Revista LiteraLivre - 6ª edição
6ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 6nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar
6ª Edição da Revista LiteraLivre, uma revista virtual e ecológica, criada para unir autores que escrevem em Língua Portuguesa em todo o mundo. 6nd Edition of LiteraLivre Magazine, a virtual and ecological magazine, created to bring together authors who write in Portuguese throughout the world. Http://cultissimo.wixsite.com/revistaliteralivre/comoparticipar
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<strong>LiteraLivre</strong> nº 6 – novembro de 2017<br />
de desconforto o encontro inesperado com o casal. Problema que se resolve<br />
rapidamente frente a nenhuma resistência dos clandestinos em reconhecerem<br />
o erro, providenciarem a imediata arrumação de seus poucos objetos e<br />
deixarem o apartamento.Todavia, esquecem para trás um porta-retratos, com<br />
uma foto dos dois. Walter, sabe-se lá movido por que razão, talvez até para se<br />
ver livre das tralhas do dois, vai até a rua para entregar o porta retratos, vê<br />
que eles estão ao léu e convida-os a permanecerem no apartamento até<br />
conseguirem outro lugar. A partir dessa iniciativa, aparentemente filantrópica,<br />
a indiferença e o incômodo de Walter começam a se transformar em empatia.<br />
Zainab faz o jantar, e convida Walter a jantar com eles. É cerimoniosa a<br />
partilha dos espaços. Tarek já tinha comparecido ao serviço de imigração,<br />
pediu o visto de permanência como refugiado e aguarda resposta estando<br />
agora na situação de clandestino. Ele ensaiava sua percussão quando é<br />
surpreendido por Walter que retorna de mais uma seção do evento. O músico<br />
se desculpa por estar tocando e sem calças e Walter lhe diz que não precisa<br />
parar de ensaiar, demonstrando que está assegurado a Tarek um território, não<br />
só físico, mas também simbólico. Interessa-se pela atividade do músico que<br />
como Walter aprecia a música clássica. Uma primeira experiência comum – a<br />
música – estabelece aquilo que pode ser chamado de “união em pontilhado”,<br />
uma tênue redução das idiossincrasias. Tarek o convida a pegar um tambor e<br />
também experimentar tocar. A princípio receoso Walter arrisca-se a uma<br />
percussão, batendo forte, ao que Tarek orienta para que seja mais leve, pois<br />
ele “não está com raiva do instrumento”. Walter esboça um primeiro sorriso.<br />
Ele acompanha Tarek numa parceria meio desajeitada e, aos poucos, vai sendo<br />
seu companheiro pelas ruas, já se soltando mais, tocando nas praças,<br />
carregando nas costas o instrumento, embora ainda de terno e gravata. A<br />
relação estabelecida já não é só de generosidade, mas sim de camaradagem.<br />
Pode-se reconhecer, entre eles, uma certa familiaridade que torna a vida mais<br />
tolerável. Zainab, é ainda muito arredia, intimidada pelo convívio recente com<br />
Walter. As diferenças existem e não são ignoradas pelo trio. Sabem-se<br />
diversos, a assimetria é marcante, mas agora não apenas se suportam. A<br />
alteridade os aproxima num caráter complementar. Tarek e Zainab tem abrigo<br />
e um amigo. Walter percebe que o piano pode não ser seu instrumento ideal.<br />
Tocar com Tarek está imprimindo mais leveza e cor à sua vida desbotada.<br />
Walter batuca o compasso da percussão no carro, quando está na escola,<br />
marca com o corpo, numa gestualidade que dispensa o verbal. Já se pode<br />
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