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CARTA DO POVO TUPINAMBÁ DE OLIVENÇA<br />
Nós, povo Tupinambá de Olivença localizados<br />
<strong>nos</strong> municípios de Ilhéus, Una,<br />
Buerarema e São José da Vitória, no sul<br />
do Estado da Bahia, vimos através desta<br />
carta, lamentar a posição do governo<br />
brasileiro em não demarcar do <strong>nos</strong>so<br />
Território Sagrado em tempo hábil, em<br />
2001 obtivemos o <strong>nos</strong>so reconhecimento<br />
étnico pela FUNAI e assim instituído o<br />
grupo técnico para o levantamento territorial<br />
onde <strong>nos</strong> encontrávamos e estamos<br />
desde 1500, em 19 de abril de 2009 foi<br />
publicado no Diário Oficial da União o relatório<br />
circunstanciado de identificação e<br />
delimitação da TI Tupinambá de Olivença,<br />
totalizando 47.376 hectares, que a partir<br />
da publicação, se intensificou os ataques<br />
dos fazendeiros contra <strong>nos</strong>so povo, por<br />
não reconhecerem <strong>nos</strong>so direito legal ao<br />
território. No ano de 2004 começamos a<br />
retomar <strong>nos</strong>so Território pois já estávamos<br />
ficando cercados pelos fazendeiros<br />
que <strong>nos</strong> atacavam constantemente cometendo<br />
inúmeros assassinatos muitas vezes<br />
acobertada pelo próprio Estado, além<br />
do mais, eles estavam destruindo os <strong>nos</strong>sos<br />
bens naturais que ainda restam, com<br />
a construção de grandes empreendimentos,<br />
retiradas de <strong>nos</strong>sos minérios, areias<br />
entre outros, apesar de <strong>nos</strong>sas denúncias<br />
aos órgãos ambientais e aos órgãos governamentais<br />
que deveriam cuidar e zelar<br />
pelo <strong>nos</strong>so território e todas as riquezas<br />
contidas nele, nada é feito para evitar este<br />
roubos e destruição do <strong>nos</strong>so Território<br />
Tradicional. Em vez de providenciar a regularização<br />
do território, o governo gasta<br />
em outras operações que apenas tumultua<br />
o processo e gera ainda mais violência<br />
e desrespeito aos <strong>nos</strong>sos direitos,<br />
como em 2009 quando gastou cerca R$<br />
9.000.000,00 (nove milhões de reais) em<br />
aparatos militares para <strong>nos</strong> confrontar e<br />
perseguir as <strong>nos</strong>sas lideranças resultando<br />
em 35 homicídios sem nenhum julgamento<br />
dos culpados. Em 2013 a associação de<br />
peque<strong>nos</strong> produtores (quem na verdade<br />
é dos grandes produtores e fazendeiros)<br />
que visam tirar de <strong>nos</strong>so território todos<br />
os minérios que ainda não conseguiram<br />
<strong>nos</strong> roubar e os grandes empreendimentos<br />
que destroem as <strong>nos</strong>sas florestas e água,<br />
entraram com um Mandado de segurança<br />
no STJ suspendendo e paralisando o processo<br />
de demarcação. Nesta morosidade e<br />
demora já foram praticadas por esta dita<br />
Associação e políticos locais, depredação<br />
e destruição do patrimônio público como<br />
veículos da SESAI (secretaria especial de<br />
saúde indígena), Banco do Brasil, Correios,<br />
Cesta do Povo. Casas de <strong>nos</strong>sos parentes<br />
foram incendiadas nas cidades, ônibus escolar<br />
que transporta <strong>nos</strong>sos alu<strong>nos</strong> foi incendiado,<br />
sofreram atendados a bala. No<br />
dia 14 de setembro de 2016, o Mandado<br />
de Segurança, foi julgado no próprio STJ<br />
e por unanimidade (10 x 0) os Ministros<br />
votaram pela anulação do Mandado dando<br />
prosseguimento ao processo de demarcação<br />
e publicou um telegrama eletrônico,<br />
informando que não há nenhum impedimento<br />
jurídico que impeça a assinatura da<br />
Portaria Declaratória que demarca o <strong>nos</strong>so<br />
Território.<br />
Nosso processo de demarcação<br />
encontra-se paralisado no Ministério<br />
da Justiça para assinatura da Portaria<br />
Declaratória, uma vez que todas as contestações<br />
foram respondidas e julgadas<br />
pelo STJ, e não aplicando-se o parecer<br />
001/2017 da AGU. Portanto não existe<br />
mais nenhum impedimento administrativo,<br />
jurídico que impeça a Assinatura<br />
e a regularização do <strong>nos</strong>so Território.<br />
Entendemos que as forças políticas da<br />
região, e o atual governo Temer, já está<br />
instituído o novo presidente da República<br />
Jair Bolsonaro, para a não demarcação,<br />
o cenário no Congresso Nacional com o<br />
avanço das bancadas (Ruralista, Militar e<br />
Evangélica) estão declarando e se posicionando<br />
contrarias as causas dos povos<br />
indígenas e das minorias que lutam pela<br />
garantia de seus território e o bem viver.<br />
Indignados e preocupados com a posição<br />
do poder Executivo do Brasil, pois<br />
o direito a demarcação está assegurado<br />
na Constituição Federal 1988 <strong>nos</strong> artigos<br />
231 e 232, viemos solicitar o apoio desta<br />
Embaixada e demais Instituições para <strong>nos</strong><br />
ajudar na sensibilização junto ao Governo<br />
sobretudo o Ministério da Justiça para que<br />
assine de imediato a Portaria Declaratória<br />
e demarque o <strong>nos</strong>so Território Ancestral.<br />
Evitando assim mais violência contra o<br />
<strong>nos</strong>so Povo.<br />
Certos de vosso apoio, a nação<br />
Tupinambá de Olivença agradece.<br />
Ilhéus, 30 de novembro de <strong>2018</strong>.<br />
EDIÇÃO DEZEMBRO <strong>2018</strong><br />
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