescenta sua própria força, isto é, propriamente<br />

simbólica, a essa relações <strong>de</strong> força. (BOURDIEU E PASSERON, 2014, p. 25).<br />

Bourdieu parte do princípio <strong>de</strong> que a cultura, ou o sistema simbólico, é arbitrária, uma<br />

vez que não se assenta numa realida<strong>de</strong> dada como natural. O sistema simbólico <strong>de</strong> uma<br />

<strong>de</strong>terminada cultura é uma construção social e sua manutenção é fundamental para a<br />

perpetuação <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada socieda<strong>de</strong>, através da interiorização da cultura por todos os<br />

membros da mesma. A violência simbólica expressa-se na imposição dissimulada, com a<br />

interiorização da cultura dominante. O dominado não se opõe ao seu opressor, já que não se<br />

percebe como vítima <strong>de</strong>ste processo: ao contrário, o oprimido consi<strong>de</strong>ra a situação natural e<br />

inevitável.<br />

A ação pedagógica imposta pela Igreja através dos jesuítas no período colonial se<br />

exerce como um arbitrário cultural e executa um po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> violência simbólica, que <strong>de</strong> acordo<br />

com Bourdieu (2014) é todo po<strong>de</strong>r que chega a impor significações e assegura o monopólio<br />

da violência simbólica legítima. A ação pedagógica exercida pelos jesuítas é objetivamente<br />

uma violência simbólica enquanto imposição, por um po<strong>de</strong>r arbitrário <strong>de</strong> um arbitrário<br />

cultural. Assim, toda a ação pedagógica <strong>de</strong>verá ser consi<strong>de</strong>rada como violência simbólica, na<br />

medida em que impõe e inculca arbítrios culturais.<br />

Impondo a cultura europeia aos índios e também aos africanos escravizados, os padres<br />

jesuítas reproduziam uma prática pedagógica que po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada como violência<br />

simbólica. Com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que os índios não eram civilizados e que havia a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

trazer a civilização para esses povos, os europeus, na figura dos jesuítas, impuseram sua<br />

cultura e seu modo <strong>de</strong> vida, constituindo, <strong>de</strong>sta forma, uma violência simbólica e um arbítrio<br />

cultural.<br />

Enquanto violência simbólica, a ação pedagógica produz seu efeito próprio, um efeito<br />

propriamente pedagógico, quando são dadas as condições sociais da imposição. E o cenário<br />

colonial e os acordos entre a Coroa e a Igreja propiciaram o ambiente no qual favoreceu todo<br />

o <strong>de</strong>senrolar da atuação dos padres jesuítas. Esse po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> violência simbólica só exerce sua


função pedagógica “quando são dadas as condições sociais <strong>de</strong> imposição e inculcação” (BOURDIEU,<br />

2014, p.28). Como afirma Stoer (2008):<br />

147<br />

A ação pedagógica reproduz o arbitrário cultural das classes dominantes ou<br />

dominadas. A ação pedagógica (institucionalizada) da escola reproduz a cultura<br />

dominante e, através <strong>de</strong>sta, a estrutura <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> força <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma formação<br />

social, possuindo o sistema educativo dominante o monopólio da violência<br />

simbólica legítima. Todas as ações pedagógicas praticadas por diferentes classes ou<br />

grupos sociais apoiam objetiva e indiretamente a ação pedagógica dominante,<br />

porque esta última <strong>de</strong>fine a estrutura e o funcionamento do mercado econômico e<br />

simbólico (STOER, 2008, p. 15).<br />

Neste caso as ativida<strong>de</strong>s educativas dos padres jesuítas po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>radas as<br />

responsáveis pela implementação e consolidação da educação formal na socieda<strong>de</strong> brasileira<br />

colonial por se tratar <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>finição formal da comunicação. No entanto, mesmo tendo um<br />

caráter formal <strong>de</strong> educação não havia uma ação pedagógica a<strong>de</strong>quada aos nativos, pois a<br />

educação estava vinculada aos interesses objetivos, materiais e simbólicos, das classes<br />

dominantes, as que <strong>de</strong>tinham relações <strong>de</strong> força em sua base, ou seja, aos interesses dos<br />

colonizadores. Pois, os índios eram catequisados e os filhos dos colonos ou <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong><br />

europeu eram instruídos.<br />

A força simbólica <strong>de</strong> uma instância pedagógica <strong>de</strong>fine-se por seu peso na estrutura<br />

das relações <strong>de</strong> força e das relações simbólicas (exprimindo sempre essas relações<br />

<strong>de</strong> força) que se instauram entre as instâncias exercendo uma ação <strong>de</strong> violência<br />

simbólica, estrutura que exprime por sua vez as relações <strong>de</strong> força entre os grupos ou<br />

as classes constitutivas da formação social consi<strong>de</strong>rada. É pela mediação <strong>de</strong>sse<br />

efeito <strong>de</strong> dominação da ação pedagógica dominante que as diferentes ação<br />

pedagógica que se exerce nos diferentes grupos ou classes colaboram objetiva ou<br />

indiretamente na dominação das classes dominantes (inculcação pelas ação<br />

pedagógica dominadas <strong>de</strong> conhecimento ou <strong>de</strong> maneiras, dos quais a ação<br />

pedagógica dominante <strong>de</strong>fine o valor sobre o mercado econômico ou simbólico)<br />

(BOURDIEU E PASSERON, 2010).<br />

A educação no período colonial não representa um papel <strong>de</strong> socializador e <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>mocratizar o conhecimento. Na verda<strong>de</strong>, investigando sua origem, percebe-se as fortes<br />

características <strong>de</strong> um ensino pensado, i<strong>de</strong>alizado e criado para aten<strong>de</strong>r aos interesses <strong>de</strong> alguns<br />

sobre o domínio <strong>de</strong> outros. Houve violência simbólica em todo o processo educacional<br />

conduzido pelos jesuítas. Pois, o processo <strong>de</strong> expansão ultramarina patrocinada pelos reis da<br />

dinastia <strong>de</strong> Avis (1383-1580) tinha como escopo dois propósitos interligados num mesmo<br />

movimento: a conquista <strong>de</strong> novas feitorias produtoras <strong>de</strong> mercadorias, as regiões<br />

genericamente <strong>de</strong>nominadas <strong>de</strong> Índias, e a propagação da fé cristã. E os padres jesuítas<br />

seguiram esse itinerário, dando mais atenção a propagação da fé cristã, mas sem questionar e<br />

transformar a realida<strong>de</strong>, legitimando, <strong>de</strong> certa forma, o domínio e a exploração nas terras<br />

conquistadas.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Como vimos, os interesses religiosos e políticos da Companhia <strong>de</strong> Jesus, sem dúvida,<br />

moveram a ação educativa <strong>de</strong>sses padres, que encontraram no ensino, um meio eficaz <strong>de</strong><br />

submissão e domínio. O sentido da educação, portanto, na “dominação das almas”, parece-nos


148<br />

bastante evi<strong>de</strong>nte, referindo-se a um sentido <strong>de</strong> educação basicamente elitista. Isso porque<br />

esse tipo <strong>de</strong> educação não visava à formação do indivíduo, mas privilegiava, mediante um<br />

conteúdo clássico, a ascensão social <strong>de</strong> um pequeno grupo dominante.<br />

A atuação dos jesuítas se revelou, também, além <strong>de</strong> um po<strong>de</strong>roso instrumento político<br />

<strong>de</strong> conquista, como um instrumento <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição. Foi um instrumento <strong>de</strong> conquista porque<br />

com a catequização e com a expansão da língua portuguesa os portugueses conseguiram<br />

impor seu domínio. Abreu diz que “a expansão do idioma correspon<strong>de</strong> à efetiva conquista do<br />

território” (AZEVEDO, 1971, p. 517). E mais, o projeto jesuítico foi <strong>de</strong> extrema <strong>de</strong>struição<br />

<strong>de</strong> valores, <strong>de</strong> cultura e <strong>de</strong> costumes nativos. Assim diz Azevedo: “os jesuítas, sob esse<br />

aspecto, foram <strong>de</strong> fato, puros agentes europeus <strong>de</strong> <strong>de</strong>sintegração <strong>de</strong> valores nativos”<br />

(AZEVEDO, 1971, p. 517). Como sustenta Bourdieu, a violência social e o arbítrio cultural é<br />

uma forma <strong>de</strong> imposição <strong>de</strong> uma cultura dominante. Os padres jesuítas constituíram-se na<br />

mais po<strong>de</strong>rosa arma para tal empreita.<br />

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período colonial: o sentido da educação na dominação das almas. Trilhas, Belém, v.1, n.2,<br />

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VEIGA, Ilma Passos Alencastro. A prática pedagógica uma retrospectiva histórica. 2°<br />

edição. Campinas, SP: Papirus, 1992.<br />

149


150<br />

A CULTURA LOCAL NO ENSINO DE HISTÓRIA<br />

Geniclécia Lima dos Santos – UNEB 19<br />

Rayla Roberta Silva <strong>de</strong> Oliveira – UNEB 20<br />

Iris Verena Santos <strong>de</strong> Oliveira – UNEB 21<br />

O presente trabalho discute a importância da abordagem da cultura local e da memória no<br />

ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong> no ensino fundamental I a partir da análise <strong>de</strong> “Fichas Pedagógicas”,<br />

documento produzido nos planejamentos por docentes e coor<strong>de</strong>nadores pedagógicos.<br />

Analisamos como o ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong> é pensado através dos planos <strong>de</strong> aula do ensino<br />

fundamental e apontamos sugestões <strong>de</strong> como o uso das memórias dos alunos, da comunida<strong>de</strong><br />

e das experiências dos docentes e discentes po<strong>de</strong>m ser o ponto <strong>de</strong> partida para se pensar o<br />

estudante enquanto sujeito ativo na produção do conhecimento, assim como sugere autores da<br />

terceira geração dos Analles, que para os estudiosos da área da educação po<strong>de</strong> ser<br />

<strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> formação cidadã, substituindo o acúmulo <strong>de</strong> conhecimentos sistematizados. É<br />

importante ressaltar, que a relativização do conhecimento histórico <strong>de</strong> modo a buscar práticas<br />

on<strong>de</strong> os conteúdos sejam contextualizados com o meio social do indivíduo não implica,<br />

necessariamente, em uma perda <strong>de</strong> significados, legitimida<strong>de</strong> ou referencial. Enten<strong>de</strong>mos<br />

ainda, que a dada importância e inclusão <strong>de</strong>ssa cultura local, necessita <strong>de</strong> uma consciência e<br />

<strong>de</strong> um comprometimento das práticas docentes, para que possam perceber quais são as reais<br />

<strong>de</strong>mandas a serem vivenciadas. Não menos importante, é a incorporação <strong>de</strong> diferentes<br />

linguagens usada pelo professor e a atenção que este <strong>de</strong>ve ter aos diferentes níveis <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento do seu alunado. Tomamos como base fundamental para esta discussão,<br />

principalmente, o conceito <strong>de</strong> “cultura” segundo Clifford Geertz e para dialogar com este,<br />

utilizamos da área da educação, Ana Maria Monteiro (formação em <strong>História</strong> e Educação),<br />

entre outros. Nosso principal objetivo é reafirmar a importância <strong>de</strong> se estimular a produção <strong>de</strong><br />

narrativas locais a partir <strong>de</strong> vivências selecionadas, a fim <strong>de</strong> fortalecer a memória e a história<br />

local.<br />

Palavras-Chave: Ensino <strong>de</strong> história, cultura, memória, história local.<br />

Qual Ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong> se preten<strong>de</strong> nas séries iniciais <strong>de</strong> Conceição do Coité?<br />

A proposta <strong>de</strong>ste trabalho é analisar como é utilizada a memória e a cultura local nas<br />

aulas <strong>de</strong> <strong>História</strong> do Ensino Fundamental I da re<strong>de</strong> municipal <strong>de</strong> Conceição do Coité. O<br />

município está localizado no oeste baiano, na microrregião <strong>de</strong> Serrinha; tem mais <strong>de</strong> 60 mil<br />

habitantes e 82 anos <strong>de</strong> emancipação política; na economia se <strong>de</strong>staca o cultivo e comércio do<br />

sisal; a religião é um ponto em <strong>de</strong>staque no município, que tem como padroeira a Nossa<br />

19<br />

Graduanda em Licenciatura em <strong>História</strong>, Bolsista <strong>de</strong> Iniciação Científica FAPESB<br />

geniclecialima94@gmail.com<br />

20<br />

Graduanda em Licenciatura em <strong>História</strong>, Bolsista <strong>de</strong> Iniciação Científica FAPESB<br />

raylla.roberta@hotmail.com<br />

21<br />

Doutora em Estudos Étnicos e Africanos pela UFBA irisveren@gmail.com


151<br />

Senhora da Conceição, o predomínio é da religião católica, mas há também uma consi<strong>de</strong>rável<br />

variação <strong>de</strong> outras religiões protestantes e <strong>de</strong> matriz africana.<br />

É <strong>de</strong> fundamental relevância frisar que o ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong> no Fundamental I é<br />

competência <strong>de</strong> pedagogos, e não <strong>de</strong> historiadores. A partir <strong>de</strong> disso, nos cabe pensar: quais<br />

lacunas po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>ixadas por esses pedagogos a respeito da disciplina <strong>História</strong>? E quais<br />

falhas po<strong>de</strong>riam ser cometidas por historiadores que viessem a atuar na área do Fundamental I<br />

sem as proprieda<strong>de</strong>s das competências pedagógicas. É por este motivo que a proposta do<br />

projeto “Tecnologia Social da Memória e Aprendizagens Socioemocionais no Ensino <strong>de</strong><br />

<strong>História</strong> nas Séries Iniciais da Re<strong>de</strong> Municipal <strong>de</strong> Conceição do Coité”, do qual somos<br />

bolsistas <strong>de</strong> iniciação científica, propõe melhorar as condições <strong>de</strong> ensino e aprendizagem para<br />

os professores e alunos da re<strong>de</strong> municipal <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> Conceição do Coité, relacionando a<br />

memória e a história da comunida<strong>de</strong> com a disciplina <strong>História</strong>. Trata-se <strong>de</strong> um trabalho em<br />

conjunto, <strong>de</strong> nós estudantes <strong>de</strong> graduação em <strong>História</strong> com professores da re<strong>de</strong> municipal em<br />

atuação na área <strong>de</strong> <strong>História</strong>, e que nem sempre têm formação na área.<br />

A fonte que usamos para análise são as fichas pedagógicas do ano letivo <strong>de</strong> 2015,<br />

documento produzido nos planejamentos por docentes e coor<strong>de</strong>nadores pedagógicos do<br />

município e que nos foi cedido pela Secretaria <strong>de</strong> Educação Municipal. Buscamos i<strong>de</strong>ntificar<br />

nessas fichas on<strong>de</strong> o professor encaixa o uso da memória e da história local nas aulas <strong>de</strong><br />

<strong>História</strong>. Tivemos acessos às todas as fichas do planejamento <strong>de</strong> todo o ano letivo <strong>de</strong> 2015 da<br />

re<strong>de</strong> municipal, para todas as series do ensino Fundamental I, <strong>de</strong> todas as unida<strong>de</strong>s.<br />

Analisando as fichas pedagógicas po<strong>de</strong>mos perceber alguns fatores comuns na<br />

metodologia <strong>de</strong> todas as séries. Um <strong>de</strong>sses fatores é o trabalho com datas comemorativas. É<br />

perceptível a importância <strong>de</strong>stas datas no plano dos professores, mas as fichas pedagógicas<br />

não trazem a metodologia utilizada para trabalhar tais temas. Tal fato nos aponta uma lacuna,<br />

se há a contextualização <strong>de</strong>ssas datas comemorativas e se estas têm significância na<br />

comunida<strong>de</strong>. É importante salientar, que o único objeto <strong>de</strong> análise que temos são as fichas<br />

pedagógicas, ainda não chegamos à fase do trabalho <strong>de</strong> campo, on<strong>de</strong> participaremos do<br />

planejamento das aulas, observação das mesmas e do ambiente escolar, assim como da<br />

comunida<strong>de</strong>. Portanto, a lacuna <strong>de</strong>ixada a respeito da metodologia usada para trabalhar as<br />

datas comemorativas po<strong>de</strong> ser apenas uma falha técnica na construção do material<br />

pedagógico.<br />

Outro fator comum presente nas fichas é o uso <strong>de</strong> diversos recursos para enriquecer as<br />

aulas. Fica claro que tais matérias tornam as aulas mais atrativas e dinâmicas para os alunos.<br />

Consequentemente, o trabalho do professor fica mais agradável. Nas fichas, são mencionados


os usos <strong>de</strong> músicas contextualizando com os conteúdos das aulas, bem como poemas, cordéis,<br />

ví<strong>de</strong>os, entre outros. Evitando assim, que a aula seja meramente expositiva e <strong>de</strong>sinteressante.<br />

No final das unida<strong>de</strong>s é comum a socialização dos trabalhos que foram produzidos com toda a<br />

escola, as famílias e a comunida<strong>de</strong>, e o <strong>de</strong>bate sobre as informações que foram encontradas e<br />

sugestões para possíveis soluções <strong>de</strong> problemas. Um importante ponto das fichas pedagógicas<br />

é o momento da avaliação. Esta é mencionada como processual:<br />

152<br />

Avaliar não é apenas um momento, mas ele diz respeito a todo o processo.<br />

Também, não é apenas <strong>de</strong> novos conhecimentos e informações adquiridas, mas do<br />

envolvimento <strong>de</strong> todos/as na caminhada: conhecimentos adquiridos, atitu<strong>de</strong>s<br />

modificadas, ações que se encaminham em relação ao tema trabalhado, a<br />

comunida<strong>de</strong> e toda escola. Assim, a avaliação <strong>de</strong>ve ser feita em todos os momentos<br />

da vida escolar e não apenas em momentos <strong>de</strong> provas e testes, pois se trata <strong>de</strong> uma<br />

avaliação da vida e não apenas <strong>de</strong> conteúdos programáticos. (Ficha I Unida<strong>de</strong>,<br />

2015, p. 27)<br />

Porém, AZEVEDO e STAMATTO (2010) afirmam que “(...) para avaliar a<br />

progressão do aluno, só se po<strong>de</strong> fazer se o tiver avaliado no início da unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino. (...)<br />

i<strong>de</strong>ntificar o estado em que o aluno se encontra em relação à matéria a ser trabalhada e apara<br />

i<strong>de</strong>ntificar suas possibilida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>ficiências”. Nas fichas pedagógicas essa avaliação inicial<br />

não é mencionada.<br />

As fichas pedagógicas são separadas por unida<strong>de</strong>s e o planejamento <strong>de</strong> divi<strong>de</strong> em dois:<br />

um para 1º, 2º e 3º anos, e outro para o 4º e 5º anos. Na primeira unida<strong>de</strong> ambos os<br />

planejamentos pouco se distinguem. Trabalham com uma sequência: (<strong>de</strong> forma resumida)<br />

autorretrato, membros da família, a história da escola e a história da comunida<strong>de</strong>; po<strong>de</strong>mos<br />

relacionar isso com a construção do “eu”, “a família”, “a escola” e “a comunida<strong>de</strong>”<br />

respectivamente. Percebe-se neste caso, a preocupação da formação da consciência <strong>de</strong><br />

cidadania e a importância da sua comunida<strong>de</strong>.<br />

Esse pensamento segue a linha <strong>de</strong> raciocínio do Escolanovismo, que chegou ao Brasil<br />

na transição do final do século XIX para o início do século XX e se opõe à escola tradicional,<br />

aquela on<strong>de</strong> o ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong> é feito seguindo preceitos positivistas, com uma história<br />

distante do cotidiano do aluno, linear e com heróis elitistas como salvadores da pátria. No<br />

Escolanovismo se prioriza os estudos das transformações econômicas, dos meios <strong>de</strong><br />

transporte e ocupação territorial em <strong>de</strong>trimento das ações dos homens em socieda<strong>de</strong>,<br />

especialmente para a primeira etapa do ensino fundamental (AZEVEDO e STAMATTO,<br />

2010, p.709).<br />

A adoção <strong>de</strong>ssa influência escolanovista fica clara ao analisarmos a <strong>II</strong> unida<strong>de</strong> das<br />

fichas pedagógicas. Nos 1º, 2º e 3º anos trabalha-se o meio ambiente, a ação do homem sobre<br />

este, animais em extinção, como o lixo foi <strong>de</strong>scartado ao longo da história e tentando


153<br />

construir hipóteses <strong>de</strong> como será o futuro a partir do que se tem no hoje. Para tal, se indica no<br />

plano <strong>de</strong> aula a entrevista às famílias e a pessoas mais velhas da comunida<strong>de</strong> feita pelos<br />

alunos. Para o 4º e 5º ano, se propõe estudar as riquezas e explorações no Brasil, tempos e<br />

histórias diferentes, as conquistas <strong>de</strong> territórios, estudos sobre o continente africano, grupos<br />

étnicos. Se propõe uma reflexão sobre o africano antes e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ser escravizado. Nesse<br />

período se comemora o aniversário <strong>de</strong> emancipação política do município, então as escolas<br />

dão ênfase à história local.<br />

Enten<strong>de</strong>ndo que o diálogo entre ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong> e conhecimento cientifico permite<br />

um olhar amplo para a formação do estudante, é que buscaremos pesquisar e refletir essa<br />

relação. Para tanto, o contato inicial com as fichas pedagógicas, nos possibilitou compreen<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong> que maneira é sistematizado esse ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong> nas séries iniciais. Na ficha<br />

pedagógica referente a <strong>II</strong>I unida<strong>de</strong>, é justificado os seguintes aspectos:<br />

Existem diversos significados <strong>de</strong> cultura, <strong>de</strong>ntre eles, <strong>de</strong>stacamos a expressão <strong>de</strong><br />

cultura como toda produção do ser humano ou seja, o jeito <strong>de</strong> ser das pessoas,<br />

construído por elas próprias. Ela não é inata e permite que as pessoas aprendam<br />

habilida<strong>de</strong>s e valores que perpassam <strong>de</strong> geração a geração. São elementos culturais:<br />

as artes, as ciências, os costumes, os sistemas sociais, as religiões e as crenças, os<br />

mitos, os valores morais e éticos, os comportamentos, as preferências, as invenções<br />

e todas as maneiras <strong>de</strong> ser, sentir, agir e pensar das pessoas. (Ficha <strong>II</strong>I Unida<strong>de</strong>,<br />

2015, p. 01)<br />

Na <strong>II</strong>I unida<strong>de</strong>, se vê o predomínio do estudo das culturas. São trabalhadas as<br />

territorialida<strong>de</strong>s, as manifestações populares, crenças, superstições as tradições passadas <strong>de</strong><br />

geração para geração. Chama-se atenção para a cultura das populações do campo e suas<br />

conquistas, a agricultura familiar, ponto marcante da região, e as peculiarida<strong>de</strong>s do semiárido.<br />

Quanto ao folclore, é apenas pontuado no planejamento, sem ser explicitada a metodologia<br />

usada. Um ponto que nos chama a atenção nesta ficha é que memória, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e cultura<br />

são tidas como conteúdos e não como conceitos. Se pensa também na valorização da arte, dos<br />

idosos e toda a experiência e histórias que carregam consigo, e a importância da mistura<br />

étnica e cultural na construção <strong>de</strong> uma cultura brasileira. A todo o momento se percebe a<br />

tentativa <strong>de</strong> inserir as famílias e a comunida<strong>de</strong> no ambiente escolar. Por outro lado, nos faz<br />

enten<strong>de</strong>r, que esse ensino é <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> tal produção, o que po<strong>de</strong> permitir ou até mesmo<br />

limitar certas <strong>de</strong>mandas, assim como afirma Certeau:<br />

Toda pesquisa historiográfica se articula com um lugar <strong>de</strong> produção<br />

sócioeconômico, político e cultural. Implica um meio <strong>de</strong> elaboração que<br />

circunscrito por <strong>de</strong>terminações próprias: una profissão liberal, um posto <strong>de</strong><br />

observação ou <strong>de</strong> ensino, uma categoria <strong>de</strong> letrados, etc. Ela está, pois, submetida<br />

a imposições, ligada a privilégios, enraizada em uma particularida<strong>de</strong>. [Pg. 066] É


em função <strong>de</strong>ste lugar que se instauram os métodos, que se <strong>de</strong>lineia uma<br />

topografia <strong>de</strong> interesses, que os documentos e as questões, que lhes serão<br />

propostas, se organizam. (CERTEAU, 2002, p.56)<br />

O ensino da cultura, não <strong>de</strong>ve se limitar aos que produzem, pois <strong>de</strong>ssa maneira,<br />

estaríamos concordando com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que uns produzem e outros consomem. Outros<br />

aspectos <strong>de</strong>vem ser levados em conta: a prática docente e o fazer-se do aluno em sala <strong>de</strong> aula.<br />

A história a partir <strong>de</strong> questões-problema consiste em propor que, com base em<br />

situações problematizadoras extraídas da realida<strong>de</strong> social dos alunos, busque-se<br />

respostas no passado, em diferentes épocas e lugares, sempre orientados por<br />

dúvidas e indagações reais, do tempo presente. O intuito é que o ensino <strong>de</strong> história<br />

seja significativo para os alunos na sua experiência atual. (AZEVEDO e<br />

STAMATTO, 2010, p.719).<br />

Nesta perspectiva, esse ensino da cultura local seria essa possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar a<br />

realida<strong>de</strong> social cada vez mais próxima e <strong>de</strong> estabelecer uma relação entre produtores,<br />

educandos e claro, entre os sujeitos que <strong>de</strong>ssa cultura fazem parte. E levando essa cultura nos<br />

mol<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino-aprendizagem, é uma forma <strong>de</strong> refletir criticamente e permitir a construção<br />

<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s dos sujeitos.<br />

Por meio das fichas pedagógicas, é perceptível uma preocupação com essa cultura<br />

local tão fundamental na formação dos sujeitos. Assim, nas divisões que estabelecem, o<br />

conhecer, no planejamento para 1º, 2º e 3º anos é apresentado da seguinte maneira: 1.1<br />

Quais as manifestações culturais existiam e existem em sua comunida<strong>de</strong>? Quais os elementos<br />

da cultura merecem <strong>de</strong>staque? (samba, contadores <strong>de</strong> causos, boi roubado, bata <strong>de</strong> feijão,<br />

festas religiosas, entre outros). No espaço que <strong>de</strong>limitam como analisar, a disciplina história<br />

traz as seguintes orientações: <strong>História</strong> (6 aulas) Brincar com as crianças com a cantiga <strong>de</strong><br />

roda “Ciranda, cirandinha”, então na roda <strong>de</strong> conversa explicar para as crianças que a nossa<br />

comunida<strong>de</strong> possui costumes e tradições que são passados <strong>de</strong> geração a geração. Em seguida,<br />

resgatar na lousa a resposta do 1.1, escolher algumas palavras para trabalhar análise estrutural<br />

e fonológica. Após, solicitar que as crianças representem por meio <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho as palavras<br />

analisadas. A partir daí, trabalhar o bumba meu boi, brinquedos e brinca<strong>de</strong>iras, trabalhar a<br />

cultura do campo, p. 169-170 2° ano e 167-168, 3° ano. Iniciar a aula lendo o livro<br />

“Capoeira” <strong>de</strong> Sônia Rosa. Partindo da história, questionar as crianças quais outros elementos<br />

que se <strong>de</strong>stacam na nossa comunida<strong>de</strong>. Após ouvir as respostas, apresentar as crianças um<br />

convidado da comunida<strong>de</strong> que irá expressar suas experiências quanto à cultura já vivenciada<br />

como, por exemplo: boi roubado, bata do feijão e outras. Em seguida, solicitar que escolham<br />

uma das histórias ouvidas e façam reconto através da escrita espontânea (do seu jeito) e<br />

ilustrar. Dando prosseguimento, trabalhar o conteúdo “Direito à educação escolar” 2° ano, p.<br />

182 a 186; 3°p. 158. (Ficha <strong>II</strong>I Unida<strong>de</strong>, 2015, p.08-09)<br />

154


155<br />

Ao mesmo tempo em que há uma preocupação com essa cultura, ainda existe uma<br />

caracterização <strong>de</strong> história global, o que não <strong>de</strong>ve se <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lado, mas que acaba<br />

contribuindo para que assuntos referentes a uma <strong>de</strong>terminada região, município, enfim, sejam<br />

<strong>de</strong>ixados <strong>de</strong> lado. Afinal, esse ensino não <strong>de</strong>ve ser tratado apenas como um conteúdo a ser<br />

ensinado, mas que contenha uma metodologia para que esses conteúdos partam também da<br />

realida<strong>de</strong> local, que esse conteúdo seja os próprios sujeitos que <strong>de</strong>sse processo fazem parte.<br />

A IV unida<strong>de</strong> é <strong>de</strong>dicada aos valores. O Combate à violência na escola, o respeito ao<br />

estatuto do idoso, a valorização do negro. Para o 4º e 5º ano se traz conteúdo da vinda da<br />

família real para o Brasil, Monarquia e República, os três po<strong>de</strong>res e o funcionalismo dos<br />

serviços públicos na comunida<strong>de</strong>. Essa implicação a respeito dos valores é uma busca na<br />

transformação <strong>de</strong> comportamentos.<br />

Estes alunos se tornam sujeitos construtores e transmissores <strong>de</strong> saberes na sua família<br />

e comunida<strong>de</strong>. Peter Lee (2001) em um <strong>de</strong> seus estudos que fez em Londres entrevistando<br />

crianças percebeu que as crianças <strong>de</strong>ixavam <strong>de</strong> achar a disciplina <strong>História</strong> chata e inútil<br />

quando esta passava a fazer sentido para elas. Essa construção <strong>de</strong> sentido se <strong>de</strong>u quando os<br />

professores passaram a trabalhar na perspectiva <strong>de</strong> que o aluno é sujeito ativo no processo <strong>de</strong><br />

construção da história. Essa i<strong>de</strong>ia é reforçada por Fernando Araujo Penna (2014) quando<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que os saberes precisam ter uma função social, e critica a à pura produção <strong>de</strong> saberes<br />

que não levantam problemáticas sobre a realida<strong>de</strong> humana.<br />

Penna critica também o fato <strong>de</strong> a história não ser preparada para ser ensinada a todos<br />

os públicos. Isso é um resquício do positivismo histórico. Po<strong>de</strong>mos então, avaliar esse<br />

processo <strong>de</strong> valorização da cultura, como uma reunião <strong>de</strong> textos, como nos afirma Clifford<br />

Geertz (ano 2012, p.43) “A antropologia interpretativa, ao ver as culturas como conjuntos <strong>de</strong><br />

textos, frouxa e, por vezes, contraditoriamente unidos, e ao ressaltar a inventiva poética em<br />

funcionamento em toda representação coletiva (...)”. Dessa forma, ao invés <strong>de</strong> <strong>de</strong>marcar ou<br />

diferenciar alguns temas em sala <strong>de</strong> aula, é preciso que haja uma relação entre todos os<br />

saberes que possam estar envolvidos, e como fomenta muito bem Ana Maria Monteiro (2011,<br />

p.4) “A fronteira é lugar on<strong>de</strong> são <strong>de</strong>marcadas diferenças, mas on<strong>de</strong> também é possível<br />

produzir aproximações, diálogos, ou distanciamento entre culturas que entram em contato”.<br />

CONCLUSÃO<br />

Esse trabalho aponta algumas analises e ao mesmo tempo, expõe algumas possíveis<br />

implementações diante do ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong> e suas metodologias, para que a <strong>História</strong> local<br />

seja vivenciado no cotidiano dos alunos. Os autores aqui citados, nos possibilitaram reforçar


esse <strong>de</strong>bate tão importante para a reconstrução das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s históricas, sejam elas coletivas<br />

ou individuais.<br />

156<br />

Mas não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ressaltar, que as análises ainda partem da teória e<br />

portanto, não po<strong>de</strong>mos afirmar com total convicção, qual o ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong> que realmente é<br />

ensinado nas séries inicias <strong>de</strong> Conceição do Coité. Fica portanto, a nossa inquietação para ter<br />

esse contato prático, seja para afirmar nossas análises ou para possibilitar a imagens <strong>de</strong> outros<br />

aspectos.<br />

REFERÊNCIAS<br />

AZEVEDO, Crislane Barbosa. STAMATTO, Maria Inês Sucupira. Teoria historiográfica e<br />

prática pedagógica: as correntes <strong>de</strong> pensamento que influenciaram o ensino <strong>de</strong> história no<br />

Brasil. Antíteses, vol. 3, n. 6,jul.-<strong>de</strong>z. <strong>de</strong> 2010, pp. 703-728.<br />

CERTEAU, Michel <strong>de</strong>. A Escrita da H 22 stória. 2ª Ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Forense Universitária,<br />

2002.<br />

LEE, Peter. Progressão da compreensão dos alunos em <strong>História</strong>. In. BARCA, Isabel. (org).<br />

Perspectivas em Educação Histórica: Actas das primeiras jornadas internacionais <strong>de</strong><br />

Educação Histórica. Braga: Centro <strong>de</strong> Estudos em Educação e Psicologia – UMINHO, 2001.<br />

MONTEIRO, Ana Maria da Costa; PENNA, Fernando <strong>de</strong> Araujo. Ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong>:<br />

saberes em lugar <strong>de</strong> fronteira. Educ. Real. Porto Alegre, v. 36, n.1, p. 191-211, jan./abr.,<br />

2011.


*Mestranda em Ensino na Educação Básica na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo–CEUNES/UFES.<br />

Orientador: professor Ailton Pereira Morila.<br />

157<br />

ESCOLA, ESCOLAS, O FESTIVAL ANUAL DA CANÇÃO ESTUDANTIL DA<br />

BAHIA E A CONSTRUÇÃO DA TRILHA SONORA NO ENSINO DE HISTÓRIA<br />

Lucieleny Ribeiro Jardim 23<br />

RESUMO: Consi<strong>de</strong>rando a importância das novas perspectivas para o ensino das ciências<br />

humanas, o texto reflete acerca das ferramentas necessárias para ensinar e apren<strong>de</strong>r a pensar<br />

historicamente. Este ensaio parte da inquietação em investigar sobre a capacida<strong>de</strong> do Festival<br />

Anual da Canção Estudantil da Bahia <strong>de</strong> contribuir no espaço escolar para um processo <strong>de</strong><br />

produção <strong>de</strong> sentidos sobre o mundo e a socieda<strong>de</strong>, levando em conta os saberes na área <strong>de</strong><br />

humanida<strong>de</strong>s.<br />

Palavras chave: Ensino - Festival- Espaço escolar- Área <strong>de</strong> humanida<strong>de</strong>s<br />

Introdução<br />

A historiografia tem percorrido diversos caminhos, numa trajetória plural, primeiro<br />

fundamentada numa tendência tradicional e gradualmente modificada, assimilando novos<br />

sentidos e olhares para o conhecimento das socieda<strong>de</strong>s (Burke 2005). Discussões levantadas a<br />

partir das últimas décadas do século passado, como o <strong>de</strong>bate entre macro e a micro história, a<br />

gênero e outras minorias; o estudo das “práticas, representações, história da memória, cultura<br />

material e história do corpo (BURKE, 2005 p.67-76)”, marcaram a valorização da experiência<br />

humana, introduzindo novas tendências para o ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong>.<br />

De acordo Ilmar Rohloff <strong>de</strong> Mattos (2006) a partir <strong>de</strong>sta realida<strong>de</strong>, novos sujeitos e autores<br />

<strong>de</strong>spontaram sustentados pela abertura para a diferença e o contínuo <strong>de</strong>slocamento para as<br />

margens. Portanto há um afastamento dos gran<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>los explicativos, que apadrinhavam as<br />

<strong>de</strong>terminações sociais externas, preferindo os sujeitos. O autor diz que essa nova sensibilida<strong>de</strong><br />

favorece o construtivismo social e a centralida<strong>de</strong> da ação.<br />

Para Carla Pinsky (2010) a construção dos currículos escolares tem se preocupado em<br />

acompanhar o <strong>de</strong>senvolvimento da historiografia, observando a importância do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da <strong>História</strong> Social e Cultural. As metodologias e as linguagens usadas na


divulgação do conhecimento histórico, as abordagens conceituais e práticas, a seleção <strong>de</strong><br />

conteúdos e a questão “para que serve” tem sido continuamente indagadas nesta nova<br />

estruturação do ensino <strong>de</strong> história. (PINSKY org., 2010, p. 7)<br />

Sobre essa nova perspectiva, Schmidt e Cainelli (2009, p. 34) escrevem que a ação do<br />

professor tem se afastado da imagem “professor enciclopédia”, proprietário do conhecimento,<br />

reelaborando sua atitu<strong>de</strong> e tornando-o mediador, que auxilia a construção do saber <strong>de</strong> seus<br />

alunos. Assim afirmam:<br />

158<br />

O professor <strong>de</strong> história ajuda o aluno a adquirir as ferramentas <strong>de</strong> trabalho<br />

necessárias para apren<strong>de</strong>r a pensar historicamente, o saber-fazer, o saber-fazer-bem,<br />

lançando os germes do histórico. Ele é responsável por ensinar ao aluno como captar<br />

e valorizar a diversida<strong>de</strong> das fontes e dos pontos <strong>de</strong> vistas históricos, levando-o a<br />

reconstruir, por adução, o percurso da narrativa histórica. (SCHMIDT E CAINELLI,<br />

2009, p. 34)<br />

A aula <strong>de</strong> história primará pela construção <strong>de</strong> significados e sentidos pelos interlocutores. São<br />

as fontes reinventadas, como aponta Ailton Morila (2012, p. 37), para justificar essas<br />

transformações, <strong>de</strong>monstrando que é possível ensinar e estudar história com instrumentos<br />

passíveis <strong>de</strong> leitura diversas, formas e ângulos particulares. Deste modo, para o professor <strong>de</strong><br />

história, o documento escrito tomou proporções que vão além daqueles consi<strong>de</strong>rados oficiais.<br />

A aula <strong>de</strong> história como texto, construindo a “trilha sonora”<br />

Pensar este texto fez necessário abordar acerca das fontes, a música em especial, como importante<br />

recurso didático na constituição do saber no ensino <strong>de</strong> história. As transformações ocorridas no<br />

mundo aliadas às frequentes mudanças nas legislações que orientam e direcionam o fazer<br />

docente, o eficiente controle burocrático e a resistência dos alunos em aceitar o universo<br />

escolar como algo interessante e significativo, <strong>de</strong>sperta no professor o entendimento da<br />

importância <strong>de</strong> diálogo e mudança.<br />

A discussão acerca dos conceitos <strong>de</strong> escrita e <strong>de</strong> texto histórico se relaciona num contexto<br />

evi<strong>de</strong>nciado nas origens <strong>de</strong> novas sensibilida<strong>de</strong>s, surgidas no período da <strong>de</strong>scolonização e dos<br />

movimentos sociais dos anos <strong>de</strong> 1960, proporcionando a emergência <strong>de</strong> novas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s<br />

sociais nas esferas políticas e culturais. Essa alteração social po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>nominada como diz<br />

ROCHA (2009) <strong>de</strong> “virada subjetiva”.<br />

A apropriação do conceito <strong>de</strong> escrita e <strong>de</strong> texto histórico evi<strong>de</strong>ncia o fato <strong>de</strong> que a prática<br />

docente relaciona-se tanto ao uso e a produção <strong>de</strong> diálogos escritos quanto à elaboração <strong>de</strong>


24<br />

Doutora em Educação pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Fluminense, professora adjunta do Departamento <strong>de</strong><br />

Ciências Humanas da Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Assessora da Coor<strong>de</strong>nação dos Tutores à<br />

Distância da licenciatura em <strong>História</strong> PUC - Rio/UERJ, Modalida<strong>de</strong> Educação à Distância.<br />

159<br />

discursos orais. Segundo Rocha ao contrário do texto escrito e dado a ler, é possível<br />

reconhecer que a aula é efêmera, visto que seu “suporte” principal é o discurso oralizado,<br />

mesmo quando o professor mobiliza mecanismos <strong>de</strong> outra or<strong>de</strong>m ao ensinar (textos, imagens,<br />

música, etc.) e os alunos usem recursos escritos no processo <strong>de</strong> apropriação ou (re) elaboração<br />

da aula, ao fazer anotações.<br />

Apesar disso, autora diz que, é importante perceber que a efemerida<strong>de</strong> da aula não se processa<br />

simplesmente <strong>de</strong> seu traço oral, mas do fato que toda aula é gerenciada pelo tempo, que exige<br />

limites ao fazer docente. Assim mesmo, a aula po<strong>de</strong> ser planejada como um texto, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />

seja entendido não apenas como algo que incorpora o escrito, mas que mobiliza mecanismos<br />

<strong>de</strong> diversas estruturas que permita “contar uma história”.<br />

E que vá além, um texto que, subordinado ao controle do tempo, use o tempo para<br />

compreen<strong>de</strong>r e explicar, pon<strong>de</strong>rando a fronteira da incerteza do conhecimento histórico e a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste, para constituir significados e elaborar sentidos.<br />

Para Helenice Rocha 24 (2009), a compreensão da aula como texto proporciona a articulação<br />

<strong>de</strong> duas dimensões que são focalizadas com frequencia como extremamente diferentes e, às<br />

vezes contraditórias: a historiografia e a história ensinada. Divergência necessária e evi<strong>de</strong>nte,<br />

mas que nutre a aparência <strong>de</strong> categoria entre o saber acadêmico e o saber escolar, suscitando<br />

um <strong>de</strong>slocamento que não contribui para o <strong>de</strong>senvolvimento da reflexão acerca <strong>de</strong> cada um,<br />

fomentando o afastamento entre a universida<strong>de</strong> e escola.<br />

Ailton Morila, em “Diálogos do Ensino <strong>de</strong> <strong>História</strong>”, 2012, observa que o ensino <strong>de</strong> história<br />

vem ressignificando sua prática, visto que, graças a influencia da historiografia e a pedagogia,<br />

os mais variados documentos po<strong>de</strong>m ser aplicados como possibilida<strong>de</strong>s didáticas:<br />

iconográficos, sonoros, cinematográficos, literatura, etc.<br />

O autor diz que (2012 p.18)<br />

O professor do ensino básico se vê diante <strong>de</strong> fontes tão distintas que <strong>de</strong>safiam seu<br />

conhecimento. Cada uma <strong>de</strong>stas fontes requer uma metodologia diferenciada,<br />

trabalhada exaustivamente por pesquisadores. Pouco a pouco, porém, o professor<br />

tem trabalhado estas fontes em sala <strong>de</strong> aula, auxiliado por suas próprias leituras e<br />

por cursos <strong>de</strong> formação continuada.<br />

Por outro lado, segundo o próprio, há uma problemática a ser pensada: o que <strong>de</strong>ve se ensinar<br />

na aula <strong>de</strong> história diante <strong>de</strong> tantas facetas e pluralida<strong>de</strong> na tão diversa produção


160<br />

historiográfica? Tematizar, seguindo a proposta dos Parâmetros Curriculares, permite inserir<br />

numerosas visões historiográficas. No entanto, a dificulda<strong>de</strong> talvez seja, conforme sua visão,<br />

abordar na integra as visões historiográficas, uma vez que, toda escolha obriga recortes e<br />

omissões.<br />

Morila (2012) diz que analisar precisamente o passado é uma aventura inacessível, e é<br />

possível apenas percebê-lo através da intuição. Algumas ferramentas po<strong>de</strong>m ser úteis; os<br />

testemunhos orais ou escritos <strong>de</strong> quem os vivenciou ou documentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada época.<br />

Refletir acerca do passado através das possibilida<strong>de</strong>s que se apresentam atualmente é uma<br />

prática que muito se ampliou ao logo do tempo.<br />

A “reinvenção das fontes”, expressão usada pelo autor para apontar a transformação <strong>de</strong>sse<br />

recurso como possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong> diversas formas e ângulos, pela Escola dos Annales,<br />

nos chama atenção <strong>de</strong> como o documento escrito tomou proporções que vão além daqueles<br />

consi<strong>de</strong>rados oficiais. Agregam-se a esta categoria, as cartas, livros, jornais, biografias, obras<br />

<strong>de</strong> arte, pinturas, edificações, fotos, canções, discursos, e uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> outros caminhos.<br />

Assim, como ensina o autor, todos esses objetos configuram-se sinais ou vestígios, que<br />

instrumentalizados, auxiliam na construção do conhecimento histórico.<br />

Mais do que isso, ele po<strong>de</strong> reinventar a produção dos alunos. Apesar da aca<strong>de</strong>mia<br />

primar pelo texto escrito como forma <strong>de</strong> conhecimento, esta não e <strong>de</strong> maneira<br />

alguma a única forma <strong>de</strong> conhecimento. Lembrando um conceito <strong>de</strong> Ferro (1992, p.<br />

19) que nos alerta sobre a “leitura cinematográfica da história” no qual “o<br />

historiador po<strong>de</strong> <strong>de</strong>volver à socieda<strong>de</strong> uma história da ]qual a instituição a tinha<br />

<strong>de</strong>spossuído”, o professor ao incentivar produções outras que não o texto escrito<br />

po<strong>de</strong> <strong>de</strong>volver a socieda<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> sua memória. (MORILA, 2012, p. 37)<br />

Neste sentido, é preciso ampliar a indagação sobre este fazer, e refletir sobre semelhanças e<br />

diferenças entre escrever e ensinar história. Evi<strong>de</strong>ntemente, ensinar requer utilizar maneiras<br />

visíveis <strong>de</strong> construção do conhecimento construídas pelo processo ensino aprendizagem.<br />

Em virtu<strong>de</strong> da efemerida<strong>de</strong> da aula, espaço especial on<strong>de</strong> essa operação ocorre, tal<br />

visibilida<strong>de</strong> encontra obstáculos. O tempo, questões estruturais do espaço escolar, e<br />

especialmente o comportamento dos jovens, diante da “cultura <strong>de</strong> massa e consumo cultural”,<br />

como aponta Napolitano (2010, p. 83).<br />

Marcos Napolitano diz que as relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r entre escola, a mídia e indústria cultural são<br />

<strong>de</strong>siguais, e a escola neste embate é vencida. Para o autor, acreditar que a escola po<strong>de</strong><br />

contrapor a esta realida<strong>de</strong>, é uma das maiores ingenuida<strong>de</strong>s dos professores. Porém, a cultura<br />

escolar po<strong>de</strong> gerenciar práticas <strong>de</strong> diálogos neste tema, propondo ativida<strong>de</strong>s que permitam o<br />

pensamento critico acerca das influencias que a mídia e a massificação cultural causam na


25<br />

Citação retirada do material da disciplina <strong>de</strong> Laboratório <strong>de</strong> Ensino Aprendizagem <strong>de</strong> Historia, <strong>de</strong> autoria da<br />

professora Helenice B Rocha Doutora em Educação pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral Fluminense, professora adjunta<br />

do Departamento <strong>de</strong> Ciências Humanas da Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Assessora da Coor<strong>de</strong>nação<br />

dos Tutores à Distância da licenciatura em <strong>História</strong> PUC - Rio/UERJ, Modalida<strong>de</strong> Educação à Distância.<br />

161<br />

socieda<strong>de</strong>. Conforme o autor, ainda que “a relação entre a consciência e o ser social seja<br />

marcada pela presença forte da mídia massificada, outras experiências culturais e<br />

sociabilida<strong>de</strong>s ainda são atuantes. (NAPOLITANO, In PINSKY.org, 2010, p, 83)”.<br />

A escola po<strong>de</strong> representar um dos espaços <strong>de</strong> encontro <strong>de</strong>ssa diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> experiências<br />

divergentes. É importante que se pense nos instrumentos condutores capazes <strong>de</strong> travar tais<br />

diálogos, ou seja, as fontes, importantes e necessários nos saberes da área das humanida<strong>de</strong>s, e<br />

como manuseá-los para este fim.<br />

Segundo Morila o passado vivido nos <strong>de</strong>ixou a marca <strong>de</strong> importantes experiências, ou seja, as<br />

fontes, heranças que nos permitem enxergar um feixe <strong>de</strong> significados. “Vivência que nos<br />

legou imagens, sons, palavras, poemas, tristezas, alegrias, angustias, lutas (MORILA, 2012<br />

p.38).”<br />

As canções como veículos <strong>de</strong> comunicação e <strong>de</strong> relacionamento, são bom exemplo para este<br />

fim, temas referentes ou importantes para o cotidiano do jovem: gêneros, preconceitos e<br />

resistências, sentimentos, política, cidadania, entre outros, po<strong>de</strong>m “mostrar a riqueza e as<br />

possibilida<strong>de</strong>s da canção popular” como disse o autor.<br />

“Fazer história é contar uma história”. 25 (Furet apud Mattos, 2006). Pensar a aula como texto,<br />

po<strong>de</strong> representar uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar o conhecimento elaborado na aula <strong>de</strong> história.<br />

O conceito <strong>de</strong> texto permite a certificação <strong>de</strong> materialida<strong>de</strong> a um objeto que é i<strong>de</strong>ntificado<br />

como efêmero e perceptível através <strong>de</strong> instrumentos orais.<br />

Quando Rocha propõe a aula como texto, remete-me a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensar acerca <strong>de</strong><br />

como usar a oralida<strong>de</strong> apresentada através das canções para enriquecimento no ensino <strong>de</strong><br />

história. “Dentro da oralida<strong>de</strong>, a música representa um papel especial, transmitindo valores,<br />

conselhos, visões <strong>de</strong> mundo, <strong>de</strong> geração a geração (MORILA, 2012, p. 40)”.<br />

O Festival Anual da Canção Estudantil da Bahia como experiência <strong>de</strong> encontro <strong>de</strong><br />

saberes


162<br />

A implementação do Festival Anual da Canção Estudantil na Bahia foi estimulada pela Lei<br />

11.769/08, com intuito <strong>de</strong> promover o <strong>de</strong>senvolvimento do ensino da música nos contextos<br />

escolares da re<strong>de</strong> estadual da educação da Bahia (Bahia 2008).<br />

Maheirie (2012), diz que na ótica sócio-histórica <strong>de</strong> Vygotsky, a arte trata-se <strong>de</strong> um fenômeno<br />

do homem, resultado da relação humana com sua conjuntura física, social, política e cultural,<br />

permitindo compreen<strong>de</strong>r sua vida em uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> esferas. Neste olhar, a música como<br />

manifestação artística, po<strong>de</strong> ser concebida como uma operação humana, inserida em<br />

<strong>de</strong>terminado contexto, passível <strong>de</strong> se compreen<strong>de</strong>r sentimentos, pensares, emoções em uma<br />

infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> linguagens.<br />

Portanto, o interesse no Festival Anual da Canção Estudantil nas escolas estaduais <strong>de</strong><br />

Itamaraju é movido pela percepção da importância da música para a cultura escolar, atenta<br />

também ao imaginário social <strong>de</strong>stes jovens que participam do evento. Observando-o<br />

inclusive num sentido <strong>de</strong> educação informal, por compreendê-lo como uma experiência<br />

ricamente pedagógica por si mesma, consi<strong>de</strong>rando que seus <strong>de</strong>sdobramentos ocorrem na<br />

maioria das vezes, alheios às salas <strong>de</strong> aula e conteúdos curriculares.<br />

“O que é mais próprio das práticas <strong>de</strong> educação não formal é seu caráter difuso. Ela é feita por<br />

todos os que convivem e interagem e não apenas por professores, e ocorre em todos os<br />

contextos e as situações sociais e não apenas na sala <strong>de</strong> aula (COX 2004, p. 138)”. O dialogo<br />

com muitos docentes da re<strong>de</strong> estadual <strong>de</strong> ensino do município <strong>de</strong> Itamaraju e a experiência<br />

própria, permitem testemunhar que esta experiência cultural passa <strong>de</strong>spercebida no calendário<br />

letivo para muitos professores e alunos, que só o percebem <strong>de</strong> fato na fase <strong>de</strong> sua culminância.<br />

Nas etapas <strong>de</strong> apresentação do evento, observam-se quase os mesmos “alunos artistas”, muito<br />

provavelmente estimulados por sua própria habilida<strong>de</strong> artístico-musical. A dinâmica do<br />

Festival, como penso que ocorre nas escolas itamarajuenses, apesar <strong>de</strong> pouca interferência do<br />

ensino formal, acontece num amplo processo <strong>de</strong> socialização, permitindo comprovar que os<br />

conhecimentos externos a escola, também favorecem a apreensão e a expressão <strong>de</strong> uma<br />

infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abordagens nas canções apresentadas.<br />

Questões como “Qual a importância da música na escola? Quais as funções da música na<br />

escola? Quais as temáticas apresentadas nas canções escolares?”, (MORILA, 2006) nos<br />

forçam a repensar sobre o uso <strong>de</strong>sta música produzida nos espaços escolares e suas possíveis<br />

funções no cotidiano da escola. O que esses jovens querem dizer, principalmente as vozes que<br />

não foram ouvidas, ou melhor, aqueles que não foram classificados para as fases regional ou<br />

estadual.<br />

Neste sentido, a reflexão parte das circunstâncias elencadas, analisar o Festival, como um<br />

possível facilitador <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> conhecimentos, troca <strong>de</strong> experiências e confluência <strong>de</strong>


163<br />

saberes. Como alerta Oliveira, da mesma forma com os grupos e a música, os jovens<br />

socializam trocas, “experimentam, se divertem, produzem, sonham, constroem a si mesmos,<br />

suas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s e, ainda os diferentes modos <strong>de</strong> ser jovem (OLIVEIRA, 2012, p. 7)”.<br />

É inegável que este efeito nos hábitos das pessoas seja particular, cada um tem seu estilo<br />

musical, possui a sua “trilha sonora”. Professor e aluno, ainda que apresentem gostos<br />

musicais particulares, nas interações do cotidiano escolar, po<strong>de</strong>m construir um saber, formal<br />

ou não formal, repleto <strong>de</strong> significados. “Construída a trilha sonora, a crítica torna-se possível.<br />

Crítica que se expan<strong>de</strong> a nossa própria trilha sonora, alcançando os meios <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong><br />

massa e a atualida<strong>de</strong> (MORILA 2012, p.44).”<br />

Consi<strong>de</strong>rações<br />

Arrisco dizer que a música é atemporal, e po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado um dos mecanismos com<br />

maior capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> unir pessoas, tornando-as iguais em inúmeras circunstâncias. Se por um<br />

lado, percebo que o “espetáculo” precisa acontecer, pois culmina em um evento que evi<strong>de</strong>ncia<br />

riquíssimas experiências e sociabilida<strong>de</strong>s, por outro, acredito na educação capaz <strong>de</strong> nos tornar<br />

humanos e sociáveis, presente na interação entre os meios formais e não formais. Neste<br />

sentido, que se pese também a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enriquecimento da aula nas áreas das<br />

humanida<strong>de</strong>s, através <strong>de</strong>sta experiência. Nos pátios ou na sala <strong>de</strong> aula, no espaço escolar ou<br />

fora <strong>de</strong>le.<br />

Seguindo essa trilha, quiçá pensar neste terreno fértil <strong>de</strong> vivências que é o Festival Anual da<br />

Canção Estudantil da Bahia, como um instrumento capaz <strong>de</strong> inspirar um ensino com um olhar<br />

mais amplo da realida<strong>de</strong> e das sensibilida<strong>de</strong>s. Ouvir, sentir, contextualizar e produzir, todas<br />

essas ações possíveis por meio do contato com música, que po<strong>de</strong>m se traduzir em uma<br />

assimilação <strong>de</strong> novos sentidos e abrir <strong>de</strong> portas para um processo <strong>de</strong> ensino-aprendizagem<br />

fascinante e significativo.<br />

BIBLIOGRAFIA<br />

BAHIA. Festival Anual da Canção Estudantil (FACE), Superintendência <strong>de</strong><br />

Desenvolvimento da Educação Básica – SUDEB, 2008.<br />

BURKE, P. A Escola dos Annales (1929-1989): A Revolução Francesa da Historiografia. 2ª<br />

Ed: São Paulo: UNESP, 1997<br />

____________ O que é <strong>História</strong> Cultural? Trad. Sergio Goes <strong>de</strong> Paula 2ª ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Jorge Zahar Editora. 2008.


COX Maria Inês P. Pedagogias Da Língua: Muito Siso E Pouco Riso. Ce<strong>de</strong>s, Campinas, vol.<br />

24, n. 63, p. 135-148, maio/ago. 2004<br />

FREIRE, Paulo. A importância do ato <strong>de</strong> ler em três artigos que se completam. 23ª Ed.<br />

São Paulo: Cortez, 1989.<br />

GONTIJO, Rebeca; MAGALHÃES, Marcelo <strong>de</strong> S, e ROCHA, Helenice B. A aula como<br />

texto: historiografia e ensino <strong>de</strong> história, In _____________(org) A escrita da história<br />

escolar: memória e historiografia. Rio <strong>de</strong> Janeiro: FGV, 2009.<br />

MAHEIRIE, Kátia. Processo <strong>de</strong> criação no fazer musical: uma objetivação da subjetivida<strong>de</strong>,<br />

a partir dos trabalhos <strong>de</strong> Sartre e Vygotsky. Psicologia em Estudo. Maringá, 2003, 8(2), p.<br />

147-153. Disponível em:


26<br />

Graduanda na Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia – UNEB – Campus X, curso <strong>de</strong> <strong>História</strong>. Docente orientadora.<br />

Liliane Mª Fernan<strong>de</strong>s C. Gomes. Profª Assistente do Colegiado <strong>de</strong> <strong>História</strong>/UNEB - CAMPUS X Mestra em<br />

<strong>História</strong> Regional e Local - UNEB - Campus V.<br />

ESPAÇOS NOTURNOS DE SOCIABILIDADE NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO<br />

(1900-1930)<br />

RESUMO<br />

165<br />

Patrícia Alves Silva 26<br />

patricia_linf@hotmail.com<br />

O artigo tem como objetivo i<strong>de</strong>ntificar espaços noturnos <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> na cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro (1900-1930), percebendo como o surgimento <strong>de</strong>stes locais também está relacionado<br />

ao processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização do espaço citadino, e as condições sociais da população carioca,<br />

esses meios <strong>de</strong> entretenimentos vão surgindo, alguns <strong>de</strong>saparecendo e outros se<br />

<strong>de</strong>senvolvendo até alcançar o auge e promover novas funções on<strong>de</strong> os “<strong>de</strong>socupados”<br />

começam a atuar. Juntamente com esses lugares a música e seus diversos estilos vão dando<br />

cores e performances, contribuindo para essas mudanças. Essas percepções foram possíveis<br />

através das leituras realizadas nos autores: Sidney Chalhoub (2001) com o seu trabalho sobre<br />

Botequim em que ponta o ambiente social popular, Luiz Noronha (2003) que apresenta com<br />

proprieda<strong>de</strong> o <strong>de</strong>senrolar cultural <strong>de</strong> diversos espaços noturnos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a fama ao <strong>de</strong>clínio.<br />

Palavras-chave: Sociabilida<strong>de</strong>, Mo<strong>de</strong>rnização, Músicas.<br />

Introdução<br />

Os espaços noturnos <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> da cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro se constituíram<br />

reflexos da situação vigente do período <strong>de</strong> transição do século XIX para o XX, em que as<br />

inspirações europeias a<strong>de</strong>ntravam no Brasil gerando ações como o processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização<br />

da cida<strong>de</strong>, mudanças nas estruturas físicas, mas também das relações dos indivíduos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os<br />

ambientes construídos pelos negros aos cuidados das tias e os cabarés. O Rio 1900-1930, vai<br />

se mostrando um lugar heterogêneo e <strong>de</strong> complexa habitação, pois ao <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da sua<br />

condição social as pessoas eram simplesmente <strong>de</strong>spejadas <strong>de</strong> suas casas e obrigadas a<br />

procurar outro lugar, o que não era diferente no que se dizia respeito a sua condição <strong>de</strong><br />

trabalho, em que por vezes eram sujeitos a situações precárias, pouco ganhavam, mal<br />

conseguiam sustento. Uma vez i<strong>de</strong>ntificado estes espaços o artigo procurou analisar a relação<br />

<strong>de</strong>sses com o contexto do lugar, através das leituras realizadas a partir <strong>de</strong> autores como<br />

Sidney Chalhoub em seu livro Trabalho, Lar e Botequim que vem mostrando minuciosamente<br />

a relação do botequim com os trabalhadores que ali frequentavam e como tanto o ambiente,<br />

quanto o sujeito era visto pelas pessoas <strong>de</strong> alta renda. O autor Luiz Noronha em Malandros:<br />

Noticias <strong>de</strong> um submundo distante, trás <strong>de</strong>talhadamente os inúmeros ambientes <strong>de</strong><br />

socialização.


166<br />

O <strong>de</strong>spertar para a pesquisa neste tema perpassa pela compreensão <strong>de</strong> quanto estes<br />

ambientes são ricos em <strong>de</strong>talhes para a compreensão tanto das ações, como das condições <strong>de</strong><br />

vida dos sujeitos históricos.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro no final do séc. XIX ao século XX<br />

Na efervescência das transformações ocorridas no Brasil no <strong>de</strong>correr do final do séc.<br />

XIX e no início do séc. XX temos a capital do Rio <strong>de</strong> Janeiro como um espaço privilegiado<br />

para as mudanças com inspiração nos mol<strong>de</strong>s europeus. Segundo Noronha (2003) “Na virada<br />

daquele século, o Rio era o mais importante centro financeiro, industrial e comercial do país,<br />

maior pólo cultural e símbolo da transição pela qual o Brasil estava passando” (p. 35). Os<br />

impactos políticos, econômicos e sociais que essa cida<strong>de</strong> sofreu refletiram em espaços que<br />

tem sido <strong>de</strong>svelado por pesquisas recentes, como os <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong>s, estes vão surgindo,<br />

alguns <strong>de</strong>saparecendo e outros se <strong>de</strong>senvolvendo, muitas vezes perseguidos, ou privilegiados.<br />

Esses locais são reflexos da situação vigente, ou seja, estamos falando <strong>de</strong> um período on<strong>de</strong> a<br />

cida<strong>de</strong> ganha um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento urbano, imigrantes, migrantes (pessoas que se<br />

<strong>de</strong>slocaram para a capital em busca <strong>de</strong> emprego), negros libertos. Para este contexto Noronha<br />

diz que:<br />

[...] Estes eram filhos da transição da economia escravista para o capitalismo, <strong>de</strong><br />

operários a trabalhadores menos qualificados, <strong>de</strong> ambulantes a empregados<br />

domésticos, <strong>de</strong> artistas populares a uma massa crescente <strong>de</strong> <strong>de</strong>socupados, gente que<br />

simplesmente sobrava no processo. (NORONHA, 2003, p. 33).<br />

No que diz respeito a economia, a capital sofria o <strong>de</strong>senvolvimento capitalista que<br />

ainda era incipiente, através também do surgimento lento <strong>de</strong> algumas industrias. Até a<br />

estrutura da cida<strong>de</strong> causou incômodos ao governo <strong>de</strong> Rodrigues Alves 27 que com o apoio do<br />

médico Oswaldo Cruz e o prefeito Pereira Passos 28 <strong>de</strong>ram início as obras <strong>de</strong> saneamento e<br />

reforma urbana na cida<strong>de</strong>, com o objetivo <strong>de</strong> tornar as ruas mais largas, construção <strong>de</strong> prédios<br />

e a higienização da mesma, milhares <strong>de</strong> pessoas sem condições financeiras foram expulsas <strong>de</strong><br />

suas localida<strong>de</strong>s (muitos <strong>de</strong>sses lugares eram os cortiços e acabaram <strong>de</strong>struídos) para dar<br />

margem ao “progresso”. O controle entrou nos espaços <strong>de</strong> lazer, os quiosques, por exemplo,<br />

eram consi<strong>de</strong>rados ambientes que proliferavam sujeiras e por isso eram perseguidos, as<br />

divisões sociais são também visíveis, era o botequim como o <strong>de</strong>scanso dos trabalhadores,<br />

alguns cabarés e cafés para os ricos. Trata-se <strong>de</strong> um período <strong>de</strong> aceleração urbana e<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do espaço noturno, a noção <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> atrelada a ações humanas, é ai<br />

que surge a figura do malandro, como o oposto que a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejava que era o<br />

27<br />

Rodrigues Alves foi Governador do Rio <strong>de</strong> Janeiro entre os anos <strong>de</strong> 1902 a 1906.<br />

28<br />

O Engenheiro Pereira Passos foi nomeado prefeito da capital do Rio <strong>de</strong> Janeiro pelo Governador Rodrigues<br />

Alves, entre os anos <strong>de</strong> 1902 a 1906.


167<br />

trabalhador, porém muitas vezes esse termo “malandro” era mais uma forma estereotipada da<br />

elite tratar a população mais humil<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>rados muitas vezes como vadios. Segundo<br />

Chalhoub (2001) os vadios que fossem pegos nos botequins e não provassem sua condição <strong>de</strong><br />

trabalhadores eram presos, o governo queria pessoas que muitas vezes se sujeitassem a viver<br />

indignamente 29 em uma socieda<strong>de</strong> que visava o “progresso”, mas progresso para quem?<br />

Como características principais <strong>de</strong>ste malandro Noronha aponta que:<br />

[...] Marginal assumido, dando as costas a toda possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> integração para<br />

abraçar um estilo <strong>de</strong> vida regrado por normas próprias, se a rua é o palco da<br />

mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> ele é o protótipo do entertainer, o personagem-espetáculo, o artista do<br />

cotidiano, fazendo do jogo da viração uma autêntica forma <strong>de</strong> arte.<br />

Este indivíduo se opunha as normas da socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna ganhou espaços nos jornais<br />

e na literatura, <strong>de</strong>ntre alguns literários po<strong>de</strong>mos citar Lima Barreto em Clara dos Anjos que<br />

mostra como este sujeito era visto pela elite carioca, criando personagens que traziam<br />

características <strong>de</strong> preguiçosos, tranbiqueiros e ladrões. Mas o malandro <strong>de</strong>sempenha<br />

ativida<strong>de</strong>s importantes nos espaços <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>stacar, por exemplo, o fato <strong>de</strong><br />

que eles protegiam as prostitutas, livrando-as <strong>de</strong> clientes agressivos, mas em troca queriam<br />

regalias. Muitos <strong>de</strong>stes ganharam espaço no <strong>de</strong>senvolvimento da indústria do entretenimento<br />

quando através das músicas como o samba, se tornaram compositores, cantores, dançarinos,<br />

<strong>de</strong>ntre outras funções.<br />

Nos embalos da branquinha, o <strong>de</strong>scanso e lazer: botequim e quiosque, espaços populares<br />

Botequim e quiosque eram lugares <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso dos trabalhadores, ali paravam ou<br />

simplesmente passavam para tomar sua branquinha 30 , tachado como ambiente <strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>iros<br />

e vagabundos, na verda<strong>de</strong> eram nesses lugares que os trabalhadores se distraiam <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

horas <strong>de</strong> trabalho.<br />

Os quiosques por serem menos <strong>de</strong>senvolvidos principalmente em estrutura física, só<br />

abarcava o dono e poucos consumidores, fazendo com que os <strong>de</strong>mais consumissem e<br />

bebessem pelo lado externo do ambiente. Foram constantemente perseguidos durante a<br />

administração do prefeito Pereira Passos, muitos acabaram sendo queimados, um dos motivos<br />

para essa ação era que além <strong>de</strong> promoverem a sujeira nas ruas <strong>de</strong>vido ao consumo externo,<br />

essa situação também estava relacionada à jornada <strong>de</strong> trabalho, já que alguns trabalhadores<br />

paravam nesses lugares para beberem e distraírem ainda durante o expediente <strong>de</strong> trabalho.<br />

29<br />

As condições <strong>de</strong> vida dos trabalhadores eram precárias, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as moradias que muitas vezes se resumiam<br />

em ambientes impróprios a se viver com pouca higiene ou tendo que dividir com várias outras pessoas, como<br />

as pousadas e cortiços, mas eram os únicos lugares que “cabiam no bolso”. As próprias situações <strong>de</strong> trabalho,<br />

ganhavam pouco e eram carentes <strong>de</strong> direitos. Po<strong>de</strong>mos apontar aqui a situação dos imigrantes que <strong>de</strong> tão<br />

menosprezados muitos fugiam para países próximos, ou seus países <strong>de</strong> origem tinha que intervir e impedir a<br />

chegada <strong>de</strong> novos imigrantes para o Brasil.<br />

30<br />

Cachaça.


168<br />

O Botequim apesar das críticas que recebia possuía privilégios, pois eram maiores e<br />

po<strong>de</strong>riam ven<strong>de</strong>r além <strong>de</strong> bebidas e alimentos prontos produtos para alimentação, era uma<br />

espécie <strong>de</strong> “mercadinho”. Além disso, seu dono era um pequeno proprietário por isso passava<br />

a ser o primeiro a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a or<strong>de</strong>m do local, evitando qualquer conflito que prejudicasse seu<br />

ambiente, para isso utilizava muitas vezes das ações dos meganhas (policiais) para controlar<br />

qualquer situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sentendimento. Chalhoub (2001) mostra com proprieda<strong>de</strong> essa relação<br />

através <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> processos criminais.<br />

A relação entre o proprietário do botequim e seus fregueses está longe <strong>de</strong> se<br />

caracterizar sempre pela animosida<strong>de</strong>. A posição do proprietário do botequim é um<br />

tanto ambígua: por um lado, sua condição <strong>de</strong> proprietário fundamenta um<br />

antagonismo básico entre eles e seus fregueses, mas, por outro lado, ele fazia parte<br />

do mundo dos populares, compartilhando sua visão das coisas e assimilando seu<br />

código <strong>de</strong> conduta (CHALHOUB, 2001, p. 265).<br />

Se em alguns momentos os donos dos botequins vão expulsar seus fregueses para que<br />

continuem seus conflitos na rua mantendo assim a or<strong>de</strong>m, em outros estes mesmos vão<br />

abrigar sujeitos em ocasião <strong>de</strong> perigo, principalmente contra os meganhas ou outros<br />

agressores, pois é válido ressaltar que nem sempre para a população pobre confiava na<br />

polícia, já que esta em diversos momentos forjava situações para incriminá-los. O botequim<br />

servia também como refúgio para pessoas que se sentiam em perigo, o autor mostra que<br />

[...] Receoso <strong>de</strong> ser assaltado, disparou tiros contra o grupo e se refugiou num<br />

botequim das redon<strong>de</strong>zas. E mesmo Maria, perseguida implacavelmente por um examásio<br />

muito ciumento, correu para um botequim e se colocou sob a proteção dos<br />

homens que lá estavam (CHALHOUB, 2001, p. 265).<br />

É neste cenário <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>senrola situações <strong>de</strong> proteções como as que<br />

já foram citadas, mas também <strong>de</strong> conflitos entre “raças e nacionalida<strong>de</strong>”, conflitos com<br />

meganhas como forma <strong>de</strong> resistência, pois eram eles que levavam para as ca<strong>de</strong>ias os “vadios”<br />

“<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>iros”, em muitos momentos como, um argumento <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa do sujeito aprisionado<br />

era <strong>de</strong> que se tratava <strong>de</strong> um trabalhador. Sobre o meganha Chalhoub explica que para a<br />

população este “[...] meganha, estava nas ruas e nos botequins da cida<strong>de</strong> para reprimir os<br />

homens pobres, e não para arbitrar seus conflitos” (2001, p. 282).<br />

Percebemos então que a população humil<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguma forma é militante e não passiva<br />

sobre o lugar e condições que estava sendo colocada nessa metrópole. Frequentavam os<br />

botequins, se divertiam, discutiam, brigavam, muitas vezes mostravam que não confiava na<br />

polícia e que, por isso, muitas vezes a enfrentavam.<br />

Desenvolvimento dos espaços noturnos: cabarés, cafés-concerto<br />

A reforma do prefeito Pereira Passos trouxe para o Rio <strong>de</strong> Janeiro a energia elétrica,<br />

esta contribuiu para inúmeros elementos, entre eles o aumento das casas noturnas, o lazer<br />

através do rádio, consequentemente a difusão musical nesses lugares que acolhiam diversos


169<br />

cantores <strong>de</strong> diferentes localida<strong>de</strong>s, até mesmo estrangeiros que vinham apresentar suas<br />

canções, o que contribuiu para o crescimento artístico <strong>de</strong> muitas pessoas. A Lapa era um<br />

bairro que refletia essas transformações, tendo em seu espaço vários cabarés, cafés, boates e<br />

prostíbulos. Noronha afirma que:<br />

Espalhados às <strong>de</strong>zenas, os cafés-cantantes, ou cafés-concerto, do Rio eram assim:<br />

um salão para as mesas, um balcão <strong>de</strong> mármore, um senhor no caixa; um piano<br />

velho num canto; e um palco tosco, sem bastidores, no qual po<strong>de</strong>riam se apresentar<br />

uma gorda tocadora <strong>de</strong> castanholas, uma mulata dançarina <strong>de</strong> maxixe ou a<br />

cançonetista, sempre acompanhadas pelo mesmo piano surrado. Neles, nunca se<br />

viam famílias. Em seu salão, bebia-se, conversava-se em alto e bom som, fumava-se<br />

muito, circulava-se bastante. Em alguns era comum a presença consentida <strong>de</strong><br />

prostitutas, para atrair a clientela masculina e estimular o consumo. Bebiam-se<br />

principalmente cerveja e vinho, alguns arriscavam champanhe ou licores, raros eram<br />

os que pediam uísque. No mais sofisticados se apresentavam também, em números<br />

<strong>de</strong> canto e dança, estrelas internacionais como Jeanne Cayot (que vez por outra<br />

arriscava um strip-tease), Jenny Cook, a espanhola Guerreirito, Diana <strong>de</strong> Liz, Cecile<br />

Dubois e brasileiras como Maria Lino e Aurora Rozane (NORONHA, 2003, p. 72).<br />

Estes cafés a partir <strong>de</strong> 1900 se espalharam tomando conta das ruas da capital. Com o<br />

passar dos anos foram per<strong>de</strong>ndo prestígios e outros lugares <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong>s como o cabaré<br />

foram a<strong>de</strong>ntrando e conquistando o público. Os estilos musicais acompanham o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento dos espaços. Um exemplo a ser dado foi a transição da cançoneta para a<br />

modinha, isso ocorreu junto com o surgimento das casas <strong>de</strong> chope, concorrentes dos cafés. As<br />

casas <strong>de</strong> chope <strong>de</strong>vido aos barulhos que faziam com suas modinhas ficaram taxadas <strong>de</strong><br />

chopes-berrantes, era um lugar mais simples e seus frequentadores também. Já alguns cafésconcerto<br />

criaram um espaço mais europeu, trazendo artistas internacionais, mantendo o som<br />

das cançonetas e um público <strong>de</strong> renda melhor. Porém, a partir dos anos 20 tanto os cafés,<br />

quanto as casas <strong>de</strong> chope vão per<strong>de</strong>ndo público para os cabarés, neste local predominava<br />

pessoas <strong>de</strong> diversas funções sociais.<br />

Dentre inúmeras pessoas que faziam parte <strong>de</strong>sse ambiente efervescente que era o Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro, Noronha aponta que os negros ali já estavam e outros negros que vieram em busca<br />

<strong>de</strong> emprego, construíam suas localida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> diversão eram as casas das tias com seus quintais<br />

promovendo festas, <strong>de</strong>ntre elas festas ligadas as suas <strong>de</strong>voções religiosas, acompanhadas e<br />

embaladas por sons como o choro, a polca e o maxixe. Essas casas estavam localizadas na<br />

Cida<strong>de</strong> Nova, on<strong>de</strong> se reuniam os malandros, pequenos comerciantes, negros. É nesta cida<strong>de</strong><br />

que também surgiram as gafieiras, chamadas assim pelos ricos, que achavam que naquele<br />

ambiente se cometia ações que não se enquadravam no padrão moral e tradicional, elas eram<br />

embaladas pelo maxixe, que incomodava, pois, este carregava quando este carregava um peso<br />

sensual em sua performance, taxado como o autor aponta <strong>de</strong> “dança dos habitantes do<br />

submundo noturno” (Noronha, 2003, p. 75).<br />

O samba: do “submundo” ao mundo industrializado


31<br />

O Teatro <strong>de</strong> Revista era uma forma <strong>de</strong> contar história com ritmos <strong>de</strong>ntre eles o maxixe, sua forma era<br />

satírica e cômica, baseada em fatos política e da cultura. Chiquinha Gonzaga escreveu inúmeros maxixes,<br />

<strong>de</strong>ntre eles o os mais famosos foi o “Forrobodó”, “O Corta Jaca” e “Maxixe da Zeferina”.<br />

170<br />

Na mistura <strong>de</strong> ritmos nas gafieiras surge o samba amaxixado, neste período a indústria<br />

do entretenimento começa a se <strong>de</strong>senvolver, promovendo assim o auge do samba, em<br />

comunhão com o carnaval <strong>de</strong> rua e o Teatro <strong>de</strong> Revista 31 . Ocorre também o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

profissional <strong>de</strong> muitos cantores como Chiquinha Gonzaga, com sua música “Ó abre alas”,<br />

<strong>de</strong>ntre outros como Noel Rosa. Os sucessos começavam nos palcos teatrais e eram<br />

transmitidos através das machinhas cantadas nas ruas. A industrialização musical promoveu<br />

mudanças inclusive para os que estavam sobrando no processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização:<br />

[...] De qualquer forma, a incipiente indústria do entretenimento carioca,<br />

concentrada primeiro nas gafieiras da Cida<strong>de</strong> Nova e nos cafés-concerto e, mais<br />

tar<strong>de</strong>, nos cabarés, gafieiras e teatros do eixo Lapa-Praça Tira<strong>de</strong>ntes, virou fonte <strong>de</strong><br />

trabalho para os <strong>de</strong>socupados da Cida<strong>de</strong> Nova, das favelas dos Morros do Estácio à<br />

Mangueira, <strong>de</strong> Vila Isabel e dos subúrbios. As portas estavam se abrindo para<br />

músicos, cantores, palhaços, dançarinos, e também para garçons, cozinheiros e<br />

ajudantes, serventes e auxiliares <strong>de</strong> palco e leões <strong>de</strong> chácara (NORONHA, 2003, p.<br />

78).<br />

Os negros pu<strong>de</strong>ram gravar seus discos, conquistar a carreira musical, a musica popular<br />

alcançava os diversos níveis inclusive a população <strong>de</strong> alta renda. O samba que <strong>de</strong> início fazia<br />

parte <strong>de</strong> ambientes consi<strong>de</strong>rados sem “classe” passa a tomar os espaços e ser até os dias atuais<br />

representante da população não só do Rio <strong>de</strong> Janeiro, mas <strong>de</strong> todo Brasil. Quem nunca ouviu<br />

dizer que o Brasil é a terra do Samba? Por primeiro foi tocado nos terreiros das tias, para<br />

<strong>de</strong>pois torna-se a característica do carnaval.<br />

O carnaval também sofreu o processo <strong>de</strong> higienização no período <strong>de</strong> Pereira Passos,<br />

antes conhecido pelo Entrudo, em que seus a<strong>de</strong>ptos tinham o hábito <strong>de</strong> jogar bolas cheias <strong>de</strong><br />

coisas sujas uns nos outros, foi substituído por confetes e outros elementos, que “civilizaria a<br />

festa”. O <strong>de</strong>senvolvimento industrial que levou ao auge diversas canções tem como elemento<br />

importantíssimo para essas difusões o rádio, sendo o principal meio <strong>de</strong> comunicação<br />

principalmente dos anos 20 aos 60, tornando-se na década <strong>de</strong> 30 o veículo mais popular.<br />

Consi<strong>de</strong>rações<br />

Portanto po<strong>de</strong>mos perceber que a exigência <strong>de</strong> mudanças estruturais e higiênicas<br />

durante as reformas no Rio <strong>de</strong> Janeiro, através dos i<strong>de</strong>ais europeus atingiu espaços culturais e<br />

sociais <strong>de</strong>ssa capital heterogênea, e muitos <strong>de</strong>les como, por exemplo, os quintais das tias,<br />

gafieiras, eram formas <strong>de</strong> manter e as raízes dos negros.<br />

Apesar da “violência” que foi o processo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização da cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, esses espaços <strong>de</strong> lazer representavam também a os “povos” que ali habitavam, alguns<br />

com suas características particulares, outros importando alguns elementos, mas


171<br />

<strong>de</strong>senvolveram o que hoje conhecemos <strong>de</strong>ssa capital. É possível perceber através da analise<br />

<strong>de</strong>sses ambientes como as pessoas agiam, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> elas falavam, seja expondo seus<br />

preconceitos ou se unindo para se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>rem <strong>de</strong> uma autorida<strong>de</strong> maior. Seja como for, a<br />

população humil<strong>de</strong> tentava sobreviver nesse cida<strong>de</strong> e as pessoas <strong>de</strong> alta renda buscavam cada<br />

vez mais ganhar espaços e fazer <strong>de</strong>les os “melhores”. De qualquer forma po<strong>de</strong>mos ver os<br />

reflexos <strong>de</strong>ssas ações, é só olhar os morros, e o Brasil sendo “todo” retratado como o país do<br />

samba, lembrando que este estilo musical na cida<strong>de</strong> do Rio se <strong>de</strong>senvolve não no seio elitista,<br />

mas nos quintais das tias, das negras.<br />

Referências<br />

Calebre, Lia. A participação do rádio no cotidiano da socieda<strong>de</strong> brasileira (1923-1960).<br />

Disponível em: Acesso em: 05 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2014.<br />

Chalhoub, Sidney. Trabalho, lar e botequim: o cotidiano dos trabalhadores no Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro da belle époque. 2ª Ed. – Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2001.<br />

Noronha, Luiz. Malandros: Notícias <strong>de</strong> um submundo distante. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Relume<br />

Dumará, 2003.


OS REGISTROS ECLESIAIS PARA O ESTUDO DO BATISMO DE CRIANÇAS<br />

INDÍGENAS EM PORTO SEGURO (1837-1845)<br />

RESUMO<br />

172<br />

Uerisleda Alencar Moreira 32<br />

O presente estudo surgiu <strong>de</strong> uma inquietação frente ao silenciamento da história da criança e<br />

da infância no extremo sul da Bahia. Deste modo, com um olhar voltado para as crianças, a<br />

presente proposta procura estudar a história da criança sul baiana a partir dos registros<br />

contidos nos livros <strong>de</strong> batismo da Igreja Matriz Nossa Senhora da Penna da Vila <strong>de</strong> Porto<br />

Seguro, no período <strong>de</strong> 1837 a 1845. Para tal, o trabalho se apóia na análise documental em um<br />

mo<strong>de</strong>lo quali-quantitativo, que possibilitou através da construção <strong>de</strong> uma base <strong>de</strong> dados,<br />

atribuir valores e significados às características levantadas e quantificadas. Nos registros<br />

eclesiais termos como inocente, legítimos e naturais foram utilizados para se referir às<br />

crianças batizadas, estes termos foram analisados juntamente com o contexto <strong>de</strong> produção dos<br />

registros eclesiásticos <strong>de</strong> modo a possibilitar a compreensão do sujeito infante para a Igreja<br />

Católica e, consequentemente, para a socieda<strong>de</strong> em foco. Evi<strong>de</strong>nciar questões relacionadas às<br />

práticas voltadas à infância que sobreviveram no tempo e no espaço po<strong>de</strong>m contribuir para a<br />

construção da <strong>História</strong> da infância. O estudo busca compreen<strong>de</strong>r o papel assumido pelo rito <strong>de</strong><br />

batismo junto a população porto-segurense em meados do século XIX <strong>de</strong> modo a tentar<br />

analisar as múltiplas facetas assumidas pelo ritual em foco. Os assentos <strong>de</strong> batismo<br />

permitiram entrever a presença da criança indígena no rito católico. Consi<strong>de</strong>ra-se que os<br />

assentos permitem entrever a participação indígena nos rituais católicos bem como apreen<strong>de</strong>r<br />

o conceito <strong>de</strong> criança forjado num território em que sujeitos <strong>de</strong> várias origens étnicas<br />

(brancos, negros, índios e mestiços) criaram as relações as mais diversas sob o<br />

condicionamento da colonização portuguesa.<br />

Palavras-Chaves: Registros eclesiais, Crianças, índios, Porto Seguro.<br />

As fontes eclesiásticas são oriundas da documentação originada nos registros da Igreja<br />

Católica, como os livros <strong>de</strong> assentos <strong>de</strong> batismo, casamento, óbito, visitações do tribunal do<br />

santo ofício, <strong>de</strong>vassas, <strong>de</strong>ntre outros. Documentação rica para a pesquisa sob diversos<br />

prismas, <strong>de</strong> acordo com os questionamentos do historiador, em abordagens múltiplas que<br />

abarcam as mais variadas vertentes historiográficas, como Demografia, Serial, Quotidiano,<br />

Mentalida<strong>de</strong>s etc.<br />

No Brasil, as fontes eclesiásticas foram e são amplamente utilizadas para a pesquisa,<br />

constituindo fonte privilegiada para trabalhos que consagraram os gran<strong>de</strong>s nomes da<br />

historiografia brasileira como Ronaldo Vainfas (1986), <strong>de</strong>ntre outros. Além <strong>de</strong> possibilitarem<br />

a construção das relações entre a Igreja Católica e a socieda<strong>de</strong> na qual estava inserida, são<br />

ainda amplamente utilizadas como fonte para os historiadores que se ocupam da família, em<br />

especial à família escrava, pois apresentam dados referentes às relações e inter-relações entre<br />

os sujeitos na socieda<strong>de</strong> colonial e imperial.<br />

32<br />

Docente da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia, Mestre em <strong>História</strong> Regional e Local pela Universida<strong>de</strong> do<br />

Estado da Bahia. uerisleda@yahoo.com.br


Na Bahia, os registros eclesiásticos estão espalhados em diversos arquivos, como o<br />

Arquivo Público do Estado da Bahia e os Arquivos das Dioceses. Por constituírem acervo<br />

particular, quando resguardados no Acervo Diocesano, alguns documentos são <strong>de</strong> difícil<br />

acesso para a pesquisa acadêmica, a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da administração local. Porém, o acesso às<br />

fontes por vezes é estimulada pela própria diocese, como é o caso do Arquivo da Diocese<br />

Teixeira <strong>de</strong> Freitas – Caravelas, em que a comunida<strong>de</strong> eclesiástica convidou graduandas em<br />

<strong>História</strong> da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia para investigarem e organizarem seu Acervo<br />

Histórico, no sentido <strong>de</strong> construir trabalhos científicos e exposições em comemoração <strong>de</strong> seus<br />

50 anos.<br />

Na massa documental referente aos séculos XV<strong>II</strong>I e XIX arquivada na cúria da<br />

diocese <strong>de</strong> Teixeira <strong>de</strong> Freitas – Caravelas foram localizados livros <strong>de</strong> assentos <strong>de</strong> batismo, <strong>de</strong><br />

casamento e <strong>de</strong> óbitos das vilas <strong>de</strong> Alcobaça, Caravelas, Mucuri (Pôrto Alegre), Viçosa, Porto<br />

Seguro, Prado, Trancoso e Ver<strong>de</strong>. Por estarem submetidos às intempéries do arquivamento<br />

ina<strong>de</strong>quado, sofreram, ao longo dos anos que permaneceram resguardados no armário das<br />

igrejas das vilas e <strong>de</strong>pois da cúria diocesana, <strong>de</strong>sgastes que comprometem seu manuseio e<br />

leitura. As folhas já rendadas, 33 por vezes parecem <strong>de</strong>sfalecer em uma <strong>de</strong>composição sublime<br />

nas mãos daqueles que buscam ali o seu fazer historiográfico.<br />

Dos livros <strong>de</strong> batismos localizados, optou-se em trabalhar com os assentos da Igreja<br />

Matriz Nossa Senhora da Penna <strong>de</strong> Porto Seguro, no período <strong>de</strong> 1837 a 1845, <strong>de</strong>vido à riqueza<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes disponíveis na fonte, à condição <strong>de</strong> preservação dos documentos e à possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> manuseá-lo sem ditar-lhe mais danos.<br />

O livro selecionado para a pesquisa po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado como fonte primária, que, <strong>de</strong><br />

acordo com Rodrigues (1982, p. 143), “[...] é aquela que contém uma informação <strong>de</strong><br />

testemunha direta dos fatos”. Testemunha esta registrada pelo pároco da igreja, sob a<br />

confirmação <strong>de</strong> no mínimo mais três sujeitos, um dos pais, um padrinho e o próprio<br />

batizando.<br />

Os assentos <strong>de</strong> batismo constituem-se em registros manuscritos utilizados para<br />

resguardar no arquivo da Igreja os dados referentes a cada batizando. Vale ressaltar que esses<br />

registros atendiam às normas instituídas pela legislação sinodal e que era obrigatória sua<br />

realização. De acordo com o Concílio <strong>de</strong> Trento e promulgado pelas Constituições Primeiras<br />

do Arcebispado da Bahia, o registro <strong>de</strong> batismo <strong>de</strong>veria conter:<br />

173<br />

Aos tantos <strong>de</strong> tal mês, e <strong>de</strong> tal ano batizei, ou batizou <strong>de</strong> minha<br />

licença o padre N. nesta, ou em tal Igreja, a N, filho <strong>de</strong> N e <strong>de</strong> sua<br />

mulher N. e lhe puz os Santos Óleos: foram padrinhos N. e N.<br />

casados, viúvos, ou solteiros, fregueses <strong>de</strong> tal Igreja, e moradores<br />

<strong>de</strong> tal parte (VIDE, 2010, p. 155).<br />

33<br />

Para Bacelar (2005), o documento rendado é aquele que está repleto <strong>de</strong> furos e buracos.


174<br />

Além da normatização do registro do assento <strong>de</strong> batismo, as Constituições Primeiras<br />

do Arcebispado da Bahia promulgaram também a norma quanto à realização ritualística do<br />

batizado e constituem rica fonte para a investigação do valor simbólico do ritual do batismo<br />

para a socieda<strong>de</strong> do século XIX. As Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia<br />

também po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>radas fontes primárias impressas.<br />

No presente trabalho, lançaremos o olhar às crianças indígenas a partir do Livro <strong>de</strong><br />

Assentos <strong>de</strong> Batismo da Igreja Matriz Nossa Senhora da Penna <strong>de</strong> Porto Seguro 1836-1862,<br />

que, <strong>de</strong>vido às condições <strong>de</strong> arquivamento e manuseio anteriores a esta pesquisa, <strong>de</strong>ixaram<br />

algumas lacunas, como por exemplo a omissão dos dados referentes ao ano <strong>de</strong> 1838. Ressaltase,<br />

ainda, que há uma ruptura no registro <strong>de</strong> assentos em junho <strong>de</strong> 1845, sendo retomada<br />

apenas em agosto <strong>de</strong> 1851 pelo vigário Joaquim Antônio da Silva. Para Bacellar (2005), no<br />

Brasil há um constante <strong>de</strong>scaso com o patrimônio documental, seja <strong>de</strong> acervos particulares ou<br />

públicos, tendo em vista que a falta <strong>de</strong> pessoal e equipamentos a<strong>de</strong>quados para o <strong>de</strong>vido<br />

arquivamento impulsionam a <strong>de</strong>terioração <strong>de</strong> documentos e até mesmo a sua perda. Para o<br />

autor, os documentos são extremamente frágeis, sobretudo os referentes ao período colonial e<br />

imperial, pois as fibras <strong>de</strong> papel envelhecem e há a atuação das brocas, traças, cupins e <strong>de</strong><br />

condições climáticas, como é o caso dos livros paroquiais localizados na Cúria Diocesana<br />

Teixeira <strong>de</strong> Freitas – Caravelas até o projeto <strong>de</strong> intervenção <strong>de</strong> organização do acervo<br />

coor<strong>de</strong>nado pela professora Me. Liliane Maria Fernan<strong>de</strong>s Cor<strong>de</strong>iro Gomes.<br />

Chama a atenção no arquivamento e manuseio <strong>de</strong>ssa documentação o papel do<br />

entendimento da relevância dos mesmos por parte dos gestores das instituições. No caso da<br />

Diocese Teixeira <strong>de</strong> Freitas / Caravelas, o Bispo Carlos Alberto dos Santos tem exercido<br />

papel fundamental <strong>de</strong> salvaguarda e ampla disponibilização para a pesquisa. O acervo conta<br />

com a excelência e profissionalismo dos funcionários da Cúria Diocesana que instruem os<br />

pesquisadores quanto aos métodos a<strong>de</strong>quados <strong>de</strong> manuseio da documentação.<br />

No livro selecionado, as primeiras páginas referem-se ao final do ano <strong>de</strong> 1836, e estão<br />

muito danificadas. A quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assentos por página varia <strong>de</strong> acordo com o registro, tendo<br />

em vista que variou entre 2 a 4 registros por página. Para a realização do estudo, os assentos<br />

<strong>de</strong> batismos receberam a leitura paleográfica <strong>de</strong> modo a criar um banco <strong>de</strong> dados que<br />

propiciasse a melhor visualização dos mesmos.<br />

Para a construção do banco <strong>de</strong> dados a partir dos registros citados anteriormente,<br />

optou-se em trabalhar com o programa Special Package for Social Sciences (SPSS, versão<br />

18), com o propósito <strong>de</strong> favorecer o cruzamento <strong>de</strong> dados e a análise estatística dos<br />

resultados. Segundo Samara & Tupy (2007, p. 131), o uso da ferramenta tecnológica – em<br />

especial os softwares ou programas – para pesquisa histórica tem sido <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> utilida<strong>de</strong>,


175<br />

pois possibilitam o “[...] cruzamento <strong>de</strong> suas variáveis cada vez mais ricas”. O uso da<br />

ferramenta tecnológica possibilita ainda uma melhor visualização dos dados, tanto os<br />

quantificáveis quanto os qualificáveis. Desta maneira, po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar que muitas são as<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uso dos programas, que variam <strong>de</strong> acordo com a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> quem o<br />

manuseia.<br />

O primeiro cruzamento que realizamos dos dados está disposto na Tabela 1. Nela,<br />

procuramos relacionar a distribuição <strong>de</strong> todas as crianças batizadas por sexo nos diferentes<br />

anos estudados. Verificamos que há uma regularida<strong>de</strong> na quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> meninos e meninas<br />

nos diferentes anos. Em três anos (1842, 1843 e 1845) os meninos foram mais batizados do<br />

que as meninas e também em três anos (1837, 1839 e 1840) as meninas foram mais batizadas.<br />

Portanto, são dados que mostram uma distribuição equitativa entre os sexos das crianças<br />

batizadas. Apenas em um registro não foi possível i<strong>de</strong>ntificar o sexo do batizando por estar<br />

ilegível.<br />

As crianças batizadas na Igreja Matriz Nossa Senhora da Penna <strong>de</strong> Porto Seguro são<br />

sujeitos especiais, que, como os fios necessários para tecer, conduzem este trabalho. Tão<br />

brilhante quanto as crianças aqui, é possível inferirmos a atuação do pároco Jozé Tibúrcio <strong>de</strong><br />

S Anna, que enriqueceu <strong>de</strong> elementos <strong>de</strong> análise os assentos <strong>de</strong> batismo. Anteriormente, foi<br />

citado o mo<strong>de</strong>lo oficial <strong>de</strong> assento, promulgado pelas próprias Constituições Primeiras.<br />

Entretanto, os assentos contêm muitos elementos que não estão dispostos nas constituições, o<br />

que amplia as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> análise e compreensão da socieda<strong>de</strong> católica. Neles po<strong>de</strong>mos<br />

i<strong>de</strong>ntificar a condição jurídica dos sujeitos, a raça, a legitimida<strong>de</strong> da criança, a ida<strong>de</strong> e, em<br />

alguns casos, até mesmo o nome dos avós.<br />

Tabela 1<br />

Distribuição da frequência <strong>de</strong> meninos e meninas nos registros <strong>de</strong> batismo, no<br />

período <strong>de</strong> 1837 a 1845.<br />

Sexo<br />

Ano<br />

Masculino Feminino Ilegível<br />

Total<br />

1837 27 35 1 63<br />

1839 26 40 0 66<br />

1840 27 38 0 65


176<br />

1841 27 27 0 54<br />

1842 40 25 0 65<br />

1843 34 30 0 64<br />

1844 36 39 0 75<br />

1845 15 9 0 24<br />

Total 232 243 1 476<br />

Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados do Livro <strong>de</strong> Assentos <strong>de</strong> Batismo da Igreja Matriz<br />

Nossa Senhora da Penna <strong>de</strong> Porto Seguro 1836-1862. Arquivo da Cúria da Diocese Teixeira <strong>de</strong><br />

Freitas / Caravelas (ACDTxC), Teixeira <strong>de</strong> Freitas, bahia, Brasil. 1837-1845.<br />

Veremos, assim, o que representa o sacramento <strong>de</strong> batismo para Manuella, Roza,<br />

Antônio, Anna, <strong>de</strong>ntre tantas outras crianças levadas à pia batismal entre os anos <strong>de</strong> 1837 a<br />

1845, através da análise documental que consistiu em problematizar os termos utilizados nos<br />

assentos para referir-se às crianças – ou a ausência <strong>de</strong>stes termos, juntamente com as<br />

prescrições das Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia.<br />

Crianças indígenas batizadas na Igreja Matriz Nossa Senhora da Pena <strong>de</strong> Porto Seguro<br />

Dos 476 batizandos estudados, <strong>de</strong>staca-se os 47 (9,8%) cujos pais foram <strong>de</strong>nominados<br />

genericamente como índios pelos vigários que fizeram os registros estudados, como a<br />

pequena Anna cujo assento segue<br />

Aos <strong>de</strong>zoito dias do mez <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong>ste presente anno <strong>de</strong> mil oito<br />

centos e trinta e oito nesta Igreja Matriz Nossa Senhora da Penna <strong>de</strong><br />

Porto Seguro baptizei solemnemente e puz os santos óleos a innocente<br />

Anna, nascida aos sete <strong>de</strong> Setembro, filha legítima <strong>de</strong> João Loubato e<br />

Joanna Correia, índios, moradores em Caramimuã: forão padrinhos<br />

João Jozé [...] e sua mulher Locadia Maria <strong>de</strong>sta freguesia. E para<br />

constar fis este assento em’q me assignei. O Parº Jozé Tibúrcio <strong>de</strong> S<br />

Anna. 34<br />

Quando fora batizada em 18 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1838, Anna estava com 2 meses e 11<br />

dias <strong>de</strong> nascida, ida<strong>de</strong> que ultrapassara a recomendação das Constituições Primeiras do<br />

Arcebispado da Bahia <strong>de</strong>terminam que as crianças <strong>de</strong>veriam ser batizadas com até oito dias <strong>de</strong><br />

nascidas regulando a aplicação da multa <strong>de</strong> <strong>de</strong>z tostões caso o batismo não ocorresse no<br />

34<br />

Arquivo da Cúria da Diocese Teixeira <strong>de</strong> Freitas – Caravelas. Livro <strong>de</strong> Assentos <strong>de</strong> Batismo da Igreja<br />

Matriz Nossa Senhora da Penna <strong>de</strong> Porto Seguro 1836-1862. Porto Seguro, 24 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1836, p.<br />

22b.


tempo <strong>de</strong>terminado, sendo acrescido a cobrança <strong>de</strong> mais <strong>de</strong>z tostões caso se passasse mais<br />

oito dias. A regulamentação da aplicação do Sacramento <strong>de</strong> batismo nas crianças com até oito<br />

dias diz respeito ao papel do próprio sacramento: conversão, perdão dos pecados e a garantia<br />

da salvação da alma no pós-morte. Deste modo, as Constituições Primeiras do Arcebispado da<br />

Bahia alertava aos “pais ter[em] muito cuidado em não dilatarem o batismo a seus filhos,<br />

porque lhes não suceda saírem <strong>de</strong>sta vida sem ele e per<strong>de</strong>rem para sempre a salvação” (VIDE,<br />

2010, p. 139).<br />

Ao ser batizada, Anna recebera as bênçãos <strong>de</strong> Deus na pia batismal e passara a ser<br />

consi<strong>de</strong>rada cristã e católica, fato que a inseria na socieda<strong>de</strong> porto segurense oitocentista. No<br />

Brasil dos oitocentos, o Sacramento <strong>de</strong> batismo possuía diferentes valores simbólicos e<br />

sociais: para a igreja, convertiam-se os sujeitos e se perdoavam os pecados e para a socieda<strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>ria ser consi<strong>de</strong>rado um ato <strong>de</strong> estreitamento <strong>de</strong> laços <strong>de</strong> compadrio através do<br />

apadrinhamento e a obtenção <strong>de</strong> um documento oficial (registro <strong>de</strong> batismo) que indicava a<br />

paternida<strong>de</strong> e maternida<strong>de</strong>.<br />

Dos batizandos indígena no período em estudo 46 (97,9%) receberam o adjetivo<br />

“innocente” antes do nome no registro e apenas 1 (2,1%) não receberam este adjetivo. Este é<br />

um indicador <strong>de</strong> que a maioria dos batizandos eram crianças e o sujeito que recebeu o dito<br />

adjetivo já era adulto pois o termo inocente era amplamente utilizado no século XIX para<br />

referirem-se às crianças, como discutido por Moreira (2011).<br />

TABELA 2<br />

Batizando com os<br />

pais indígenas<br />

Ida<strong>de</strong> Frequência Percentual<br />

1 a 8 dias 3 6,4<br />

9 a 16 dias 3 6,4<br />

17 a 24 dias 5 10,6<br />

25 dias a 3 meses 8 17,0<br />

3 a 6 meses 2 4,3<br />

Omisso 26 55,3<br />

Total 47 100,0<br />

177<br />

Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados do Livro <strong>de</strong> Assentos <strong>de</strong> Batismo da Igreja Matriz<br />

Nossa Senhora da Penna <strong>de</strong> Porto Seguro 1836-1862. Arquivo da Cúria da Diocese Teixeira <strong>de</strong><br />

Freitas / Caravelas (ACDTxC), Teixeira <strong>de</strong> Freitas, bahia, Brasil. 1837-1845.


Na Tabela 2, observa-se que entre os 47 batizandos cujos pais foram i<strong>de</strong>ntificados<br />

como “índios”, apenas 3 (6,4%) foram batizadas com até oito dias <strong>de</strong> nascidas, sendo 21<br />

(44,7%) batizadas entre 1 dia e 6 meses <strong>de</strong> nascida e 26 (55,3%) tiveram a data <strong>de</strong> nascimento<br />

inexistente (omisso) no registro.<br />

A massiva presença <strong>de</strong> crianças indígenas e o alto percentual <strong>de</strong> omissão da data <strong>de</strong><br />

nascimento das crianças po<strong>de</strong> ser um indício do que Maria Hilda Paraíso chama a atenção em<br />

“Trabalho escravo e crianças indígenas: uma realida<strong>de</strong> do século XIX” (2004):<br />

É no bojo <strong>de</strong>sse projeto <strong>de</strong> ressocialização <strong>de</strong> indígenas, associado às<br />

estratégias militares e à dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso a mão-<strong>de</strong>-obra escrava<br />

<strong>de</strong> origem africana em áreas não, que vamos compreen<strong>de</strong>r as práticas<br />

<strong>de</strong> aprisionamento, venda e doação <strong>de</strong> kurukas nessa região.<br />

178<br />

Embora essas práticas se tornassem mais comuns após 1808 no sul da<br />

Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo, há claras referências a sua<br />

existência antes <strong>de</strong>ssa data. Os cuidados <strong>de</strong>monstrados pelos Maxacali<br />

quando encontraram regente José Pereira Freire <strong>de</strong> Moura, em Lorena<br />

dos Tocoiós, entre os anos <strong>de</strong> 1799 e 1804, e o fato <strong>de</strong> só terem<br />

aceitado se aproximar do vilarejo com todos os filhos em 1809,<br />

quando lhes foi prometido a doação <strong>de</strong> anzóis, machados e facas,<br />

indica sua preocupação em evitar a captura <strong>de</strong> suas crianças,<br />

experiência já vivida em Caravelas, na Bahia, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> haviam fugida<br />

do al<strong>de</strong>amento que lhes fora imposto. (PARAÍSO, 2004. p. 6).<br />

Paraíso discute o processo <strong>de</strong> escravização <strong>de</strong> crianças indígenas e a omissão <strong>de</strong> sua<br />

faixa etária como uma possível estratégia <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra. Entretanto, verifica-se<br />

nos dados estudados que todas as crianças batizadas na Igreja Matriz Nossa Senhora da Penna<br />

<strong>de</strong> 1837 – 1845 possuem a indicação dos pais sendo: 32 (68,1%) pai e mãe, 14 (29,8%)<br />

somente mãe e 1 (2,1%) somente pai.<br />

A presença <strong>de</strong> ambos os pais em sua maioria po<strong>de</strong> ser um indicador <strong>de</strong> que as crianças<br />

batizadas e suas famílias já estavam, fixadas na Vila <strong>de</strong> Porto Seguro ou nos al<strong>de</strong>amentos<br />

como a família da inocente Anna moradores <strong>de</strong> Caramimuã 35 . Outro dado que corrobora com<br />

a hipótese <strong>de</strong> que os indígenas presentes na pia batismal em estudo eram fixos diz respeito ao<br />

percentual <strong>de</strong> legitimida<strong>de</strong> do batizando, em que 27 (57,4%) eram filhos legítimo, 2 (4,3%)<br />

eram filhos naturais e 18 (38,3%) tiveram a legitimida<strong>de</strong> omissa no assento. O filho legítima<br />

era aquele oriundo <strong>de</strong> uma relação sacramentada pela Igreja, ou seja pais casadas, já o filho<br />

natural era oriundo <strong>de</strong> relações consi<strong>de</strong>radas espuriosas, marginalizadas ou quando apenas a<br />

mãe ou o pai registrava a criança no ato do batismo. 36<br />

No presente artigo, foram <strong>de</strong>stacados alguns aspectos, <strong>de</strong>ntre muitos outros que po<strong>de</strong>m<br />

emergir dos registros <strong>de</strong> batismos, fontes relevantes para o estudo da presença indígena em<br />

Porto Seguro – Ba. A presença <strong>de</strong> crianças indígenas na pia batismal da Igreja Matriz Nossa<br />

35<br />

Segundo Vilhena (1969, p. 524), Caramimuã, sendo “pôsto da Câmara <strong>de</strong> Trancoso para obstar a invasão dos<br />

bárbaros”, era povoado por algumas famílias <strong>de</strong> índios que se ocupavam <strong>de</strong> pequena lavoura, caça, e pesca.<br />

36<br />

Para maiores informações sobre os filhos legíimos e naturais ver Moreira (2011).


179<br />

Senhora da Penna <strong>de</strong> Porto Seguro entre os anos <strong>de</strong> 1837 – 1845 indicia o uso do rito religioso<br />

e, talvez a sua (re)apropriação, por parte <strong>de</strong>ssa população.<br />

Referências<br />

Fontes<br />

MOREIRA, Uerisleda Alencar. Baptizei solemnemente e pus os santos óleos ao inocente: o<br />

batismo na Vila <strong>de</strong> Porto Seguro <strong>de</strong> 1837-1845. Monografia apresentada ao Colegiado <strong>de</strong><br />

<strong>História</strong> do Departamento <strong>de</strong> Educação – campus X, da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia.<br />

2011.<br />

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BACELLAR, Carlos. Uso e mau uso dos arquivos. In: PINSKY, Carla Bassanezi (Org.).<br />

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MOREIRA, Uerisleda Alencar. Baptizei solemnemente e pus os santos óleos ao inocente: o<br />

batismo na Vila <strong>de</strong> Porto Seguro <strong>de</strong> 1837-1845. Monografia apresentada ao Colegiado <strong>de</strong><br />

<strong>História</strong> do Departamento <strong>de</strong> Educação – campus X, da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia.<br />

2011.<br />

PARAÍSO, Maria Hilda Baqueiro. Trabalho escravo <strong>de</strong> crianças indígenas: Uma realida<strong>de</strong> do<br />

século XIX. Anais... <strong>II</strong> Encontro Estadual <strong>de</strong> <strong>História</strong>. Historiador “a que será que se<br />

<strong>de</strong>stina?”: Dilemas e perspectivas na construção do conhecimento histórico. – Feira <strong>de</strong><br />

Santana: Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Feira <strong>de</strong> Santana, 2004. Disponível em:<br />

http://www.uesb.br/anpuhba/<strong>de</strong>fault.asp?site=artigos/anpuh_<strong>II</strong>/anais.html#m Acessado em 18<br />

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RODRIGUES, José Honório. A pesquisa histórica no Brasil. 4. ed. São Paulo: Cia. Editora<br />

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SAMARA, Eni Mesquita; TUPY, Ismênia Spínola Silveira Truzzi. <strong>História</strong> & Documento e<br />

metodologia <strong>de</strong> pesquisa. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.<br />

VAINFAS, Ronaldo. Casamento, amor e <strong>de</strong>sejo no Oci<strong>de</strong>nte cristão. São Paulo: Editora<br />

Ática, 1986.<br />

VIDE, Dom Sebastião Monteiro da. Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia.<br />

São Paulo: Edusp, 2010.


180<br />

RELAÇÕES MATRIMONIAIS NA IGREJA DE SÃO BERNARDO DE ALCOBAÇA,<br />

BAHIA, EM MEADOS DO SÉCULO XIX<br />

RESUMO<br />

Laís Assunção Moreira <br />

Uerisleda Alencar Moreira <br />

A pesquisa investigará as relações matrimoniais no século XIX, com objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>linear as<br />

escolhas matrimoniais realizadas entre sujeitos <strong>de</strong> diferentes extratos sociais na Igreja Matriz<br />

São Bernardo <strong>de</strong> Alcobaça, <strong>de</strong> modo a conhecer e contribuir para a composição da <strong>História</strong><br />

Local e Regional. Assim, serão analisadas as relações sociais que se <strong>de</strong>senrolaram a partir do<br />

matrimônio. Além <strong>de</strong> analisar as relações elitistas, que foi enfatizada e priorizada por muito<br />

tempo pela história <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> lado a história das classes marginalizadas, serão abordadas as<br />

relações <strong>de</strong> toda a socieda<strong>de</strong> que fez uso do sacramento no local e período em estudo,<br />

evi<strong>de</strong>nciando todos os sujeitos presentes nas fontes. Para <strong>de</strong>senvolver a pesquisa, se recorrerá<br />

às fontes eclesiásticas, oriundas da administração dos sacramentos católicos que tiveram papel<br />

fundamental - pelo fato <strong>de</strong> ser o único meio <strong>de</strong> conseguir o casamento legal - na<br />

documentação matrimonial no período em estudo. As fontes eclesiásticas oferecem uma<br />

gran<strong>de</strong> riqueza <strong>de</strong> informações <strong>de</strong> on<strong>de</strong> é possível <strong>de</strong>senvolver pesquisas sobre como a Igreja<br />

propagava o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> família, composto pela união conjugal <strong>de</strong> um homem e <strong>de</strong> uma mulher.<br />

Ao lado das fontes matrimoniais, a legislação eclesiástica para a formação familiar será<br />

consultada, pois se enten<strong>de</strong> fundamental conhecer os preceitos que originaram as fontes a<br />

serem privilegiadas na presente proposta <strong>de</strong> pesquisa. No registro <strong>de</strong> matrimônio, informações<br />

como nome <strong>de</strong> ambos os nubentes, ida<strong>de</strong>, origem <strong>de</strong> nascimento, filiação, cor da pele,<br />

condição jurídica e <strong>de</strong> origem étnica, são observados no documento como modo <strong>de</strong><br />

possibilitar traçar um perfil dos nubentes. Também são encontradas informações como dia,<br />

mês, ano, horário e local on<strong>de</strong> fora realizada a cerimônia, além da <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> dispensa <strong>de</strong><br />

impedimento, informações que dizem respeito aos próprios legislativos sinodais e sua<br />

aplicação na Matriz em estudo.<br />

Palavras – Chave: Fontes Eclesiais, Igreja Católica, Matrimônio, Século XIX.<br />

A Igreja e a vila em meados do século XIX.<br />

Alcobaça é uma cida<strong>de</strong> do Extremo Sul da Bahia com uma população estimada <strong>de</strong> vinte e três<br />

mil habitantes segundo os dados do Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística (IBGE)<br />

referentes ao ano <strong>de</strong> 2015. Segundo o IBGE em 1752 dois moradores <strong>de</strong> Caravelas se<br />

mudaram com suas famílias para a região às margens do rio Itanhém, on<strong>de</strong> a partir daí foi<br />

formado o povoado <strong>de</strong> Itanhém.<br />

Fábio Said (2010) aponta que na segunda meta<strong>de</strong> do século XV<strong>II</strong> Antonio Gomes Pereira e<br />

Antonio Men<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>slocaram-se para a atual localização <strong>de</strong> Alcobaça on<strong>de</strong> só havia a<br />

presença dos povos nativos. A vila <strong>de</strong> Alcobaça foi fundada em 12 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1772 e<br />

um dos fatores para a criação da vila foi a fertilida<strong>de</strong> das terras às margens do rio Itanhém e a<br />

varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>iras existentes na região. Para que um povoado se elevasse à categoria <strong>de</strong><br />

<br />

Graduanda do curso <strong>de</strong> licenciatura em <strong>História</strong> da Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia.<br />

laismoreira8@hotmail.com<br />

<br />

Mestre em <strong>História</strong> Regional e Local pela Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia. uerisleda@yahoo.com.br


Vila era preciso em seu construto urbano: uma Casa da Câmara e Ca<strong>de</strong>ia, um espaço para o<br />

pelourinho e uma igreja com paróquia. Com esses requisitos atendidos o arraial <strong>de</strong> Itanhém<br />

foi elevado à vila.<br />

181<br />

Anno no Nascimeto <strong>de</strong> Nosso Senhor Jesus Christo <strong>de</strong> mil sete centos e setenta e<br />

dous aos doze dias do mês <strong>de</strong> Novembro do dito ano neste Arraial chamado <strong>de</strong><br />

Itanhaem nas casas ou para melhor dizer cabana aon<strong>de</strong> se achava aposentado o<br />

Desembargador Joseph Xavier Machado Monteiro Cavalleiro professo na or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />

Christo do Desembargo <strong>de</strong> Sua Magesta<strong>de</strong> seu Desembargador numerário da Casa<br />

da Suplicação [...]. (SAID, 2010, p.179)<br />

Segundo Said (2010), em 1771 já existia uma igreja na localida<strong>de</strong>, pois uma igreja e um padre<br />

eram essenciais em todas as povoações. Antes <strong>de</strong> fazer a aclamação da vila, no dia 12 <strong>de</strong><br />

novembro, foi necessário escolher o santo para a igreja e que ocasionalmente também seria o<br />

padroeiro da vila. O primeiro padre, Pedro Affonso, mesmo antes da oficialização da vila, já<br />

realizava registros do batismo no local.<br />

Em seguida Said (2010) afirma:<br />

O padre sugeriu ao povo que se escolhesse o orago da igreja e padroeiro da nova<br />

freguesia. Os populares então respon<strong>de</strong>ram unanimemente que eram <strong>de</strong>votos <strong>de</strong> São<br />

Bernardo e que o glorioso santo <strong>de</strong> Claraval é que <strong>de</strong>veria ser padroeiro <strong>de</strong><br />

Alcobaça. (SAID, 2010, p. 24)<br />

São Bernardo foi sugerido como orago e protetor da nova freguesia pelo primeiro<br />

padre <strong>de</strong> Alcobaça, padre Pedro Affonso, e aceito com gran<strong>de</strong> júbilo pela população.<br />

(SAID, 2010, p. 30)<br />

Em seu trabalho, Said apresenta uma contradição quanto ao mito <strong>de</strong> origem da adoção <strong>de</strong> São<br />

Bernardo como padroeiro <strong>de</strong> Alcobaça. A contradição nas narrativas <strong>de</strong>monstram uma<br />

complementarieda<strong>de</strong> uma à outra sendo a primeira a <strong>de</strong>monstração da participação popular na<br />

escolha do padroeiro e a segunda a <strong>de</strong>finição do mesmo pelo primeiro pároco da localida<strong>de</strong>.<br />

Estes são aspectos que po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>nunciar o recontar por gerações do mito <strong>de</strong> origem da adoção<br />

do padroeiro entre a população alcobacense, uma vez que o autor não cita a fonte da<br />

informação e inferimos que o mesmo tenha feito o uso <strong>de</strong> suas memórias enquanto cidadão<br />

caravelense.<br />

De acordo Hooij (2002 apud SANTOS, 2011, p. 11) a relação entre os primeiros<br />

colonizadores e os povos nativos não era pacífica pois o autor aborda a utilização <strong>de</strong> cercos <strong>de</strong><br />

pau-a-pique para proteger as cercanias <strong>de</strong> possíveis taques dos nativos.<br />

A tarefa <strong>de</strong> povoar a vila era difícil como relatada pelo ouvidor <strong>de</strong> porto Seguro: “[...] a<br />

dificulda<strong>de</strong> estava em como atrair indivíduos e convencê-los a se mudar para aquela região,<br />

on<strong>de</strong> eles precisariam esperar dois anos até que as terras cultivadas lhes <strong>de</strong>ssem algum fruto<br />

para comer e ven<strong>de</strong>r”. (MONTEIRO, 1771 apud SAID, 2010, p. 53). Os imigrantes dos<br />

Açores tiveram <strong>de</strong>staque na povoação da vila, as famílias açorianas tiveram muita influência<br />

em Alcobaça e formaram uma das famílias consi<strong>de</strong>radas por Said (2010) e Santos (2011)


como as mais tradicionais e importantes para o <strong>de</strong>senvolvimento da vila em caráter político.<br />

Ficou conhecidas, principalmente, a família Muniz e a Me<strong>de</strong>iros.<br />

Matrimônio e relações familiares<br />

182<br />

Nos registros <strong>de</strong> batismo e casamento do início do século XIX também aparecem<br />

vários açorianos, até mais ou menos a época da in<strong>de</strong>pendência, na década <strong>de</strong> 1820.<br />

Além disso, segundo a tradição oral, houve uma leva <strong>de</strong> pelo menos 12 famílias <strong>de</strong><br />

açorianos que foram mandadas a Alcobaça. (SAID, 2010, p. 55)<br />

Os estudos sobre a família tem adquirido novas abordagens e diferentes formas <strong>de</strong> estudo a<br />

partir <strong>de</strong> questionamentos diversos que originam a pesquisa histórica. Para o estudo das<br />

relações familiares as fontes eclesiais se mostraram <strong>de</strong> suma relevância pois, alguns estudos<br />

(MOREIRA, 2014; SANTOS, 2011) apontam, a partir das referidas fontes, que não se po<strong>de</strong><br />

estabelecer um padrão <strong>de</strong> família para o século XIX, pois evi<strong>de</strong>nciavam os mais diferentes<br />

arranjos e evi<strong>de</strong>nciavam algumas distinções <strong>de</strong> classes. Apesar <strong>de</strong> existir um mo<strong>de</strong>lo padrão a<br />

ser seguido em relação à constituição familiar a partir dos dispositivos judaico-cristão, Sheila<br />

<strong>de</strong> Castro Faria (1997) aponta que haviam diversas formas <strong>de</strong> arranjos familiares e estas<br />

também <strong>de</strong>vem ser evi<strong>de</strong>nciadas. Foi a partir <strong>de</strong> 1970 que os estudos no Brasil começaram a<br />

abordar novos mo<strong>de</strong>los familiares existentes e a criticar o mo<strong>de</strong>lo patriarcal que predomina no<br />

campo teórico.<br />

Os estudos da década <strong>de</strong> 1970, que po<strong>de</strong>m ser vistos como precursores da<br />

construção do objeto específico — a família —, tiveram três referências básicas: a<br />

<strong>de</strong>mografia histórica, a análise da economia doméstica (por iniciativa principalmente<br />

<strong>de</strong> brasilianistas) e os <strong>de</strong>bates interdisciplinares em ciências sociais. Foi justamente<br />

com a tentativa <strong>de</strong> reconstituição <strong>de</strong> famílias que se originaram, aqui, <strong>de</strong> maneira<br />

mais sistemática, os estudos <strong>de</strong>mográficos. (FARIA, 1997, p. 367)<br />

Segundo Faria (1997), a família colonial brasileira tinha características peculiares, que não se<br />

assemelhava ao mo<strong>de</strong>lo tradicional – europeu, on<strong>de</strong> a forte presença <strong>de</strong> mulheres chefes <strong>de</strong><br />

família, <strong>de</strong> concubinatos, <strong>de</strong> bastardia e aponta que o casamento no século XIX era mais<br />

acessível à elite e era uma forma dos senhores monitorarem seus cativos. Sena (2014) afirma<br />

que para o escravizado o matrimônio era <strong>de</strong> difícil acesso pelo alto custo cobrado para as<br />

proclames e/ou dispensas. Porém, apesar das dificulda<strong>de</strong>s apontadas por Sena (2014), por<br />

vezes os matrimônios entre escravizado era recorrente, como <strong>de</strong>monstra o estudo <strong>de</strong> Moreira<br />

(2014).<br />

No século XIX, a igreja usou <strong>de</strong> estratégias para afirmar sua superiorida<strong>de</strong>, impondo verda<strong>de</strong>s<br />

e tornando obrigatório a todos seguirem os seus os princípios religiosos. Ao longo da história<br />

temos diversos exemplos <strong>de</strong> práticas adotadas para a imposição dos dogmas católicos. O<br />

casamento é um exemplo <strong>de</strong>ssas práticas, pois só era tido como legítimo se fosse realizado na<br />

igreja católica, um exemplo das estratégias <strong>de</strong> divulgação da religião e a conversão foram as<br />

missões.


As missões foram um meio encontrado pela igreja para reagir à Reforma Protestante,<br />

afirmando sua presença junto aos fiéis e a ampliação da realização dos sacramentos. Nestas, a<br />

conversão dos nativos e a propagação dos preceitos católicos entre os escravizados, forros e<br />

<strong>de</strong>mais sujeitos oriundos da base da hierarquia social eram o objetivo principal. Neste sentido,<br />

Santos (2011) verificou a eficácia das missões na vila <strong>de</strong> Alcobaça no final do século XIX, a<br />

partir dos registros <strong>de</strong> matrimônio da Igreja Matriz São Bernardo <strong>de</strong> Alcobaça:<br />

183<br />

As análises feitas nos assentos <strong>de</strong> casamento possibilitaram consi<strong>de</strong>rar que o<br />

aumento significativo na quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> matrimônios para o ano <strong>de</strong> 1891 [...] se <strong>de</strong>ve<br />

às missões que estiveram em Alcobaça. Observou-se que das 47 uniões 17 foram<br />

celebradas em ocasião das missões. O que <strong>de</strong> certa maneira facilitava o acesso ao<br />

matrimônio. (SANTOS, 2011, p. 70)<br />

O matrimônio era a forma oficial <strong>de</strong> legitimar uma união conjugal e os estudos que discutem<br />

as relações matrimoniais, a partir dos registros <strong>de</strong> casamento na igreja católica em diversas<br />

regiões do Brasil, <strong>de</strong>vem levar em consi<strong>de</strong>ração que outras relações familiares, mesmo sendo<br />

conjugais não oficias existiam. A partir do matrimônio legitimado na igreja, é possível notar<br />

não só a formação <strong>de</strong> famílias conjugais, mas também possíveis relações <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> que<br />

se <strong>de</strong>senvolveram e nos grupos familiares, questão é elucidada por Faria.<br />

A família, no período escravista brasileiro, exerceu importância fundamental na<br />

montagem e funcionamento das ativida<strong>de</strong>s econômicas e nas relações sociais e<br />

políticas. [...] A família conferia aos homens estabilida<strong>de</strong> ou movimento, além <strong>de</strong><br />

influir no status e na classificação social. Pouco se referia ao indivíduo enquanto<br />

figura isolada — sua i<strong>de</strong>ntificação era sempre com um grupo mais amplo. (FARIA,<br />

1997, p. 372)<br />

De acordo com Santos (2011), casamentos entre pessoas da mesma família eram comuns,<br />

uma forma <strong>de</strong> conservar e não dividir os bens entre famílias diferentes ou prestígios da<br />

mesma. Assim como as uniões entre pessoas da elite, os casamentos arranjados era uma<br />

representação <strong>de</strong>sse sistema. Os casamentos entre famílias tradicionais é um exemplo,<br />

citemos a família Muniz em Alcobaça, Bahia.<br />

Os assentos <strong>de</strong> casamento po<strong>de</strong>m revelar várias práticas na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Alcobaça.<br />

Percebeu-se na análise dos assentos que as uniões da família Muniz (que nos anos <strong>de</strong><br />

1880-1990 era uma das famílias mais abastadas da cida<strong>de</strong>) aconteciam quase que<br />

impreterivelmente <strong>de</strong>ntro da mesma família ou do mesmo ciclo social. (SANTOS,<br />

2011, p. 25 – 26)<br />

Os pais dos nubentes faziam acordos entre si com a intenção <strong>de</strong> perpetuar a influência e <strong>de</strong><br />

favorecer economicamente a família. Um caso a <strong>de</strong>stacar, refere-se ao matrimônio entre o<br />

Doutor José Candido <strong>de</strong> Freitas e Albuquerque com Dona Ernestina Elvira da Silva Muniz,<br />

celebrado na Igreja Matriz Santo Antônio da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Caravelas em 07 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1858.<br />

Esta celebração é apresentada por Moreira (2014) que discute as relações matrimoniais a


partir do interesse da família dos noivos, e não diretamente do <strong>de</strong>sejo entre os nubentes <strong>de</strong><br />

contraírem o sacramento.<br />

184<br />

Aos sete dias do mês <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> mil oito centos cincoenta e oito annos, nesta<br />

Freguesia <strong>de</strong> Santo Antonio da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Caravellas, sendo eu chamado por José<br />

Muniz Cor<strong>de</strong>iro Gitahi para casar uma sua filha em sua casa, d’ali fui levado para<br />

casa do Doutor José Candido <strong>de</strong> Freitas e Albuquerque sendo prezente estava a filha<br />

do dito José Muniz, Dona Ernestina Elvira da Silva Muniz, perguntando eu ao dito<br />

Doutor, se cazava por seo gosto, respon<strong>de</strong>o que o fazia coacto, então pon<strong>de</strong>rei-lhe,<br />

que nesse caso eu não faria esse casamento, e querendo retirar-me, elle mandou que<br />

me sentasse úm pouco e ouvindo a petição que nessa ocasião fizeram os parentes, e<br />

mais visitantes, que prezentes se achavão, <strong>de</strong>liberou finalmente a casar-se, e então<br />

chamou-me por tres vezes para o receber em casamento, o que fizerão a esse tempo<br />

por livre vonta<strong>de</strong> e sem constrangimento, escolhendo elle por padrinhos a Fortunato<br />

Pereira <strong>de</strong> Oliveira e ella do Capitão Lisinio da Silva Guimarães Lessa; e logo lhes<br />

<strong>de</strong>i as bênçãos na forma do Ritual Romano; o que para constar, man<strong>de</strong>i fazer o<br />

prezente assento, e assignei. (Registro do matrimônio <strong>de</strong> José Candido <strong>de</strong> Freitas e<br />

Albuquerque com Ernestina Elvira da Silva Muniz APUD MOREIRA, 2014. p. 122-<br />

123).<br />

No caso acima citado, é possível entrever que o nubente por um momento pôs em dúvida o<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> contrair o matrimônio com Ernestina Elvira da Silva Muniz, o que fora efetivado<br />

apenas após a intervenção familiar. Este é um indício das relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e prestígio<br />

sacramentadas nos enlaces matrimoniais. Além disso, os temos utilizados para referirem-se<br />

aos nubentes como Doutor e Dona são indícios do status quo dos mesmos na socieda<strong>de</strong><br />

caravelense. È preciso contextualizar que Alcobaça e Caravelas são cida<strong>de</strong>s circunvizinhas e<br />

que no século XIX havia um intenso trânsito <strong>de</strong> gentes e mercadorias entre uma e outra<br />

(MOREIRA, 2014). Assim, talvez Ernestina da Silva Muniz seja membro em algum grau da<br />

família Muniz consi<strong>de</strong>rada por Santos (2011, p. 26) como uma das famílias “mais abastadas<br />

da cida<strong>de</strong>” <strong>de</strong> Alcobaça no século XIX.<br />

O matrimônio, além <strong>de</strong> legitimar uma união conjugal, tem se revelado (FARIA, 1997;<br />

MOREIRA, 2014; SANTOS, 2011) um ato em que as relações socioculturais e <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r se<br />

fizeram presente. Assim, ao se colocar diante do pároco para receber o sacramento do<br />

matrimônio, os nubentes não o fizeram apenas por sí, mas aparentemente também pelos seus.<br />

Tal aspecto po<strong>de</strong> ser vislumbrado nos padrões <strong>de</strong> escolhas entre sujeitos <strong>de</strong> diferentes origens<br />

étnicas (matizes <strong>de</strong> cor) e/ou condição jurídica (livres e escravizados).<br />

Assim, a partir <strong>de</strong>stes aspectos discutidos pelas autoras, é possível <strong>de</strong>stacar que por vezes, o<br />

casamento po<strong>de</strong>ria ser um meio também <strong>de</strong> resistência ao cativeiro e às imposições<br />

hegemônicas da cultura, um lugar social em que os escravizados pu<strong>de</strong>ssem também reforçar<br />

laços afetivos e familiares cujas raízes po<strong>de</strong>riam estar enfincadas no além mar.<br />

Robert Slenes (1999) em “Na Senzala uma Flor: esperanças e recordações na formação da<br />

família escrava, Brasil, século XIX” discute a formação da família em situação <strong>de</strong> cativeiro no<br />

oeste paulista. O autor rastreia a existência <strong>de</strong> extensas famílias nas senzalas estudadas e


185<br />

afirma que “[...] não há razão para pensar que os laços <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> estáveis com compadres ou<br />

outros ‘companheiros da escravidão’ tenham constituído uma rarida<strong>de</strong>” (SLENES, 1999. p.<br />

70). Slenes discute que as famílias <strong>de</strong> escravizados por vezes possuíam os (re)arranjos mais<br />

diversos, levando em consi<strong>de</strong>ração as peculiarida<strong>de</strong>s da cultura africana readaptadas às<br />

imposições culturais portuguesa. A família, para os cativos, po<strong>de</strong> ter sido um meio para a<br />

manutenção das heranças culturais africanas, uma das estratégias <strong>de</strong> se manterem fortes como<br />

grupo e resistir às regras que lhes eram impostas.<br />

Para o estudo da família em Alcobaça, se preten<strong>de</strong> analisar as fontes eclesiásticas <strong>de</strong><br />

matrimônio <strong>de</strong> modo a buscar i<strong>de</strong>ntificar os padrões <strong>de</strong> escolha realizado entre os nubentes<br />

para a legalização <strong>de</strong> seus vínculos amorosos e/ou afetivos e/ou familiares. O próprio uso das<br />

normas eclesiásticas po<strong>de</strong>rão ser os indicadores <strong>de</strong>ssas escolhas. Nas Constituições Primeiras<br />

do Arcebispado da Bahia (VIDE, 2010), há a indicação dos critérios a serem atendidos pelos<br />

nubentes para po<strong>de</strong>rem contrair matrimônio, <strong>de</strong>ntre estes critérios foram elencados<br />

impedimentos, ou seja, fatores anteriores ao matrimônio que <strong>de</strong>veriam impedir por sí a<br />

realização do núbio, como o parentesco em 1º e 2º grau. Entretanto, apesar da instituição dos<br />

impedimentos, a mesma Constituição elenca a possibilida<strong>de</strong> dos nubentes conquistarem as<br />

chamadas dispensas matrimoniais junto a Igreja para contrair o matrimônio. Em seus estudos,<br />

Moreira (2014) e Santos (2011) localizaram a realização <strong>de</strong> matrimônios com as dispensas,<br />

permitindo assim que casamentos entre pessoas da mesma família que seriam proibidos<br />

pu<strong>de</strong>ssem ocorrer sob o pagamento <strong>de</strong> multas e penitências.<br />

Um outro fator que chama a atenção na literatura da família brasileira no século XIX a partir<br />

dos registros eclesiais são os chamados raptos que, apesar <strong>de</strong> não serem permitidos, aparecem<br />

na documentação analisada por Santos (2011) a partir da segunda meta<strong>de</strong> do século XIX.<br />

Para a compreensão da temática a ser abordada será utilizado autoras como Sheila <strong>de</strong> Castro<br />

Faria para problematizar a história da família; Calos Bacellar (2006) para enten<strong>de</strong>r as fontes e<br />

seu uso. E os trabalhos das autoras Amanda Brito Sena (2014) e Rosimila Justiniano dos<br />

Santos (2011) sobre a família no século XIX um abordando as formas <strong>de</strong> família, outro a<br />

dinâmica da socieda<strong>de</strong> alcobacense.<br />

Para a realização do estudo, além do diálogo com a literatura, serão analisadas as relações<br />

matrimoniais forjadas na Igreja Matriz São Bernardo <strong>de</strong> Alcobaça em meados do século XIX<br />

<strong>de</strong> modo a privilegiar as relações conjugais a partir das fontes eclesiásticas. As fontes<br />

eclesiásticas terão um papel fundamental na pesquisa, estes documentos tem sido<br />

consi<strong>de</strong>rados relevantes para a historiografia, principalmente para a construção da história da<br />

família e da <strong>de</strong>mografia histórica.<br />

Os registros eclesiais permitem lançar um olhar sobre práticas e costumes do período colonial<br />

e imperial. Sua riqueza <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes varia <strong>de</strong> matriz para matriz pois po<strong>de</strong>m ser observadas


186<br />

diferenças entre os assentos <strong>de</strong> casamento. Os registros eclesiais são oriundos do labor <strong>de</strong> um<br />

pároco, e este <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> no ato da tessitura do documento as características mais específicas a<br />

serem ou não lançadas no registro. Nos estudos <strong>de</strong> Moreira (2014) são i<strong>de</strong>ntificados que as<br />

<strong>de</strong>scrições mais minuciosa nos assentos <strong>de</strong> casamentos po<strong>de</strong> ter sido influenciada pela classe<br />

social dos nubentes, logo os registros que estavam relacionados à elite eram mais <strong>de</strong>scritivos.<br />

Apesar da riqueza das fontes, elas nem sempre se apresentam em bom estado <strong>de</strong> conservação<br />

o que impossibilita por vezes o <strong>de</strong>senvolvimento da pesquisa. Além do estado físico <strong>de</strong><br />

preservação da documentação, po<strong>de</strong>mos citar o acesso às mesmas como um empecilho, pois<br />

por se constituírem em acervo particular, por vezes as fontes ficam obscuras por séculos nas<br />

instituições <strong>de</strong> guarda, sem o olhar atento do pesquisador sobre as mesmas.<br />

Em relação as fontes eclesiais <strong>de</strong> batismo, matrimônio e óbito, é possível encontrar on line 37<br />

inúmeras séries documentais para diversas regiões do Brasil, disponibilizada pelos mórmons<br />

que fizeram a microfilmagem e a digitalização <strong>de</strong> muitos <strong>de</strong>sses documentos, no intuito <strong>de</strong><br />

possibilitar aos seus membros construírem a árvore genealógica <strong>de</strong> suas famílias. Apesar<br />

<strong>de</strong>ste trabalho, os mórmons não chegaram em todas as instituições arquivísticas religiosas,<br />

como é o caso da Diocese Teixeira <strong>de</strong> Freitas / Caravelas, cuja documentação ainda se<br />

encontra disponível unicamente no acervo da cúria e <strong>de</strong> algumas paróquias.<br />

Além da página Family Search, há outros diretórios <strong>de</strong> pesquisa, como o Arquivo Distrital <strong>de</strong><br />

Vila Real, o Arquivo Histórico da Comarca do Rio das Mortes – Minas Gerais, o Arquivo<br />

Público do Estado <strong>de</strong> São Paulo, o Ce<strong>de</strong>plar-FACE-UFMG e a própria organização católica<br />

através do Dioceses no Brasil, entre outros, que muito contribuem pra a divulgação da<br />

documentação a ser investigada pela pesquisa histórica.<br />

O projeto <strong>de</strong> pesquisa em andamento do qual esta revisão é resultante propõe investigar as<br />

relações sociais estreitadas no ato matrimonial na vila <strong>de</strong> Alcobaça, Bahia, em meados do<br />

século XIX. Buscar-se-á, também, compreen<strong>de</strong>r essas relações e investigar quais os possíveis<br />

que se <strong>de</strong>senvolveram, e as heranças culturais que herdamos do período a ser estudado para<br />

contribuir com a construção da história local e regional.<br />

Referências Bibliográfica<br />

BACELLAR, Carlos. O uso e o mau uso dos arquivos. In: PINSKY, Carla Bassanezi (Org.).<br />

Fontes Históricas. 2.ed. São Paulo: Contexto, 2006.<br />

FARIA, Sheila <strong>de</strong> Castro. <strong>História</strong> da Família e Demografia Histórica. In: CARDOSO, Ciro<br />

Flamarion e VAINFAS, Ronaldo. Domínios da <strong>História</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora Campus,<br />

1997.<br />

37<br />

No site https://familysearch.org/ há diretórios <strong>de</strong> buscas por período, região ou sujeito.


187<br />

HOOIJ, Elias. São Bernardo <strong>de</strong> Claraval – Seu Tempo: e Alcobaça – BA – seu povo, sua<br />

<strong>História</strong>. Jan.2002.<br />

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Histórico dos Municípios:<br />

Alcobaça – Ba. Disponível em: http://www.cida<strong>de</strong>s.ibge.gov.br/xtras/home.php. Acesso em<br />

28 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2016 às 13:26.<br />

MOREIRA, Uerisleda Alencar. LAÇOS AFETIVOS E FAMILIARES: relações parentais<br />

legitimadas nos ritos católicos em Caravelas, Ba, entre 1840 e 1860. Dissertação (Mestrado).<br />

Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia, Programa <strong>de</strong> Pós Graduação Stricto Sensu em <strong>História</strong><br />

Regional e Local, Departamento <strong>de</strong> Ciências Humanas Campus V, 2014.<br />

SAID, Fábio M. <strong>História</strong> <strong>de</strong> Alcobaça – Bahia (1772-1958). São Paulo: edição do autor,<br />

2010.<br />

SANTOS, Rosimila Justiniano dos. Estratégias matrimoniais: Dinâmicas <strong>de</strong> Famílias<br />

Alcobacenses nos anos 1880 a 1900. Monografia (graduação). Universida<strong>de</strong> do Estado da<br />

Bahia, Departamento <strong>de</strong> Educação Campus X, 2011.<br />

SENA, Amanda Brito. Na alegria e na tristeza, na história e no contexto: <strong>de</strong>poimentos e<br />

representação sobre o casamento em Teixeira <strong>de</strong> Freitas – Ba nos últimos 60 anos.<br />

Monografia (graduação). Universida<strong>de</strong> do Estado da Bahia, Departamento <strong>de</strong> Educação<br />

Campus X, 2014.<br />

SLENES, Robert W. Na Senzala uma Flor: esperanças e recordações na formação da família<br />

escrava, Brasil, século XIX. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Fronteira, 1999.<br />

VIDE, Dom Sebastião Monteiro da. Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia.<br />

São Paulo: Edusp, 2010.

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