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Nada vai nos parar! - Dezembro 2018

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CARTA DO POVO TUPINAMBÁ DE OLIVENÇA<br />

Nós, povo Tupinambá de Olivença localizados<br />

<strong>nos</strong> municípios de Ilhéus, Una,<br />

Buerarema e São José da Vitória, no sul<br />

do Estado da Bahia, vimos através desta<br />

carta, lamentar a posição do governo<br />

brasileiro em não demarcar do <strong>nos</strong>so<br />

Território Sagrado em tempo hábil, em<br />

2001 obtivemos o <strong>nos</strong>so reconhecimento<br />

étnico pela FUNAI e assim instituído o<br />

grupo técnico para o levantamento territorial<br />

onde <strong>nos</strong> encontrávamos e estamos<br />

desde 1500, em 19 de abril de 2009 foi<br />

publicado no Diário Oficial da União o relatório<br />

circunstanciado de identificação e<br />

delimitação da TI Tupinambá de Olivença,<br />

totalizando 47.376 hectares, que a partir<br />

da publicação, se intensificou os ataques<br />

dos fazendeiros contra <strong>nos</strong>so povo, por<br />

não reconhecerem <strong>nos</strong>so direito legal ao<br />

território. No ano de 2004 começamos a<br />

retomar <strong>nos</strong>so Território pois já estávamos<br />

ficando cercados pelos fazendeiros<br />

que <strong>nos</strong> atacavam constantemente cometendo<br />

inúmeros assassinatos muitas vezes<br />

acobertada pelo próprio Estado, além<br />

do mais, eles estavam destruindo os <strong>nos</strong>sos<br />

bens naturais que ainda restam, com<br />

a construção de grandes empreendimentos,<br />

retiradas de <strong>nos</strong>sos minérios, areias<br />

entre outros, apesar de <strong>nos</strong>sas denúncias<br />

aos órgãos ambientais e aos órgãos governamentais<br />

que deveriam cuidar e zelar<br />

pelo <strong>nos</strong>so território e todas as riquezas<br />

contidas nele, nada é feito para evitar este<br />

roubos e destruição do <strong>nos</strong>so Território<br />

Tradicional. Em vez de providenciar a regularização<br />

do território, o governo gasta<br />

em outras operações que apenas tumultua<br />

o processo e gera ainda mais violência<br />

e desrespeito aos <strong>nos</strong>sos direitos,<br />

como em 2009 quando gastou cerca R$<br />

9.000.000,00 (nove milhões de reais) em<br />

aparatos militares para <strong>nos</strong> confrontar e<br />

perseguir as <strong>nos</strong>sas lideranças resultando<br />

em 35 homicídios sem nenhum julgamento<br />

dos culpados. Em 2013 a associação de<br />

peque<strong>nos</strong> produtores (quem na verdade<br />

é dos grandes produtores e fazendeiros)<br />

que visam tirar de <strong>nos</strong>so território todos<br />

os minérios que ainda não conseguiram<br />

<strong>nos</strong> roubar e os grandes empreendimentos<br />

que destroem as <strong>nos</strong>sas florestas e água,<br />

entraram com um Mandado de segurança<br />

no STJ suspendendo e paralisando o processo<br />

de demarcação. Nesta morosidade e<br />

demora já foram praticadas por esta dita<br />

Associação e políticos locais, depredação<br />

e destruição do patrimônio público como<br />

veículos da SESAI (secretaria especial de<br />

saúde indígena), Banco do Brasil, Correios,<br />

Cesta do Povo. Casas de <strong>nos</strong>sos parentes<br />

foram incendiadas nas cidades, ônibus escolar<br />

que transporta <strong>nos</strong>sos alu<strong>nos</strong> foi incendiado,<br />

sofreram atendados a bala. No<br />

dia 14 de setembro de 2016, o Mandado<br />

de Segurança, foi julgado no próprio STJ<br />

e por unanimidade (10 x 0) os Ministros<br />

votaram pela anulação do Mandado dando<br />

prosseguimento ao processo de demarcação<br />

e publicou um telegrama eletrônico,<br />

informando que não há nenhum impedimento<br />

jurídico que impeça a assinatura da<br />

Portaria Declaratória que demarca o <strong>nos</strong>so<br />

Território.<br />

Nosso processo de demarcação<br />

encontra-se paralisado no Ministério<br />

da Justiça para assinatura da Portaria<br />

Declaratória, uma vez que todas as contestações<br />

foram respondidas e julgadas<br />

pelo STJ, e não aplicando-se o parecer<br />

001/2017 da AGU. Portanto não existe<br />

mais nenhum impedimento administrativo,<br />

jurídico que impeça a Assinatura<br />

e a regularização do <strong>nos</strong>so Território.<br />

Entendemos que as forças políticas da<br />

região, e o atual governo Temer, já está<br />

instituído o novo presidente da República<br />

Jair Bolsonaro, para a não demarcação,<br />

o cenário no Congresso Nacional com o<br />

avanço das bancadas (Ruralista, Militar e<br />

Evangélica) estão declarando e se posicionando<br />

contrarias as causas dos povos<br />

indígenas e das minorias que lutam pela<br />

garantia de seus território e o bem viver.<br />

Indignados e preocupados com a posição<br />

do poder Executivo do Brasil, pois<br />

o direito a demarcação está assegurado<br />

na Constituição Federal 1988 <strong>nos</strong> artigos<br />

231 e 232, viemos solicitar o apoio desta<br />

Embaixada e demais Instituições para <strong>nos</strong><br />

ajudar na sensibilização junto ao Governo<br />

sobretudo o Ministério da Justiça para que<br />

assine de imediato a Portaria Declaratória<br />

e demarque o <strong>nos</strong>so Território Ancestral.<br />

Evitando assim mais violência contra o<br />

<strong>nos</strong>so Povo.<br />

Certos de vosso apoio, a nação<br />

Tupinambá de Olivença agradece.<br />

Ilhéus, 30 de novembro de <strong>2018</strong>.<br />

EDIÇÃO DEZEMBRO <strong>2018</strong><br />

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