Censores em Acao - Robert-Darnton

infligir novos impostos a seus súditos. A guerra em si desandou numa sucessão de desastres,
culminando na derrota de Rossbach, o desbaratamento das forças combinadas franco-austríacas por
Frederico II, no dia 5 de novembro de 1757. Longe de reagir com sangue-frio a tais calamidades, o
governo pareceu entrar em pânico. No dia 16 de abril de 1757, o Conselho do Rei publicou um
decreto ameaçando punir com a morte qualquer um que escrevesse, imprimisse ou vendesse obras
que simplesmente tendessem a agitar as emoções em geral (émouvoir les esprits). 106
Por essa época, a agitação provocada pela Encyclopédie tinha proporcionado aos inimigos dos
philosophes um alvo particularmente vulnerável. Jesuítas, jansenistas e um enxame de polemistas
haviam denunciado as impiedades e heterodoxias dos dois primeiros volumes daquela obra de
forma tão veemente que o Conselho do Rei a condenara em 1752, embora sem proibir a publicação
dos volumes subsequentes. De fato, a condenação produziu pouco efeito, a não ser o de aumentar
as vendas: as assinaturas dispararam para 4 mil. Isso representava uma fortuna: 1,12 milhão de
livres, ao preço da assinatura original de 280 livres (mais tarde, chegou a 980 livres, o que fez da
Encyclopédie um dos livros mais caros e, provavelmente, mais lucrativos na história editorial
francesa antes do século XIX). 107 Malesherbes era especialmente sensível aos aspectos econômicos
da indústria do livro. 108 Privilegiava a adoção de permissões tácitas a fim de impedir que capitais
vazassem pelas fronteiras da França, rumo a editoras estrangeiras. Graças à sua proteção, a
publicação da Encyclopédie prosseguiu sem interrupção até o volume 7, que veio a público em
novembro de 1757. Oito meses depois, irrompeu a tempestade em torno de L’Esprit. Helvétius não
havia colaborado com a Encyclopédie, mas em sua denúncia contra a literatura do Iluminismo o
procurador-geral do Parlamento associou os dois livros como prova de uma conspiração para minar
a Igreja e o trono. O Parlamento persistiu nessa linha de ataque, embora tenha poupado a
Encyclopédie da queima de livros do dia 10 de fevereiro de 1759, proibindo todas as vendas da
Encyclopédie e indicando uma comissão para investigar a obra. Malesherbes barrou com sucesso
essa investida, mas apenas assumindo o encargo da supressão do livro. No dia 8 de março, um édito
do Conselho do Rei revogou o privilégio da Encyclopédie. Quatro meses depois, um decreto real
exigiu que seus editores reembolsassem 72 livres a cada um dos assinantes e Malesherbes ordenou
que a polícia desse uma busca no quartel-general de Diderot a fim de confiscar todos os papéis
daquele empreendimento colossal. Ao mesmo tempo que defendia sua própria autoridade, o
Estado parecia ter optado por uma variedade rigorosa de censura pós-publicação. 109
Antes da batida policial, porém, Malesherbes preveniu Diderot para que levasse seus escritos
para um local seguro. Diderot respondeu que não sabia onde poderia esconder tanto material num
prazo tão curto. Malesherbes lhe fez o favor de esconder boa parte dos textos em sua própria
residência. Para o mundo exterior, a Encyclopédie tinha sido destruída, mas Diderot continuou a
editá-la em segredo durante os seis anos seguintes, trabalhando com os remanescentes do grupo de
colaboradores que não haviam desertado; e os últimos dez volumes de texto foram publicados
juntos em 1765 sob a falsa chancela editorial de Neuchâtel. Nessa altura, a França havia entrado
num período de paz, as controvérsias jansenistas tinham se esgotado, as discussões entre a Coroa e