TECLASEAFINS60
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etrato<br />
instrumentista. Então, esse movimento da<br />
noite é muito importante. E é legal que,<br />
principalmente em São Paulo, a noite está<br />
voltando nos últimos anos. Essa noite tem<br />
se recriado, então, acho que é um momento<br />
histórico para a música instrumental<br />
brasileira, muito importante. De um lado,<br />
a noite está se recriando, e de outro, temos<br />
instrumentistas de alto nível. Eu acho que<br />
é uma leva muito interessante.<br />
Além dessas experiências, que outros<br />
músicos foram importantes para consolidar<br />
sua concepção musical?<br />
Vou citar dois caras que, na música popular,<br />
considero meus professores. Um é o Ed<br />
Motta, que conheci quando eu tinha uns 22<br />
anos, quando ele me chamou para a banda<br />
dele. Tocar funk, soul sob as orientações<br />
dele foi muito interessante, porque isso<br />
é uma coisa que não se aprende em um<br />
conservatório, infelizmente. Falo isso com<br />
certo pesar. A sistematização e o ensino<br />
da música no Brasil ainda estão muito<br />
voltados para uma visão eurocentrista. Isso<br />
é algo que tenho tentado trabalhar como<br />
professor há alguns anos: como respeitar<br />
os paradigmas da música de matriz negra<br />
sem ter que toda vez passar pela Europa. É<br />
claro que é uma junção. Quando a gente fala<br />
de jazz e seus filhos, está falando de uma<br />
junção entre duas culturas. Mas, em geral, a<br />
gente sempre se apropria, principalmente<br />
no meio acadêmico, a gente abre esse<br />
mundo musical por um viés eurocentrista,<br />
para uma escrita eurocentrista, por<br />
termos eurocentristas, por uma análise<br />
eurocentrista. E obviamente, a gente faz<br />
isso porque a Europa tem um sistema<br />
muito bem consolidado, que vem há quatro<br />
séculos, pelo menos, sendo construído.<br />
Mas acho que a gente está numa fase<br />
histórica interessante em que a gente<br />
está olhando para os cem anos de jazz<br />
com uma necessidade de falar que alguns<br />
paradigmas da música clássica não fazem<br />
sentido quando a gente vai analisar o jazz.<br />
Mas, na faculdade, no conservatório, em<br />
geral, você está sempre aprendendo uma<br />
análise ou conceitos formais desse outro<br />
tipo de música, que é incrível, não tenho<br />
nada contra. Estudo música clássica até<br />
hoje! Marisa Lacorte foi minha professora<br />
de piano clássico e é minha “mãe do piano”.<br />
Ela mudou minha vida em vários aspectos.<br />
Tenho um profundo respeito pela música<br />
clássica. Mas aprendi, tenho tentado<br />
aprender, como olhar para essa música de<br />
matriz negra a partir, também, de conceitos<br />
do negro. E Ed Motta me ajudou muito nesse<br />
sentido. E outro cara que me ajudou e me<br />
ajuda muito é o Letieres Leite, lá da Orkestra<br />
Rumpilezz. Ele tem um estudo, há mais de<br />
três décadas já, muito bem organizado<br />
sobre as claves afro-brasileiras, o que veio<br />
da África, de cada região, quando toca com<br />
18 / abril 2019 teclas & afins