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Um auge <strong>de</strong><br />
<strong>amor</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong><br />
Comentando afrescos <strong>de</strong> Giotto, Dr. Plinio afirma entre<br />
outras coisas que logo após o nascimento <strong>de</strong> Jesus, Maria<br />
Santíssima observou o olhar lúcido e cheio <strong>de</strong> <strong>amor</strong> que Ele<br />
<strong>de</strong>itava sobre Ela. O Filho tomava conhecimento da fisionomia<br />
<strong>de</strong> sua Mãe e Ela <strong>de</strong> seu Filho. Foi um momento sublimíssimo<br />
da vida <strong>de</strong> ambos. Po<strong>de</strong>mos imaginar o auge <strong>de</strong> <strong>amor</strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Deus</strong> a que Nossa Senhora chegou nesse momento.
As núpcias entre São José<br />
e a Santíssima Virgem<br />
O<br />
afresco pintado por Giotto na Cappella<br />
<strong>de</strong>gli Scrovegni, em Pádua, representando<br />
o casamento <strong>de</strong> São José com a Santíssima<br />
Virgem, tem como fundo um pequeno edifício<br />
que, segundo a imaginação do pintor, correspon<strong>de</strong><br />
a uma parte do Templo <strong>de</strong> Jerusalém.<br />
Nossa Senhora com porte ereto e virginal<br />
O sacerdote está revestido <strong>de</strong> uma capa vermelha,<br />
<strong>de</strong>baixo da qual há uma espécie <strong>de</strong> camisa e<br />
uma meia-túnica que <strong>de</strong>sce da cintura até o chão.<br />
É um ancião já <strong>de</strong> cabelos brancos, abundantemente<br />
barbado, numa atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> pieda<strong>de</strong> e recolhimento,<br />
que não visa ser a <strong>de</strong> um santo, mas <strong>de</strong> um prelado<br />
digno, respeitável, pois não tem em torno da cabeça<br />
a auréola <strong>de</strong> santida<strong>de</strong>. Ele está exercendo funções<br />
31 na cerimônia.<br />
I<strong>de</strong>ntificamos São José pelo fato <strong>de</strong> ele estar com<br />
a mão direita passando uma aliança a Nossa Senhora,<br />
e com a esquerda segurando uma vara com flores.<br />
Era o tal bastão que floresceu, indicando ser<br />
ele o esposo escolhido pela Providência para Maria<br />
Santíssima.<br />
Segundo uma antiga tradição, São José é<br />
apresentado como muito mais idoso do que Nossa<br />
Senhora. Daí notar-se na pintura a diferença <strong>de</strong><br />
ida<strong>de</strong> entre ambos. Ela ainda mocinha e com o<br />
recato, a compostura <strong>de</strong> uma pessoa toda virginal<br />
está vestida com uma túnica <strong>de</strong> um cor-<strong>de</strong>-rosa<br />
muito claro, quase se diria branco. O colorido não<br />
é bem exatamente o da meia-túnica do sacerdote,<br />
nem <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> meia-túnica <strong>de</strong> São José,<br />
mas são cores muito claras todas elas, que falam<br />
a respeito <strong>de</strong> virginda<strong>de</strong>, pureza, <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za <strong>de</strong>
sentimentos levada ao mais alto grau. Nossa<br />
Senhora está cingida com uma coroa <strong>de</strong> flores.<br />
Todo o seu porte é ereto e virginal.<br />
São José toma um pouco o papel <strong>de</strong> esposo e <strong>de</strong><br />
pai diante d’Ela. Sua atitu<strong>de</strong> já é um tanto protetora<br />
em relação a Nossa Senhora, que Se <strong>de</strong>ixa proteger.<br />
Ela está muito bem, apesar <strong>de</strong> sua aparente timi<strong>de</strong>z<br />
junto ao sacerdote respeitável e a São José.<br />
Em volta encontram-se as pessoas que estão<br />
assistindo às bodas. Não sei que papel terá<br />
no quadro esse personagem vestido <strong>de</strong> um<br />
ver<strong>de</strong> muito claro. Alguns estão comentando o<br />
acontecimento, vestidos em trajes semelhantes<br />
aos romanos, mas com coloridos que não parecem<br />
ser <strong>de</strong> tecidos romanos, são mais orientais. Tudo<br />
indica que na mente <strong>de</strong> Giotto esta cena se<br />
<strong>de</strong>senrola no Templo <strong>de</strong> Jerusalém.<br />
Cortejo dos Esposos<br />
Realizado o casamento, organiza-se um cortejo com os esposos. É uma vista do cortejo<br />
que, com certeza, se encaminha para a festa. Nota-se que todos estão adornados, vestidos<br />
para uma solenida<strong>de</strong>, cabelos muito bem penteados.
A Visitação<br />
Comunicações místicas do Menino<br />
Jesus com sua Mãe virginal<br />
Esse outro afresco representa Nossa Senhora<br />
chegando à casa <strong>de</strong> Zacarias e sendo acolhida<br />
por Santa Isabel. A Santíssima Virgem está muito<br />
bondosa, muito meiga. Mas Santa Isabel, sobretudo,<br />
está respeitosa. Notem como ela faz uma<br />
inclinação e contempla Nossa Senhora, maravi-<br />
lhada. Esta olha comprazida para sua prima, mas<br />
não Se inclina. É natural: cada uma <strong>de</strong>las trazia<br />
em si um menino; mas no claustro <strong>de</strong> Santa Isabel<br />
não se encontrava senão o precursor do Menino<br />
que estava no claustro virginal <strong>de</strong> Maria.<br />
Sem dúvida é uma honra imensa ter concebido<br />
São João Batista – Nosso Senhor o comparou a<br />
Elias –, mas conceber o Homem-<strong>Deus</strong> não há<br />
comparação com nada!<br />
33
Nascimento do Menino Jesus<br />
No afresco representando o Nascimento do Menino Jesus,<br />
São José está dormindo, as ovelhinhas estão ali perto, o<br />
burrico também e os Anjos enchem o céu, cantando a glória<br />
<strong>de</strong> <strong>Deus</strong>. Os pastores estão ouvindo o cântico celeste.<br />
“Glória a <strong>Deus</strong> no mais alto dos Céus, e paz na Terra aos<br />
homens <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong>” (Lc 2, 14). É exatamente o que a<br />
Liturgia, no dia 24 para 25 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, <strong>de</strong>verá estar cantando.<br />
É noite. Nossa Senhora acaba <strong>de</strong> dar à luz o Menino-<br />
-<strong>Deus</strong> <strong>de</strong> um modo misterioso e maravilhoso. A atitu<strong>de</strong><br />
d’Ela é <strong>de</strong> uma pessoa inteiramente sadia, que está aconchegando<br />
melhor seu Divino Filho numa manjedoura.<br />
Mas com um <strong>de</strong>sembaraço <strong>de</strong> movimentos que não é o <strong>de</strong><br />
uma mãe da qual acaba <strong>de</strong> nascer sua criança. Compreen<strong>de</strong>-se:<br />
o processo <strong>de</strong> nascimento é dolorido e difícil em virtu<strong>de</strong><br />
do pecado original, mas em Nossa Senhora não. Ela<br />
foi virgem antes, durante e <strong>de</strong>pois do parto. Esse nascimento<br />
se <strong>de</strong>u <strong>de</strong> modo milagroso, <strong>de</strong> maneira a não represen-<br />
tar um esforço para Ela. Ali está seu Filho,<br />
e Ela, como quem tivesse acordado<br />
<strong>de</strong> um sono brando, abrisse um pouco os<br />
olhos para ver o Menino, e vai dormir dali<br />
a pouco <strong>de</strong> novo.<br />
De fato, é uma cena lindíssima, que<br />
empolga! Po<strong>de</strong>-se imaginar a situação<br />
<strong>de</strong> Maria Santíssima ao ver, pela primeira<br />
vez, o fruto do Divino Espírito Santo<br />
nas suas próprias entranhas. E que fisionomia<br />
tinha o Homem-<strong>Deus</strong> que acabava<br />
<strong>de</strong> nascer d’Ela! O Menino Jesus tomava<br />
toda a atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma criança <strong>de</strong>ssa<br />
ida<strong>de</strong>. Ele teve, durante toda a vida, a atitu<strong>de</strong><br />
própria às ida<strong>de</strong>s que foi percorrendo,<br />
até os 33 anos com que Ele morreu.<br />
Porém, como Ele possuía a natureza<br />
humana ligada à divina pela união<br />
hipostática, em uma só Pessoa, teve<br />
<strong>de</strong> fato uma inteligência plena <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />
primeiro instante em que sua Santíssima<br />
Mãe O concebeu. Já no claustro<br />
materno Ele rezava, oferecia a <strong>Deus</strong><br />
reparações, O adorava e implorava<br />
pelos homens. O Menino Jesus começou<br />
a sua vida inteiramente consciente, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro<br />
momento em que passou a existir.<br />
De maneira que essa Criança, com o todo <strong>de</strong> um bebê,<br />
teve, entretanto, incontáveis comunicações místicas,<br />
talvez diretas, não se sabe como, com sua Mãe virginal<br />
já <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o período da gestação. Nossa Senhora<br />
sabia que seu Filho era uma Criança inteiramente inteligente.<br />
Mas olhava para Ele, um Menininho, a quem<br />
a Segunda Pessoa da Santíssima Trinda<strong>de</strong> estava unida<br />
hipostaticamente.<br />
Maria Santíssima compreendia ser lúcido e cheio <strong>de</strong><br />
<strong>amor</strong> o olhar que Ele <strong>de</strong>itava n’Ela, e que os dois estavam<br />
Se conhecendo: o Filho tomava conhecimento da<br />
fisionomia <strong>de</strong> sua Mãe, e Ela <strong>de</strong> seu Filho. Foi um momento<br />
sublimíssimo da vida <strong>de</strong> ambos. Po<strong>de</strong>mos imaginar<br />
o auge <strong>de</strong> <strong>amor</strong> <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> a que Nossa Senhora<br />
chegou nesse momento!
Serenida<strong>de</strong> medieval que<br />
exprimia a graça <strong>de</strong> <strong>Deus</strong><br />
De acordo com uma bela<br />
tradição, os magos vindos do<br />
Oriente eram reis. Por isso, no<br />
afresco <strong>de</strong> Giotto vemos esses<br />
dois reis em pé, atrás, com coroa<br />
ou um dia<strong>de</strong>ma cingindo a<br />
cabeça. Eles vêm trazendo os<br />
seus presentes, recebidos pelo<br />
Menino Jesus no colo <strong>de</strong> Nossa<br />
Senhora, que está sentada<br />
numa espécie <strong>de</strong> troneto sobre<br />
um estradozinho ricamente<br />
atapetado. Ela mesma está<br />
também ricamente vestida. Para<br />
receber reis tinha que Se vestir<br />
com aparato. Mais adiante<br />
há uma tribunazinha on<strong>de</strong><br />
estão vários personagens santos;<br />
nota-se isso pelas auréolas.<br />
Atrás <strong>de</strong> Nossa Senhora há um<br />
Anjo e São José.<br />
Adoração dos Magos<br />
É interessante o seguinte:<br />
um dos reis está adorando o<br />
Menino Jesus e osculando os<br />
pés d’Ele. Os dois outros monarcas estão tranquilos, comprazidos em oração diante <strong>de</strong> Nossa Senhora e <strong>de</strong> seu<br />
Divino Filho, vendo o seu companheiro <strong>de</strong> viagem, seu irmão na realeza, adorar assim o Menino. Estão contentes<br />
com tudo e esperam chegar a vez <strong>de</strong>les, sem impaciência, com essa tranquilida<strong>de</strong>, serenida<strong>de</strong> medieval que<br />
exprimia bem a presença, o espírito, a graça <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> na alma <strong>de</strong>sses personagens.<br />
Logo atrás dos três reis há um gorducho que está freando ou dando um jeito qualquer no camelo, para este<br />
não criar problemas. Esse já não tem nada do sobrenatural, do tranquilo, do sereno dos <strong>de</strong>mais; é um homem<br />
movimentado e prestando atenção em tudo, <strong>de</strong> nariz pontudo, olhos saltados e mandão. Está bem à altura <strong>de</strong><br />
tratar com camelos.<br />
35
Até o Templo tem algo <strong>de</strong> esguio e virginal<br />
Apresentação no Templo<br />
Outro afresco traz a cena da Apresentação do Menino<br />
Jesus no Templo. Vemos a Santíssima Virgem<br />
e São José <strong>de</strong> um lado, <strong>de</strong> outro o Profeta Simeão<br />
e atrás está a Profetisa Ana. Interessa principalmente<br />
a atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> São José e <strong>de</strong> Nossa Senhora. Quem<br />
apresentou ao Profeta o Menino foi Ela, que está<br />
com as mãos estendidas como quem O acaba <strong>de</strong> entregar.<br />
São José, recolhido e mo<strong>de</strong>stamente em segundo<br />
plano, acompanha a cena. Não creio que haja<br />
meios para <strong>de</strong>cifrar quem é o terceiro personagem.<br />
Uma atmosfera <strong>de</strong> santida<strong>de</strong> e pureza domina<br />
o quadro todo, a ponto <strong>de</strong> o próprio templozinho<br />
ter qualquer coisa <strong>de</strong> esguio e virginal. Notem como<br />
Giotto coloca um fundo meio azulado com numa<br />
tonalida<strong>de</strong> um tanto escura, que dá muito relevo<br />
à parte central do tema, ou seja, o Menino Jesus,<br />
o Profeta Simeão, Nossa Senhora, São José e a Profetisa<br />
Ana.<br />
Na pintura que representa a fuga para o Egito, Maria<br />
Santíssima vai montada num simples burrico, São José<br />
à frente guiando, e eles apresentam todos os sinais<br />
exteriores da pobreza. Entretanto, a dignida<strong>de</strong> d’Ela é<br />
<strong>de</strong> uma princesa; seu porte retilíneo, as costas sem a<br />
menor inflexão, a cabeça alta indicam a resolução com<br />
que Ela enfrenta os riscos da viagem, que parece estar<br />
no começo.<br />
São José vai caminhando na frente, mas atentíssimo<br />
ao que acontece com a Mãe e a Criança. Nossa<br />
Senhora não. Ela parece confiar em São José e em<br />
<strong>Deus</strong>; por isso mantém-se recolhida em oração com<br />
o Menino que está como que dormindo e agarrado à<br />
Mãe, um pouco para dar a enten<strong>de</strong>r a intimida<strong>de</strong> entre<br />
os dois, e como é cheio <strong>de</strong> propósito que Ela reze<br />
a Ele por aqueles que estão contemplando o quadro.<br />
Fuga para o Egito<br />
36
O Rei Hero<strong>de</strong>s<br />
mandou matar todas<br />
as crianças <strong>de</strong><br />
dois anos para baixo<br />
porque os Ma-<br />
Massacre dos inocentes<br />
gos tiveram a inocência<br />
<strong>de</strong> procurá-<br />
-lo, perguntando se<br />
tinha ouvido falar<br />
do Rei dos Ju<strong>de</strong>us<br />
que tinha nascido.<br />
Hero<strong>de</strong>s achou<br />
que dois reis no<br />
mesmo reino não<br />
cabiam e que, portanto,<br />
era preciso<br />
eliminar esse menino.<br />
Houve, assim,<br />
uma matança geral<br />
<strong>de</strong> inocentes. Estes<br />
foram os primeiros<br />
mártires da Igreja<br />
Católica.<br />
Por que mártires? Por uma razão muito simples: eles<br />
foram mortos por ódio à Fé, a <strong>Deus</strong>, ao Menino que<br />
lhes <strong>de</strong>ra a honra <strong>de</strong> nascerem na mesma cida<strong>de</strong> que<br />
Ele.<br />
Mortos assim, embora não tivessem consciência <strong>de</strong><br />
si mesmos, foram todos para o Céu como mártires. E<br />
são os Santos Inocentes cuja festa se celebra no dia 28<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, com um nexo, por motivos óbvios, com<br />
a festa <strong>de</strong> Natal.<br />
É interessante notar o seguinte: quando os Anjos<br />
aparecem na noite <strong>de</strong> Natal, eles cantam “Glória a <strong>Deus</strong><br />
no mais alto dos Céus, e paz na Terra aos homens <strong>de</strong><br />
boa vonta<strong>de</strong>” (Lc 2, 14). Os primeiros atos que se <strong>de</strong>senrolam<br />
a partir do Natal são cheios <strong>de</strong> luz, <strong>de</strong> bênção<br />
e <strong>de</strong> paz, é verda<strong>de</strong>, mas carregados <strong>de</strong> ameaças para o<br />
futuro.<br />
37<br />
O sangue dos primeiros mártires começa a subir ao Céu<br />
O que parece, para<br />
um espírito superficial,<br />
estar em contradição<br />
com a i<strong>de</strong>ia<br />
<strong>de</strong> “paz na Terra aos<br />
homens <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong>”,<br />
porque pareceria<br />
que os homens<br />
<strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong> não<br />
sofreriam nem perseguições,<br />
nem lutas,<br />
nem qualquer<br />
dificulda<strong>de</strong>.<br />
Dentre os pais e<br />
as mães <strong>de</strong>sses meninos,<br />
provavelmente<br />
alguns seriam homens<br />
<strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong>.<br />
Entretanto, o que<br />
eles tiveram? O morticínio<br />
<strong>de</strong> seus filhos.<br />
Uma coisa, portanto,<br />
<strong>de</strong> assustar!<br />
Vê-se numa espécie<br />
<strong>de</strong> tribuna um personagem que proclama um edito.<br />
Imediatamente lotam a cena os algozes, os executores,<br />
à procura das crianças, e as pessoas tentam se esquivar.<br />
No primeiro plano uma mulher que evi<strong>de</strong>ntemente não<br />
quer entregar o filho.<br />
Mais adiante percebem-se cenas <strong>de</strong> uma agitação e <strong>de</strong><br />
uma violência, que leva a admitir como provável que já<br />
nesse magma estão sendo mortas as primeiras crianças.<br />
O primeiro sangue <strong>de</strong> mártires começa a subir ao<br />
Céu. É uma coisa extraordinária!<br />
Alguém perguntará: “Eles não são batizados?”<br />
Essas crianças foram batizadas no próprio sangue.<br />
Constituem, portanto, as primeiras almas batizadas,<br />
<strong>de</strong>correntes da vinda <strong>de</strong> Nosso Senhor Jesus Cristo,<br />
pouco <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Ele ter nascido.
Encontro no Templo<br />
Uma resposta afirmada majestosamente<br />
Essa outra cena mostra o encontro <strong>de</strong> Jesus no<br />
Templo. Nela vê-se um aspecto interno do Templo<br />
<strong>de</strong> Jerusalém, todo meio romanizado. Por exemplo,<br />
aquela espécie <strong>de</strong> abóboda seguida <strong>de</strong> dois outros<br />
compartimentos colaterais é <strong>de</strong> estilo romano a conta<br />
inteira.<br />
Dentro do Templo, <strong>de</strong> um lado e <strong>de</strong> outro, encontramse<br />
os doutores da Lei discutindo a interpretação <strong>de</strong>sse<br />
ou daquele ponto da Escritura. Mas o Menino Jesus já<br />
Se <strong>de</strong>stacou tanto entre eles que ocupa a presidência<br />
dos sábios e está falando como verda<strong>de</strong>iro Doutor.<br />
As pessoas estão perto d’Ele pasmas com o que Jesus<br />
diz, procurando ouvi-Lo com muito interesse e<br />
aproveitando as lições que Ele dava.<br />
À esquerda, <strong>de</strong> pé, Nossa Senhora e, mais<br />
atrás, com sua vara florida, São José. A cena faz<br />
enten<strong>de</strong>r que o Santo Casal não compreendia<br />
a atitu<strong>de</strong> do Menino Jesus. Maria Santíssima<br />
está numa atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> quem pronuncia a famosa<br />
pergunta: “Meu Filho, por que agistes assim<br />
conosco?” (Lc 2, 48). Nosso Senhor parece<br />
estar dando doutoralmente – eu quase diria<br />
majestosamente – a resposta: “Por que me<br />
procuráveis? Não sabíeis que <strong>de</strong>vo estar na casa<br />
<strong>de</strong> meu Pai?” (Lc 2, 49).<br />
38
No céu chamejam raios e brilhos <strong>de</strong> glória<br />
No Rio Jordão, São João batiza Nosso Senhor Jesus Cristo. O batizado se dava na forma <strong>de</strong> um verda<strong>de</strong>iro<br />
banho e Nosso Senhor é apresentado, portanto, com uma parte do tronco <strong>de</strong>snuda por causa do banho. No<br />
céu chamejam raios e brilhos <strong>de</strong> glória.<br />
Notem a situação um tanto paradoxal: dir-se-ia que a gran<strong>de</strong> figura ali seria quem batiza, e o neófito, uma figura<br />
secundária. Mas Nosso Senhor é apresentado, apesar da gran<strong>de</strong>za <strong>de</strong> São João Batista, com uma majesta<strong>de</strong><br />
divina, uma serieda<strong>de</strong> e uma tranquilida<strong>de</strong> extraordinárias, que fazem d’Ele um verda<strong>de</strong>iro Rei e dominador.<br />
Ele não está com nenhum atributo da realeza, ao contrário, apresenta-Se com o busto <strong>de</strong>snudo. Entretanto,<br />
vejam o jeito d’Ele e a própria atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> São João Batista, como é respeitosa e até um pouco inclinada, embora<br />
segura, e em nada intimidada. No céu, a Glória <strong>de</strong> <strong>Deus</strong> transparece.<br />
Batismo <strong>de</strong> Nosso Senhor<br />
39
Bodas <strong>de</strong> Caná<br />
Nas Bodas <strong>de</strong> Caná – outro afresco presente na Cappella <strong>de</strong>gli Scrovegni –, a narração do Evangelho<br />
dá a enten<strong>de</strong>r que havia muitas pessoas, a ponto <strong>de</strong> esgotar a provisão <strong>de</strong> vinho da família, o que <strong>de</strong>u<br />
origem ao milagre da transmutação da água em vinho. Porém, para economizar espaço, Giotto representou<br />
apenas a cena central, ou seja, a mesa principal das bodas, on<strong>de</strong> se encontram Nossa Senhora,<br />
São José e Nosso Senhor Jesus Cristo que está dando or<strong>de</strong>m para a água se transmutar em vinho.<br />
É interessante ver como o pintor imaginou a cena: as várias talhas alinhadas nas quais estava a<br />
água que se transmutaria em vinho.<br />
Por se tratar <strong>de</strong> uma festa, os anfitriões queriam ocultar a ru<strong>de</strong>za da pedra e por isso esten<strong>de</strong>ram<br />
sobre a pare<strong>de</strong> uma cortina <strong>de</strong> bom tecido, suspensa a uma altura maior do que a <strong>de</strong> um homem<br />
comum. Esse era um costume frequente na Ida<strong>de</strong> Média.<br />
40<br />
Plinio Corrêa <strong>de</strong> Oliveira<br />
extraído <strong>de</strong> conferência <strong>de</strong> 30/11/1988