10 de segurança, mas de medo. Não confiar em ninguém era sintoma, para andar até a esquina tinha que ser olhando para os lados. O grupo estava ali e ria e conversava e apostava no bilhar, com os olhos sempre atentos ao quartel e aos seus soldados fazendo ronda. Se estivessem parados na frente da porta do quartel como lhes era devido à função, fazendo perguntas e inquirindo a entrada, talvez fossem presos também, porque primeiro se prendia e depois se questionava. Quando dava tempo de questionar. Mas estavam dentro do bar matando hora, e ninguém desconfia de quem está dentro do bar. Ninguém vem questionar, não há nada de estranho em se reunir para comer frango frito e jogar conversa fora. O soldado não iria atravessar a rua e perguntar quem eles eram, o que queriam, levantar a voz, apontar o fuzil, dizer que era proibido. Porque no bar tudo é lícito e tudo convém. O que havia acontecido foi o seguinte: o Tenente Coronel Tarcísio Nunes Ferreira estava preso no Quartel do Boqueirão já há alguns dias. No total foram oito. Foi porque falou mal dos milicos num evento que Manfra estava. Voilà, no dia seguinte já estava nas páginas do Jornal do Brasil. O cara foi preso. Aí a imprensa foi feito louca atrás dele, atrás de alguma informação, querendo saber o que ia acontecer. Mas já que não podiam ficar batendo na porta do Quartel o dia inteiro, ou seriam presos eles mesmos, ficaram no bar, disfarçando, comendo frango, olhando de rabo de olho. Nesse ínterim, Manfra pensou até em se disfarçar de militar e invadir o local, mas se conteve. Ficou no aguardo. Quando o tenente foi solto, foram os repórteres feito gaviões atrás dele para uma entrevista, surpreendendo aos soldados todos. Então quer dizer que aquele povo jogando sinuca no bar era na verdade jornalista de olho na gente? Isso mesmo, porque, afinal, um bar é sempre muito mais que um bar.
A LUTA BEBE CERVEJA 13 AFINAL, UM BAR É SEMPRE MUITO MAIS QUE UM BAR.