TECLASEAFINS60
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LEANDRO CABRAL O jazz brasileiro de claves e pausas<br />
UNO SYNTH O sintetizador analógico da IK Multimedia<br />
Ano 6 - Número 60 - Abril 2019<br />
www.teclaseafins.com.br<br />
& AFINS<br />
Amilton<br />
Godoy<br />
Um novo trio em<br />
homenagem ao Zimbo<br />
E mais<br />
Gabriel Nóbrega e o novo álbum do Silibrina<br />
Fundamentos da síntese sonora subtrativa<br />
Os acordes alterados na música gospel<br />
Roteiro de estudos para rock<br />
O ponto certo da mixagem<br />
“Lugar Comum” para você tocar
Ano 6 - N° 60 - Abril 2019<br />
Publisher<br />
Nilton Corazza<br />
publisher@teclaseafins.com.br<br />
Gerente Financeiro<br />
Regina Sobral<br />
financeiro@teclaseafins.com.br<br />
Editor e jornalista responsável<br />
Nilton Corazza (MTb 43.958)<br />
Colaboraram nesta edição:<br />
Andersen Ribeiro, Cristiano Ribeiro,<br />
Eneias Bittencourt, Mateus Schanoski,<br />
Miguel Ratton, Rosana Giosa e Wagner Cappia<br />
Diagramação<br />
Sergio Coletti<br />
arte@teclaseafins.com.br<br />
Foto da capa<br />
Divulgação<br />
Publicidade/anúncios<br />
comercial@teclaseafins.com.br<br />
Contato<br />
contato@teclaseafins.com.br<br />
Sugestões de pauta<br />
redacao@teclaseafins.com.br<br />
Os artigos e materiais assinados são de responsabilidade<br />
de seus autores. É permitida a reprodução dos conteúdos<br />
publicados aqui desde que fonte e autores sejam citados e o<br />
material seja enviado para nossos arquivos. A revista não se<br />
responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios publicados.<br />
Desenvolvido por<br />
& AFINS<br />
EDITORIAL<br />
Esta edição comemora<br />
cinco anos ininterruptos<br />
de publicação de nossa<br />
revista digital gratuita. Se<br />
houve dificuldades? Muitas!<br />
Mas o ideal de levar todo<br />
mês até você uma leitura<br />
agradável e ao mesmo<br />
tempo instrutiva nos faz<br />
seguir adiante. Entre tantos<br />
artistas importantes das<br />
teclas em nosso País e no mundo, entrevistamos alguns - na<br />
verdade, mais de duzentos - para que sirvam de referência<br />
a todos aqueles que se dedicam aos teclados, seja tocando<br />
ou apenas apreciando. Durante todo esse tempo, também<br />
falamos de diversos equipamentos, destrinchamos técnicas<br />
e teorias, e apresentamos novidades, sempre com o olhar<br />
de nosso leitor, que pode usufruir de toda essa informação<br />
gratuitamente, bastando acessar o site. Nesses cinco anos,<br />
muitos foram os nomes que passaram por aqui como<br />
colaboradores. Alguns estão conosco desde a primeira<br />
edição, ao passo que outros foram sendo agregados à equipe<br />
durante esses 60 meses - é o caso de Mateus Schanoski,<br />
que se junta à Rosana Giosa, Andersen Medeiros, Eneias<br />
Bittencourt, Miguel Ratton, Alex Saba, Cristiano RIbeiro<br />
e Wagner Cappia nesta edição e nas futuras. Outros, se<br />
afastaram da tarefa de escrever, mas, continuam nos dando<br />
o apoio necessário sempre que preciso, para que possamos<br />
levar a você informação de qualidade. Agradecemos<br />
profundamente a todos, que são os grandes responsáveis<br />
pelo sucesso de nossa publicação. E ficamos torcendo para<br />
que muitos outros se juntem à equipe, para que cada vez<br />
mais informação esteja disponível. Esperamos que nos<br />
acompanhe pelos próximos cinco anos! Boa leitura!<br />
Rua Nossa Senhora da Saúde, 287/34<br />
Jardim Previdência - São Paulo - SP<br />
CEP 04159-000<br />
Telefone: +55 (11) 961.804.505<br />
Nilton Corazza<br />
Publisher<br />
2 / marco 2019 teclas & afins
2<br />
NESTA EDICAO<br />
VOCE EM TECLAS E AFINS 4<br />
O espaço exclusivo dos leitores<br />
INTERFACE 6<br />
As notícias mais quentes do<br />
universo das teclas<br />
retrato 14<br />
Leandro Cabral<br />
Por Nilton Corazza<br />
vitrine 22<br />
Novidades do mercado<br />
review 24<br />
UNOSYNTH da IK Multimedia<br />
Por Cristiano Ribeiro<br />
materia de capa 30<br />
Amilton Godoy<br />
O Fino de Todas as Bossas<br />
Por Nilton Corazza<br />
42 sintese sonora<br />
Introdução à síntese subtrativa<br />
Por Miguel Ratton<br />
50 estudio<br />
O ponto certo da mixagem<br />
Por Nilton Corazza<br />
53 acordeon sem limites<br />
O exercício da múltipla escolha<br />
Por Eneias Bittencourt<br />
56 arranjo comentado<br />
“Lugar Comum”, de João Donato<br />
Por Rosana Giosa<br />
62 mundo gospel<br />
O acorde alterado<br />
Por Andersen Medeiros<br />
66 toques pesados<br />
Roteiro de estudos<br />
Por Mateus Schanoski<br />
70 vida de musico<br />
Virar a chave<br />
Por Wagner Cappia<br />
teclas & afins<br />
marco 2019 / 3
vOCE em teclas & afins<br />
Quer aprender a<br />
Vamos nos conectar?<br />
Edição 59<br />
tocar blues?<br />
Assisti ao show do Azymuth no Blue Note em São Paulo,<br />
e teve uma “canja” do Stanley Jordan. Agora posso<br />
dizer: Kiko Continentino é o cara! (Samuel Santos, em<br />
nossa página no Facebook).<br />
CD com método digital + 61 pistas de áudio<br />
(solos/Play Along)<br />
Amei a entrevista, mas tenho uma dúvida: como o<br />
juizado de menores deixava ele trabalhar? (Geisa<br />
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Mais de 20 anos com Milton Nascimento? Às vezes, a<br />
gente não sabe quem faz aquele som maravilhoso.<br />
em até<br />
De<br />
12 x no cartão<br />
repente, a gente descobre, graças à Teclas & Afins. Parabéns!<br />
(Maria do Rosário Seles, em nossa página no Facebook).<br />
Curti demais a matéria sobre o disco do Fabio Ribeiro. É bom saber o que os músicos<br />
profissionais usam! (Carlos Iahn Domingues, em comentário no nosso blog)<br />
Mauricio Pedrosa<br />
www.teclaseafins.com.br<br />
Ouvi e gostei muito do disco do Remove Silence. Saber, do próprio músico, o que ele<br />
usou é maravilhoso! (Manoel SIlveira, em comentário no nosso blog)<br />
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Teclas & Afins ficou ainda melhor!<br />
Além de levar até você a mais<br />
completa informação sobre músicos<br />
e instrumentos, a revista pode ser<br />
baixada e impressa para você ler<br />
quando quiser!<br />
www.teclaseafins.com.br<br />
A REVISTA DIGITAL DE TODOS OS INSTRUMENTOS DE TECLAS<br />
4 / abril 2019<br />
AUDIO - PERIFERICOS - PRODUCAO - COMPOSICAO - ARRANJO E MAIS<br />
teclas & afins<br />
& AFINS
Andersen Medeiros<br />
vOCE em teclas & afins<br />
O cara acertou na veia isso é que é saber ensinar, nunca achei vídeos tão bons<br />
(Orivaldo Antonio Rossi, no vídeo “Como tocar de ouvido - Quão Grande És Tu”, em nosso<br />
canal no YouTube)<br />
Amei! (Carmem Pereira, no vídeo “Como tocar de ouvido - Quão Grande És Tu”, em nosso<br />
canal no YouTube)<br />
Muito bom! Esclarecedor! Parabéns! Deus o abençoe! (Jordane Machado, no vídeo “Jazz<br />
na Igreja”, em nosso canal no YouTube)<br />
Sabia que esses hinos têm influência de blues... (Davi Victor, no vídeo “Acordes diminutos”,<br />
em nosso canal no YouTube)<br />
Muito legais suas aulas. Eu já toco um pouquinho, mas sei que vou enriquecer<br />
bastante com seus vídeos! Paz! (Eduardo Guimarães Nogueira, no vídeo “Progressões<br />
ascendentes e descendentes”, em nosso canal no YouTube)<br />
R.: Em todas as edições, postamos neste espaço algumas das manifestações de admiração<br />
e apreço de nossos leitores por entrevistas, matérias, colunas, aulas, arranjos e vídeos que<br />
publicamos, como reconhecimento a nossos colaboradores e agradecimento para todos<br />
aqueles que leem Teclas & Afins! Obrigado!<br />
Mostre todo seu talento!<br />
Não importa o instrumento: piano, órgão, teclado, sintetizadores, acordeon, cravo e<br />
todos os outros têm espaço garantido em nossa revista. Mas tem que ser de teclas!<br />
Como participar:<br />
1. Grave um vídeo de sua performance.<br />
2. Faça o upload desse vídeo para um canal no Youtube ou para um servidor de<br />
transferência de arquivos como Sendspace.com, WeTransfer.com ou WeSend.pt.<br />
3. Envie o link, acompanhado de release e foto para o endereço contato@teclaseafins.com.br<br />
4. A cada edição, escolheremos um artista para figurar nas páginas de Teclas & Afins, com<br />
direito a entrevista e publicação de release e contato.<br />
Teclas & Afins quer conhecer melhor você, saber sua<br />
opinião e manter comunicação constante, trocando<br />
experiências e informações. E suas mensagens podem<br />
ser publicadas aqui! Para isso, acesse, curta, compartilhe<br />
e siga nossas páginas nas redes sociais clicando nos ícones acima. Se preferir, envie críticas, comentários<br />
e sugestões para o e-mail contato@teclaseafins.com.br<br />
teclas & afins<br />
abril 2019 / 5
interface<br />
DESVELANDO MARES<br />
Com sobrenome de responsabilidade, Bianca Gismonti herdou a<br />
musicalidade do pai – o pianista, violonista e compositor Egberto<br />
Gismonti – e a teatralidade da mãe - a atriz Rejane Medeiros. Em<br />
Desvelando Mares, seu mais novo álbum - lançado com o trio<br />
formado com o baixista Antonio Porto, o baterista Julio Falavigna e<br />
convidados -, a pianista e compositora incorpora influências musicais<br />
de diversas regiões do planeta e navega por ritmos de muitas partes<br />
do globo. O trabalho foi produzido e gravado em Budapeste, na Hungria, entre 2016 e<br />
2018. Nas nove faixas, quase todas instrumentais e algumas com mais de oito minutos<br />
de duração, a viagem musical é feita com o auxílio de instrumentos típicos e uma<br />
mistura de sonoridades regionais, orientada pela ideia das navegações. Ainda que vá<br />
iniciar em breve uma sequência de shows pelo Brasil, a inquietante veia musical da<br />
artista já pulsa por mais novidades: o próximo álbum já está pronto, embora ainda sem<br />
data de lançamento. Gismonti 70 reunirá o repertório do pai, Egberto, em homenagem<br />
aos seus 70 anos, completados em 2017.<br />
6 / abril 2019 teclas & afins
interface<br />
ESCRAVOS DA ESTRADA<br />
Luiz Schiavon retomou os trabalhos<br />
com o RPM, banda de maior sucesso no<br />
rock nacional na década de 1980. Com<br />
integrante estreante – o baixista e vocalista<br />
Dioy Pallone - e outras novidades, o grupo<br />
acaba de lançar duas músicas: “Ah! Onde<br />
Está Você” e “Escravo da Estrada”. A banda<br />
teve diversas rupturas e recomeços, mas<br />
o tecladista afirma que esses problemas<br />
estão resolvidos e que o RPM volta mais<br />
consciente e maduro:“É mais difícil<br />
cometer erros de julgamento”. Segundo o<br />
músico, não faltam no show clássicos do<br />
RPM, como “Rádio Pirata”, “Loiras Geladas”<br />
e “Olhar 43”, além das músicas novas. A<br />
banda também está construindo uma<br />
apresentação intimista, acústica, só com<br />
piano, órgão, percussão e cordas.<br />
LEILÃO<br />
teclas & afins<br />
O icônico piano de John Lennon, que fez<br />
parte da criação do álbum Sgt. Pepper Lonely<br />
Hearts Club, dos Beatles (1967), está sendo<br />
leiloado. O instrumento permaneceu na<br />
famosa casa do compositor em Kenwood,<br />
na Inglaterra, e tem uma placa com a<br />
inscrição “Neste piano foram escritas ‘A Day<br />
in the Life’, ‘Lucy in the Sky with Diamonds’,<br />
‘Good Morning, Good Morning’, ‘Being for<br />
the Benefit of Mr. Kite’ e muitas outras.<br />
John Lennon. 1971”. O piano histórico<br />
foi construído em 1872 pela prestigiosa<br />
empresa John Broadwood & Sons. Estimase<br />
que o valor da peça, oferecida pelo<br />
site de leilões online Gotta Have Rock and<br />
Roll, atinja mais de US$ 1,2 milhão. No ano<br />
2000, o piano usado por Lennon para criar<br />
“Imagine” foi arrematado por US$ 1,7 pelo<br />
falecido cantor George Michael. O leilão<br />
online estará aberto de 10 a 19 de abril e o<br />
lance mínimo é de US$ 575 mil.<br />
ABRIL 2019 / 7
Conheça as publicações da<br />
SOM & ARTE<br />
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INICIAÇÃO AO PIANO POPULAR<br />
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os 3 Métodos e os 3 Repertórios<br />
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Contato: rosana@editorasomearte.com.br<br />
MOVEMENT<br />
A tecladista Gillian Gilbert narrou suas<br />
experiências na gravação de Movement,<br />
álbum de estreia da banda New Order, no<br />
segundo episódio da série Transmissions. O<br />
documentário conta a história do primeiro<br />
disco da banda após o fim do Joy Division,<br />
em 1981. Gillian, que originalmente se<br />
juntou ao grupo para tocar guitarra,<br />
também dá alguns detalhes da gravação,<br />
especialmente a relação com o produtor<br />
Martin Hannett. O lançamento da nova<br />
edição de Movement está marcada para o<br />
dia 5 de abril, em um box que traz o álbum<br />
em LP de vinil com sua capa icônica original<br />
desenhada por Peter Saville, o álbum em<br />
CD (em réplica mini-LP com envelope) e<br />
um CD bônus de faixas inéditas. O último<br />
disco desse pacote é um DVD com shows<br />
ao vivo e aparições na TV.<br />
8 / ABRIL 2019 teclas & afins
interface<br />
LONGE DO PIANO<br />
Pela primeira vez em sua carreira, o maestro<br />
João Carlos Martins subiu aos palcos sem<br />
o piano. Após 24 cirurgias, e depois de seis<br />
mil apresentações, ele perdeu o movimento<br />
dos dedos das duas mãos e, por isso, não<br />
conseguirá mais tocar o instrumento. O<br />
concerto aconteceu no início de março no<br />
teatro do Sedes, em Taubaté, no interior do<br />
Estado de São Paulo, e o maestro se emocionou:<br />
“É a minha primeira apresentação somente<br />
como maestro, e é também a primeira vez<br />
que eu entro no palco sem ver o meu velho<br />
companheiro ao meu lado”, disse o maestro,<br />
segurando as lágrimas, ao se referir ao piano. Enquanto isso, a incrível história trágica e<br />
de superação do pianista, um dos grandes nomes da música clássica mundial, é a linha<br />
mestra do espetáculo “Concertos para João”. Nele, o autor, Sérgio Roveri, condensa a vida<br />
do maestro em poucos dias, quando ficou internado, em 2012, para o último procedimento<br />
cirúrgico. “O que mais me inspirou na hora de escrever foram os momentos em que ele<br />
se viu privado deste talento. E penso que, ao conduzir a história por este caminho, a peça<br />
deixa de falar apenas dele e passa a falar de todo grande artista que, de repente, se vê<br />
impedido de realizar sua arte”.<br />
MADEMOISELLE PARADIS<br />
A cinebiografia de Maria Theresia Paradis,<br />
pianista e compositora contemporânea<br />
de Mozart - para quem, provavelmente,<br />
ele escreveu seu “Concerto para Piano<br />
K456 em Si b Maior” - está chegando<br />
aos cinemas do Brasil. Focando no<br />
relacionamento da musicista com<br />
seu médico, o longa Mademoiselle<br />
Paradis segue a austríaca no fim de sua<br />
adolescência, quando seus pais contratam<br />
um excêntrico médico, o Dr. Franz Anton<br />
Mesmer, para tentar curar sua cegueira.<br />
Mas, pouco a pouco, ela percebe que,<br />
com a volta da sua visão, seus talentos<br />
musicais vão se perdendo. O filme tem<br />
data de estreia marcada para 2 de maio.<br />
© Vânia Laranjeira<br />
teclas & afins<br />
ABRIL 2019 / 9
interface<br />
Festival de Órgão de Tubos<br />
A USP e a Catedral Evangélica de São Paulo<br />
inauguraram, no fim de março, um novo<br />
órgão de tubos cedido pela Universidade de<br />
São Paulo e instalado na sede da instituição<br />
religiosa. O órgão, fabricado pela empresa<br />
é composto por cinco corpos, 3.400 tubos<br />
de metal e 175 tubos de madeira. Foi<br />
adquirido pela Universidade em 2013 e,<br />
inicialmente, seria instalado no Centro<br />
de Convenções, no campus de São Paulo.<br />
Entretanto, o processo de construção do<br />
Centro foi interrompido. No final de 2015,<br />
o Conselho Universitário havia aprovado<br />
a instalação do instrumento na Catedral<br />
Metropolitana de São Paulo, o que não se<br />
efetivou por questões de ordem técnica.<br />
Em julho de 2017, o Conselho aprovou a<br />
cessão à Catedral Evangélica, formalizada<br />
por meio de um convênio envolvendo as<br />
duas instituições e a Fundação Mary Harriet<br />
Speers – responsável pelo aporte financeiro<br />
do projeto. O convênio abarca montagem,<br />
instalação, utilização e manutenção do<br />
órgão. Também estabelece a elaboração e<br />
a promoção de programas de incentivo à<br />
música e de educação musical. Além disso,<br />
a parceria com a Escola de Comunicações<br />
e Artes (ECA) permitirá o desenvolvimento<br />
de atividades didático-acadêmicas com<br />
alunos e docentes do Departamento de<br />
Música da Escola e, por seu intermédio,<br />
com professores e estudantes vinculados às<br />
universidades e escolas de música do Estado<br />
de São Paulo. A inauguração foi marcada<br />
com um concerto especial, fechado para<br />
convidados, que contou com a participação<br />
da Orquestra Sinfônica da USP (Osusp) e do<br />
Coro da Orquestra Sinfônica do Estado de São<br />
Paulo (Osesp), sob a regência de Valentina<br />
Peleggi, tendo como solista o organista e<br />
professor do Departamento de Música da<br />
Escola de Comunicações e Artes (ECA) da<br />
USP, José Luís de Aquino. A apresentação<br />
deu início à série de concertos gratuitos e<br />
abertos ao público que serão realizados às<br />
sextas, sábados e domingos, entre os meses<br />
de março e junho. A programação inclui<br />
a participação de convidados especiais<br />
como Ana Carolina Sacco, Márcio Arruda,<br />
Alexandre Rachid (professor de órgão da<br />
Escola de Música da UFRJ) e Luis Caparra<br />
(professor da Universidad Nacional de las<br />
Artes, de Buenos Aires), além do próprio<br />
José Luís de Aquino.<br />
Órgão Gerhard Grenzing, recém-inaugurado na Catedral Evangélica de São Paulo<br />
10 / ABRIL 2019 teclas & afins
Linha CA<br />
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Os Pianos Digitais<br />
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por gerações.
interface<br />
OS NOVOS VOOS DO SILIBRINA<br />
Na esteira de dois anos de apresentações<br />
no Brasil, Estados Unidos e Europa, a<br />
banda de música instrumental brasileira<br />
Silibrina, liderada pelo pianista Gabriel<br />
Nóbrega, acaba de lançar seu segundo<br />
álbum, Estandarte. O processo de gravação<br />
do disco aconteceu em agosto de 2018, no<br />
Estúdio Dissenso, e preza pela qualidade do<br />
áudio. Mas também há vídeos de algumas<br />
das faixas captadas em apresentações.<br />
Desse modo, Estandarte tem, na verdade,<br />
duas versões: a “estúdio”, lançada em áudio<br />
em janeiro, e algumas faixas em versão “ao<br />
vivo”, em vídeo, que serão disponibilizadas<br />
ao longo de 2019.<br />
Gabriel Nóbrega iniciou sua carreira musical<br />
aos 11 anos de idade acompanhando seu<br />
pai, o multiartista pernambucano Antônio<br />
Nóbrega, como percussionista. Durante 13<br />
anos, fez shows por todo o Brasil e turnês<br />
ao redor do mundo. Mais tarde, apostou<br />
também na vocação para criar e dirigir<br />
filmes de animação e, em 2015, foi o diretor<br />
de publicidade mais premiado do Brasil e<br />
um dos mais premiados do mundo.<br />
Além de tocar piano, Gabriel Nóbrega<br />
assina as composições e arranjos do<br />
septeto e é acompanhado por Ricardinho<br />
Paraíso (baixo), Jabes Felipe (bateria),<br />
Matheus Prado (percussão), Wagner<br />
Barbosa (saxofone), Reynaldo Izeppi<br />
(trompete) e Gileno Foinquinos (guitarra),<br />
artistas de referências diversas, vindos de<br />
diferentes regiões do Brasil e extremamente<br />
atuantes no cenário musical em São Paulo.<br />
Conversamos com Gabriel Nóbrega para<br />
saber mais sobre o novo album e os projetos<br />
para a banda.<br />
12 / abril 2019 teclas & afins
interface<br />
Quais as diferenças entre a produção do<br />
Raio e do Estandarte?<br />
O Raio foi um disco feito sem a banda<br />
existir. Eu não conhecia os músicos, então,<br />
as seções de improviso eram todas feitas<br />
para músicos genéricos. No Estandarte,<br />
a banda já estava sólida, com a formação<br />
atual trabalhando junto pelo menos há<br />
um ano e meio, e eu já conhecia os caras.<br />
Então, toda seção de improviso era meio<br />
pensada para aquele músico. A própria<br />
sonoridade da banda amadureceu. O Raio<br />
foi um disco composto em alguns anos e<br />
começou nem tendo ao certo qual era a<br />
formação da banda. Eu tive que, depois,<br />
rearranjar muitas das músicas do Raio para<br />
a formação que estabeleci no fim. Começou<br />
como trio, passou para quarteto e depois<br />
virou um septeto, então, rearranjei muitas<br />
das músicas. O Estandarte já foi composto,<br />
do ponto de partida, para a formação final.<br />
Essa é a grande diferença. Do ponto de vista<br />
conceitual, no Estandarte há uma busca mais<br />
explícita pela brasilidade nos arranjos. Há<br />
alguns ritmos mais explícitos. Por exemplo,<br />
“Frevo Maligno” é um frevo mesmo, quase<br />
que de cabo a rabo. Tem um jongo ali no<br />
meio, mas é essencialmente um frevo. Os<br />
maracatus, os xotes, são todos um pouco<br />
mais explícitos. Também há um incremento<br />
maior da percussão. Ela está mais presente<br />
no Estandarte do que no Raio, com certeza.<br />
Em ambos os álbuns, as composições são<br />
todas suas. No Estandarte, houve mais<br />
influência dos músicos no estúdio?<br />
Eles se sentiram mais abertos para darem<br />
palpites, mas a grande contribuição pessoal<br />
foi no jeito de tocar. O arranjo é muito<br />
fechadinho, não tem muito espaço para a<br />
galera mexer no arranjo. Só que, no jeito<br />
de tocar, tem muito, no que fazer naquela<br />
função, tem bastante. Inclusive, escrevi de<br />
teclas & afins<br />
uma forma muito mais solta, também. Por<br />
exemplo, o baixo. No primeiro disco, a linha<br />
de baixo estava toda escrita, nota a nota.<br />
No segundo, já não: escrevi a melodia, a<br />
harmonia, a rítmica e o groove, então ele<br />
tem um pouco mais de liberdade. O mesmo<br />
raciocínio vale para os outros instrumentos.<br />
Você acredita que chegou no ponto ideal de<br />
formação? Nos próximos CDs, a formação<br />
vai se manter?<br />
Acredito que, como banda, chegamos na<br />
formação ideal, isso do ponto de vista dos<br />
músicos que a compõem e do ponto de<br />
vista do que é a proposta da Silibrina. No<br />
entanto, estou neste exato momento no<br />
estúdio, compondo o terceiro disco, que<br />
extrapola a formação. A ideia é fazer uma<br />
Silibrina expandida, com mais metais e mais<br />
percussão. O arranjo, muitas vezes, pede,<br />
mas a banda não tem muito espaço para<br />
variação disso, a não ser em um projeto<br />
especial, que é ideia do próximo álbum,<br />
que é fazer uma coisa especialmente<br />
expandida. A banda Silibrina continua. O<br />
núcleo dela continua sendo esse septeto.<br />
ABRIL 2019 / 13
RETRATO<br />
por nilton corazza<br />
Leandro Cabral<br />
© Divulgação<br />
14 / abril 2019 teclas & afins
leandro cabral<br />
DE CLAVES E<br />
PAUSAS<br />
Com um dos álbuns de jazz mais admirados<br />
dos últimos tempos em todo o mundo, o<br />
pianista Leandro Cabral vem conquistando<br />
espaço graças a concepções arrojadas e um<br />
pleno domínio da linguagem musical<br />
Pianista, compositor, arranjador e educador.<br />
Leandro Cabral é um jovem músico de São<br />
Paulo destaque em sua geração. Jazzista,<br />
tanto musicalmente quando culturalmente,<br />
tem em seu portfólio trabalhos que vão da<br />
recriação do álbum A Love Supreme, de<br />
John Coltrane, reinterpretando a música<br />
de McCoy Tyner, ao show dedicado à fase<br />
mais funky de Herbie Hancock.<br />
Em 2015, lançou seu primeiro álbum como<br />
líder, intitulado Sobre Tradição, com Sidiel<br />
Vieira no baixo acústico e Vitor Cabral na<br />
bateria. O registro visual deu origem à<br />
consagrada websérie do Estúdio Arsis: Arsis<br />
Piano Sessions. Em dezembro de 2016,<br />
lançou seu segundo álbum, “Alfa”, com o qual<br />
se tornou o primeiro artista de jazz no Brasil<br />
da gravadora Universal Music. Gravado ao<br />
vivo no Teatro Alfa, em São Paulo, Cabral,<br />
com seu trio, mescla a improvisação do<br />
teclas & afins<br />
jazz em composições autorais baseadas em<br />
ritmos pouco usuais, como o vassi e o ijexá,<br />
ambos oriundos do universo percussivo<br />
afro-brasileiro. O disco tem colhido grande<br />
sucesso na crítica nacional e internacional,<br />
com reviews nos Estados Unidos, Canadá,<br />
Japão, Reino Unido, Rússia, Espanha e<br />
Venezuela, entre outros. O álbum recebeu<br />
5 estrelas no consagrado site All About Jazz<br />
e foi selecionado na lista dos 10 Melhores<br />
Discos do ano de 2016 pelo crítico musical<br />
Carlos Calado, além de angariar o segundo<br />
lugar na lista Melhores Álbuns de Jaz de<br />
2016 no site italiano Argonauta Magazine.<br />
Entre shows e gravações, trabalhou com<br />
renomados vocalistas, como Ed Motta,<br />
Maria Rita, Seu Jorge, Filó Machado, Akua<br />
Naru, Honey Larochelle (Macy Gray), Zélia<br />
Duncan, Rashid, Wilson Simoninha, Paula<br />
Lima, Roberta Sá, Cynthia Utterbach, entre<br />
abril 2019 / 15
etrato<br />
© Divulgação<br />
outros, além de músicos do porte de Ed<br />
Neumeister (USA), Adonis Rose (USA),<br />
Lupa Santiago, Sérgio Galvão, Edu Ribeiro,<br />
Vincent Gardner (USA), Hector Costita (ARG),<br />
David Richards (USA), Nailor Proveta, Jessé<br />
Sadoc, Daniel D’alcântara, Casey Scheurell<br />
(USA), Cuca Teixeira, François Lima, Letieres<br />
Leite, Bocato, Vitor Alcântara, Jaques<br />
Morelenbaum, Vinícius Dorin, Walmir Gil,<br />
Paulinho Guitarra, Wilson Teixeira, Arismar<br />
do Espírito Santo, Thiago do Espírito Santo<br />
e Márcio Montarroyos.<br />
Bacharel em Piano pela Faculdade de Artes<br />
Alcântara Machado – FAAM/FMU, estudou<br />
piano, saxofone e teoria musical na<br />
Fundação das Artes de São Caetano do Sul<br />
durante sua adolescência e, hoje, leciona<br />
e ministra workshops e cursos abordando<br />
jazz, música brasileira e consciência<br />
corporal, se valendo de sua experiência em<br />
Hatha Yoga. Conversamos com Leandro<br />
Cabral, que nos contou mais sobre sua<br />
concepção musical. Confira!<br />
Como foi sua formação?<br />
Comecei com 7 anos de idade, estudando<br />
piano clássico. Fiz uns cinco anos de aula<br />
no fundo de uma igreja presbiteriana no<br />
Sacomã com uma professora superquerida,<br />
que ajudou muito a minha família. Teve<br />
épocas em que ela dava aulas de graça<br />
para mim, para o meu irmão e para<br />
16 / abril 2019 teclas & afins
leandro cabral<br />
minha mãe. Foi um anjinho que caiu do<br />
céu. Até que houve uma época em que<br />
a gente teve que parar mesmo, ela não<br />
aguentou continuar dando aulas de graça.<br />
Foi quando eu e meu irmão entramos na<br />
Fundação das Artes, porque lá era muito<br />
barato, subsidiado pelo município de São<br />
Caetano. Lá eu encontrei o jazz, comecei<br />
a estudar piano popular e percebi que era<br />
legal essa coisa de improvisar (risos), de<br />
criar seu som em tempo real - pelo menos<br />
tentar. E junto a isso, sempre tocando na<br />
igreja, protestante, evangélica, o que eu<br />
considero uma escola também, porque,<br />
querendo ou não, o músico está praticando<br />
duas, três, quatro vezes por semana.<br />
Depois que a gente entrou numa igreja<br />
maior - ela tinha um equipamento de som<br />
incrível, bem profissional mesmo, tanto<br />
em termos de teclado como de som, PA, 5<br />
mil pessoas... Então era uma experiência<br />
de palco mesmo. E músicos mais velhos<br />
superexperientes. Eu gosto sempre de<br />
lembrar do Bau e do Ted Furtado, baterista<br />
e baixista da pesada, que ensinaram muito<br />
a gente nessa época. E essa black music<br />
da igreja foi muito importante juntar com<br />
a experiência do conservatório, do jazz,<br />
e depois da faculdade - fiz bacharelado<br />
em piano, em música popular - porque o<br />
espírito do jazz está muito na igreja, está<br />
muito no negro spiritual e obviamente<br />
muito no blues. Mas o Blues está no negro<br />
spiritual, então, a black music dos 90, que<br />
é o que a gente meio que fazia na igreja no<br />
começo dos anos 2000, é completamente<br />
herança, tem ligação direta com esse negro<br />
spiritual do pré-jazz, da época do blues.<br />
Claro que com instrumentos eletrônicos,<br />
mas aquela energia, aquelas frases bluesy<br />
e aquela comoção de entregar música para<br />
um ser superior, estão lá. Musicalmente<br />
falando, foi muito interessante ter o jazz<br />
teclas & afins<br />
acadêmico e a igreja. Depois eu fui para a<br />
noite, com 17, 18 anos. Entrei na faculdade<br />
nessa época, ganhei bolsa, pois não tinha<br />
condição alguma de pagar. A noite é meio<br />
que minha terceira via de aprendizado que<br />
talvez hoje, e há muitos anos, é a principal<br />
porque é aquele lugar onde o músico tem<br />
sempre que colocar, em tempo real, música<br />
instrumental, improvisada, que dá certo<br />
ou dá errado, tocar com um cara bom - que<br />
o humilha às vezes - e tem dias em que<br />
toca com um terrivelmente ruim. Aí, ele<br />
pensa: “eu tocava melhor ontem!” (risos).<br />
Dependendo a perspectiva que você tem<br />
de banda, você se sente melhor ou pior<br />
© Divulgação<br />
abril 2019 / 17
etrato<br />
instrumentista. Então, esse movimento da<br />
noite é muito importante. E é legal que,<br />
principalmente em São Paulo, a noite está<br />
voltando nos últimos anos. Essa noite tem<br />
se recriado, então, acho que é um momento<br />
histórico para a música instrumental<br />
brasileira, muito importante. De um lado,<br />
a noite está se recriando, e de outro, temos<br />
instrumentistas de alto nível. Eu acho que<br />
é uma leva muito interessante.<br />
Além dessas experiências, que outros<br />
músicos foram importantes para consolidar<br />
sua concepção musical?<br />
Vou citar dois caras que, na música popular,<br />
considero meus professores. Um é o Ed<br />
Motta, que conheci quando eu tinha uns 22<br />
anos, quando ele me chamou para a banda<br />
dele. Tocar funk, soul sob as orientações<br />
dele foi muito interessante, porque isso<br />
é uma coisa que não se aprende em um<br />
conservatório, infelizmente. Falo isso com<br />
certo pesar. A sistematização e o ensino<br />
da música no Brasil ainda estão muito<br />
voltados para uma visão eurocentrista. Isso<br />
é algo que tenho tentado trabalhar como<br />
professor há alguns anos: como respeitar<br />
os paradigmas da música de matriz negra<br />
sem ter que toda vez passar pela Europa. É<br />
claro que é uma junção. Quando a gente fala<br />
de jazz e seus filhos, está falando de uma<br />
junção entre duas culturas. Mas, em geral, a<br />
gente sempre se apropria, principalmente<br />
no meio acadêmico, a gente abre esse<br />
mundo musical por um viés eurocentrista,<br />
para uma escrita eurocentrista, por<br />
termos eurocentristas, por uma análise<br />
eurocentrista. E obviamente, a gente faz<br />
isso porque a Europa tem um sistema<br />
muito bem consolidado, que vem há quatro<br />
séculos, pelo menos, sendo construído.<br />
Mas acho que a gente está numa fase<br />
histórica interessante em que a gente<br />
está olhando para os cem anos de jazz<br />
com uma necessidade de falar que alguns<br />
paradigmas da música clássica não fazem<br />
sentido quando a gente vai analisar o jazz.<br />
Mas, na faculdade, no conservatório, em<br />
geral, você está sempre aprendendo uma<br />
análise ou conceitos formais desse outro<br />
tipo de música, que é incrível, não tenho<br />
nada contra. Estudo música clássica até<br />
hoje! Marisa Lacorte foi minha professora<br />
de piano clássico e é minha “mãe do piano”.<br />
Ela mudou minha vida em vários aspectos.<br />
Tenho um profundo respeito pela música<br />
clássica. Mas aprendi, tenho tentado<br />
aprender, como olhar para essa música de<br />
matriz negra a partir, também, de conceitos<br />
do negro. E Ed Motta me ajudou muito nesse<br />
sentido. E outro cara que me ajudou e me<br />
ajuda muito é o Letieres Leite, lá da Orkestra<br />
Rumpilezz. Ele tem um estudo, há mais de<br />
três décadas já, muito bem organizado<br />
sobre as claves afro-brasileiras, o que veio<br />
da África, de cada região, quando toca com<br />
18 / abril 2019 teclas & afins
leandro cabral<br />
a mão ou quando toca com o aguidavi,<br />
aquelas baquetinhas... Então, esse respeito<br />
por uma cultura que vem de outro eixo,<br />
tenho percebido que ajuda na hora de<br />
tocar, de soar melhor dentro do estilo da<br />
música negra. Se você quer soar jazz, precisa<br />
respeitar alguns paradigmas que não são<br />
europeus. Obviamente, no caso do piano,<br />
que é um instrumento 100% europeu, o<br />
estandarte do tonalismo, não tem jeito.<br />
Mas você precisa operar ritmicamente no<br />
instrumento. Por exemplo, Herbie Hancock,<br />
muitas vezes, é um percussionista sobre o<br />
piano. Ele está usando voicings de Ravel,<br />
mas fazendo um batuque com a fluência<br />
e a clareza de um percussionista. É difícil<br />
você abordar isso apenas via voicing,<br />
via harmonia. É quase irresponsável. E é<br />
também irresponsável falar só de ritmo,<br />
porque conheço alguns também que vão<br />
ao extremo oposto. Se tirar a melodia,<br />
a forma, a harmonia, você não tem jazz.<br />
Juntar essas duas frentes tem sido meu<br />
grande desafio e acredito que para o resto<br />
da vida. Muito dessa visão tem a ver com<br />
Sidney Molina. Estudei, com ele, estética,<br />
história da música brasileira e apreciação<br />
musical. Me lembro de que no primeiro ano<br />
de faculdade, para ele falar de apreciação<br />
musical e audição, ele lançava mão de Bach,<br />
de Mozart, depois ouvia Miles e depois<br />
ouvia Beatles. E para cada experiência<br />
sonora de audição, ele lançava mão de<br />
paradigmas coerentes com aquele tipo de<br />
música, respeitando as particularidades<br />
de cada estilo, de cada época. Tem um<br />
pianista na noite que toca no Mancini há<br />
muitos anos, chamado Evaldo Soares. Ele<br />
é uma das minhas grandes influências do<br />
piano no ponto de vista de harmonia. Eu<br />
sempre gosto de citá-lo porque ele é um<br />
cara fenomenal, extremamente generoso,<br />
e que toca um piano... Ele tem um arsenal<br />
teclas & afins<br />
de voicings que é surreal. Se alguém puder<br />
ir ouvi-lo, vale muito a pena. Ele está vivo,<br />
tocando toda noite, como os jazzistas<br />
antigos, e isso é uma raridade.<br />
Pianistas como ele, Amilton Godoy, Cesar<br />
Camargo Mariano, Luiz Eça e tantos<br />
outros, influenciaram várias gerações<br />
de músicos. Como você vê a importância<br />
desses músicos para o desenvolvimento<br />
de uma linguagem musical pianística<br />
essencialmente brasileira?<br />
Se a gente tem essa geração que de certa<br />
forma desponta do que a gente tem tido<br />
ultimamente - tecnicamente, em termos<br />
de linguagem, virtuosismo, timbre de<br />
instrumento etc -, é claro que é uma<br />
construção histórica e que a gente deve<br />
completamente a essas gerações anteriores:<br />
Luiz Eça, Cesar, Hermeto, Egberto apesar<br />
de não serem tão “standard” em termos da<br />
obra majoritária, acredito que é um tipo<br />
de música instrumental que tem muita<br />
influência na gente. Gosto de citar, também,<br />
Moacir Santos que traz um lado negro para<br />
a música popular que a gente meio que<br />
abril 2019 / 19
etrato<br />
foi esquecendo com a tradição da Europa.<br />
Ele meio que diz “galera, calma aí, a gente<br />
está fazendo esse tipo de música por causa<br />
dessas levadas, dessa cultura, que passa,<br />
inclusive, por religião, passa pelo terreiro...”.<br />
Como é que você fala de Pixinguinha e não<br />
fala de terreiro? Não estou falando contra<br />
nem a favor de religião, mas a gente não<br />
consegue falar de Bach sem falar da igreja<br />
protestante, sem falar de luteranismo. Não<br />
se consegue falar dos músicos clássicos<br />
sem falar da igreja católica ou mesmo<br />
luterana. Por que você consegue falar<br />
de música negra, de claves ancestrais,<br />
de levadas, sem passar pelo terreiro? A<br />
pessoa não precisa ser do terreiro, não<br />
precisa incorporar, ser adepto da religião,<br />
mas isso faz parte da instrumentação<br />
JOGO RÁPIDO<br />
cultural daquele tipo de arte. Mas existe<br />
um preconceito, e é isso que acho<br />
prejudicial do ponto de vista cultural e<br />
musical. Conheço um monte de gente que<br />
adoraria soar mais popular e mais negro<br />
no instrumento e não soa justamente por<br />
não acessar essa informação, às vezes até<br />
inconscientemente. Eu não sou luterano<br />
e adoro estudar invenções a duas vozes,<br />
percebe? Winton Marsalis fala que o jazz é<br />
a união do sagrado com o profano. Se você<br />
tem influência do negro spiritual vindo do<br />
sagrado - que já não é sagrado do ponto<br />
de vista canônico porque o negro spiritual<br />
está profanando toda a tradição do canto<br />
coral alemão e austríaco que canta tudo<br />
bonitinho - então, já é uma profanação, se<br />
a gente pegar os termos literais. Aí, isso<br />
vira sagrado, e o profano vira o bordel<br />
onde o Louis Armstrong tocava, Storyville.<br />
Com o tempo, isso vai se juntando. Se<br />
você chamar Bach de sagrado e as claves<br />
negras de profano, você já está juntando.<br />
Então, negro spiritual, que é chamado de<br />
sagrado pelo Marsalis, já é uma junção de<br />
sagrado com profano que vai juntar com<br />
um novo profano - ou com um profano<br />
ainda mais profano - que são os cabarés. Aí<br />
Ray Charles faz isso, pega a música gospel,<br />
que naquela época já era plenamente<br />
canônica para aquela tradição, e começa a<br />
juntar com influências musicais e letras da<br />
noite. E isso vai ser um terror: os caras da<br />
igreja da época vão odiá-lo para sempre.<br />
Hoje, a gente canta Ray Charles como se<br />
fosse música de criança. E atualmente o<br />
funk carioca está cumprindo esse papel.<br />
Eu acho funk carioca superlegal porque ele<br />
cumpre um papel social. Musicalmente,<br />
é complicado falar, porque praticamente<br />
não tem harmonia, nem melodia, mas,<br />
querendo ou não, é uma nova maneira<br />
de se fazer música ou de se expressar<br />
musicalmente. O funk cumpre esse papel<br />
de transgredir, de afrontar. Ray Charles<br />
cumpriu esse papel nos anos 50. Quando<br />
se fala de funk carioca, a minha defesa,<br />
em nome da tradição, é de que a gente<br />
precisava lançar mão de outros elementos,<br />
pelo menos de acordo com os paradigmas<br />
do passado. É preciso trabalhar a harmonia<br />
e a melodia, de algum jeito. Quando se zera<br />
isso e se trabalha somente um dos pilares,<br />
você cria algo diferente, não sei se pior ou<br />
melhor. Mas é algo que precisa ser lidado<br />
como peculiar. Como a gente analisa isso<br />
esteticamente? Acredito que a gente não<br />
tem ferramentas ainda.<br />
No Alfa, seu conceito musical estava mais<br />
baseado nas harmonias e nos silêncios do<br />
que em solos repletos de notas. Como vê<br />
isso?<br />
A ideia do Alfa era fazer um álbum<br />
celebrando o vazio, celebrando a solidão,<br />
celebrando a força que o silêncio tem. É<br />
uma relação dialética de som e pausa. É<br />
um conceito que prevê que ambos têm o<br />
20 / abril 2019 teclas & afins
leandro cabral<br />
mesmo valor de importância e que você<br />
quer brincar com os dois. Ambos estão<br />
trabalhando na música. A abertura do CD,<br />
tem um texto de um de meus professores de<br />
estética, o Silvio Moreira, um grande amigo<br />
e um grande sábio dessa área, e ele fala de<br />
uma entrevista do Stockhausen em que ele<br />
discorre sobre a importância que se deu à<br />
altura, às notas versus a “desimportância”<br />
que se deu ao ritmo. Quando se tira a<br />
importância do ritmo, necessariamente se<br />
tira a importância da pausa. Então, a gente<br />
quis brincar um pouco com isso, trazer à<br />
tona a força do ritmo através de uma clave<br />
ancestral. Por exemplo, tentei compor dois<br />
“vassis”, que é um ritmo do candomblé,<br />
apesar de eu não ser do candomblé. São<br />
claves tocadas lá e que eu pedi permissão<br />
para trazer para o mundo jazzístico. A gente<br />
fez ijexá em trio, e isso é muito raro. Mas eu<br />
não poderia deixar de lançar mão da pausa<br />
porque, na minha visão dialética, é a pausa<br />
que valoriza a clave e a clave que valoriza<br />
a pausa. Eu acredito que o Herbie Hancock<br />
tem muito isso. Apesar do fato de ele ser<br />
verborrágico, muitas vezes, dependendo<br />
do disco e da fase, ele fala isso em várias<br />
entrevistas. Se você ouvir, por exemplo,<br />
um disco de piano solo dele, também não é<br />
assim. Ele poderia exibir toda a técnica dele,<br />
mas passa com uma delicadeza, respira.<br />
Naquele disco 1+1, não há uma música de<br />
média para rápida. É praticamente balada<br />
ou rubato. Naquele famoso concerto dele<br />
na Sala São Paulo, há alguns anos, com o<br />
Wayne Shorter, o sentimento era de um<br />
“esperar”. Você espera, espera e, de repente,<br />
vem uma bomba. Mas a bomba que ele<br />
manda tem tanta importância e vem com<br />
tanta força porque ele consegue colocar no<br />
lugar certo, na hora certa. É aquele famoso<br />
tocar com os ouvidos.<br />
© Divulgação<br />
teclas & afins<br />
abril 2019 / 21
VITRINE<br />
Kawai KDP 70<br />
Pianofatura Paulista<br />
www.piano.com.br<br />
O novo piano digital da Kawai, o KDP70, é a<br />
mais recente adição ao portfolio da marca<br />
direcionado escolas de música, estudantes<br />
ou profissionais, além do uso doméstico.<br />
Com 88 teclas com toque balanceado, o<br />
KDP70 responde como um piano acústico<br />
graças ao mecanismo Responsive Hammer<br />
Compact (RHC), que oferece quatro<br />
intensidades de toque. O gerador de sons<br />
é o Harmonic Imaging, com 88 notas<br />
sampleadas individualmente e polifonia<br />
máxima de 192 notas. O novo modelo<br />
traz 15 timbres (incluindo dois pianos de<br />
cauda) e gravador digital de três músicas e<br />
aproximadamente 10 mil notas, além dos<br />
recursos Damper Resonance, Reverb (6<br />
tipos), Tuning, Transpose, Brilliance, Spatial<br />
Headphone Sound, Phones Type, Auto<br />
Power Off, Bluetooth MIDI, modo Multitimbral<br />
e 15 músicas de demonstração. O<br />
piano ainda conta com os métodos para<br />
piano Burgmuller, Czerny e Beyer instalados<br />
e Dual Mode (com ajuste de volume) para<br />
performances a quatro mãos. Três pedais<br />
(Sustain, Soft e Sostenuto), com half pedal,<br />
duas saídas para fones-de-ouvido, MIDI IN/<br />
OUT e dois alto-falantes de 8W cada estão<br />
acondicionados no elegante móvel preto<br />
com tampa deslizante, de apenas 40 cm de<br />
profundidade. O produto estará disponível<br />
para venda no Brasil a partir da segunda<br />
semana de abril.<br />
22 / abril 2019 teclas & afins
VITRINE<br />
Solar<br />
Alfredo Dias Gomes<br />
Independente<br />
Tendo acompanhado, até 1993, shows e gravações de<br />
artistas como Ivan Lins, Hermeto Pascoal, Lulu Santos e<br />
Heróis da Resistência, dentre outros, o baterista carioca<br />
Alfredo Dias Gomes lança novo CD, marcadamente<br />
jazzístico e brasileiro. O filho de Janete Clair e Dias Gomes<br />
alcança a marca de onze discos solos, com o CD Solar,<br />
gravado em seu próprio estúdio, na Lagoa. Nele, o músico<br />
carioca surpreende, reunindo oito faixas autorais e inéditas e se revelando um exímio<br />
compositor também nas harmonias mais brasileiras, regionais. “Quando comecei a compor<br />
esse novo trabalho, pensei numa proposta diferente: decidi tocar, além da bateria, os<br />
teclados e os baixos do disco, dando ênfase à forma como crio minhas composições.<br />
Adicionei somente um solista, meu grande amigo e super instrumentista Widor Santiago,<br />
no sax tenor, sax soprano e flauta. “Solar” é um disco autoral e nele misturo ritmos e<br />
melodias brasileiras com jazz e jazz-fusion”, afirma o músico. Para ouvir o CD Solar, acesse<br />
a página do músico ou o link no Spotify.<br />
Quer aprender a<br />
tocar blues?<br />
CD com método digital + 61 pistas de áudio<br />
(solos/Play Along)<br />
R$ 49,90<br />
em até 12 x no cartão<br />
Mauricio Pedrosa<br />
teclas & afins<br />
www.teclaseafins.com.br<br />
abril 2019 / 23
REVIEW<br />
Por CRISTIANO RIBEIRO<br />
O primeiro synth em hardware da IK Multimedia é analógico!<br />
24 / abril 2019 teclas & afins
REVIEW<br />
A IK Multimedia, famosa por seus<br />
instrumentos virtuais e softwares, lança<br />
seu primeiro equipamento em hardware,<br />
o UNO Synth. Segundo o fabricante,<br />
ele foi desenvolvido por Erik Norlander<br />
(designer do Alesis Andromeda) e pela<br />
Soundmachines (desenvolvedora de synths<br />
e minimodulares). Trata-se de um pequeno<br />
módulo monofônico analógico de dois<br />
osciladores e recursos bem interessantes.<br />
Fácil de operar, é um bom instrumento<br />
de entrada para quem quer iniciar na<br />
síntese analógica, mas com todos recursos<br />
necessários para criar grandes sons.<br />
O design misto de retrô e moderno não<br />
dá muito a entender que se trata de um<br />
sintetizador analógico, pois, geralmente,<br />
os fabricantes buscam um visual vintage<br />
nesse tipo de equipamento. No UNO,<br />
fizeram o contrário: o aparelho é totalmente<br />
plástico, nada de madeira ou metal, leve e<br />
pequeno. Fica claro que a intenção foi a<br />
de baratear o projeto. O lado retrô é por<br />
conta de lembrar antigos videogames e<br />
dos primeiros PCs. À primeira vista, não<br />
surpreende. Mas não se engane!<br />
O UNO é muito portátil e a ideia das teclas<br />
touch o deixaram ainda mais portátil. É<br />
legal poder levar um módulo tão pequeno,<br />
no qual você pode criar e tocar, e, quando<br />
conectado a um controlador MIDI, ele se<br />
revelar um belo módulo synth. Apesar da<br />
aparência delicada, do tamanho pequeno<br />
e da leveza, ele tem uma sonoridade muito<br />
boa. Permite criar ótimos baixos e leads<br />
de forma simples e rápida. Digno de um<br />
bom analógico.<br />
Modus Operandi<br />
O painel levemente inclinado tem quatro<br />
botões “touch” enfileirados verticalmente<br />
à esquerda - que dão acesso aos parâmetros<br />
dos timbres - e quatro knobs enfileirados<br />
teclas & afins<br />
horizontalmente - para alterar os<br />
parâmetros. No primeiro botão, se acessa<br />
aos dois osciladores independentes, com<br />
formas de onda continuamente variáveis<br />
entre Saw, Triangle e Pulse com recurso<br />
PWM. Os knobs no controle de Tune,<br />
permitem ir de “detune” micro até meio<br />
tom, e depois segue em semitons no<br />
mesmo knob, até uma oitava acima ou<br />
abaixo em cada oscilador.<br />
O segundo botão é o filtro, que tem os<br />
modos LP (Low Pass), HP (High Pass) e BP<br />
(Bandpass Filter). Na sequência, há os<br />
knobs endereçados para o resonance,<br />
drive e “env amt” (envelope amount).<br />
No terceiro botão ficam endereçados<br />
Attack e Decay do filtro, e Attack e Release<br />
do Amp. Um tanto diferente não ter, em<br />
sequência, AD para os dois envelopes.<br />
Acredito que os engenheiros devem ter<br />
considerado deixar esses controles “mais<br />
à mão”. Em pouco tempo mexendo no<br />
UNO o músico começa a se acostumar e<br />
entender o porquê dessa ordem um tanto<br />
diferente. Há uma lógica nessa sequência.<br />
E só tocando nele que se entende.<br />
O quarto e último botão é o LFO. O primeiro<br />
knob seleciona as ondas - Sine, Triangle,<br />
Square, Up Saw, Down Saw, Random e<br />
Sample-and-Hold - para modular Pitch,<br />
Filter e Amp, e, nos seguintes knobs, temos<br />
Rate, Pitch e Filter.<br />
Os três primeiros botões à esquerda do<br />
painel, enfileirados na vertical, escondem<br />
uma segunda função, bastando, para isso,<br />
segurar o botão por dois segundos e ele<br />
começar a piscar. No primeiro botão, os<br />
knobs assumem controle do mixer dos VCOs,<br />
sendo os dois primeiros para o volume dos<br />
osciladores. O terceiro é volume do ruído<br />
(noise) e o quarto é o Hold Oscilator. O<br />
segundo e o terceiro botões endereçam o<br />
ADSR do VCF e do VCA consecutivamente.<br />
abril 2019 / 25
REVIEW<br />
Na parte inferior do painel, há um “teclado”<br />
touch com 27 notas. Logo acima desse<br />
teclado, os botões para disparar efeitos<br />
“Dive Amount” e “Scoop Amount” (pitch),<br />
vibrato, wah e tremulo. Estes últimos três<br />
sofrem atenuação pelo Rate do LFO. O<br />
grau de intensidade de cada pode ser<br />
previamente presetado via PC pelo UNO<br />
Synth Editor. Ainda na mesma fileira temos<br />
o Hold, que serve para “segurar” uma nota,<br />
permitindo assim editar um timbre ou<br />
fazer uma performance ao vivo alterando<br />
parâmetros em tempo real.<br />
Mais à direita, no alto do painel, há três<br />
knobs: um dedicado ao cutoff, o segundo<br />
dedicado ao ajuste de tempo para o<br />
arpegiattor/sequencer e, por fim, o volume.<br />
Arpeggiator e Sequencer<br />
O UNO possui um arpeggiator bem esperto.<br />
Com 10 fraseados que vão até quatro<br />
oitavas. O sequencer de até 16 compassos<br />
permite gravar em tempo real ou realizar<br />
uma edição step. Permite também gravar<br />
sequências de alterações de vários<br />
parâmetros dos timbres, criando loops<br />
26 / abril 2019 teclas & afins
REVIEW<br />
com movimentos bem interessantes. São<br />
muito fáceis de operar: de modo intuitivo<br />
“se pega as manhas”.<br />
Delay<br />
Um eficiente delay está embutido no<br />
sistema do UNO Synth. Nele, há controles de<br />
tempo e mix. Ele dá uma boa “temperada”<br />
no som do módulo. Talvez alguns sintam<br />
falta de outros efeitos, mas, lembrem-se: a<br />
maioria dos concorrentes de mesma faixa<br />
de preço sequer delay tem.<br />
Conexões<br />
O UNO possui MIDI In e Out em mini jack<br />
MIDI 3.5, uma entrada USB para alimentação<br />
de AC e conexão com PC ou MAC. Ele<br />
também pode ser alimentado por quatro<br />
pilhas médias. A saída e a entrada de áudio<br />
são mini jack 3.5. As duas, mono.<br />
Sonoridade<br />
O UNO tem uma sonoridade muito versátil<br />
e poderosa. Fácil de operar, o músico pode<br />
criar texturas e movimentos que vão de<br />
graves profundos até agudos cortantes.<br />
Ótimos baixos e leads podem ser criados<br />
em tempo real - e com a facilidade de poder<br />
salvar os presets. Apesar do aspecto plástico<br />
e frágil, na hora de ouvir o que ele “tem a<br />
dizer”, nota-se ali uma máquina poderosa.<br />
O UNO Synth é monofônico, mas seus<br />
dois osciladores independentes podem<br />
ser afinados para gerar sons de intervalos<br />
interessantes em estilo pad, assim como<br />
oitavas. O filtro analógico traz o calor, a<br />
profundidade e o peso que se espera de<br />
um sintetizador analógico real. O filtro<br />
ressonante multimodo pode ser usado<br />
para sutil modificação de timbre ou para<br />
varreduras ressonantes agressivas e<br />
berrantes. Um circuito de overdrive permite<br />
obter facilmente timbres saturados. E<br />
é possível modular o filtro com o filter<br />
envelope e os botões de performance e LFO,<br />
bem como automatizá-lo no sequenciador<br />
por meio de controladores MIDI externos.<br />
Presets<br />
O UNO Synth vem com 100 presets prontos<br />
para usar, 80 deles totalmente regraváveis,<br />
tornando-o fácil de tocar logo ao tirar da<br />
caixa. Cada preset inclui a programação<br />
do som, um arpejador e uma sequência<br />
associados. Isto torna fácil para qualquer um<br />
encontrar o som que deseja, além de servir<br />
de ponto de partida para a programação de<br />
novos timbres e programações.<br />
teclas & afins<br />
abril 2019 / 27
REVIEW<br />
UNO Synth<br />
IK Multimedia<br />
(www.ikmultimedia.com.br)<br />
Especificações<br />
• Sintetizador analógico monofônico<br />
• Teclado multitoque cromático com 27 notas<br />
• 40 controles onboard e display de LED<br />
• Arpejador e sequenciador<br />
• Efeito Delay (Dive, Scoop, Vibrato, Wah, Tremolo)<br />
• Auto-afinação com calibragem auto-tune<br />
• USB MIDI e jacks MIDI IN/OUT de 2.5 mm (cabos inclusos)<br />
• Alimentação por pilhas (4xAA Alkaline, Ni-Mh) ou USB<br />
• Desenhado e fabricado na Itália<br />
• Dimensões: 25.6cm x 15cm x 4.9cm<br />
• Peso: 400g (sem pilhas)<br />
• Preço sugerido: sob consulta<br />
• Fácil operação<br />
K J<br />
• Falta de uma saída de áudio jack 6.3<br />
• Sonoridade incrível<br />
• Alguns parâmetros só podem ser<br />
• Fácil transporte<br />
alterados via editor<br />
• Educativo<br />
* Especificações sujeitas à alteração sem aviso prévio<br />
Para facilitar ainda mais o desenvolvimento<br />
de novas sonoridade, a IK Multimedia<br />
desenvolveu o UNO Synth Editor, que<br />
funciona como plugin e como aplicação<br />
independente e permite acessar todos os<br />
parâmetros do sintetizador, indo além dos<br />
controles do painel frontal. Compatível<br />
com Mac, PC e iOS, o editor está disponível<br />
para controle total do UNO Synth com<br />
um computador, iPhone ou iPad para<br />
programar, armazenar e gerenciar um<br />
número ilimitado de presets.<br />
No Mac e no PC, além de aplicação<br />
independente, o UNO Synth funciona<br />
como plugin dentro de uma DAW. Com<br />
isso, o músico pode programar e tocar o<br />
UNO Synth como instrumento virtual.<br />
Impressões finais<br />
A IK Multimedia conseguiu no seu primeiro<br />
projeto hardware, trazer um ótimo custo<br />
benefício. O UNO Synth cumpre muito bem<br />
o seu papel. Versátil, pequeno e poderoso.<br />
Abre uma nova lacuna no mercado de<br />
pequenos módulos analógicos.<br />
28 / abril 2019 teclas & afins
MATERIA DE CAPA<br />
O fino de<br />
todas as<br />
bossas<br />
30 / abril 2019 teclas & afins
por nilton corazza<br />
Com o lançamento de<br />
Tributo ao Zimbo Trio,<br />
Amilton Godoy, Edu Ribeiro<br />
e Sidiel Vieira resgatam um<br />
pedaço importantíssimo da<br />
história da música brasileira<br />
Amilton Godoy Trio<br />
© Divulgação<br />
teclas & afins<br />
abril 2019 / 31
materia de capa<br />
© Divulgação - Giorgio D’Onofrio<br />
Amilton Godoy dispensa apresentações.<br />
Pianista, dono de incomparável<br />
conhecimento musical, técnica precisa<br />
e criatividade ímpar, mantém atividade<br />
tanto como músico quanto como professor<br />
no CLAM, escola fundada por ele e por<br />
seus companheiros de Zimbo Trio, o<br />
grupo instrumental mais influente da<br />
música brasileira em todos os tempos. E é<br />
exatamente a essa fase de sua carreira que<br />
seu trabalho mais recente alude.<br />
No Tributo ao Zimbo Trio, Godoy se juntou<br />
ao baterista Edu Ribeiro e ao contrabaixista<br />
Sidiel Vieira para homenagear o conjunto<br />
instrumental que construiu a base da<br />
moderna música brasileira e imprimiu sua<br />
marca em 49 anos de existência e mais<br />
de 50 discos gravados. Responsável por<br />
descobrir e divulgar novos talentos, como<br />
Milton Nascimento, Gilberto Gil e tantos<br />
outros, o grupo correu o mundo com seu<br />
estilo único e serviu de inspiração para<br />
muitos trios, além de acompanhar os mais<br />
influentes artistas da época.<br />
Como surgiu a ideia desse disco?<br />
A ideia surgiu quando o Blue Note, de São<br />
Paulo, me convidou para tocar lá. O Blue<br />
Note me lembrou muito a casa em que<br />
começamos nossa carreira, o Baiúca, uma<br />
casa na Praça Roosevelt, em que o Zimbo<br />
Trio foi constituído, em 1963, quando<br />
fui convidado pelo Rubinho (Barsotti) e<br />
pelo Luiz (Chaves) para tocarmos juntos,<br />
porque eles tinham a ideia de formar um<br />
grupo instrumental. O Rubinho e o Luis<br />
tocavam com um pianista chamado Moacir<br />
Peixoto, irmão do Cauby Peixoto, um bom<br />
32 / abril 2019 teclas & afins
amilton godoy<br />
pianista de jazz brasileiro. Tínhamos dois<br />
bons pianistas de jazz na época. Um era o<br />
Moacir Peixoto e o outro, Dick Farney. Esses<br />
músicos eram muito respeitados na noite.<br />
O Dick começou a fazer sucesso como<br />
cantor. E o Moacir tocava nessas casas que<br />
eram um centro de boa música, de música<br />
de qualidade, um restaurante com um bar<br />
acoplado. Na época, não existia música<br />
mecânica nas casas noturnas como hoje.<br />
As casas primavam por ter bons músicos<br />
tocando. Cada casa contratava e queria<br />
sempre os melhores músicos. E a Baiúca<br />
era tida como a nata. Sempre teve gente<br />
boa tocando lá. Essa oportunidade surgiu<br />
para mim e formamos o Zimbo Trio. E o<br />
Blue Note me reportou a isso, àquela época<br />
em que a casa noturna funcionava assim: o<br />
músico fazia uma entrada - de uma hora, 45<br />
minutos - depois voltava e tocava mais uma<br />
vez, para a mesma plateia. No Blue Note é<br />
um pouco diferente porque cada entrada é<br />
um show, e o público muda. Tudo isso me<br />
veio à cabeça. O Zimbo se formou numa<br />
casa assim, com esse tipo de música mais<br />
improvisada, jazzística, um jazz brasileiro.<br />
Na época, a gente era muito mais jazzsamba<br />
do que samba-jazz, depois a coisa<br />
foi mudando com o próprio Zimbo Trio. Os<br />
músicos brasileiros, até então, faziam jazz<br />
com temas americanos. Todo músico que<br />
queria se aprofundar mais harmonicamente,<br />
fazer uma coisa mais sofisticada, copiava<br />
os standards americanos. O Zimbo foi o<br />
primeiro grupo instrumental a fazer o<br />
contrário: nós começamos a fazer jazz,<br />
improvisações, usando temas brasileiros.<br />
Esse foi, eu acredito, o grande legado<br />
do Zimbo na época. Ele mostrou, para o<br />
Brasil e para o mundo, que nós tínhamos<br />
música de qualidade e que poderíamos<br />
improvisar com nossos próprios temas,<br />
© Divulgação<br />
Amilton Godoy, Edu RIbeiro e Sidiel Vieira<br />
teclas & afins<br />
abril 2019 / 33
materia de capa<br />
sem precisar recorrer mais aos temas<br />
importados. Outras casas de São Paulo<br />
também revelaram grandes músicos: o<br />
Hermeto Pascoal estava começando a<br />
carreira tocando numa boate chamada<br />
Chicote. Era um antro, no bom sentido,<br />
de coisa de qualidade. Quando veio esse<br />
convite do Blue Note, pensei “vou fazer<br />
um tributo ao Zimbo, resgatando aqueles<br />
arranjos que o trio já fazia”. Foram 49 anos<br />
de Zimbo, desde 1964. E alguns arranjos<br />
nasceram ali na Baiúca, como o primeiro<br />
arranjo gravado nosso, muito conhecido<br />
na época, que, por incrível que pareça,<br />
foi para a parada de sucessos: “Garota<br />
de Ipanema”. Ele nasceu nessa casa e foi<br />
feito espontaneamente. Daí começaram<br />
a surgir outros discos do Zimbo. A gente<br />
fazia uma média de um por ano, sempre<br />
com repertório novo, lançando novos<br />
compositores. Daí a importância de uma<br />
casa noturna que tenha a proposta de fazer<br />
que músicos dentro desse caminho possam<br />
chegar, tocar, fazer uma apresentação. Me<br />
empolguei com essa ideia.<br />
Daí a gravar o disco...<br />
Tenho tocado como trio com o Edu Riberio<br />
e o Sidiel Vieira, dois expoentes da nossa<br />
música, fantásticos, com concepções<br />
modernas, jovens. Falei com eles se<br />
topavam fazer esse tipo de trabalho, em<br />
que eu ia recuperar arranjos do Zimbo Trio<br />
e eles ficaram empolgados. E eu queria ver<br />
justamente isso: novas ideias deles, como<br />
eles improvisariam... Sempre acreditei que<br />
aquelas estruturas propunham esse tipo de<br />
caminho e fiquei espantado - e muito feliz -<br />
de ver o interesse deles. Eles começaram a<br />
ouvir o Zimbo Trio, foram procurar em todo<br />
o material de que podiam dispor. Eu, de<br />
minha parte, fiz uma escolha dos arranjos<br />
© Divulgação - Giorgio D’Onofrio<br />
34 / abril 2019 teclas & afins
amilton godoy<br />
que eu achava que poderiam representar<br />
a trajetória do Zimbo Trio. Foram 51 discos<br />
gravados! Como é que eu faria uma síntese<br />
desse material? Comecei a passar com eles.<br />
escrevi e ensaiamos muito. E foi assim que<br />
nasceu esse disco, que chamei de Tributo<br />
ao Zimbo Trio.<br />
O Sidiel e o Edu talvez sejam hoje<br />
os melhores músicos de jazz de seus<br />
respectivos instrumentos no Brasil. Como<br />
é tocar com esses músicos? É possível<br />
fazer uma comparação com os integrantes<br />
originais do Zimbo?<br />
Quando me perguntavam “Como é<br />
que vai ser?” Qual vai ser o resultado?”,<br />
eu respondia “Vamos ver...”, porque eu<br />
também queria ver (risos). Eles têm uma<br />
concepção supermoderna. Eles são jovens,<br />
mas têm uma bagagem bastante grande<br />
na formação. Eles passaram por muitas<br />
experiências também, tocando com<br />
músicos variados. Uma coisa que achei<br />
bacana, e que eu queria mostrar no disco<br />
- e acho que consegui - é que aqueles<br />
arranjos, com a estrutura original deles,<br />
propiciam ao músico de uma concepção<br />
mais moderna, entrar naquilo, executar<br />
aquilo e criar dentro daquilo, respeitando,<br />
naturalmente, a originalidade do arranjo.<br />
Então, tocar com eles, para mim, foi uma<br />
surpresa, primeiramente, pela aceitação<br />
deles, e, depois, pela admiração que tenho<br />
por eles. É uma geração tão distante... A gente<br />
fala “uma geração”, mas são duas depois,<br />
eu acho (risos). E eles ficaram empolgados<br />
de fazer aquilo, eu vi o entusiasmo deles.<br />
Eles conseguiram passar para esse disco<br />
esse entusiasmo que manifestaram.<br />
Acredito que eles conseguiram imprimir<br />
a marca deles e era isso que eu queria<br />
que acontecesse, porque o Rubinho e o<br />
Luiz, desde os primeiros discos nossos,<br />
teclas & afins<br />
já faziam isso. Quem ouvia o Zimbo Trio<br />
tocar, falava “é o Zimbo que está tocando”,<br />
mesmo que não soubesse. Se sabia pelo<br />
timbre, pelo som, pela maneira como as<br />
coisas eram dispostas. E o que aconteceu<br />
com esses dois músicos foi exatamente<br />
isso: eles conseguiram chegar e marcar a<br />
presença deles de uma forma muito bonita.<br />
Gostei muito do resultado. Agora, já posso<br />
responder àquela pergunta: “Como é que<br />
vai ser?”. Vai ser muito bom!<br />
A ideia é que esse grupo se torne uma<br />
formação fixa ou o Amilton Godoy Trio foi<br />
um projeto pontual para o CD e para os<br />
shows?<br />
Essa, o trio, é uma das formações com que<br />
gosto de tocar, com que me apresentei desde<br />
o começo, que foi a base para mim. Piano,<br />
baixo, bateria, para mim, foi um berço de<br />
ensinamentos, em que me apliquei muito,<br />
caprichei muito nos arranjos. Acredito que<br />
consegui escrever muita coisa para tirar<br />
proveito de um bom contrabaixista e de um<br />
bom baterista. Então, acho que é uma das<br />
coisas que tenho que continuar fazendo,<br />
que me dá muita alegria, muita satisfação.<br />
Antes, quem quisesse me ouvir, tinha uma<br />
abril 2019 / 35
materia de capa<br />
única opção: tinha que contratar o Zimbo<br />
Trio, três músicos comprometidos com um<br />
trabalho conjunto. Era muito esporádico<br />
eu fazer algo sem ser com o Rubinho e<br />
com o Luiz. Mesmo depois, com o Rubinho<br />
e o Itamar (Collaço), quando o Luiz ficou<br />
doente. Mas, depois do Zimbo, comecei<br />
a fazer outros trabalhos. Gravei com o<br />
Gabriel Grossi, um disco que eu achei<br />
bacana, o Villa-Lobos Popular, que era uma<br />
coisa completamente inusitada: piano<br />
com gaita. E ficou legal, funcionou, teve<br />
muita gente que gostou desse trabalho.<br />
Fiz transcrições de obras de Villa-Lobos,<br />
mantendo o original, mas improvisando<br />
em cima. Depois, há o trabalho com a Léa<br />
Freire, que tenho feito. Primeiro, gravei um<br />
disco de piano solo só com composições<br />
da Léa. Sempre tive por ela uma grande<br />
admiração. Quando ela me procurou para<br />
me mostrar o que tinha escrito para piano,<br />
fiquei abismado de ver como ela escreve<br />
bem, como a concepção dela, a forma de<br />
escrever para piano é diferente. Me encantei<br />
com aquilo e me apliquei, porque são coisas<br />
complicadas. Ela escreveu para piano, na<br />
época, há uns anos, e não conseguia tocar.<br />
Ela ficava nervosa, achava que não tinha<br />
condição pianística para tocar aquilo que<br />
ela mesma tinha composto. Ela falou com<br />
o Nelson Ayres, e ele disse: “Isso é para<br />
o Amilton!” (risos). Aí, ela me procurou.<br />
Comecei a olhar e aquilo era complexo,<br />
polifônico, complicado. Pensei: “nossa, vou<br />
JOGO RÁPIDO<br />
estudar isto aqui”. Comecei a me aplicar<br />
© Divulgação - Giorgio D’Onofrio<br />
sobre aqueles arranjos e ficou um disco<br />
muito legal: Amilton Godoy e A Música<br />
de Léa Freire. Depois, ela ficou encantada<br />
e quis gravar um disco com as minhas<br />
músicas: A Mil Tons. E agora, nós vamos<br />
lançar nos Estados Unidos, em agosto,<br />
um disco que fiz com a Léa e o Harvey<br />
Wainapel, que é um saxofonista de jazz<br />
americano. Gravamos em trio - piano, flauta<br />
e saxofone -, uma parte aqui no Brasil e uma<br />
parte, ano passado, na Califórnia, quando<br />
estive em excursão com a Léa. Agora a<br />
gente volta para fazer o lançamento nos<br />
Estados Unidos. Aqui, ainda não marcamos<br />
o lançamento. Mas essa paixão pelo trio<br />
não acaba. É a base para qualquer grupo.<br />
Quando você vai fazer um quinteto, um<br />
quarteto, uma orquestra, você parte da<br />
seção rítmica. Baixo, bateria e piano ou<br />
guitarra...ou as duas coisas. O fato é que<br />
aí o músico tem a base de sustentação, o<br />
alicerce de um prédio que ele vai construir.<br />
Há um instrumento essencialmente rítmico<br />
que é a bateria, naturalmente; um que é<br />
36 / abril 2019 teclas & afins
amilton godoy<br />
uma ligação entre harmonia e ritmo, que é<br />
o baixo; e o piano que pode ser um solista,<br />
pode acompanhar etc. É o que se precisa<br />
para uma formação completa. Ficou tanto<br />
isso na minha cabeça, que de vez em<br />
quando eu preciso tocar com trio para me<br />
satisfazer (risos). Então, se não é Zimbo<br />
Trio, é Amilton Godoy Trio. Tenho feito<br />
alguma coisa com os meninos e temos tido<br />
convites para outras, então, estou muito<br />
feliz. Tenho sido convidado para fazer<br />
apresentações com o trio ou relembrando<br />
arranjos do Zimbo, mas há coisas novas,<br />
autorais, que estou fazendo com eles, que<br />
são diferenciadas. Mas é algo mais recente.<br />
No disco, os arranjos foram os originais do<br />
Zimbo Trio. Eles foram escritos?<br />
Tudo foi escrito para que eles tivessem<br />
as bases do que norteou a originalidade<br />
do arranjo. Por exemplo, a forma como a<br />
“Garota de Ipanema” está no disco - foi o<br />
primeiro arranjo do Zimbo e abre o álbum -<br />
saiu espontaneamente tocando no Baiúca.<br />
Como eles não conheciam o arranjo original,<br />
escrevi exatamente aquilo que a gente<br />
fazia, a divisão etc. Mas eles são músicos<br />
impressionantes: você põe a partitura na<br />
frente deles e os caras saem tocando! É uma<br />
grande diferença de formação daquela<br />
época. Não que eles sejam melhores do<br />
que os outros, mas é muito fácil para eles<br />
entenderem aquilo que era feito. Talvez<br />
seja mais difícil para mim entender o que<br />
os modernos, contemporâneos, estão<br />
fazendo, do que esses músicos entenderem<br />
a concepção musical daquilo que já foi<br />
feito. É um acúmulo de conhecimento. Eles<br />
© Divulgação<br />
teclas & afins<br />
abril 2019 / 37
materia de capa<br />
pegam aquilo e começam a se empolgar.<br />
Esse arranjo, por exemplo, é todo escrito.<br />
Tem um riff no início, que o piano faz com<br />
o baixo, e as notas estão lá. Vamos fazer<br />
aquilo que era feito. Mas, quando o piano<br />
sai para improvisar, ele sai para improvisar.<br />
“Seja o que Deus quiser”, como eu falo<br />
(risos). Tem um riff no final, de quatro<br />
compassos de bateria, que o que o Edu fez<br />
foi da cabeça dele. E assim foi. Em alguns<br />
arranjos, realmente, a música inteira é de<br />
solo dentro de um ritmo, de uma pulsação.<br />
Aí, fico querendo ver o que esses caras vão<br />
fazer (risos). E fico sempre muito surpreso.<br />
Os caras são bons, diferentes. Agora, aquela<br />
base, aquele suingue, a levada diferente de<br />
uma para outra, a gente sente no disco. Ao<br />
tocar uma música do Djavan, por exemplo,<br />
© Divulgação - Giorgio D’Onofrio<br />
a pulsação é diferente - sempre foi, a<br />
gente sempre tocou de um jeito diferente<br />
– do que tocar uma do Gil. E eram todos<br />
caras que iam aparecendo na época.<br />
Hoje, que bom, estão todos consagrados,<br />
têm talento de sobra pra todo mundo.<br />
O repertório foi feito em cima disso. Por<br />
exemplo, peguei uma música do Hermeto,<br />
“Bebê”. E o Hermeto gosta do arranjo que<br />
a gente toca, brinca até que a introdução<br />
que escrevi é mais bonita que a música.<br />
Ele é um cara generoso... Outro é Egberto<br />
Gismonti. O “Loro” é uma obra-prima. O<br />
Bebê foi gravado originalmente numa<br />
época, digamos, cinco anos depois do<br />
primeiro disco. O “Loro” do Egberto, já 10<br />
anos depois. Coloquei o “Prelúdio nº 2” de<br />
Bach, porque o ZImbo, num determinado<br />
momento de sua carreira, gravou dois discos<br />
chamados Opus Pop, em que pegamos<br />
temas eruditos, músicas de Tchaikovsky,<br />
Bach, mantendo as harmonias originais,<br />
mas com ritmos brasileiros. Depois, no<br />
segundo disco, gravei a “Pavane” de Ravel,<br />
a “Pavane” de Fauré, tudo isso. Era para ser<br />
um disco só, mas a Phonogram, na época<br />
tinha representação no mundo todo e<br />
nos pediu um segundo volume. E fizemos.<br />
Então, pensei que eu precisava colocar pelo<br />
menos uma música que representasse essa<br />
fase. Então escolhi o Prelúdio de Bach.<br />
E por que um pot-pourri do Milton<br />
Nascimento?<br />
O Milton? Eu pensei: “Vou logo colocar<br />
um potpuriri desse cara” (risos). A gente<br />
chegou a fazer disco dedicado a ele, como<br />
o Zimbo Trio interpreta Milton Nascimento,<br />
que foi um disco só com composições do<br />
Milton. E olhando bem, vi que o Milton<br />
Nascimento foi um dos compositores<br />
que mais gravamos no decorrer de nossa<br />
carreira. Jobim, naturalmente, em primeiro,<br />
38 / abril 2019 teclas & afins
amilton godoy<br />
© Divulgação<br />
e Milton Nascimento, depois. Então, ele<br />
tinha que estar. Gosto dessa forma de potpourri,<br />
que você sai de um tema e entra<br />
em outro. E a jogada do Milton é diferente,<br />
tem uma pegada diferente. E eu estava<br />
querendo ver o que esses caras, o Edu e o<br />
Sidiel, iam fazer com esses arranjos. E tem<br />
umas coisas que o Edu fez, impressionantes.<br />
E alguns improvisos do Sidiel, também!<br />
Então, pensei, , o Milton tem que ter uma<br />
sequência. Peguei “Coração Civil”, que<br />
nunca vi tocada instrumental. E conheço<br />
a música do Milton diretamente do violão<br />
dele! A gente tinha uma ligação bastante<br />
grande. Depois, colocamos, “Conversando<br />
no Bar, “Cravo e Canela”, “Bola de Meia, Bola<br />
de Gude”, “Tema de Tostão”, “Vera Cruz”. O<br />
que sei é que o Milton é um manancial de<br />
coisas boas. E acho que consegui fazer uma<br />
teclas & afins<br />
ligação entre elas nesse pot-pourri, que as<br />
músicas parecem que são uma coisa só,<br />
uma espécie de suíte. Eu gosto disso. Vejo<br />
pessoas de talento sempre aparecendo,<br />
tive a sorte e a felicidade de conhecer um<br />
monte delas, de gravar e tocar, em televisão<br />
e shows, músicas de algumas delas, como<br />
é o caso do Milton Nascimento. Mas o<br />
impacto que tive com o Milton, vai ser muito<br />
difícil de eu sentir novamente, porque era<br />
realmente algo diferente.<br />
O Zimbo além de uma carreira como grupo<br />
solista, acompanhou muitos cantores<br />
importantes, como Elis Regina, Elizeth<br />
Cardoso e mais vários outros. É ideia do<br />
Amilton Godoy Trio recriar isso de alguma<br />
maneira? Há essa ideia para resgatar a<br />
história do Zimbo?<br />
abril 2019 / 39
materia de capa<br />
Até teria, e vou explicar por quê. Uma das<br />
coisas que me motivou a falar do Zimbo –<br />
porque, de alguma forma, esse disco está<br />
chamando a atenção e tenho podido falar<br />
sobre o que o Zimbo Trio fez - é que têm<br />
acontecido algumas coisas nesse sentido.<br />
Por exemplo, foi feito um programa no<br />
aniversário da TV Record, revivendo o Fino<br />
da Bossa. E todo mundo que acompanhou<br />
a história da música brasileira sabe que<br />
a base daquele programa era Elis, Jair e<br />
Zimbo. O Zimbo Trio, na época, tinha um<br />
repertório muito grande com Elis Regina.<br />
Nós fazíamos shows, viajávamos, fazíamos<br />
coisas juntos. E a televisão pegou aquilo,<br />
que já era feito, levou para um teatro<br />
e televisionou. E aquilo se tornou algo<br />
importantíssimo na história da música<br />
brasileira. E, quando reviveram essas<br />
coisas, fiquei muito chateado... Quando<br />
assisti ao programa que fizeram - estavam<br />
até os filhos do Jair e da Elis -, vi que o<br />
Zimbo não foi nem citado. Isso é um<br />
erro histórico. Chegaram até a gravar um<br />
depoimento meu, mas não falaram nada<br />
do Trio. Fiquei quieto, não falei nada,<br />
mas enviei um e-mail para o diretor do<br />
programa e perguntei: “Por favor, me<br />
explica o que houve, porque tenho uma<br />
escola, tenho alunos, tenho amigos e as<br />
pessoas perguntam: por que eles não<br />
citam, não falam?”. Então, ficar quieto é<br />
pior. Tenho que dar uma resposta a esse<br />
público. E a única resposta que posso dar<br />
é uma resposta de música: “isso também<br />
fazia parte da história, isso já era feito”.<br />
O Fino da Bossa nasceu porque Elis, Jair<br />
e Zimbo ganharam um prêmio chamado<br />
Roquete Pinto. A história é essa! Nesse dia,<br />
o Paulo Machado de Carvalho foi lá e nos<br />
convidou, os três - Zimbo, Elis e Jair -, para<br />
montar a base de um programa. E Zimbo<br />
e o Fino da Bossa ficaram no ar durante<br />
três anos. Vi gente que estava lá, gente<br />
que fez, que microfonou, historiadores,<br />
aparecerem dando depoimentos e nem<br />
citarem o Zimbo. O diretor não citar eu<br />
até entendo, porque eu acho que ele não<br />
tinha nascido ainda (risos). Mas, ao mesmo<br />
tempo, vejo que eles sabem da história. E<br />
eu não estou pedindo para aparecer. Eu dei<br />
um depoimento, eles foram à minha escola,<br />
ficaram quatro horas lá, porque o diretor<br />
mandou. Contei toda a história do Fino<br />
da Bossa. O que está acontecendo é que<br />
testemunhas e músicos que participaram<br />
daquilo, infelizmente faleceram. Não tem<br />
mais! O Manoel Carlos, que era o produtor<br />
do programa, hoje é um grande novelista,<br />
a vida dele foi para outro lado... O Maneco<br />
escreve novela na Globo, imagina se ele<br />
vai se preocupar com isso. Mas ele era o<br />
produtor. O Raul Duarte, que era o outro<br />
produtor, já faleceu. O Milton Travesso<br />
está aí e, quando pode, fala. Enfim...O cara<br />
vai lá, monta um negócio e não fala nada?<br />
Fizeram uma gravação comigo, passaram<br />
o dia inteiro na escola, tratei com o maior<br />
carinho, dei disco de presente...(risos).<br />
Depois, o repórter fica pedindo desculpas,<br />
não sabe dizer o que aconteceu. Tudo<br />
bem que você não queira colocar um<br />
depoimento meu, mas não deixe de falar<br />
do Zimbo Trio, pelo menos uma vez! Enfim,<br />
isso também mexeu um pouco comigo. Me<br />
olhei no espelho e perguntei: “Você não vai<br />
fazer nada?”. A gente não pode deixar as<br />
coisas ficarem esquecidas, então também<br />
fiquei contente porque pude lembrar do<br />
Zimbo Trio e prestar uma homenagem a<br />
esse grupo instrumental que teve tanta<br />
importância, ganhou tantos prêmios... Na<br />
época, era considerado o que tinha de<br />
melhor. Teve um papel muito importante<br />
na construção do que é considerado hoje<br />
a música popular brasileira.<br />
40 / abril 2019 teclas & afins
Amilton Godoy<br />
amilton godoy<br />
© Divulgação - Giorgio D’Onofrio<br />
teclas & afins<br />
abril 2019 / 41
sintese sonora<br />
Por Miguel Ratton<br />
Introdução à síntese<br />
subtrativa<br />
O conceito básico da síntese subtrativa é<br />
moldar a sonoridade a partir de um sinal<br />
com um conteúdo harmônico complexo, por<br />
meio de ajustes em um ou mais filtros<br />
O processo de síntese subtrativa (“subtractive<br />
synthesis”) é adotado na maioria dos<br />
sintetizadores. As principais razões para essa<br />
preferência são a facilidade e a viabilidade<br />
de implementação do processo, tanto<br />
em circuitos analógicos quanto digitais, e<br />
também a intuitividade e a preditividade<br />
na sua operação, possibilitando resultados<br />
mais rápidos no fluxo criativo.<br />
Origens do sintetizador<br />
O uso de filtros para criar timbres diferentes<br />
a partir de sinais ricos em harmônicos já<br />
havia sido empregado com sucesso na<br />
primeira metade do século 20 em pelo<br />
menos três instrumentos: o Ondes Martenot,<br />
desenvolvido na França e que teve alguns<br />
exemplares produzidos no final da década<br />
de 1920; o Trautonium, desenvolvido na<br />
Alemanha e que chegou a ser comercializado<br />
pela Telefunken no começo da década<br />
de 1930; e o Novachord, lançado pela<br />
Hammond (a mesma do famoso órgão)<br />
em 1939. No entanto, alguns aspectos<br />
prejudicaram a popularização desses<br />
instrumentos: primeiramente, porque eles<br />
utilizavam muitas válvulas eletrônicas - que<br />
na época tinham problemas de durabilidade<br />
e estabilidade – e, principalmente, por causa<br />
da eclosão da 2a Guerra Mundial, em 1939,<br />
que fez que todos os esforços tecnológicos<br />
fossem direcionados para a indústria bélica,<br />
impedindo a continuidade de muitos<br />
projetos comerciais, até mesmo por falta de<br />
demanda.<br />
Após o fim do conflito, em 1945, com<br />
a reconstrução da Europa e os fortes<br />
incentivos a um novo mercado de consumo,<br />
muitos desenvolvimentos tecnológicos<br />
ocorridos durante a guerra passaram a ser<br />
aproveitados pela indústria em geral. Os<br />
grandes excedentes industriais, por sua vez,<br />
precisavam ser absorvidos e, por isso, vários<br />
setores, dentre eles o de componentes<br />
eletrônicos, tiveram muita expansão. Houve<br />
grandes avanços nas tecnologias de rádio,<br />
de gravação e de aparelhos eletrônicos<br />
em geral, e a popularização da eletrônica<br />
estimulou muitas pessoas a se dedicarem a<br />
todo o tipo de aplicação, inclusive musical,<br />
tanto nos Estados Unidos quanto na Europa.<br />
Na década de 1950, surgiram centros de<br />
pesquisa para a aplicação da eletrônica<br />
na música, destacando-se os estúdios das<br />
rádios ORTF em Paris (França) e WDR em<br />
Köln (Alemanha). Enquanto os franceses<br />
42 / abril 2019 teclas & afins
sintese sonora<br />
Figura 1 – RCA Electronic Music Synthesizer (encyclotronic.com)<br />
chefiados por Pierre Schaeffer trabalhavam<br />
principalmente com a manipulação de sons<br />
gravados (musique concrète), os alemães,<br />
liderados por Herbert Heimert, exploravam<br />
bastante os sinais senoidais puros e<br />
também a sua combinação para obter novas<br />
sonoridades, num processo tipicamente<br />
aditivo. No entanto, esse processo, que já<br />
tinha sido adotado eletromecanicamente<br />
no Telharmonium e no órgão Hammond,<br />
era extremamente trabalhoso, porque<br />
requeria a manipulação de diversos<br />
geradores senoidais (abordaremos a síntese<br />
aditiva futuramente). Por causa disso, o<br />
grupo alemão, que também era conhecido<br />
como “escola senoidal”, passou a empregar<br />
geradores de sinais mais complexos<br />
harmonicamente (onda quadrada, ruído etc)<br />
e também incorporou em seu laboratório<br />
instrumentos notadamente “subtrativos”,<br />
teclas & afins<br />
como o Melochord, construído por Harald<br />
Bode, e o já citado Trautonium.<br />
Nos Estados Unidos, por sua vez, um<br />
dos marcos no desenvolvimento dos<br />
instrumentos musicais eletrônicos foi o<br />
RCA Music Synthesizer (Fig.1), concluído<br />
em 1955, e que, na verdade, era um grande<br />
sistema de equipamentos integrados que<br />
ocupava uma sala inteira do Columbia-<br />
Princeton Electronic Music Studio. Ele<br />
produzia sons a partir de sinais gerados<br />
por osciladores eletromagnéticos dotados<br />
de diapasões, que eram transformados<br />
em ondas quadrada e dente de serra, e<br />
depois tratados por filtros ressonantes.<br />
Todo esse complexo de circuitos valvulados<br />
era controlado por um sistema digital<br />
primitivo, com recursos de programação –<br />
o que hoje chamamos de sequenciamento<br />
- e o resultado podia ser gravado em disco<br />
abril 2019 / 43
sintese sonora<br />
de acetato ou fita magnética. Apesar de o<br />
projeto não ter tido o sucesso esperado –<br />
a ideia inicial era produzir trilhas sonoras<br />
substituindo orquestras – foi a partir daí que<br />
se passou a usar o termo “sintetizador” para<br />
os equipamentos cuja função é produzir<br />
sons eletronicamente.<br />
O desenvolvimento dos sintetizadores<br />
começou a tomar impulso no início da<br />
década de 1960, sobretudo pelos trabalhos<br />
inovadores dos norte-americanos Bob<br />
Moog e Don Buchla, um em cada lado<br />
dos Estados Unidos. A pedido de artistas<br />
envolvidos com música eletrônica, música<br />
eletroacústica, sound design e trilhas<br />
sonoras, os dois começaram a desenvolver<br />
sintetizadores compostos de módulos<br />
com funções específicas, que, interligados<br />
de diferentes maneiras, permitiam obter<br />
uma gama enorme de resultados sonoros.<br />
O controle dos parâmetros dos módulos<br />
era realizado por sinais de tensão elétrica<br />
(voltage control), o que detalharemos<br />
mais adiante. Embora ambos tenham<br />
começado construindo equipamentos<br />
relativamente desvinculados dos<br />
instrumentos convencionais, orientados<br />
para compositores igualmente não<br />
convencionais e pessoas associadas à<br />
pesquisa sonora, inclusive instituições<br />
de ensino e centros universitários, Moog<br />
acabou integrando o teclado convencional<br />
a seus instrumentos, o que foi um aspecto<br />
fundamental para o seu sucesso comercial,<br />
assim como para a aceitação do sintetizador<br />
efetivamente como um instrumento<br />
musical, alguns anos depois.<br />
Estrutura da síntese subtrativa<br />
O conceito adotado nesses primeiros<br />
sintetizadores para a geração e alteração<br />
do som é o que se chama de síntese<br />
subtrativa. Nesse processo, a estrutura é<br />
composta de módulos, de tal maneira que<br />
um sinal eletrônico rico em harmônicos<br />
(que representa a onda sonora) é gerado<br />
no início do processo e em seguida é<br />
modificado por outros módulos, dando<br />
forma e conteúdo ao produto final (Fig.2).<br />
Dependendo do módulo, o controle<br />
de seus parâmetros pode ser realizado<br />
manualmente, automaticamente, ou<br />
das duas maneiras. O caminho do sinal<br />
pode ser facilmente acompanhado pelo<br />
músico ou compositor, sendo que em<br />
alguns sintetizadores, como no caso dos<br />
“modulares”, é possível até determinar<br />
o fluxo do sinal. Isso torna o processo<br />
relativamente fácil de ser compreendido<br />
e faz que o trabalho de construção sonora<br />
seja bastante produtivo.<br />
Tomando primeiramente como exemplo<br />
o Minimoog - sintetizador totalmente<br />
analógico produzido entre 1970 e 1981 e<br />
que até hoje é uma referência na síntese<br />
subtrativa – é possível ver a estrutura<br />
Figura 2 – Estrutura elementar da síntese subtrativa<br />
44 / abril 2019 teclas & afins
sintese sonora<br />
Figura 3 – Painel do Minimoog<br />
representada diretamente no painel (Fig.3).<br />
Observe que, apesar de o Minimoog ser<br />
composto por módulos, estes já estão<br />
interligados internamente, e não é possível<br />
redirecionar livremente o sinal, como<br />
acontece nos sintetizadores chamados de<br />
“modulares”, que abordaremos em outra<br />
oportunidade.<br />
Na estrutura do Minimoog, existem quatro<br />
geradores de sinal, sendo três osciladores e<br />
um gerador de ruído. Em cada um dos três<br />
osciladores (situados na seção Oscillator<br />
Bank) é possível selecionar uma forma de<br />
onda diferente, entre triangular, dente de<br />
serra, pulso e algumas variações dessas.<br />
Também é possível definir a região (oitava)<br />
de atuação de cada um dos osciladores,<br />
desde uma região muito grave (32’) até<br />
muito aguda (2’) * . Isso permite ajustar<br />
os osciladores para operar em oitavas<br />
diferentes, possibilitando dar “peso” ao<br />
som. Os osciladores 2 e 3 também permitem<br />
fazer um ajuste fino, possibilitando criar<br />
“detune” e produzir desde sons encorpados<br />
(“fat”), até sons impactantes com forte<br />
batimento. Todos os osciladores também<br />
podem ser configurados para gerar sinais<br />
de frequência muito baixa (sub-áudio),<br />
para produzir efeitos. É possível ajustar<br />
também o tempo de portamento (glide) de<br />
uma nota para outra.<br />
A seção Mixer, como o nome sugere,<br />
teclas & afins<br />
permite ajustar a intensidade do sinal de<br />
cada um dos osciladores, do gerador de<br />
ruído (noise) e de um sinal de áudio externo<br />
(um microfone, por exemplo) conectado<br />
no painel traseiro do Minimoog. Nessa<br />
seção, o sinal do gerador de ruído pode ser<br />
escolhido entre ruído branco (White - de<br />
espectro amplo), ou ruído rosa (pink - com<br />
menor presença de agudos).<br />
Em seguida, o sinal mixado vai para a seção<br />
do filtro (Filter), onde acontecem as grandes<br />
transformações de timbre, conforme<br />
os ajustes efetuados na frequência de<br />
corte (cutoff frequency) e na ressonância<br />
(enphasis), assim como na dinâmica da<br />
sua atuação, por meio do controle do<br />
envelope (attack, decay, sustain) que<br />
existe especificamente para o filtro. No<br />
caso do Minimoog, o filtro é do tipo “lowpass”,<br />
que atenua as frequências acima de<br />
determinado ponto, e sua atenuação é da<br />
ordem de 24 dB/oitava (veremos detalhes<br />
sobre os filtros futuramente).<br />
O timbre resultante do filtro então é<br />
direcionado ao amplificador (Loudness<br />
Contour), onde a intensidade do sinal é<br />
formatada dinamicamente pelo envelope<br />
(attack, decay, sustain).<br />
Não existe uma seção específica de LFO (low<br />
frequency oscillator) no Minimoog, mas é<br />
*<br />
A notação das oitavas em medidas de pés (32’, 16’, 8’, etc) vem do padrão utilizado nos<br />
órgãos de tubos, e é muito comum nos sintetizadores mais antigos.<br />
abril 2019 / 45
sintese sonora<br />
Figura 4 – Estrutura de síntese subtrativa do Roland FA-06<br />
possível modular (modificar) a afinação e/<br />
ou o corte do filtro pelo oscilador 3 ou pelo<br />
ruído (ativando a modulação pelas chaves<br />
Oscillator Modulation e Filter Modulation),<br />
e controlando a quantidade de modulação<br />
manualmente pela roda de Modulation.<br />
O Minimoog é um instrumento monofônico,<br />
isto é, só toca uma nota de cada vez e,<br />
portanto, não produz acordes. Sendo um<br />
instrumento analógico e monofônico,<br />
quando se ajusta um botão correspondente<br />
a determinado parâmetro, aquele botão é<br />
o próprio potenciômetro do circuito que<br />
está sendo ajustado.<br />
A síntese subtrativa também foi<br />
implementada em instrumentos bem<br />
mais moderno, como o Roland FA-06. Esse<br />
sintetizador também pode gerar timbres<br />
por processo de síntese por modelagem<br />
física (que abordaremos futuramente), de<br />
maneira que é possível misturar timbres<br />
gerados pelos dois processos, mas, por<br />
ora, focaremos apenas nos seus recursos<br />
de síntese subtrativa.<br />
A Figura 4 mostra a estrutura de síntese<br />
subtrativa do FA-06. Observe que<br />
essa estrutura é composta de quatro<br />
“subestruturas” (Partial 1 a Partial 4), cada<br />
uma contendo um módulo de oscilador<br />
(Wave), um módulo de filtro (TVF) e um<br />
módulo amplificador (TVA), sendo que<br />
cada um desses módulos possui um<br />
gerador de envelope (Env). Cada uma das<br />
subestruturas de Partial ainda contém<br />
dois LFOs, que podem ser direcionados<br />
a quaisquer dos três módulos. Os sinais<br />
gerados e processados nos quatro Partial<br />
são então mixados e aplicados a um<br />
módulo de multiefeitos. Tente comparar<br />
essa estrutura com a do Minimoog.<br />
Alguns aspectos devem ser observados<br />
com relação ao processo implementado<br />
no FA-06 – e que ocorre em quase todos<br />
os instrumentos modernos. Em primeiro<br />
lugar, esse sintetizador utiliza tecnologia<br />
totalmente digital. Todos os processos de<br />
geração de timbres, processamento de<br />
efeitos, sequenciamento, gerenciamento<br />
de notas do teclado e de controles do<br />
painel são realizados por meio de chips<br />
processadores digitais que operam<br />
por software. Portanto, não existem<br />
circuitos eletrônicos individuais para cada<br />
módulo (oscilador, filtro, amplificador<br />
etc), porque os “sinais”, na verdade, são<br />
virtuais, representados por números que<br />
são trabalhados apropriadamente pelo<br />
software. Desta forma, quando o músico<br />
gira um botão para ajustar a frequência do<br />
filtro, por exemplo, aquele botão não está<br />
controlando diretamente o sinal eletrônico<br />
do filtro, mas informa ao processador o que<br />
deve ser feito com os dados do sinal que<br />
está sendo filtrado digitalmente. Muitos<br />
artistas alegam que esse tipo de ação<br />
“indireta” é uma das diferenças em relação<br />
aos sintetizadores analógicos, que seriam<br />
mais “orgânicos”.<br />
Outro aspecto é o imenso potencial<br />
sonoro que se tem ao somar quatro<br />
subestruturas, cada qual com sua forma<br />
de onda, seu filtro e seu amp, e respectivos<br />
46 / abril 2019 teclas & afins
sintese sonora<br />
geradores de envelope. Os timbres<br />
resultantes são de fato potencialmente<br />
muito ricos. Acrescente a isso o fato de<br />
que o oscilador (Wave) pode produzir uma<br />
enorme diversidade de formas de onda,<br />
desde as sintéticas (dente de serra, pulso,<br />
triangular etc) e ruídos até amostras de<br />
timbres acústicos (samples). E que o filtro<br />
pode ser configurado para operar como<br />
low-pass, high-pass, dentre outros tipos.<br />
Há que se destacar que, na maioria dos<br />
sintetizadores modernos, nem todos os<br />
controles dos parâmetros estão no painel,<br />
de maneira que muitos deles têm que ser<br />
acessados e manipulados por meio de<br />
uma tela e algum controle genérico. Isso<br />
reduz a espontaneidade e a rapidez da<br />
operação. Por outro lado, os instrumentos<br />
digitais podem ser facilmente integrados<br />
a softwares de produção musical, via MIDI.<br />
Por fim, há ainda a questão da polifonia.<br />
O FA-06, por exemplo, pode tocar até<br />
128 notas simultâneas, dependendo<br />
da maneira como estiver configurado.<br />
Ou seja, o instrumento pode conter<br />
simultaneamente até 128 estruturas<br />
iguais à ilustrada da Fig. 4. Isso só é viável<br />
por software. Só a título de comparação,<br />
imagine 128 Minimoogs juntos!<br />
Analógico ou digital<br />
Como vimos com esses dois exemplos,<br />
o processo de síntese subtrativa pode<br />
ser implementado com tecnologia<br />
analógica ou digital. No primeiro caso,<br />
há uma tremenda limitação em termos<br />
funcionais, porque qualquer função ou<br />
recurso precisa ser construído fisicamente<br />
na forma de um circuito eletrônico,<br />
que ocupa espaço, consome energia, e,<br />
dependendo da sua complexidade, tem<br />
um custo significativo no instrumento.<br />
Por outro lado, a sonoridade do sinal<br />
teclas & afins<br />
Figura 5 – Painel do Roland FA-06<br />
analógico é única, porque a combinação<br />
de tantos componentes, cada qual<br />
com seus desvios de tolerância, acaba<br />
dando uma singularidade própria ao<br />
conjunto. A atuação imediata do músico,<br />
ajustando pontualmente o sinal, também<br />
é outra característica que destaca a<br />
tecnologia analógica. Por causa disso,<br />
os sintetizadores analógicos, antigos<br />
e atuais, tendem a ser mais simples e<br />
mais caros, porém podem proporcionar<br />
timbres marcantes.<br />
No caso dos instrumentos digitais,<br />
a evolução crescente da capacidade<br />
e velocidade de processamento dos<br />
chips, assim como o aprimoramento<br />
dos softwares, possibilitou incorporar<br />
cada vez mais funções dentro do mesmo<br />
sintetizador. A facilidade de gerar ondas<br />
sintéticas e reproduzir sons acústicos<br />
trouxe uma vasta variedade de timbres<br />
para os artistas mais exigentes. Ampla<br />
polifonia e outros recursos, tais como<br />
sequenciamento, processamento de<br />
efeitos, integração com softwares no<br />
computador e diversas outras facilidades,<br />
além de uma excelente relação preço/<br />
peso/recursos, fazem dos sintetizadores<br />
digitais provavelmente a alternativa<br />
abril 2019 / 47
sintese sonora<br />
mais prática.<br />
Qual a melhor sonoridade: analógica ou<br />
digital? Esta questão eu vou deixar para<br />
cada um decidir. Sugiro ouvir um e outro,<br />
e escolher aquele que melhor lhe agradar<br />
naquilo que lhe é importante.<br />
No próximo artigo veremos como<br />
manipular os parâmetros do oscilador.<br />
Por uma questão prática, vamos usar<br />
exemplos de sintetizadores virtuais<br />
(software), mas isso não significa uma<br />
preferência. Os exemplos, de certa<br />
maneira, poderão ser experimentados<br />
em diferentes sintetizadores, digitais e<br />
analógicos. Até lá!<br />
Referências<br />
DARTER, Tom. The Art of Electronic Music. GPI Books. USA, 1984.<br />
JUDD, F. C. Electronic Music and Musique Concrète. Foruli Classics.<br />
London, UK, 2013.<br />
OLSON, Harry; BELAR, Herbert. Electronic Music Synthesizer. In: The<br />
Journal of the Acoustical Socity of America. Vol.27, No.3. USA, 1955.<br />
MENEZES, Flo. Música Eletroacústica – História e Estéticas. Edusp.<br />
São Paulo, 2009.<br />
MOOG MUSIC INC. The Minimoog Synthesizer Operation Manual.<br />
Williamsville, USA, 1972.<br />
PINCH, Trevor; TROCCO, Frank. Analog Days – The Invention<br />
and Impact of the Moog Synthesizer. Harvard University Press.<br />
Cambridge, USA, 2002.<br />
ROLAND CORP. FA-06 Reference Manual. Japan, 2017.<br />
Miguel Ratton<br />
Engenheiro em eletrônica, e há mais de trinta anos atua no segmento de tecnologia musical, realizando projetos de<br />
equipamentos e sistemas, manutenção de sintetizadores e prestando consultoria técnica. É autor de vários livros sobre<br />
MIDI, áudio e sintetizadores. Para saber mais, visite ratton.com.br e facebook.com/m.ratton.eng.tec<br />
48 / abril 2019 teclas & afins
it.ly/EK-50<br />
WWW.KORG.COM.BR
ESTUDIO<br />
POR nilton corazza<br />
O ponto certo<br />
Os diferentes caminhos que o áudio percorre<br />
em um estúdio interferem drasticamente no<br />
resultado da mixagem<br />
O músico trabalha, ansiosamente, em um<br />
estúdio superequipado para terminar sua<br />
mixagem - prometendo à companheira<br />
que estará por volta das 11:30h em casa.<br />
Mas chega somente às três horas da<br />
manhã, orgulhoso, pronto para mostrar<br />
o que fez a ela. Tira, então, uma mídia da<br />
mochila, reproduz o arquivo no aparelho<br />
de som, escuta e pensa, desesperado:<br />
“A voz ficou meio magra e com pouco<br />
volume. Cadê o baixo? As guitarras estão<br />
muito altas. Onde estão os efeitos?” Volta<br />
ao estúdio e escuta a mixagem, que soa<br />
diferente, perfeita. Então fica estressado e<br />
achando que todo tempo dedicado àquele<br />
processo foi em vão.<br />
Por que isso acontece?<br />
Inicialmente, é necessário entender o que<br />
ocorre com o som em uma mixagem. O áudio<br />
© Drew Patrick Miller @ unsplash.com<br />
50 / janeiro abril 2019 2019 teclas & afins
ESTUDIO<br />
faz dois caminhos diferentes: o eletrônico e<br />
o acústico. O primeiro é o que ele percorre<br />
até o gravador da mixagem (computador<br />
ou até um gravador analógico de ½”ou de<br />
¼”) e o segundo, da fonte sonora (mixer<br />
ou interface de áudio) aos monitores de<br />
referência (caixas acústicas), chegando até<br />
os ouvidos. Todo o tratamento “eletrônico”<br />
aplicado à mixagem é determinado pelo<br />
que se escuta por meio do meio acústico.<br />
O erro ocorre quando se pensa que os<br />
dois caminhos são iguais. Enquanto<br />
computador ou gravador analógico recebe<br />
o sinal da mixagem diretamente, as caixas<br />
ou monitores de referência estão no meio<br />
acústico, como uma sala de controle ou<br />
de mixagem. Nela, podem existir móveis,<br />
equipamentos e outros objetos, além<br />
de janelas, portas com vários tipos de<br />
superfícies etc. nas quais o som pode se<br />
difundir, refletir e (ou) ser absorvido.<br />
Mesmo próximo aos monitores de referência,<br />
o que se escuta sempre é o som modificado,<br />
acusticamente, pelos fenômenos citados.<br />
Mas há outro ponto que deve ser levado<br />
em consideração: é muito comum perder<br />
a sensibilidade às altas freqüências ao<br />
ficar exposto a uma determinada pressão<br />
sonora durante várias horas seguidas,<br />
resultando em fadiga auditiva. Enquanto<br />
isso, o gravador da mixagem recebe o<br />
mesmo sinal diretamente dos fios, sem a<br />
influência acústica e sem sofrer desse mal.<br />
Então, surge a questão: as especificações<br />
dos monitores de referência atestam<br />
que a resposta de freqüência é plana (ou<br />
flat). Deve-se lembrar, no entanto, que<br />
esses monitores são testados em câmaras<br />
anecóicas, salas utilizadas para testes<br />
de precisão sonora, em que não existem<br />
quaisquer reflexões ou em que são mínimas.<br />
Quantas pessoas escutam música numa<br />
câmara anecóica?<br />
FATORES QUE MERECEM<br />
ATENÇÃO<br />
Qualidade de energia elétrica<br />
•<br />
Qualidade dos cabos e conectores<br />
de áudio<br />
•<br />
Conexões feitas corretamente<br />
(sempre se deve verificar o manual<br />
do usuário dos equipamentos)<br />
•<br />
Onde e como estão posicionados<br />
os monitores de referência ou as<br />
caixas acústicas<br />
•<br />
Características acústicas da sala<br />
e como se percebem as baixas,<br />
médias e altas freqüências<br />
Outro ponto importante: o dono do estúdio<br />
provavelmente contratou um engenheiro<br />
acústico para projetar a sala ideal para<br />
mixagem, repleta de painéis acústicos,<br />
bass-traps (armadilha de graves), difusores,<br />
refletores. Quantas pessoas possuem tal<br />
tratamento acústico em algum dos recintos<br />
domésticos? Ou quantos estúdios você<br />
conhece que investiram certa quantia num<br />
projeto acústico?<br />
Soluções<br />
Mixagens com excesso de graves: é<br />
provável que os monitores não respondam<br />
à quantidade de baixas freqüências (ou<br />
graves) suficiente ou então a sala tem certa<br />
deficiência na reprodução delas.<br />
teclas & afins<br />
janeiro abril 2019 / 51
ESTUDIO<br />
Mixagens opacas ou sem brilho: os<br />
monitores soam muito brilhantes ou a sala<br />
possui muitos elementos absorvedores de<br />
altas freqüências, como espumas e carpetes,<br />
provendo certa deficiência na reprodução<br />
delas. Os monitores, juntamente com a sala,<br />
estão modificando o som e a resposta de<br />
frequência. Essas características do meio<br />
acústico não são adicionadas ao som que<br />
percorre o caminho direto para o gravador<br />
de mixagem por meio dos cabos.<br />
Mixagens sem “energia” ou “punch”<br />
e monitores com muita “energia” ou<br />
“punch”: os monitores podem estar mal<br />
configurados.<br />
© Bruno Araujo @ unsplash.com<br />
Vocais “magros”: é muito provável que<br />
a sala em que foi feita a mixagem tenha<br />
problemas na reprodução das médias,<br />
médio-altas ou médio-baixas frequências.<br />
“Imagem” estereofônica diferente:<br />
pode ser que as reflexões primárias,<br />
que ocorrem entre a superfície dos<br />
equipamentos próximos até os ouvidos,<br />
estejam “borrando” a mixagem, fazendo<br />
os detalhes dos efeitos utilizados serem<br />
quase imperceptíveis.<br />
Cuidados<br />
Mesmo com a aquisição de monitores<br />
ativos de valor elevado, podem “sobrar”<br />
graves nas mixagens quando reproduzidas<br />
em equipamentos domésticos de som.<br />
Deve-se lembrar que os cabos de sinal<br />
de áudio, os de alimentação de energia<br />
elétrica, a sala de mixagem, os préamplificadores<br />
da seção de monitoração<br />
da interface, mixer ou mesa de som e os<br />
amplificadores de potência que alimentam<br />
as caixas de referência são determinantes<br />
para a precisão e o bom rendimento<br />
dos equipamentos. Todos esses fatores<br />
influenciam na qualidade da mixagem.<br />
Além disso, os ouvidos são ferramenta<br />
básica para julgar um amplificador, mesmo<br />
que as especificações dele afirmem que a<br />
resposta de freqüência é plana de 20Hz ate<br />
20 kHz, pois poderão soar “opacos”, “ardidos”,<br />
sem “punch” ou até acabar com a “imagem”<br />
estereofônica da mixagem, proporcionando<br />
uma monitoração imprecisa.<br />
O técnico que está realizando a mixagem<br />
deve concentrar-se em escutar suas<br />
mixagens e outras, de discos de que goste,<br />
em vários sistemas diferentes. Além disso,<br />
deve procurar entender como a acústica<br />
influencia na resposta de freqüência de<br />
suas caixas e no conteúdo total delas que<br />
chega aos seus ouvidos.<br />
52 / janeiro abril 2019 2019 teclas & afins
acordeon sem limites<br />
Eneias Bittencourt<br />
O exercício da múltipla<br />
escolha<br />
Possibilidades livres, não acadêmicas, para o dedilhado<br />
da mão direita<br />
Algumas configurações de dedilhado<br />
podem parecer estranhas, mas, não deixam<br />
de ser possibilidades. Ter a cinestesia<br />
dessas possibilidades pode ser a salvação<br />
naquele momento de desatenção, a decisão<br />
quase que inconsciente pode ser rápida e<br />
eficiente. E não só isso: pode se tornar um<br />
padrão em muitos casos em que a melhor<br />
opção é o menor esforço e a maior fluência.<br />
O exercício da cinestesia consciente – tema<br />
já abordado em outra edição de Teclas &<br />
Afins – cria novas sinapses cerebrais.<br />
Estudos comprovam que a habilidade<br />
motora alavanca esse processo.<br />
Portanto, como sempre digo, é preciso<br />
pensar em tudo o que se executa, separar<br />
um tempo para o exercício mental. A<br />
observação minuciosa do dedilhado é<br />
teclas & afins<br />
ABRIL 2019 / 53
acordeon sem limites<br />
um excelente meio...<br />
Tocar “no automático” é diferente de tentar<br />
mapear e mentalizar os movimentos. Sim,<br />
tocamos (nos apresentamos), em grande<br />
parte, “no automático”, mas devemos<br />
estudar objetivando a razão das coisas.<br />
O dedilhado da mão direita<br />
Sabemos que, tradicionalmente, o<br />
dedilhado adotado para o acordeon é o<br />
mesmo utilizado no piano. É o chamado:<br />
“dedilhado acadêmico”.<br />
Devemos ter em mente também que, no<br />
ambiente popular, esse dedilhado é nosso<br />
ponto de partida, é o material didático que<br />
nos permite começar. Nada nos impede –<br />
e a exceção confirma a regra – explorar<br />
outras possibilidades. E essa possibilidade<br />
é chamada de “dedilhado livre” ou<br />
“dedilhado popular”, denominação essa<br />
que não tem por finalidade expressar um<br />
caráter pejorativo.<br />
A decisão pela configuração do dedilhado<br />
de um determinado trecho passa por<br />
alguns critérios:<br />
• Andamento: batimentos (tempo) por<br />
minuto;<br />
• Ritmo melódico: número de notas por<br />
tempo;<br />
• Região: metade inferior ou superior do<br />
teclado;<br />
• Dimensão espacial: o que antecede e<br />
sucede o trecho;<br />
• Fisiologia: tamanho das mãos, dedos e<br />
braços; em pé ou sentado; um eventual<br />
problema físico;<br />
• Ergonomia da parte do instrumento:<br />
largura e resistência (pressão) das teclas;<br />
• Relevo: a depender da tonalidade<br />
(relação entre teclas brancas e pretas);<br />
• Sensibilização e fluência: acentuações<br />
de notas específicas; ligaduras de<br />
expressão.<br />
Seguem pequenas dicas que serão<br />
suficientes para que o acordeonista possa<br />
expandir suas possibilidades.<br />
Escolhi para este ensaio a frase de saída<br />
da parte “B” de um clássico do nosso<br />
repertório: “Tico-Tico no Fubá”, de<br />
Zequinha de Abreu.<br />
Não é novidade para ninguém dizer que<br />
a tonalidade é “Lá” e a modalidade é<br />
“menor”, e que na parte “B” a modulação<br />
ocorre para “maior”.<br />
54 / ABRIL 2019 teclas & afins
acordeon sem limites<br />
Repare que o dedilhado das três primeiras notas<br />
do segundo tempo do segundo compasso<br />
ganharia a reprovação de qualquer professor<br />
acadêmico! Mas perceba a conveniência<br />
desta opção, uma vez que os dedos já estão<br />
posicionados previamente, ao digitar as notas<br />
anteriores. Quanto mais velocidade se aplica,<br />
mais a possibilidade ganha crédito.<br />
Esta opção se mostra ainda mais eficaz quando<br />
transposta uma oitava acima. Regiões agudas<br />
promovem maior desconforto no pulso ao executar<br />
o dedilhado acadêmico. Sugestões como<br />
esta eliminam o desconforto e promovem maior<br />
fluência, principalmente ao se tocar em pé.<br />
Nesta versão, em sextas, identifique as notas digitadas de maneira não acadêmica.<br />
Ainda no padrão de sextas, porém, com mais liberdade.<br />
É isso! Envie sua sugestão e suas perguntas!<br />
Até a próxima e bons sons a todos!<br />
Eneias Bittencourt<br />
Gaúcho, é escritor e editor de material didático e luthier de acordeon. Atuou como músico profissional, arranjador e<br />
produtor musical. Dedica-se a desenvolver soluções didáticas e técnicas para acordeon. Em 2007 lançou seu primeiro<br />
livro, “Acordeon sem Limites”, que dá início à retomada da produção didática para acordeon no Brasil, então estagnada<br />
por mais de 20 anos. É proprietário do primeiro site dedicado a aulas online para acordeon no Brasil.<br />
www.aprendacordeon.com.br - leandroeneiasbittencourt@hotmail.com<br />
teclas & afins<br />
© Divulgação - Clever Barbosa<br />
ABRIL 2019 / 55
arranjo comentado<br />
por rosana giosa<br />
“Lugar comum”<br />
Composta originalmente como o tema instrumental “Índio<br />
Perdido”, a canção ganhou letra de Gilberto Gil e figura entre as<br />
mais conhecidas do pianista e compositor João Donato<br />
O pianista, acordeonista, arranjador, cantor<br />
e compositor João Donato nasceu em<br />
Rio Branco, no Acre, em 17 de agosto de<br />
1934. Foi amigo de todos os expoentes<br />
da bossa nova, como João Gilberto, Tom<br />
Jobim, Vinícius de Moraes e Johnny Alf,<br />
entre outros, mas nunca foi caracterizado<br />
unicamente como tal, e sim um músico<br />
muito criativo e que promove fusões musicais,<br />
de jazz e música latina, entre tantos<br />
outros. Em entrevista exclusiva à revista<br />
Teclas & Afins, afirmou que o que faz é<br />
jazz latino-brasileiro.<br />
Suas composições mais conhecidas, em sua<br />
maioria, eram instrumentais, ganhando<br />
letra mais tarde, por conta da necessidade<br />
de atingir a um maior público. “As minhas<br />
primeiras letras surgiram a partir desses<br />
temas instrumentais já gravados, que<br />
eu pensava que não iam ter letra nunca.<br />
“Bananeira” era “Villa Grazia”, o nome da<br />
pousadinha onde a gente ficou em Lucca,<br />
na Itália, acompanhando o João Gilberto<br />
numa temporada (...). Noventa e nove por<br />
© Divulgação - Clever Barbosa<br />
56 / ABRIL 2019 teclas & afins
arranjo comentado<br />
cento das minhas músicas instrumentais<br />
trocaram de nome, por causa da letra” diz<br />
João Donato. Um exemplo desse fato é<br />
“Lugar Comum”, composta originalmente<br />
como “Índio Perdido”, que mudou de nome<br />
após receber letra de Gilberto Gil.<br />
O tema foi apresentado no disco A Bossa<br />
Muito Moderna de Donato e Seu Trio, de<br />
1963, e regravado posteriormente, já com<br />
letra, no álbum Lugar Comum, em 1975. No<br />
texto de apresentação deste álbum, João<br />
Donato conta: “A origem da primeira música,<br />
‘Lugar comum’, que dá nome ao disco, é um<br />
assobio de um homem descendo a canoa<br />
no Rio Acre, em Rio Branco. O rio passa<br />
bem no meio da cidade. Ao cair da tarde,<br />
eu estava lá, pequenininho ainda, com uns<br />
sete ou oito anos, não me lembro bem.<br />
Passou uma canoa com o cara assobiando,<br />
e eu fiquei melancólico pela primeira vez<br />
na minha vida, um sentimento até então<br />
desconhecido para mim. Fiquei pensando,<br />
‘por que eu fiquei assim?’, mas eu sabia que<br />
esse sentimento vinha daquele assobio e<br />
eu guardei a melodia”.<br />
No Songbook do músico editado por Almir<br />
Chediak, Donato conta: “A letra de ‘Lugar<br />
Comum’ foi escrita em Itapuã, no verão,<br />
estimulada pela sensação boa de estar ali<br />
e de ali ser um lugar comum a tanta gente<br />
comum – pela ideia de comunidade”.<br />
O arranjo<br />
A levada rítmica desta música é diferente<br />
daquela dos sambas clássicos. Assim é<br />
a música de João Donato: suas levadas<br />
únicas imprimem uma marca que se<br />
tornou sua característica registrada. Sua<br />
música é sempre leve e alto astral e suas<br />
levadas assim também o são. Desse modo,<br />
este arranjo repete sua levada de dois<br />
compassos durante as partes A1, A2 e A3,<br />
só mudando na parte B para uma nova<br />
teclas & afins<br />
levada, muito gostosa e que também se<br />
repete durante toda parte B.<br />
Introdução – apresenta a levada que será a<br />
base de toda parte A;<br />
A1 - com essa mesma levada, o tema<br />
se apresenta, sempre com dois acordes<br />
apenas, que se repetem. Contracantos<br />
completam as notas longas do tema;<br />
A2 - as intervenções agora se apresentam<br />
com acordes, de forma mais completa;<br />
B - o ritmo aqui se distribui nas duas mãos<br />
em uma instrumentação que chamamos de<br />
“distribuição de acordes”. Há quatro vozes<br />
nesse momento. A voz mais grave que imita<br />
o contrabaixo, as duas vozes intermediárias,<br />
que fazem a mesma divisão, e a voz da<br />
melodia. Essa coordenação é trabalhosa,<br />
mas muito interessante e pianística e,<br />
apesar da dificuldade, uma vez resolvida,<br />
se repete em todo B;<br />
A3 - o tema se apresenta agora em oitavas;<br />
A4 - o tema desce para a oitava central<br />
novamente e se encaminha para a Coda,<br />
surpreendentemente em um acorde de<br />
Do dominante, dando uma sensação de<br />
suspensão.<br />
ABRIL 2019 / 57
arranjo comentado<br />
Arranjo: Rosana Giosa<br />
“Lugar Comum”<br />
<br />
Introdução<br />
A 7 sus 4<br />
A 7<br />
<br />
<br />
<br />
Dmaj 7 /A<br />
<br />
<br />
<br />
Introdução<br />
2 4 <br />
A 7 sus 4<br />
A 7<br />
<br />
<br />
<br />
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<br />
Dmaj<br />
7 /A<br />
<br />
Introdução<br />
A 7 sus 4<br />
A 7<br />
<br />
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<br />
Dmaj 7 /A<br />
<br />
<br />
<br />
Introdução<br />
2 4 <br />
A 7 sus 4<br />
A 7<br />
<br />
<br />
<br />
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<br />
Dmaj<br />
7 /A<br />
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2 <br />
4 <br />
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2 <br />
4 <br />
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A<br />
A<br />
A<br />
A <br />
7 sus 4<br />
Dmaj <br />
7 Dmaj 7 A<br />
A1<br />
7 sus 4<br />
6<br />
<br />
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<br />
7 sus<br />
<br />
4<br />
<br />
Dmaj<br />
<br />
7 Dmaj<br />
<br />
<br />
7 A<br />
A1<br />
7 sus 4<br />
<br />
6<br />
7 sus 4<br />
Dmaj <br />
7 Dmaj 7 A<br />
A1<br />
7 sus 4<br />
6<br />
<br />
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7 sus<br />
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4<br />
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Dmaj<br />
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<br />
7 Dmaj<br />
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7 A<br />
A1<br />
7 sus 4<br />
6<br />
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Dmaj <br />
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7 /A<br />
<br />
A 7 sus 4<br />
11<br />
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Dmaj<br />
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7 /A<br />
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A<br />
7 sus <br />
4 11<br />
Dmaj <br />
<br />
7 /A<br />
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A 7 sus 4<br />
11<br />
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Dmaj<br />
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7 /A<br />
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A<br />
7 sus 4<br />
11<br />
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Dmaj<br />
Dmaj 7 A2<br />
Dmaj<br />
Dmaj 7 A2<br />
<br />
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A<br />
<br />
7 <br />
sus 4<br />
Dmaj <br />
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<br />
<br />
7 /A<br />
16 7 A2<br />
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A<br />
<br />
7<br />
<br />
sus 4<br />
Dmaj <br />
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7 /A<br />
<br />
16<br />
<br />
A<br />
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7 <br />
sus 4<br />
Dmaj <br />
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7 /A<br />
16 7 A2<br />
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A<br />
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7<br />
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sus 4<br />
Dmaj <br />
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7 /A<br />
16<br />
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João Donato - Gilberto Gil<br />
58 / ABRIL 2019 teclas & afins
arranjo comentado<br />
<br />
A<br />
7 sus 4 Dmaj 7 A 7<br />
<br />
<br />
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21<br />
<br />
A<br />
7 sus 4 Dmaj 7 A 7<br />
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21<br />
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A<br />
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7 sus<br />
4<br />
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Dmaj<br />
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7 A 7<br />
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21<br />
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B<br />
B<br />
B<br />
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Gmaj <br />
7 C 7 sus 4 <br />
<br />
Gm <br />
7 B <br />
7 sus 4 <br />
Em 7<br />
26<br />
<br />
Gmaj <br />
7 C 7 sus 4 <br />
<br />
Gm <br />
7 B <br />
7 sus 4 <br />
Em 7<br />
26<br />
<br />
Gmaj<br />
<br />
7 C<br />
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7 sus 4 <br />
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Gm<br />
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7 B <br />
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7 sus 4 <br />
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Em<br />
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7<br />
26<br />
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A 7 E <br />
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7<br />
Dmaj7<br />
A 7<br />
Gmaj <br />
7<br />
C <br />
7 sus 4<br />
31<br />
<br />
A 7 E <br />
<br />
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7<br />
Dmaj7<br />
A 7<br />
Gmaj <br />
7<br />
C <br />
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7 sus 4<br />
31<br />
<br />
A<br />
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7 E<br />
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7<br />
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Dmaj7<br />
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A 7<br />
Gmaj<br />
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7<br />
C <br />
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7 sus 4<br />
31<br />
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Gm Gm <br />
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7 B <br />
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7 sus 4 B <br />
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Em7 <br />
7<br />
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A<br />
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7 sus 4<br />
36<br />
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7 B <br />
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7 sus 4 B <br />
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Em7 <br />
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7<br />
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A<br />
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7 sus 4<br />
36<br />
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Gm<br />
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7 B <br />
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7 sus 4 B<br />
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Em7 <br />
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7<br />
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A<br />
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7 sus 4<br />
36<br />
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teclas & afins<br />
ABRIL 2019 / 59
A3<br />
7 sus 4<br />
Dmaj <br />
7 /A<br />
<br />
A3 A 7 sus 4<br />
Dmaj<br />
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7 /A<br />
A3 A 7 sus 4<br />
Dmaj<br />
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7 /A<br />
A3 A<br />
7 sus 4<br />
Dmaj<br />
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7 /A<br />
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A<br />
A<br />
A 7 sus 4 <br />
Dmaj 7 <br />
7 sus 4<br />
A4<br />
46<br />
<br />
7 sus 4 <br />
Dmaj 7 <br />
<br />
A 7 sus 4<br />
<br />
<br />
A4<br />
46<br />
<br />
7 sus 4 <br />
Dmaj 7 A <br />
<br />
7 sus 4<br />
<br />
A4<br />
46<br />
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7 sus<br />
4<br />
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Dmaj<br />
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7 A<br />
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7 sus 4<br />
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A4<br />
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46<br />
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arranjo comentado<br />
B 7 sus 4<br />
B 7 sus 4<br />
B 7 7 sus<br />
sus 4 4<br />
41<br />
41<br />
41<br />
41<br />
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Dmaj 7 /A<br />
7 sus 4<br />
51<br />
<br />
Dmaj <br />
<br />
7 /A<br />
<br />
A 7 sus 4<br />
51<br />
<br />
Dmaj <br />
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7 /A<br />
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A 7 sus 4<br />
51<br />
<br />
Dmaj<br />
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7 /A<br />
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A<br />
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7 sus<br />
4<br />
51<br />
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Dmaj 7 Coda<br />
A<br />
Dmaj 7 Coda<br />
A<br />
Dmaj<br />
Dmaj 7 7 Coda<br />
Coda A 7 sus 4<br />
Dmaj 7 56<br />
<br />
<br />
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7 sus 4<br />
Dmaj <br />
<br />
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7 56<br />
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7 sus 4<br />
Dmaj<br />
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7 56 <br />
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7 sus<br />
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4<br />
Dmaj<br />
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7 56<br />
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60 / ABRIL 2019 teclas & afins
arranjo comentado<br />
<br />
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A<br />
7 sus<br />
4 C<br />
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7<br />
61<br />
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Rosana Giosa<br />
Pianista de formação popular e erudita, vive uma intensa relação com a música dividindo seu trabalho entre<br />
apresentações, composições, aulas e publicações para piano popular. Pela sua Editora Som&Arte lançou três<br />
segmentos de livros: Iniciação para piano 1, 2 e 3; Método de Arranjo para Piano Popular 1, 2 e 3; e Repertório<br />
para Piano Popular 1, 2 e 3. Com seu TriOficial e outros músicos convidados lançou o CD Casa Amarela, com<br />
composições autorais. É professora de piano há vários anos e desse trabalho resultou a gravação de nove CDs<br />
com seus alunos: quatro CDs coletivos com a participação de músicos profissionais e seis CDs-solo.<br />
Contato: rosana@editorasomearte.com.br<br />
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teclas & afins<br />
ABRIL 2019 / 61
mundo gospel<br />
POR andersen medeiros<br />
O acorde alterado<br />
Com sonoridade de alto nível e, ao mesmo tempo, complexo<br />
para aplicação e compreensão harmônica, o acorde alterado<br />
se destaca por ser difícil e perfeito ao mesmo tempo<br />
Há algumas edições, falamos do acorde<br />
dominante com sétima e nona bemol<br />
(X7b9), um acorde com característica<br />
melancólica. Nesta, vamos falar do acorde<br />
dominante alterado, um acorde com<br />
característica jazzística. Ao contrário do<br />
outro, este tem uma sonoridade carregada<br />
pela quantidade de tensões consonantes<br />
e dissonantes. É possível afirmar que sua<br />
sonoridade é um pouco congestionada,<br />
porém, de alto nível e, ao mesmo tempo,<br />
complexo para aplicação e compreensão<br />
harmônica.<br />
O acorde alterado se destaca por ser<br />
difícil e perfeito ao mesmo tempo. Sua<br />
visualização no instrumento é diferente de<br />
qualquer outro tipo de acorde existente,<br />
© Jordan Whitfield @ unsplash.com<br />
isso em qualquer tonalidade e em qualquer<br />
instrumento. A sonoridade é típica do estilo<br />
popular por suas dissonâncias e, por esse<br />
motivo, há a dificuldade de aplicação, pois<br />
não se deve aplicar o acorde alterado em<br />
uma harmonia simples apenas com tríades<br />
(seria como falar em idiomas diferentes). E,<br />
digo mais, talvez nem com tétrades: o ideal<br />
seria uma aplicação com pentacordes.<br />
Em minha jornada musical, passei muitos<br />
anos para entender sua aplicação por não<br />
conseguir imaginar onde um acorde tão<br />
dissonante poderia se encaixar em uma<br />
música. Na igreja, era ainda mais difícil,<br />
principalmente na época em que as músicas<br />
seguiam uma linha mais conservadora e de<br />
harmonia previsível.<br />
Como citei no início, não combina tocar<br />
o acorde alterado com acordes simples,<br />
pois fica realmente estranho. É como<br />
se ele pedisse outros acordes cheios de<br />
tensões do nível dele. Verdadeiramente,<br />
um acorde com cara de jazz. Para que você<br />
possa entender melhor isso, recomendo<br />
que experimente testar o acorde alterado<br />
em progressões com acordes simples<br />
como tríades, usando as progressões e<br />
aplicações em músicas apresentadas aqui<br />
nesta matéria.<br />
Formação<br />
De forma teórica, o acorde alterado se trata<br />
de um acorde dominante originado de sua<br />
própria escala, a escala alterada, podendo<br />
62 / ABRIL 2019 teclas & afins
mundo gospel<br />
ser aplicado tanto no modo maior quanto<br />
menor. A capacidade de encadeamento<br />
também está relacionada a acordes com<br />
muitas tensões consonantes e dissonantes.<br />
Pela dissonância do acorde alterado, tornase<br />
mais difícil harmonizar qualquer música.<br />
Pela incompatibilidade com as notas da<br />
escala da tonalidade, a probabilidade de<br />
conflito com a melodia é muito alta, ou<br />
seja, para o acorde realmente “encaixar”,<br />
a melodia não pode repousar perto das<br />
notas dissonantes do acorde alterado. É<br />
possível perceber isso rapidamente, pois<br />
com o acorde alterado não tem meio termo:<br />
“encaixa” ou não. Em alguns casos em que<br />
possa haver conflito com a melodia, se<br />
atrasa o acorde para funcionar como um<br />
acorde de passagem e suavizar o resultado.<br />
Como todo acorde dominante tem,<br />
naturalmente, a sétima menor, o acorde<br />
alterado não será diferente, mas além<br />
disso, encontramos nele mais duas<br />
tensões dissonantes, a nona e a quinta<br />
aumentadas, alteradas meio tom acima.<br />
O conflito que mais chama a atenção<br />
está entre a nona aumentada e a terça do<br />
acorde, algo como tocar um acorde maior<br />
e menor ao mesmo tempo. Foi por esse<br />
motivo que afirmei sobre a complexidade<br />
de compreensão harmônica.<br />
A escrita da cifra pode ser de duas formas:<br />
G7#9#5 ou Galt<br />
Para acordes sem baixo - como nas<br />
performances jazzísticas de piano solo ou<br />
numa performance em grupo em que o<br />
baixo é executado por um baixista - esse<br />
acorde deve ser sempre executado na<br />
região central do piano, onde o som não<br />
fique tão grave, mais precisamente numa<br />
região médio-grave.<br />
Progressões<br />
O segredo da aplicação de um acorde<br />
dissonante não está na aplicação do acorde<br />
em si, mas nos eventos que antecedem e<br />
sucedem o acorde, ou seja, preparação e<br />
resolução. Por este motivo, como falamos<br />
anteriormente, um acorde alterado não<br />
combina em uma harmonia com tríades<br />
simples. Confira no exemplo algumas<br />
progressões:<br />
• Tonalidade de Dó maior:<br />
IIm9 Valt I7+ 9 => Dm9 Galt C7+ 9<br />
• Tonalidade de Dó menor:<br />
IIm7b9 Valt Im9 => Dm7b9 Galt Cm9<br />
• Tonalidade de Dó menor:<br />
VI7+9 Valt Im 9 => Ab7+9 Galt Cm9<br />
Aplicação em músicas<br />
Seguem quatro músicas muito cantadas<br />
em todas as igrejas cristãs em todo Brasil<br />
em tonalidades maiores e menores, com<br />
acordes de passagens e também de repouso.<br />
teclas & afins<br />
ABRIL 2019 / 63
mundo gospel<br />
Exemplo 1 - Vamos aplicar o acorde<br />
dominante alterado em três situações<br />
no refrão da música “Grandioso És Tu”, na<br />
tonalidade de Dó maior. A aplicação do<br />
acorde alterado aparece duas vezes no<br />
modo menor e uma vez no modo maior.<br />
No primeiro caso, temos o acorde de<br />
Si alterado como acorde de passagem,<br />
preparando para o Mi menor como parte<br />
de uma progressão II - V - I do modo menor.<br />
Em seguida, o sexto grau da tonalidade, o<br />
acorde de Lá, aparece alterado como um<br />
acorde de repouso preparando para o<br />
segundo menor. E, por último, o quinto grau<br />
da tonalidade também é alterado como um<br />
acorde de repouso para conclusão.<br />
Exemplo 3 - Vamos aplicar o acorde<br />
dominante alterado no refrão da música<br />
“Vem com Josué” na tonalidade de Dó menor.<br />
Observe que será feita uma harmonização<br />
simplificada aplicando a progressão II –<br />
V - I da própria tonalidade várias vezes e<br />
todos os acordes como acordes de repouso,<br />
inclusive o dominante alterado.<br />
“Vem com Josué”<br />
“Grandioso És Tu”<br />
Exemplo 2 - Vamos aplicar o acorde<br />
dominante alterado apenas na primeira<br />
frase da música “Ao único”, na tonalidade<br />
de Mi bemol maior. Observe que, apesar<br />
da tonalidade ser no modo maior, vamos<br />
incluir uma progressão no modo menor<br />
de Dó com o objetivo de aplicar o acorde<br />
alterado como acorde de passagem,<br />
preparando para o sexto grau da tonalidade<br />
que é Dó menor.<br />
“Ao único”<br />
Exemplo 4 - Vamos aplicar agora o acorde<br />
dominante alterado na primeira parte<br />
da música “Jeová é o teu cavaleiro” na<br />
tonalidade de Dó menor. Vamos aplicar a<br />
progressão VI – V - I da própria tonalidade<br />
três vezes e, ao final, o II – V – I também<br />
da própria tonalidade e todos os acordes<br />
como acordes de repouso.<br />
“Jeová é o teu cavaleiro”<br />
Conclusão<br />
Certa vez ouvi alguém dizer que acordes<br />
dissonantes podem ser um problema<br />
64 / ABRIL 2019 teclas & afins
mundo gospel<br />
quando aplicados sem um aviso prévio,<br />
causando desconforto ao ouvinte. Em<br />
outras palavras, o aviso prévio seria um<br />
outro acorde com a função de preparar<br />
e suavizar o acorde dissonante que está<br />
chegando. Além da preparação, o acorde<br />
dissonante precisa de uma resolução<br />
depois dele, um acorde que traga conforto.<br />
Com as explicações e aplicações práticas<br />
que acabamos de apresentar em músicas,<br />
podemos entender que o acorde alterado<br />
precisa ser aplicado dentro de um estilo<br />
próprio de harmonização com muitas<br />
tensões e com acordes próximos a ele que<br />
suavizem sua sonoridade tensa que lhe<br />
é própria. Nesse caso, o acorde alterado,<br />
por ser um acorde dominante, precisa de<br />
um antecessor e - principalmente - um<br />
sucessor, como no caso da progressão II – V<br />
– I (ele está sempre no meio com a função de<br />
quinto grau). Recomendo que cada exemplo<br />
das progressões e músicas seja praticado<br />
em todos os tons para uma completa<br />
compreensão do assunto estudado.<br />
Andersen Medeiros<br />
Pianista, arranjador e compositor, iniciou seus estudos de piano clássico no curso de extensão da UFAL – Universidade<br />
Federal de Alagoas, em seguida migrou para o estudo do piano moderno, em 2010 e 2013 foi palestrante do Congresso de<br />
louvor e adoração – LOUVAÇÃO para músicos em igrejas do Estado de Alagoas. Em 2014, em viagem missionária à Cuba teve<br />
participação na orquestra norte americana “Celebration” conduzida pelo maestro Camp Kirkland. Hoje, atua como professor<br />
do site PianoFlix, uma plataforma de ensino para piano solo e acompanhamento por ouvido. Ensina piano online por skype à<br />
alunos no Brasil e no exterior, pianista e líder de músicos na Igreja Batista Koinonia em Maceió, e pianista da banda TLB – The<br />
Last Band, um projeto embrionário de jazz moderno.<br />
www.pianoflix.com.br<br />
teclas & afins<br />
ABRIL 2019 / 65
toques pesados<br />
mateus schanoski<br />
Roteiro de estudos<br />
Um plano de estudo diário para tocar rock, com o básico<br />
e usando o menor tempo possível<br />
Muitos alunos e tecladistas me perguntam<br />
como, quanto e o que devem estudar<br />
diariamente para que mantenham e<br />
evoluam sua musicalidade e técnica. Então,<br />
nesta minha coluna de estreia, fiz um plano<br />
de estudo diário com o básico e usando<br />
seu menor tempo possível (20 minutos<br />
ou menos diários são necessários). Vale<br />
ressaltar que este plano de estudo deve ser<br />
feito sempre com metrônomo e evoluindo<br />
a cada dia.<br />
Aquecimentos básicos, alongamentos<br />
e atividade física são muito bons, mas<br />
falaremos sobre isso em uma próxima aula.<br />
1 - Escalas – aqui há uma sequência<br />
de escalas básicas que todo tecladista,<br />
principalmente de rock, deve estudar e<br />
ter nas pontas dos dedos. Todas estão em<br />
C (Dó). Não que precisemos estudar todos<br />
os tons, mas fazendo todas essas, já ajuda<br />
bastante e faz que decoremos os intervalos.<br />
Aprenda e faça bem tudo em C (Dó).<br />
Tenho preferência em começar estudando<br />
as menores, porque são as mais usadas<br />
no rock e mais fáceis de tocar e aplicar.<br />
Comece estudando toda a sequência<br />
somente em uma oitava e uma escala<br />
seguida da outra, até decorar. Depois, a<br />
cada dia, você aumenta uma oitava. Estude<br />
usando também teclas pesadas com sons<br />
de pianos, teclas leves com sons de Lead<br />
Synths, e se possuir um, também com<br />
teclas de Órgão Waterfall. Isso depois de<br />
estudar e se acostumar com todas elas<br />
nas teclas pesadas. É importante mudar<br />
o timbre e perceber que você tem que<br />
mudar sua técnica a cada timbre, mesmo<br />
estudando técnica. Perceba que você deve<br />
articular mais os dedos nas teclas pesadas,<br />
e articular menos, gastar menos energia<br />
e tocar mais leve com teclas leves. Estude<br />
também usando grupos rítmicos diferentes<br />
na seguinte ordem: colcheias, tercinas,<br />
semicolcheias, colcheias com “swing”. Esses<br />
são os grupos básicos de ritmos. Veja os<br />
exemplos nos vídeos.<br />
66 / ABRIL 2019 teclas & afins
1 - Escalas Maiores<br />
Escalas Maiores<br />
toques pesados<br />
Mateus Schanoski<br />
Maior Diatônica<br />
<br />
<br />
<br />
1<br />
2<br />
3<br />
1<br />
2<br />
3<br />
4<br />
5<br />
Modo Lídio<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
1<br />
2<br />
3<br />
4<br />
1<br />
2<br />
3<br />
4<br />
Modo Mixo Lídio<br />
<br />
<br />
<br />
1<br />
2<br />
3<br />
1<br />
2<br />
3<br />
4<br />
5<br />
Be Bop Dominante<br />
<br />
<br />
<br />
1 2 3 4 1 2 3 4 5<br />
Tons Inteiros<br />
<br />
<br />
<br />
1<br />
2 1<br />
2<br />
3<br />
4<br />
5<br />
Pentatônica Maior<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
1 2<br />
Penta Blues Maior<br />
1<br />
2<br />
<br />
<br />
<br />
1<br />
Penta Blues Be Bop<br />
2<br />
3<br />
1<br />
<br />
<br />
<br />
1 2 3 1 2 3 4 1 2<br />
3<br />
2<br />
5<br />
3<br />
5<br />
teclas & afins<br />
ABRIL 2019 / 67
toques pesados<br />
2 Escalas Menores<br />
Menor Melódica<br />
<br />
<br />
<br />
1<br />
2<br />
3<br />
1<br />
2<br />
3<br />
4<br />
5<br />
Menor Harmônica<br />
Escalas Menores<br />
Mateus Schanoski<br />
<br />
<br />
<br />
Menor Diatônica ou Menor Antiga<br />
<br />
<br />
<br />
Menor Diatônica com IXm<br />
<br />
<br />
<br />
Modo Dórico<br />
<br />
<br />
<br />
Pentatônica Menor<br />
<br />
<br />
<br />
1<br />
2<br />
3<br />
1<br />
2<br />
3<br />
Penta Blues Menor<br />
<br />
<br />
<br />
1<br />
2<br />
3<br />
4<br />
1<br />
2<br />
3<br />
Penta Blues Menor BeBop<br />
<br />
<br />
<br />
1<br />
2<br />
3<br />
4<br />
1<br />
2<br />
3<br />
4<br />
68 / ABRIL 2019 teclas & afins
Outras Escalas<br />
Mateus Schanoski<br />
toques pesados<br />
Tons Inteiros<br />
Outras escalas<br />
<br />
Tons Inteiros <br />
<br />
2<br />
3<br />
1<br />
<br />
2<br />
3<br />
1<br />
2<br />
<br />
2<br />
3<br />
1<br />
2<br />
3<br />
1<br />
2<br />
Cromática<br />
<br />
Cromática <br />
<br />
2 1 2 1 2 3<br />
<br />
1<br />
2<br />
1<br />
2<br />
1<br />
2<br />
3<br />
<br />
2 1 2 1 2 3 1 2 1 2 1 2 3<br />
Na próxima edição falaremos de acordes, arpejos e cadências.<br />
Mateus Schanoski<br />
Mateus Schanoski<br />
Tecladista, organista, pianista, arranjador e produtor musical. Graduado em Piano Erudito pelo Conservatório<br />
Bandeirantes, em Piano Popular pelo CLAM e pela ULM, e em Teclado e Tecnologia pelo IT&T, o músico ainda fez cursos<br />
paralelos com: Fábio Ribeiro, Nelson Aires, Marcelo Guelfi, Toninho Ferraguti, Arrigo Barnabé, Maurício Pedrosa,<br />
Fernando Cardoso, Edu Elou, Ari Borger e Lis de Carvalho. É professor de Música há mais de 20 anos, ministrando aulas<br />
no Conservatório Souza Lima – SL ROCK e na School Of Rock. Foi considerado um dos Melhores Tecladistas do Brasil pela<br />
Revista Roadie Crew em 2013, 2015 e 2018.<br />
teclas & afins<br />
ABRIL 2019 / 69
vida de musico<br />
por WAGNER CAPPIA<br />
Virar a chave<br />
Ter a música em sua vida 24 horas ao dia, dando aulas,<br />
estudando, planejando, criando produtos, negociando e<br />
tudo mais.<br />
Depois de uma breve pausa, estou de<br />
volta. Nunca pensei que fosse tão difícil o<br />
processo de lançamento de um álbum, mais<br />
precisamente, e por enquanto, um single.<br />
Depois da música pronta há uma lista<br />
interminável de tarefas a serem cumpridas:<br />
assessoria de imprensa, design artístico,<br />
sessão de fotos, Booking, merchandising,<br />
controle financeiro e por aí vai, além é claro<br />
de ensaios, preparação dos shows etc.<br />
Além da longa lista de tarefas, você sofre<br />
uma pressão absurda de uma cadeia de<br />
pessoas envolvidas direta e indiretamente<br />
ao processo, além do balanceamento<br />
natural e quase insano com a sua vida<br />
pessoal. Em outras palavras, realizar o<br />
sonho de ter o seu trabalho executado<br />
com qualidade internacional não é para<br />
qualquer um. Nesse processo, pessoas<br />
que afirmam querer ser músico e diz ter<br />
isso como sonho e meta principal, quando<br />
as partes “divertidas” terminam e vem o<br />
© John-Hult @unsplash.com<br />
70 / ABRIL 2019 teclas & afins
vida de musico<br />
trabalho duro que exige o máximo foco e<br />
disciplina, simplesmente não aguentam e<br />
abandonam o projeto. O problema é que<br />
você, como líder de um projeto, conta com<br />
as pessoas para enfrentar todos os desafios<br />
e, de repente, tem um novo problema:<br />
encontrar novamente um sonhador que<br />
quer ser músico profissional.<br />
Certa vez, em uma rede social qualquer,<br />
assisti a uma entrevista de um atleta que<br />
estava fazendo muito sucesso pela sua<br />
performance e a pergunta era algo como<br />
ele se sentia sendo reconhecido, da noite<br />
para o dia, e estar em todos os canais<br />
especializados instantaneamente, sua<br />
resposta foi: “eu demorei e lutei 15 anos<br />
para ser reconhecido, da noite para o dia”.<br />
Na música não é diferente, não há mágica,<br />
não há como mentir: ou você sabe e está<br />
completamente envolvido com o processo<br />
e objetivos, se organiza, se profissionaliza e<br />
conduz o trabalho de forma extremamente<br />
séria ou você está fora. E isso leva tempo,<br />
estudo e dedicação.<br />
No Brasil, infelizmente, a cultura social não<br />
entende a música como um caminho seguro.<br />
Educadores, pais, escolas, sociedade etc.<br />
contam que precisamos de uma profissão<br />
e, se der, ter a música como, no máximo,<br />
um hobby. O que a sociedade não entende<br />
é que música é uma profissão que pode<br />
ser segura e que é movida por paixão. Uma<br />
hora ou outra, vamos querer “virar a chave”.<br />
Mas, para isso, temos que estar prontos<br />
para desapegar, quase que por completo,<br />
universo progressivo<br />
da vida como ela é até aquele momento.<br />
E isso é difícil. É um processo que nem<br />
todos têm coragem suficiente pra fazer.<br />
“Virar a chave” não significa montar uma<br />
banda cover, ensaiar 2 horas por semana,<br />
tocar no barzinho no fim de semana, e, na<br />
segunda-feira, voltar ao trabalho formal.<br />
“Virar a chave” é ter a música na sua vida 24<br />
horas ao dia, seja dando aulas, estudando,<br />
planejando, criando produtos, negociando<br />
e tudo mais. Na música, você não terá seu<br />
salário na conta no fim do mês, mas fará sua<br />
receita durante o mês. E uma coisa posso<br />
garantir: não vai ser nada fácil.<br />
Passei por esse processo, trabalhei<br />
anos em tecnologia, ganhava meus R$<br />
15.000,00 mensais e abandonei tudo pela<br />
música, tudo mesmo, pela minha vida. E,<br />
em uma segunda-feira qualquer, me tornei<br />
dono de um conservatório, um estúdio,<br />
uma banda autoral e me vejo escrevendo<br />
minhas experiências técnicas e pessoais<br />
para uma publicação de altíssimo nível<br />
como é a Teclas & Afins. Foi e está sendo<br />
duro, muito duro, mas não troco nenhuma<br />
das infindáveis crises financeiras que<br />
passei pela estabilidade que havia no<br />
passado. E a única razão para isso é que<br />
sou feliz. E só a música pode me dar isso.<br />
Isso faz 10 anos, e estou, todos os dias,<br />
me preparando de alguma forma para ser<br />
plenamente reconhecido pelo público, da<br />
noite para o dia.<br />
Wagner Cappia<br />
Iniciou seus estudos em piano clássico em 1982, com formação pelo Conservatório Dramático Musical<br />
de São Paulo. É sócio-diretor do Conservatório Ever Dream (Instituto Musical Ever Dream), tecladista,<br />
compositor e arranjador da banda Eve Desire e sócio-proprietário e responsável técnico do estúdio<br />
YourTrack. Músico envolvido na cena metal, procura misturas de estilos que vão desde sua origem natural<br />
na música erudita até a música contemporânea, mesclando elementos clássicos e de ambiente em suas<br />
composições. Especialista em tecnologia musical, performance ao vivo para tecladistas, coaching para<br />
bandas, professor de piano, teclado e áudio.<br />
www.cappia.com.br - www.evedesire.com - www.institutomusicaleverdream.com<br />
teclas & afins<br />
ABRIL 2019 / 71