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RCIA - ED. 159 - OUTUBRO 2018

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ARTIGO<br />

COOPERATIVAS DE CRÉDITO<br />

A polêmica<br />

das sobras<br />

Provavelmente já é de conhecimento de todos que<br />

não existem lucros nas cooperativas. Tudo que se<br />

é cobrado na prestação do serviço, tem a única<br />

finalidade de cobrir os custos. Essa é uma das<br />

principais características que diferencia as cooperativas<br />

das instituições financeiras comuns e cujo objetivo<br />

é a parcela de lucro, que tem se revelado cada vez<br />

mais, ser um dos componentes mais expressivos na<br />

composição do preço de sua cobrança.<br />

Nada contra o lucro. O problema é que o tamanho<br />

da parcela do lucro varia de acordo com a maior ou<br />

menor possibilidade de especulação. Quanto maior<br />

o poder de barganha do usuário, menos ele pagará<br />

pelo serviço. “Quem pode mais chora menos”. Quanto<br />

maior e poderosa a empresa usuária do serviço, maior<br />

será a possibilidade de obter uma cobrança justa pela<br />

prestação deste serviço.<br />

Entende-se por uma cobrança justa aquela que<br />

contempla os custos e logicamente a parcela relativa<br />

ao lucro, mas que esse lucro não contemple o caráter<br />

especulativo a ponto de prejudicar a competitividade<br />

do tomador deste serviço. Fato que não acontece<br />

com as pequenas empresas que pelo baixo poder<br />

de barganha, acabam pagando tarifas absurdas, se<br />

tornando vítimas da especulação do sistema financeiro,<br />

razão pela qual esses pequenos empresários veem<br />

um maior diferencial nas cooperativas. Ou seja, se<br />

compararmos com o banco, a diferença da tarifa<br />

que um pequeno empresário paga na cooperativa é<br />

significativamente menor do que a de um empresário<br />

de maior poder aquisitivo.<br />

Isso acontece porque esse empresário pelo seu alto<br />

poder de negociação, já consegue uma melhor<br />

condição no banco, consequentemente, a diferença<br />

entre o que ele paga para a cooperativa não é tão<br />

expressiva, quanto a que um pequeno empreendedor<br />

menor que se utiliza do mesmo serviço.<br />

SOBRAS - Muitos dirigentes de cooperativas defendem<br />

a ideia de que um dos pontos da excelência da<br />

administração é justamente a quantidade de sobras<br />

devolvidas aos seus cooperados logo após o<br />

Walter Francisco<br />

Orloski, diretor<br />

administrativo<br />

do Sicoob<br />

4434, agência<br />

da Avenida<br />

Barroso, em<br />

Araraquara<br />

encerramento de seus balanços. Se levarmos em conta<br />

que sobras são o excedente das cooperativas ou seja,<br />

sobras é o que o cooperado pagou a mais. E pela<br />

legislação, devem ser devolvidas proporcionalmente às<br />

operações realizadas. Os sócios que não se utilizaram<br />

dos serviços da cooperativa não serão incluídos na<br />

distribuição das sobras.<br />

Então perguntamos: será que realmente é um bom<br />

parâmetro para avaliação da administração de uma<br />

instituição cooperativa? Será que há sentido nisso,<br />

cobrar a mais para depois devolver para quem pagou?<br />

Não seria melhor cobrar menos colaborando com<br />

isso, com o aumento da produtividade principalmente<br />

daqueles pequenos empreendedores? Entretanto,<br />

o que normalmente acontece é que os associados<br />

vibram de alegria quando recebem o pomposo cheque<br />

referente à sua participação nas sobras. Lembrando<br />

que somente os associados que se utilizaram dos<br />

serviços da cooperativa é que têm direito às sobras.<br />

Temos aí então uma boa discussão.<br />

Por outro lado, as sobras têm um papel relevante<br />

quando são transferidas para a Reserva Legal<br />

passando a fazer parte do Patrimônio da cooperativa,<br />

por decisão da assembleia ou por determinação do<br />

próprio estatuto social. Os associados abrem mão<br />

de um benefício no presente para garantir uma<br />

cooperativa mais forte para as gerações futuras.<br />

De qualquer forma, sobras refletem uma boa<br />

administração do ponto de vista financeiro. O desafio<br />

é encontrar o equilíbrio entre garantir a perenidade<br />

da cooperativa sem perder de vista o seu verdadeiro<br />

propósito de fortalecer principalmente os pequenos,<br />

livrando-os da especulação financeira.<br />

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