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TRANSFOBIA<br />

O assistente social trans Lion Marcos Ferreira e Silva, especialista<br />

em Infância e Direitos Humanos, acr<strong>ed</strong>ita que é o mercado de trabalho<br />

é competitivo e muito cruel, mesmo que uma pessoa trans<br />

seja formada e tenha toda competência <strong>para</strong> o cargo pretendido,<br />

pois é comum a empresa “achar complicado ter uma pessoa trans<br />

como funcionária”. Segundo o especialista, um dos entraves é<br />

questão do nome social e o uso do banheiro. “Por isso a importância<br />

da retificação do nome, pois o nome social é um recurso <strong>para</strong><br />

o reconhecimento de uma identidade. Mas o ideal é ter o registro<br />

modificado quando solicitado”, orienta.<br />

Servidor público de Anápolis, Lion disse que não precisou bater<br />

de porta em porta nas empresas a procura de oportunidade de trabalho.<br />

Por esse motivo as coisas <strong>para</strong> ele ser tornaram mais amena.<br />

“Isso não quer dizer que não sofro nenhum tipo de discrim<strong>in</strong>ação.<br />

No local de trabalho por <strong>in</strong>crível que pareça pouquíssimas vezes<br />

sofri transfobia por parte de colegas. Sou privilegiado. Mas sofri<br />

transfobia (e a<strong>in</strong>da sofro) no meu grupo social, em que muitos me<br />

viraram as costas e não “aceitaram” m<strong>in</strong>ha transição”.<br />

MORTE NO BRASIL<br />

O Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no<br />

mundo. Pesquisa realizada pelo grupo Grupo Gay da Bahia<br />

(GGB), mais antiga associação de defesa dos homossexuais<br />

e transexuais do Brasil, <strong>in</strong>dica que em 2016 foram 127,<br />

um a cada 3 dias. A expectativa de vida deles é de 35 anos,<br />

menos da metade da média nacional, que é de 75.<br />

Uma das tristes história é da travesti Dandara dos Santos,<br />

42, assass<strong>in</strong>ada em 15 de fevereiro em Fortaleza. Ela foi<br />

espancada e assass<strong>in</strong>ada por um grupo de jovens num bairro<br />

da periferia de Fortaleza (CE). Um dos agressores gravou o<br />

espancamento, os p<strong>ed</strong>idos de ajuda de Dandara e seus últimos<br />

m<strong>in</strong>utos de vida. Vitória Holanda, <strong>in</strong>spetora da polícia<br />

civil e amiga de <strong>in</strong>fância de Dandara, <strong>in</strong>vestiga o caso.<br />

Para Vitória, Dandara foi espancada até a morte por causa<br />

de sua sexualidade. “A figura dela como homossexual é o<br />

que pesou mais <strong>para</strong> eles a executarem. No vídeo eu não<br />

tenho dúvida alguma de que foi homofóbico”. Os acusados<br />

estão presos em uma delegacia de polícia.<br />

A morte de Dandara aponta que um grupo vem sendo<br />

dizimado e a<strong>in</strong>da de forma cruel. O Monitoramento da R<strong>ed</strong>e<br />

Nacional de Pessoas Trans do Brasil (R<strong>ed</strong>e Trans Brasil)<br />

aponta que, apenas neste ano, 25 travestis e transexuais<br />

foram assass<strong>in</strong>ados no país esse ano.<br />

Outro levantamento do GGB aponta que 2016 foi o ano<br />

com o maior número de assass<strong>in</strong>atos da população LGBT<br />

(lésbicas, gays, bissexuais e transexuais), desde o <strong>in</strong>ício da<br />

pesquisa, há 37 anos. Foram 347 mortes. Goiás ocupa o<br />

sexto lugar nesse rank<strong>in</strong>g, com 15 mortes. São Paulo lidera<br />

a lista, registrando 49 assass<strong>in</strong>atos. Mas o próprio GGB<br />

ressalta que os números são subnotificados, já que faltam<br />

estatísticas oficiais.<br />

O relatório é feito com base em notícias e <strong>in</strong>formações que<br />

chegam ao conhecimento do grupo. A população de travestis<br />

e transexuais correspondeu a 42% das mortes, num<br />

total de 144 vítimas. De acordo com a organização, as pessoas<br />

trans são as mais vitimizadas. O risco de elas serem<br />

assass<strong>in</strong>adas é 14 vezes maior em relação a gays. “Antes<br />

do assass<strong>in</strong>ato de Dandara, aconteceram muitos casos tão<br />

cruéis quanto e os marg<strong>in</strong>ais estão soltos. Estamos cansadas<br />

de ser massacradas”, afirma a presidente da Associação<br />

de Travestis do Ceará, T<strong>in</strong>a Rodrigues, que ressalta que as<br />

trans vivem a violência e a discrim<strong>in</strong>ação no cotidiano.“Vamos<br />

<strong>para</strong> a escola e n<strong>in</strong>guém quer a gente lá, nem os alunos,<br />

nem os professores”, diz, na cobrança por mais oportunidades.<br />

A crueldade e repercussão da morte de Dandara, gravada em<br />

vídeo que circula nas r<strong>ed</strong>es sociais, joga luz sobre o combate<br />

à transfobia. Em todo o país, grupos LGBT cobram do<br />

poder público a aprovação de projetos e políticas sociais<br />

que garantam os direitos dessa população marg<strong>in</strong>alizada.<br />

O caso também ganhou visibilidade <strong>in</strong>ternacional e atraiu<br />

<strong>para</strong> a periferia de Fortaleza equipes de TV e de jornais dos<br />

Estados Unidos e da Europa. A pr<strong>in</strong>cipal das lutas entre os<br />

militantes no Brasil é a crim<strong>in</strong>alização da transfobia e da<br />

homofobia.<br />

Depois de oito anos em tramitação, o projeto de lei da<br />

Câmara dos Deputados (PLC 122/06) que dispõe sobre o<br />

tema foi arquivado em 2014, sem conseguir aprovação. O<br />

texto def<strong>in</strong>e crimes resultantes de discrim<strong>in</strong>ação ou preconceito<br />

de gênero e orientação sexual e encontra resistência,<br />

sobretudo, entre parlamentares da bancada religiosa. “Esse<br />

preconceito faz parte das estruturas sociais, marcados pelo<br />

machismo e o patriarcado. Até agora não vimos nada, nenhuma<br />

m<strong>ed</strong>ida estruturante que nos reconheça como sujeitos<br />

de direito”, afirma o coordenador de projetos do Grupo de<br />

Resistência Asa Branca (Grab), Dário Bezerra, um dos mais<br />

antigos grupos LGBT do Brasil.<br />

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