Censores em Acao - Robert-Darnton

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3. Um billet de censure impresso datado de 28 de fevereiro de 1751, assinado por Malesherbes, ordenando que um censor, De Boze, examinasse o manuscrito intitulado “Lettre sur les peintures d’Herculanum”. No pé da página, De Boze redigiu um jugement datado de 2 de março de 1751, atestando que o manuscrito era digno de uma permissão tácita ou de um privilégio. A nota no alto da folha indicava que devia receber uma permissão tácita, e o número no topo o identificava para o registro na “feuille des jugements”.
O secretário de Malesherbes preenchia o nome do censor, o título do manuscrito, a data e, no alto da página, no lado esquerdo, o número do pedido. Esse número, com a informação correspondente, era inscrito num registro chamado de livre sur la librairie. Depois de receber o manuscrito acompanhado pelo billet de censure, o censor verificava o texto, marcava com suas iniciais cada página lida (a menos que decidisse recusar o manuscrito, o que o dispensava de marcar as folhas com suas iniciais) e anotava quaisquer alterações que julgasse necessárias. Em casos óbvios que recebiam sua aprovação, muitas vezes redigia seu “julgamento”, como era conhecido, na parte de baixo do billet de censure, que então devolvia para Malesherbes. Este é um típico julgamento positivo: Nada encontrei senão [texto] razoável e decente nesta pequena obra sobre a pintura de Herculaneum cuja impressão pode ser autorizada antes por um privilégio formal, se for solicitado, do que por uma permissão tácita. 39 Em casos mais complicados, o censor mandava seu julgamento na forma de uma carta para Malesherbes. Podia também apresentar uma opinião oral e discutir o caso em minúcias com ele durante a sessão de trabalho para censores, conhecida como bureau de jeudi (comissão de quintafeira), que também ocorria na casa de Malesherbes. De todo modo, um julgamento era uma troca de informações privada entre Malesherbes e um censor, a qual por vezes tinha um tom informal e se estendia de maneira considerável. Uma aprovação, em contraste, era o aceite formal de um pedido de um privilégio, em geral publicado juntamente com o privilégio no livro impresso. Os censores tendiam a usar uma linguagem mais sucinta e cautelosa quando redigiam aprovações. Normalmente as enviavam, com seu julgamento, para a residência de Malesherbes, onde sua equipe (talvez ele usasse apenas um secretário e um escrivão ou copista) supervisionava o passo seguinte do processo. 40 Guardavam uma cópia da aprovação para seus arquivos e produziam outra cópia, conhecida como feuille (folha), para ser enviada ao guardião dos selos, que afinal infundia ao documento toda a força da lei, marcando-o com o “grande selo” (grand sceau) à sua disposição e emitindo um privilégio semelhante àquele citado no início deste capítulo. O guardião dos selos devolvia a aprovação selada (feuille scellée) com o privilégio para a mesa do diretor, local no qual ela podia ser retirada numa audiência de quintafeira pelo livreiro ou, após 1777, pelo autor (os éditos sobre o comércio de livros de 30 de agosto de 1777 permitiram explicitamente que os autores obtivessem privilégios em seu próprio nome, como havia acontecido algumas vezes anteriormente, e permitiam que vendessem seus livros impressos). O livreiro tinha de pagar uma taxa de 36 livres e vinte sous — uma soma um tanto volumosa, equivalente a quase um mês de salário de um trabalhador não especializado. Em seguida, levaria a feuille scellée e o privilégio ao gabinete administrativo (chambre syndicale) da guilda dos livreiros de Paris para fazer o registro. Depois que o escrivão da guilda tivesse copiado o texto inteiro do privilégio no livro de registro, o livreiro adquiria o direito exclusivo de reproduzir o texto por um determinado período, em geral pelo menos dez anos. Então ele podia levar o manuscrito para ser impresso, ou por um mestre impressor da guilda (em princípio, a impressão estava restrita a
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