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A PROVA DA EXISTÊNCIA DE DEUS 88<br />
— que esses mesmos sentidos não podem ter a<br />
sensação de si mesmos;<br />
— que o sentido interior percebe não só os objetos<br />
corporais por intermédio dos exteriores, mas percebe<br />
até mesmo esses sentidos;<br />
— enfim, que a razão conhece tudo isso e conhece-se<br />
a si mesma;<br />
— visto que todos esses conhecimentos tornam-se<br />
objeto de ciência.<br />
Aí estão evidências, não te parece assim?<br />
Ev. Com efeito, assim me parece.<br />
Ag. Pois bem, vejamos, agora: Qual a questão cuja<br />
ambicionada solução nos fez percorrer tão longa caminhada?<br />
Capítulo 5<br />
O sentido interior, juiz e guia<br />
dos sentidos exteriores<br />
11. Ev. Pelo que me recordo, das três questões que nos<br />
propusemos no início do atual diálogo (11,3,7), ao traçarmos<br />
o plano desta nossa discussão, a primeira é justamente<br />
esta da qual tratamos agora, a saber: como poderíamos<br />
chegar, sem deixarmos de aderir com fé muito firme e<br />
inquebrável, à prova racional da existência de Deus?<br />
Ag. Tu o relembras com exatidão. Mas desejo que te<br />
recordes também, com diligência, que ao te perguntar eu<br />
se conhecias, com certeza, a tua própria existência, pareceu-te<br />
que conhecias não apenas isso, mas ainda mais<br />
duas outras realidades (o viver e o pensar).<br />
Ev. Recordo-me igualmente disso.<br />
Ag. Pois bem, considera, no momento, a qual dessas<br />
três realidades podem pertencer os objetos dos sentidos<br />
89 INICIO DA ASCENSÃO A DEUS<br />
corporais, isto é, em que categoria de realidades, na tua<br />
opinião, é preciso classificar toda ordem de conhecimentos<br />
adquiridos pelos sentidos, seja o da vista, seja o de<br />
qualquer outro órgão corporal. Porventura, na categoria<br />
das coisas que unicamente existem, ou mesmo nas que<br />
existem, vivem e, além disso, são inteligentes?<br />
Ev. Na categoria das coisas que somente existem.<br />
Ag. E o próprio sentido, em qual das três categorias<br />
está ele, no teu parecer?<br />
Ev. Na dos seres vivos.<br />
Ag. Assim sendo, qual dos dois, por conseguinte,<br />
julgas ser melhor: o sentido ou o objeto que o sentido<br />
percebe?<br />
Ev. Evidentemente, o sentido.<br />
Ag. E por qual motivo?<br />
Ev. Porque o ser que também goza da vida é melhor<br />
do que aquele que só existe.<br />
O princípio de subordinação<br />
12. Ag. Pois bem! E aquele sentido interior que, conforme<br />
nossas buscas anteriores, está abaixo da razão e nos é<br />
também comum com os animais, será que hesitarias a<br />
antepô-lo ao sentido pelo qual percebemos os corpos e que<br />
já reconheceste ser preferível ao corpo, ele mesmo?<br />
Ev. Não hesitaria de forma alguma.<br />
Ag. Mas quisera também ouvir de ti por qual motivo<br />
não o hesitarias. Posto que não poderás pretender classificar<br />
esse sentido interior no género dos que possuem a<br />
inteligência, mas unicamente classificá-lo entre as coisas<br />
que existem e vivem, embora privadas de inteligência.<br />
Isso porque ele também encontra-se entre os animais que<br />
são carentes de inteligência.<br />
Assim sendo, desejo saber por que antepões o sentido<br />
interior aos sentidos exteriores, visto que ambos perten-