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Nada vai nos parar! - Dezembro 2018

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Tempo de Natal: tempo de<br />

paz, de alegria, de solidariedade,<br />

de amor, de harmonia, de festa<br />

e celebração. Para muitos povos<br />

indígenas, este tempo abençoado<br />

existe só nas suas aldeias, pois o<br />

mundo afora é hostil e cruel. Os<br />

povos que vivem em harmonia<br />

com a natureza vão a luta para<br />

defendê-la e exigir o cumprimento<br />

das leis que asseguram o respeito<br />

à vida de todos os povos. É<br />

uma luta árdua e difícil. Há muito<br />

sofrimento e morte no caminho.<br />

Mas estes guerreiros da paz prosseguem<br />

sem armas, sem violência,<br />

andando firme e forte na oração<br />

e no respeito à lei e o bem<br />

de toda a nação. É uma luta desigual,<br />

pois os inimigos têm muito<br />

poder e dinheiro. O grande diferencial<br />

é que Deus vem à terra<br />

como menino, um menino pobre<br />

que tem que fugir para não ser<br />

morto, um menino do povo simples.<br />

Ele nasce num estábulo no<br />

meio dos animais e sem conforto<br />

material.<br />

Deus escolhe os excluídos, os<br />

que lutam, os sofridos como seus<br />

prediletos. Une-se tanto a eles<br />

que comunga todos os aspectos<br />

de sua vida. Ele é EMANUEL, Deus<br />

co<strong>nos</strong>co. E se ele está co<strong>nos</strong>co,<br />

quem pode estar contra? <strong>Nada</strong><br />

<strong>nos</strong> separa do amor dele, nada<br />

pode <strong>nos</strong> se<strong>parar</strong> dele. Ele dá mil<br />

sinais de sua ternura e preocupação<br />

co<strong>nos</strong>co. Dia 12 de setembro<br />

celebramos a mãe dele que apareceu<br />

a um índio no México quando<br />

os indígenas estavam esmagados<br />

pelos invasores europeus.<br />

Ela veste a roupa da cultura dele,<br />

fala Nahuatl, a língua dele, e dá<br />

este recado: “Que não se perturbe<br />

seu rosto, nem seu coração.<br />

Não fiques aflito, não estou eu<br />

aqui, que sou sua mãe.”<br />

Com a força da espiritualidade,<br />

da fé no poder supremo<br />

de Deus, os povos indígenas não<br />

irão abandonar a luta. Estarão<br />

sempre presentes lutando pelo<br />

bem de todas as pessoas, de todas<br />

as criaturas.<br />

A equipe do Mensageiro deseja<br />

a todos os leitores um Feliz<br />

Natal e abençoado Ano de 2019.<br />

O Mensageiro de <strong>Dezembro</strong> está no ar e continua aberto até o<br />

fim do mês. Pode contribuir com artigos e fotos enviando para:<br />

mensageiroonline.org@gmail.com<br />

Correspondência para:<br />

Caixa Postal 41<br />

CEP 66.017-970 - Belém - Pará - Brasil<br />

Telefone: (091) 3252 - 4164<br />

Publicação do Conselho Indigenista Missionário<br />

Esta Revista nasceu em 1979 por iniciativa de 5<br />

tuxauas<br />

É uma revista de: informação<br />

formação e<br />

intercâmbio a serviço<br />

ISSN 1679-2335<br />

dos Povos Indígenas<br />

E-mail: mensageiroonline.org@gmail.com<br />

Site: mensageiroonline.org.br<br />

Instrumento usado pelos mensageiros<br />

no Alto Amazonas. Com ele avisavam as<br />

aldeias quando traziam notícias.<br />

EDIÇÃO DEZEMBRO DE <strong>2018</strong><br />

Arte e Diagramação: Domingos Valente<br />

2<br />

EDIÇÃO DEZEMBRO <strong>2018</strong>


Delegação Kinikinau e<br />

Conselho Terena reivindicam<br />

regularização de território<br />

tradicional em Brasília/DF<br />

Demarcação de território do povo Kinikinau<br />

é destaque em reuniões na 6ª Câmara/MPF e com o<br />

presidente da Funai nesta semana<br />

FOTOS MICHELLE CALAZANS, ASCOM CIMI<br />

Anciã Zeferina do povo Kinikinau na Câmara dos Deputados.<br />

POR MICHELLE CALAZANS, ASCOM CIMI<br />

Delegação indígena Kinikinau e representantes<br />

do Conselho Terena in-<br />

A<br />

tensificaram na semana de 26 a 29 de<br />

novembro, em Brasília/DF, a luta contra<br />

a omissão e a morosidade na regularização<br />

do território tradicional do povo<br />

Kinikinau. A articulação incluiu reunião<br />

na Câmara de Povos Indígenas e<br />

EDIÇÃO DEZEMBRO <strong>2018</strong><br />

Comunidades Tradicionais do Ministério<br />

Público Federal (6CCR/MPF). Além de<br />

reunião com o presidente da Fundação<br />

Nacional do Índio (Funai), Wallace<br />

Moreira Bastos. Os indígenas também<br />

acompanharam de perto a tramitação<br />

do Projeto de Lei 490 – o Projeto<br />

Antidemarcação da bancada ruralista –<br />

em pauta <strong>nos</strong> dias 27 e 28 de novembro,<br />

na Câmara dos Deputados.<br />

3


Lideranças Kinikinau na Câmara dos Deputados.<br />

O principal questionamento dos indígenas<br />

Kinikinau, segundo eles, é ter<br />

sua existência negada por pelo me<strong>nos</strong><br />

100 a<strong>nos</strong>, pelos órgãos públicos e a sociedade<br />

brasileira. Desde 1940, parte<br />

dos Kinikinau vive na aldeia São João,<br />

em Bonito/MS, com o povo Kadiwéu e a<br />

outra parte vive com o povo Terena, nas<br />

aldeias Nioaque e Mãe Terra/MS, após<br />

terem sido sistematicamente expulsos<br />

de suas terras tradicionais.<br />

A vinda dos indígenas<br />

à Brasília<br />

também é resultado<br />

da falta de presença<br />

e posicionamento<br />

da Funai nas cinco<br />

edições da Grande<br />

Assembleia do Povo<br />

Kinikinau. O evento,<br />

realizado anualmente<br />

em Mato<br />

Grosso do Sul, convidou<br />

representantes<br />

da Funai nacional<br />

e da Coordenação<br />

Regional de Campo<br />

Grande/MS para instituir<br />

o Grupo de trabalho (GT) a fim de<br />

realizar estudos de identificação e delimitação<br />

do território. No entanto, a<br />

Funai não se fez presente e nem justificou<br />

sua ausência.<br />

Somada à essa situação, em 2015 o<br />

povo Kinikinau protocolou pessoalmente<br />

essa mesma reivindicação para criação<br />

do GT, em Brasília, junto ao presidente<br />

da Funai da época, João Pedro. Mais<br />

uma vez, nenhuma providencia formal<br />

Liderança do povo Kinikinau, Agda Roberta<br />

4<br />

EDIÇÃO DEZEMBRO <strong>2018</strong>


Antropólogo do Centro de Trabalho Indigenista (CTI), Gilberto Azanha<br />

foi consolidada, com ressalva da manifestação<br />

do Ministério Público Federal<br />

que em abril deste ano, solicitou à Funai<br />

o parecer acerca desse procedimento<br />

protocolado em 2015.<br />

Para as lideranças indígenas, esse<br />

registro demarcatório é fundamental<br />

para fazer valer o direito constitucional<br />

previsto no artigo 231, da Constituição<br />

Federal de 1988: são reconhecidos aos<br />

índios sua organização social, costumes,<br />

línguas, crenças e tradições, e os direitos<br />

originários sobre as terras que tradicionalmente<br />

ocupam, competindo à União<br />

demarcá-las, proteger e fazer respeitar<br />

todos os seus bens.<br />

Reunião na Câmara de Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais do Ministério Público Federal<br />

6CCR MPF<br />

EDIÇÃO DEZEMBRO <strong>2018</strong><br />

5


Reunião na 6ª<br />

Câmara de Povos<br />

Indígenas<br />

Em reunião na<br />

Câmara de Povos Indígenas<br />

e Comunidades<br />

Tradicionais do Ministério<br />

Público Federal<br />

(6CCR/MPF), a Delegação<br />

Kinikinau e<br />

o Conselho Terena<br />

protocolaram o relatório<br />

antropológico<br />

de fundamentação do<br />

território tradicional<br />

Kinikinau, realizado<br />

voluntariamente<br />

pelo antropólogo do<br />

Centro de Trabalho<br />

Indigenista (CTI), Gilberto Azanha e<br />

solicitaram apoio ao subprocurador-geral<br />

da República, Roberto Luis Oppermann<br />

Thomé e o antropólogo da pasta, Marco<br />

Paulo Fróes Schettino para que a Funai<br />

cumpra o ato administrativo ingressado.<br />

A liderança do povo Kinikinau, Agda<br />

Roberta, explicou que cerca de 17 famílias<br />

Kinikinau aguardam uma solução<br />

definitiva acerca da situação do território<br />

que se arrasta há a<strong>nos</strong>. “Sem o <strong>nos</strong>so<br />

território <strong>nos</strong> sentimos sem casa. Nossa<br />

luta hoje nem é mais por nós. Nossa luta<br />

é por <strong>nos</strong>sos filhos e por <strong>nos</strong>sos netos.<br />

Nossa luta é pelas futuras gerações para<br />

manter viva a tradição do <strong>nos</strong>so povo<br />

tradicional. Pedimos à Deus que tudo se<br />

acerte o quanto antes”, reiterou.<br />

O antropólogo Gilberto Azanha esclareceu<br />

que, a pedido do Conselho<br />

Terena, contribuiu com a consolidação do<br />

relatório para dar celeridade no processo<br />

de demarcação estabelecido no Decreto<br />

n° 1775/96, que exige essa fundamentação<br />

por meio de um relatório antropológico<br />

feito por especialista. “O relatório<br />

prevê que a Funai e a União reconheçam,<br />

formalmente, o território do povo<br />

Kinikinau”, reforçou.<br />

Na ocasião, o povo Kinikinau também<br />

reforçou o pedido de investigação,<br />

do atropelamento de duas crianças, apre-<br />

Subprocurador-geral da República, Roberto Luis Oppermann Thomé<br />

sentado pela assessoria jurídica do Cimi<br />

MS. O pedido foi apresentado pela assessoria<br />

jurídica do CIMI-MS e protocolado<br />

no Ministério Público Federal de MS<br />

no dia 19 de novembro. O atropelamento<br />

aconteceu, no dia 13 de novembro,<br />

quando as crianças andavam de bicicleta<br />

próximo à estrada que liga Miranda à<br />

Cerâmica, em frente à Comunidade Mãe<br />

Terra, na Terra Indígena Cachoeirinha.<br />

Na ocasião do atropelamento, o motorista,<br />

que dirigia uma Camionete branca,<br />

fugiu sem prestar qualquer tipo de socorro.<br />

Segundo a liderança indígena da<br />

comunidade Mãe Terra, há suspeita de<br />

que o crime tenha sido cometido por fazendeiro<br />

local. A mãe de uma das crianças<br />

esteve na reunião e fez o relato da<br />

violência.<br />

Após o pedido de investigação,<br />

MPF-MS requisitou à Delegacia de Polícia<br />

Civil de Miranda a instauração de inquérito<br />

policial para apurar a prática de<br />

crimes relacionados ao atropelamento.<br />

Pelo trâmite legal, o pedido de investigação<br />

protocolado no Ministério Público<br />

Federal ainda terá de passar por análise<br />

do órgão. Após essa avaliação inicial, serão<br />

decididas as providências que serão<br />

adotadas sobre o caso, tendo em visto<br />

a recorrência de intimidação e violência<br />

registrados na região.<br />

6<br />

EDIÇÃO DEZEMBRO <strong>2018</strong>


Reivindicação na Funai<br />

O trabalho de articulação na Funai<br />

foi realizado em dois momentos: 27 de<br />

novembro, protocolo do relatório antropológico<br />

de fundamentação do território<br />

Kinikinau; e, 28 de novembro, reunião<br />

com o presidente da Funai, Wallace<br />

Moreira Bastos.<br />

A frente da Funai há seis meses,<br />

o presidente da Casa, Wallace Moreira<br />

Bastos, revela que no momento o órgão<br />

não tem condições orçamentárias<br />

e nem de pessoal para constituir todos<br />

os Grupos de Trabalho (GTs) solicitados<br />

Presidente da Funai, Wallace Moreira Bastos<br />

Delegação Kinikinau e Conselho do povo Terena em reunião na Funai<br />

Presidente<br />

da Funai<br />

recebe<br />

documentação<br />

do povo<br />

Kinikinau<br />

EDIÇÃO DEZEMBRO <strong>2018</strong><br />

7


Delegação Kinikinau e Conselho do povo Terena na Câmara dos Deputados<br />

pelos povos indígenas. “Esbarramos na<br />

questão financeira, pois desde 2009 a<br />

Funai sofre redução orçamentária. Hoje,<br />

<strong>nos</strong>sa prioridade é caminhar com a criação<br />

dos GTs que possuem ordem judicial.<br />

Mas assumo o compromisso de viabilizar,<br />

no primeiro semestre de 2019, a<br />

criação do GT para o território do povo<br />

Kinikinau. Primeiramente, vamos analisar<br />

o relatório protocolado para assim<br />

dar continuidade no trabalho”, garantiu.<br />

Wallace Moreira Bastos também assegurou,<br />

sem detalhes, que o orçamento previsto<br />

para o próximo ano é maior do que<br />

o de <strong>2018</strong>. “Com esse capital estimado,<br />

será possível desafogar o quantitativo de<br />

demandas da Casa que fazem referência<br />

à demarcação de terras indígenas. Nossa<br />

proposta é contratar pessoas capacitadas<br />

para contribuir com o trabalho realizado<br />

atualmente pela Funai”, explicou.<br />

Por fim, o presidente da Funai afirmou<br />

que, minimamente, é dever institucional<br />

do Órgão prestar esclarecimentos<br />

acerca dos processos em andamento na<br />

Casa e diz não entender a omissão ocorrida<br />

frente ao protocolo dos indígenas registrado<br />

em 2015, bem como da ausência<br />

de informação na Grande Assembleia<br />

do Povo Kinikinau.<br />

Projeto antidemarcação em pauta<br />

Paralelo, a Delegação indígena<br />

Kinikinau e representantes do Conselho<br />

Terena também acompanharam a tramitação<br />

do Projeto de Lei (PL) 490/2007<br />

– o Projeto Antidemarcação da bancada<br />

ruralista – em pauta, <strong>nos</strong> dias 27 e 28 de<br />

novembro, na Comissão de Constituição,<br />

Justiça e Cidadania (CCJC), da Câmara<br />

dos Deputados.<br />

De acordo com o relator na CCJC,<br />

o ruralista Jerônimo Goergen (PP/RS),<br />

o PL defende uma série de dispositivos<br />

que inviabilizam novas demarcações e<br />

facilitam obras e a exploração de recursos<br />

em terras indígenas já demarcadas,<br />

que seriam implementadas “independentemente<br />

de consulta” às comunidades<br />

indígenas envolvidas ou à Funai.<br />

Jerônimo Goergen defende a aprovação<br />

do PL 490, mas com a redação do<br />

PL 6.818/2013, na condição de substitutivo,<br />

além da constitucionalidade dos<br />

demais projetos apensados ao PL 490. O<br />

mérito do PL 6.818/2013 se assemelha<br />

à tese inconstitucional do marco temporal,<br />

segundo a qual os povos indígenas<br />

só teriam direito à demarcação das terras<br />

que estavam sob sua posse em 5 de<br />

outubro de 1988.<br />

8<br />

EDIÇÃO DEZEMBRO <strong>2018</strong>


Apoinme entende<br />

propostas de mudanças<br />

para a Funai como jogada<br />

antidemarcação<br />

FOTO ANGELO BUENO CIMI-NE<br />

A futura<br />

ministra da Agricultura, a ruralista<br />

Tereza Cristina, disse à imprensa que não deseja<br />

ter a Funai em sua pasta e sugeriu que o órgão vá<br />

para a Presidência da República<br />

Ritual Praia durante a última Assembleia Geral do Povo Pankararu, ocorrida no início de maio.<br />

A Articulação dos Povos<br />

e Organizações Indígenas do<br />

Nordeste, Minas Gerais e Espírito<br />

Santo (APOINME) divulgou uma<br />

nota em repúdio às mudanças que<br />

o futuro governo Jair Bolsonaro pretende<br />

para a Fundação Nacional do<br />

Índio (Funai).<br />

Nesta quarta-feira, 5, a escolhida<br />

para assumir o Ministério da<br />

Agricultura, a ruralista Tereza Cristina,<br />

disse à imprensa que não deseja ter a<br />

Funai em sua pasta. Especulou, inclu-<br />

sive, que o órgão indigenista estatal<br />

poderia ser vinculado à Presidência<br />

da República.<br />

Para a APOINME, “a proposta<br />

anunciada, demonstra uma nítida<br />

afronta aos direitos dos povos<br />

indígenas, sobretudo, pelo fato do<br />

Ministério da Agricultura está a serviço<br />

dos interesses do agronegócio no<br />

Brasil que em grande medida se contrapõe<br />

frontalmente aos princípios e<br />

fundamentos estabelecidos pela política<br />

Indigenista Brasileira”.<br />

EDIÇÃO DEZEMBRO <strong>2018</strong><br />

9


Leia na íntegra:<br />

Nota da APOINME sobre a ameaça<br />

de transferência da FUNAI vinculada<br />

ao MJ para as mãos dos ruralistas<br />

A Articulação dos Povos e<br />

Organizações Indígenas do Nordeste,<br />

Minas Gerais e Espírito Santo<br />

(APOINME) vêm a público manifestar<br />

a sua preocupação e repudiar qualquer<br />

medida do futuro Governo Bolsonaro<br />

que tenha como objetivo o enfraquecimento<br />

institucional da FUNAI, a paralisação<br />

na demarcação de terras indígenas<br />

e a defesa de ações ligadas<br />

a possibilidade de arrendamento dos<br />

territórios indígenas e uso dessas áreas<br />

para o agronegócio e a mineração<br />

em terras ocupadas pelos povos indígenas<br />

do Brasil.<br />

Recebemos com perplexidade a<br />

notícia da imprensa brasileira, dando<br />

conta de que na fala do Coordenador<br />

Político da transição do Governo<br />

Bolsonaro, Onyx Lorenzoni, se cogita<br />

transferir a Fundação Nacional do Índio<br />

– FUNAI, atualmente vinculada ao<br />

Ministério da Justiça para o Ministério<br />

da Agricultura. A afirmação, ocorreu<br />

na última 2a feira (03 de <strong>Dezembro</strong>),<br />

com o seguinte teor: “A Funai está em<br />

processo de definição, mas deve ir<br />

para Agricultura. Pode”, disse o futuro<br />

ministro à imprensa no CCBB (Centro<br />

Cultural Banco do Brasil), sede da transição<br />

de governo, em Brasília.<br />

A proposta por hora anunciada,<br />

demonstra uma nítida afronta aos direitos<br />

dos povos indígenas, sobretudo,<br />

pelo fato do Ministério da Agricultura<br />

estar a serviço dos interesses do<br />

agronegócio no Brasil que em grande<br />

medida se contrapõe frontalmente<br />

aos princípios e fundamentos estabelecidos<br />

pela política Indigenista<br />

Brasileira.<br />

Vale ressaltar, que caso essa medida<br />

se concretize, além de violar tratados<br />

internacionais que versam sobre<br />

os direitos dos povos indígenas,<br />

especialmente dispositivos que asseguram<br />

aos povos indígenas o direito<br />

a consulta prévia, livre e informada<br />

sobre medidas administrativas ou legislativas<br />

capazes de afetar os <strong>nos</strong>sos<br />

povos, o Estado Brasileiro estará<br />

chancelando institucionalmente o genocídio<br />

de diversas comunidades indígenas<br />

no Brasil.<br />

Criada em 1967, a Funai tem a<br />

atribuição principal de coordenar a<br />

Política Indigenista Brasileira, promovendo<br />

a proteção dos direitos dos<br />

povos indígenas e a demarcação das<br />

terras indígenas. A FUNAI acumulou<br />

ao longo de sua história capilaridade e<br />

expertise que só ela possui. A capacidade<br />

de atuar com a diversidade indígena<br />

no Brasil precisa continuar sem<br />

que interesses escusos de seguimentos<br />

que são historicamente inimigos<br />

dos povos indígenas possam incidir na<br />

essência do órgão.<br />

Por fim, vale lembrar que a situação<br />

da demarcação dos territórios<br />

indígenas no Brasil está longe de ser<br />

resolvida. São mais de 100 processos<br />

de demarcação se arrastando no órgão<br />

motivada pela limitação de recursos<br />

huma<strong>nos</strong> e financeiros, mas também<br />

com forte pressão da Bancada Ruralista<br />

no Congresso Nacional que domina o<br />

Ministério da Agricultura e pelo me<strong>nos</strong><br />

mais 420 terras indígenas estão registradas<br />

como demandas para regularização.<br />

Por tanto, a superação desse<br />

cenário desolador deve ser a prioridade<br />

de um governo que realmente esteja<br />

comprometido com a temática indígena<br />

e não de entregar a pauta de forma<br />

escandalosa e violadora aos ruralistas.<br />

Nossos povos estarão dispostos a<br />

resistir, como sempre estivemos para<br />

defender o direito a mãe terra e o futuro<br />

dos <strong>nos</strong>sos povos e do <strong>nos</strong>so planeta.<br />

Não a morte da FUNAI e ao<br />

genocídio dos Povos Indígenas!<br />

Terra Demarcada, Vida Garantida!<br />

E digam ao Povo que avancem!<br />

Avançaremos!<br />

Recife (PE), 04 de <strong>Dezembro</strong> de <strong>2018</strong><br />

10<br />

EDIÇÃO DEZEMBRO <strong>2018</strong>


FOTO: TIAGO MIOTTO / ASCOM CIMI<br />

Ato em frente ao CCBB, sede da equipe do governo de transição<br />

Protesto pela execução de sentença<br />

da CIDH contra Estado brasileiro<br />

leva povo Xukuru a Brasília<br />

Além de demarcar e desintrusar<br />

a Terra Indígena Xukuru, a Corte Interamericana<br />

de Direitos Huma<strong>nos</strong> (CIDH) determinou o pagamento de<br />

indenização no valor de um milhão de dólares<br />

POR ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO – CIMI<br />

Uma delegação de indígenas Xukuru<br />

do Ororubá está em Brasília para<br />

pressionar o governo federal pelo<br />

cumprimento da sentença da Corte<br />

Interamericana de Direitos Huma<strong>nos</strong><br />

(CIDH), que condenou o Estado brasileiro<br />

no caso envolvendo as violações sofridas<br />

pelo povo. A sentença foi proferida<br />

em março deste ano após julgamento<br />

ocorrido um ano antes, em 23 de março<br />

de 2017, na Guatemala. O governo brasileiro<br />

tem, portanto, até março do ano<br />

que vem para apresentar ao Tribunal um<br />

EDIÇÃO DEZEMBRO <strong>2018</strong><br />

relatório sobre as medidas adotadas para<br />

o cumprimento das obrigações. Nenhum<br />

dos pontos da sentença foi executado<br />

até o momento.<br />

A sentença condena o Estado brasileiro<br />

a concluir a demarcação do território<br />

do povo Xukuru, localizado na Serra do<br />

Ororubá, município de Pesqueira, agreste<br />

pernambucano. Da mesma forma, a Corte<br />

determina ao governo federal que realize<br />

a retirada de ocupantes não indígenas, fazendo<br />

os pagamentos aos remanescentes<br />

de boa-fé na terra indígena. Determina<br />

ainda o pagamento de indenização por<br />

da<strong>nos</strong> imateriais ao povo no montante de<br />

11


um milhão de<br />

dólares. Tratase<br />

de uma decisão<br />

inédita,<br />

denunciando as<br />

violências e violações<br />

contra os<br />

povos indígenas,<br />

promovidas<br />

por omissão<br />

ou até mesmo<br />

diretamente<br />

pelo Estado<br />

brasileiro, com<br />

repercussões<br />

negativas ao<br />

país em caso de<br />

descumprimento<br />

pelo governo.<br />

Conforme<br />

nota explicativa da Assessoria Jurídica do<br />

Conselho Indigenista Missionário (Cimi),<br />

uma das representações legais dos<br />

Xukuru, “em caso de descumprimento da<br />

sentença, o caso é levado à Assembleia<br />

Geral da Organização Internacional dos<br />

Estados America<strong>nos</strong> e as sanções podem<br />

se dar no campo político, econômico,<br />

social e mercantil. O ideal é que o<br />

Brasil cumpra espontaneamente a sentença<br />

internacional. Nesse caso, será<br />

desnecessário qualquer expediente judi-<br />

Reunião no Ministério dos Direitos Huma<strong>nos</strong> (MDH).<br />

FOTO MICHELLE CALAZANS, ASCOM CIMI<br />

cial para fazê-la valer dentro do Brasil”.<br />

O Gabinete de Assessoria Jurídica às<br />

Organizações Populares (Gajop) e a<br />

Justiça Global também representam os<br />

Xukuru na Corte Interamericana.<br />

A sentença condena o Estado brasileiro<br />

a concluir a demarcação do território<br />

do povo Xukuru, localizado na Serra<br />

do Ororubá, município de Pesqueira,<br />

agreste pernambucano<br />

“Eu vi o meu pai ser assassinado (o<br />

cacique Xikão Xukuru, em 1998). Eu vi o<br />

CRÉDITO DA FOTO RENATO SANTANA CIMI<br />

Povo Xukuru desce a serra de Ororubá no dia 20 de maio, em memória à data em que o cacique Xikão<br />

foi assassinado.<br />

12<br />

EDIÇÃO DEZEMBRO <strong>2018</strong>


FOTO MEYRIANE DE MIRA MÍDIA NINJA<br />

Indígenas realizaram na Serra do Ororubá, em Pernambuco, a 19ª Assembleia Xukuru de Ororubá.<br />

filho do pajé levar um tiro. A reconquista<br />

do território Xukuru não foi mérito do governo<br />

federal. Sempre houve uma pressão<br />

<strong>nos</strong>sa para que o Estado brasileiro<br />

cumprisse o seu papel”, declarou o cacique<br />

Marcos Xukuru durante o julgamento<br />

da CIDH, na Guatemala. O processo foi<br />

impetrado na Corte Interamericana após<br />

os episódios ocorridos em 2003. Uma<br />

emboscada sofrida pelo cacique Marcos<br />

Xukuru, na estrada que leva à Vila de<br />

Cimbres, alto da Serra do Ororubá, vitimou<br />

de forma fatal os indígenas Milson<br />

e Nilson Atikum. Ambos faziam a segurança<br />

do cacique Marcos, que assumiu o<br />

posto do pai, Xikão Xukuru, executado<br />

cinco a<strong>nos</strong> antes por um pistoleiro.<br />

O atentado gerou revolta no povo<br />

Xukuru provocando uma onda de retomadas<br />

no território reivindicado. A intenção<br />

era retirar fazendeiros e jagunços<br />

que seguiam praticando violências<br />

contra os indígenas. Este processo levou<br />

alguns a<strong>nos</strong> se inscrevendo entre as lutas<br />

populares mais icônicas no início do<br />

século XXI (leia mais abaixo). “Todo jovem<br />

Xukuru aprende a história de lutas<br />

do povo. Se trata de algo que está em<br />

todos os espaços de formação Xukuru.<br />

Em muitos desses episódios envolvendo<br />

o que está sendo julgado pela Corte<br />

EDIÇÃO DEZEMBRO <strong>2018</strong><br />

Interamericana, eu ainda era bem garoto<br />

como muitos jovens Xukuru. Sem<br />

dúvida, essa memória e a reparação que<br />

esperamos que ocorra compõem a <strong>nos</strong>sa<br />

história”, diz o jovem Guilherme Xukuru,<br />

que recentemente passou no exame da<br />

Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).<br />

A audiência do dia 23 de março de<br />

2017 foi a primeira e única durante todo<br />

o julgamento do caso, que levou quase<br />

15 a<strong>nos</strong> para acontecer. “Muitos povos<br />

indígenas do Brasil esperam vinte, trinta<br />

a<strong>nos</strong> enquanto os processos de demarcação<br />

se arrastam e resultam em<br />

situações de violência e criminalização”,<br />

avalia o cacique Marcos Xukuru. “Há um<br />

conjunto de ações do Estado brasileiro<br />

que inviabilizam a reconquista de <strong>nos</strong>sos<br />

territórios e a efetivação de direitos<br />

que temos garantidos. Sem voz frente<br />

ao Estado, ficamos numa vulnerabilidade<br />

muito grande. Não vemos outra maneira<br />

de resolver, a não ser pela pressão<br />

internacional”.<br />

Histórico do caso<br />

A Serra do Ororubá, em Pesqueira<br />

(PE), município encravado no Vale do<br />

Ipojuca, é o cenário de um contexto<br />

com mais de três séculos de espoliação<br />

e morte do povo Xukuru. Mas, <strong>nos</strong> a<strong>nos</strong><br />

13


FOTO MICHELLE CALAZANS - ASCOM-CIMI<br />

1980, essa trajetória começou a mudar.<br />

Com a nomeação de Xikão como cacique,<br />

os Xukuru se articularam e, após quase<br />

20 a<strong>nos</strong> de luta, em 2001, conseguiram<br />

a homologação dos 27.555 hectares em<br />

que vivem. Essas mesmas terras que já<br />

viram tanta morte abrigam, hoje, mais<br />

de 11 mil indígenas que lutam diariamente<br />

contra o preconceito e a violência<br />

para manter sua cultura viva.<br />

“Eu vi o meu pai ser assassinado<br />

(o cacique Xikão Xukuru, em<br />

1998). Eu vi o filho do pajé levar<br />

um tiro. A reconquista do território<br />

Xukuru não foi mérito do<br />

governo federal. Sempre houve<br />

uma pressão <strong>nos</strong>sa para que o<br />

Estado brasileiro cumprisse o<br />

seu papel”, declarou o cacique<br />

Marcos Xukuru<br />

Com o fim do regime militar e a<br />

transição democrática, a Constituinte de<br />

1988 tornou-se o centro da luta do movimento<br />

indígena. Em Brasília (DF), Xikão<br />

e outras importantes lideranças indígenas<br />

e entidades indigenistas percorreram<br />

EDIÇÃO DEZEMBRO <strong>2018</strong><br />

gabinetes, arregimentaram apoiadores,<br />

discutiram propostas, organizaram manifestações<br />

e, no final, viram entrar na<br />

nova Constituição o direito dos povos originários<br />

a suas terras tradicionais.<br />

A vitória trouxe ânimo e, em 1990,<br />

os Xukuru iniciaram a retomada de partes<br />

de seu território tradicional, enquanto<br />

aguardavam a demarcação de sua<br />

terra pelo Estado.<br />

No decorrer dos a<strong>nos</strong> 90, frente<br />

ao atraso da demarcação, uma sucessão<br />

de retomadas levou os fazendeiros<br />

a reagir. Em 1992, Pajé Zequinha teve<br />

o filho assassinado e, em 1995, o advogado<br />

da associação, Geraldo Rolim,<br />

também procurador da Funai, foi morto<br />

a tiros pelas costas. Xikão sempre acreditou<br />

que a base da mudança de seu<br />

grupo estava na educação e na organização.<br />

Promoveu a criação de comissões<br />

de saúde e educação nas aldeias e<br />

da Associação do Povo Xukuru – sistema<br />

que funciona até hoje e estimula a<br />

participação dos indígenas nas decisões<br />

do grupo, geralmente discutidas em assembleias<br />

e seminários. Na manhã de<br />

20 de maio de 1998, Xikão saía de casa,<br />

no bairro Xukuru, em Pesqueira, quan-<br />

14


do percebeu a chegada de um pistoleiro.<br />

Não teve chance de defesa. O assassinato<br />

teve repercussão internacional e<br />

mobilizou seu povo. Três a<strong>nos</strong> depois, o<br />

líder da aldeia Pé de Serra, Chico Quelé,<br />

foi assassinado.<br />

No dia 7 de fevereiro de 2003, com<br />

a terra Xukuru homologada há dois<br />

a<strong>nos</strong>, a história mais uma vez se repetiria.<br />

Uma emboscada contra o cacique<br />

Marcos, filho e sucessor de Xikão, resultou<br />

na morte de dois indígenas responsáveis<br />

por sua segurança. Ao saber do<br />

atentado, os Xukuru decidiram reagir.<br />

Na véspera do carnaval daquele ano, um<br />

rastro de fumaça no céu indicava que a<br />

Vila de Cimbres havia sido retomada pe-<br />

los Xukuru, 300 a<strong>nos</strong> depois de construída<br />

em território sagrado indígena pelos<br />

colonizadores portugueses.<br />

Criminalização<br />

A reação dos Xukuru resultou na<br />

condenação de 35 indígenas, entre eles<br />

o cacique Marcos, a quatro a<strong>nos</strong> de prisão.<br />

As investigações e denúncias afirmam<br />

que Marcos armou o atentado e a<br />

morte de dois indígenas para aguçar a<br />

revolta do seu povo e a saída das famílias<br />

não índias da vila. O mesmo ocorreu<br />

nas investigações dos assassinatos do<br />

cacique Xikão e de Chico Quelé, pelos<br />

quais foram culpados indígenas Xukuru.<br />

Lideranças Xukuru do Ororubá fortalecem luta por<br />

respeito e garantia de direitos fundamentais em Brasília<br />

As reivindicações incluíram pauta no Ministério dos Direitos Huma<strong>nos</strong>, na Sesai e<br />

encerramento das atividades com ato na sede da equipe do governo de transição.<br />

FOTO MICHELLE CALAZANS, ASCOM CIMI<br />

Cerca de 45 lideranças indígenas participaram da reunião no MDH. Foto<br />

Michelle Calazans, Acom Cimi<br />

POR MICHELLE CALAZANS, ASCOM CIMI<br />

Cerca de 45 lideranças do povo Xukuru<br />

do Ororubá fortaleceram, em Brasília/<br />

DF, a luta por direitos fundamentais da<br />

nação Xukuru. A pauta de trabalho incluiu,<br />

também, questionamentos sobre a<br />

situação da saúde indígena e distribuição<br />

de água potável na Secretaria Especial<br />

de Saúde Indígena (Sesai), bem como<br />

EDIÇÃO DEZEMBRO <strong>2018</strong><br />

ato em frente à sede da equipe do governo<br />

de transição para cobrar respeito<br />

e garantia de direitos.<br />

Consenso define execução<br />

da sentença<br />

No âmbito da indenização ao povo<br />

Xucuru, pelos da<strong>nos</strong> causados durante o<br />

processo de demarcação e homologação,<br />

foi construído um consenso por sugestão<br />

15


FOTO MICHELLE CALAZANS, ASCOM CIMI<br />

Reunião com o presidente da Funai, Wallace Bastos<br />

FOTO MICHELLE CALAZANS, ASCOM CIMI<br />

da liderança Marcos Xukuru, que o<br />

pagamento da indenização seja feito<br />

via Associação da Comunidade Xucuru,<br />

para cumprir, inclusive, a exigência<br />

da Corte Interamericana acerca do<br />

desenvolvimento coletivo do povo<br />

Xukuru. “O pagamento via Associação<br />

permite o exercício de autonomia,<br />

enquanto povo, decidir como esse<br />

recurso será melhor aplicado para a<br />

nação Xukuru. Esse consenso é muito<br />

Lideranças Indígenas no Congresso Nacional.<br />

EDIÇÃO DEZEMBRO <strong>2018</strong><br />

importante tendo em vista a indefinição<br />

de cenário, frente à postura apresentada<br />

pelo governo eleito de desrespeito aos<br />

povos indígenas”, afirmou.<br />

Por sugestão do MDH, ficou definido<br />

também que o pagamento seja<br />

feito por meio do Termo de Fomento,<br />

instrumento mais indicado para a situação,<br />

segundo a assessora de Assuntos<br />

Internacionais, Luciana Peres. “Esse diálogo<br />

foi fundamental para definir esse<br />

modelo de pagamento.<br />

Por se tratar de um<br />

caso inédito, não há<br />

precedente como base.<br />

O Termo de Fomento<br />

permite o pagamento<br />

direto ao povo Xukuru”,<br />

explicou Luciana Peres.<br />

A assessora de<br />

Assuntos Internacionais<br />

esclareceu que a<br />

consulta junto à Corte<br />

Interamericana será<br />

feita ainda neste ano<br />

para execução da<br />

sentença no início<br />

de 2019. “O acordo<br />

definido entre as partes<br />

e o Termo de Fomento<br />

16


FOTO MICHELLE CALAZANS, ASCOM CIMI<br />

Liderança Marcos Xukuru apresenta as reivindicações do povo<br />

serão preenchidos e<br />

apresentados para<br />

chancela da Corte<br />

Interamericana.<br />

Esse processo se<br />

faz necessário para<br />

alinhar o formato<br />

internacional indicado<br />

ao molde nacional, a<br />

fim de dar celeridade<br />

ao procedimento”,<br />

pontuou.<br />

Zenilda Xukuru<br />

(foto ao lado) ressaltou<br />

que a demarcação das<br />

terras indígenas sinaliza<br />

proteção coletiva de<br />

todos, não somente dos<br />

povos. “Ao defender<br />

as terras, defendemos<br />

também os animais, a<br />

mata fechada, a pureza<br />

dos rios e do ar, garantimos<br />

a <strong>nos</strong>sa existência<br />

e a qualidade da<br />

vida de todos. Por isso,<br />

quando nós rezamos<br />

para que os encantados<br />

<strong>nos</strong> ajude nas lutas, rezamos<br />

também por todos<br />

que estão à frente<br />

do trabalho do lado de<br />

cá também, no MDH. A<br />

reza é pela vida de todos”,<br />

acrescentou.<br />

FOTO MICHELLE CALAZANS, ASCOM CIMI<br />

Cerca de 45 lideranças participaram da reunião<br />

Funai garante apoio<br />

ao cumprimento da<br />

causa<br />

Em Reunião na<br />

Fundação Nacional<br />

do Índio (Funai),<br />

a liderança Marcos<br />

Xukuru ressaltou que<br />

a sentença da Corte<br />

Interamericana ameniza<br />

algumas situações,<br />

mas não soluciona,<br />

por exemplo, os<br />

sete assassinatos que<br />

foram registrados no<br />

histórico de luta por<br />

demarcação do território<br />

tradicional do<br />

EDIÇÃO DEZEMBRO <strong>2018</strong><br />

17


FOTO MICHELLE CALAZANS, ASCOM CIMI<br />

Ministro do STJ, Napoleão Nunes Maia Filho, recebe Assessoria Jurídica do Cimi e liderança indígena<br />

Xukuru<br />

povo. “Esse caso serve como base para<br />

outros processos para travar esse contexto<br />

de violência pelo direito ao território<br />

tradicional. O sangue derramado<br />

pelos guerreiros que deram a vida pelo<br />

<strong>nos</strong>so povo volta para <strong>nos</strong>sas veias para<br />

que continuemos a luta por <strong>nos</strong>sos direitos<br />

fundamentais”, ressaltou.<br />

O presidente da Funai, Wallace<br />

Bastos, chancelou o formato consensuado<br />

entre o MDH e o povo Xukuru para<br />

que a execução da sentença caminhe<br />

com maior celeridade possível. “É importante<br />

tomar como base a experiência<br />

da equipe do MDH para que a consulta<br />

na Corte Interamericana seja feita para<br />

que não haja contradições posteriores.<br />

A Funai está à disposição para contribuir<br />

com o que for necessário nesse processo”,<br />

apoiou.<br />

Subsídio ao Poder Judiciário Somado<br />

a esse trabalho, lideranças Xukuru<br />

e a Assessoria Jurídica do Conselho<br />

Indigenista Missionário (Cimi) entregou<br />

aos ministros do Poder Judiciário<br />

– Superior Tribunal Federal (STF) e<br />

EDIÇÃO DEZEMBRO <strong>2018</strong><br />

Superior Tribunal de Justiça (STJ), que<br />

tratam das pautas indígenas nas Casas,<br />

a decisão da Corte Interamericana de<br />

Direitos Huma<strong>nos</strong> como instrumento de<br />

contribuição e reflexão para que os direitos<br />

dos povos indígenas continuem sendo<br />

assegurados e respeitados, em âmbito<br />

nacional.<br />

Tramitação Projeto Antidemarcação<br />

Lideranças do povo Xukuru acompanharam,<br />

<strong>nos</strong> dias 04 e 05 de dezembro,<br />

a tramitação do Projeto de Lei (PL)<br />

490/2007 – o Projeto Antidemarcação<br />

da bancada ruralista – em pauta na<br />

Comissão de Constituição, Justiça e<br />

Cidadania (CCJC), da Câmara dos<br />

Deputados. O PL estava como item 25<br />

da pauta e não chegou a ser debatido<br />

pela Comissão.<br />

De acordo com o relator na CCJC,<br />

o ruralista Jerônimo Goergen (PP/RS),<br />

o PL defende uma série de dispositivos<br />

que inviabilizam novas demarcações e<br />

facilitam obras e a exploração de recursos<br />

em terras indígenas já demarcadas,<br />

18


FOTO MICHELLE CALAZANS, ASCOM CIMI<br />

Lideranças Xukuru fazem dança e canto típicos<br />

que seriam implementadas “independentemente<br />

de consulta” às comunidades<br />

indígenas envolvidas ou à Funai.<br />

Saúde indígena em pauta<br />

Sobre a questão da saúde indígena,<br />

a liderança Marcos Xukuru questionou<br />

três principais pontos: a situação<br />

da saúde indígena com a saída dos<br />

301 médicos cuba<strong>nos</strong>, do total de 372<br />

que atendiam a população indígena no<br />

Programa Mais Médicos; o acesso à<br />

água potável para as comunidades indígenas;<br />

e também a questão orçamentária<br />

destinada para cuidar da saúde da<br />

comunidade indígena em Pernambuco,<br />

que é a quarta maior do país, com 50<br />

mil indígenas, de 15 etnias.<br />

O indígena Xukuru e Técnico em<br />

Enfermagem, Geraldo Magela, explicou<br />

que o povo Xukuru tinha três equipes<br />

de saúde, com três médicos cuba<strong>nos</strong><br />

e agora, com a saída desses profissionais<br />

não houve reposição. “Felizmente,<br />

assim como eu, outros indígenas estão<br />

concluindo graduação na área da saúde<br />

para atender o <strong>nos</strong>so povo. Já temos<br />

ginecologista, enfermeiro e psicólogo.<br />

EDIÇÃO DEZEMBRO <strong>2018</strong><br />

Recentemente, um indígena também se<br />

tornou advogado para defender os direitos<br />

dos povos indígenas”, pontuou.<br />

“Enfrentamos muitas dificuldades<br />

no Estado com a redução orçamentária<br />

que não atende as necessidades da população<br />

indígena. Somado à essa realidade,<br />

também <strong>nos</strong> deparamos com a falta<br />

de funcionamento do sistema de água<br />

destinado ao povo Xukuru. Do total de<br />

36 sistemas de água, apenas 15 estão<br />

em funcionamento. Os caminhões-pipa,<br />

em circulação para atendimento emergencial,<br />

possuem periodicidade irregular<br />

e não resolvem a situação das aldeias”,<br />

questionou Marcos Xukuru.<br />

O Secretaria Especial de Saúde<br />

Indígena (Sesai), Marco Antônio<br />

Toccolini, afirmou que a Sesai é<br />

uma beneficiária e não gestora do<br />

Programa Mais Médicos, assim como<br />

os municípios. “A saúde indígena não<br />

ficará desassistida. Temos mais de<br />

35 mil inscritos na convocação aberta<br />

pelo Ministério da Saúde para cobrir<br />

pouco mais de oito mil vagas do<br />

Programa Mais Médicos. Somente após<br />

o dia 14 de dezembro teremos uma<br />

19


posição definitiva acerca do<br />

preenchimento das vagas,<br />

conforme cada localidade.<br />

Dos Distritos Sanitários<br />

Especiais Indígenas (DSEI),<br />

em todo o país, apenas no<br />

Amazonas registramos baixa<br />

de inscritos. No segundo<br />

momento, após o dia 14 de<br />

dezembro, caso não haja<br />

preenchimento integral das<br />

vagas, o Ministério da Saúde<br />

fará uma nova convocação<br />

com oportunidade de vagas<br />

para médicos brasileiros<br />

formados no exterior. Na<br />

pior das hipóteses, caso as vagas não<br />

sejam preenchidas, acionaremos a<br />

contratação via convênio”, explicou.<br />

Sobre a redução orçamentária,<br />

Marco Antônio Toccolini esclareceu anualmente<br />

a Sesai apresenta a demanda<br />

orçamentária para o Congresso, mas é o<br />

Poder Legislativo que define o valor final<br />

que será destinado, tendo como base no<br />

uso do orçamento do ano anterior.<br />

Com foco na questão da água potável,<br />

o diretor do Departamento de<br />

Edificações e Saneamento Indígena<br />

(DSESI), João Victório Zoppi Feliciani, se<br />

comprometeu, junto com Marco Antônio<br />

Toccolini para apresentar uma solução<br />

definitiva: “A Sesai não <strong>vai</strong> fechar<br />

os olhos para essa situação. Esse é um<br />

compromisso prioritário da Casa” e será<br />

viabilizado o quanto antes”.<br />

Ato na sede da equipe do governo<br />

de transição<br />

Lideranças indígenas de diversas regiões<br />

do país realizaram<br />

nesta manhã(06) ato no<br />

Centro Cultural do Banco<br />

do Brasil (CCBB), sede<br />

da equipe de transição<br />

do governo federal em<br />

Brasília, para entregar<br />

uma carta da Articulação<br />

dos Povos Indígenas do<br />

Brasil (Apib)com reivindicações<br />

ao presidente<br />

eleito, Jair Bolsonaro.<br />

EDIÇÃO DEZEMBRO <strong>2018</strong><br />

FOTO MICHELLE CALAZANS, ASCOM CIMI<br />

No documento, a organização nacional<br />

do movimento indígena reivindica<br />

o respeito a seus direitos originários, reconhecidos<br />

pela Constituição Federal de<br />

1988, e a continuidade da demarcação<br />

de terras indígenas, obrigação constitucional<br />

do poder Executivo.<br />

Durante a campanha eleitoral e<br />

depois de vencer o pleito, Bolsonaro e<br />

integrantes de sua equipe atacaram de<br />

forma racista os povos indígenas, comparando-os<br />

a animais de zoológico. Na<br />

semana passada, novamente a questão<br />

indígena demonstrou que enfrentará<br />

retrocessos durante o próximo governo.<br />

Futuros ministros de Bolsonaro<br />

iniciaram um jogo de empurra no intuito<br />

de desvincular a Fundação Nacional<br />

do Índio (Funai) do Ministério da<br />

Justiça, ventilando a possibilidade do<br />

órgão indigenista estatal seguir para o<br />

Ministério da Agricultura ou Presidência<br />

da República.<br />

FOTO MICHELLE CALAZANS, ASCOM CIMI<br />

20


Indígenas Tembé reafirmam luta<br />

por direitos em conferência<br />

local de Saúde Indígena<br />

Tembé das regiões de Santa Maria<br />

do Pará, Santa Luzia do Pará, Capitão Poço e Tomé-<br />

Açú, realizaram a etapa local da 6ª Conferencia de Saúde<br />

Indígena na TI Alto Rio Guamá.<br />

FOTOS: ALAN TEMBÉ<br />

POR ALAN TEMBÉ<br />

Indígenas da etnia Tembé realizaram,<br />

entre os dias 12 a 15 de novembro,<br />

na Terra Indígena (TI) Alto<br />

Rio Guamá, no Pará, a 6ª Conferencia<br />

de Saúde Indígena local, com o tema<br />

“Atenção Diferenciada, Vida e Saúde nas<br />

Comunidades Indígenas”. Ocorrido na<br />

Aldeia São Pedro, este momento contou<br />

com a participação de indígenas Tembé<br />

de outras regiões, como Tembé de Santa<br />

Maria do Pará, Santa Luzia, Capitão Poço<br />

e Tomé-Açu, que se deslocaram de suas<br />

bases para discutir e propor demandas<br />

referentes às suas aldeias.<br />

A conferencia trazia consigo sete<br />

eixos e sub-eixos temáticos para serem<br />

discutido em sete grupos, mais nós<br />

Tembé Tenetehara mudamos a metodo-<br />

logia e <strong>nos</strong> reunimos em quatro grupos,<br />

onde todos do grupo tiveram a oportunidade<br />

de se debruçar sobre os eixos temáticos<br />

e lançar suas propostas contundentes,<br />

garantido o respeito e a dignidade<br />

de cada povo.<br />

Várias reclamações foram feitas,<br />

como falta de combustível <strong>nos</strong> carros,<br />

o contingente de carros tem que ser<br />

mantido, e que a nova empresa Ovidio<br />

compareça na Conferência Distrital em<br />

Belém (PA), não aceitamos a retirada<br />

da SPDM do Distrito Sanitário Especial<br />

Indígena (DSEI) Guamá Tocantins, pois<br />

é uma empresa que sempre prestou serviços<br />

de qualidade e sempre <strong>nos</strong> ouviu,<br />

Hoje os recursos do Dsei Guamá<br />

Tocantins (Guatoc) continuam os mesmos.<br />

A demanda por atendimento triplicou<br />

e o orçamento não, hoje o Dsei<br />

21<br />

EDIÇÃO DEZEMBRO <strong>2018</strong>


Na conferência, reafirmamos que lutaremos para a manutenção dos direitos originários dos povos<br />

das florestas<br />

Guatoc tem uma demanda de 17 mil indígenas.<br />

Com a entrada dos indígenas<br />

de Santarém, não temos como atender<br />

pois não tem recurso suficiente para<br />

todos. Solicitamos que o ministério da<br />

Saúde, juntamente com a Sesai, crie o<br />

Distrito Sanitario Especial Indígena de<br />

Santarém, pois os nove polos do Dsei<br />

Guatoc estão sendo penalizados, tirando<br />

recursos do teto do distrito para atender<br />

os demais indígenas de Santarém, que<br />

não têm cobertura geográfica do Guamá<br />

Tocantins para atendê-los.<br />

Os indígenas Tembé de Santa Maria<br />

do Pará fazem parte da região Guatoc,<br />

mas até hoje não foram incluídos no<br />

Sistema de Informação da Atenção à<br />

Saúde Indígena (SIASI), nunca tiveram<br />

polo ou posto de saúde indígenas e desde<br />

2004 aguardam por esse momento.<br />

Hoje, as aldeia Jeju e Areal, nesta região,<br />

somam juntas 500 indígenas.<br />

EDIÇÃO DEZEMBRO <strong>2018</strong><br />

Na conferência, reafirmamos que<br />

lutaremos para a manutenção dos direitos<br />

originários dos povos das florestas,<br />

continuaremos lutando por saúde diferenciada<br />

e não aceitaremos de forma<br />

alguma que a <strong>nos</strong>sa saúde seja municipalizada.<br />

Seguiremos lutando pela demarcações<br />

dos territórios tradicionais<br />

e por todos os direitos garantidos na<br />

Constituição de 1988, pois <strong>nos</strong>sos direitos<br />

estão sendo ameaçados por esse<br />

novo governo que se aproxima. Os dias<br />

são sombrios, repudiamos o posicionamento<br />

do presidente Jair Bolsonaro, que<br />

vem repetidamente se manifestando<br />

contrário à demarcação dos territórios<br />

indígenas, essas atitudes atingem a tradicionalidade<br />

dos povos originários do<br />

Brasil.<br />

“Avançar sem recuar”<br />

“Resistimos para existir”<br />

22


Povo Tupinambá de Olivença apresenta<br />

carta pelo direito à demarcação<br />

do território tradicional<br />

O processo<br />

de demarcação do território tradicional<br />

encontra-se paralisado no Ministério da Justiça para<br />

assinatura da Portaria Declaratória<br />

Indignados com a posição do Poder<br />

Executivo, o povo indígena Tupinambá<br />

de Olivença apresenta Carta pelo direito<br />

à demarcação do território tradicional,<br />

em Ilhéus (Bahia), assegurado na<br />

Constituição Federal de 1988, conforme<br />

prevê os artigos 231 e 232. A proposta<br />

é sensibilizar o governo e, sobretudo, o<br />

Ministério da Justiça para que assine de<br />

imediato a Portaria Declaratória para demarcação<br />

do território ancestral. Hoje,<br />

o processo de demarcação do povo<br />

Tupinambá de Olivença encontra-se paralisado<br />

no Ministério da Justiça para assinatura<br />

da Portaria Declaratória, uma<br />

vez que todas as contestações foram<br />

respondidas e julgadas pelo Superior<br />

Tribunal de Justiça (STJ).<br />

Em carta, os indígenas destacam<br />

que, no dia 14 de setembro de 2016 foi<br />

julgado no STJ e, por unanimidade, os<br />

ministros votaram pela anulação do mandato<br />

dando prosseguimento ao processo<br />

de demarcação e publicou um telegrama<br />

eletrônico, informando que não há nenhum<br />

impedimento jurídico que impeça<br />

a assinatura da portaria declaratória que<br />

demarca o território tradicional.<br />

Confira na próxima página a carta<br />

na íntegra:<br />

23<br />

EDIÇÃO DEZEMBRO <strong>2018</strong>


CARTA DO POVO TUPINAMBÁ DE OLIVENÇA<br />

Nós, povo Tupinambá de Olivença localizados<br />

<strong>nos</strong> municípios de Ilhéus, Una,<br />

Buerarema e São José da Vitória, no sul<br />

do Estado da Bahia, vimos através desta<br />

carta, lamentar a posição do governo<br />

brasileiro em não demarcar do <strong>nos</strong>so<br />

Território Sagrado em tempo hábil, em<br />

2001 obtivemos o <strong>nos</strong>so reconhecimento<br />

étnico pela FUNAI e assim instituído o<br />

grupo técnico para o levantamento territorial<br />

onde <strong>nos</strong> encontrávamos e estamos<br />

desde 1500, em 19 de abril de 2009 foi<br />

publicado no Diário Oficial da União o relatório<br />

circunstanciado de identificação e<br />

delimitação da TI Tupinambá de Olivença,<br />

totalizando 47.376 hectares, que a partir<br />

da publicação, se intensificou os ataques<br />

dos fazendeiros contra <strong>nos</strong>so povo, por<br />

não reconhecerem <strong>nos</strong>so direito legal ao<br />

território. No ano de 2004 começamos a<br />

retomar <strong>nos</strong>so Território pois já estávamos<br />

ficando cercados pelos fazendeiros<br />

que <strong>nos</strong> atacavam constantemente cometendo<br />

inúmeros assassinatos muitas vezes<br />

acobertada pelo próprio Estado, além<br />

do mais, eles estavam destruindo os <strong>nos</strong>sos<br />

bens naturais que ainda restam, com<br />

a construção de grandes empreendimentos,<br />

retiradas de <strong>nos</strong>sos minérios, areias<br />

entre outros, apesar de <strong>nos</strong>sas denúncias<br />

aos órgãos ambientais e aos órgãos governamentais<br />

que deveriam cuidar e zelar<br />

pelo <strong>nos</strong>so território e todas as riquezas<br />

contidas nele, nada é feito para evitar este<br />

roubos e destruição do <strong>nos</strong>so Território<br />

Tradicional. Em vez de providenciar a regularização<br />

do território, o governo gasta<br />

em outras operações que apenas tumultua<br />

o processo e gera ainda mais violência<br />

e desrespeito aos <strong>nos</strong>sos direitos,<br />

como em 2009 quando gastou cerca R$<br />

9.000.000,00 (nove milhões de reais) em<br />

aparatos militares para <strong>nos</strong> confrontar e<br />

perseguir as <strong>nos</strong>sas lideranças resultando<br />

em 35 homicídios sem nenhum julgamento<br />

dos culpados. Em 2013 a associação de<br />

peque<strong>nos</strong> produtores (quem na verdade<br />

é dos grandes produtores e fazendeiros)<br />

que visam tirar de <strong>nos</strong>so território todos<br />

os minérios que ainda não conseguiram<br />

<strong>nos</strong> roubar e os grandes empreendimentos<br />

que destroem as <strong>nos</strong>sas florestas e água,<br />

entraram com um Mandado de segurança<br />

no STJ suspendendo e paralisando o processo<br />

de demarcação. Nesta morosidade e<br />

demora já foram praticadas por esta dita<br />

Associação e políticos locais, depredação<br />

e destruição do patrimônio público como<br />

veículos da SESAI (secretaria especial de<br />

saúde indígena), Banco do Brasil, Correios,<br />

Cesta do Povo. Casas de <strong>nos</strong>sos parentes<br />

foram incendiadas nas cidades, ônibus escolar<br />

que transporta <strong>nos</strong>sos alu<strong>nos</strong> foi incendiado,<br />

sofreram atendados a bala. No<br />

dia 14 de setembro de 2016, o Mandado<br />

de Segurança, foi julgado no próprio STJ<br />

e por unanimidade (10 x 0) os Ministros<br />

votaram pela anulação do Mandado dando<br />

prosseguimento ao processo de demarcação<br />

e publicou um telegrama eletrônico,<br />

informando que não há nenhum impedimento<br />

jurídico que impeça a assinatura da<br />

Portaria Declaratória que demarca o <strong>nos</strong>so<br />

Território.<br />

Nosso processo de demarcação<br />

encontra-se paralisado no Ministério<br />

da Justiça para assinatura da Portaria<br />

Declaratória, uma vez que todas as contestações<br />

foram respondidas e julgadas<br />

pelo STJ, e não aplicando-se o parecer<br />

001/2017 da AGU. Portanto não existe<br />

mais nenhum impedimento administrativo,<br />

jurídico que impeça a Assinatura<br />

e a regularização do <strong>nos</strong>so Território.<br />

Entendemos que as forças políticas da<br />

região, e o atual governo Temer, já está<br />

instituído o novo presidente da República<br />

Jair Bolsonaro, para a não demarcação,<br />

o cenário no Congresso Nacional com o<br />

avanço das bancadas (Ruralista, Militar e<br />

Evangélica) estão declarando e se posicionando<br />

contrarias as causas dos povos<br />

indígenas e das minorias que lutam pela<br />

garantia de seus território e o bem viver.<br />

Indignados e preocupados com a posição<br />

do poder Executivo do Brasil, pois<br />

o direito a demarcação está assegurado<br />

na Constituição Federal 1988 <strong>nos</strong> artigos<br />

231 e 232, viemos solicitar o apoio desta<br />

Embaixada e demais Instituições para <strong>nos</strong><br />

ajudar na sensibilização junto ao Governo<br />

sobretudo o Ministério da Justiça para que<br />

assine de imediato a Portaria Declaratória<br />

e demarque o <strong>nos</strong>so Território Ancestral.<br />

Evitando assim mais violência contra o<br />

<strong>nos</strong>so Povo.<br />

Certos de vosso apoio, a nação<br />

Tupinambá de Olivença agradece.<br />

Ilhéus, 30 de novembro de <strong>2018</strong>.<br />

EDIÇÃO DEZEMBRO <strong>2018</strong><br />

24


O Mensageiro de <strong>Dezembro</strong> está no ar.<br />

Fica aberto até o fim do mês. Pode mandar<br />

artigos e fotos, opiniões e comentários para:<br />

mensageiroonline.org@gmail.com<br />

O próximo Mensageiro será para Janeriro<br />

2019. Também podem já adiantar algum<br />

artigo com fotos ou desenhos.<br />

Partilha com os leitores sobre:<br />

líderes de sua comunidade, sábios<br />

com suas histórias a contar;<br />

situação de suas terras e as lutas,<br />

ou a dificuldade com água;<br />

conquistas e vitórias de seu povo;<br />

expressões culturais e de sua espiritualidade.<br />

e como estas fortalecem o povo<br />

Editora Mensageiro<br />

Caixa postal 41<br />

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Belém- PA<br />

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