Revista LiteraLivre - 6ª edição
6ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 6nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar
6ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 6nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar
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<strong>LiteraLivre</strong> nº 6 – novembro de 2017<br />
apartamento do professor onde passaram a morar através de um “aluguel”,<br />
sem contrato, arranjo feito por um amigo. Lá já estavam há dois meses,<br />
quando Walter chegou e ao abrir a porta percebeu que algo estranho<br />
acontecia, até ir ao banheiro e dar com Zainab dentro da banheira. O susto de<br />
ambos é grande, aumentado com a chegada de Tarek que agride Walter,<br />
pensando ser ele o invasor. Esclarecido o equívoco a saída do casal é a via<br />
normal. Situação que precisava logo ser resolvida e que gerou sentimentos de<br />
vergonha e subserviência nos clandestinos. A diversidade dos estatutos sociais<br />
de cada um deles demarca a intransitividade nas relações.Até então, além do<br />
susto, Walter é a imagem da indiferença sobre o futuro do casal. Não<br />
demonstrou nenhum sentimento e aceitou, sem hostilidade, mas também sem<br />
condescendência, o engano e a saída da dupla. Walter é um sexagenário<br />
enviuvado, com uma vida tediosa, não gosta do que faz, leciona apenas um<br />
curso ao qual não se dedica, justifica suas parcas atividades docentes pelo<br />
tempo que precisa para escrever seu quarto livro, mas também não usa o<br />
tempo livre para isto. Como revelará mais tarde finge que está ocupado, finge<br />
que trabalha, finge que escreve. Tentou estudar piano, (sua esposa era<br />
pianista), mas não tem nem aptidão nem apetência por esta atividade. Sua<br />
quarta professora propõe até lhe comprar o piano, porque ele parece propenso<br />
a desistir. É significativa a metáfora usada por ela para mostrar a posição<br />
correta das mãos no teclado “dedos dobrados como um túnel (...) dê espaço<br />
para o trem passar através do túnel”. Walter não entende a metáfora, ele é um<br />
homem intransitivo, pouco propenso a qualquer fluidez, suas mãos não abrem<br />
passagem, seus dedos estão esticados sobre o teclado. Veio a Nova York, a<br />
contragosto, para apresentar um trabalho que, aparentemente, teria escrito<br />
com uma colega, agora impossibilitada de vir. Ele titubeia, procura desculpas<br />
para evitar esta viagem porque, na verdade, não o escreveu, apenas assinou<br />
junto com a colega e se sente incompetente para fazê-lo. Seus argumentos,<br />
todavia, não são convincentes e ele se vê obrigado a comparecer.Nos é<br />
revelado então um homem envelhecido que não se interessa nem mesmo pela<br />
sua própria vida, que não tem nenhuma razão para lutar por ela. Como<br />
esperar dele sensibilidade para se preocupar com a vida de seus semelhantes,<br />
sobretudo, quando estes outros não são assim tão semelhantes? O que ocorre<br />
neste encontro é apenas um incidente de percurso. Esperava Walter chegar ao<br />
seu apartamento de Nova York, cansado da viagem, encontrar um lugar onde<br />
pudesse dormir e amanhã rumar para o malfadado congresso. É de incômodo e<br />
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