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Revista LiteraLivre 4ª edição (versão 1)

4ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 4nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar

4ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 4nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar

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<strong>LiteraLivre</strong> nº 2<br />

O Domingo dos Erros<br />

Gê Marquish<br />

Foi difícil, mas consegui um assento no ônibus. Até então não me<br />

preocupara em observar as pessoas, porém tornou-se impossível não<br />

notar as aparências e atitudes singulares.<br />

Uma mulher falava sem parar exibindo sua dentadura desigual e<br />

cheia de falhas. Num dado momento um dente desprendeu-se de sua<br />

boca caindo na cabeça de um homem sentado à sua frente. Este por<br />

sorte usava chapéu. O calor era intenso e um senhor abriu o tampão do<br />

teto do ônibus. Puro azar; uma ave surgiu e bicou - lhe com tamanha<br />

voracidade que arrancou um pedaço do seu polegar, causando desespero<br />

ao homem que berrava mostrando o dedo mutilado sem que as pessoas<br />

lhe dessem atenção.<br />

Um anão ficou entalado na catraca e o cobrador nada fazia para<br />

liberta - lo, enquanto as pessoas que pretendiam passar apenas<br />

murmuravam coisas que não pude compreender. Então notei que as<br />

orelhas do cobrador eram enormes e lhe caiam pelas faces dando-lhe um<br />

aspecto pavoroso. E ninguém havia notado, ou faziam questão de<br />

dissimular, não encarando tão inverossímil personagem.<br />

O pássaro voltou a pôr a cabeça pelo tampão ainda aberto, e de<br />

seu bico caíram algumas gotas de sangue. Alguém fechou o respiradouro<br />

com um baque.<br />

A certa altura um casal de velhos entrou pela porta da frente e no<br />

ponto seguinte desceu pela janela.<br />

Só então notei que a meu lado estava sentado um enorme cão<br />

negro. Ele usava um relógio de ouro, e a todo momento o consultava,<br />

depois sacudindo a cabeça afirmativamente.<br />

Perdi a noção do tempo, notando, entretanto, que a viagem se<br />

prolongava demasiadamente. Eu fazia o caminho de volta do trabalho e<br />

conhecia bem o trajeto, porém não reconhecia aquelas ruas estreitas e<br />

sinuosas nem seus prédios sombrios de paredes emboloradas com as<br />

janelas todas iguais, mostrando pessoas de fisionomias tristes, que nos<br />

acenavam melancolicamente.<br />

O ônibus se tornava mais e mais veloz e agora já não parava para<br />

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