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25ª Edição_Revista ATRAÇÃO

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CONVITE À REFLEXÃO E AO APRENDIZADO

Aceitando a BASE que nos ensina a viver

“Nem tudo que

reluz é ouro”

Por Dra. Telma Mª S. Machado

Aracaju - SERGIPE - BRASIL

Delegada da ABRAME (Associação brasileira dos Magistrados Espíritas) em

Sergipe, Graduada em Ciências Biológicas e em Direito, Pós-Graduada em

Direito Processual Público, Juiza Federal, Mestre em Filosofia,

A frase que intitula este artigo é um conhecido jargão

popular ao qual recorremos quando desejamos enfatizar

enganos pelos quais passamos em relação a alguma coisa,

situação ou pessoa.

O interessante é que somente costumamos usar tal

jargão quando nos equivocamos para pior, ou seja, quando

pensamos sobejar o que, na verdade, é incompleto ou

mesmo irrisório. Entretanto, como sempre podemos reconstruir

as interpretações, sem ignorar o sentido do passado,

mas agregando novos significados a partir do alargamento

de nossas experiências, da ampliação do nosso horizonte

cognitivo, podemos redescobrir o objeto da nossa interpretação.

Assim, é possível conceber a expressão de um modo

positivo e bem-humorado: o que reluz pode não ser ouro,

mas algo melhor: diamante.

Volvendo os olhos para a história do Brasil, há um

episódio muito famoso que estudamos no ginásio (hoje ensino

fundamental), especificamente no assunto “Entradas e

Bandeiras”, movimentos que redundaram na conquista do

interior do País e na expansão do território para além do

Tratado de Tordesilhas, embora não se possa abstrair, por

exemplo, os sofrimentos a que foram submetidos os índios.

Dentre os grandes bandeirantes, destacou-se Fernão Dias

Paes Leme (1608-1681), que esteve à frente das bandeiras

de 1638, 1644, 1661 e 1674. A sua tenacidade levou

ao desbravamento, por exemplo, das terras que hoje correspondem

aos estados de Minas Gerais (onde descobriu

ouro), Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Pois foi

esse homem que morreu iludido de ter encontrado esmeraldas,

quando, na verdade, segundo os historiadores, as pedras

não passavam de turmalinas.

Note-se que Fernão Dias não teve tempo, em vida, de

perceber o engano em relação à descoberta, tanto que fez

várias recomendações, à beira da morte, quanto ao destino

das supostas pedras preciosas. Tivesse sabido disso antes de

morrer, provavelmente teria partido amargurado, por conta

de tantos gastos que dispendera.

Diz o vernáculo que desilusão corresponde a desengano;

assim, se por um lado traz a tristeza do arrefecimento

das nossas crenças, por outro lado liberta-nos dos enganos

dos nossos sentidos.

Mas o título deste artigo também pode remeter à autocrítica.

Explico: muitas vezes reluzimos para o outro, em

face de cuidadosa tecitura de um personagem “modelo”,

disfarçando valores, sentimentos e pensamentos indignos.

E esse autoengano sabota a identificação dos entulhos

que obscurecem a consciência, o que retarda e dificulta a

dinâmica do autoaperfeiçoamento.

A reflexão acima me leva a uma frase interessante que

li na minha adolescência e que já citei no artigo “O pequeno

príncipe e a maturidade”, a qual peca em rigor científico,

mas traz uma lição filosófica de uma beleza incomum: “é

preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer

as borboletas. Dizem que são tão belas”. Biologicamente,

as borboletas são consideradas insetos holometábolos

(que possuem metamorfose completa), cujas fases de

22 Atração_janeiro de 2020

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