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A LUTA BEBE CERVEJA<br />
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na folha de jornal e manchar a mão de tinta já dava uma sensação de prazer indescritível,<br />
daquelas que só quem ama o que faz entende. Jornal fresco mancha a mão de tinta e isso é<br />
uma delícia.<br />
Estamos na década de 1960, também 1970, imagine só uma Curitiba com menos ares de<br />
modernidade, em que as pessoas caminhavam a passos curtos pelo centro. Já se ouviu dizer<br />
que quase não havia lugar para passar a noite em claro. O Bar Palácio era o último que<br />
fechava. Lá tinha cerveja, churrasco do tipo “filé de igreja” e Mineiro de Botas, uma sobremesa<br />
de banana, goiabada, queijo e ovo idolatrada pelos frequentadores.<br />
As mesas eram de madeira, compridas, sem toalhas, tudo muito simples, praticamente os<br />
mesmos garçons servindo com a cara amarrada desde a fundação em<br />
mil-novecentos-e-bolinha. Pela fama de fechar tarde, concentrava dezenas de intelectuais por<br />
metro quadrado - gente fina, grã-fina, finíssima, que vinha de fora comer o Churrasco<br />
Paranaense depois de assistir uma peça no Teatro Guaíra.<br />
Muito político parava por lá. Um encontro memorável é descrito por Adherbal Fortes de Sá Jr.<br />
no livro Curitiba no Tempo do Jazz, quando Lula e Fernando Henrique Cardoso sentaram no<br />
Bar Palácio e se puseram a discutir marxismo; ambos talvez nem sonhassem que seriam<br />
presidentes do país num futuro distante. Lula tinha dado as caras em Curitiba para participar<br />
de um congresso, FHC estava de passagem. Conversaram, apertaram as mãos. A coisa toda<br />
no bar, um bando de jornalista em volta. Artista, passante, gente desinteressada. Ninguém<br />
sabia que era um encontro de figuraças. O que acontece no bar é também despretensioso,<br />
só depois você percebe a importância.<br />
Mas quando se diz que bar abriga muito político, era muito mesmo, porque de certa forma o<br />
bar parece que faz parte da vida política de alguns eleitos. João Goulart, o Jango, nos tempos<br />
de glória lá pelo Rio de Janeiro, costumava despachar nos bares. Há relatos sobre isso em<br />
tudo quanto é canto, Ruy Castro registrou em A Noite de Meu Bem.<br />
Mas aí acontece que a boemia do Rio é mais óbvia, o Rio cheira à boemia, bem sabemos que