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Jornal Paraná Junho 2018

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LAVOURA<br />

Nematoide, um inimigo oculto<br />

Dos R$ 35,4 bilhões de prejuízo causados no Brasil pela doença, nas diversas<br />

culturas, 1/3 das perdas se dá em cana, somando R$ 12,8 bilhões<br />

MARLY AIRES<br />

Presente em um grande<br />

número de culturas,<br />

o nematoide é<br />

especialmente problemático<br />

para a cana-de-açúcar,<br />

provocando um impacto<br />

significativo em sua produtividade,<br />

mas muitas vezes é menosprezado<br />

por ser difícil de<br />

ser visualizado ou por ter confundido<br />

seus sintomas com<br />

os de outras doenças, segundo<br />

o professor doutor da<br />

Universidade Federal de São<br />

Carlos (Ufscar), entomologista,<br />

nematologista e consultor<br />

Newton Macedo, que falou<br />

sobre o controle de nematoides<br />

em cana-de-açúcar no último<br />

dia 2 de maio, em<br />

Maringá.<br />

Dos R$ 35,4 bilhões de prejuízo<br />

causados no Brasil pelo nematoide,<br />

nas diversas culturas<br />

afetadas, 1/3 das perdas se dá<br />

em cana-de-açúcar somando<br />

R$ 12,8 bilhões, sendo um<br />

dos principais fatores limitantes<br />

para a produtividade da<br />

Há uma série de fatores que dificultam<br />

o controle do nematoide<br />

em cana-de-açúcar, segundo<br />

o entomologista, nematologista<br />

e consultor Newton<br />

Macedo. Ele diz que uma vez<br />

detectado o problema numa<br />

área, esta nunca mais estará<br />

livre. “Não dá para eliminar,<br />

mas é possível reduzir a população<br />

e manter sob controle”,<br />

ressaltou.<br />

Macedo explicou que a dificuldade<br />

ocorre porque o nematoide<br />

é difícil de detectar, sendo<br />

um verme minúsculo, com 1/3<br />

de um milímetro, não visível a<br />

cana, em um cenário onde<br />

cerca de 60% das áreas de<br />

cana estão com média e alta<br />

infestação de nematoide no<br />

Brasil, afirma Gerson Dalla<br />

Corte, gerente de produto da<br />

Adama, empresa que promoveu<br />

o evento de lançamento<br />

oficial de um nematicida para<br />

a cana-de-açúcar no Brasil.<br />

Newton Macedo disse que a<br />

perda média por nematoide é<br />

de 15,3% da produtividade da<br />

cana, mas que dependendo do<br />

nível de infestação e condições<br />

do solo, pode ser superior<br />

a 30% ou 40%. “É uma<br />

doença de difícil controle, que<br />

ataca o sistema radicular, alterando<br />

a fisiologia da planta.<br />

Além de a planta atacada não<br />

conseguir absorver água e nutrientes<br />

suficientes ao seu bom<br />

desenvolvimento, como agentes<br />

patógenos, os nematoides<br />

interagem com a planta consumindo<br />

muito da energia que<br />

esta usaria para crescer”, comentou<br />

o consultor.<br />

Por isso, ressaltou, as lavouras<br />

olho nu, além de extremamente<br />

adaptado ao ambiente e muito<br />

difícil de morrer, porque não<br />

tem sistema circulatório nem<br />

respiratório.<br />

Quando há condições adversas<br />

como o frio, inundação, temperaturas<br />

elevadas, seca, etc, o<br />

verme entra em período de latência<br />

e quando falta alimento,<br />

fêmeas se transformam em<br />

machos para procriar e garantir<br />

a posteridade. “Ele se desenvolve<br />

dentro do ovo, que é resistente,<br />

e só sai quando há<br />

condições favoráveis, quando<br />

há umidade e surgem novas<br />

Newton Macedo: “perda média é de 15,3% da produtividade da cana<br />

raízes, que é onde atacam”,<br />

disse.<br />

Também, os danos causados<br />

são facilmente confundidos<br />

com déficit hídrico, deficiências<br />

nutricionais e fisiológicas de<br />

outras origens. Há poucas opções<br />

de produtos eficientes, e<br />

os mais antigos costumam ser<br />

bastante tóxicos, prejudicando<br />

animais e ambiente, além dos<br />

custos dos produtos serem<br />

elevados, e há práticas de difícil<br />

operação, principalmente na<br />

soqueira, citou.<br />

O nematologista destacou que<br />

sofrem mais estresse hídrico,<br />

tornam-se mais vulneráveis a<br />

outras doenças, e sofrem mais<br />

com mato-competição, porque<br />

demoram para se desenvolver,<br />

exigindo mais herbicidas<br />

e tratos culturais. “Como<br />

consequência, tornam-se incapazes<br />

de expressar todo seu<br />

potencial genético. Isso sem<br />

contar o desperdício com os<br />

fertilizantes aplicados. O produtor<br />

investe em adubo para<br />

aumentar a produtividade e ao<br />

negligenciar o controle de pragas<br />

e doenças, perde não só o<br />

potencial da planta, mas, também<br />

o que investiu. São milhões<br />

de reais jogados fora”,<br />

enfatizou Macedo.<br />

O consultor citou vários experimentos<br />

feitos onde, nas parcelas<br />

em que só adubou com<br />

é importante proteger as primeiras<br />

raízes da cana planta,<br />

que são as que se desenvolvem<br />

em profundidade para<br />

buscar água, e que são fundamentais<br />

para a longevidade do<br />

canavial. E que, enquanto na<br />

cana planta o nematicida é aplicado<br />

junto com a colocação<br />

dos toletes no solo, na soqueira,<br />

deve ser feito quando<br />

houver umidade, após o retorno<br />

das chuvas.<br />

Para o controle da doença, Macedo<br />

disse que não pode contar<br />

com resistência varietal,<br />

porque não funciona, assim<br />

fósforo e potássio, mas não<br />

se usou nematicida, a produção<br />

foi bastante semelhante a<br />

da parcela plantada sem adubar.<br />

E o canavial adubado com<br />

metade da dose de fósforo e<br />

potássio, mas onde foi usado<br />

nematicida, o resultado foi superior<br />

ao onde a dose dos nutrientes<br />

foi completa, mas<br />

sem tratamento com nematicida.<br />

Doença é difícil, mas possível de ser controlada<br />

como os bionematicidas. “Para<br />

a cana, o bionematicidas não<br />

são muito viáveis porque não<br />

têm residual, a vida útil é baixa,<br />

não suportam exposição ao sol<br />

e altas temperaturas, são de difícil<br />

armazenamento e demandam<br />

múltiplas aplicações, sendo<br />

inviáveis economicamente e<br />

operacionalmente”, explicou.<br />

Para ele, a rotação é uma alternativa<br />

que atenua o problema<br />

na cana planta, mas não na soqueira,<br />

mas é uma estratégia<br />

para ser usada aliada ao uso de<br />

nematicidas químicos, que<br />

“são os mais indicados”, finalizou.<br />

6<br />

<strong>Jornal</strong> <strong>Paraná</strong>

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