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O Livre Arbítrio - Agostinho

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A PROVA DA EXISTÊNCIA DE DEUS<br />

92<br />

De nenhum modo poderia fazê-lo, se tudo não estivesse<br />

submetido a seu juízo.<br />

Ev. E evidente.<br />

Ag. Portanto, acima da natureza — que apenas existe,<br />

sem viver nem compreender, como acontece com os<br />

corpos inanimados — vem a natureza que não somente<br />

existe, mas que também vive, sem contudo ter a inteligência,<br />

como acontece com a alma dos animais; e por sua vez,<br />

acima dessa última vem aquela natureza que ao mesmo<br />

tempo existe, vive e entende, aquela que é a alma racional<br />

do homem.<br />

Sendo assim, crês que em nós, isto é, entre esses<br />

elementos constitutivos de nossa natureza humana, pode-se<br />

encontrar algum elemento mais nobre do que aquele<br />

que enumeramos em terceiro lugar? Porque, manifestamente,<br />

nós possuímos um corpo e também uma alma<br />

que anima o corpo e é causa de seu desenvolvimento.<br />

Dois elementos que também vimos nos animais. Enfim, a<br />

mais, temos um terceiro elemento, que por assim dizer é<br />

como a cabeça ou o olho de nossa alma. A menos que se<br />

encontre um nome mais adequado para designar a nossa<br />

razão ou inteligência, faculdade que a natureza dos animais<br />

não possui. Vê, pois, eu te peço, se podes encontrar<br />

na natureza do homem algo mais excelente do que a<br />

razão. 16<br />

Ev. Não encontro absolutamente nada que possa ser<br />

melhor.<br />

Ultima etapa — acima da razão, só Deus<br />

14. Ag. Pois bem! O que dirias se pudéssemos encontrar<br />

alguma realidade, cuja existência não só se conhecesse,<br />

mas também fosse superior à nossa razão? Hesitarias,<br />

qualquer que fosse essa realidade, afirmar ser. ela<br />

Deus?<br />

93<br />

INÍCIO DA ASCENSÃO A DEUS<br />

Ev. Não, de imediato. Se eu pudesse descobrir algo<br />

superior à parte mais excelente de minha natureza, eu<br />

não a chamaria logo Deus. Porque a mim não agrada<br />

chamar de Deus aquele a quem minha razão é inferior,<br />

mas sim aquele a quem ser algum é superior.<br />

Ag. E justamente assim. E é Deus mesmo que deu à<br />

tua razão tão piedoso e verdadeiro sentimento, a respeito<br />

dele. Pergunto-te porém: se não encontrasses nada acima<br />

de nossa razão a não ser o que é eterno e imutável,<br />

hesitarias chamá-lo de Deus? Pois os corpos são mutáveis,<br />

tu o sabes, e a vida pela qual os corpos são animados, em<br />

meio à variedade de seus estados, mostra com evidência<br />

que essa vida está sujeita a mutações. E até a própria<br />

razão, por seu lado, que por vezes se esforça por chegar à<br />

verdade, por vezes, não — por vezes a atinge e por vezes,<br />

não — mostra-se seguramente estar sujeita a mutações.<br />

Se pois, sem a ajuda de órgão algum corporal, nem do ta to,<br />

nem do paladar, nem do olfato, do ouvido ou dos olhos,<br />

nem por sentido algum que seja inferior a essa dita razão;<br />

mas por si mesma, ela percebe algo de eterno e imutável,<br />

é necessário que a dita razão se reconheça, ao mesmo<br />

tempo, inferior a essa realidade e que esse Ser seja o seu<br />

Deus. 17<br />

Ev. Quanto a mim, certamente, reconheceria como<br />

Deus esse ser do qual se teria provado que nada existe de<br />

superior.<br />

Ag. Está entendido. Pois bastar-me-á, então, mostrar<br />

a existência de tal realidade que, ou bem aceitarás<br />

como Deus; ou bem, caso haja outro ser acima dela,<br />

concordarás que esse mesmo ser é verdadeiramente<br />

Deus. Assim, haja ou não algum ser superior a essa realidade,<br />

será evidente que Deus existe, desde que, com a ajuda<br />

desse mesmo Deus, eu tiver conseguido demonstrar, como o<br />

prometi, a existência de uma realidade superior à razão. 18<br />

Ev. Demonstra, pois, o que me prometeste.

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