Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
que os interrogadores, afinal, trouxeram Maillard, o porteiro da casa do marquês de Prye, e<br />
conseguiram quebrar as defesas. Ele admitiu que tinha montado um depósito clandestino na casa<br />
do marquês, <strong>em</strong> Paris. Abastecia os mascates parisienses, que vendiam de porta <strong>em</strong> porta, e havia<br />
obtido seu estoque <strong>em</strong> Versalhes: 45 ex<strong>em</strong>plares vieram de Mazelin e 25 de Mad<strong>em</strong>oiselle<br />
Bonafon, que devia receber três livres por ex<strong>em</strong>plar vendido. (Um livre, a moeda corrente mais<br />
comum, equivalia aproximadamente a um dia de trabalho de um trabalhador não qualificado <strong>em</strong><br />
1750.) O produto fornecido por Bonafon incluía a chave explicativa, escrita à mão por ela mesma.<br />
A confissão de Maillard municiou o comandante-geral da polícia com a informação de que<br />
precisava <strong>em</strong> seu terceiro interrogatório de Mad<strong>em</strong>oiselle Bonafon. De início, manteve aquela<br />
informação oculta, enquanto lhe fazia as perguntas de costume sobre a chave explicativa e recebia<br />
as negativas de s<strong>em</strong>pre. Então partiu para o ataque.<br />
Mad<strong>em</strong>oiselle Bonafon conhecia certo Maillard, porteiro do marquês de Prye?<br />
Ela o vira uma vez, com a Madame de Prye, <strong>em</strong> Versalhes.<br />
Alguma vez havia escrito para Maillard e enviara a ele ex<strong>em</strong>plares de Tanastès?<br />
Não.<br />
Ela estava mentindo. Ele sabia muito b<strong>em</strong> que ela mandara 25 ex<strong>em</strong>plares para Maillard e estava envolvida na r<strong>em</strong>essa de<br />
outros 25, na expectativa de ganhar três livres a cada ex<strong>em</strong>plar vendido.<br />
Nesse ponto, o último bastião da defesa de Mad<strong>em</strong>oiselle Bonafon desmoronou e ela não teve<br />
outro recurso senão confessar, omitindo o maior número possível de informações.<br />
Sim, ela confessou, era verdade: tentara ganhar algum dinheiro com os ex<strong>em</strong>plares que continuaram <strong>em</strong> seu poder. Ela os<br />
entregara a um criado do príncipe Constantin, que os fizera passar pela alfândega s<strong>em</strong> dificuldade, dentro da carruag<strong>em</strong> do<br />
príncipe.<br />
Ela mandara uma chave explicativa do livro na mesma r<strong>em</strong>essa?<br />
Sim, não podia negar. Maillard precisava da chave para vender o livro; por isso a escreveu de próprio punho e entregou para<br />
Mazelin levar para Maillard — mas com a condição de que a chave serviria apenas para Maillard estar ciente do assunto, e não<br />
para ser distribuída com os livros.<br />
Então Marville apresentou uma folha de papel coberta de letras escritas à mão. Era aquela a<br />
chave?<br />
Sim, ela confessou; aquela era a folha de papel que mandara para Maillard, escrita por ela mesma. Tudo o que pôde dizer <strong>em</strong> sua<br />
defesa era que nunca chegara a ganhar dinheiro com o livro.<br />
Deixando de lado aquela desculpa, Marville repreendeu duramente a acusada.<br />
“Fez ver à prisioneira que, desde sua detenção, ela havia seguido o procedimento sist<strong>em</strong>ático de admitir alguns fatos levantados<br />
contra ela e negar outros.” Era culpada de produzir e distribuir o tipo de literatura mais desrespeitoso e perigoso que existe.<br />
Tentara enriquecer, caluniando a Coroa. E podia contar que ficaria na prisão até quando aprouvesse à Coroa, para satisfação de<br />
sua graça.