11.04.2019 Views

TECLASEAFINS60

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

LEANDRO CABRAL O jazz brasileiro de claves e pausas<br />

UNO SYNTH O sintetizador analógico da IK Multimedia<br />

Ano 6 - Número 60 - Abril 2019<br />

www.teclaseafins.com.br<br />

& AFINS<br />

Amilton<br />

Godoy<br />

Um novo trio em<br />

homenagem ao Zimbo<br />

E mais<br />

Gabriel Nóbrega e o novo álbum do Silibrina<br />

Fundamentos da síntese sonora subtrativa<br />

Os acordes alterados na música gospel<br />

Roteiro de estudos para rock<br />

O ponto certo da mixagem<br />

“Lugar Comum” para você tocar


Ano 6 - N° 60 - Abril 2019<br />

Publisher<br />

Nilton Corazza<br />

publisher@teclaseafins.com.br<br />

Gerente Financeiro<br />

Regina Sobral<br />

financeiro@teclaseafins.com.br<br />

Editor e jornalista responsável<br />

Nilton Corazza (MTb 43.958)<br />

Colaboraram nesta edição:<br />

Andersen Ribeiro, Cristiano Ribeiro,<br />

Eneias Bittencourt, Mateus Schanoski,<br />

Miguel Ratton, Rosana Giosa e Wagner Cappia<br />

Diagramação<br />

Sergio Coletti<br />

arte@teclaseafins.com.br<br />

Foto da capa<br />

Divulgação<br />

Publicidade/anúncios<br />

comercial@teclaseafins.com.br<br />

Contato<br />

contato@teclaseafins.com.br<br />

Sugestões de pauta<br />

redacao@teclaseafins.com.br<br />

Os artigos e materiais assinados são de responsabilidade<br />

de seus autores. É permitida a reprodução dos conteúdos<br />

publicados aqui desde que fonte e autores sejam citados e o<br />

material seja enviado para nossos arquivos. A revista não se<br />

responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios publicados.<br />

Desenvolvido por<br />

& AFINS<br />

EDITORIAL<br />

Esta edição comemora<br />

cinco anos ininterruptos<br />

de publicação de nossa<br />

revista digital gratuita. Se<br />

houve dificuldades? Muitas!<br />

Mas o ideal de levar todo<br />

mês até você uma leitura<br />

agradável e ao mesmo<br />

tempo instrutiva nos faz<br />

seguir adiante. Entre tantos<br />

artistas importantes das<br />

teclas em nosso País e no mundo, entrevistamos alguns - na<br />

verdade, mais de duzentos - para que sirvam de referência<br />

a todos aqueles que se dedicam aos teclados, seja tocando<br />

ou apenas apreciando. Durante todo esse tempo, também<br />

falamos de diversos equipamentos, destrinchamos técnicas<br />

e teorias, e apresentamos novidades, sempre com o olhar<br />

de nosso leitor, que pode usufruir de toda essa informação<br />

gratuitamente, bastando acessar o site. Nesses cinco anos,<br />

muitos foram os nomes que passaram por aqui como<br />

colaboradores. Alguns estão conosco desde a primeira<br />

edição, ao passo que outros foram sendo agregados à equipe<br />

durante esses 60 meses - é o caso de Mateus Schanoski,<br />

que se junta à Rosana Giosa, Andersen Medeiros, Eneias<br />

Bittencourt, Miguel Ratton, Alex Saba, Cristiano RIbeiro<br />

e Wagner Cappia nesta edição e nas futuras. Outros, se<br />

afastaram da tarefa de escrever, mas, continuam nos dando<br />

o apoio necessário sempre que preciso, para que possamos<br />

levar a você informação de qualidade. Agradecemos<br />

profundamente a todos, que são os grandes responsáveis<br />

pelo sucesso de nossa publicação. E ficamos torcendo para<br />

que muitos outros se juntem à equipe, para que cada vez<br />

mais informação esteja disponível. Esperamos que nos<br />

acompanhe pelos próximos cinco anos! Boa leitura!<br />

Rua Nossa Senhora da Saúde, 287/34<br />

Jardim Previdência - São Paulo - SP<br />

CEP 04159-000<br />

Telefone: +55 (11) 961.804.505<br />

Nilton Corazza<br />

Publisher<br />

2 / marco 2019 teclas & afins


2<br />

NESTA EDICAO<br />

VOCE EM TECLAS E AFINS 4<br />

O espaço exclusivo dos leitores<br />

INTERFACE 6<br />

As notícias mais quentes do<br />

universo das teclas<br />

retrato 14<br />

Leandro Cabral<br />

Por Nilton Corazza<br />

vitrine 22<br />

Novidades do mercado<br />

review 24<br />

UNOSYNTH da IK Multimedia<br />

Por Cristiano Ribeiro<br />

materia de capa 30<br />

Amilton Godoy<br />

O Fino de Todas as Bossas<br />

Por Nilton Corazza<br />

42 sintese sonora<br />

Introdução à síntese subtrativa<br />

Por Miguel Ratton<br />

50 estudio<br />

O ponto certo da mixagem<br />

Por Nilton Corazza<br />

53 acordeon sem limites<br />

O exercício da múltipla escolha<br />

Por Eneias Bittencourt<br />

56 arranjo comentado<br />

“Lugar Comum”, de João Donato<br />

Por Rosana Giosa<br />

62 mundo gospel<br />

O acorde alterado<br />

Por Andersen Medeiros<br />

66 toques pesados<br />

Roteiro de estudos<br />

Por Mateus Schanoski<br />

70 vida de musico<br />

Virar a chave<br />

Por Wagner Cappia<br />

teclas & afins<br />

marco 2019 / 3


vOCE em teclas & afins<br />

Quer aprender a<br />

Vamos nos conectar?<br />

Edição 59<br />

tocar blues?<br />

Assisti ao show do Azymuth no Blue Note em São Paulo,<br />

e teve uma “canja” do Stanley Jordan. Agora posso<br />

dizer: Kiko Continentino é o cara! (Samuel Santos, em<br />

nossa página no Facebook).<br />

CD com método digital + 61 pistas de áudio<br />

(solos/Play Along)<br />

Amei a entrevista, mas tenho uma dúvida: como o<br />

juizado de menores deixava ele trabalhar? (Geisa<br />

Campos, por e-mail)<br />

R$ 49,90<br />

Mais de 20 anos com Milton Nascimento? Às vezes, a<br />

gente não sabe quem faz aquele som maravilhoso.<br />

em até<br />

De<br />

12 x no cartão<br />

repente, a gente descobre, graças à Teclas & Afins. Parabéns!<br />

(Maria do Rosário Seles, em nossa página no Facebook).<br />

Curti demais a matéria sobre o disco do Fabio Ribeiro. É bom saber o que os músicos<br />

profissionais usam! (Carlos Iahn Domingues, em comentário no nosso blog)<br />

Mauricio Pedrosa<br />

www.teclaseafins.com.br<br />

Ouvi e gostei muito do disco do Remove Silence. Saber, do próprio músico, o que ele<br />

usou é maravilhoso! (Manoel SIlveira, em comentário no nosso blog)<br />

ASSINE<br />

por apenas R$ 89,90<br />

por ano em até 12 x no cartão<br />

E GANHE!<br />

um CD de áudio<br />

Teclas & Afins ficou ainda melhor!<br />

Além de levar até você a mais<br />

completa informação sobre músicos<br />

e instrumentos, a revista pode ser<br />

baixada e impressa para você ler<br />

quando quiser!<br />

www.teclaseafins.com.br<br />

A REVISTA DIGITAL DE TODOS OS INSTRUMENTOS DE TECLAS<br />

4 / abril 2019<br />

AUDIO - PERIFERICOS - PRODUCAO - COMPOSICAO - ARRANJO E MAIS<br />

teclas & afins<br />

& AFINS


Andersen Medeiros<br />

vOCE em teclas & afins<br />

O cara acertou na veia isso é que é saber ensinar, nunca achei vídeos tão bons<br />

(Orivaldo Antonio Rossi, no vídeo “Como tocar de ouvido - Quão Grande És Tu”, em nosso<br />

canal no YouTube)<br />

Amei! (Carmem Pereira, no vídeo “Como tocar de ouvido - Quão Grande És Tu”, em nosso<br />

canal no YouTube)<br />

Muito bom! Esclarecedor! Parabéns! Deus o abençoe! (Jordane Machado, no vídeo “Jazz<br />

na Igreja”, em nosso canal no YouTube)<br />

Sabia que esses hinos têm influência de blues... (Davi Victor, no vídeo “Acordes diminutos”,<br />

em nosso canal no YouTube)<br />

Muito legais suas aulas. Eu já toco um pouquinho, mas sei que vou enriquecer<br />

bastante com seus vídeos! Paz! (Eduardo Guimarães Nogueira, no vídeo “Progressões<br />

ascendentes e descendentes”, em nosso canal no YouTube)<br />

R.: Em todas as edições, postamos neste espaço algumas das manifestações de admiração<br />

e apreço de nossos leitores por entrevistas, matérias, colunas, aulas, arranjos e vídeos que<br />

publicamos, como reconhecimento a nossos colaboradores e agradecimento para todos<br />

aqueles que leem Teclas & Afins! Obrigado!<br />

Mostre todo seu talento!<br />

Não importa o instrumento: piano, órgão, teclado, sintetizadores, acordeon, cravo e<br />

todos os outros têm espaço garantido em nossa revista. Mas tem que ser de teclas!<br />

Como participar:<br />

1. Grave um vídeo de sua performance.<br />

2. Faça o upload desse vídeo para um canal no Youtube ou para um servidor de<br />

transferência de arquivos como Sendspace.com, WeTransfer.com ou WeSend.pt.<br />

3. Envie o link, acompanhado de release e foto para o endereço contato@teclaseafins.com.br<br />

4. A cada edição, escolheremos um artista para figurar nas páginas de Teclas & Afins, com<br />

direito a entrevista e publicação de release e contato.<br />

Teclas & Afins quer conhecer melhor você, saber sua<br />

opinião e manter comunicação constante, trocando<br />

experiências e informações. E suas mensagens podem<br />

ser publicadas aqui! Para isso, acesse, curta, compartilhe<br />

e siga nossas páginas nas redes sociais clicando nos ícones acima. Se preferir, envie críticas, comentários<br />

e sugestões para o e-mail contato@teclaseafins.com.br<br />

teclas & afins<br />

abril 2019 / 5


interface<br />

DESVELANDO MARES<br />

Com sobrenome de responsabilidade, Bianca Gismonti herdou a<br />

musicalidade do pai – o pianista, violonista e compositor Egberto<br />

Gismonti – e a teatralidade da mãe - a atriz Rejane Medeiros. Em<br />

Desvelando Mares, seu mais novo álbum - lançado com o trio<br />

formado com o baixista Antonio Porto, o baterista Julio Falavigna e<br />

convidados -, a pianista e compositora incorpora influências musicais<br />

de diversas regiões do planeta e navega por ritmos de muitas partes<br />

do globo. O trabalho foi produzido e gravado em Budapeste, na Hungria, entre 2016 e<br />

2018. Nas nove faixas, quase todas instrumentais e algumas com mais de oito minutos<br />

de duração, a viagem musical é feita com o auxílio de instrumentos típicos e uma<br />

mistura de sonoridades regionais, orientada pela ideia das navegações. Ainda que vá<br />

iniciar em breve uma sequência de shows pelo Brasil, a inquietante veia musical da<br />

artista já pulsa por mais novidades: o próximo álbum já está pronto, embora ainda sem<br />

data de lançamento. Gismonti 70 reunirá o repertório do pai, Egberto, em homenagem<br />

aos seus 70 anos, completados em 2017.<br />

6 / abril 2019 teclas & afins


interface<br />

ESCRAVOS DA ESTRADA<br />

Luiz Schiavon retomou os trabalhos<br />

com o RPM, banda de maior sucesso no<br />

rock nacional na década de 1980. Com<br />

integrante estreante – o baixista e vocalista<br />

Dioy Pallone - e outras novidades, o grupo<br />

acaba de lançar duas músicas: “Ah! Onde<br />

Está Você” e “Escravo da Estrada”. A banda<br />

teve diversas rupturas e recomeços, mas<br />

o tecladista afirma que esses problemas<br />

estão resolvidos e que o RPM volta mais<br />

consciente e maduro:“É mais difícil<br />

cometer erros de julgamento”. Segundo o<br />

músico, não faltam no show clássicos do<br />

RPM, como “Rádio Pirata”, “Loiras Geladas”<br />

e “Olhar 43”, além das músicas novas. A<br />

banda também está construindo uma<br />

apresentação intimista, acústica, só com<br />

piano, órgão, percussão e cordas.<br />

LEILÃO<br />

teclas & afins<br />

O icônico piano de John Lennon, que fez<br />

parte da criação do álbum Sgt. Pepper Lonely<br />

Hearts Club, dos Beatles (1967), está sendo<br />

leiloado. O instrumento permaneceu na<br />

famosa casa do compositor em Kenwood,<br />

na Inglaterra, e tem uma placa com a<br />

inscrição “Neste piano foram escritas ‘A Day<br />

in the Life’, ‘Lucy in the Sky with Diamonds’,<br />

‘Good Morning, Good Morning’, ‘Being for<br />

the Benefit of Mr. Kite’ e muitas outras.<br />

John Lennon. 1971”. O piano histórico<br />

foi construído em 1872 pela prestigiosa<br />

empresa John Broadwood & Sons. Estimase<br />

que o valor da peça, oferecida pelo<br />

site de leilões online Gotta Have Rock and<br />

Roll, atinja mais de US$ 1,2 milhão. No ano<br />

2000, o piano usado por Lennon para criar<br />

“Imagine” foi arrematado por US$ 1,7 pelo<br />

falecido cantor George Michael. O leilão<br />

online estará aberto de 10 a 19 de abril e o<br />

lance mínimo é de US$ 575 mil.<br />

ABRIL 2019 / 7


Conheça as publicações da<br />

SOM & ARTE<br />

E D I T O R A<br />

interface<br />

@BlueNoteComunicação<br />

INICIAÇÃO AO PIANO POPULAR<br />

Volumes 1 e 2<br />

LANÇAMENTO<br />

Inéditos na<br />

área do piano<br />

popular, são<br />

livros dirigidos<br />

a adultos ou<br />

crianças que<br />

queiram iniciar<br />

seus estudos de<br />

piano de forma<br />

agradável e<br />

consistente.<br />

MÉTODO DE ARRANJO PARA<br />

PIANO POPULAR<br />

Volumes 1, 2 e 3<br />

Ensinam o aluno<br />

a criar seus<br />

próprios arranjos.<br />

REPERTÓRIO PARA PIANO<br />

POPULAR<br />

Volumes 1, 2 e 3<br />

Trazem 14<br />

arranjos prontos<br />

em cada<br />

volume para<br />

desenvolvimento<br />

da leitura das<br />

duas claves (Sol e<br />

Fá) e análise dos<br />

arranjos.<br />

Visite nosso site para conhecer melhor<br />

os 3 Métodos e os 3 Repertórios<br />

www.editorasomearte.com.br<br />

Contato: rosana@editorasomearte.com.br<br />

MOVEMENT<br />

A tecladista Gillian Gilbert narrou suas<br />

experiências na gravação de Movement,<br />

álbum de estreia da banda New Order, no<br />

segundo episódio da série Transmissions. O<br />

documentário conta a história do primeiro<br />

disco da banda após o fim do Joy Division,<br />

em 1981. Gillian, que originalmente se<br />

juntou ao grupo para tocar guitarra,<br />

também dá alguns detalhes da gravação,<br />

especialmente a relação com o produtor<br />

Martin Hannett. O lançamento da nova<br />

edição de Movement está marcada para o<br />

dia 5 de abril, em um box que traz o álbum<br />

em LP de vinil com sua capa icônica original<br />

desenhada por Peter Saville, o álbum em<br />

CD (em réplica mini-LP com envelope) e<br />

um CD bônus de faixas inéditas. O último<br />

disco desse pacote é um DVD com shows<br />

ao vivo e aparições na TV.<br />

8 / ABRIL 2019 teclas & afins


interface<br />

LONGE DO PIANO<br />

Pela primeira vez em sua carreira, o maestro<br />

João Carlos Martins subiu aos palcos sem<br />

o piano. Após 24 cirurgias, e depois de seis<br />

mil apresentações, ele perdeu o movimento<br />

dos dedos das duas mãos e, por isso, não<br />

conseguirá mais tocar o instrumento. O<br />

concerto aconteceu no início de março no<br />

teatro do Sedes, em Taubaté, no interior do<br />

Estado de São Paulo, e o maestro se emocionou:<br />

“É a minha primeira apresentação somente<br />

como maestro, e é também a primeira vez<br />

que eu entro no palco sem ver o meu velho<br />

companheiro ao meu lado”, disse o maestro,<br />

segurando as lágrimas, ao se referir ao piano. Enquanto isso, a incrível história trágica e<br />

de superação do pianista, um dos grandes nomes da música clássica mundial, é a linha<br />

mestra do espetáculo “Concertos para João”. Nele, o autor, Sérgio Roveri, condensa a vida<br />

do maestro em poucos dias, quando ficou internado, em 2012, para o último procedimento<br />

cirúrgico. “O que mais me inspirou na hora de escrever foram os momentos em que ele<br />

se viu privado deste talento. E penso que, ao conduzir a história por este caminho, a peça<br />

deixa de falar apenas dele e passa a falar de todo grande artista que, de repente, se vê<br />

impedido de realizar sua arte”.<br />

MADEMOISELLE PARADIS<br />

A cinebiografia de Maria Theresia Paradis,<br />

pianista e compositora contemporânea<br />

de Mozart - para quem, provavelmente,<br />

ele escreveu seu “Concerto para Piano<br />

K456 em Si b Maior” - está chegando<br />

aos cinemas do Brasil. Focando no<br />

relacionamento da musicista com<br />

seu médico, o longa Mademoiselle<br />

Paradis segue a austríaca no fim de sua<br />

adolescência, quando seus pais contratam<br />

um excêntrico médico, o Dr. Franz Anton<br />

Mesmer, para tentar curar sua cegueira.<br />

Mas, pouco a pouco, ela percebe que,<br />

com a volta da sua visão, seus talentos<br />

musicais vão se perdendo. O filme tem<br />

data de estreia marcada para 2 de maio.<br />

© Vânia Laranjeira<br />

teclas & afins<br />

ABRIL 2019 / 9


interface<br />

Festival de Órgão de Tubos<br />

A USP e a Catedral Evangélica de São Paulo<br />

inauguraram, no fim de março, um novo<br />

órgão de tubos cedido pela Universidade de<br />

São Paulo e instalado na sede da instituição<br />

religiosa. O órgão, fabricado pela empresa<br />

é composto por cinco corpos, 3.400 tubos<br />

de metal e 175 tubos de madeira. Foi<br />

adquirido pela Universidade em 2013 e,<br />

inicialmente, seria instalado no Centro<br />

de Convenções, no campus de São Paulo.<br />

Entretanto, o processo de construção do<br />

Centro foi interrompido. No final de 2015,<br />

o Conselho Universitário havia aprovado<br />

a instalação do instrumento na Catedral<br />

Metropolitana de São Paulo, o que não se<br />

efetivou por questões de ordem técnica.<br />

Em julho de 2017, o Conselho aprovou a<br />

cessão à Catedral Evangélica, formalizada<br />

por meio de um convênio envolvendo as<br />

duas instituições e a Fundação Mary Harriet<br />

Speers – responsável pelo aporte financeiro<br />

do projeto. O convênio abarca montagem,<br />

instalação, utilização e manutenção do<br />

órgão. Também estabelece a elaboração e<br />

a promoção de programas de incentivo à<br />

música e de educação musical. Além disso,<br />

a parceria com a Escola de Comunicações<br />

e Artes (ECA) permitirá o desenvolvimento<br />

de atividades didático-acadêmicas com<br />

alunos e docentes do Departamento de<br />

Música da Escola e, por seu intermédio,<br />

com professores e estudantes vinculados às<br />

universidades e escolas de música do Estado<br />

de São Paulo. A inauguração foi marcada<br />

com um concerto especial, fechado para<br />

convidados, que contou com a participação<br />

da Orquestra Sinfônica da USP (Osusp) e do<br />

Coro da Orquestra Sinfônica do Estado de São<br />

Paulo (Osesp), sob a regência de Valentina<br />

Peleggi, tendo como solista o organista e<br />

professor do Departamento de Música da<br />

Escola de Comunicações e Artes (ECA) da<br />

USP, José Luís de Aquino. A apresentação<br />

deu início à série de concertos gratuitos e<br />

abertos ao público que serão realizados às<br />

sextas, sábados e domingos, entre os meses<br />

de março e junho. A programação inclui<br />

a participação de convidados especiais<br />

como Ana Carolina Sacco, Márcio Arruda,<br />

Alexandre Rachid (professor de órgão da<br />

Escola de Música da UFRJ) e Luis Caparra<br />

(professor da Universidad Nacional de las<br />

Artes, de Buenos Aires), além do próprio<br />

José Luís de Aquino.<br />

Órgão Gerhard Grenzing, recém-inaugurado na Catedral Evangélica de São Paulo<br />

10 / ABRIL 2019 teclas & afins


Linha CA<br />

Concert Artist<br />

Os Pianos Digitais<br />

da Kawai que unem<br />

sofisticação, tecnologia<br />

e qualidade inigualável<br />

de som e toque.<br />

Kaway CA48<br />

Mecanismo Grand Feel Action –<br />

reprodução fiel dos sons dos pianos<br />

de cauda SK-EX e EX.<br />

Kawai CA58<br />

Teclas de madeira revestidas com<br />

Ivory Touch – real sensação de<br />

toque de um piano de cauda.<br />

Kawai CA78<br />

Mecanismo Grand Feel II, sistema<br />

de geração de sons SK-EX Rendering<br />

e tecnologia de amplificação ONKYO.<br />

(11) 3973-7900<br />

www.piano.com.br<br />

Paixão que passa<br />

por gerações.


interface<br />

OS NOVOS VOOS DO SILIBRINA<br />

Na esteira de dois anos de apresentações<br />

no Brasil, Estados Unidos e Europa, a<br />

banda de música instrumental brasileira<br />

Silibrina, liderada pelo pianista Gabriel<br />

Nóbrega, acaba de lançar seu segundo<br />

álbum, Estandarte. O processo de gravação<br />

do disco aconteceu em agosto de 2018, no<br />

Estúdio Dissenso, e preza pela qualidade do<br />

áudio. Mas também há vídeos de algumas<br />

das faixas captadas em apresentações.<br />

Desse modo, Estandarte tem, na verdade,<br />

duas versões: a “estúdio”, lançada em áudio<br />

em janeiro, e algumas faixas em versão “ao<br />

vivo”, em vídeo, que serão disponibilizadas<br />

ao longo de 2019.<br />

Gabriel Nóbrega iniciou sua carreira musical<br />

aos 11 anos de idade acompanhando seu<br />

pai, o multiartista pernambucano Antônio<br />

Nóbrega, como percussionista. Durante 13<br />

anos, fez shows por todo o Brasil e turnês<br />

ao redor do mundo. Mais tarde, apostou<br />

também na vocação para criar e dirigir<br />

filmes de animação e, em 2015, foi o diretor<br />

de publicidade mais premiado do Brasil e<br />

um dos mais premiados do mundo.<br />

Além de tocar piano, Gabriel Nóbrega<br />

assina as composições e arranjos do<br />

septeto e é acompanhado por Ricardinho<br />

Paraíso (baixo), Jabes Felipe (bateria),<br />

Matheus Prado (percussão), Wagner<br />

Barbosa (saxofone), Reynaldo Izeppi<br />

(trompete) e Gileno Foinquinos (guitarra),<br />

artistas de referências diversas, vindos de<br />

diferentes regiões do Brasil e extremamente<br />

atuantes no cenário musical em São Paulo.<br />

Conversamos com Gabriel Nóbrega para<br />

saber mais sobre o novo album e os projetos<br />

para a banda.<br />

12 / abril 2019 teclas & afins


interface<br />

Quais as diferenças entre a produção do<br />

Raio e do Estandarte?<br />

O Raio foi um disco feito sem a banda<br />

existir. Eu não conhecia os músicos, então,<br />

as seções de improviso eram todas feitas<br />

para músicos genéricos. No Estandarte,<br />

a banda já estava sólida, com a formação<br />

atual trabalhando junto pelo menos há<br />

um ano e meio, e eu já conhecia os caras.<br />

Então, toda seção de improviso era meio<br />

pensada para aquele músico. A própria<br />

sonoridade da banda amadureceu. O Raio<br />

foi um disco composto em alguns anos e<br />

começou nem tendo ao certo qual era a<br />

formação da banda. Eu tive que, depois,<br />

rearranjar muitas das músicas do Raio para<br />

a formação que estabeleci no fim. Começou<br />

como trio, passou para quarteto e depois<br />

virou um septeto, então, rearranjei muitas<br />

das músicas. O Estandarte já foi composto,<br />

do ponto de partida, para a formação final.<br />

Essa é a grande diferença. Do ponto de vista<br />

conceitual, no Estandarte há uma busca mais<br />

explícita pela brasilidade nos arranjos. Há<br />

alguns ritmos mais explícitos. Por exemplo,<br />

“Frevo Maligno” é um frevo mesmo, quase<br />

que de cabo a rabo. Tem um jongo ali no<br />

meio, mas é essencialmente um frevo. Os<br />

maracatus, os xotes, são todos um pouco<br />

mais explícitos. Também há um incremento<br />

maior da percussão. Ela está mais presente<br />

no Estandarte do que no Raio, com certeza.<br />

Em ambos os álbuns, as composições são<br />

todas suas. No Estandarte, houve mais<br />

influência dos músicos no estúdio?<br />

Eles se sentiram mais abertos para darem<br />

palpites, mas a grande contribuição pessoal<br />

foi no jeito de tocar. O arranjo é muito<br />

fechadinho, não tem muito espaço para a<br />

galera mexer no arranjo. Só que, no jeito<br />

de tocar, tem muito, no que fazer naquela<br />

função, tem bastante. Inclusive, escrevi de<br />

teclas & afins<br />

uma forma muito mais solta, também. Por<br />

exemplo, o baixo. No primeiro disco, a linha<br />

de baixo estava toda escrita, nota a nota.<br />

No segundo, já não: escrevi a melodia, a<br />

harmonia, a rítmica e o groove, então ele<br />

tem um pouco mais de liberdade. O mesmo<br />

raciocínio vale para os outros instrumentos.<br />

Você acredita que chegou no ponto ideal de<br />

formação? Nos próximos CDs, a formação<br />

vai se manter?<br />

Acredito que, como banda, chegamos na<br />

formação ideal, isso do ponto de vista dos<br />

músicos que a compõem e do ponto de<br />

vista do que é a proposta da Silibrina. No<br />

entanto, estou neste exato momento no<br />

estúdio, compondo o terceiro disco, que<br />

extrapola a formação. A ideia é fazer uma<br />

Silibrina expandida, com mais metais e mais<br />

percussão. O arranjo, muitas vezes, pede,<br />

mas a banda não tem muito espaço para<br />

variação disso, a não ser em um projeto<br />

especial, que é ideia do próximo álbum,<br />

que é fazer uma coisa especialmente<br />

expandida. A banda Silibrina continua. O<br />

núcleo dela continua sendo esse septeto.<br />

ABRIL 2019 / 13


RETRATO<br />

por nilton corazza<br />

Leandro Cabral<br />

© Divulgação<br />

14 / abril 2019 teclas & afins


leandro cabral<br />

DE CLAVES E<br />

PAUSAS<br />

Com um dos álbuns de jazz mais admirados<br />

dos últimos tempos em todo o mundo, o<br />

pianista Leandro Cabral vem conquistando<br />

espaço graças a concepções arrojadas e um<br />

pleno domínio da linguagem musical<br />

Pianista, compositor, arranjador e educador.<br />

Leandro Cabral é um jovem músico de São<br />

Paulo destaque em sua geração. Jazzista,<br />

tanto musicalmente quando culturalmente,<br />

tem em seu portfólio trabalhos que vão da<br />

recriação do álbum A Love Supreme, de<br />

John Coltrane, reinterpretando a música<br />

de McCoy Tyner, ao show dedicado à fase<br />

mais funky de Herbie Hancock.<br />

Em 2015, lançou seu primeiro álbum como<br />

líder, intitulado Sobre Tradição, com Sidiel<br />

Vieira no baixo acústico e Vitor Cabral na<br />

bateria. O registro visual deu origem à<br />

consagrada websérie do Estúdio Arsis: Arsis<br />

Piano Sessions. Em dezembro de 2016,<br />

lançou seu segundo álbum, “Alfa”, com o qual<br />

se tornou o primeiro artista de jazz no Brasil<br />

da gravadora Universal Music. Gravado ao<br />

vivo no Teatro Alfa, em São Paulo, Cabral,<br />

com seu trio, mescla a improvisação do<br />

teclas & afins<br />

jazz em composições autorais baseadas em<br />

ritmos pouco usuais, como o vassi e o ijexá,<br />

ambos oriundos do universo percussivo<br />

afro-brasileiro. O disco tem colhido grande<br />

sucesso na crítica nacional e internacional,<br />

com reviews nos Estados Unidos, Canadá,<br />

Japão, Reino Unido, Rússia, Espanha e<br />

Venezuela, entre outros. O álbum recebeu<br />

5 estrelas no consagrado site All About Jazz<br />

e foi selecionado na lista dos 10 Melhores<br />

Discos do ano de 2016 pelo crítico musical<br />

Carlos Calado, além de angariar o segundo<br />

lugar na lista Melhores Álbuns de Jaz de<br />

2016 no site italiano Argonauta Magazine.<br />

Entre shows e gravações, trabalhou com<br />

renomados vocalistas, como Ed Motta,<br />

Maria Rita, Seu Jorge, Filó Machado, Akua<br />

Naru, Honey Larochelle (Macy Gray), Zélia<br />

Duncan, Rashid, Wilson Simoninha, Paula<br />

Lima, Roberta Sá, Cynthia Utterbach, entre<br />

abril 2019 / 15


etrato<br />

© Divulgação<br />

outros, além de músicos do porte de Ed<br />

Neumeister (USA), Adonis Rose (USA),<br />

Lupa Santiago, Sérgio Galvão, Edu Ribeiro,<br />

Vincent Gardner (USA), Hector Costita (ARG),<br />

David Richards (USA), Nailor Proveta, Jessé<br />

Sadoc, Daniel D’alcântara, Casey Scheurell<br />

(USA), Cuca Teixeira, François Lima, Letieres<br />

Leite, Bocato, Vitor Alcântara, Jaques<br />

Morelenbaum, Vinícius Dorin, Walmir Gil,<br />

Paulinho Guitarra, Wilson Teixeira, Arismar<br />

do Espírito Santo, Thiago do Espírito Santo<br />

e Márcio Montarroyos.<br />

Bacharel em Piano pela Faculdade de Artes<br />

Alcântara Machado – FAAM/FMU, estudou<br />

piano, saxofone e teoria musical na<br />

Fundação das Artes de São Caetano do Sul<br />

durante sua adolescência e, hoje, leciona<br />

e ministra workshops e cursos abordando<br />

jazz, música brasileira e consciência<br />

corporal, se valendo de sua experiência em<br />

Hatha Yoga. Conversamos com Leandro<br />

Cabral, que nos contou mais sobre sua<br />

concepção musical. Confira!<br />

Como foi sua formação?<br />

Comecei com 7 anos de idade, estudando<br />

piano clássico. Fiz uns cinco anos de aula<br />

no fundo de uma igreja presbiteriana no<br />

Sacomã com uma professora superquerida,<br />

que ajudou muito a minha família. Teve<br />

épocas em que ela dava aulas de graça<br />

para mim, para o meu irmão e para<br />

16 / abril 2019 teclas & afins


leandro cabral<br />

minha mãe. Foi um anjinho que caiu do<br />

céu. Até que houve uma época em que<br />

a gente teve que parar mesmo, ela não<br />

aguentou continuar dando aulas de graça.<br />

Foi quando eu e meu irmão entramos na<br />

Fundação das Artes, porque lá era muito<br />

barato, subsidiado pelo município de São<br />

Caetano. Lá eu encontrei o jazz, comecei<br />

a estudar piano popular e percebi que era<br />

legal essa coisa de improvisar (risos), de<br />

criar seu som em tempo real - pelo menos<br />

tentar. E junto a isso, sempre tocando na<br />

igreja, protestante, evangélica, o que eu<br />

considero uma escola também, porque,<br />

querendo ou não, o músico está praticando<br />

duas, três, quatro vezes por semana.<br />

Depois que a gente entrou numa igreja<br />

maior - ela tinha um equipamento de som<br />

incrível, bem profissional mesmo, tanto<br />

em termos de teclado como de som, PA, 5<br />

mil pessoas... Então era uma experiência<br />

de palco mesmo. E músicos mais velhos<br />

superexperientes. Eu gosto sempre de<br />

lembrar do Bau e do Ted Furtado, baterista<br />

e baixista da pesada, que ensinaram muito<br />

a gente nessa época. E essa black music<br />

da igreja foi muito importante juntar com<br />

a experiência do conservatório, do jazz,<br />

e depois da faculdade - fiz bacharelado<br />

em piano, em música popular - porque o<br />

espírito do jazz está muito na igreja, está<br />

muito no negro spiritual e obviamente<br />

muito no blues. Mas o Blues está no negro<br />

spiritual, então, a black music dos 90, que<br />

é o que a gente meio que fazia na igreja no<br />

começo dos anos 2000, é completamente<br />

herança, tem ligação direta com esse negro<br />

spiritual do pré-jazz, da época do blues.<br />

Claro que com instrumentos eletrônicos,<br />

mas aquela energia, aquelas frases bluesy<br />

e aquela comoção de entregar música para<br />

um ser superior, estão lá. Musicalmente<br />

falando, foi muito interessante ter o jazz<br />

teclas & afins<br />

acadêmico e a igreja. Depois eu fui para a<br />

noite, com 17, 18 anos. Entrei na faculdade<br />

nessa época, ganhei bolsa, pois não tinha<br />

condição alguma de pagar. A noite é meio<br />

que minha terceira via de aprendizado que<br />

talvez hoje, e há muitos anos, é a principal<br />

porque é aquele lugar onde o músico tem<br />

sempre que colocar, em tempo real, música<br />

instrumental, improvisada, que dá certo<br />

ou dá errado, tocar com um cara bom - que<br />

o humilha às vezes - e tem dias em que<br />

toca com um terrivelmente ruim. Aí, ele<br />

pensa: “eu tocava melhor ontem!” (risos).<br />

Dependendo a perspectiva que você tem<br />

de banda, você se sente melhor ou pior<br />

© Divulgação<br />

abril 2019 / 17


etrato<br />

instrumentista. Então, esse movimento da<br />

noite é muito importante. E é legal que,<br />

principalmente em São Paulo, a noite está<br />

voltando nos últimos anos. Essa noite tem<br />

se recriado, então, acho que é um momento<br />

histórico para a música instrumental<br />

brasileira, muito importante. De um lado,<br />

a noite está se recriando, e de outro, temos<br />

instrumentistas de alto nível. Eu acho que<br />

é uma leva muito interessante.<br />

Além dessas experiências, que outros<br />

músicos foram importantes para consolidar<br />

sua concepção musical?<br />

Vou citar dois caras que, na música popular,<br />

considero meus professores. Um é o Ed<br />

Motta, que conheci quando eu tinha uns 22<br />

anos, quando ele me chamou para a banda<br />

dele. Tocar funk, soul sob as orientações<br />

dele foi muito interessante, porque isso<br />

é uma coisa que não se aprende em um<br />

conservatório, infelizmente. Falo isso com<br />

certo pesar. A sistematização e o ensino<br />

da música no Brasil ainda estão muito<br />

voltados para uma visão eurocentrista. Isso<br />

é algo que tenho tentado trabalhar como<br />

professor há alguns anos: como respeitar<br />

os paradigmas da música de matriz negra<br />

sem ter que toda vez passar pela Europa. É<br />

claro que é uma junção. Quando a gente fala<br />

de jazz e seus filhos, está falando de uma<br />

junção entre duas culturas. Mas, em geral, a<br />

gente sempre se apropria, principalmente<br />

no meio acadêmico, a gente abre esse<br />

mundo musical por um viés eurocentrista,<br />

para uma escrita eurocentrista, por<br />

termos eurocentristas, por uma análise<br />

eurocentrista. E obviamente, a gente faz<br />

isso porque a Europa tem um sistema<br />

muito bem consolidado, que vem há quatro<br />

séculos, pelo menos, sendo construído.<br />

Mas acho que a gente está numa fase<br />

histórica interessante em que a gente<br />

está olhando para os cem anos de jazz<br />

com uma necessidade de falar que alguns<br />

paradigmas da música clássica não fazem<br />

sentido quando a gente vai analisar o jazz.<br />

Mas, na faculdade, no conservatório, em<br />

geral, você está sempre aprendendo uma<br />

análise ou conceitos formais desse outro<br />

tipo de música, que é incrível, não tenho<br />

nada contra. Estudo música clássica até<br />

hoje! Marisa Lacorte foi minha professora<br />

de piano clássico e é minha “mãe do piano”.<br />

Ela mudou minha vida em vários aspectos.<br />

Tenho um profundo respeito pela música<br />

clássica. Mas aprendi, tenho tentado<br />

aprender, como olhar para essa música de<br />

matriz negra a partir, também, de conceitos<br />

do negro. E Ed Motta me ajudou muito nesse<br />

sentido. E outro cara que me ajudou e me<br />

ajuda muito é o Letieres Leite, lá da Orkestra<br />

Rumpilezz. Ele tem um estudo, há mais de<br />

três décadas já, muito bem organizado<br />

sobre as claves afro-brasileiras, o que veio<br />

da África, de cada região, quando toca com<br />

18 / abril 2019 teclas & afins


leandro cabral<br />

a mão ou quando toca com o aguidavi,<br />

aquelas baquetinhas... Então, esse respeito<br />

por uma cultura que vem de outro eixo,<br />

tenho percebido que ajuda na hora de<br />

tocar, de soar melhor dentro do estilo da<br />

música negra. Se você quer soar jazz, precisa<br />

respeitar alguns paradigmas que não são<br />

europeus. Obviamente, no caso do piano,<br />

que é um instrumento 100% europeu, o<br />

estandarte do tonalismo, não tem jeito.<br />

Mas você precisa operar ritmicamente no<br />

instrumento. Por exemplo, Herbie Hancock,<br />

muitas vezes, é um percussionista sobre o<br />

piano. Ele está usando voicings de Ravel,<br />

mas fazendo um batuque com a fluência<br />

e a clareza de um percussionista. É difícil<br />

você abordar isso apenas via voicing,<br />

via harmonia. É quase irresponsável. E é<br />

também irresponsável falar só de ritmo,<br />

porque conheço alguns também que vão<br />

ao extremo oposto. Se tirar a melodia,<br />

a forma, a harmonia, você não tem jazz.<br />

Juntar essas duas frentes tem sido meu<br />

grande desafio e acredito que para o resto<br />

da vida. Muito dessa visão tem a ver com<br />

Sidney Molina. Estudei, com ele, estética,<br />

história da música brasileira e apreciação<br />

musical. Me lembro de que no primeiro ano<br />

de faculdade, para ele falar de apreciação<br />

musical e audição, ele lançava mão de Bach,<br />

de Mozart, depois ouvia Miles e depois<br />

ouvia Beatles. E para cada experiência<br />

sonora de audição, ele lançava mão de<br />

paradigmas coerentes com aquele tipo de<br />

música, respeitando as particularidades<br />

de cada estilo, de cada época. Tem um<br />

pianista na noite que toca no Mancini há<br />

muitos anos, chamado Evaldo Soares. Ele<br />

é uma das minhas grandes influências do<br />

piano no ponto de vista de harmonia. Eu<br />

sempre gosto de citá-lo porque ele é um<br />

cara fenomenal, extremamente generoso,<br />

e que toca um piano... Ele tem um arsenal<br />

teclas & afins<br />

de voicings que é surreal. Se alguém puder<br />

ir ouvi-lo, vale muito a pena. Ele está vivo,<br />

tocando toda noite, como os jazzistas<br />

antigos, e isso é uma raridade.<br />

Pianistas como ele, Amilton Godoy, Cesar<br />

Camargo Mariano, Luiz Eça e tantos<br />

outros, influenciaram várias gerações<br />

de músicos. Como você vê a importância<br />

desses músicos para o desenvolvimento<br />

de uma linguagem musical pianística<br />

essencialmente brasileira?<br />

Se a gente tem essa geração que de certa<br />

forma desponta do que a gente tem tido<br />

ultimamente - tecnicamente, em termos<br />

de linguagem, virtuosismo, timbre de<br />

instrumento etc -, é claro que é uma<br />

construção histórica e que a gente deve<br />

completamente a essas gerações anteriores:<br />

Luiz Eça, Cesar, Hermeto, Egberto apesar<br />

de não serem tão “standard” em termos da<br />

obra majoritária, acredito que é um tipo<br />

de música instrumental que tem muita<br />

influência na gente. Gosto de citar, também,<br />

Moacir Santos que traz um lado negro para<br />

a música popular que a gente meio que<br />

abril 2019 / 19


etrato<br />

foi esquecendo com a tradição da Europa.<br />

Ele meio que diz “galera, calma aí, a gente<br />

está fazendo esse tipo de música por causa<br />

dessas levadas, dessa cultura, que passa,<br />

inclusive, por religião, passa pelo terreiro...”.<br />

Como é que você fala de Pixinguinha e não<br />

fala de terreiro? Não estou falando contra<br />

nem a favor de religião, mas a gente não<br />

consegue falar de Bach sem falar da igreja<br />

protestante, sem falar de luteranismo. Não<br />

se consegue falar dos músicos clássicos<br />

sem falar da igreja católica ou mesmo<br />

luterana. Por que você consegue falar<br />

de música negra, de claves ancestrais,<br />

de levadas, sem passar pelo terreiro? A<br />

pessoa não precisa ser do terreiro, não<br />

precisa incorporar, ser adepto da religião,<br />

mas isso faz parte da instrumentação<br />

JOGO RÁPIDO<br />

cultural daquele tipo de arte. Mas existe<br />

um preconceito, e é isso que acho<br />

prejudicial do ponto de vista cultural e<br />

musical. Conheço um monte de gente que<br />

adoraria soar mais popular e mais negro<br />

no instrumento e não soa justamente por<br />

não acessar essa informação, às vezes até<br />

inconscientemente. Eu não sou luterano<br />

e adoro estudar invenções a duas vozes,<br />

percebe? Winton Marsalis fala que o jazz é<br />

a união do sagrado com o profano. Se você<br />

tem influência do negro spiritual vindo do<br />

sagrado - que já não é sagrado do ponto<br />

de vista canônico porque o negro spiritual<br />

está profanando toda a tradição do canto<br />

coral alemão e austríaco que canta tudo<br />

bonitinho - então, já é uma profanação, se<br />

a gente pegar os termos literais. Aí, isso<br />

vira sagrado, e o profano vira o bordel<br />

onde o Louis Armstrong tocava, Storyville.<br />

Com o tempo, isso vai se juntando. Se<br />

você chamar Bach de sagrado e as claves<br />

negras de profano, você já está juntando.<br />

Então, negro spiritual, que é chamado de<br />

sagrado pelo Marsalis, já é uma junção de<br />

sagrado com profano que vai juntar com<br />

um novo profano - ou com um profano<br />

ainda mais profano - que são os cabarés. Aí<br />

Ray Charles faz isso, pega a música gospel,<br />

que naquela época já era plenamente<br />

canônica para aquela tradição, e começa a<br />

juntar com influências musicais e letras da<br />

noite. E isso vai ser um terror: os caras da<br />

igreja da época vão odiá-lo para sempre.<br />

Hoje, a gente canta Ray Charles como se<br />

fosse música de criança. E atualmente o<br />

funk carioca está cumprindo esse papel.<br />

Eu acho funk carioca superlegal porque ele<br />

cumpre um papel social. Musicalmente,<br />

é complicado falar, porque praticamente<br />

não tem harmonia, nem melodia, mas,<br />

querendo ou não, é uma nova maneira<br />

de se fazer música ou de se expressar<br />

musicalmente. O funk cumpre esse papel<br />

de transgredir, de afrontar. Ray Charles<br />

cumpriu esse papel nos anos 50. Quando<br />

se fala de funk carioca, a minha defesa,<br />

em nome da tradição, é de que a gente<br />

precisava lançar mão de outros elementos,<br />

pelo menos de acordo com os paradigmas<br />

do passado. É preciso trabalhar a harmonia<br />

e a melodia, de algum jeito. Quando se zera<br />

isso e se trabalha somente um dos pilares,<br />

você cria algo diferente, não sei se pior ou<br />

melhor. Mas é algo que precisa ser lidado<br />

como peculiar. Como a gente analisa isso<br />

esteticamente? Acredito que a gente não<br />

tem ferramentas ainda.<br />

No Alfa, seu conceito musical estava mais<br />

baseado nas harmonias e nos silêncios do<br />

que em solos repletos de notas. Como vê<br />

isso?<br />

A ideia do Alfa era fazer um álbum<br />

celebrando o vazio, celebrando a solidão,<br />

celebrando a força que o silêncio tem. É<br />

uma relação dialética de som e pausa. É<br />

um conceito que prevê que ambos têm o<br />

20 / abril 2019 teclas & afins


leandro cabral<br />

mesmo valor de importância e que você<br />

quer brincar com os dois. Ambos estão<br />

trabalhando na música. A abertura do CD,<br />

tem um texto de um de meus professores de<br />

estética, o Silvio Moreira, um grande amigo<br />

e um grande sábio dessa área, e ele fala de<br />

uma entrevista do Stockhausen em que ele<br />

discorre sobre a importância que se deu à<br />

altura, às notas versus a “desimportância”<br />

que se deu ao ritmo. Quando se tira a<br />

importância do ritmo, necessariamente se<br />

tira a importância da pausa. Então, a gente<br />

quis brincar um pouco com isso, trazer à<br />

tona a força do ritmo através de uma clave<br />

ancestral. Por exemplo, tentei compor dois<br />

“vassis”, que é um ritmo do candomblé,<br />

apesar de eu não ser do candomblé. São<br />

claves tocadas lá e que eu pedi permissão<br />

para trazer para o mundo jazzístico. A gente<br />

fez ijexá em trio, e isso é muito raro. Mas eu<br />

não poderia deixar de lançar mão da pausa<br />

porque, na minha visão dialética, é a pausa<br />

que valoriza a clave e a clave que valoriza<br />

a pausa. Eu acredito que o Herbie Hancock<br />

tem muito isso. Apesar do fato de ele ser<br />

verborrágico, muitas vezes, dependendo<br />

do disco e da fase, ele fala isso em várias<br />

entrevistas. Se você ouvir, por exemplo,<br />

um disco de piano solo dele, também não é<br />

assim. Ele poderia exibir toda a técnica dele,<br />

mas passa com uma delicadeza, respira.<br />

Naquele disco 1+1, não há uma música de<br />

média para rápida. É praticamente balada<br />

ou rubato. Naquele famoso concerto dele<br />

na Sala São Paulo, há alguns anos, com o<br />

Wayne Shorter, o sentimento era de um<br />

“esperar”. Você espera, espera e, de repente,<br />

vem uma bomba. Mas a bomba que ele<br />

manda tem tanta importância e vem com<br />

tanta força porque ele consegue colocar no<br />

lugar certo, na hora certa. É aquele famoso<br />

tocar com os ouvidos.<br />

© Divulgação<br />

teclas & afins<br />

abril 2019 / 21


VITRINE<br />

Kawai KDP 70<br />

Pianofatura Paulista<br />

www.piano.com.br<br />

O novo piano digital da Kawai, o KDP70, é a<br />

mais recente adição ao portfolio da marca<br />

direcionado escolas de música, estudantes<br />

ou profissionais, além do uso doméstico.<br />

Com 88 teclas com toque balanceado, o<br />

KDP70 responde como um piano acústico<br />

graças ao mecanismo Responsive Hammer<br />

Compact (RHC), que oferece quatro<br />

intensidades de toque. O gerador de sons<br />

é o Harmonic Imaging, com 88 notas<br />

sampleadas individualmente e polifonia<br />

máxima de 192 notas. O novo modelo<br />

traz 15 timbres (incluindo dois pianos de<br />

cauda) e gravador digital de três músicas e<br />

aproximadamente 10 mil notas, além dos<br />

recursos Damper Resonance, Reverb (6<br />

tipos), Tuning, Transpose, Brilliance, Spatial<br />

Headphone Sound, Phones Type, Auto<br />

Power Off, Bluetooth MIDI, modo Multitimbral<br />

e 15 músicas de demonstração. O<br />

piano ainda conta com os métodos para<br />

piano Burgmuller, Czerny e Beyer instalados<br />

e Dual Mode (com ajuste de volume) para<br />

performances a quatro mãos. Três pedais<br />

(Sustain, Soft e Sostenuto), com half pedal,<br />

duas saídas para fones-de-ouvido, MIDI IN/<br />

OUT e dois alto-falantes de 8W cada estão<br />

acondicionados no elegante móvel preto<br />

com tampa deslizante, de apenas 40 cm de<br />

profundidade. O produto estará disponível<br />

para venda no Brasil a partir da segunda<br />

semana de abril.<br />

22 / abril 2019 teclas & afins


VITRINE<br />

Solar<br />

Alfredo Dias Gomes<br />

Independente<br />

Tendo acompanhado, até 1993, shows e gravações de<br />

artistas como Ivan Lins, Hermeto Pascoal, Lulu Santos e<br />

Heróis da Resistência, dentre outros, o baterista carioca<br />

Alfredo Dias Gomes lança novo CD, marcadamente<br />

jazzístico e brasileiro. O filho de Janete Clair e Dias Gomes<br />

alcança a marca de onze discos solos, com o CD Solar,<br />

gravado em seu próprio estúdio, na Lagoa. Nele, o músico<br />

carioca surpreende, reunindo oito faixas autorais e inéditas e se revelando um exímio<br />

compositor também nas harmonias mais brasileiras, regionais. “Quando comecei a compor<br />

esse novo trabalho, pensei numa proposta diferente: decidi tocar, além da bateria, os<br />

teclados e os baixos do disco, dando ênfase à forma como crio minhas composições.<br />

Adicionei somente um solista, meu grande amigo e super instrumentista Widor Santiago,<br />

no sax tenor, sax soprano e flauta. “Solar” é um disco autoral e nele misturo ritmos e<br />

melodias brasileiras com jazz e jazz-fusion”, afirma o músico. Para ouvir o CD Solar, acesse<br />

a página do músico ou o link no Spotify.<br />

Quer aprender a<br />

tocar blues?<br />

CD com método digital + 61 pistas de áudio<br />

(solos/Play Along)<br />

R$ 49,90<br />

em até 12 x no cartão<br />

Mauricio Pedrosa<br />

teclas & afins<br />

www.teclaseafins.com.br<br />

abril 2019 / 23


REVIEW<br />

Por CRISTIANO RIBEIRO<br />

O primeiro synth em hardware da IK Multimedia é analógico!<br />

24 / abril 2019 teclas & afins


REVIEW<br />

A IK Multimedia, famosa por seus<br />

instrumentos virtuais e softwares, lança<br />

seu primeiro equipamento em hardware,<br />

o UNO Synth. Segundo o fabricante,<br />

ele foi desenvolvido por Erik Norlander<br />

(designer do Alesis Andromeda) e pela<br />

Soundmachines (desenvolvedora de synths<br />

e minimodulares). Trata-se de um pequeno<br />

módulo monofônico analógico de dois<br />

osciladores e recursos bem interessantes.<br />

Fácil de operar, é um bom instrumento<br />

de entrada para quem quer iniciar na<br />

síntese analógica, mas com todos recursos<br />

necessários para criar grandes sons.<br />

O design misto de retrô e moderno não<br />

dá muito a entender que se trata de um<br />

sintetizador analógico, pois, geralmente,<br />

os fabricantes buscam um visual vintage<br />

nesse tipo de equipamento. No UNO,<br />

fizeram o contrário: o aparelho é totalmente<br />

plástico, nada de madeira ou metal, leve e<br />

pequeno. Fica claro que a intenção foi a<br />

de baratear o projeto. O lado retrô é por<br />

conta de lembrar antigos videogames e<br />

dos primeiros PCs. À primeira vista, não<br />

surpreende. Mas não se engane!<br />

O UNO é muito portátil e a ideia das teclas<br />

touch o deixaram ainda mais portátil. É<br />

legal poder levar um módulo tão pequeno,<br />

no qual você pode criar e tocar, e, quando<br />

conectado a um controlador MIDI, ele se<br />

revelar um belo módulo synth. Apesar da<br />

aparência delicada, do tamanho pequeno<br />

e da leveza, ele tem uma sonoridade muito<br />

boa. Permite criar ótimos baixos e leads<br />

de forma simples e rápida. Digno de um<br />

bom analógico.<br />

Modus Operandi<br />

O painel levemente inclinado tem quatro<br />

botões “touch” enfileirados verticalmente<br />

à esquerda - que dão acesso aos parâmetros<br />

dos timbres - e quatro knobs enfileirados<br />

teclas & afins<br />

horizontalmente - para alterar os<br />

parâmetros. No primeiro botão, se acessa<br />

aos dois osciladores independentes, com<br />

formas de onda continuamente variáveis<br />

entre Saw, Triangle e Pulse com recurso<br />

PWM. Os knobs no controle de Tune,<br />

permitem ir de “detune” micro até meio<br />

tom, e depois segue em semitons no<br />

mesmo knob, até uma oitava acima ou<br />

abaixo em cada oscilador.<br />

O segundo botão é o filtro, que tem os<br />

modos LP (Low Pass), HP (High Pass) e BP<br />

(Bandpass Filter). Na sequência, há os<br />

knobs endereçados para o resonance,<br />

drive e “env amt” (envelope amount).<br />

No terceiro botão ficam endereçados<br />

Attack e Decay do filtro, e Attack e Release<br />

do Amp. Um tanto diferente não ter, em<br />

sequência, AD para os dois envelopes.<br />

Acredito que os engenheiros devem ter<br />

considerado deixar esses controles “mais<br />

à mão”. Em pouco tempo mexendo no<br />

UNO o músico começa a se acostumar e<br />

entender o porquê dessa ordem um tanto<br />

diferente. Há uma lógica nessa sequência.<br />

E só tocando nele que se entende.<br />

O quarto e último botão é o LFO. O primeiro<br />

knob seleciona as ondas - Sine, Triangle,<br />

Square, Up Saw, Down Saw, Random e<br />

Sample-and-Hold - para modular Pitch,<br />

Filter e Amp, e, nos seguintes knobs, temos<br />

Rate, Pitch e Filter.<br />

Os três primeiros botões à esquerda do<br />

painel, enfileirados na vertical, escondem<br />

uma segunda função, bastando, para isso,<br />

segurar o botão por dois segundos e ele<br />

começar a piscar. No primeiro botão, os<br />

knobs assumem controle do mixer dos VCOs,<br />

sendo os dois primeiros para o volume dos<br />

osciladores. O terceiro é volume do ruído<br />

(noise) e o quarto é o Hold Oscilator. O<br />

segundo e o terceiro botões endereçam o<br />

ADSR do VCF e do VCA consecutivamente.<br />

abril 2019 / 25


REVIEW<br />

Na parte inferior do painel, há um “teclado”<br />

touch com 27 notas. Logo acima desse<br />

teclado, os botões para disparar efeitos<br />

“Dive Amount” e “Scoop Amount” (pitch),<br />

vibrato, wah e tremulo. Estes últimos três<br />

sofrem atenuação pelo Rate do LFO. O<br />

grau de intensidade de cada pode ser<br />

previamente presetado via PC pelo UNO<br />

Synth Editor. Ainda na mesma fileira temos<br />

o Hold, que serve para “segurar” uma nota,<br />

permitindo assim editar um timbre ou<br />

fazer uma performance ao vivo alterando<br />

parâmetros em tempo real.<br />

Mais à direita, no alto do painel, há três<br />

knobs: um dedicado ao cutoff, o segundo<br />

dedicado ao ajuste de tempo para o<br />

arpegiattor/sequencer e, por fim, o volume.<br />

Arpeggiator e Sequencer<br />

O UNO possui um arpeggiator bem esperto.<br />

Com 10 fraseados que vão até quatro<br />

oitavas. O sequencer de até 16 compassos<br />

permite gravar em tempo real ou realizar<br />

uma edição step. Permite também gravar<br />

sequências de alterações de vários<br />

parâmetros dos timbres, criando loops<br />

26 / abril 2019 teclas & afins


REVIEW<br />

com movimentos bem interessantes. São<br />

muito fáceis de operar: de modo intuitivo<br />

“se pega as manhas”.<br />

Delay<br />

Um eficiente delay está embutido no<br />

sistema do UNO Synth. Nele, há controles de<br />

tempo e mix. Ele dá uma boa “temperada”<br />

no som do módulo. Talvez alguns sintam<br />

falta de outros efeitos, mas, lembrem-se: a<br />

maioria dos concorrentes de mesma faixa<br />

de preço sequer delay tem.<br />

Conexões<br />

O UNO possui MIDI In e Out em mini jack<br />

MIDI 3.5, uma entrada USB para alimentação<br />

de AC e conexão com PC ou MAC. Ele<br />

também pode ser alimentado por quatro<br />

pilhas médias. A saída e a entrada de áudio<br />

são mini jack 3.5. As duas, mono.<br />

Sonoridade<br />

O UNO tem uma sonoridade muito versátil<br />

e poderosa. Fácil de operar, o músico pode<br />

criar texturas e movimentos que vão de<br />

graves profundos até agudos cortantes.<br />

Ótimos baixos e leads podem ser criados<br />

em tempo real - e com a facilidade de poder<br />

salvar os presets. Apesar do aspecto plástico<br />

e frágil, na hora de ouvir o que ele “tem a<br />

dizer”, nota-se ali uma máquina poderosa.<br />

O UNO Synth é monofônico, mas seus<br />

dois osciladores independentes podem<br />

ser afinados para gerar sons de intervalos<br />

interessantes em estilo pad, assim como<br />

oitavas. O filtro analógico traz o calor, a<br />

profundidade e o peso que se espera de<br />

um sintetizador analógico real. O filtro<br />

ressonante multimodo pode ser usado<br />

para sutil modificação de timbre ou para<br />

varreduras ressonantes agressivas e<br />

berrantes. Um circuito de overdrive permite<br />

obter facilmente timbres saturados. E<br />

é possível modular o filtro com o filter<br />

envelope e os botões de performance e LFO,<br />

bem como automatizá-lo no sequenciador<br />

por meio de controladores MIDI externos.<br />

Presets<br />

O UNO Synth vem com 100 presets prontos<br />

para usar, 80 deles totalmente regraváveis,<br />

tornando-o fácil de tocar logo ao tirar da<br />

caixa. Cada preset inclui a programação<br />

do som, um arpejador e uma sequência<br />

associados. Isto torna fácil para qualquer um<br />

encontrar o som que deseja, além de servir<br />

de ponto de partida para a programação de<br />

novos timbres e programações.<br />

teclas & afins<br />

abril 2019 / 27


REVIEW<br />

UNO Synth<br />

IK Multimedia<br />

(www.ikmultimedia.com.br)<br />

Especificações<br />

• Sintetizador analógico monofônico<br />

• Teclado multitoque cromático com 27 notas<br />

• 40 controles onboard e display de LED<br />

• Arpejador e sequenciador<br />

• Efeito Delay (Dive, Scoop, Vibrato, Wah, Tremolo)<br />

• Auto-afinação com calibragem auto-tune<br />

• USB MIDI e jacks MIDI IN/OUT de 2.5 mm (cabos inclusos)<br />

• Alimentação por pilhas (4xAA Alkaline, Ni-Mh) ou USB<br />

• Desenhado e fabricado na Itália<br />

• Dimensões: 25.6cm x 15cm x 4.9cm<br />

• Peso: 400g (sem pilhas)<br />

• Preço sugerido: sob consulta<br />

• Fácil operação<br />

K J<br />

• Falta de uma saída de áudio jack 6.3<br />

• Sonoridade incrível<br />

• Alguns parâmetros só podem ser<br />

• Fácil transporte<br />

alterados via editor<br />

• Educativo<br />

* Especificações sujeitas à alteração sem aviso prévio<br />

Para facilitar ainda mais o desenvolvimento<br />

de novas sonoridade, a IK Multimedia<br />

desenvolveu o UNO Synth Editor, que<br />

funciona como plugin e como aplicação<br />

independente e permite acessar todos os<br />

parâmetros do sintetizador, indo além dos<br />

controles do painel frontal. Compatível<br />

com Mac, PC e iOS, o editor está disponível<br />

para controle total do UNO Synth com<br />

um computador, iPhone ou iPad para<br />

programar, armazenar e gerenciar um<br />

número ilimitado de presets.<br />

No Mac e no PC, além de aplicação<br />

independente, o UNO Synth funciona<br />

como plugin dentro de uma DAW. Com<br />

isso, o músico pode programar e tocar o<br />

UNO Synth como instrumento virtual.<br />

Impressões finais<br />

A IK Multimedia conseguiu no seu primeiro<br />

projeto hardware, trazer um ótimo custo<br />

benefício. O UNO Synth cumpre muito bem<br />

o seu papel. Versátil, pequeno e poderoso.<br />

Abre uma nova lacuna no mercado de<br />

pequenos módulos analógicos.<br />

28 / abril 2019 teclas & afins


MATERIA DE CAPA<br />

O fino de<br />

todas as<br />

bossas<br />

30 / abril 2019 teclas & afins


por nilton corazza<br />

Com o lançamento de<br />

Tributo ao Zimbo Trio,<br />

Amilton Godoy, Edu Ribeiro<br />

e Sidiel Vieira resgatam um<br />

pedaço importantíssimo da<br />

história da música brasileira<br />

Amilton Godoy Trio<br />

© Divulgação<br />

teclas & afins<br />

abril 2019 / 31


materia de capa<br />

© Divulgação - Giorgio D’Onofrio<br />

Amilton Godoy dispensa apresentações.<br />

Pianista, dono de incomparável<br />

conhecimento musical, técnica precisa<br />

e criatividade ímpar, mantém atividade<br />

tanto como músico quanto como professor<br />

no CLAM, escola fundada por ele e por<br />

seus companheiros de Zimbo Trio, o<br />

grupo instrumental mais influente da<br />

música brasileira em todos os tempos. E é<br />

exatamente a essa fase de sua carreira que<br />

seu trabalho mais recente alude.<br />

No Tributo ao Zimbo Trio, Godoy se juntou<br />

ao baterista Edu Ribeiro e ao contrabaixista<br />

Sidiel Vieira para homenagear o conjunto<br />

instrumental que construiu a base da<br />

moderna música brasileira e imprimiu sua<br />

marca em 49 anos de existência e mais<br />

de 50 discos gravados. Responsável por<br />

descobrir e divulgar novos talentos, como<br />

Milton Nascimento, Gilberto Gil e tantos<br />

outros, o grupo correu o mundo com seu<br />

estilo único e serviu de inspiração para<br />

muitos trios, além de acompanhar os mais<br />

influentes artistas da época.<br />

Como surgiu a ideia desse disco?<br />

A ideia surgiu quando o Blue Note, de São<br />

Paulo, me convidou para tocar lá. O Blue<br />

Note me lembrou muito a casa em que<br />

começamos nossa carreira, o Baiúca, uma<br />

casa na Praça Roosevelt, em que o Zimbo<br />

Trio foi constituído, em 1963, quando<br />

fui convidado pelo Rubinho (Barsotti) e<br />

pelo Luiz (Chaves) para tocarmos juntos,<br />

porque eles tinham a ideia de formar um<br />

grupo instrumental. O Rubinho e o Luis<br />

tocavam com um pianista chamado Moacir<br />

Peixoto, irmão do Cauby Peixoto, um bom<br />

32 / abril 2019 teclas & afins


amilton godoy<br />

pianista de jazz brasileiro. Tínhamos dois<br />

bons pianistas de jazz na época. Um era o<br />

Moacir Peixoto e o outro, Dick Farney. Esses<br />

músicos eram muito respeitados na noite.<br />

O Dick começou a fazer sucesso como<br />

cantor. E o Moacir tocava nessas casas que<br />

eram um centro de boa música, de música<br />

de qualidade, um restaurante com um bar<br />

acoplado. Na época, não existia música<br />

mecânica nas casas noturnas como hoje.<br />

As casas primavam por ter bons músicos<br />

tocando. Cada casa contratava e queria<br />

sempre os melhores músicos. E a Baiúca<br />

era tida como a nata. Sempre teve gente<br />

boa tocando lá. Essa oportunidade surgiu<br />

para mim e formamos o Zimbo Trio. E o<br />

Blue Note me reportou a isso, àquela época<br />

em que a casa noturna funcionava assim: o<br />

músico fazia uma entrada - de uma hora, 45<br />

minutos - depois voltava e tocava mais uma<br />

vez, para a mesma plateia. No Blue Note é<br />

um pouco diferente porque cada entrada é<br />

um show, e o público muda. Tudo isso me<br />

veio à cabeça. O Zimbo se formou numa<br />

casa assim, com esse tipo de música mais<br />

improvisada, jazzística, um jazz brasileiro.<br />

Na época, a gente era muito mais jazzsamba<br />

do que samba-jazz, depois a coisa<br />

foi mudando com o próprio Zimbo Trio. Os<br />

músicos brasileiros, até então, faziam jazz<br />

com temas americanos. Todo músico que<br />

queria se aprofundar mais harmonicamente,<br />

fazer uma coisa mais sofisticada, copiava<br />

os standards americanos. O Zimbo foi o<br />

primeiro grupo instrumental a fazer o<br />

contrário: nós começamos a fazer jazz,<br />

improvisações, usando temas brasileiros.<br />

Esse foi, eu acredito, o grande legado<br />

do Zimbo na época. Ele mostrou, para o<br />

Brasil e para o mundo, que nós tínhamos<br />

música de qualidade e que poderíamos<br />

improvisar com nossos próprios temas,<br />

© Divulgação<br />

Amilton Godoy, Edu RIbeiro e Sidiel Vieira<br />

teclas & afins<br />

abril 2019 / 33


materia de capa<br />

sem precisar recorrer mais aos temas<br />

importados. Outras casas de São Paulo<br />

também revelaram grandes músicos: o<br />

Hermeto Pascoal estava começando a<br />

carreira tocando numa boate chamada<br />

Chicote. Era um antro, no bom sentido,<br />

de coisa de qualidade. Quando veio esse<br />

convite do Blue Note, pensei “vou fazer<br />

um tributo ao Zimbo, resgatando aqueles<br />

arranjos que o trio já fazia”. Foram 49 anos<br />

de Zimbo, desde 1964. E alguns arranjos<br />

nasceram ali na Baiúca, como o primeiro<br />

arranjo gravado nosso, muito conhecido<br />

na época, que, por incrível que pareça,<br />

foi para a parada de sucessos: “Garota<br />

de Ipanema”. Ele nasceu nessa casa e foi<br />

feito espontaneamente. Daí começaram<br />

a surgir outros discos do Zimbo. A gente<br />

fazia uma média de um por ano, sempre<br />

com repertório novo, lançando novos<br />

compositores. Daí a importância de uma<br />

casa noturna que tenha a proposta de fazer<br />

que músicos dentro desse caminho possam<br />

chegar, tocar, fazer uma apresentação. Me<br />

empolguei com essa ideia.<br />

Daí a gravar o disco...<br />

Tenho tocado como trio com o Edu Riberio<br />

e o Sidiel Vieira, dois expoentes da nossa<br />

música, fantásticos, com concepções<br />

modernas, jovens. Falei com eles se<br />

topavam fazer esse tipo de trabalho, em<br />

que eu ia recuperar arranjos do Zimbo Trio<br />

e eles ficaram empolgados. E eu queria ver<br />

justamente isso: novas ideias deles, como<br />

eles improvisariam... Sempre acreditei que<br />

aquelas estruturas propunham esse tipo de<br />

caminho e fiquei espantado - e muito feliz -<br />

de ver o interesse deles. Eles começaram a<br />

ouvir o Zimbo Trio, foram procurar em todo<br />

o material de que podiam dispor. Eu, de<br />

minha parte, fiz uma escolha dos arranjos<br />

© Divulgação - Giorgio D’Onofrio<br />

34 / abril 2019 teclas & afins


amilton godoy<br />

que eu achava que poderiam representar<br />

a trajetória do Zimbo Trio. Foram 51 discos<br />

gravados! Como é que eu faria uma síntese<br />

desse material? Comecei a passar com eles.<br />

escrevi e ensaiamos muito. E foi assim que<br />

nasceu esse disco, que chamei de Tributo<br />

ao Zimbo Trio.<br />

O Sidiel e o Edu talvez sejam hoje<br />

os melhores músicos de jazz de seus<br />

respectivos instrumentos no Brasil. Como<br />

é tocar com esses músicos? É possível<br />

fazer uma comparação com os integrantes<br />

originais do Zimbo?<br />

Quando me perguntavam “Como é<br />

que vai ser?” Qual vai ser o resultado?”,<br />

eu respondia “Vamos ver...”, porque eu<br />

também queria ver (risos). Eles têm uma<br />

concepção supermoderna. Eles são jovens,<br />

mas têm uma bagagem bastante grande<br />

na formação. Eles passaram por muitas<br />

experiências também, tocando com<br />

músicos variados. Uma coisa que achei<br />

bacana, e que eu queria mostrar no disco<br />

- e acho que consegui - é que aqueles<br />

arranjos, com a estrutura original deles,<br />

propiciam ao músico de uma concepção<br />

mais moderna, entrar naquilo, executar<br />

aquilo e criar dentro daquilo, respeitando,<br />

naturalmente, a originalidade do arranjo.<br />

Então, tocar com eles, para mim, foi uma<br />

surpresa, primeiramente, pela aceitação<br />

deles, e, depois, pela admiração que tenho<br />

por eles. É uma geração tão distante... A gente<br />

fala “uma geração”, mas são duas depois,<br />

eu acho (risos). E eles ficaram empolgados<br />

de fazer aquilo, eu vi o entusiasmo deles.<br />

Eles conseguiram passar para esse disco<br />

esse entusiasmo que manifestaram.<br />

Acredito que eles conseguiram imprimir<br />

a marca deles e era isso que eu queria<br />

que acontecesse, porque o Rubinho e o<br />

Luiz, desde os primeiros discos nossos,<br />

teclas & afins<br />

já faziam isso. Quem ouvia o Zimbo Trio<br />

tocar, falava “é o Zimbo que está tocando”,<br />

mesmo que não soubesse. Se sabia pelo<br />

timbre, pelo som, pela maneira como as<br />

coisas eram dispostas. E o que aconteceu<br />

com esses dois músicos foi exatamente<br />

isso: eles conseguiram chegar e marcar a<br />

presença deles de uma forma muito bonita.<br />

Gostei muito do resultado. Agora, já posso<br />

responder àquela pergunta: “Como é que<br />

vai ser?”. Vai ser muito bom!<br />

A ideia é que esse grupo se torne uma<br />

formação fixa ou o Amilton Godoy Trio foi<br />

um projeto pontual para o CD e para os<br />

shows?<br />

Essa, o trio, é uma das formações com que<br />

gosto de tocar, com que me apresentei desde<br />

o começo, que foi a base para mim. Piano,<br />

baixo, bateria, para mim, foi um berço de<br />

ensinamentos, em que me apliquei muito,<br />

caprichei muito nos arranjos. Acredito que<br />

consegui escrever muita coisa para tirar<br />

proveito de um bom contrabaixista e de um<br />

bom baterista. Então, acho que é uma das<br />

coisas que tenho que continuar fazendo,<br />

que me dá muita alegria, muita satisfação.<br />

Antes, quem quisesse me ouvir, tinha uma<br />

abril 2019 / 35


materia de capa<br />

única opção: tinha que contratar o Zimbo<br />

Trio, três músicos comprometidos com um<br />

trabalho conjunto. Era muito esporádico<br />

eu fazer algo sem ser com o Rubinho e<br />

com o Luiz. Mesmo depois, com o Rubinho<br />

e o Itamar (Collaço), quando o Luiz ficou<br />

doente. Mas, depois do Zimbo, comecei<br />

a fazer outros trabalhos. Gravei com o<br />

Gabriel Grossi, um disco que eu achei<br />

bacana, o Villa-Lobos Popular, que era uma<br />

coisa completamente inusitada: piano<br />

com gaita. E ficou legal, funcionou, teve<br />

muita gente que gostou desse trabalho.<br />

Fiz transcrições de obras de Villa-Lobos,<br />

mantendo o original, mas improvisando<br />

em cima. Depois, há o trabalho com a Léa<br />

Freire, que tenho feito. Primeiro, gravei um<br />

disco de piano solo só com composições<br />

da Léa. Sempre tive por ela uma grande<br />

admiração. Quando ela me procurou para<br />

me mostrar o que tinha escrito para piano,<br />

fiquei abismado de ver como ela escreve<br />

bem, como a concepção dela, a forma de<br />

escrever para piano é diferente. Me encantei<br />

com aquilo e me apliquei, porque são coisas<br />

complicadas. Ela escreveu para piano, na<br />

época, há uns anos, e não conseguia tocar.<br />

Ela ficava nervosa, achava que não tinha<br />

condição pianística para tocar aquilo que<br />

ela mesma tinha composto. Ela falou com<br />

o Nelson Ayres, e ele disse: “Isso é para<br />

o Amilton!” (risos). Aí, ela me procurou.<br />

Comecei a olhar e aquilo era complexo,<br />

polifônico, complicado. Pensei: “nossa, vou<br />

JOGO RÁPIDO<br />

estudar isto aqui”. Comecei a me aplicar<br />

© Divulgação - Giorgio D’Onofrio<br />

sobre aqueles arranjos e ficou um disco<br />

muito legal: Amilton Godoy e A Música<br />

de Léa Freire. Depois, ela ficou encantada<br />

e quis gravar um disco com as minhas<br />

músicas: A Mil Tons. E agora, nós vamos<br />

lançar nos Estados Unidos, em agosto,<br />

um disco que fiz com a Léa e o Harvey<br />

Wainapel, que é um saxofonista de jazz<br />

americano. Gravamos em trio - piano, flauta<br />

e saxofone -, uma parte aqui no Brasil e uma<br />

parte, ano passado, na Califórnia, quando<br />

estive em excursão com a Léa. Agora a<br />

gente volta para fazer o lançamento nos<br />

Estados Unidos. Aqui, ainda não marcamos<br />

o lançamento. Mas essa paixão pelo trio<br />

não acaba. É a base para qualquer grupo.<br />

Quando você vai fazer um quinteto, um<br />

quarteto, uma orquestra, você parte da<br />

seção rítmica. Baixo, bateria e piano ou<br />

guitarra...ou as duas coisas. O fato é que<br />

aí o músico tem a base de sustentação, o<br />

alicerce de um prédio que ele vai construir.<br />

Há um instrumento essencialmente rítmico<br />

que é a bateria, naturalmente; um que é<br />

36 / abril 2019 teclas & afins


amilton godoy<br />

uma ligação entre harmonia e ritmo, que é<br />

o baixo; e o piano que pode ser um solista,<br />

pode acompanhar etc. É o que se precisa<br />

para uma formação completa. Ficou tanto<br />

isso na minha cabeça, que de vez em<br />

quando eu preciso tocar com trio para me<br />

satisfazer (risos). Então, se não é Zimbo<br />

Trio, é Amilton Godoy Trio. Tenho feito<br />

alguma coisa com os meninos e temos tido<br />

convites para outras, então, estou muito<br />

feliz. Tenho sido convidado para fazer<br />

apresentações com o trio ou relembrando<br />

arranjos do Zimbo, mas há coisas novas,<br />

autorais, que estou fazendo com eles, que<br />

são diferenciadas. Mas é algo mais recente.<br />

No disco, os arranjos foram os originais do<br />

Zimbo Trio. Eles foram escritos?<br />

Tudo foi escrito para que eles tivessem<br />

as bases do que norteou a originalidade<br />

do arranjo. Por exemplo, a forma como a<br />

“Garota de Ipanema” está no disco - foi o<br />

primeiro arranjo do Zimbo e abre o álbum -<br />

saiu espontaneamente tocando no Baiúca.<br />

Como eles não conheciam o arranjo original,<br />

escrevi exatamente aquilo que a gente<br />

fazia, a divisão etc. Mas eles são músicos<br />

impressionantes: você põe a partitura na<br />

frente deles e os caras saem tocando! É uma<br />

grande diferença de formação daquela<br />

época. Não que eles sejam melhores do<br />

que os outros, mas é muito fácil para eles<br />

entenderem aquilo que era feito. Talvez<br />

seja mais difícil para mim entender o que<br />

os modernos, contemporâneos, estão<br />

fazendo, do que esses músicos entenderem<br />

a concepção musical daquilo que já foi<br />

feito. É um acúmulo de conhecimento. Eles<br />

© Divulgação<br />

teclas & afins<br />

abril 2019 / 37


materia de capa<br />

pegam aquilo e começam a se empolgar.<br />

Esse arranjo, por exemplo, é todo escrito.<br />

Tem um riff no início, que o piano faz com<br />

o baixo, e as notas estão lá. Vamos fazer<br />

aquilo que era feito. Mas, quando o piano<br />

sai para improvisar, ele sai para improvisar.<br />

“Seja o que Deus quiser”, como eu falo<br />

(risos). Tem um riff no final, de quatro<br />

compassos de bateria, que o que o Edu fez<br />

foi da cabeça dele. E assim foi. Em alguns<br />

arranjos, realmente, a música inteira é de<br />

solo dentro de um ritmo, de uma pulsação.<br />

Aí, fico querendo ver o que esses caras vão<br />

fazer (risos). E fico sempre muito surpreso.<br />

Os caras são bons, diferentes. Agora, aquela<br />

base, aquele suingue, a levada diferente de<br />

uma para outra, a gente sente no disco. Ao<br />

tocar uma música do Djavan, por exemplo,<br />

© Divulgação - Giorgio D’Onofrio<br />

a pulsação é diferente - sempre foi, a<br />

gente sempre tocou de um jeito diferente<br />

– do que tocar uma do Gil. E eram todos<br />

caras que iam aparecendo na época.<br />

Hoje, que bom, estão todos consagrados,<br />

têm talento de sobra pra todo mundo.<br />

O repertório foi feito em cima disso. Por<br />

exemplo, peguei uma música do Hermeto,<br />

“Bebê”. E o Hermeto gosta do arranjo que<br />

a gente toca, brinca até que a introdução<br />

que escrevi é mais bonita que a música.<br />

Ele é um cara generoso... Outro é Egberto<br />

Gismonti. O “Loro” é uma obra-prima. O<br />

Bebê foi gravado originalmente numa<br />

época, digamos, cinco anos depois do<br />

primeiro disco. O “Loro” do Egberto, já 10<br />

anos depois. Coloquei o “Prelúdio nº 2” de<br />

Bach, porque o ZImbo, num determinado<br />

momento de sua carreira, gravou dois discos<br />

chamados Opus Pop, em que pegamos<br />

temas eruditos, músicas de Tchaikovsky,<br />

Bach, mantendo as harmonias originais,<br />

mas com ritmos brasileiros. Depois, no<br />

segundo disco, gravei a “Pavane” de Ravel,<br />

a “Pavane” de Fauré, tudo isso. Era para ser<br />

um disco só, mas a Phonogram, na época<br />

tinha representação no mundo todo e<br />

nos pediu um segundo volume. E fizemos.<br />

Então, pensei que eu precisava colocar pelo<br />

menos uma música que representasse essa<br />

fase. Então escolhi o Prelúdio de Bach.<br />

E por que um pot-pourri do Milton<br />

Nascimento?<br />

O Milton? Eu pensei: “Vou logo colocar<br />

um potpuriri desse cara” (risos). A gente<br />

chegou a fazer disco dedicado a ele, como<br />

o Zimbo Trio interpreta Milton Nascimento,<br />

que foi um disco só com composições do<br />

Milton. E olhando bem, vi que o Milton<br />

Nascimento foi um dos compositores<br />

que mais gravamos no decorrer de nossa<br />

carreira. Jobim, naturalmente, em primeiro,<br />

38 / abril 2019 teclas & afins


amilton godoy<br />

© Divulgação<br />

e Milton Nascimento, depois. Então, ele<br />

tinha que estar. Gosto dessa forma de potpourri,<br />

que você sai de um tema e entra<br />

em outro. E a jogada do Milton é diferente,<br />

tem uma pegada diferente. E eu estava<br />

querendo ver o que esses caras, o Edu e o<br />

Sidiel, iam fazer com esses arranjos. E tem<br />

umas coisas que o Edu fez, impressionantes.<br />

E alguns improvisos do Sidiel, também!<br />

Então, pensei, , o Milton tem que ter uma<br />

sequência. Peguei “Coração Civil”, que<br />

nunca vi tocada instrumental. E conheço<br />

a música do Milton diretamente do violão<br />

dele! A gente tinha uma ligação bastante<br />

grande. Depois, colocamos, “Conversando<br />

no Bar, “Cravo e Canela”, “Bola de Meia, Bola<br />

de Gude”, “Tema de Tostão”, “Vera Cruz”. O<br />

que sei é que o Milton é um manancial de<br />

coisas boas. E acho que consegui fazer uma<br />

teclas & afins<br />

ligação entre elas nesse pot-pourri, que as<br />

músicas parecem que são uma coisa só,<br />

uma espécie de suíte. Eu gosto disso. Vejo<br />

pessoas de talento sempre aparecendo,<br />

tive a sorte e a felicidade de conhecer um<br />

monte delas, de gravar e tocar, em televisão<br />

e shows, músicas de algumas delas, como<br />

é o caso do Milton Nascimento. Mas o<br />

impacto que tive com o Milton, vai ser muito<br />

difícil de eu sentir novamente, porque era<br />

realmente algo diferente.<br />

O Zimbo além de uma carreira como grupo<br />

solista, acompanhou muitos cantores<br />

importantes, como Elis Regina, Elizeth<br />

Cardoso e mais vários outros. É ideia do<br />

Amilton Godoy Trio recriar isso de alguma<br />

maneira? Há essa ideia para resgatar a<br />

história do Zimbo?<br />

abril 2019 / 39


materia de capa<br />

Até teria, e vou explicar por quê. Uma das<br />

coisas que me motivou a falar do Zimbo –<br />

porque, de alguma forma, esse disco está<br />

chamando a atenção e tenho podido falar<br />

sobre o que o Zimbo Trio fez - é que têm<br />

acontecido algumas coisas nesse sentido.<br />

Por exemplo, foi feito um programa no<br />

aniversário da TV Record, revivendo o Fino<br />

da Bossa. E todo mundo que acompanhou<br />

a história da música brasileira sabe que<br />

a base daquele programa era Elis, Jair e<br />

Zimbo. O Zimbo Trio, na época, tinha um<br />

repertório muito grande com Elis Regina.<br />

Nós fazíamos shows, viajávamos, fazíamos<br />

coisas juntos. E a televisão pegou aquilo,<br />

que já era feito, levou para um teatro<br />

e televisionou. E aquilo se tornou algo<br />

importantíssimo na história da música<br />

brasileira. E, quando reviveram essas<br />

coisas, fiquei muito chateado... Quando<br />

assisti ao programa que fizeram - estavam<br />

até os filhos do Jair e da Elis -, vi que o<br />

Zimbo não foi nem citado. Isso é um<br />

erro histórico. Chegaram até a gravar um<br />

depoimento meu, mas não falaram nada<br />

do Trio. Fiquei quieto, não falei nada,<br />

mas enviei um e-mail para o diretor do<br />

programa e perguntei: “Por favor, me<br />

explica o que houve, porque tenho uma<br />

escola, tenho alunos, tenho amigos e as<br />

pessoas perguntam: por que eles não<br />

citam, não falam?”. Então, ficar quieto é<br />

pior. Tenho que dar uma resposta a esse<br />

público. E a única resposta que posso dar<br />

é uma resposta de música: “isso também<br />

fazia parte da história, isso já era feito”.<br />

O Fino da Bossa nasceu porque Elis, Jair<br />

e Zimbo ganharam um prêmio chamado<br />

Roquete Pinto. A história é essa! Nesse dia,<br />

o Paulo Machado de Carvalho foi lá e nos<br />

convidou, os três - Zimbo, Elis e Jair -, para<br />

montar a base de um programa. E Zimbo<br />

e o Fino da Bossa ficaram no ar durante<br />

três anos. Vi gente que estava lá, gente<br />

que fez, que microfonou, historiadores,<br />

aparecerem dando depoimentos e nem<br />

citarem o Zimbo. O diretor não citar eu<br />

até entendo, porque eu acho que ele não<br />

tinha nascido ainda (risos). Mas, ao mesmo<br />

tempo, vejo que eles sabem da história. E<br />

eu não estou pedindo para aparecer. Eu dei<br />

um depoimento, eles foram à minha escola,<br />

ficaram quatro horas lá, porque o diretor<br />

mandou. Contei toda a história do Fino<br />

da Bossa. O que está acontecendo é que<br />

testemunhas e músicos que participaram<br />

daquilo, infelizmente faleceram. Não tem<br />

mais! O Manoel Carlos, que era o produtor<br />

do programa, hoje é um grande novelista,<br />

a vida dele foi para outro lado... O Maneco<br />

escreve novela na Globo, imagina se ele<br />

vai se preocupar com isso. Mas ele era o<br />

produtor. O Raul Duarte, que era o outro<br />

produtor, já faleceu. O Milton Travesso<br />

está aí e, quando pode, fala. Enfim...O cara<br />

vai lá, monta um negócio e não fala nada?<br />

Fizeram uma gravação comigo, passaram<br />

o dia inteiro na escola, tratei com o maior<br />

carinho, dei disco de presente...(risos).<br />

Depois, o repórter fica pedindo desculpas,<br />

não sabe dizer o que aconteceu. Tudo<br />

bem que você não queira colocar um<br />

depoimento meu, mas não deixe de falar<br />

do Zimbo Trio, pelo menos uma vez! Enfim,<br />

isso também mexeu um pouco comigo. Me<br />

olhei no espelho e perguntei: “Você não vai<br />

fazer nada?”. A gente não pode deixar as<br />

coisas ficarem esquecidas, então também<br />

fiquei contente porque pude lembrar do<br />

Zimbo Trio e prestar uma homenagem a<br />

esse grupo instrumental que teve tanta<br />

importância, ganhou tantos prêmios... Na<br />

época, era considerado o que tinha de<br />

melhor. Teve um papel muito importante<br />

na construção do que é considerado hoje<br />

a música popular brasileira.<br />

40 / abril 2019 teclas & afins


Amilton Godoy<br />

amilton godoy<br />

© Divulgação - Giorgio D’Onofrio<br />

teclas & afins<br />

abril 2019 / 41


sintese sonora<br />

Por Miguel Ratton<br />

Introdução à síntese<br />

subtrativa<br />

O conceito básico da síntese subtrativa é<br />

moldar a sonoridade a partir de um sinal<br />

com um conteúdo harmônico complexo, por<br />

meio de ajustes em um ou mais filtros<br />

O processo de síntese subtrativa (“subtractive<br />

synthesis”) é adotado na maioria dos<br />

sintetizadores. As principais razões para essa<br />

preferência são a facilidade e a viabilidade<br />

de implementação do processo, tanto<br />

em circuitos analógicos quanto digitais, e<br />

também a intuitividade e a preditividade<br />

na sua operação, possibilitando resultados<br />

mais rápidos no fluxo criativo.<br />

Origens do sintetizador<br />

O uso de filtros para criar timbres diferentes<br />

a partir de sinais ricos em harmônicos já<br />

havia sido empregado com sucesso na<br />

primeira metade do século 20 em pelo<br />

menos três instrumentos: o Ondes Martenot,<br />

desenvolvido na França e que teve alguns<br />

exemplares produzidos no final da década<br />

de 1920; o Trautonium, desenvolvido na<br />

Alemanha e que chegou a ser comercializado<br />

pela Telefunken no começo da década<br />

de 1930; e o Novachord, lançado pela<br />

Hammond (a mesma do famoso órgão)<br />

em 1939. No entanto, alguns aspectos<br />

prejudicaram a popularização desses<br />

instrumentos: primeiramente, porque eles<br />

utilizavam muitas válvulas eletrônicas - que<br />

na época tinham problemas de durabilidade<br />

e estabilidade – e, principalmente, por causa<br />

da eclosão da 2a Guerra Mundial, em 1939,<br />

que fez que todos os esforços tecnológicos<br />

fossem direcionados para a indústria bélica,<br />

impedindo a continuidade de muitos<br />

projetos comerciais, até mesmo por falta de<br />

demanda.<br />

Após o fim do conflito, em 1945, com<br />

a reconstrução da Europa e os fortes<br />

incentivos a um novo mercado de consumo,<br />

muitos desenvolvimentos tecnológicos<br />

ocorridos durante a guerra passaram a ser<br />

aproveitados pela indústria em geral. Os<br />

grandes excedentes industriais, por sua vez,<br />

precisavam ser absorvidos e, por isso, vários<br />

setores, dentre eles o de componentes<br />

eletrônicos, tiveram muita expansão. Houve<br />

grandes avanços nas tecnologias de rádio,<br />

de gravação e de aparelhos eletrônicos<br />

em geral, e a popularização da eletrônica<br />

estimulou muitas pessoas a se dedicarem a<br />

todo o tipo de aplicação, inclusive musical,<br />

tanto nos Estados Unidos quanto na Europa.<br />

Na década de 1950, surgiram centros de<br />

pesquisa para a aplicação da eletrônica<br />

na música, destacando-se os estúdios das<br />

rádios ORTF em Paris (França) e WDR em<br />

Köln (Alemanha). Enquanto os franceses<br />

42 / abril 2019 teclas & afins


sintese sonora<br />

Figura 1 – RCA Electronic Music Synthesizer (encyclotronic.com)<br />

chefiados por Pierre Schaeffer trabalhavam<br />

principalmente com a manipulação de sons<br />

gravados (musique concrète), os alemães,<br />

liderados por Herbert Heimert, exploravam<br />

bastante os sinais senoidais puros e<br />

também a sua combinação para obter novas<br />

sonoridades, num processo tipicamente<br />

aditivo. No entanto, esse processo, que já<br />

tinha sido adotado eletromecanicamente<br />

no Telharmonium e no órgão Hammond,<br />

era extremamente trabalhoso, porque<br />

requeria a manipulação de diversos<br />

geradores senoidais (abordaremos a síntese<br />

aditiva futuramente). Por causa disso, o<br />

grupo alemão, que também era conhecido<br />

como “escola senoidal”, passou a empregar<br />

geradores de sinais mais complexos<br />

harmonicamente (onda quadrada, ruído etc)<br />

e também incorporou em seu laboratório<br />

instrumentos notadamente “subtrativos”,<br />

teclas & afins<br />

como o Melochord, construído por Harald<br />

Bode, e o já citado Trautonium.<br />

Nos Estados Unidos, por sua vez, um<br />

dos marcos no desenvolvimento dos<br />

instrumentos musicais eletrônicos foi o<br />

RCA Music Synthesizer (Fig.1), concluído<br />

em 1955, e que, na verdade, era um grande<br />

sistema de equipamentos integrados que<br />

ocupava uma sala inteira do Columbia-<br />

Princeton Electronic Music Studio. Ele<br />

produzia sons a partir de sinais gerados<br />

por osciladores eletromagnéticos dotados<br />

de diapasões, que eram transformados<br />

em ondas quadrada e dente de serra, e<br />

depois tratados por filtros ressonantes.<br />

Todo esse complexo de circuitos valvulados<br />

era controlado por um sistema digital<br />

primitivo, com recursos de programação –<br />

o que hoje chamamos de sequenciamento<br />

- e o resultado podia ser gravado em disco<br />

abril 2019 / 43


sintese sonora<br />

de acetato ou fita magnética. Apesar de o<br />

projeto não ter tido o sucesso esperado –<br />

a ideia inicial era produzir trilhas sonoras<br />

substituindo orquestras – foi a partir daí que<br />

se passou a usar o termo “sintetizador” para<br />

os equipamentos cuja função é produzir<br />

sons eletronicamente.<br />

O desenvolvimento dos sintetizadores<br />

começou a tomar impulso no início da<br />

década de 1960, sobretudo pelos trabalhos<br />

inovadores dos norte-americanos Bob<br />

Moog e Don Buchla, um em cada lado<br />

dos Estados Unidos. A pedido de artistas<br />

envolvidos com música eletrônica, música<br />

eletroacústica, sound design e trilhas<br />

sonoras, os dois começaram a desenvolver<br />

sintetizadores compostos de módulos<br />

com funções específicas, que, interligados<br />

de diferentes maneiras, permitiam obter<br />

uma gama enorme de resultados sonoros.<br />

O controle dos parâmetros dos módulos<br />

era realizado por sinais de tensão elétrica<br />

(voltage control), o que detalharemos<br />

mais adiante. Embora ambos tenham<br />

começado construindo equipamentos<br />

relativamente desvinculados dos<br />

instrumentos convencionais, orientados<br />

para compositores igualmente não<br />

convencionais e pessoas associadas à<br />

pesquisa sonora, inclusive instituições<br />

de ensino e centros universitários, Moog<br />

acabou integrando o teclado convencional<br />

a seus instrumentos, o que foi um aspecto<br />

fundamental para o seu sucesso comercial,<br />

assim como para a aceitação do sintetizador<br />

efetivamente como um instrumento<br />

musical, alguns anos depois.<br />

Estrutura da síntese subtrativa<br />

O conceito adotado nesses primeiros<br />

sintetizadores para a geração e alteração<br />

do som é o que se chama de síntese<br />

subtrativa. Nesse processo, a estrutura é<br />

composta de módulos, de tal maneira que<br />

um sinal eletrônico rico em harmônicos<br />

(que representa a onda sonora) é gerado<br />

no início do processo e em seguida é<br />

modificado por outros módulos, dando<br />

forma e conteúdo ao produto final (Fig.2).<br />

Dependendo do módulo, o controle<br />

de seus parâmetros pode ser realizado<br />

manualmente, automaticamente, ou<br />

das duas maneiras. O caminho do sinal<br />

pode ser facilmente acompanhado pelo<br />

músico ou compositor, sendo que em<br />

alguns sintetizadores, como no caso dos<br />

“modulares”, é possível até determinar<br />

o fluxo do sinal. Isso torna o processo<br />

relativamente fácil de ser compreendido<br />

e faz que o trabalho de construção sonora<br />

seja bastante produtivo.<br />

Tomando primeiramente como exemplo<br />

o Minimoog - sintetizador totalmente<br />

analógico produzido entre 1970 e 1981 e<br />

que até hoje é uma referência na síntese<br />

subtrativa – é possível ver a estrutura<br />

Figura 2 – Estrutura elementar da síntese subtrativa<br />

44 / abril 2019 teclas & afins


sintese sonora<br />

Figura 3 – Painel do Minimoog<br />

representada diretamente no painel (Fig.3).<br />

Observe que, apesar de o Minimoog ser<br />

composto por módulos, estes já estão<br />

interligados internamente, e não é possível<br />

redirecionar livremente o sinal, como<br />

acontece nos sintetizadores chamados de<br />

“modulares”, que abordaremos em outra<br />

oportunidade.<br />

Na estrutura do Minimoog, existem quatro<br />

geradores de sinal, sendo três osciladores e<br />

um gerador de ruído. Em cada um dos três<br />

osciladores (situados na seção Oscillator<br />

Bank) é possível selecionar uma forma de<br />

onda diferente, entre triangular, dente de<br />

serra, pulso e algumas variações dessas.<br />

Também é possível definir a região (oitava)<br />

de atuação de cada um dos osciladores,<br />

desde uma região muito grave (32’) até<br />

muito aguda (2’) * . Isso permite ajustar<br />

os osciladores para operar em oitavas<br />

diferentes, possibilitando dar “peso” ao<br />

som. Os osciladores 2 e 3 também permitem<br />

fazer um ajuste fino, possibilitando criar<br />

“detune” e produzir desde sons encorpados<br />

(“fat”), até sons impactantes com forte<br />

batimento. Todos os osciladores também<br />

podem ser configurados para gerar sinais<br />

de frequência muito baixa (sub-áudio),<br />

para produzir efeitos. É possível ajustar<br />

também o tempo de portamento (glide) de<br />

uma nota para outra.<br />

A seção Mixer, como o nome sugere,<br />

teclas & afins<br />

permite ajustar a intensidade do sinal de<br />

cada um dos osciladores, do gerador de<br />

ruído (noise) e de um sinal de áudio externo<br />

(um microfone, por exemplo) conectado<br />

no painel traseiro do Minimoog. Nessa<br />

seção, o sinal do gerador de ruído pode ser<br />

escolhido entre ruído branco (White - de<br />

espectro amplo), ou ruído rosa (pink - com<br />

menor presença de agudos).<br />

Em seguida, o sinal mixado vai para a seção<br />

do filtro (Filter), onde acontecem as grandes<br />

transformações de timbre, conforme<br />

os ajustes efetuados na frequência de<br />

corte (cutoff frequency) e na ressonância<br />

(enphasis), assim como na dinâmica da<br />

sua atuação, por meio do controle do<br />

envelope (attack, decay, sustain) que<br />

existe especificamente para o filtro. No<br />

caso do Minimoog, o filtro é do tipo “lowpass”,<br />

que atenua as frequências acima de<br />

determinado ponto, e sua atenuação é da<br />

ordem de 24 dB/oitava (veremos detalhes<br />

sobre os filtros futuramente).<br />

O timbre resultante do filtro então é<br />

direcionado ao amplificador (Loudness<br />

Contour), onde a intensidade do sinal é<br />

formatada dinamicamente pelo envelope<br />

(attack, decay, sustain).<br />

Não existe uma seção específica de LFO (low<br />

frequency oscillator) no Minimoog, mas é<br />

*<br />

A notação das oitavas em medidas de pés (32’, 16’, 8’, etc) vem do padrão utilizado nos<br />

órgãos de tubos, e é muito comum nos sintetizadores mais antigos.<br />

abril 2019 / 45


sintese sonora<br />

Figura 4 – Estrutura de síntese subtrativa do Roland FA-06<br />

possível modular (modificar) a afinação e/<br />

ou o corte do filtro pelo oscilador 3 ou pelo<br />

ruído (ativando a modulação pelas chaves<br />

Oscillator Modulation e Filter Modulation),<br />

e controlando a quantidade de modulação<br />

manualmente pela roda de Modulation.<br />

O Minimoog é um instrumento monofônico,<br />

isto é, só toca uma nota de cada vez e,<br />

portanto, não produz acordes. Sendo um<br />

instrumento analógico e monofônico,<br />

quando se ajusta um botão correspondente<br />

a determinado parâmetro, aquele botão é<br />

o próprio potenciômetro do circuito que<br />

está sendo ajustado.<br />

A síntese subtrativa também foi<br />

implementada em instrumentos bem<br />

mais moderno, como o Roland FA-06. Esse<br />

sintetizador também pode gerar timbres<br />

por processo de síntese por modelagem<br />

física (que abordaremos futuramente), de<br />

maneira que é possível misturar timbres<br />

gerados pelos dois processos, mas, por<br />

ora, focaremos apenas nos seus recursos<br />

de síntese subtrativa.<br />

A Figura 4 mostra a estrutura de síntese<br />

subtrativa do FA-06. Observe que<br />

essa estrutura é composta de quatro<br />

“subestruturas” (Partial 1 a Partial 4), cada<br />

uma contendo um módulo de oscilador<br />

(Wave), um módulo de filtro (TVF) e um<br />

módulo amplificador (TVA), sendo que<br />

cada um desses módulos possui um<br />

gerador de envelope (Env). Cada uma das<br />

subestruturas de Partial ainda contém<br />

dois LFOs, que podem ser direcionados<br />

a quaisquer dos três módulos. Os sinais<br />

gerados e processados nos quatro Partial<br />

são então mixados e aplicados a um<br />

módulo de multiefeitos. Tente comparar<br />

essa estrutura com a do Minimoog.<br />

Alguns aspectos devem ser observados<br />

com relação ao processo implementado<br />

no FA-06 – e que ocorre em quase todos<br />

os instrumentos modernos. Em primeiro<br />

lugar, esse sintetizador utiliza tecnologia<br />

totalmente digital. Todos os processos de<br />

geração de timbres, processamento de<br />

efeitos, sequenciamento, gerenciamento<br />

de notas do teclado e de controles do<br />

painel são realizados por meio de chips<br />

processadores digitais que operam<br />

por software. Portanto, não existem<br />

circuitos eletrônicos individuais para cada<br />

módulo (oscilador, filtro, amplificador<br />

etc), porque os “sinais”, na verdade, são<br />

virtuais, representados por números que<br />

são trabalhados apropriadamente pelo<br />

software. Desta forma, quando o músico<br />

gira um botão para ajustar a frequência do<br />

filtro, por exemplo, aquele botão não está<br />

controlando diretamente o sinal eletrônico<br />

do filtro, mas informa ao processador o que<br />

deve ser feito com os dados do sinal que<br />

está sendo filtrado digitalmente. Muitos<br />

artistas alegam que esse tipo de ação<br />

“indireta” é uma das diferenças em relação<br />

aos sintetizadores analógicos, que seriam<br />

mais “orgânicos”.<br />

Outro aspecto é o imenso potencial<br />

sonoro que se tem ao somar quatro<br />

subestruturas, cada qual com sua forma<br />

de onda, seu filtro e seu amp, e respectivos<br />

46 / abril 2019 teclas & afins


sintese sonora<br />

geradores de envelope. Os timbres<br />

resultantes são de fato potencialmente<br />

muito ricos. Acrescente a isso o fato de<br />

que o oscilador (Wave) pode produzir uma<br />

enorme diversidade de formas de onda,<br />

desde as sintéticas (dente de serra, pulso,<br />

triangular etc) e ruídos até amostras de<br />

timbres acústicos (samples). E que o filtro<br />

pode ser configurado para operar como<br />

low-pass, high-pass, dentre outros tipos.<br />

Há que se destacar que, na maioria dos<br />

sintetizadores modernos, nem todos os<br />

controles dos parâmetros estão no painel,<br />

de maneira que muitos deles têm que ser<br />

acessados e manipulados por meio de<br />

uma tela e algum controle genérico. Isso<br />

reduz a espontaneidade e a rapidez da<br />

operação. Por outro lado, os instrumentos<br />

digitais podem ser facilmente integrados<br />

a softwares de produção musical, via MIDI.<br />

Por fim, há ainda a questão da polifonia.<br />

O FA-06, por exemplo, pode tocar até<br />

128 notas simultâneas, dependendo<br />

da maneira como estiver configurado.<br />

Ou seja, o instrumento pode conter<br />

simultaneamente até 128 estruturas<br />

iguais à ilustrada da Fig. 4. Isso só é viável<br />

por software. Só a título de comparação,<br />

imagine 128 Minimoogs juntos!<br />

Analógico ou digital<br />

Como vimos com esses dois exemplos,<br />

o processo de síntese subtrativa pode<br />

ser implementado com tecnologia<br />

analógica ou digital. No primeiro caso,<br />

há uma tremenda limitação em termos<br />

funcionais, porque qualquer função ou<br />

recurso precisa ser construído fisicamente<br />

na forma de um circuito eletrônico,<br />

que ocupa espaço, consome energia, e,<br />

dependendo da sua complexidade, tem<br />

um custo significativo no instrumento.<br />

Por outro lado, a sonoridade do sinal<br />

teclas & afins<br />

Figura 5 – Painel do Roland FA-06<br />

analógico é única, porque a combinação<br />

de tantos componentes, cada qual<br />

com seus desvios de tolerância, acaba<br />

dando uma singularidade própria ao<br />

conjunto. A atuação imediata do músico,<br />

ajustando pontualmente o sinal, também<br />

é outra característica que destaca a<br />

tecnologia analógica. Por causa disso,<br />

os sintetizadores analógicos, antigos<br />

e atuais, tendem a ser mais simples e<br />

mais caros, porém podem proporcionar<br />

timbres marcantes.<br />

No caso dos instrumentos digitais,<br />

a evolução crescente da capacidade<br />

e velocidade de processamento dos<br />

chips, assim como o aprimoramento<br />

dos softwares, possibilitou incorporar<br />

cada vez mais funções dentro do mesmo<br />

sintetizador. A facilidade de gerar ondas<br />

sintéticas e reproduzir sons acústicos<br />

trouxe uma vasta variedade de timbres<br />

para os artistas mais exigentes. Ampla<br />

polifonia e outros recursos, tais como<br />

sequenciamento, processamento de<br />

efeitos, integração com softwares no<br />

computador e diversas outras facilidades,<br />

além de uma excelente relação preço/<br />

peso/recursos, fazem dos sintetizadores<br />

digitais provavelmente a alternativa<br />

abril 2019 / 47


sintese sonora<br />

mais prática.<br />

Qual a melhor sonoridade: analógica ou<br />

digital? Esta questão eu vou deixar para<br />

cada um decidir. Sugiro ouvir um e outro,<br />

e escolher aquele que melhor lhe agradar<br />

naquilo que lhe é importante.<br />

No próximo artigo veremos como<br />

manipular os parâmetros do oscilador.<br />

Por uma questão prática, vamos usar<br />

exemplos de sintetizadores virtuais<br />

(software), mas isso não significa uma<br />

preferência. Os exemplos, de certa<br />

maneira, poderão ser experimentados<br />

em diferentes sintetizadores, digitais e<br />

analógicos. Até lá!<br />

Referências<br />

DARTER, Tom. The Art of Electronic Music. GPI Books. USA, 1984.<br />

JUDD, F. C. Electronic Music and Musique Concrète. Foruli Classics.<br />

London, UK, 2013.<br />

OLSON, Harry; BELAR, Herbert. Electronic Music Synthesizer. In: The<br />

Journal of the Acoustical Socity of America. Vol.27, No.3. USA, 1955.<br />

MENEZES, Flo. Música Eletroacústica – História e Estéticas. Edusp.<br />

São Paulo, 2009.<br />

MOOG MUSIC INC. The Minimoog Synthesizer Operation Manual.<br />

Williamsville, USA, 1972.<br />

PINCH, Trevor; TROCCO, Frank. Analog Days – The Invention<br />

and Impact of the Moog Synthesizer. Harvard University Press.<br />

Cambridge, USA, 2002.<br />

ROLAND CORP. FA-06 Reference Manual. Japan, 2017.<br />

Miguel Ratton<br />

Engenheiro em eletrônica, e há mais de trinta anos atua no segmento de tecnologia musical, realizando projetos de<br />

equipamentos e sistemas, manutenção de sintetizadores e prestando consultoria técnica. É autor de vários livros sobre<br />

MIDI, áudio e sintetizadores. Para saber mais, visite ratton.com.br e facebook.com/m.ratton.eng.tec<br />

48 / abril 2019 teclas & afins


it.ly/EK-50<br />

WWW.KORG.COM.BR


ESTUDIO<br />

POR nilton corazza<br />

O ponto certo<br />

Os diferentes caminhos que o áudio percorre<br />

em um estúdio interferem drasticamente no<br />

resultado da mixagem<br />

O músico trabalha, ansiosamente, em um<br />

estúdio superequipado para terminar sua<br />

mixagem - prometendo à companheira<br />

que estará por volta das 11:30h em casa.<br />

Mas chega somente às três horas da<br />

manhã, orgulhoso, pronto para mostrar<br />

o que fez a ela. Tira, então, uma mídia da<br />

mochila, reproduz o arquivo no aparelho<br />

de som, escuta e pensa, desesperado:<br />

“A voz ficou meio magra e com pouco<br />

volume. Cadê o baixo? As guitarras estão<br />

muito altas. Onde estão os efeitos?” Volta<br />

ao estúdio e escuta a mixagem, que soa<br />

diferente, perfeita. Então fica estressado e<br />

achando que todo tempo dedicado àquele<br />

processo foi em vão.<br />

Por que isso acontece?<br />

Inicialmente, é necessário entender o que<br />

ocorre com o som em uma mixagem. O áudio<br />

© Drew Patrick Miller @ unsplash.com<br />

50 / janeiro abril 2019 2019 teclas & afins


ESTUDIO<br />

faz dois caminhos diferentes: o eletrônico e<br />

o acústico. O primeiro é o que ele percorre<br />

até o gravador da mixagem (computador<br />

ou até um gravador analógico de ½”ou de<br />

¼”) e o segundo, da fonte sonora (mixer<br />

ou interface de áudio) aos monitores de<br />

referência (caixas acústicas), chegando até<br />

os ouvidos. Todo o tratamento “eletrônico”<br />

aplicado à mixagem é determinado pelo<br />

que se escuta por meio do meio acústico.<br />

O erro ocorre quando se pensa que os<br />

dois caminhos são iguais. Enquanto<br />

computador ou gravador analógico recebe<br />

o sinal da mixagem diretamente, as caixas<br />

ou monitores de referência estão no meio<br />

acústico, como uma sala de controle ou<br />

de mixagem. Nela, podem existir móveis,<br />

equipamentos e outros objetos, além<br />

de janelas, portas com vários tipos de<br />

superfícies etc. nas quais o som pode se<br />

difundir, refletir e (ou) ser absorvido.<br />

Mesmo próximo aos monitores de referência,<br />

o que se escuta sempre é o som modificado,<br />

acusticamente, pelos fenômenos citados.<br />

Mas há outro ponto que deve ser levado<br />

em consideração: é muito comum perder<br />

a sensibilidade às altas freqüências ao<br />

ficar exposto a uma determinada pressão<br />

sonora durante várias horas seguidas,<br />

resultando em fadiga auditiva. Enquanto<br />

isso, o gravador da mixagem recebe o<br />

mesmo sinal diretamente dos fios, sem a<br />

influência acústica e sem sofrer desse mal.<br />

Então, surge a questão: as especificações<br />

dos monitores de referência atestam<br />

que a resposta de freqüência é plana (ou<br />

flat). Deve-se lembrar, no entanto, que<br />

esses monitores são testados em câmaras<br />

anecóicas, salas utilizadas para testes<br />

de precisão sonora, em que não existem<br />

quaisquer reflexões ou em que são mínimas.<br />

Quantas pessoas escutam música numa<br />

câmara anecóica?<br />

FATORES QUE MERECEM<br />

ATENÇÃO<br />

Qualidade de energia elétrica<br />

•<br />

Qualidade dos cabos e conectores<br />

de áudio<br />

•<br />

Conexões feitas corretamente<br />

(sempre se deve verificar o manual<br />

do usuário dos equipamentos)<br />

•<br />

Onde e como estão posicionados<br />

os monitores de referência ou as<br />

caixas acústicas<br />

•<br />

Características acústicas da sala<br />

e como se percebem as baixas,<br />

médias e altas freqüências<br />

Outro ponto importante: o dono do estúdio<br />

provavelmente contratou um engenheiro<br />

acústico para projetar a sala ideal para<br />

mixagem, repleta de painéis acústicos,<br />

bass-traps (armadilha de graves), difusores,<br />

refletores. Quantas pessoas possuem tal<br />

tratamento acústico em algum dos recintos<br />

domésticos? Ou quantos estúdios você<br />

conhece que investiram certa quantia num<br />

projeto acústico?<br />

Soluções<br />

Mixagens com excesso de graves: é<br />

provável que os monitores não respondam<br />

à quantidade de baixas freqüências (ou<br />

graves) suficiente ou então a sala tem certa<br />

deficiência na reprodução delas.<br />

teclas & afins<br />

janeiro abril 2019 / 51


ESTUDIO<br />

Mixagens opacas ou sem brilho: os<br />

monitores soam muito brilhantes ou a sala<br />

possui muitos elementos absorvedores de<br />

altas freqüências, como espumas e carpetes,<br />

provendo certa deficiência na reprodução<br />

delas. Os monitores, juntamente com a sala,<br />

estão modificando o som e a resposta de<br />

frequência. Essas características do meio<br />

acústico não são adicionadas ao som que<br />

percorre o caminho direto para o gravador<br />

de mixagem por meio dos cabos.<br />

Mixagens sem “energia” ou “punch”<br />

e monitores com muita “energia” ou<br />

“punch”: os monitores podem estar mal<br />

configurados.<br />

© Bruno Araujo @ unsplash.com<br />

Vocais “magros”: é muito provável que<br />

a sala em que foi feita a mixagem tenha<br />

problemas na reprodução das médias,<br />

médio-altas ou médio-baixas frequências.<br />

“Imagem” estereofônica diferente:<br />

pode ser que as reflexões primárias,<br />

que ocorrem entre a superfície dos<br />

equipamentos próximos até os ouvidos,<br />

estejam “borrando” a mixagem, fazendo<br />

os detalhes dos efeitos utilizados serem<br />

quase imperceptíveis.<br />

Cuidados<br />

Mesmo com a aquisição de monitores<br />

ativos de valor elevado, podem “sobrar”<br />

graves nas mixagens quando reproduzidas<br />

em equipamentos domésticos de som.<br />

Deve-se lembrar que os cabos de sinal<br />

de áudio, os de alimentação de energia<br />

elétrica, a sala de mixagem, os préamplificadores<br />

da seção de monitoração<br />

da interface, mixer ou mesa de som e os<br />

amplificadores de potência que alimentam<br />

as caixas de referência são determinantes<br />

para a precisão e o bom rendimento<br />

dos equipamentos. Todos esses fatores<br />

influenciam na qualidade da mixagem.<br />

Além disso, os ouvidos são ferramenta<br />

básica para julgar um amplificador, mesmo<br />

que as especificações dele afirmem que a<br />

resposta de freqüência é plana de 20Hz ate<br />

20 kHz, pois poderão soar “opacos”, “ardidos”,<br />

sem “punch” ou até acabar com a “imagem”<br />

estereofônica da mixagem, proporcionando<br />

uma monitoração imprecisa.<br />

O técnico que está realizando a mixagem<br />

deve concentrar-se em escutar suas<br />

mixagens e outras, de discos de que goste,<br />

em vários sistemas diferentes. Além disso,<br />

deve procurar entender como a acústica<br />

influencia na resposta de freqüência de<br />

suas caixas e no conteúdo total delas que<br />

chega aos seus ouvidos.<br />

52 / janeiro abril 2019 2019 teclas & afins


acordeon sem limites<br />

Eneias Bittencourt<br />

O exercício da múltipla<br />

escolha<br />

Possibilidades livres, não acadêmicas, para o dedilhado<br />

da mão direita<br />

Algumas configurações de dedilhado<br />

podem parecer estranhas, mas, não deixam<br />

de ser possibilidades. Ter a cinestesia<br />

dessas possibilidades pode ser a salvação<br />

naquele momento de desatenção, a decisão<br />

quase que inconsciente pode ser rápida e<br />

eficiente. E não só isso: pode se tornar um<br />

padrão em muitos casos em que a melhor<br />

opção é o menor esforço e a maior fluência.<br />

O exercício da cinestesia consciente – tema<br />

já abordado em outra edição de Teclas &<br />

Afins – cria novas sinapses cerebrais.<br />

Estudos comprovam que a habilidade<br />

motora alavanca esse processo.<br />

Portanto, como sempre digo, é preciso<br />

pensar em tudo o que se executa, separar<br />

um tempo para o exercício mental. A<br />

observação minuciosa do dedilhado é<br />

teclas & afins<br />

ABRIL 2019 / 53


acordeon sem limites<br />

um excelente meio...<br />

Tocar “no automático” é diferente de tentar<br />

mapear e mentalizar os movimentos. Sim,<br />

tocamos (nos apresentamos), em grande<br />

parte, “no automático”, mas devemos<br />

estudar objetivando a razão das coisas.<br />

O dedilhado da mão direita<br />

Sabemos que, tradicionalmente, o<br />

dedilhado adotado para o acordeon é o<br />

mesmo utilizado no piano. É o chamado:<br />

“dedilhado acadêmico”.<br />

Devemos ter em mente também que, no<br />

ambiente popular, esse dedilhado é nosso<br />

ponto de partida, é o material didático que<br />

nos permite começar. Nada nos impede –<br />

e a exceção confirma a regra – explorar<br />

outras possibilidades. E essa possibilidade<br />

é chamada de “dedilhado livre” ou<br />

“dedilhado popular”, denominação essa<br />

que não tem por finalidade expressar um<br />

caráter pejorativo.<br />

A decisão pela configuração do dedilhado<br />

de um determinado trecho passa por<br />

alguns critérios:<br />

• Andamento: batimentos (tempo) por<br />

minuto;<br />

• Ritmo melódico: número de notas por<br />

tempo;<br />

• Região: metade inferior ou superior do<br />

teclado;<br />

• Dimensão espacial: o que antecede e<br />

sucede o trecho;<br />

• Fisiologia: tamanho das mãos, dedos e<br />

braços; em pé ou sentado; um eventual<br />

problema físico;<br />

• Ergonomia da parte do instrumento:<br />

largura e resistência (pressão) das teclas;<br />

• Relevo: a depender da tonalidade<br />

(relação entre teclas brancas e pretas);<br />

• Sensibilização e fluência: acentuações<br />

de notas específicas; ligaduras de<br />

expressão.<br />

Seguem pequenas dicas que serão<br />

suficientes para que o acordeonista possa<br />

expandir suas possibilidades.<br />

Escolhi para este ensaio a frase de saída<br />

da parte “B” de um clássico do nosso<br />

repertório: “Tico-Tico no Fubá”, de<br />

Zequinha de Abreu.<br />

Não é novidade para ninguém dizer que<br />

a tonalidade é “Lá” e a modalidade é<br />

“menor”, e que na parte “B” a modulação<br />

ocorre para “maior”.<br />

54 / ABRIL 2019 teclas & afins


acordeon sem limites<br />

Repare que o dedilhado das três primeiras notas<br />

do segundo tempo do segundo compasso<br />

ganharia a reprovação de qualquer professor<br />

acadêmico! Mas perceba a conveniência<br />

desta opção, uma vez que os dedos já estão<br />

posicionados previamente, ao digitar as notas<br />

anteriores. Quanto mais velocidade se aplica,<br />

mais a possibilidade ganha crédito.<br />

Esta opção se mostra ainda mais eficaz quando<br />

transposta uma oitava acima. Regiões agudas<br />

promovem maior desconforto no pulso ao executar<br />

o dedilhado acadêmico. Sugestões como<br />

esta eliminam o desconforto e promovem maior<br />

fluência, principalmente ao se tocar em pé.<br />

Nesta versão, em sextas, identifique as notas digitadas de maneira não acadêmica.<br />

Ainda no padrão de sextas, porém, com mais liberdade.<br />

É isso! Envie sua sugestão e suas perguntas!<br />

Até a próxima e bons sons a todos!<br />

Eneias Bittencourt<br />

Gaúcho, é escritor e editor de material didático e luthier de acordeon. Atuou como músico profissional, arranjador e<br />

produtor musical. Dedica-se a desenvolver soluções didáticas e técnicas para acordeon. Em 2007 lançou seu primeiro<br />

livro, “Acordeon sem Limites”, que dá início à retomada da produção didática para acordeon no Brasil, então estagnada<br />

por mais de 20 anos. É proprietário do primeiro site dedicado a aulas online para acordeon no Brasil.<br />

www.aprendacordeon.com.br - leandroeneiasbittencourt@hotmail.com<br />

teclas & afins<br />

© Divulgação - Clever Barbosa<br />

ABRIL 2019 / 55


arranjo comentado<br />

por rosana giosa<br />

“Lugar comum”<br />

Composta originalmente como o tema instrumental “Índio<br />

Perdido”, a canção ganhou letra de Gilberto Gil e figura entre as<br />

mais conhecidas do pianista e compositor João Donato<br />

O pianista, acordeonista, arranjador, cantor<br />

e compositor João Donato nasceu em<br />

Rio Branco, no Acre, em 17 de agosto de<br />

1934. Foi amigo de todos os expoentes<br />

da bossa nova, como João Gilberto, Tom<br />

Jobim, Vinícius de Moraes e Johnny Alf,<br />

entre outros, mas nunca foi caracterizado<br />

unicamente como tal, e sim um músico<br />

muito criativo e que promove fusões musicais,<br />

de jazz e música latina, entre tantos<br />

outros. Em entrevista exclusiva à revista<br />

Teclas & Afins, afirmou que o que faz é<br />

jazz latino-brasileiro.<br />

Suas composições mais conhecidas, em sua<br />

maioria, eram instrumentais, ganhando<br />

letra mais tarde, por conta da necessidade<br />

de atingir a um maior público. “As minhas<br />

primeiras letras surgiram a partir desses<br />

temas instrumentais já gravados, que<br />

eu pensava que não iam ter letra nunca.<br />

“Bananeira” era “Villa Grazia”, o nome da<br />

pousadinha onde a gente ficou em Lucca,<br />

na Itália, acompanhando o João Gilberto<br />

numa temporada (...). Noventa e nove por<br />

© Divulgação - Clever Barbosa<br />

56 / ABRIL 2019 teclas & afins


arranjo comentado<br />

cento das minhas músicas instrumentais<br />

trocaram de nome, por causa da letra” diz<br />

João Donato. Um exemplo desse fato é<br />

“Lugar Comum”, composta originalmente<br />

como “Índio Perdido”, que mudou de nome<br />

após receber letra de Gilberto Gil.<br />

O tema foi apresentado no disco A Bossa<br />

Muito Moderna de Donato e Seu Trio, de<br />

1963, e regravado posteriormente, já com<br />

letra, no álbum Lugar Comum, em 1975. No<br />

texto de apresentação deste álbum, João<br />

Donato conta: “A origem da primeira música,<br />

‘Lugar comum’, que dá nome ao disco, é um<br />

assobio de um homem descendo a canoa<br />

no Rio Acre, em Rio Branco. O rio passa<br />

bem no meio da cidade. Ao cair da tarde,<br />

eu estava lá, pequenininho ainda, com uns<br />

sete ou oito anos, não me lembro bem.<br />

Passou uma canoa com o cara assobiando,<br />

e eu fiquei melancólico pela primeira vez<br />

na minha vida, um sentimento até então<br />

desconhecido para mim. Fiquei pensando,<br />

‘por que eu fiquei assim?’, mas eu sabia que<br />

esse sentimento vinha daquele assobio e<br />

eu guardei a melodia”.<br />

No Songbook do músico editado por Almir<br />

Chediak, Donato conta: “A letra de ‘Lugar<br />

Comum’ foi escrita em Itapuã, no verão,<br />

estimulada pela sensação boa de estar ali<br />

e de ali ser um lugar comum a tanta gente<br />

comum – pela ideia de comunidade”.<br />

O arranjo<br />

A levada rítmica desta música é diferente<br />

daquela dos sambas clássicos. Assim é<br />

a música de João Donato: suas levadas<br />

únicas imprimem uma marca que se<br />

tornou sua característica registrada. Sua<br />

música é sempre leve e alto astral e suas<br />

levadas assim também o são. Desse modo,<br />

este arranjo repete sua levada de dois<br />

compassos durante as partes A1, A2 e A3,<br />

só mudando na parte B para uma nova<br />

teclas & afins<br />

levada, muito gostosa e que também se<br />

repete durante toda parte B.<br />

Introdução – apresenta a levada que será a<br />

base de toda parte A;<br />

A1 - com essa mesma levada, o tema<br />

se apresenta, sempre com dois acordes<br />

apenas, que se repetem. Contracantos<br />

completam as notas longas do tema;<br />

A2 - as intervenções agora se apresentam<br />

com acordes, de forma mais completa;<br />

B - o ritmo aqui se distribui nas duas mãos<br />

em uma instrumentação que chamamos de<br />

“distribuição de acordes”. Há quatro vozes<br />

nesse momento. A voz mais grave que imita<br />

o contrabaixo, as duas vozes intermediárias,<br />

que fazem a mesma divisão, e a voz da<br />

melodia. Essa coordenação é trabalhosa,<br />

mas muito interessante e pianística e,<br />

apesar da dificuldade, uma vez resolvida,<br />

se repete em todo B;<br />

A3 - o tema se apresenta agora em oitavas;<br />

A4 - o tema desce para a oitava central<br />

novamente e se encaminha para a Coda,<br />

surpreendentemente em um acorde de<br />

Do dominante, dando uma sensação de<br />

suspensão.<br />

ABRIL 2019 / 57


arranjo comentado<br />

Arranjo: Rosana Giosa<br />

“Lugar Comum”<br />

<br />

Introdução<br />

A 7 sus 4<br />

A 7<br />

<br />

<br />

<br />

Dmaj 7 /A<br />

<br />

<br />

<br />

Introdução<br />

2 4 <br />

A 7 sus 4<br />

A 7<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Dmaj<br />

7 /A<br />

<br />

Introdução<br />

A 7 sus 4<br />

A 7<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Dmaj 7 /A<br />

<br />

<br />

<br />

Introdução<br />

2 4 <br />

A 7 sus 4<br />

A 7<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Dmaj<br />

7 /A<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

2 <br />

4 <br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

2 <br />

4 <br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

A<br />

A<br />

A<br />

A <br />

7 sus 4<br />

Dmaj <br />

7 Dmaj 7 A<br />

A1<br />

7 sus 4<br />

6<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

7 sus<br />

<br />

4<br />

<br />

Dmaj<br />

<br />

7 Dmaj<br />

<br />

<br />

7 A<br />

A1<br />

7 sus 4<br />

<br />

6<br />

7 sus 4<br />

Dmaj <br />

7 Dmaj 7 A<br />

A1<br />

7 sus 4<br />

6<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

7 sus<br />

<br />

4<br />

<br />

Dmaj<br />

<br />

<br />

<br />

7 Dmaj<br />

<br />

<br />

7 A<br />

A1<br />

7 sus 4<br />

6<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Dmaj <br />

<br />

7 /A<br />

<br />

A 7 sus 4<br />

11<br />

<br />

<br />

<br />

Dmaj<br />

<br />

<br />

<br />

7 /A<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

A<br />

7 sus <br />

4 11<br />

Dmaj <br />

<br />

7 /A<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

A 7 sus 4<br />

11<br />

<br />

<br />

Dmaj<br />

<br />

<br />

<br />

7 /A<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

A<br />

7 sus 4<br />

11<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Dmaj<br />

Dmaj 7 A2<br />

Dmaj<br />

Dmaj 7 A2<br />

<br />

<br />

A<br />

<br />

7 <br />

sus 4<br />

Dmaj <br />

<br />

<br />

<br />

7 /A<br />

16 7 A2<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

A<br />

<br />

7<br />

<br />

sus 4<br />

Dmaj <br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

7 /A<br />

<br />

16<br />

<br />

A<br />

<br />

7 <br />

sus 4<br />

Dmaj <br />

<br />

<br />

<br />

7 /A<br />

16 7 A2<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

A<br />

<br />

7<br />

<br />

sus 4<br />

Dmaj <br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

7 /A<br />

16<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

João Donato - Gilberto Gil<br />

58 / ABRIL 2019 teclas & afins


arranjo comentado<br />

<br />

A<br />

7 sus 4 Dmaj 7 A 7<br />

<br />

<br />

<br />

21<br />

<br />

A<br />

7 sus 4 Dmaj 7 A 7<br />

<br />

<br />

<br />

21<br />

<br />

<br />

A<br />

<br />

7 sus<br />

4<br />

<br />

<br />

Dmaj<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

7 A 7<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

21<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

B<br />

B<br />

B<br />

<br />

Gmaj <br />

7 C 7 sus 4 <br />

<br />

Gm <br />

7 B <br />

7 sus 4 <br />

Em 7<br />

26<br />

<br />

Gmaj <br />

7 C 7 sus 4 <br />

<br />

Gm <br />

7 B <br />

7 sus 4 <br />

Em 7<br />

26<br />

<br />

Gmaj<br />

<br />

7 C<br />

<br />

<br />

<br />

7 sus 4 <br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Gm<br />

<br />

7 B <br />

<br />

7 sus 4 <br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Em<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

7<br />

26<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

A 7 E <br />

<br />

<br />

7<br />

Dmaj7<br />

A 7<br />

Gmaj <br />

7<br />

C <br />

7 sus 4<br />

31<br />

<br />

A 7 E <br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

7<br />

Dmaj7<br />

A 7<br />

Gmaj <br />

7<br />

C <br />

<br />

<br />

7 sus 4<br />

31<br />

<br />

A<br />

<br />

7 E<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

7<br />

<br />

Dmaj7<br />

<br />

A 7<br />

Gmaj<br />

<br />

<br />

<br />

7<br />

C <br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

7 sus 4<br />

31<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Gm Gm <br />

<br />

7 B <br />

<br />

7 sus 4 B <br />

<br />

Em7 <br />

7<br />

<br />

<br />

A<br />

<br />

7 sus 4<br />

36<br />

<br />

<br />

7 B <br />

<br />

7 sus 4 B <br />

<br />

Em7 <br />

<br />

7<br />

<br />

<br />

A<br />

<br />

7 sus 4<br />

36<br />

<br />

Gm<br />

<br />

7 B <br />

<br />

<br />

<br />

7 sus 4 B<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Em7 <br />

<br />

<br />

7<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

A<br />

<br />

7 sus 4<br />

36<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

teclas & afins<br />

ABRIL 2019 / 59


A3<br />

7 sus 4<br />

Dmaj <br />

7 /A<br />

<br />

A3 A 7 sus 4<br />

Dmaj<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

7 /A<br />

A3 A 7 sus 4<br />

Dmaj<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

7 /A<br />

A3 A<br />

7 sus 4<br />

Dmaj<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

7 /A<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

A<br />

A<br />

A 7 sus 4 <br />

Dmaj 7 <br />

7 sus 4<br />

A4<br />

46<br />

<br />

7 sus 4 <br />

Dmaj 7 <br />

<br />

A 7 sus 4<br />

<br />

<br />

A4<br />

46<br />

<br />

7 sus 4 <br />

Dmaj 7 A <br />

<br />

7 sus 4<br />

<br />

A4<br />

46<br />

<br />

7 sus<br />

4<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Dmaj<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

7 A<br />

<br />

<br />

7 sus 4<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

A4<br />

<br />

<br />

46<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

arranjo comentado<br />

B 7 sus 4<br />

B 7 sus 4<br />

B 7 7 sus<br />

sus 4 4<br />

41<br />

41<br />

41<br />

41<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Dmaj 7 /A<br />

7 sus 4<br />

51<br />

<br />

Dmaj <br />

<br />

7 /A<br />

<br />

A 7 sus 4<br />

51<br />

<br />

Dmaj <br />

<br />

7 /A<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

A 7 sus 4<br />

51<br />

<br />

Dmaj<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

7 /A<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

A<br />

<br />

<br />

<br />

7 sus<br />

4<br />

51<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Dmaj 7 Coda<br />

A<br />

Dmaj 7 Coda<br />

A<br />

Dmaj<br />

Dmaj 7 7 Coda<br />

Coda A 7 sus 4<br />

Dmaj 7 56<br />

<br />

<br />

<br />

7 sus 4<br />

Dmaj <br />

<br />

<br />

<br />

<br />

7 56<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

7 sus 4<br />

Dmaj<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

7 56 <br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

7 sus<br />

<br />

4<br />

Dmaj<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

7 56<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

60 / ABRIL 2019 teclas & afins


arranjo comentado<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

A<br />

7 sus<br />

4 C<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

7<br />

61<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Rosana Giosa<br />

Pianista de formação popular e erudita, vive uma intensa relação com a música dividindo seu trabalho entre<br />

apresentações, composições, aulas e publicações para piano popular. Pela sua Editora Som&Arte lançou três<br />

segmentos de livros: Iniciação para piano 1, 2 e 3; Método de Arranjo para Piano Popular 1, 2 e 3; e Repertório<br />

para Piano Popular 1, 2 e 3. Com seu TriOficial e outros músicos convidados lançou o CD Casa Amarela, com<br />

composições autorais. É professora de piano há vários anos e desse trabalho resultou a gravação de nove CDs<br />

com seus alunos: quatro CDs coletivos com a participação de músicos profissionais e seis CDs-solo.<br />

Contato: rosana@editorasomearte.com.br<br />

ARRANJOS PARA PIANO<br />

ROSANA GIOSA<br />

CD com partituras para imprimir<br />

e arquivos de áudio e vídeo<br />

• O melhor da música nacional e internacional<br />

• Diversos gêneros e estilos<br />

• Diferentes níveis de dificuldade<br />

Clique aqui e receba em sua casa<br />

teclas & afins<br />

ABRIL 2019 / 61


mundo gospel<br />

POR andersen medeiros<br />

O acorde alterado<br />

Com sonoridade de alto nível e, ao mesmo tempo, complexo<br />

para aplicação e compreensão harmônica, o acorde alterado<br />

se destaca por ser difícil e perfeito ao mesmo tempo<br />

Há algumas edições, falamos do acorde<br />

dominante com sétima e nona bemol<br />

(X7b9), um acorde com característica<br />

melancólica. Nesta, vamos falar do acorde<br />

dominante alterado, um acorde com<br />

característica jazzística. Ao contrário do<br />

outro, este tem uma sonoridade carregada<br />

pela quantidade de tensões consonantes<br />

e dissonantes. É possível afirmar que sua<br />

sonoridade é um pouco congestionada,<br />

porém, de alto nível e, ao mesmo tempo,<br />

complexo para aplicação e compreensão<br />

harmônica.<br />

O acorde alterado se destaca por ser<br />

difícil e perfeito ao mesmo tempo. Sua<br />

visualização no instrumento é diferente de<br />

qualquer outro tipo de acorde existente,<br />

© Jordan Whitfield @ unsplash.com<br />

isso em qualquer tonalidade e em qualquer<br />

instrumento. A sonoridade é típica do estilo<br />

popular por suas dissonâncias e, por esse<br />

motivo, há a dificuldade de aplicação, pois<br />

não se deve aplicar o acorde alterado em<br />

uma harmonia simples apenas com tríades<br />

(seria como falar em idiomas diferentes). E,<br />

digo mais, talvez nem com tétrades: o ideal<br />

seria uma aplicação com pentacordes.<br />

Em minha jornada musical, passei muitos<br />

anos para entender sua aplicação por não<br />

conseguir imaginar onde um acorde tão<br />

dissonante poderia se encaixar em uma<br />

música. Na igreja, era ainda mais difícil,<br />

principalmente na época em que as músicas<br />

seguiam uma linha mais conservadora e de<br />

harmonia previsível.<br />

Como citei no início, não combina tocar<br />

o acorde alterado com acordes simples,<br />

pois fica realmente estranho. É como<br />

se ele pedisse outros acordes cheios de<br />

tensões do nível dele. Verdadeiramente,<br />

um acorde com cara de jazz. Para que você<br />

possa entender melhor isso, recomendo<br />

que experimente testar o acorde alterado<br />

em progressões com acordes simples<br />

como tríades, usando as progressões e<br />

aplicações em músicas apresentadas aqui<br />

nesta matéria.<br />

Formação<br />

De forma teórica, o acorde alterado se trata<br />

de um acorde dominante originado de sua<br />

própria escala, a escala alterada, podendo<br />

62 / ABRIL 2019 teclas & afins


mundo gospel<br />

ser aplicado tanto no modo maior quanto<br />

menor. A capacidade de encadeamento<br />

também está relacionada a acordes com<br />

muitas tensões consonantes e dissonantes.<br />

Pela dissonância do acorde alterado, tornase<br />

mais difícil harmonizar qualquer música.<br />

Pela incompatibilidade com as notas da<br />

escala da tonalidade, a probabilidade de<br />

conflito com a melodia é muito alta, ou<br />

seja, para o acorde realmente “encaixar”,<br />

a melodia não pode repousar perto das<br />

notas dissonantes do acorde alterado. É<br />

possível perceber isso rapidamente, pois<br />

com o acorde alterado não tem meio termo:<br />

“encaixa” ou não. Em alguns casos em que<br />

possa haver conflito com a melodia, se<br />

atrasa o acorde para funcionar como um<br />

acorde de passagem e suavizar o resultado.<br />

Como todo acorde dominante tem,<br />

naturalmente, a sétima menor, o acorde<br />

alterado não será diferente, mas além<br />

disso, encontramos nele mais duas<br />

tensões dissonantes, a nona e a quinta<br />

aumentadas, alteradas meio tom acima.<br />

O conflito que mais chama a atenção<br />

está entre a nona aumentada e a terça do<br />

acorde, algo como tocar um acorde maior<br />

e menor ao mesmo tempo. Foi por esse<br />

motivo que afirmei sobre a complexidade<br />

de compreensão harmônica.<br />

A escrita da cifra pode ser de duas formas:<br />

G7#9#5 ou Galt<br />

Para acordes sem baixo - como nas<br />

performances jazzísticas de piano solo ou<br />

numa performance em grupo em que o<br />

baixo é executado por um baixista - esse<br />

acorde deve ser sempre executado na<br />

região central do piano, onde o som não<br />

fique tão grave, mais precisamente numa<br />

região médio-grave.<br />

Progressões<br />

O segredo da aplicação de um acorde<br />

dissonante não está na aplicação do acorde<br />

em si, mas nos eventos que antecedem e<br />

sucedem o acorde, ou seja, preparação e<br />

resolução. Por este motivo, como falamos<br />

anteriormente, um acorde alterado não<br />

combina em uma harmonia com tríades<br />

simples. Confira no exemplo algumas<br />

progressões:<br />

• Tonalidade de Dó maior:<br />

IIm9 Valt I7+ 9 => Dm9 Galt C7+ 9<br />

• Tonalidade de Dó menor:<br />

IIm7b9 Valt Im9 => Dm7b9 Galt Cm9<br />

• Tonalidade de Dó menor:<br />

VI7+9 Valt Im 9 => Ab7+9 Galt Cm9<br />

Aplicação em músicas<br />

Seguem quatro músicas muito cantadas<br />

em todas as igrejas cristãs em todo Brasil<br />

em tonalidades maiores e menores, com<br />

acordes de passagens e também de repouso.<br />

teclas & afins<br />

ABRIL 2019 / 63


mundo gospel<br />

Exemplo 1 - Vamos aplicar o acorde<br />

dominante alterado em três situações<br />

no refrão da música “Grandioso És Tu”, na<br />

tonalidade de Dó maior. A aplicação do<br />

acorde alterado aparece duas vezes no<br />

modo menor e uma vez no modo maior.<br />

No primeiro caso, temos o acorde de<br />

Si alterado como acorde de passagem,<br />

preparando para o Mi menor como parte<br />

de uma progressão II - V - I do modo menor.<br />

Em seguida, o sexto grau da tonalidade, o<br />

acorde de Lá, aparece alterado como um<br />

acorde de repouso preparando para o<br />

segundo menor. E, por último, o quinto grau<br />

da tonalidade também é alterado como um<br />

acorde de repouso para conclusão.<br />

Exemplo 3 - Vamos aplicar o acorde<br />

dominante alterado no refrão da música<br />

“Vem com Josué” na tonalidade de Dó menor.<br />

Observe que será feita uma harmonização<br />

simplificada aplicando a progressão II –<br />

V - I da própria tonalidade várias vezes e<br />

todos os acordes como acordes de repouso,<br />

inclusive o dominante alterado.<br />

“Vem com Josué”<br />

“Grandioso És Tu”<br />

Exemplo 2 - Vamos aplicar o acorde<br />

dominante alterado apenas na primeira<br />

frase da música “Ao único”, na tonalidade<br />

de Mi bemol maior. Observe que, apesar<br />

da tonalidade ser no modo maior, vamos<br />

incluir uma progressão no modo menor<br />

de Dó com o objetivo de aplicar o acorde<br />

alterado como acorde de passagem,<br />

preparando para o sexto grau da tonalidade<br />

que é Dó menor.<br />

“Ao único”<br />

Exemplo 4 - Vamos aplicar agora o acorde<br />

dominante alterado na primeira parte<br />

da música “Jeová é o teu cavaleiro” na<br />

tonalidade de Dó menor. Vamos aplicar a<br />

progressão VI – V - I da própria tonalidade<br />

três vezes e, ao final, o II – V – I também<br />

da própria tonalidade e todos os acordes<br />

como acordes de repouso.<br />

“Jeová é o teu cavaleiro”<br />

Conclusão<br />

Certa vez ouvi alguém dizer que acordes<br />

dissonantes podem ser um problema<br />

64 / ABRIL 2019 teclas & afins


mundo gospel<br />

quando aplicados sem um aviso prévio,<br />

causando desconforto ao ouvinte. Em<br />

outras palavras, o aviso prévio seria um<br />

outro acorde com a função de preparar<br />

e suavizar o acorde dissonante que está<br />

chegando. Além da preparação, o acorde<br />

dissonante precisa de uma resolução<br />

depois dele, um acorde que traga conforto.<br />

Com as explicações e aplicações práticas<br />

que acabamos de apresentar em músicas,<br />

podemos entender que o acorde alterado<br />

precisa ser aplicado dentro de um estilo<br />

próprio de harmonização com muitas<br />

tensões e com acordes próximos a ele que<br />

suavizem sua sonoridade tensa que lhe<br />

é própria. Nesse caso, o acorde alterado,<br />

por ser um acorde dominante, precisa de<br />

um antecessor e - principalmente - um<br />

sucessor, como no caso da progressão II – V<br />

– I (ele está sempre no meio com a função de<br />

quinto grau). Recomendo que cada exemplo<br />

das progressões e músicas seja praticado<br />

em todos os tons para uma completa<br />

compreensão do assunto estudado.<br />

Andersen Medeiros<br />

Pianista, arranjador e compositor, iniciou seus estudos de piano clássico no curso de extensão da UFAL – Universidade<br />

Federal de Alagoas, em seguida migrou para o estudo do piano moderno, em 2010 e 2013 foi palestrante do Congresso de<br />

louvor e adoração – LOUVAÇÃO para músicos em igrejas do Estado de Alagoas. Em 2014, em viagem missionária à Cuba teve<br />

participação na orquestra norte americana “Celebration” conduzida pelo maestro Camp Kirkland. Hoje, atua como professor<br />

do site PianoFlix, uma plataforma de ensino para piano solo e acompanhamento por ouvido. Ensina piano online por skype à<br />

alunos no Brasil e no exterior, pianista e líder de músicos na Igreja Batista Koinonia em Maceió, e pianista da banda TLB – The<br />

Last Band, um projeto embrionário de jazz moderno.<br />

www.pianoflix.com.br<br />

teclas & afins<br />

ABRIL 2019 / 65


toques pesados<br />

mateus schanoski<br />

Roteiro de estudos<br />

Um plano de estudo diário para tocar rock, com o básico<br />

e usando o menor tempo possível<br />

Muitos alunos e tecladistas me perguntam<br />

como, quanto e o que devem estudar<br />

diariamente para que mantenham e<br />

evoluam sua musicalidade e técnica. Então,<br />

nesta minha coluna de estreia, fiz um plano<br />

de estudo diário com o básico e usando<br />

seu menor tempo possível (20 minutos<br />

ou menos diários são necessários). Vale<br />

ressaltar que este plano de estudo deve ser<br />

feito sempre com metrônomo e evoluindo<br />

a cada dia.<br />

Aquecimentos básicos, alongamentos<br />

e atividade física são muito bons, mas<br />

falaremos sobre isso em uma próxima aula.<br />

1 - Escalas – aqui há uma sequência<br />

de escalas básicas que todo tecladista,<br />

principalmente de rock, deve estudar e<br />

ter nas pontas dos dedos. Todas estão em<br />

C (Dó). Não que precisemos estudar todos<br />

os tons, mas fazendo todas essas, já ajuda<br />

bastante e faz que decoremos os intervalos.<br />

Aprenda e faça bem tudo em C (Dó).<br />

Tenho preferência em começar estudando<br />

as menores, porque são as mais usadas<br />

no rock e mais fáceis de tocar e aplicar.<br />

Comece estudando toda a sequência<br />

somente em uma oitava e uma escala<br />

seguida da outra, até decorar. Depois, a<br />

cada dia, você aumenta uma oitava. Estude<br />

usando também teclas pesadas com sons<br />

de pianos, teclas leves com sons de Lead<br />

Synths, e se possuir um, também com<br />

teclas de Órgão Waterfall. Isso depois de<br />

estudar e se acostumar com todas elas<br />

nas teclas pesadas. É importante mudar<br />

o timbre e perceber que você tem que<br />

mudar sua técnica a cada timbre, mesmo<br />

estudando técnica. Perceba que você deve<br />

articular mais os dedos nas teclas pesadas,<br />

e articular menos, gastar menos energia<br />

e tocar mais leve com teclas leves. Estude<br />

também usando grupos rítmicos diferentes<br />

na seguinte ordem: colcheias, tercinas,<br />

semicolcheias, colcheias com “swing”. Esses<br />

são os grupos básicos de ritmos. Veja os<br />

exemplos nos vídeos.<br />

66 / ABRIL 2019 teclas & afins


1 - Escalas Maiores<br />

Escalas Maiores<br />

toques pesados<br />

Mateus Schanoski<br />

Maior Diatônica<br />

<br />

<br />

<br />

1<br />

2<br />

3<br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

5<br />

Modo Lídio<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

Modo Mixo Lídio<br />

<br />

<br />

<br />

1<br />

2<br />

3<br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

5<br />

Be Bop Dominante<br />

<br />

<br />

<br />

1 2 3 4 1 2 3 4 5<br />

Tons Inteiros<br />

<br />

<br />

<br />

1<br />

2 1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

5<br />

Pentatônica Maior<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

1 2<br />

Penta Blues Maior<br />

1<br />

2<br />

<br />

<br />

<br />

1<br />

Penta Blues Be Bop<br />

2<br />

3<br />

1<br />

<br />

<br />

<br />

1 2 3 1 2 3 4 1 2<br />

3<br />

2<br />

5<br />

3<br />

5<br />

teclas & afins<br />

ABRIL 2019 / 67


toques pesados<br />

2 Escalas Menores<br />

Menor Melódica<br />

<br />

<br />

<br />

1<br />

2<br />

3<br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

5<br />

Menor Harmônica<br />

Escalas Menores<br />

Mateus Schanoski<br />

<br />

<br />

<br />

Menor Diatônica ou Menor Antiga<br />

<br />

<br />

<br />

Menor Diatônica com IXm<br />

<br />

<br />

<br />

Modo Dórico<br />

<br />

<br />

<br />

Pentatônica Menor<br />

<br />

<br />

<br />

1<br />

2<br />

3<br />

1<br />

2<br />

3<br />

Penta Blues Menor<br />

<br />

<br />

<br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

1<br />

2<br />

3<br />

Penta Blues Menor BeBop<br />

<br />

<br />

<br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

68 / ABRIL 2019 teclas & afins


Outras Escalas<br />

Mateus Schanoski<br />

toques pesados<br />

Tons Inteiros<br />

Outras escalas<br />

<br />

Tons Inteiros <br />

<br />

2<br />

3<br />

1<br />

<br />

2<br />

3<br />

1<br />

2<br />

<br />

2<br />

3<br />

1<br />

2<br />

3<br />

1<br />

2<br />

Cromática<br />

<br />

Cromática <br />

<br />

2 1 2 1 2 3<br />

<br />

1<br />

2<br />

1<br />

2<br />

1<br />

2<br />

3<br />

<br />

2 1 2 1 2 3 1 2 1 2 1 2 3<br />

Na próxima edição falaremos de acordes, arpejos e cadências.<br />

Mateus Schanoski<br />

Mateus Schanoski<br />

Tecladista, organista, pianista, arranjador e produtor musical. Graduado em Piano Erudito pelo Conservatório<br />

Bandeirantes, em Piano Popular pelo CLAM e pela ULM, e em Teclado e Tecnologia pelo IT&T, o músico ainda fez cursos<br />

paralelos com: Fábio Ribeiro, Nelson Aires, Marcelo Guelfi, Toninho Ferraguti, Arrigo Barnabé, Maurício Pedrosa,<br />

Fernando Cardoso, Edu Elou, Ari Borger e Lis de Carvalho. É professor de Música há mais de 20 anos, ministrando aulas<br />

no Conservatório Souza Lima – SL ROCK e na School Of Rock. Foi considerado um dos Melhores Tecladistas do Brasil pela<br />

Revista Roadie Crew em 2013, 2015 e 2018.<br />

teclas & afins<br />

ABRIL 2019 / 69


vida de musico<br />

por WAGNER CAPPIA<br />

Virar a chave<br />

Ter a música em sua vida 24 horas ao dia, dando aulas,<br />

estudando, planejando, criando produtos, negociando e<br />

tudo mais.<br />

Depois de uma breve pausa, estou de<br />

volta. Nunca pensei que fosse tão difícil o<br />

processo de lançamento de um álbum, mais<br />

precisamente, e por enquanto, um single.<br />

Depois da música pronta há uma lista<br />

interminável de tarefas a serem cumpridas:<br />

assessoria de imprensa, design artístico,<br />

sessão de fotos, Booking, merchandising,<br />

controle financeiro e por aí vai, além é claro<br />

de ensaios, preparação dos shows etc.<br />

Além da longa lista de tarefas, você sofre<br />

uma pressão absurda de uma cadeia de<br />

pessoas envolvidas direta e indiretamente<br />

ao processo, além do balanceamento<br />

natural e quase insano com a sua vida<br />

pessoal. Em outras palavras, realizar o<br />

sonho de ter o seu trabalho executado<br />

com qualidade internacional não é para<br />

qualquer um. Nesse processo, pessoas<br />

que afirmam querer ser músico e diz ter<br />

isso como sonho e meta principal, quando<br />

as partes “divertidas” terminam e vem o<br />

© John-Hult @unsplash.com<br />

70 / ABRIL 2019 teclas & afins


vida de musico<br />

trabalho duro que exige o máximo foco e<br />

disciplina, simplesmente não aguentam e<br />

abandonam o projeto. O problema é que<br />

você, como líder de um projeto, conta com<br />

as pessoas para enfrentar todos os desafios<br />

e, de repente, tem um novo problema:<br />

encontrar novamente um sonhador que<br />

quer ser músico profissional.<br />

Certa vez, em uma rede social qualquer,<br />

assisti a uma entrevista de um atleta que<br />

estava fazendo muito sucesso pela sua<br />

performance e a pergunta era algo como<br />

ele se sentia sendo reconhecido, da noite<br />

para o dia, e estar em todos os canais<br />

especializados instantaneamente, sua<br />

resposta foi: “eu demorei e lutei 15 anos<br />

para ser reconhecido, da noite para o dia”.<br />

Na música não é diferente, não há mágica,<br />

não há como mentir: ou você sabe e está<br />

completamente envolvido com o processo<br />

e objetivos, se organiza, se profissionaliza e<br />

conduz o trabalho de forma extremamente<br />

séria ou você está fora. E isso leva tempo,<br />

estudo e dedicação.<br />

No Brasil, infelizmente, a cultura social não<br />

entende a música como um caminho seguro.<br />

Educadores, pais, escolas, sociedade etc.<br />

contam que precisamos de uma profissão<br />

e, se der, ter a música como, no máximo,<br />

um hobby. O que a sociedade não entende<br />

é que música é uma profissão que pode<br />

ser segura e que é movida por paixão. Uma<br />

hora ou outra, vamos querer “virar a chave”.<br />

Mas, para isso, temos que estar prontos<br />

para desapegar, quase que por completo,<br />

universo progressivo<br />

da vida como ela é até aquele momento.<br />

E isso é difícil. É um processo que nem<br />

todos têm coragem suficiente pra fazer.<br />

“Virar a chave” não significa montar uma<br />

banda cover, ensaiar 2 horas por semana,<br />

tocar no barzinho no fim de semana, e, na<br />

segunda-feira, voltar ao trabalho formal.<br />

“Virar a chave” é ter a música na sua vida 24<br />

horas ao dia, seja dando aulas, estudando,<br />

planejando, criando produtos, negociando<br />

e tudo mais. Na música, você não terá seu<br />

salário na conta no fim do mês, mas fará sua<br />

receita durante o mês. E uma coisa posso<br />

garantir: não vai ser nada fácil.<br />

Passei por esse processo, trabalhei<br />

anos em tecnologia, ganhava meus R$<br />

15.000,00 mensais e abandonei tudo pela<br />

música, tudo mesmo, pela minha vida. E,<br />

em uma segunda-feira qualquer, me tornei<br />

dono de um conservatório, um estúdio,<br />

uma banda autoral e me vejo escrevendo<br />

minhas experiências técnicas e pessoais<br />

para uma publicação de altíssimo nível<br />

como é a Teclas & Afins. Foi e está sendo<br />

duro, muito duro, mas não troco nenhuma<br />

das infindáveis crises financeiras que<br />

passei pela estabilidade que havia no<br />

passado. E a única razão para isso é que<br />

sou feliz. E só a música pode me dar isso.<br />

Isso faz 10 anos, e estou, todos os dias,<br />

me preparando de alguma forma para ser<br />

plenamente reconhecido pelo público, da<br />

noite para o dia.<br />

Wagner Cappia<br />

Iniciou seus estudos em piano clássico em 1982, com formação pelo Conservatório Dramático Musical<br />

de São Paulo. É sócio-diretor do Conservatório Ever Dream (Instituto Musical Ever Dream), tecladista,<br />

compositor e arranjador da banda Eve Desire e sócio-proprietário e responsável técnico do estúdio<br />

YourTrack. Músico envolvido na cena metal, procura misturas de estilos que vão desde sua origem natural<br />

na música erudita até a música contemporânea, mesclando elementos clássicos e de ambiente em suas<br />

composições. Especialista em tecnologia musical, performance ao vivo para tecladistas, coaching para<br />

bandas, professor de piano, teclado e áudio.<br />

www.cappia.com.br - www.evedesire.com - www.institutomusicaleverdream.com<br />

teclas & afins<br />

ABRIL 2019 / 71

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!