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A luta bebe Cerveja

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A LUTA BEBE CERVEJA<br />

13<br />

na folha de jornal e manchar a mão de tinta já dava uma sensação de prazer indescritível,<br />

daquelas que só quem ama o que faz entende. Jornal fresco mancha a mão de tinta e isso é<br />

uma delícia.<br />

Estamos na década de 1960, também 1970, imagine só uma Curitiba com menos ares de<br />

modernidade, em que as pessoas caminhavam a passos curtos pelo centro. Já se ouviu dizer<br />

que quase não havia lugar para passar a noite em claro. O Bar Palácio era o último que<br />

fechava. Lá tinha cerveja, churrasco do tipo “filé de igreja” e Mineiro de Botas, uma sobremesa<br />

de banana, goiabada, queijo e ovo idolatrada pelos frequentadores.<br />

As mesas eram de madeira, compridas, sem toalhas, tudo muito simples, praticamente os<br />

mesmos garçons servindo com a cara amarrada desde a fundação em<br />

mil-novecentos-e-bolinha. Pela fama de fechar tarde, concentrava dezenas de intelectuais por<br />

metro quadrado - gente fina, grã-fina, finíssima, que vinha de fora comer o Churrasco<br />

Paranaense depois de assistir uma peça no Teatro Guaíra.<br />

Muito político parava por lá. Um encontro memorável é descrito por Adherbal Fortes de Sá Jr.<br />

no livro Curitiba no Tempo do Jazz, quando Lula e Fernando Henrique Cardoso sentaram no<br />

Bar Palácio e se puseram a discutir marxismo; ambos talvez nem sonhassem que seriam<br />

presidentes do país num futuro distante. Lula tinha dado as caras em Curitiba para participar<br />

de um congresso, FHC estava de passagem. Conversaram, apertaram as mãos. A coisa toda<br />

no bar, um bando de jornalista em volta. Artista, passante, gente desinteressada. Ninguém<br />

sabia que era um encontro de figuraças. O que acontece no bar é também despretensioso,<br />

só depois você percebe a importância.<br />

Mas quando se diz que bar abriga muito político, era muito mesmo, porque de certa forma o<br />

bar parece que faz parte da vida política de alguns eleitos. João Goulart, o Jango, nos tempos<br />

de glória lá pelo Rio de Janeiro, costumava despachar nos bares. Há relatos sobre isso em<br />

tudo quanto é canto, Ruy Castro registrou em A Noite de Meu Bem.<br />

Mas aí acontece que a boemia do Rio é mais óbvia, o Rio cheira à boemia, bem sabemos que

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