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Com o mérito de conciliar reflexões sólidas, estudos sistemáticos e linguagem acessível, este livro desmonta o senso comum sobre subúrbios como lugares degradados, perigosos, tristes, à margem de uma cidade pulsante, praieira, solar, criativa e afável. O Rio de cartão-postal, havaianas no pé e biscoito Globo, não é aquele que norteia este livro. Os subúrbios que passam por aqui são lugares que engendram sociabilidades, criam redes de proteção social, são disputados e negociados dinamicamente por seus habitantes, apresentam diversidades culturais. Por aqui se aprende que a divisão espacial histórica da cidade remonta à concessão das primeiras sesmarias, discutem-se as relações entre a casa e rua, a construção de certo imaginário sobre o Estado e os subúrbios a partir de conjuntos residenciais, as especificidades de Inhaúma e dos subúrbios da Leopoldina, o papel da imprensa suburbana, as interações e hibridismos na configuração da cidade, as resistências e reexistências cotidianas. O que fica como mais relevante neste conjunto de artigos é a certeza absoluta de que não há gente melhor para contar as histórias e geografias dos subúrbios, discutir a elaboração da memória suburbana na fronteira entre lembrança e esquecimento, os saberes, delícias e dores da maior parte da cidade, do que os próprios suburbanos. É disso que se trata: os subúrbios têm voz. Trecho do prefácio de Luiz Antonio Simas

Com o mérito de conciliar reflexões sólidas, estudos sistemáticos e linguagem acessível, este livro desmonta o senso comum sobre subúrbios como lugares degradados, perigosos, tristes, à margem de uma cidade pulsante, praieira, solar, criativa e afável. O Rio de cartão-postal, havaianas no pé e biscoito Globo, não é aquele que norteia este livro.

Os subúrbios que passam por aqui são lugares que engendram sociabilidades, criam redes de proteção social, são disputados e negociados dinamicamente por seus habitantes, apresentam diversidades culturais. Por aqui se aprende que a divisão espacial histórica da cidade remonta à concessão das primeiras sesmarias, discutem-se as relações entre a casa e rua, a construção de certo imaginário sobre o Estado e os subúrbios a partir de conjuntos residenciais, as especificidades de Inhaúma e dos subúrbios da Leopoldina, o papel da imprensa suburbana, as interações e hibridismos na configuração da cidade, as resistências e reexistências cotidianas.

O que fica como mais relevante neste conjunto de artigos é a certeza absoluta de que não há gente melhor para contar as histórias e geografias dos subúrbios, discutir a elaboração da memória suburbana na fronteira entre lembrança e esquecimento, os saberes, delícias e dores da maior parte da cidade, do que os próprios suburbanos. É disso que se trata: os subúrbios têm voz.

Trecho do prefácio de Luiz Antonio Simas

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Diálogos Suburbanos

O livro que agora temos nas mãos, o qual esperamos que contribua para

dirimir a carência de publicações multidisciplinares sobre a história e a

dinâmica dos territórios suburbanos, é, ele mesmo, fruto de um processo

colaborativo. A partir da ideia inicial, proposta pelo professor Rafael Mattoso,

vimos nascer um projeto que envolveu rodas de conversa com muita troca

entre pontos de vista diversos e diferentes áreas do conhecimento, sempre

pensando na valorização dos espaços suburbanos e nos questionamentos,

novos e velhos, sobre o papel que representam na metrópole carioca.

O que apresentamos aqui é um mapa dos caminhos traçados entre passado

e presente, na construção das identidades suburbanas, bem como, de certa

forma, a celebração de sua resistência.

O artigo que inicia o desenho desse percurso é “Lugares de Inhaúma e

Irajá na história do lugar e na formação do subúrbio carioca: séculos XVI

ao XX” e vem para realmente nos abrir os caminhos. A metodologia da

“história do lugar”, criada pelo autor para auxiliar o ensino em escolas, é um

instrumento de recuperação da memória e das identidades locais, bem como

de aproximação entre escola e comunidade, estimulando nos alunos maior

interesse pelo estudo da realidade em que estão inseridos. Através da sua

leitura ficamos a par de como funcionavam esses dois centros propulsores

da dinâmica econômica e social da colônia, como eram as suas divisões

político-administrativas (sesmarias, freguesias, engenhos) e como afetavam

a população da cidade em desenvolvimento. Seguimos o caminho pelo artigo

“O patrimônio e a paisagem cultural dos subúrbios cariocas", que nos leva a

olhar para questões que envolvem os subúrbios no contexto do sítio declarado

patrimônio mundial, na categoria paisagem cultural urbana. Ainda aqui,

desfrutamos da análise do autor sobre que marcas são deixadas no ambiente

natural pelas transformações urbanas e as escolhas que as tornam visíveis

ou invisíveis ao longo do tempo. Desse ponto em que nos encontramos, mais

precisamente do alto da Serra dos Pretos Forros, propõe-se um mergulho

mais fundo. Em direção ao legado cultural de duas construções de diferentes

épocas, diferentes espíritos de uma herança material construída por mãos

humanas, cuja história está em “Entre o sagrado e o profano: Matriz de Irajá

e o Cine Vaz Lobo”. De que forma esse patrimônio permanece enraizado na

alma suburbana?

“Olhares para os subúrbios da Leopoldina a partir de Bonsucesso, Ramos e

Olaria” inaugura, no livro, quase uma nova seção, pois começa aí uma estrada

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