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paradoxal: os adolescentes são<br />
exigidos demais e permitidos<br />
demais. Nunca eles foram tão<br />
priorizados e nunca foram tão<br />
cobrados em performances,<br />
disciplina, criatividade, felicidade,<br />
sucesso e etc.”, ressalta<br />
Marimpietri.<br />
Em seu canal no You Tube, Marimpietri<br />
costuma abordar uma<br />
série de assuntos que envolvem<br />
a trabalhosa relação entre pais e<br />
filhos, sobretudo, temas ligados<br />
à educação, adolescência associados<br />
aos contextos contemporâneos,<br />
como bullying e novas<br />
tecnologias. Em suas conversas,<br />
inclusive, o psicólogo costuma<br />
observar e chamar a atenção<br />
para uma significativa diferença<br />
entre autoridade e autoritarismo.<br />
O especialista reforça: “Autoridade<br />
é diferente de autoritarismo.<br />
A primeira se refere a um<br />
pacto simbólico silencioso, uma<br />
aposta do desejo dos pais que<br />
ajuda muito esses filhos a se desenvolverem.<br />
Autoritarismo é<br />
quando usamos força demais<br />
para submeter alguém à nossa<br />
lógica ou lei: isso é violento,<br />
desnecessário e ineficaz”.<br />
O CAMINHO PARA UM<br />
DIÁLOGO SAUDÁVEL<br />
Como, então, seria possível<br />
construir positivamente um<br />
convívio com a indispensável<br />
autoridade? Recorrendo a um<br />
ditado popular, “falar é fácil”,<br />
mas, quando os pais se veem<br />
diante da série de mudanças<br />
físicas e psíquicas associadas<br />
à adolescência, percebem o<br />
quanto é desafiador estabelecer<br />
uma ponte saudável. Para o psicólogo<br />
e especialista em Saúde<br />
Mental, Thiago Monteiro, muitas<br />
vezes, esse movimento se<br />
evidencia no adolescente com<br />
um rompimento de suas antigas<br />
afinidades familiares e com<br />
identificações aos seus novos<br />
grupos sociais. Essa prática é<br />
natural, necessária e importante<br />
para a construção da identidade<br />
dos jovens. Entretanto, em<br />
muitos casos, traz diversos obstáculos<br />
na abertura de diálogos,<br />
o que cria um desafio enorme<br />
para os pais. “O nível com o<br />
qual esse vínculo será afetado<br />
irá variar de acordo com a relação<br />
previamente estabelecida<br />
naquele contexto familiar”, ressalta<br />
Monteiro. Tais mudanças<br />
no sistema familiar podem, em<br />
muitos casos, não ser encaradas<br />
com naturalidade ou facilidade<br />
pelos pais. Fala-se, até mesmo,<br />
numa certa carência percebida<br />
como um vazio. De acordo<br />
com Monteiro, os pais se dão<br />
conta de que ao focarem tanto<br />
e por tanto tempo apenas<br />
nos seus papeis de cuidadores,<br />
acabaram por negligenciar outras<br />
vertentes do seu ser. Consequentemente,<br />
“quando os<br />
filhos começam a isentá-los<br />
dessa responsabilidade, eles se<br />
deparam com a insegurança da<br />
realidade de retomarem as suas<br />
vidas, de focarem novamente<br />
em si mesmos como indivíduos”,<br />
destaca o psicólogo.<br />
Sandy Najar, diretora da Revista<br />
Hot Days, assegura que,<br />
na relação com sua filha Emilie<br />
(15 anos) há uma preocupação<br />
em estabelecer um vínculo<br />
de confiança e amizade sem<br />
pretender assumir o papel de<br />
melhor amiga. “Eu quero ser<br />
a melhor amiga que uma mãe<br />
pode ser para uma filha”, afirma.<br />
Dentre as principais dificuldades<br />
no relacionamento,<br />
reforça a árdua tarefa de compreender<br />
as mudanças de humor<br />
atreladas à ansiedade, ao<br />
imediatismo tão característicos<br />
da idade. Porém, conta que<br />
procura criá-la para que seja<br />
independente e alcance seus<br />
objetivos: “Eu cobro que ela<br />
seja uma boa aluna e principalmente<br />
uma boa pessoa em um<br />
tempo em que<br />
não se tem tanta<br />
tolerância em<br />
relação ao outro.<br />
"ESSES GAROTOS<br />
E GAROTAS JÁ<br />
ACORDAM COM<br />
GADGETS NA<br />
MÃO, ANSIOSOS<br />
POR MAIS UMA<br />
POSTAGEM NAS<br />
REDES SOCIAIS"<br />
Tento ensinar<br />
que ela precisa<br />
ter paciência,<br />
persistência e<br />
amor ao próximo.<br />
Não cobro<br />
o extremo, mas<br />
cobro dela a verdade sempre”.<br />
Em alguns momentos, admite<br />
que precisou privar o uso do<br />
celular, mas houve uma compreensão<br />
por parte da filha.<br />
Esse tempo offline, para a mãe<br />
de Emilie, é essencial. “Acho<br />
que eles são tão cobrados pelos<br />
grupos conectados às redes sociais,<br />
que cansam mentalmente.<br />
Eles não curtem o presente,<br />
ficam no digital. Minha filha<br />
já aprendeu um pouco, já tem<br />
essa consciência de que é mais<br />
importante realizar do que visualizar<br />
apenas”, afirma Sandy.<br />
A administradora Carol Brandão,<br />
mãe de Rodrigo (16 anos),<br />
concorda sobre a importância<br />
de compreender a necessidade<br />
do filho adolescente de caminhar<br />
sozinho. “Dá um aperto<br />
no coração, uma saudade do<br />
tempo em que cabiam no nosso<br />
colo e que nosso abraço curava<br />
toda e qualquer dor e decepção”,<br />
relembra. Por outro lado,<br />
Carol se orgulha das atitudes<br />
do filho, do quanto ele amadureceu<br />
e aprendeu os princípios<br />
mais importantes que o tornará<br />
um adulto<br />
bem resolvido<br />
e responsável.<br />
“Sempre deixei<br />
ele muito à<br />
vontade, ouvi<br />
suas opiniões.<br />
Inclusive agora,<br />
quando ele começa<br />
a pensar<br />
qual profissão<br />
seguir, reforço que sua escolha<br />
seja por algo que sinta prazer<br />
em fazer. Caso contrário, se<br />
tornará um sacrifício”, afirma.<br />
Carol destaca, principalmente,<br />
que busca ser franca nas suas<br />
conversas e mostrar a vida real.<br />
Ela acredita que, por terem sidos<br />
pais jovens, ela e o marido<br />
conseguiram estabelecer com<br />
Rodrigo uma relação tranquila.<br />
Como consequência de certa<br />
proximidade entre gerações, há<br />
uma facilidade maior na compreensão<br />
dos desejos e dúvidas<br />
próprios do mundo atual, caracterizado<br />
pela efemeridade.<br />
“Sempre dei espaço para dar<br />
limites. A liberdade que damos<br />
nos mostra por onde devemos<br />
guiá-lo”, assegura.<br />
Para o especialista Marimpietri,<br />
é imprescindível sustentar<br />
o inegociável, a frustração e o<br />
limite: “Adolescentes com pais<br />
pouco claros estão em maior<br />
risco”. Fórmula pronta não<br />
existe, porém, o segredo estaria<br />
justamente na construção diária<br />
dessa relação de parceria entre<br />
adultos e jovens, que deve ser<br />
estabelecida desde a infância.<br />
Um dos caminhos para os pais<br />
seria escutar o que os filhos adolescentes<br />
têm a dizer com palavras<br />
e gestos a fim de criar uma<br />
relação em meio às diferenças.<br />
NEGOCIANDO COM AS<br />
NOVAS TECNOLOGIAS<br />
Na escola, em casa, na rua, entre<br />
os amigos, os tablets, smartphones<br />
se tornaram verdadeiras<br />
próteses de todos nós.<br />
Quando se fala especialmente<br />
da iGeneration ou geração<br />
Z, a dose de bom senso com<br />
relação ao uso desses equipamentos<br />
e dessas informações<br />
tem sido bastante questionada<br />
pelos pais. Afinal, a tarefa<br />
de mediar e controlar o uso<br />
dessas novas interfaces tem<br />
sido bastante intensa. Esses<br />
garotos e garotas já acordam<br />
com gadgets na mão, ansiosos<br />
por mais uma postagem nas<br />
redes sociais, ansiosos para<br />
saberem o que está acontecendo<br />
nesse universo tão rico<br />
de informações acessíveis e<br />
atraentes capaz de confundir<br />
vidas real e virtual. É essen-<br />
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