11.04.2019 Views

TECLASEAFINS60

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

etrato<br />

instrumentista. Então, esse movimento da<br />

noite é muito importante. E é legal que,<br />

principalmente em São Paulo, a noite está<br />

voltando nos últimos anos. Essa noite tem<br />

se recriado, então, acho que é um momento<br />

histórico para a música instrumental<br />

brasileira, muito importante. De um lado,<br />

a noite está se recriando, e de outro, temos<br />

instrumentistas de alto nível. Eu acho que<br />

é uma leva muito interessante.<br />

Além dessas experiências, que outros<br />

músicos foram importantes para consolidar<br />

sua concepção musical?<br />

Vou citar dois caras que, na música popular,<br />

considero meus professores. Um é o Ed<br />

Motta, que conheci quando eu tinha uns 22<br />

anos, quando ele me chamou para a banda<br />

dele. Tocar funk, soul sob as orientações<br />

dele foi muito interessante, porque isso<br />

é uma coisa que não se aprende em um<br />

conservatório, infelizmente. Falo isso com<br />

certo pesar. A sistematização e o ensino<br />

da música no Brasil ainda estão muito<br />

voltados para uma visão eurocentrista. Isso<br />

é algo que tenho tentado trabalhar como<br />

professor há alguns anos: como respeitar<br />

os paradigmas da música de matriz negra<br />

sem ter que toda vez passar pela Europa. É<br />

claro que é uma junção. Quando a gente fala<br />

de jazz e seus filhos, está falando de uma<br />

junção entre duas culturas. Mas, em geral, a<br />

gente sempre se apropria, principalmente<br />

no meio acadêmico, a gente abre esse<br />

mundo musical por um viés eurocentrista,<br />

para uma escrita eurocentrista, por<br />

termos eurocentristas, por uma análise<br />

eurocentrista. E obviamente, a gente faz<br />

isso porque a Europa tem um sistema<br />

muito bem consolidado, que vem há quatro<br />

séculos, pelo menos, sendo construído.<br />

Mas acho que a gente está numa fase<br />

histórica interessante em que a gente<br />

está olhando para os cem anos de jazz<br />

com uma necessidade de falar que alguns<br />

paradigmas da música clássica não fazem<br />

sentido quando a gente vai analisar o jazz.<br />

Mas, na faculdade, no conservatório, em<br />

geral, você está sempre aprendendo uma<br />

análise ou conceitos formais desse outro<br />

tipo de música, que é incrível, não tenho<br />

nada contra. Estudo música clássica até<br />

hoje! Marisa Lacorte foi minha professora<br />

de piano clássico e é minha “mãe do piano”.<br />

Ela mudou minha vida em vários aspectos.<br />

Tenho um profundo respeito pela música<br />

clássica. Mas aprendi, tenho tentado<br />

aprender, como olhar para essa música de<br />

matriz negra a partir, também, de conceitos<br />

do negro. E Ed Motta me ajudou muito nesse<br />

sentido. E outro cara que me ajudou e me<br />

ajuda muito é o Letieres Leite, lá da Orkestra<br />

Rumpilezz. Ele tem um estudo, há mais de<br />

três décadas já, muito bem organizado<br />

sobre as claves afro-brasileiras, o que veio<br />

da África, de cada região, quando toca com<br />

18 / abril 2019 teclas & afins

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!