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dedicados ao contato com<br />
o espírito. “Esse homem de<br />
caráter religioso trabalharia<br />
pelos princípios da união entre<br />
os homens. Talvez, num<br />
sentido amplo, isso proporcionasse<br />
um ‘errar menos’,<br />
porém, na prática, como se<br />
costuma dizer, não é a religião<br />
ou religiosidade que tem favorecido<br />
o homem com uma<br />
vida com menos conflito”,<br />
ressalta a psicanalista.<br />
A SABEDORIA<br />
ESTÁ NA AÇÃO<br />
Uma pesquisa inédita aponta<br />
que 44% dos brasileiros seguem<br />
mais de uma religião.<br />
O estudo - apresentado em<br />
junho deste ano no XI Congresso<br />
de Medicina e Espiritualidade<br />
(Mednesp), no<br />
Riocentro – buscou avaliar o<br />
comportamento religioso e espiritual<br />
do brasileiro. A prova<br />
dessa crença híbrida é o número<br />
ampliado de pessoas que<br />
se declararam espiritualistas: o<br />
índice passou de 0,03% para<br />
4,4%. Este aumento reflete o<br />
ambiente intercultural nacional,<br />
que estimula o sincretismo<br />
religioso – tão forte na Bahia<br />
– assim como a compreensão<br />
de diferentes credos. A pesquisa<br />
revela ainda um espelho<br />
dessa realidade contraditória<br />
do ser humano, percebendo<br />
a crença como um caminho<br />
para a sabedoria da ação.<br />
"E por que reparas tu<br />
no argueiro que está<br />
no olho do teu irmão,<br />
e não vês a trave<br />
que está no teu olho?<br />
Ou como dirás a teu<br />
irmão: Deixa-me<br />
tirar o argueiro do<br />
teu olho, estando<br />
uma trave no teu?<br />
Hipócrita, tira<br />
primeiro a trave<br />
do teu olho, e então<br />
cuidarás em tirar o<br />
argueiro do olho do<br />
teu irmão." (Mateus 7:3-5)<br />
Quando questionada sobre a<br />
tendência do homem de julgar<br />
e cobrar do outro aquilo<br />
que não consegue aplicar a<br />
sua própria vida, a Bispa Paula<br />
Leite, da Igreja Sara Nossa<br />
Terra, defende que há uma<br />
diferença entre religião e estilo<br />
de vida. “Eu acredito que<br />
quem é cristão, como religião<br />
apenas, pode viver de máscaras.<br />
Mas, um cristão genuíno,<br />
verdadeiro, não. Então, quem<br />
ele é na igreja é quem ele é<br />
em casa ou no trabalho”, afirma.<br />
Assistir palestras, filmes,<br />
ler livros, rezar, andar com a<br />
Bíblia Sagrada “embaixo do<br />
braço” – como muitos costumam<br />
falar – não é suficiente,<br />
uma vez que a verdadeira<br />
espiritualidade é alcançada<br />
nas ações empregadas nas pequenas<br />
e grandes coisas. Essa<br />
autorreflexão independe de fé<br />
religiosa ou convicções. Voltando<br />
aos pensamentos de<br />
Cibele Julio Augusto, quem<br />
não se conhece acaba não conhecendo<br />
suas qualidades, potencialidades<br />
e seus limites, é<br />
controlado pelos outros e imita<br />
os outros, além de não compreender<br />
a vida e os outros.<br />
CULTIVANDO<br />
O SENTIDO DA VIDA<br />
Crer significa acreditar, tomar<br />
como verdadeiro, confiar,<br />
aceitar. Compreende-se que o<br />
percurso para fazer da crença<br />
uma prática real é semear seu<br />
coração e, consequentemente,<br />
seus atos e seus diálogos com<br />
positividade. É escolher a palavra<br />
certa para um diálogo saudável,<br />
é se colocar no lugar do<br />
outro para apreender os sentimentos<br />
dele, sem julgar. Outras<br />
palavrinhas chave são generosidade,<br />
gentileza, desapego<br />
e discernimento. Esta última<br />
é fundamental para que sua<br />
crença, em tempos tão contraditórios,<br />
não seja influenciada<br />
pelo que o outro acredita.<br />
Nessa busca pela bonança do<br />
corpo e da alma, o cristão da<br />
Igreja Batista, José Carlos de<br />
Sousa, propõe, em especial, a<br />
reflexão das mensagens de Jesus<br />
no Livro Sagrado. Citando<br />
o Salmo 1: 1-6, José Carlos<br />
destaca: “Bem-aventurado<br />
o homem que não anda segundo<br />
o conselho dos ímpios,<br />
nem se detém no caminho<br />
dos pecadores, nem se assenta<br />
na roda dos escarnecedores”.<br />
Para Marília Reis, católica e<br />
messiânica, a crença e o que<br />
a gente faz nos rituais de todos<br />
os dias servem como uma<br />
âncora para essa ligação com<br />
o divino. “Quando acordo e<br />
invoco São Miguel Arcanjo e,<br />
à noite, quando agradeço, eu<br />
me sinto preparada. Quando<br />
eu coloco meu ohikari (medalha<br />
circular usada por baixo<br />
das roupas) - porque sou<br />
messiânica também - e rezo<br />
pelos meus antepassados,<br />
eu tenho confiança que vou<br />
conseguir a<br />
libertação da<br />
dificuldade<br />
que estou vivendo”,<br />
afirma<br />
Marília. Para<br />
além dos diversos<br />
credos,<br />
concorda-se<br />
que é no exercício que se cresce<br />
na fé e no conhecimento espiritual.<br />
“Eu costumo dizer que a<br />
fé é como um músculo. Quanto<br />
mais você a exercita, mais ela<br />
cresce”, reforça a Bispa Paula.<br />
Padre Fábio de Melo, em um<br />
dos seus programas Direção<br />
Espiritual – exibido em 01 de<br />
março de 2017 – recebe uma<br />
carta de uma telespectadora<br />
anônima que afirma sentir<br />
um medo de que tudo possa<br />
dar errado. Ela afirma saber<br />
que tem potencial para ser feliz,<br />
e até incentiva outras pessoas<br />
a não terem medo; mas,<br />
ao mesmo tempo, reconhece<br />
que tem uma tristeza sem<br />
sentido. Ao ler a carta, Padre<br />
Fábio chama a atenção para a<br />
mensagem da telespectadora,<br />
que reflete um sentimento<br />
que é de todos. “Quando ou-<br />
“EU COSTUMO<br />
DIZER QUE A FÉ<br />
É COMO UM<br />
MÚSCULO. QUANTO<br />
MAIS VOCÊ A<br />
EXERCITA, MAIS ELA<br />
CRESCE”<br />
vimos uma história assim, de<br />
alguma maneira, todos nós<br />
nos incluímos. Quem não<br />
tem que viver esse desafio diário?<br />
É como tomar água. A<br />
água que você tomou ontem<br />
não serve para a sede de hoje”,<br />
afirma. Padre Fábio cita ainda<br />
o psicoterapeuta<br />
Viktor<br />
Frankl, ressaltando<br />
que<br />
o sentido da<br />
vida precisa<br />
ser cultivado<br />
constantemente.<br />
Segundo<br />
Padre Fábio, o grande<br />
prejuízo humano é se acostumar<br />
ao que que se tem de<br />
ruim. “É a indignação que me<br />
move em direção à mudança.<br />
Se eu me adapto ao meu ciúme,<br />
à minha vaidade, à minha<br />
inveja, à minha intolerância,<br />
esqueça”, afirma.<br />
É exatamente a partir do<br />
reconhecimento e da não<br />
banalização dos seus próprios<br />
defeitos que é possível<br />
autoconhecer-se e, assim, alimentar<br />
verdadeiramente sua<br />
crença através da comunhão<br />
cotidiana. Como diz a canção:<br />
É sobre cantar e poder<br />
escutar mais do que a própria<br />
voz (...). Não é sobre chegar<br />
no topo do mundo e saber<br />
que venceu. É sobre escalar e<br />
sentir que o caminho te fortaleceu<br />
(Trem bala, Ana Vilela).<br />
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