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003 - O FATO MANDACARU - MARÇO 2018 - NÚMERO 3

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Pág. 8 | DISTRIBUIÇÃO GRATUITA! O Jornal Comunitário da Zona Norte de Maringá! | Ano 01 | Edição <strong>003</strong> | Maringá, março de <strong>2018</strong><br />

Dona Dora Karatê<br />

“Minha vida é uma luta de muitos rounds...”<br />

O encontro com a equipe de O<br />

<strong>FATO</strong> <strong>MANDACARU</strong> acontece<br />

no salão de beleza de Dona Dora<br />

que fica na Rua Jalbas Rodrigues<br />

Alves - Vila Santa Isabel.<br />

Chegamos com alguns minutos<br />

de antecedência e pudemos observar<br />

a leveza de seu ser no atendimento<br />

a uma cliente.<br />

Dona Dora termina o trabalho,<br />

troca algumas palavras com a cliente<br />

e a ouve atentamente, tudo com<br />

um tom de voz baixo e sereno, depois<br />

se despede com um abraço e vem<br />

até ao ingresso para nos receber.<br />

Decidimos registrar o encontro<br />

em vídeo, pois o karatê é a luta mais<br />

branda que esta corajosa mulher<br />

já enfrentou.<br />

A entrevista pode ser vista no site:<br />

ofatomandacaru.blogspot.com.br<br />

Ligiane Ciola<br />

Quem a vê pela primeira vez pode imaginar que se trata<br />

de uma pessoa frágil até mesmo pela idade, mas é só<br />

um ledo engano. Doraci Maria Carvalho ou simplesmente<br />

Dona Dora, tem 68 anos, há 4 luta karatê e já está na<br />

faixa vermelha.<br />

Round Atual:<br />

Ligiane Ciola: Como começou<br />

essa história de praticar Karatê?<br />

Dora: Começou com a minha<br />

neta que praticava karatê na<br />

UEM. Ela não gostava de ir sozinha<br />

e me pediu para participar das<br />

aulas, foi ai que conversei com o<br />

professor Marcelo Alessandro Pereira<br />

que também é Presidente do<br />

Instituto Hagakure de Karatê-Dô<br />

Shotokan e ele me disse que eu podia<br />

participar sim, que seria bom<br />

fazer algumas aulas para experimentar.<br />

Eu fiz e não parei mais.<br />

No início eu ficava meio perdida,<br />

afinal eu já tinha 64 anos mas<br />

todo mundo lá, me deu muito apoio<br />

e não me deixaram desistir.<br />

Round 1960<br />

Ligiane Ciola: É verdade que<br />

uma das primeiras lutas que a senhora<br />

enfrentou foi contra a ditadura?<br />

Dora: Eu cheguei a Maringá<br />

em 1960 e fui estudar. Na época do<br />

golpe militar eu estava no Colégio<br />

João XXIII e participava do movimento<br />

estudantil contra a ditadura<br />

e por várias vezes quase fui presa.<br />

Me lembro de uma ocasião que<br />

tive que me esconder sob um banco<br />

de uma igreja, um milico passou<br />

pertinho de mim e não me viu, mas<br />

alguns colegas foram presos e apanharam.<br />

Hoje quando vejo as pessoas<br />

dizerem que querem a volta da ditadura,<br />

a volta dos militares, eu fico<br />

louca da vida pois<br />

nós sofríamos muito<br />

com a repressão, pois<br />

o estudante era mal<br />

visto, a sociedade<br />

não tinha liberdade<br />

de expressar-se. Só<br />

quem não viveu na pele<br />

o que nós vivemos<br />

pode dizer uma barbaridade<br />

dessas.<br />

Round 1972<br />

Ligiane Ciola: Mas depois<br />

disso sua vida mudou radicalmente,<br />

não é mesmo?<br />

Dora: Mudou sim, eu gostava<br />

muito de escrever e até ganhei o primeiro<br />

prêmio em um concurso com<br />

a matéria sobre “A VIDA DE UM<br />

PALHAÇO”, mas depois disso me<br />

casei e parei de estudar, fui morar<br />

em Curitiba.<br />

Em 1972 voltei a Maringá com<br />

um filho e mesmo assim resolvi voltar<br />

a estudar. Lutei muito para completar<br />

os meus estudos; primeiro<br />

no Colégio Brasílio Itiberê e depois<br />

no Colégio Paraná, lá é particular<br />

mas eu ganhei uma bolsa de estudos<br />

em um concurso da prefeitura<br />

e pude terminar o Cientifico em<br />

uma excelente escola.<br />

Round 1982<br />

Ligiane Ciola: E depois disso<br />

veio o vestibular?<br />

Dora: Veio sim, passei na<br />

UEM em direito mas não pude frequentar,<br />

perdi o prazo para fazer a<br />

matrícula pois a minha vida estava<br />

muito difícil naquele período, me<br />

separei e fiquei com dois filhos menores.<br />

Round 1992<br />

Ligiane Ciola: Essa foi a luta<br />

mais difícil, a senhora pensou em<br />

desistir?<br />

Dora: Fazer o que? Aí fui trabalhar,<br />

trabalhei bastante, criei meus<br />

filhos e voltei a fazer o curso de<br />

atendente de enfermagem no<br />

SENAC e de lá fui direto para a Santa<br />

Casa em 1992 e onde trabalhei 4<br />

anos e depois fui para a cardiologia<br />

do Santa Rita, lá trabalhei quase 8<br />

anos, no mesmo período ia uma vez<br />

por mês para Curitiba fazer o curso<br />

de técnico de enfermagem, com a<br />

mochila nas costas, foi muito difícil,<br />

eu pegava as matérias lá, voltava<br />

para estudar e depois ia fazer os<br />

exames.<br />

Eu já estava pensando em fazer<br />

medicina mas aí conheci o meu segundo<br />

marido. Trabalhei um tempo<br />

com ele que depois me ajudou a montar<br />

o salão. Estava indo muito bem<br />

mas tive que me mudar para Curitiba<br />

pois meu marido tinha sido<br />

transferido para lá. Na capital montei<br />

um salão e deu certo e depois de<br />

4 anos voltei para Maringá, abri o<br />

salão aqui de novo onde já estou há<br />

10 anos. A luta continua, sempre.<br />

Round de Medalhas<br />

Ligiane Ciola: Mas vamos voltar<br />

para o Karatê que está coroando<br />

todas essas vitórias na sua vida?<br />

Dora: É verdade, hoje sou muito<br />

feliz e realizada e não consigo<br />

imaginar minha vida sem o karatê.<br />

Adoro treinar e competir e já ganhei<br />

várias medalhas, uma delas é<br />

de ouro, foi uma glória, uma gratidão<br />

dentro meu coração, vou até o<br />

fim, até chegar a faixa preta.<br />

Nunca é tarde para começar,<br />

quem tem vontade deve correr<br />

atrás do seu objetivo. Tente, se não<br />

der certo pelo menos você tentou,<br />

não vai ficar frustrada por não ter<br />

tentado.■

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